SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 16
Tema: A   TRANSFERÊNCIA (parte 2)  Alexandre Simões
Continuemos com mais algumas observações sobre a transferência  na psicanálise ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Chegamos a ver que a transferência não é um processo que se desenvolve em uma única direção. Aliás, uma das características fundamentais da transferência é que ela é ambígua: O alerta de Freud sobre esta dupla face da transferência: “... na análise, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento.” (FREUD. A dinâmica da transferência, p. 135) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Como compreender que a transferência, até então imprescindível à análise e tida como motor da mesma, possa comportar uma considerável resistência ao trabalho da análise?“À primeira vista, parece ser uma imensa desvantagem, para a psicanálise como método, que aquilo que alhures constitui o fator mais forte no sentido do sucesso nela se transforme no mais poderoso meio de resistência” (FREUD. A dinâmica da transferência, p. 135) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Freud indica uma cena clínica para localizar este aspecto: “... Se as associações de um paciente faltam [neste ponto, Freud faz referência a uma suspensão do discurso e não somente à evitação ou desvio de um assunto] a interrupção pode invariavelmente ser removida pela garantia de que ele está sendo dominado, momentaneamente, por uma associação relacionada com o próprio médico ou com algo a este vinculado.” (A dinâmica da transferência, p. 135) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Esta característica da transferência leva-nos a considerar uma circunstância especialmente importante na condução de uma análise: o atrelamento ao Outro (que é mais amplo do que o espaço da transferência)    “A resistência acompanha o tratamento passo a passo. Cada associação isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem.” (A dinâmica da transferência, p. 138) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
O vínculo amoroso com o analista Uma forma de manifestação dos fenômenos da transferência que em grande parte chamou a atenção de Freud foi a face do amor, mais precisamente, o amor do analisando dirigido ao analista ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Em vários momentos dos textos de Freud dedicados ao assunto, ele localiza o analista nesta problemática por meio da designação “figura do médico”. Isto nos ajuda a pensar que o analista, para o analisando, conta menos como aquilo que ele é e muito mais como o lugar que ele ocupa na fantasia do analisando.     No caso do amor, estamos nos referindo a um lugar de preenchimento (como resolução da demanda do paciente) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Este vínculo preenchedor ... Conduz o paciente a “... desprezar a regra fundamental da psicanálise, que estabelece que tudo que lhe venha à cabeça deve ser comunicado sem crítica...”  (A dinâmica da transferência, p. 142)  ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Como, por outro lado, o amor também impulsiona uma análise, Freud é levado a enfrentar este problema (o da ambiguidade ou ambivalência da transferência) por meio de um artifício: a distinção entre uma “transferência positiva” (também chamada de “transferência erótica”) e uma “transferência negativa” ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Devemos ter atenção para não fazer um uso dicotômico ou meramente instrumental dessa distinção entre duas formas de transferência Freud irá nos lembrar que a “a transferência negativa (...) é encontrada lado a lado com a transferência afetuosa, amiúde dirigidas simultaneamente para a mesma pessoa.” (A dinâmica da transferência, p. 141) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Podemos partir da premissa que a transferência positiva seja constituída por sentimentos conscientes de simpatia, envolvimento com o tratamento e cordialidade dirigidos à figura do analista; logo, como uma circunstância conveniente ao desenvolvimento da análise.     Todavia, isto é também um problema para a condução das análises.      Caso nos concentremos no campo movediço da transferência positiva, podemos cair nos erro de nos aliarmos excessivamente ao eu do analisando (e, por fim, do próprio analista) e manter, assim, a ignorância acerca de seus avessos.  ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Certamente, a face aprazível da transferência positiva é mais cômoda para a administração do setting analítico. Isto se torna mais visível (e perigoso) na medida em que tudo isto pode convergir para os fantasmas narcisistas do analista. ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Já no que tange àquilo que Freud nomeou como “transferência negativa” podemos encontrar o paciente reticente a dirigir seu discurso ao analista; ele desconfia do profissionalismo e comprometimento do analista, argumenta sobre a inocuidade do próprio trabalho terapêutico e mantem uma distância cautelosa (“não acredito nisto...”). Este posicionamento, em boa parte, responde pelos abandonos precipitados que costumam ocorrer ao início de uma análise.  ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
É este entrecruzamento que conduz Freud a propor o “manejo” ou “manobra” da transferência, com a seguinte ressalva: “Não se discute que controlar os fenômenos da transferência representa para o psicanalista as maiores dificuldades; mas não se deve esquecer que são precisamente elas que nos prestam o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticos ocultos e esquecidos do paciente. Pois, quando tudo está dito e feito, é impossível destruir alguém in absentia ou in effigie.”  (A dinâmica da transferência, p. 143) ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.
Prosseguiremos na  próxima aula! Prof. Alexandre Simões Contatos: www.alexandresimoes.com.br alexandresimoes@terra.com.br ALEXANDRE SIMÕES  ® Todos os direitos  de autor reservados.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Fundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologiaFundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologia
UNICEP
 
Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...
Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...
Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...
Alexandre Simoes
 
117435947 psicopatologia-ii
117435947 psicopatologia-ii117435947 psicopatologia-ii
117435947 psicopatologia-ii
Silvana Eloisa
 
5 conceitos gerais da psicanálise
5 conceitos gerais da psicanálise5 conceitos gerais da psicanálise
5 conceitos gerais da psicanálise
faculdadeteologica
 

Mais procurados (20)

As 7 escolas da psicanálise.pptx continuação
As 7 escolas da psicanálise.pptx continuaçãoAs 7 escolas da psicanálise.pptx continuação
As 7 escolas da psicanálise.pptx continuação
 
Fenomenologia e a psicologia
Fenomenologia e a psicologiaFenomenologia e a psicologia
Fenomenologia e a psicologia
 
Introdução psicopatologia
Introdução psicopatologiaIntrodução psicopatologia
Introdução psicopatologia
 
Fundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologiaFundamentos de psicopatologia
Fundamentos de psicopatologia
 
Teoria e Pratica - Abordagem Psicanalitica
Teoria e Pratica - Abordagem PsicanaliticaTeoria e Pratica - Abordagem Psicanalitica
Teoria e Pratica - Abordagem Psicanalitica
 
Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...
Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...
Psicopatologia I - Aula 3: A constituição da noção de patológico - o paradigm...
 
Introdução ao estudo dos processos psicológicos básicos
Introdução ao estudo dos processos psicológicos básicosIntrodução ao estudo dos processos psicológicos básicos
Introdução ao estudo dos processos psicológicos básicos
 
Transferência em Freud
Transferência em FreudTransferência em Freud
Transferência em Freud
 
Aula - Introdução à Psicologia 1
Aula - Introdução à Psicologia 1Aula - Introdução à Psicologia 1
Aula - Introdução à Psicologia 1
 
Teoria PsicanalíTica
Teoria PsicanalíTicaTeoria PsicanalíTica
Teoria PsicanalíTica
 
117435947 psicopatologia-ii
117435947 psicopatologia-ii117435947 psicopatologia-ii
117435947 psicopatologia-ii
 
A TEORIA PSICANÁLITICA DE SIGMUND FREUD
A TEORIA PSICANÁLITICA DE SIGMUND FREUDA TEORIA PSICANÁLITICA DE SIGMUND FREUD
A TEORIA PSICANÁLITICA DE SIGMUND FREUD
 
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 8: a palavra do psicanalista
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 8: a palavra do psicanalista2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 8: a palavra do psicanalista
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 8: a palavra do psicanalista
 
Freud e a Psicanálise
Freud e a PsicanáliseFreud e a Psicanálise
Freud e a Psicanálise
 
METAPSICOLOGIA FREUDIANA
METAPSICOLOGIA FREUDIANAMETAPSICOLOGIA FREUDIANA
METAPSICOLOGIA FREUDIANA
 
5 conceitos gerais da psicanálise
5 conceitos gerais da psicanálise5 conceitos gerais da psicanálise
5 conceitos gerais da psicanálise
 
Mecanismos de defesa do ego
Mecanismos de defesa do egoMecanismos de defesa do ego
Mecanismos de defesa do ego
 
Psicologia Fenomenológico-Existencial
Psicologia Fenomenológico-ExistencialPsicologia Fenomenológico-Existencial
Psicologia Fenomenológico-Existencial
 
Personalidade
PersonalidadePersonalidade
Personalidade
 
Algumas formas de psicoterapia
Algumas formas de psicoterapiaAlgumas formas de psicoterapia
Algumas formas de psicoterapia
 

Mais de Alexandre Simoes

2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos
Alexandre Simoes
 
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo
Alexandre Simoes
 
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 2: a construção do diagnóstico
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 2: a construção do diagnóstico2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 2: a construção do diagnóstico
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 2: a construção do diagnóstico
Alexandre Simoes
 
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
Alexandre Simoes
 
CLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXI
CLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXICLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXI
CLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXI
Alexandre Simoes
 

Mais de Alexandre Simoes (20)

2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 7: as incidências do significan...
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 7: as incidências do significan...2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 7: as incidências do significan...
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 7: as incidências do significan...
 
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 5: sonhos chistes e atos falhos
 
2015 curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 4: tempo e dinheiro - seus manejos
2015 curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 4: tempo e dinheiro - seus manejos2015 curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 4: tempo e dinheiro - seus manejos
2015 curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 4: tempo e dinheiro - seus manejos
 
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo
2015 CURSO 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 3: a transferência e seu manejo
 
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 2: a construção do diagnóstico
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 2: a construção do diagnóstico2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 2: a construção do diagnóstico
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 2: a construção do diagnóstico
 
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA'  - Aula 1   a chegada do paciente ao ...
2015- Curso 'A PRÁTICA DO PSICANALISTA' - Aula 1 a chegada do paciente ao ...
 
CURSO 'O sujeito e o outro na prática psicanalítica'- aulas 5 e 6: o Outro se...
CURSO 'O sujeito e o outro na prática psicanalítica'- aulas 5 e 6: o Outro se...CURSO 'O sujeito e o outro na prática psicanalítica'- aulas 5 e 6: o Outro se...
CURSO 'O sujeito e o outro na prática psicanalítica'- aulas 5 e 6: o Outro se...
 
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 4, tema: O ...
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 4, tema: O ...2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 4, tema: O ...
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 4, tema: O ...
 
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 3, tema: O ...
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 3, tema: O ...2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 3, tema: O ...
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 3, tema: O ...
 
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 2, tema: O ...
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 2, tema: O ...2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 2, tema: O ...
2014 – Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 2, tema: O ...
 
2014- Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 1, tema: O o...
2014- Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 1, tema: O o...2014- Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 1, tema: O o...
2014- Curso “O sujeito e o outro na prática psicanalítica”- aula 1, tema: O o...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 7: Dois aspectos da re...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 7: Dois aspectos da re...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 7: Dois aspectos da re...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 7: Dois aspectos da re...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 6: Significante e estr...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 6: Significante e estr...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 6: Significante e estr...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 6: Significante e estr...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 5: O sujeito do incons...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 5: O sujeito do incons...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 5: O sujeito do incons...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 5: O sujeito do incons...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 4: Lacan e a formaliza...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 4: Lacan e a formaliza...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 4: Lacan e a formaliza...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 4: Lacan e a formaliza...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 3: O inconsciente em F...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 3: O inconsciente em F...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 3: O inconsciente em F...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 3: O inconsciente em F...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 2: Psicanálise e práxi...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 2: Psicanálise e práxi...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 2: Psicanálise e práxi...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 2: Psicanálise e práxi...
 
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 1: Lacan, a Psicanális...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 1: Lacan, a Psicanális...2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan  – Aula 1: Lacan, a Psicanális...
2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 1: Lacan, a Psicanális...
 
CLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXI
CLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXICLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXI
CLÍNICA PSICANALÍTICA NO SÉCULO XXI
 
REPETIÇÃO E CLÍNICA PSICANALÍTICA
REPETIÇÃO E CLÍNICA PSICANALÍTICAREPETIÇÃO E CLÍNICA PSICANALÍTICA
REPETIÇÃO E CLÍNICA PSICANALÍTICA
 

Psicanálise II- Aula 3 : Transferência (parte II)

  • 1. Tema: A TRANSFERÊNCIA (parte 2) Alexandre Simões
  • 2. Continuemos com mais algumas observações sobre a transferência na psicanálise ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 3. Chegamos a ver que a transferência não é um processo que se desenvolve em uma única direção. Aliás, uma das características fundamentais da transferência é que ela é ambígua: O alerta de Freud sobre esta dupla face da transferência: “... na análise, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento.” (FREUD. A dinâmica da transferência, p. 135) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 4. Como compreender que a transferência, até então imprescindível à análise e tida como motor da mesma, possa comportar uma considerável resistência ao trabalho da análise?“À primeira vista, parece ser uma imensa desvantagem, para a psicanálise como método, que aquilo que alhures constitui o fator mais forte no sentido do sucesso nela se transforme no mais poderoso meio de resistência” (FREUD. A dinâmica da transferência, p. 135) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 5. Freud indica uma cena clínica para localizar este aspecto: “... Se as associações de um paciente faltam [neste ponto, Freud faz referência a uma suspensão do discurso e não somente à evitação ou desvio de um assunto] a interrupção pode invariavelmente ser removida pela garantia de que ele está sendo dominado, momentaneamente, por uma associação relacionada com o próprio médico ou com algo a este vinculado.” (A dinâmica da transferência, p. 135) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 6. Esta característica da transferência leva-nos a considerar uma circunstância especialmente importante na condução de uma análise: o atrelamento ao Outro (que é mais amplo do que o espaço da transferência) “A resistência acompanha o tratamento passo a passo. Cada associação isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem.” (A dinâmica da transferência, p. 138) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 7. O vínculo amoroso com o analista Uma forma de manifestação dos fenômenos da transferência que em grande parte chamou a atenção de Freud foi a face do amor, mais precisamente, o amor do analisando dirigido ao analista ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 8. Em vários momentos dos textos de Freud dedicados ao assunto, ele localiza o analista nesta problemática por meio da designação “figura do médico”. Isto nos ajuda a pensar que o analista, para o analisando, conta menos como aquilo que ele é e muito mais como o lugar que ele ocupa na fantasia do analisando. No caso do amor, estamos nos referindo a um lugar de preenchimento (como resolução da demanda do paciente) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 9. Este vínculo preenchedor ... Conduz o paciente a “... desprezar a regra fundamental da psicanálise, que estabelece que tudo que lhe venha à cabeça deve ser comunicado sem crítica...” (A dinâmica da transferência, p. 142) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 10. Como, por outro lado, o amor também impulsiona uma análise, Freud é levado a enfrentar este problema (o da ambiguidade ou ambivalência da transferência) por meio de um artifício: a distinção entre uma “transferência positiva” (também chamada de “transferência erótica”) e uma “transferência negativa” ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 11. Devemos ter atenção para não fazer um uso dicotômico ou meramente instrumental dessa distinção entre duas formas de transferência Freud irá nos lembrar que a “a transferência negativa (...) é encontrada lado a lado com a transferência afetuosa, amiúde dirigidas simultaneamente para a mesma pessoa.” (A dinâmica da transferência, p. 141) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 12. Podemos partir da premissa que a transferência positiva seja constituída por sentimentos conscientes de simpatia, envolvimento com o tratamento e cordialidade dirigidos à figura do analista; logo, como uma circunstância conveniente ao desenvolvimento da análise. Todavia, isto é também um problema para a condução das análises. Caso nos concentremos no campo movediço da transferência positiva, podemos cair nos erro de nos aliarmos excessivamente ao eu do analisando (e, por fim, do próprio analista) e manter, assim, a ignorância acerca de seus avessos. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 13. Certamente, a face aprazível da transferência positiva é mais cômoda para a administração do setting analítico. Isto se torna mais visível (e perigoso) na medida em que tudo isto pode convergir para os fantasmas narcisistas do analista. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 14. Já no que tange àquilo que Freud nomeou como “transferência negativa” podemos encontrar o paciente reticente a dirigir seu discurso ao analista; ele desconfia do profissionalismo e comprometimento do analista, argumenta sobre a inocuidade do próprio trabalho terapêutico e mantem uma distância cautelosa (“não acredito nisto...”). Este posicionamento, em boa parte, responde pelos abandonos precipitados que costumam ocorrer ao início de uma análise. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 15. É este entrecruzamento que conduz Freud a propor o “manejo” ou “manobra” da transferência, com a seguinte ressalva: “Não se discute que controlar os fenômenos da transferência representa para o psicanalista as maiores dificuldades; mas não se deve esquecer que são precisamente elas que nos prestam o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticos ocultos e esquecidos do paciente. Pois, quando tudo está dito e feito, é impossível destruir alguém in absentia ou in effigie.” (A dinâmica da transferência, p. 143) ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
  • 16. Prosseguiremos na próxima aula! Prof. Alexandre Simões Contatos: www.alexandresimoes.com.br alexandresimoes@terra.com.br ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.