Este documento analisa criticamente o Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares. Discute como o modelo pode ser um instrumento pedagógico para melhoria contínua e como a auto-avaliação deve ser um processo regulador para melhorar os serviços da biblioteca. Também reconhece alguns desafios na aplicação do modelo devido a fatores como resistência à mudança e excesso de burocracia.
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Análise crítica ao “Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares”
O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria. Conceitos implicados
A biblioteca escolar, no contexto do novo paradigma educacional do século XXI,
não pode ser apenas uma mostra de saberes e de recursos educativos, de acesso fácil a
todos aqueles que os queiram e saibam utilizar. Assim, constituído este Modelo de
Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares, a sua aplicação tem que ser vista como um
quadro de referência estratégico que pretende alcançar a melhoria contínua da qualidade
e inovação, cuja implementação deverá ser assumida quase como uma “missão” (que
por vezes parece impossível), elevando as aprendizagens, o desenvolvimento curricular
e o sucesso educativo dos alunos e, tal como refere Eisenberg, transformá-los em hábeis
utilizadores de ideias e informação.
A construção e aplicação deste modelo integram uma nova dinâmica do ensino-
aprendizagem no qual está implícito o conceito de “valor”. De facto, são importantes o
aspecto físico/material da biblioteca, os seus recursos tecnológicos, tal como
implementar actividades interessantes/atractivas, mas estes aspectos só serão relevantes
se conduzirem a resultados visíveis na apropriação de conhecimentos, por parte dos
alunos.
A BE deve dar resposta às necessidades deste novo aluno – sujeito activo na
construção do conhecimento, adoptando novas estratégias que passam pelo constante
questionamento. A auto-avaliação deve ser tida como um “processo pedagógico e
regulador”, inerente à gestão que vise uma melhoria contínua dos serviços da BE. Esta
só poderá ter um impacto positivo no ensino e na aprendizagem, se a auto-avaliação for
aplicada, reflectida e originando mudanças concretas. Sendo um “instrumento
pedagógico”, ajuda a escola na identificação de pontos fracos, sugerindo acções de
melhoria. Para tal, à luz da literatura consultada, a constante recolha de evidências
torna-se crucial no processo de melhoria do desempenho e no estabelecimento de
prioridades de acção em tempo de mudança.
Para além dos pontos fracos, serão igualmente identificadas os pontos de maior sucesso.
Quanto a estes, devemos prosseguir o caminho, mas relativamente à necessidade de
alterar procedimentos/actuações menos positivas, nem sempre encontramos meios
(materiais e/ou humanos) que nos permitam superá-las ou até atenuá-las. Cada escola
encerra em si um conjunto de constrangimentos que vão inevitavelmente fazer com que
nem sempre seja possível dar resposta, pelo que o caminho a percorrer terá que ser mais
longo e como tal mais moroso, ou seja, este instrumento pedagógico não irá produzir
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efeitos visíveis a curto prazo, devido às inúmeras resistências. Contudo, julgo que a
recolha de evidências, plasmadas num relatório final, poderá ser uma mais-valia na
avaliação do trabalho, pelo Director e pela equipa da biblioteca, o seu impacto na
instituição, bem como no sucesso de todo o processo educativo
Todd (2008) “The Evidence-Based Manifesto for School Librarians”
Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as bibliotecas escolares
A existência de um Modelo de Avaliação para as bibliotecas escolares poderá criar, a
ser bem implementado, uma dinâmica de auto-regulação com três vantagens essenciais:
Orientação fundamentada - orienta o trabalho da BE de forma contínua e
sistemática, criando rotinas a implementar por cada biblioteca em função da
realidade e das necessidades da sua escola.
Simplificação estratégica - cria uma dinâmica de auto-regulação que permite
validar o que se faz de melhor, acrescentar mais-valias e altera o que se apresenta
como menos positivo; Simultaneamente, dá visibilidade à BE e ao trabalho que
nela se faz pois, ao aplicarmos os instrumentos de recolha de evidências, todos os
envolvidos no processo ensino/aprendizagem podem rever o papel da BE, a sua
missão na Escola/ Agrupamento e o uso (positivo ou negativo) que fazem dela.
Uniformização de procedimentos - uniformiza procedimentos que, apesar de
serem de generalização nacional, devem ser realistas e possíveis de concretizar
uma vez que cada escola pode proceder a adaptações do modelo, de acordo com as
suas realidades.
A avaliação de qualquer organização é importante por significar:
"A medição sistemática do grau em que um sistema (por exemplo, uma biblioteca)
tem alcançado seus objectivos num determinado período de tempo".
Mackenzie (1990)
"… um processo sistemático de determinar o valor (em termos de benefício
obtido) e qualidade (reflectida na satisfação dos utilizadores) de um sistema.
(McKee 1989: 156)
Organização estrutural e funcional. Adequação e constrangimentos
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De acordo com a literatura utilizada e para que a BE cumpra, de forma efectiva, os
pressupostos e objectivos que suportam a sua acção no processo educativo, são
utilizados quatro grandes temas (respectivos subdomínios e indicadores) que constituem
o essencial a ser avaliado através do Modelo de Auto-Avaliação.
Assim e, segundo a Rede de Bibliotecas Escolares, são considerados os seguintes:
A. Apoio ao Desenvolvimento Curricular - articulação com as estruturas pedagógicas
e os docentes (departamentos curriculares, conselhos de turma, directores de
turma, coordenador de projectos, docentes das outras escolas do agrupamento,
equipa PTE, …); promover a formação de utilizadores; promoção das literacias da
informação;
B. Leitura e Literacias - promoção da leitura em diversos suportes e vertentes;
articulação com os departamentos /docentes e meio exterior; análise do impacto da
BE nas atitudes e competências da leitura e das literacias;
C. Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à Comunidade - Apoio a
actividades livres, extra-curriculares e de enriquecimento curricular (métodos de
trabalho e de estudo; utilização livre da BE; actividades lúdico-culturais; apoio às
AEC’s; envolvimento da BE em projectos de âmbito local com mobilização da
comunidade em geral; colaboração com o SABE…)
D. Gestão da Biblioteca Escolar - Articulação da BE coma Escola/Agrupamento
(promoção da BE junto dos órgãos de gestão e de decisão pedagógica; dar resposta
às necessidades da escola e dos utilizadores; avaliar a BE; assumir a liderança;
adequar a equipa em quantidade e qualificação; adequar espaço e equipamento/
computadores).
O Plano Anual de Actividades da Biblioteca deve, ser um documento em que o
Apoio ao Desenvolvimento Curricular esteja patente, através de uma política/acção de
sensibilização aos professores, de modo a implementar um processo construtivo
interligando programas leccionados e os objectivos da Biblioteca com projectos e
actividades partilhados. Mas, as crescentes solicitações que são colocadas aos docentes
têm resultado numa crescente menor disponibilidade para se encontrarem tempos
comuns com o intuito de planear e desenvolver actividades colaborativas.
Quanto à Leitura e Literacias, as actividades desenvolvidas na Biblioteca deverão ter em
conta a melhoria das competências de leitura dos alunos e das suas literacias através da
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Análise crítica ao “Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares”
criação de uma rotina de apoio às diversas tipologias de leitura: presencial, estudo
individual, em grupo, orientada …
No que se refere aos Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à
Comunidade a Biblioteca deverá funcionar em partilha com instituições locais,
promover de forma sistemática e mais intensa o trabalho entre as bibliotecas do
Concelho (SABE), no sentido de promover uma dinâmica de conjunto que será
potenciadora de uma maior conquista de leitores entre a comunidade.
Para tal, a Gestão da Biblioteca Escolar terá de ter uma atitude pró-activa no sentido
proporcionar condições de acesso dos alunos a um espaço privilegiado de construção de
saberes, de consolidação de competências e de aquisição de hábitos de leitura.
Globalmente, e no campo teórico, considero o modo como o Modelo de Auto-avaliação
das BE está estruturado adequado e revelador do que deve ser o trabalho da e com a BE.
Contudo, não posso deixar de frisar que este modelo, transporta alguns
constrangimentos, sobretudo decorrentes do excesso de burocracia que vem ser aplicado
ao nosso dia-a-dia, desviando as nossas energias.
4 - Integração/ Aplicação à realidade da escola
À partida, qualquer processo de auto-avaliação deve ser bem aceite, uma vez que
encerra uma dinâmica de melhoria da actividade/organização que visa avaliar. Assim,
tal como referi anteriormente, só antevejo problemas de carácter prático e de adaptação
na aplicação deste Modelo, à realidade da Escola onde desempenho, pela primeira vez o
meu cargo e na qual ainda nada foi testado.
Contudo, e baseando-me no feedback de outras escolas que já iniciaram este
processo, posso referir alguns possíveis factores de bloqueio, a saber:
• a ausência de práticas de avaliação baseadas em evidências e a falta de hábito a
pensar em termos de resultados e impactos, pode gerar algumas resistências à
colaboração;
• A por vezes, longa discriminar de todo o conjunto de evidências passíveis de
serem obtidas a partir dos diferentes instrumentos de recolha de informação, que
frequentemente levam ou à não resposta ou em muitos casos à descrição
demasiado vaga ou genérica, podendo levar a resultados pouco rigorosos;
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• A dificuldade em analisar e interpretar os dados a obter através das “fichas de
observação de competências” e por vezes o difícil “encaixe” das actividades da
BE nos pontos fortes e fracos.
A avaliação sendo um processo essencial para o seu bom desempenho não deve
constituir-se como “um quebra-cabeças” na actividade do professor bibliotecário, para
além disso, devemos ter presente que cada escola tem ritmos e necessidades diferentes,
pelo que devemos encarar este processo de uma forma realista. Este processo só faz
sentido numa perspectiva de médio/longo prazo e como instrumento pedagógico de
mudança/melhoria, pois só assim se poderá percorrer este caminho sem grandes
sobressaltos.
5 - Competências do professor bibliotecário e estratégias implicadas na sua
aplicação
O professor bibliotecário deve, neste processo e segundo Eisenberg e Miller
(2002) ,“This Man Wants yo change your Job”, evidenciar as seguintes competências:
- Ser um comunicador efectivo no seio da instituição;
- Ser proactivo e não reactivo;
- Saber exercer influência junto de professores e do órgão de gestão;
- Ser útil e considerado pelos outros membros da comunidade educativa;
- Ser observador e investigativo;
- Ser capaz de ver o todo - “the big picture”;
- Saber estabelecer prioridades;
- Realizar uma abordagem construtiva aos problemas e à realidade;
- Ser gestor de recursos e de serviços de aprendizagem no seio da escola;
- Ser tutor, professor e um avaliador de recursos, apoiando e contribuindo para
as aprendizagens;
- Saber trabalhar com departamentos e colegas.
- Saber gerir e avaliar de acordo com a missão e objectivos da escola.
São, indubitavelmente, um conjunto muito exaustivo de qualificações, para que
possamos encontrar muitos professores bibliotecários com todas elas. No que me diz
respeito, seria muito positivo se tivesse muitas delas. Contudo, penso que o fundamental
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Análise crítica ao “Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares”
é ter uma atitude positiva porque, tal como refere Eisenberg “ A positive attitude breeds
positive results, a negative one breeds failure.”
O Professor bibliotecário, como Todd (2001) refere, deve transformar a biblioteca
escolar em “espaço de conhecimento e não apenas a um espaço de informação”. Deve
entender a biblioteca escolar além da colecção, além do espaço. Transformá-la “num
espaço de conexões de links e multi-referências”, no que se refere às colecções, mas
também à integração/interacção com a Escola. Deve definir “acções, por oposição a
posições e trabalhar para a demonstração do valor e do impacto da BE”, obtidos com
recurso a evidências, num movimento que conduza à necessidade de “demonstrar” o
que se faz e à mudança (Todd 2008).
Neste contexto, o professor bibliotecário deve assumir e desenvolver as funções
de um professor, bom conhecedor das novas tecnologias, excelente em relações públicas
e em marketing e, com o indispensável, sentido de “missão”.
Sílvia Faustino
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