SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 3
Descargar para leer sin conexión
Primeiro Reinado
O Primeiro Reinado - 1822/1831 - foi um período da História do Brasil marcado por sérios
conflitos de interesses. De um lado os que desejavam preservar as estruturas socioeconômicas
vigentes. Do outro, D. Pedro I pretendendo aumentar e reforçar o seu próprio poder,
evidenciado na marca característica da Constituição outorgada de 1824: o Poder Moderador
exclusivo do imperador.
A política autoritária de D. Pedro I sofreu forte oposição na imprensa e na Câmara dos
Deputados. A situação daí resultante, agravada pelos problemas econômicos e financeiros do
país, minaram a popularidade do imperador. Este, apesar do apoio de alguns setores da
sociedade, como o Partido Português, não conseguiu reverter a crise. Assim, na madrugada do
dia 7 de abril de 1831, declarou sua abdicação ao trono em favor do filho menor, o príncipe
imperial D. Pedro de Alcântara.
No ano de 1822, D. Pedro I já havia convocado a Assembleia Constituinte, mas esta somente se
reuniu em 1823. O principal objetivo da convocação seria a elaboração de uma Constituição
para o Brasil, ou seja, a criação de um conjunto de leis que asseguraria os direitos do governo e
da população brasileira. Somente membros da elite (latifundiários, comerciantes, militares...)
participaram da elaboração da Constituição de 1824.
Dissolução da Assembleia /A "Noite da Agonia"

Ocorreu um acirramento do confronto político dos constituintes com o imperador.
O projeto da Constituição começava a ser lido em setembro de 1823. Como os componentes
do Partido Brasileiro eram a maioria na Assembléia, o projeto refletia os seus interesses.
Desejando limitar o papel dos portugueses.
O projeto excluía da vida política a maioria da população, pois instituía um sistema eleitoral,
indireto e censitário, que exigia uma renda mínima equivalente ao valor de "150 alqueires de
farinha de mandioca". Também limitava ao máximo os poderes do imperador, valorizando e
ampliando os do Legislativo. Estabelecia que D. Pedro I não tinha poder para dissolver o
Parlamento e que as Forças Armadas deveriam receber ordens do Legislativo.
Nesta chamada "noite da agonia" da Assembléia - de 11 para 12 de novembro -, os debates
foram bruscamente interrompidos pela entrada do brigadeiro José Manuel de Morais,
portador de um decreto assinado por D. Pedro I que dizia: "Havendo eu convocado como tinha
direito de convocar a Assembléia Geral no ano próximo passado (...) Hei por bem, como
imperador e defensor perpétuo do Brasil, dissolver a mesma Assembléia e convocar uma outra
(...) a qual deverá trabalhar sobre o projeto de Constituição que eu hei de em breve
apresentar, que será duplicadamente mais liberal do que a extinta assembléia acaba de fazer".
A Constituição Outorgada de 1824

Após a dissolução da Assembléia Constituinte, Dom Pedro I, justificando seu ato, declarou que
convocaria uma outraAssembléia (...) a qual deverá trabalhar sobre o projeto de Constituição
que eu lhe hei de breve apresentar; que será duplicadamente mais liberal, do que a extinta
Assembleía acabou de fazer".
Entretanto, isto não aconteceu. Foi nomeado um Conselho de Estado composto por dez
membros pelo imperador, com a tarefa de redigir um projeto de Constituição.
Esta Carta tinha, entre outras características, um sistema baseado em eleições indiretas e
censitárias. Para votar e ser votado apontava requisitos quanto a renda. Isto denotava um
caráter excludente na sociedade imperial, já que grande parte da população era composta por
homens livres e pobres e por escravos.
Para a Câmara dos Deputados elegia-se inicialmente um corpo eleitoral que, posteriormente,
seria responsável pela eleição dos deputados para um período de quatro anos.
A marca mais característica desta Constituição foi a instituição de um quarto poder, o
Moderador, ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. Este quarto poder era exclusivo do
mPor meio do Poder Moderador o imperador nomeava os membros vitalícios do Conselho de
Estado os presidentes de província, as autoridades eclesiásticas da Igreja oficial católica
apostólica romana, o Senado vitalício. Também nomeava e suspendia os magistrados do Poder
Judiciário, assim como nomeava e destituía os ministros do Poder Executivo.
Imagem 1Utilizando-se deste quarto poder, Dom Pedro I aprovava ou não as decisões da
Assembléia Geral, além de convocar ou dissolver a Câmara dos Deputados.
Dessa forma, o imperador concentrava um poder sem paralelo, o que demonstrava o caráter
centralizador e autoritário da organização política do Império do Brasil. Tal situação não foi
aceita por toda a sociedade imperial. Havia quem aprovasse, quem calasse por temor e quem
contestasse. O protesto mais violento partiu da província de Pernambuco e se transformou no
episódio conhecido como Confederação do Equador.
A Confederação do Equador
A dissolução da Assembléia de 1823 e a outorga da Constituição de 1824 geraram de imediato
uma violenta reação na província de Pernambuco.
As Câmaras Municipais de Olinda e de Recife já haviam negado aprovação àqueles atos do
imperador alegando que assim agiam movidas pela (...) "desconfiança não pequena em que se
acham todos os habitantes desta província (...), receando (...) o restabelecimento do antigo e
sempre detestável despotismo, a que estão dispostos a resistir corajosamente".
Este descontentamento também já atingia outras províncias no Norte e no Nordeste do Brasil.
Nelas, avolumavam-se os comentários de que o Rio de Janeiro havia se transformado numa
"nova Lisboa" dominada por portugueses que oprimiam e prejudicavam os brasileiros. Na
província de Pernambuco - em Recife, especialmente - a crença generalizada de que os
portugueses exploravam os "patriotas pernambucanos" teria sido um dos motivos que
deflagrara a Revolução Pernambucana de 1817.
Durante o Primeiro Reinado, outro fato importantíssimo na história do Brasil foi a Guerra da
Cisplatina (1825). O conflito teve início quando um grupo de dirigentes da província Cisplatina
declarou a separação do Brasil e a sua incorporação à República Argentina. D. Pedro declarou
guerra à Argentina e o exército brasileiro foi derrotado causando grandes prejuízos pelos
enormes gastos e grande número de soldados mortos. A Inglaterra interveio no conflito,
pressionando o Brasil e a Argentina a assinar um acordo de paz. Assim, a província Cisplatina
declarou sua independência desses dois países, tornando-se a República do Uruguai.
No decorrer do Primeiro Reinado, D. Pedro começou a desagradar a elite brasileira, pois criou
uma Constituição que iria atender a seus interesses autoritários. Além disso, a Confederação
do Equador e a Guerra da Cisplatina causaram grandes gastos para a economia brasileira e
muitas mortes.
Muitos jornalistas, através de seus jornais, teciam duras críticas ao imperador. A 7 de abril de
1831, D. Pedro I renunciou ao império, deixando o país nas mãos de seu primogênito, D. Pedro
II, que na época tinha 5 anos. No mesmo dia, embarcou a bordo do HMS Warspite, de onde
nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva como tutor de seus filhos menores, e seguiu para
Portugal.
D. Pedro I faleceu em Sintra em 1834, depois de ainda ter participado das Guerras Liberais
portuguesas, onde lutou a favor de sua filha, D. Maria II, cujo trono português fora usurpado
por seu tio, D. Miguel I.

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (19)

Aula 20 era vargas
Aula 20   era vargasAula 20   era vargas
Aula 20 era vargas
 
Aula 15 monarquia brasileira - 1° reinado
Aula 15   monarquia brasileira - 1° reinadoAula 15   monarquia brasileira - 1° reinado
Aula 15 monarquia brasileira - 1° reinado
 
9 Brasil República
9 Brasil República9 Brasil República
9 Brasil República
 
Aula república velha (1889-1930) - resumo - história pensante
Aula   república velha (1889-1930) - resumo - história pensanteAula   república velha (1889-1930) - resumo - história pensante
Aula república velha (1889-1930) - resumo - história pensante
 
A instituição da república
A instituição da repúblicaA instituição da república
A instituição da república
 
1º Reinado
1º Reinado1º Reinado
1º Reinado
 
Julia E Nicoli
Julia E NicoliJulia E Nicoli
Julia E Nicoli
 
Oiiiiiiiiiii
OiiiiiiiiiiiOiiiiiiiiiii
Oiiiiiiiiiii
 
Julia E Nicoli
Julia E NicoliJulia E Nicoli
Julia E Nicoli
 
brasil imperio
brasil imperiobrasil imperio
brasil imperio
 
República da Espada
República da EspadaRepública da Espada
República da Espada
 
Instituição da república
Instituição da repúblicaInstituição da república
Instituição da república
 
Periodo regencia ll.ppt aula 2⺠ano
Periodo regencia ll.ppt aula 2⺠anoPeriodo regencia ll.ppt aula 2⺠ano
Periodo regencia ll.ppt aula 2⺠ano
 
Regência
RegênciaRegência
Regência
 
República da espada (aula)blogger
República da espada (aula)bloggerRepública da espada (aula)blogger
República da espada (aula)blogger
 
Brasil Regência
Brasil RegênciaBrasil Regência
Brasil Regência
 
Perãodo regencial -_ok[1]
Perãodo regencial -_ok[1]Perãodo regencial -_ok[1]
Perãodo regencial -_ok[1]
 
O período regencial
O período regencialO período regencial
O período regencial
 
Primeiro Império
Primeiro ImpérioPrimeiro Império
Primeiro Império
 

Destacado

Experience Certificate - AFC
Experience Certificate - AFCExperience Certificate - AFC
Experience Certificate - AFCSyed Nizamuddin
 
Martha Carvalho Curriculum
Martha Carvalho CurriculumMartha Carvalho Curriculum
Martha Carvalho CurriculumAlvaro Mello
 
Kovové propisky již od 8,90 Kč
Kovové propisky již od 8,90 KčKovové propisky již od 8,90 Kč
Kovové propisky již od 8,90 KčSociété s.r.o.
 
sarah foster resume 2
sarah foster resume 2sarah foster resume 2
sarah foster resume 2Sarah Foster
 
Apostila conceitos web 2.0 - parte iii
Apostila   conceitos web 2.0 - parte iiiApostila   conceitos web 2.0 - parte iii
Apostila conceitos web 2.0 - parte iiimonicapolina
 
Albúm fotos
Albúm fotosAlbúm fotos
Albúm fotosCARRANSAN
 

Destacado (8)

Diapositivas =)
Diapositivas =)Diapositivas =)
Diapositivas =)
 
Experience Certificate - AFC
Experience Certificate - AFCExperience Certificate - AFC
Experience Certificate - AFC
 
Martha Carvalho Curriculum
Martha Carvalho CurriculumMartha Carvalho Curriculum
Martha Carvalho Curriculum
 
Kovové propisky již od 8,90 Kč
Kovové propisky již od 8,90 KčKovové propisky již od 8,90 Kč
Kovové propisky již od 8,90 Kč
 
sarah foster resume 2
sarah foster resume 2sarah foster resume 2
sarah foster resume 2
 
Apostila conceitos web 2.0 - parte iii
Apostila   conceitos web 2.0 - parte iiiApostila   conceitos web 2.0 - parte iii
Apostila conceitos web 2.0 - parte iii
 
Albúm fotos
Albúm fotosAlbúm fotos
Albúm fotos
 
Msn
Msn Msn
Msn
 

Similar a Primeiro reinado

Brasil primeiro reinado
Brasil primeiro reinadoBrasil primeiro reinado
Brasil primeiro reinadofelipe_paes
 
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)profrogerio1
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro Reinadoguest38ce7a
 
imperio-brasileiro-1822-1889.ppt
imperio-brasileiro-1822-1889.pptimperio-brasileiro-1822-1889.ppt
imperio-brasileiro-1822-1889.pptKrishPatel433809
 
AULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdf
AULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdfAULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdf
AULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdfFlviaCristina51
 
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptxbrasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptxssuserbbf4ed
 
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptxbrasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptxssuserbbf4ed
 
Primeiro Reinado (25 03 2010)
Primeiro Reinado (25 03 2010)Primeiro Reinado (25 03 2010)
Primeiro Reinado (25 03 2010)Luis
 
História – brasil império período regencial 04 – 2014
História – brasil império período regencial 04 – 2014História – brasil império período regencial 04 – 2014
História – brasil império período regencial 04 – 2014Jakson Raphael Pereira Barbosa
 
Revolução Liberal de 1820
Revolução Liberal de 1820Revolução Liberal de 1820
Revolução Liberal de 1820ricardup
 
Constitucao portugesa
Constitucao portugesaConstitucao portugesa
Constitucao portugesaJoanaPaiva16
 
2º ano capítulo 3 brasil da independência ao golpe da maioridade (1)
2º ano capítulo 3   brasil  da independência ao golpe da maioridade (1)2º ano capítulo 3   brasil  da independência ao golpe da maioridade (1)
2º ano capítulo 3 brasil da independência ao golpe da maioridade (1)Gustavo Cuin
 

Similar a Primeiro reinado (20)

Brasil primeiro reinado
Brasil primeiro reinadoBrasil primeiro reinado
Brasil primeiro reinado
 
Primeiro Reinado e Regência
Primeiro Reinado e RegênciaPrimeiro Reinado e Regência
Primeiro Reinado e Regência
 
história ?
história ?história ?
história ?
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro Reinado
 
Hist20
Hist20Hist20
Hist20
 
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
Brasil Império (Primeiro Reinado / Regências / Segundo Reinado)
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro Reinado
 
Primeiro Reinado
Primeiro ReinadoPrimeiro Reinado
Primeiro Reinado
 
BRASIL 03 - BRASIL IMPÉRIO
BRASIL 03 - BRASIL IMPÉRIOBRASIL 03 - BRASIL IMPÉRIO
BRASIL 03 - BRASIL IMPÉRIO
 
imperio-brasileiro-1822-1889.ppt
imperio-brasileiro-1822-1889.pptimperio-brasileiro-1822-1889.ppt
imperio-brasileiro-1822-1889.ppt
 
AULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdf
AULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdfAULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdf
AULA 8 - A CONSTRUÇÃO DO ESTADO POLÍTICA E ECONOMIA NO PRIMEIRO REINADO.pdf
 
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptxbrasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
 
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptxbrasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
brasil-primeirarepblica-130223132953-phpapp02.pptx
 
Primeiro Reinado (25 03 2010)
Primeiro Reinado (25 03 2010)Primeiro Reinado (25 03 2010)
Primeiro Reinado (25 03 2010)
 
Brasil - Primeira república
Brasil - Primeira repúblicaBrasil - Primeira república
Brasil - Primeira república
 
Primeiro reinado
Primeiro reinadoPrimeiro reinado
Primeiro reinado
 
História – brasil império período regencial 04 – 2014
História – brasil império período regencial 04 – 2014História – brasil império período regencial 04 – 2014
História – brasil império período regencial 04 – 2014
 
Revolução Liberal de 1820
Revolução Liberal de 1820Revolução Liberal de 1820
Revolução Liberal de 1820
 
Constitucao portugesa
Constitucao portugesaConstitucao portugesa
Constitucao portugesa
 
2º ano capítulo 3 brasil da independência ao golpe da maioridade (1)
2º ano capítulo 3   brasil  da independência ao golpe da maioridade (1)2º ano capítulo 3   brasil  da independência ao golpe da maioridade (1)
2º ano capítulo 3 brasil da independência ao golpe da maioridade (1)
 

Primeiro reinado

  • 1. Primeiro Reinado O Primeiro Reinado - 1822/1831 - foi um período da História do Brasil marcado por sérios conflitos de interesses. De um lado os que desejavam preservar as estruturas socioeconômicas vigentes. Do outro, D. Pedro I pretendendo aumentar e reforçar o seu próprio poder, evidenciado na marca característica da Constituição outorgada de 1824: o Poder Moderador exclusivo do imperador. A política autoritária de D. Pedro I sofreu forte oposição na imprensa e na Câmara dos Deputados. A situação daí resultante, agravada pelos problemas econômicos e financeiros do país, minaram a popularidade do imperador. Este, apesar do apoio de alguns setores da sociedade, como o Partido Português, não conseguiu reverter a crise. Assim, na madrugada do dia 7 de abril de 1831, declarou sua abdicação ao trono em favor do filho menor, o príncipe imperial D. Pedro de Alcântara. No ano de 1822, D. Pedro I já havia convocado a Assembleia Constituinte, mas esta somente se reuniu em 1823. O principal objetivo da convocação seria a elaboração de uma Constituição para o Brasil, ou seja, a criação de um conjunto de leis que asseguraria os direitos do governo e da população brasileira. Somente membros da elite (latifundiários, comerciantes, militares...) participaram da elaboração da Constituição de 1824. Dissolução da Assembleia /A "Noite da Agonia" Ocorreu um acirramento do confronto político dos constituintes com o imperador. O projeto da Constituição começava a ser lido em setembro de 1823. Como os componentes do Partido Brasileiro eram a maioria na Assembléia, o projeto refletia os seus interesses. Desejando limitar o papel dos portugueses. O projeto excluía da vida política a maioria da população, pois instituía um sistema eleitoral, indireto e censitário, que exigia uma renda mínima equivalente ao valor de "150 alqueires de farinha de mandioca". Também limitava ao máximo os poderes do imperador, valorizando e ampliando os do Legislativo. Estabelecia que D. Pedro I não tinha poder para dissolver o Parlamento e que as Forças Armadas deveriam receber ordens do Legislativo. Nesta chamada "noite da agonia" da Assembléia - de 11 para 12 de novembro -, os debates foram bruscamente interrompidos pela entrada do brigadeiro José Manuel de Morais, portador de um decreto assinado por D. Pedro I que dizia: "Havendo eu convocado como tinha direito de convocar a Assembléia Geral no ano próximo passado (...) Hei por bem, como imperador e defensor perpétuo do Brasil, dissolver a mesma Assembléia e convocar uma outra (...) a qual deverá trabalhar sobre o projeto de Constituição que eu hei de em breve apresentar, que será duplicadamente mais liberal do que a extinta assembléia acaba de fazer".
  • 2. A Constituição Outorgada de 1824 Após a dissolução da Assembléia Constituinte, Dom Pedro I, justificando seu ato, declarou que convocaria uma outraAssembléia (...) a qual deverá trabalhar sobre o projeto de Constituição que eu lhe hei de breve apresentar; que será duplicadamente mais liberal, do que a extinta Assembleía acabou de fazer". Entretanto, isto não aconteceu. Foi nomeado um Conselho de Estado composto por dez membros pelo imperador, com a tarefa de redigir um projeto de Constituição. Esta Carta tinha, entre outras características, um sistema baseado em eleições indiretas e censitárias. Para votar e ser votado apontava requisitos quanto a renda. Isto denotava um caráter excludente na sociedade imperial, já que grande parte da população era composta por homens livres e pobres e por escravos. Para a Câmara dos Deputados elegia-se inicialmente um corpo eleitoral que, posteriormente, seria responsável pela eleição dos deputados para um período de quatro anos. A marca mais característica desta Constituição foi a instituição de um quarto poder, o Moderador, ao lado do Executivo, Legislativo e Judiciário. Este quarto poder era exclusivo do mPor meio do Poder Moderador o imperador nomeava os membros vitalícios do Conselho de Estado os presidentes de província, as autoridades eclesiásticas da Igreja oficial católica apostólica romana, o Senado vitalício. Também nomeava e suspendia os magistrados do Poder Judiciário, assim como nomeava e destituía os ministros do Poder Executivo. Imagem 1Utilizando-se deste quarto poder, Dom Pedro I aprovava ou não as decisões da Assembléia Geral, além de convocar ou dissolver a Câmara dos Deputados. Dessa forma, o imperador concentrava um poder sem paralelo, o que demonstrava o caráter centralizador e autoritário da organização política do Império do Brasil. Tal situação não foi aceita por toda a sociedade imperial. Havia quem aprovasse, quem calasse por temor e quem contestasse. O protesto mais violento partiu da província de Pernambuco e se transformou no episódio conhecido como Confederação do Equador. A Confederação do Equador A dissolução da Assembléia de 1823 e a outorga da Constituição de 1824 geraram de imediato uma violenta reação na província de Pernambuco. As Câmaras Municipais de Olinda e de Recife já haviam negado aprovação àqueles atos do imperador alegando que assim agiam movidas pela (...) "desconfiança não pequena em que se acham todos os habitantes desta província (...), receando (...) o restabelecimento do antigo e sempre detestável despotismo, a que estão dispostos a resistir corajosamente".
  • 3. Este descontentamento também já atingia outras províncias no Norte e no Nordeste do Brasil. Nelas, avolumavam-se os comentários de que o Rio de Janeiro havia se transformado numa "nova Lisboa" dominada por portugueses que oprimiam e prejudicavam os brasileiros. Na província de Pernambuco - em Recife, especialmente - a crença generalizada de que os portugueses exploravam os "patriotas pernambucanos" teria sido um dos motivos que deflagrara a Revolução Pernambucana de 1817. Durante o Primeiro Reinado, outro fato importantíssimo na história do Brasil foi a Guerra da Cisplatina (1825). O conflito teve início quando um grupo de dirigentes da província Cisplatina declarou a separação do Brasil e a sua incorporação à República Argentina. D. Pedro declarou guerra à Argentina e o exército brasileiro foi derrotado causando grandes prejuízos pelos enormes gastos e grande número de soldados mortos. A Inglaterra interveio no conflito, pressionando o Brasil e a Argentina a assinar um acordo de paz. Assim, a província Cisplatina declarou sua independência desses dois países, tornando-se a República do Uruguai. No decorrer do Primeiro Reinado, D. Pedro começou a desagradar a elite brasileira, pois criou uma Constituição que iria atender a seus interesses autoritários. Além disso, a Confederação do Equador e a Guerra da Cisplatina causaram grandes gastos para a economia brasileira e muitas mortes. Muitos jornalistas, através de seus jornais, teciam duras críticas ao imperador. A 7 de abril de 1831, D. Pedro I renunciou ao império, deixando o país nas mãos de seu primogênito, D. Pedro II, que na época tinha 5 anos. No mesmo dia, embarcou a bordo do HMS Warspite, de onde nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva como tutor de seus filhos menores, e seguiu para Portugal. D. Pedro I faleceu em Sintra em 1834, depois de ainda ter participado das Guerras Liberais portuguesas, onde lutou a favor de sua filha, D. Maria II, cujo trono português fora usurpado por seu tio, D. Miguel I.