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Desigualdades raciais no Brasil


                                                          Roberto Borges Martins (*)




(*) Presidente do IPEA. Os dados referentes à atualidade brasileira são parte do projeto
“Desigualdades raciais no Brasil”, em desenvolvimento no IPEA, sob a coordenação de
Ricardo Henriques
“Quando alguém prende uma corrente no
pescoço de um escravo, a outra ponta dessa
corrente se enrosca no seu próprio pescoço”


     Ralph Waldo Emerson. Compensations
Fundamento Histórico
• Na origem das extremas desigualdades raciais observadas no Brasil
está o fato óbvio de que os africanos e muitos dos seus descendentes
foram incorporados à sociedade brasileira na condição de escravos.
• A chamada “escravidão moderna” foi uma das formas mais radicais de
exclusão econômica e social já inventadas pelo homem.
• As desigualdades entre as raças observadas no Brasil de hoje nada
mais são, portanto, que o resultado cumulativo das desvantagens
iniciais transmitidas através das gerações.
• As políticas de “ação afirmativa” ou “discriminação positiva” são
instrumentos de que a sociedade dispõe para compensar essas
desvantagens impostas às vítimas da escravidão e seus descendentes,
com o objetivo de colocá-los na mesma condição competitiva que os
outros segmentos da sociedade.
• Numa linguagem bem direta, pode-se dizer que se trata apenas de
“pagar os atrasados” ou de “recuperar o tempo perdido”.
• “Tratar desigualmente os desiguais para promover a igualdade”
O Brasil foi

• A segunda maior nação escravista da era moderna

• O último país do mundo ocidental a abolir a escravidão (1888)

• O penúltimo país da América a abolir o tráfico de escravos (1850)

• O maior importador de toda a história do tráfico atlântico


O Brasil tem hoje

• A segunda maior população negra (afrodescendente) do mundo, com
cerca de 80 milhões de indivíduos, só sendo superado pela Nigéria
Cronologia da abolição da escravidão na América

      Saint Domingue (Haiti)                 1804
      Chile                                  1823
      Províncias Unidas da América Central   1824
      México                                 1829
      Uruguai                                1842
      Colônias suecas                        1847
      Colônias dinamarquesas                 1848
      Colônias francesas                     1848
      Bolívia                                1851
      Colômbia                               1851
      Equador                                1852
      Argentina                              1853
      Venezuela                              1854
      Peru                                   1855
      Colônias holandesas                    1863
      Estados Unidos                         1863
      Porto Rico                             1873
      Cuba                                   1886
      Brasil                                 1888
Tráfico atlântico de escravos, 1451- 1870 (milhares de pessoas)


Destino                              1451-1600    1601-1700     1701-1810   1811-1870   Total



Estados Unidos                           0             0           376         51       427

América Espanhola                        75           293          579        606       1.552

Caribe Britânico                         0            264         1.401         0       1.665

Caribe Francês                           0            156         1.320        96       1.572

Caribe Holandês e Dinamarquês            0            44           484          0       528

Europa e Ilhas Atlânticas               150           25            0           0       175

Brasil                                   50           560         1.891       1.145     3.647



Total                                   275          1.341        6.052       1.898     9.566



Fonte : Philip D. Curtin. T Atlantic Slave Trade. A Census (1969), p. 88
                          he
Distribuição percentual do Tráfico Atlântico, por local de destino, 1451-1870




                                    7         4

                                  Outros     EUA
                                                             16

                                                       América Espanhola



                           38                                      17

                         Brasil                              Caribe Britânico

                                                  16

                                           Caribe Francês
Disseminação da propriedade de escravos



    Suporte social e ético do regime
• A propriedade de escravos era amplamente disseminada na sociedade brasileira
(muito mais que nos Estados Unidos ou no Caribe)
• Durante quase 4 séculos o regime escravista contou com uma ampla base de
sustentação social, ideológica, política e religiosa. A Igreja Católica nunca
combateu a escravidão negra
•Não havia clivagens regionais, como nos EUA : a escravidão era aceita e
praticada em todo o território brasileiro
• No censo do Império (1872) havia escravos em todos os 643 municípios
brasileiros
• Ao contrário da lenda perpetuada pela literatura abolicionista, a sociedade não
rejeitava éticamente a escravidão
• Ter escravos ou traficar com escravos não era vergonhoso, nem estigmatizante,
mas sim um sinal de status, de riqueza e de prestígio. A maior parte dos grandes
traficantes e dos grandes proprietários recebeu títulos de nobreza do Império
• Até depois da Guerra do Paraguai quase não se encontra nenhuma oposição ao
regime servil na literatura, na imprensa, na jurisprudência ou no parlamento
• O movimento abolicionista, quando surgiu, foi inteiramente secular - a Igreja
Católica não participou dele
• Possuíam escravos tanto o grande fazendeiro, o grande
minerador, o grande comerciante, o general e o bispo, como
o pequeno lavrador, o faiscador, o pequeno funcionário,
o tropeiro, o artesão, o vendeiro e o cura da aldeia

• Mas também tinham cativos o sacristão, a viúva pobre, o
negro e o mulato forros, e até alguns escravos

• O governo tinha cativos (os “escravos da nação”), assim
como as ordens religiosas, os conventos e a família imperial

• As companhias mineradoras inglesas tinham muitos –
no Gongo Soco encontramos negros batizados como Otello,
Byron e Macbeth,além de inúmeras Pollys, Mollys e Peggies
• Em Minas Gerais, em 1831, 34% dos domicílios possuía
escravos (dois terços destes tinham de 1 a 5 indivíduos)

• Em 1862, encontramos cativos em 25% dos “fogos” mineiros

• Em 1828, 25% dos domicílios paulistas possuíam escravos




• Em 1998, 30% dos domicílios brasileiros tinham telefone

• Em 1997, 24% dos domicílios mineiros tinham automóvel
Brasil : Características da população no Recenseamento do Império, 1872


                         População     População     População     População    População              %
                         Livre afro     Escrava      Total afro     Não-afro      Total         Afrodescendente


Côrte                         71.418        48.939      120.357       154.615         274.972        43,8
Rio Grande do Sul             84.992        69.685      154.677       292.285         446.962        34,6
Maranhão                     170.615        75.272      245.887       114.753         360.640        68,2
São Paulo                    207.517      156.612       364.129       473.225         837.354        43,5
Rio de Janeiro               187.251      306.425       493.676       325.928         819.604        60,2
Pernambuco                   449.115        89.028      538.143       303.396         841.539        63,9
Bahia                        837.816      167.824     1.005.640       373.976     1.379.616          72,9
Minas Gerais                 830.255      381.893     1.212.148       890.541     2.102.689          57,6

Demais províncias          1.487.083      250.202     1.737.285     1.310.400     3.047.685          57,0


Brasil                     4.326.063     1.545.880    5.871.943     4.239.118 10.111.061             58,1


Fonte : Recenseamento Geral do Império do Brasil (1872) (Dados corrigidos pela DGE)
Brasil : População por cor, 1890


                      Brancos           Pretos e Pardos   Total        % Afro


Minas Gerais             1.292.716            1.891.383    3.184.099   59,4
Bahia                      491.336            1.428.466    1.919.802   74,4
Pernambuco                 423.900              606.324    1.030.224   58,9
São Paulo                  873.423              511.330    1.384.753   36,9
Rio de Janeiro             376.661              500.223      876.884   57,0
Ceará                      358.619              447.068      805.687   55,5
Alagoas                    158.927              352.513      511.440   68,9


Demais Estados           2.326.616            2.294.710    4.621.326   49,7


Brasil                   6.302.198            8.032.017   14.334.215   56,0

Fonte : Recenseamento do Brasil, 1890
Brasil : População por cor, 1991


                        Pretos e Pardos        Indígenas    Outros        Total (1)   % Afro   % Indígena


Bahia                       9.390.270            16.030    2.408.569    11.814.869    79,5       0,14
São Paulo                   8.025.592            13.166    23.340.455   31.379.213    25,6       0,04
Minas Gerais                7.599.242            6.112     8.104.328    15.709.682    48,4       0,04
Rio de Janeiro              5.676.677            8.957     7.038.782    12.724.416    44,6       0,07
Pernambuco                  4.750.122            10.578    2.357.474     7.118.174    66,7       0,15
Ceará                       4.478.578            2.692     1.871.226     6.352.496    70,5       0,04
Maranhão                    3.878.951            15.673    1.019.687     4.914.311    78,9       0,32
Pará                        3.859.348            16.134    1.051.675     4.927.157    78,3       0,33


Outros Estados             21.992.411           204.793    29.143.390   51.340.594    42,8       0,40


Brasil                     69.651.191           294.135    76.335.586   146.280.912   47,6       0,20


Fonte : IBGE, Recenseamento do Brasil, 1991

Nota : Não há declaração de cor para 534.895 indivíduos.
Brasil : População por cor, 1999


                      Pretos e Pardos   Indígenas    Outros        Total (1)    % Afro   % Indígena


Bahia                     10.093.894        29.780    2.902.497    13.026.171   77,5       0,23
São Paulo                  9.626.584        26.940   26.287.808    35.941.332   26,8       0,07
Minas Gerais               8.164.656        11.463    9.165.602    17.341.721   47,1       0,07
Rio de Janeiro             5.286.723         2.337    8.547.758    13.836.818   38,2       0,02
Pernambuco                 4.876.897         3.836    2.713.444     7.594.177   64,2       0,05
Ceará                      4.811.455           611    2.316.496     7.128.562   67,5       0,01
Maranhão                   4.076.339         3.296    1.351.219     5.430.854   75,1       0,06
Pará                       2.379.879         5.920     812.528      3.198.327   74,4       0,19


Outros Estados            23.372.004       177.557   33.287.557    56.837.118   41,1       0,31


Brasil                    72.688.431       261.740   87.384.909   160.335.080   45,3       0,16


Fonte : IBGE, PNAD 1999
A construção da negação

    Do mito da “escravidão cordial” ao mito da “democracia racial”


• A idéia de que a escravidão no Brasil era “mais branda” ou “mais suave” do
que nos EUA ou no Caribe tem suas raízes no próprio período escravista
• Foi retomada por alguns historiadores no século XX (Oliveira Viana,
Carolina Nabuco, Artur ramos, Donald Pierson, Mary Wilhelmine Williams,
Percy A. Martin e, principalmente, Harry Johnston (1910), Gilberto Freyre
(1922, 1933), Frank Tannebaum (1946) e Stanley Elkins (1959)
• Ficou conhecida na literatura como a “tese Freyre-Tannebaum-Elkins”
• Totalmente desmoralizada hoje (Roger Bastide, Fernando Henrique
Cardoso, Octavio Ianni, Florestan Fernandes [UNESCO], Marvin Harris,
Sidney Mintz, etc.), mas teve papel importante na fixação do mito da
democracia racial no Brasil
• Gilberto Freyre. Casa Grande e Senzala (1933) :
• A escravidão afetuosa ou A senzala vista da varanda da casa grande
      - uma visão idílica da escravidão e da “civilização do engenho”
      - Um sistema patriarcal, paternalista, cordial, afetivo
      - intensa troca cultural entre escravos e senhores
      - intenso relacionamento sexual e miscigenação
      - Foi o “gênio colonial português” que construiu essa civilização

• Muito mais direto e explícito em 1922, em “Social Life in Brazil in the
Middle of the Nineteenth Century”. HAHR (1922)
    - Escravos eram bem alimentados, bem abrigados, bem vestidos e
bem tratados em geral
     - “The Brazilian slave lived like a cherub if we contrast his lot
with that of the English and other European factory workers in the
middle of the last century”
Frank Tannebaum. Slave and Citizen. The Negro in the Americas (1946)
• Baseia seu argumento na comparação de algumas características :
     - Colonização ibérica x colonização anglo-saxônica
      - Catolicismo ibérico x catolicismo francês x protestantismo
      - Tradição legal ibérica, convivência secular com regime escravista
      - Experiência ibérica de convívio interracial



“Humanidade” do escravo brasileiro x bestialidade (chattel) nos EUA


• Estatuto legal da escravidão brasileira garantia garantia direito ao casamento e à família,
direito de mudar de dono, direito de propriedade, direito de comprar sua própria liberdade
• Evidências :
                 - incidência de manumissão
                 - relacionamento sexual, miscigenação
                 - sistema aberto, com possibilidade de mobilidade
                 - abolição pacífica
Da visão da escravidão mais branda e mais humanizada os defensores
dessa tese inferiram vários corolários sobre as relações raciais no Brasil
pós-abolição :
• “In Brazil the freed Negroes were free men, not freedmen” (Tannebaum)

• Depois da abolição os ex-escravos adquiriram cidadania imediata, fundindo-se
na população livre com plenos direitos, sem restrições legais e sem segregação



Visões como essas, junto com a afirmação formal da igualdade
(inexistência de aparato legal de segregação) e a ausência de violência
interracial, criaram, e mantém até hoje, a mentira da democracia racial,
ou seja a idéia de que a sociedade brasileira oferece oportunidades
iguais para todos, independentemente de sua raça ou cor


Esse é um dos mitos mais arraigados da cultura brasileira.
Racismo e desigualdade racial são anátemas no Brasil.
Recentemente tem surgido até mesmo um renascimento da tese da
“escravidão cordial”
Desigualdades raciais no Brasil hoje: a realidade desmente o mito


• Mais de um século depois da abolição, as desvantagens e
desigualdades geradas pelo regime escravista permanecem entre nós, e
continuam sendo transmitidas entre as gerações


• Todas as outras sociedades escravistas da América tiveram mais
sucesso que o Brasil na superação das desigualdades raciais


• No Brasil persistem grandes diferenças entre os indicadores sócio-
econômicos de brancos e negros e, o que é mais grave,vários desses
indicadores não tem uma trajetória convergente


• Apesar disso, a sociedade brasileira continua negando a existência do
problema e a necessidade de enfrentá-lo
Educação
Brasil : Número médio de anos de estudo em 1999, por coôrtes e por cor


                     9


                     8


                     7

                               Brancos
                     6
Escolaridade média




                     5


                     4


                     3


                     2

                                    Negros
                     1


                     0
                      1929   1932   1935   1938   1941   1944   1947     1950   1953       1956   1959   1962   1965   1968   1971   1974


                                                                       Ano de nascimento



Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1999.

Nota: *A população negra é composta por pretos e pardos.
Mercado de trabalho
Desemprego
Renda e pobreza
Brasil : Renda domiciliar per capita média mensal, 1992 e 1999 (em reais de 1999)



                                1992                            1999                 Negros como % dos brancos
                    Total     Brancos Negros         Total    Brancos Negros            1992          1999


Brasil               232        308        137        298        401        170           44          42

Centro Oeste         240        326        162        316        428        218           50          51
Nordeste             127        190        103        167        258        128           54          50
Norte                170        242        140        213        307        176           58          57
Sudeste              292        351        174        376        461        211           50          46
Sul                  266        288        141        339        371        166           49          45

Metropolitana        327        415        196        421        548        237           47          43
Rural                98         133        70         123        170        84            52          50
Urbana               228        296        137        290        379        173           46          46


Fonte: IPEA, com base na Pesquisa Nacional por amostra de domicílios (PNAD) 1992 e 1999
Renda dos domicílios "negros" como % da renda dos domicílios "brancos", 1992 e 1999

65

                                                                  Fonte : IPEA, com base na PNAD, IBGE

            1992
60
                                                    58
            1999                                         57

55                                   54

                          51
                     50                   50                        50
50                                                                                      49

                                                                          46
     44                                                                                        45
45
           42

40




35




30
       Brasil        C. Oeste        Nordeste         Norte         Sudeste                  Sul
Brasil : Distribuição da população por décimos da renda, segundo a cor, 1999


                   100

                    90

                    80

                    70
   Proporção (%)




                    60

                    50

                    40

                    30

                    20

                    10

                     0
                          1      2         3           4          5          6         7        8   9   10
                                                                Décimos da renda

                                                      População Branca       População Negra*

Fonte: IPEA, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1999.

Nota: *A população negra é composta por pardos e pretos.
Brasil : Proporção e número de pobres e de indigentes, por cor, 1992 e 1999


                         Proporção (%)                            Número (milhares)

                          1992       1999                 1992         1999       Variação (%)


Pobres

Total                      41         34                 57.329       52.866             -8
Brancos                    29         23                 22.109       19.008            -14
Negros                     55         48                 35.099       33.638             -4

Indigentes*

Total                      19         14                 27.130       22.329            -18
Brancos                    12         8                  8.966        6.861             -23
Negros                     29         22                 18.092       15.374            -15


Fonte: IPEA, com base nas PNAD 1992 e 1999
Nota : o número de indigentes está incluído no número de pobres, e não deve ser somado a eles.
1992

1999
Brasil : População total, pobres e indigentes, segundo a cor, 1999




    Indigentes




    Pobres




População total



                           0          10          20          30          40          50      60    70       80       90   100


                                                            População Branca                       População Negra*

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de domicilio 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999
  Nota: * A população negra é composta por pardos e pretos.
Trabalho infantil
Distribuição por cor das crianças que trabalham, 1999


Crianças de 5 a 9 anos          Crianças de 10 a 14 anos




   38%                                 37%

  Outros                             Outros
                 62%                                  63%

           Pretos e pardos                    Pretos e pardos
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Desigualdades raciais no Brasil: uma análise histórica

  • 1. Desigualdades raciais no Brasil Roberto Borges Martins (*) (*) Presidente do IPEA. Os dados referentes à atualidade brasileira são parte do projeto “Desigualdades raciais no Brasil”, em desenvolvimento no IPEA, sob a coordenação de Ricardo Henriques
  • 2. “Quando alguém prende uma corrente no pescoço de um escravo, a outra ponta dessa corrente se enrosca no seu próprio pescoço” Ralph Waldo Emerson. Compensations
  • 3. Fundamento Histórico • Na origem das extremas desigualdades raciais observadas no Brasil está o fato óbvio de que os africanos e muitos dos seus descendentes foram incorporados à sociedade brasileira na condição de escravos. • A chamada “escravidão moderna” foi uma das formas mais radicais de exclusão econômica e social já inventadas pelo homem. • As desigualdades entre as raças observadas no Brasil de hoje nada mais são, portanto, que o resultado cumulativo das desvantagens iniciais transmitidas através das gerações. • As políticas de “ação afirmativa” ou “discriminação positiva” são instrumentos de que a sociedade dispõe para compensar essas desvantagens impostas às vítimas da escravidão e seus descendentes, com o objetivo de colocá-los na mesma condição competitiva que os outros segmentos da sociedade. • Numa linguagem bem direta, pode-se dizer que se trata apenas de “pagar os atrasados” ou de “recuperar o tempo perdido”. • “Tratar desigualmente os desiguais para promover a igualdade”
  • 4. O Brasil foi • A segunda maior nação escravista da era moderna • O último país do mundo ocidental a abolir a escravidão (1888) • O penúltimo país da América a abolir o tráfico de escravos (1850) • O maior importador de toda a história do tráfico atlântico O Brasil tem hoje • A segunda maior população negra (afrodescendente) do mundo, com cerca de 80 milhões de indivíduos, só sendo superado pela Nigéria
  • 5. Cronologia da abolição da escravidão na América Saint Domingue (Haiti) 1804 Chile 1823 Províncias Unidas da América Central 1824 México 1829 Uruguai 1842 Colônias suecas 1847 Colônias dinamarquesas 1848 Colônias francesas 1848 Bolívia 1851 Colômbia 1851 Equador 1852 Argentina 1853 Venezuela 1854 Peru 1855 Colônias holandesas 1863 Estados Unidos 1863 Porto Rico 1873 Cuba 1886 Brasil 1888
  • 6. Tráfico atlântico de escravos, 1451- 1870 (milhares de pessoas) Destino 1451-1600 1601-1700 1701-1810 1811-1870 Total Estados Unidos 0 0 376 51 427 América Espanhola 75 293 579 606 1.552 Caribe Britânico 0 264 1.401 0 1.665 Caribe Francês 0 156 1.320 96 1.572 Caribe Holandês e Dinamarquês 0 44 484 0 528 Europa e Ilhas Atlânticas 150 25 0 0 175 Brasil 50 560 1.891 1.145 3.647 Total 275 1.341 6.052 1.898 9.566 Fonte : Philip D. Curtin. T Atlantic Slave Trade. A Census (1969), p. 88 he
  • 7. Distribuição percentual do Tráfico Atlântico, por local de destino, 1451-1870 7 4 Outros EUA 16 América Espanhola 38 17 Brasil Caribe Britânico 16 Caribe Francês
  • 8. Disseminação da propriedade de escravos Suporte social e ético do regime
  • 9. • A propriedade de escravos era amplamente disseminada na sociedade brasileira (muito mais que nos Estados Unidos ou no Caribe) • Durante quase 4 séculos o regime escravista contou com uma ampla base de sustentação social, ideológica, política e religiosa. A Igreja Católica nunca combateu a escravidão negra •Não havia clivagens regionais, como nos EUA : a escravidão era aceita e praticada em todo o território brasileiro • No censo do Império (1872) havia escravos em todos os 643 municípios brasileiros • Ao contrário da lenda perpetuada pela literatura abolicionista, a sociedade não rejeitava éticamente a escravidão • Ter escravos ou traficar com escravos não era vergonhoso, nem estigmatizante, mas sim um sinal de status, de riqueza e de prestígio. A maior parte dos grandes traficantes e dos grandes proprietários recebeu títulos de nobreza do Império • Até depois da Guerra do Paraguai quase não se encontra nenhuma oposição ao regime servil na literatura, na imprensa, na jurisprudência ou no parlamento • O movimento abolicionista, quando surgiu, foi inteiramente secular - a Igreja Católica não participou dele
  • 10. • Possuíam escravos tanto o grande fazendeiro, o grande minerador, o grande comerciante, o general e o bispo, como o pequeno lavrador, o faiscador, o pequeno funcionário, o tropeiro, o artesão, o vendeiro e o cura da aldeia • Mas também tinham cativos o sacristão, a viúva pobre, o negro e o mulato forros, e até alguns escravos • O governo tinha cativos (os “escravos da nação”), assim como as ordens religiosas, os conventos e a família imperial • As companhias mineradoras inglesas tinham muitos – no Gongo Soco encontramos negros batizados como Otello, Byron e Macbeth,além de inúmeras Pollys, Mollys e Peggies
  • 11. • Em Minas Gerais, em 1831, 34% dos domicílios possuía escravos (dois terços destes tinham de 1 a 5 indivíduos) • Em 1862, encontramos cativos em 25% dos “fogos” mineiros • Em 1828, 25% dos domicílios paulistas possuíam escravos • Em 1998, 30% dos domicílios brasileiros tinham telefone • Em 1997, 24% dos domicílios mineiros tinham automóvel
  • 12. Brasil : Características da população no Recenseamento do Império, 1872 População População População População População % Livre afro Escrava Total afro Não-afro Total Afrodescendente Côrte 71.418 48.939 120.357 154.615 274.972 43,8 Rio Grande do Sul 84.992 69.685 154.677 292.285 446.962 34,6 Maranhão 170.615 75.272 245.887 114.753 360.640 68,2 São Paulo 207.517 156.612 364.129 473.225 837.354 43,5 Rio de Janeiro 187.251 306.425 493.676 325.928 819.604 60,2 Pernambuco 449.115 89.028 538.143 303.396 841.539 63,9 Bahia 837.816 167.824 1.005.640 373.976 1.379.616 72,9 Minas Gerais 830.255 381.893 1.212.148 890.541 2.102.689 57,6 Demais províncias 1.487.083 250.202 1.737.285 1.310.400 3.047.685 57,0 Brasil 4.326.063 1.545.880 5.871.943 4.239.118 10.111.061 58,1 Fonte : Recenseamento Geral do Império do Brasil (1872) (Dados corrigidos pela DGE)
  • 13. Brasil : População por cor, 1890 Brancos Pretos e Pardos Total % Afro Minas Gerais 1.292.716 1.891.383 3.184.099 59,4 Bahia 491.336 1.428.466 1.919.802 74,4 Pernambuco 423.900 606.324 1.030.224 58,9 São Paulo 873.423 511.330 1.384.753 36,9 Rio de Janeiro 376.661 500.223 876.884 57,0 Ceará 358.619 447.068 805.687 55,5 Alagoas 158.927 352.513 511.440 68,9 Demais Estados 2.326.616 2.294.710 4.621.326 49,7 Brasil 6.302.198 8.032.017 14.334.215 56,0 Fonte : Recenseamento do Brasil, 1890
  • 14. Brasil : População por cor, 1991 Pretos e Pardos Indígenas Outros Total (1) % Afro % Indígena Bahia 9.390.270 16.030 2.408.569 11.814.869 79,5 0,14 São Paulo 8.025.592 13.166 23.340.455 31.379.213 25,6 0,04 Minas Gerais 7.599.242 6.112 8.104.328 15.709.682 48,4 0,04 Rio de Janeiro 5.676.677 8.957 7.038.782 12.724.416 44,6 0,07 Pernambuco 4.750.122 10.578 2.357.474 7.118.174 66,7 0,15 Ceará 4.478.578 2.692 1.871.226 6.352.496 70,5 0,04 Maranhão 3.878.951 15.673 1.019.687 4.914.311 78,9 0,32 Pará 3.859.348 16.134 1.051.675 4.927.157 78,3 0,33 Outros Estados 21.992.411 204.793 29.143.390 51.340.594 42,8 0,40 Brasil 69.651.191 294.135 76.335.586 146.280.912 47,6 0,20 Fonte : IBGE, Recenseamento do Brasil, 1991 Nota : Não há declaração de cor para 534.895 indivíduos.
  • 15. Brasil : População por cor, 1999 Pretos e Pardos Indígenas Outros Total (1) % Afro % Indígena Bahia 10.093.894 29.780 2.902.497 13.026.171 77,5 0,23 São Paulo 9.626.584 26.940 26.287.808 35.941.332 26,8 0,07 Minas Gerais 8.164.656 11.463 9.165.602 17.341.721 47,1 0,07 Rio de Janeiro 5.286.723 2.337 8.547.758 13.836.818 38,2 0,02 Pernambuco 4.876.897 3.836 2.713.444 7.594.177 64,2 0,05 Ceará 4.811.455 611 2.316.496 7.128.562 67,5 0,01 Maranhão 4.076.339 3.296 1.351.219 5.430.854 75,1 0,06 Pará 2.379.879 5.920 812.528 3.198.327 74,4 0,19 Outros Estados 23.372.004 177.557 33.287.557 56.837.118 41,1 0,31 Brasil 72.688.431 261.740 87.384.909 160.335.080 45,3 0,16 Fonte : IBGE, PNAD 1999
  • 16. A construção da negação Do mito da “escravidão cordial” ao mito da “democracia racial” • A idéia de que a escravidão no Brasil era “mais branda” ou “mais suave” do que nos EUA ou no Caribe tem suas raízes no próprio período escravista • Foi retomada por alguns historiadores no século XX (Oliveira Viana, Carolina Nabuco, Artur ramos, Donald Pierson, Mary Wilhelmine Williams, Percy A. Martin e, principalmente, Harry Johnston (1910), Gilberto Freyre (1922, 1933), Frank Tannebaum (1946) e Stanley Elkins (1959) • Ficou conhecida na literatura como a “tese Freyre-Tannebaum-Elkins” • Totalmente desmoralizada hoje (Roger Bastide, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Florestan Fernandes [UNESCO], Marvin Harris, Sidney Mintz, etc.), mas teve papel importante na fixação do mito da democracia racial no Brasil
  • 17. • Gilberto Freyre. Casa Grande e Senzala (1933) : • A escravidão afetuosa ou A senzala vista da varanda da casa grande - uma visão idílica da escravidão e da “civilização do engenho” - Um sistema patriarcal, paternalista, cordial, afetivo - intensa troca cultural entre escravos e senhores - intenso relacionamento sexual e miscigenação - Foi o “gênio colonial português” que construiu essa civilização • Muito mais direto e explícito em 1922, em “Social Life in Brazil in the Middle of the Nineteenth Century”. HAHR (1922) - Escravos eram bem alimentados, bem abrigados, bem vestidos e bem tratados em geral - “The Brazilian slave lived like a cherub if we contrast his lot with that of the English and other European factory workers in the middle of the last century”
  • 18. Frank Tannebaum. Slave and Citizen. The Negro in the Americas (1946) • Baseia seu argumento na comparação de algumas características : - Colonização ibérica x colonização anglo-saxônica - Catolicismo ibérico x catolicismo francês x protestantismo - Tradição legal ibérica, convivência secular com regime escravista - Experiência ibérica de convívio interracial “Humanidade” do escravo brasileiro x bestialidade (chattel) nos EUA • Estatuto legal da escravidão brasileira garantia garantia direito ao casamento e à família, direito de mudar de dono, direito de propriedade, direito de comprar sua própria liberdade • Evidências : - incidência de manumissão - relacionamento sexual, miscigenação - sistema aberto, com possibilidade de mobilidade - abolição pacífica
  • 19. Da visão da escravidão mais branda e mais humanizada os defensores dessa tese inferiram vários corolários sobre as relações raciais no Brasil pós-abolição : • “In Brazil the freed Negroes were free men, not freedmen” (Tannebaum) • Depois da abolição os ex-escravos adquiriram cidadania imediata, fundindo-se na população livre com plenos direitos, sem restrições legais e sem segregação Visões como essas, junto com a afirmação formal da igualdade (inexistência de aparato legal de segregação) e a ausência de violência interracial, criaram, e mantém até hoje, a mentira da democracia racial, ou seja a idéia de que a sociedade brasileira oferece oportunidades iguais para todos, independentemente de sua raça ou cor Esse é um dos mitos mais arraigados da cultura brasileira. Racismo e desigualdade racial são anátemas no Brasil. Recentemente tem surgido até mesmo um renascimento da tese da “escravidão cordial”
  • 20. Desigualdades raciais no Brasil hoje: a realidade desmente o mito • Mais de um século depois da abolição, as desvantagens e desigualdades geradas pelo regime escravista permanecem entre nós, e continuam sendo transmitidas entre as gerações • Todas as outras sociedades escravistas da América tiveram mais sucesso que o Brasil na superação das desigualdades raciais • No Brasil persistem grandes diferenças entre os indicadores sócio- econômicos de brancos e negros e, o que é mais grave,vários desses indicadores não tem uma trajetória convergente • Apesar disso, a sociedade brasileira continua negando a existência do problema e a necessidade de enfrentá-lo
  • 22.
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  • 25. Brasil : Número médio de anos de estudo em 1999, por coôrtes e por cor 9 8 7 Brancos 6 Escolaridade média 5 4 3 2 Negros 1 0 1929 1932 1935 1938 1941 1944 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 Ano de nascimento Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1999. Nota: *A população negra é composta por pretos e pardos.
  • 27.
  • 29.
  • 31. Brasil : Renda domiciliar per capita média mensal, 1992 e 1999 (em reais de 1999) 1992 1999 Negros como % dos brancos Total Brancos Negros Total Brancos Negros 1992 1999 Brasil 232 308 137 298 401 170 44 42 Centro Oeste 240 326 162 316 428 218 50 51 Nordeste 127 190 103 167 258 128 54 50 Norte 170 242 140 213 307 176 58 57 Sudeste 292 351 174 376 461 211 50 46 Sul 266 288 141 339 371 166 49 45 Metropolitana 327 415 196 421 548 237 47 43 Rural 98 133 70 123 170 84 52 50 Urbana 228 296 137 290 379 173 46 46 Fonte: IPEA, com base na Pesquisa Nacional por amostra de domicílios (PNAD) 1992 e 1999
  • 32. Renda dos domicílios "negros" como % da renda dos domicílios "brancos", 1992 e 1999 65 Fonte : IPEA, com base na PNAD, IBGE 1992 60 58 1999 57 55 54 51 50 50 50 50 49 46 44 45 45 42 40 35 30 Brasil C. Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul
  • 33. Brasil : Distribuição da população por décimos da renda, segundo a cor, 1999 100 90 80 70 Proporção (%) 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Décimos da renda População Branca População Negra* Fonte: IPEA, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1999. Nota: *A população negra é composta por pardos e pretos.
  • 34. Brasil : Proporção e número de pobres e de indigentes, por cor, 1992 e 1999 Proporção (%) Número (milhares) 1992 1999 1992 1999 Variação (%) Pobres Total 41 34 57.329 52.866 -8 Brancos 29 23 22.109 19.008 -14 Negros 55 48 35.099 33.638 -4 Indigentes* Total 19 14 27.130 22.329 -18 Brancos 12 8 8.966 6.861 -23 Negros 29 22 18.092 15.374 -15 Fonte: IPEA, com base nas PNAD 1992 e 1999 Nota : o número de indigentes está incluído no número de pobres, e não deve ser somado a eles.
  • 36. Brasil : População total, pobres e indigentes, segundo a cor, 1999 Indigentes Pobres População total 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 População Branca População Negra* Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de domicilio 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999 Nota: * A população negra é composta por pardos e pretos.
  • 38.
  • 39. Distribuição por cor das crianças que trabalham, 1999 Crianças de 5 a 9 anos Crianças de 10 a 14 anos 38% 37% Outros Outros 62% 63% Pretos e pardos Pretos e pardos
  • 40.