2. Inexistente procurado
“Muitos me procuram, muitos falam de mim, mas poucos me entendem.”
Olá, como vais? Está tudo bem contigo leitor? Eu sei que essa pergunta é clichê e não
quer dizer que eu esteja mesmo me preocupando com o seu bem estar, então vou te fazer
uma pergunta melhor: Você está feliz? Se você me responder que está, eu te faço uma nova
pergunta: O que é a felicidade? Eu lhe garanto que eu passo por todas as ruas desse mundo e
vejo que quase ninguém sabe o que é a felicidade. Eu também às vezes perco meu tempo
dando uma olhadinha nas redes sociais. Eu vejo muita gente falando o meu nome, muita gente
comentando sobre mim, que me quer, me deseja. Quem eu sou? Vejo que você também não
me conhece. Eu me chamo Felicidade. Eu digo-lhe, prazer em te conhecer ou que bom revê-lo?
Eu espero que seja um “que bom revê-lo”. Sabe querido leitor... eu estou muito entediado!
Sim, há anos atrás eu trabalhava mais. Hoje eu quase não trabalho. Não tem ninguém para eu
habitar, eu queria muito poder estar nas famílias como antes. Eu lembro-me perfeitamente de
quando eu sentava junto com as famílias na hora da janta, todos juntos, conversando, rindo,
felizes... Lembro-me também de quando eu estava junto do pai que chegava em sua casa e a
primeira coisa que fazia era beijar sua esposa e dar aquele abraço apertado em seus filhos. Era
legal... Ah! Claro, lembro-me também de quando eu estava junto dos casais, sim, casais de
namorados! Ah... aqueles ímpetos amorosos eram realmente reais! Trocavam carinhos,
palavras... sorriam olhando fixamente para os olhos de seu amado e expressavam sem medo
seus mais profundos sentimentos.
Mas você deve estar se perguntando: Mas, hoje ainda há esses tipos de casais. Pois é...
até que existem. Existem casais farsantes, ultimamente eu tenho observado que o ego das
pessoas aumentaram em demasia. Um relacionamento amoroso virou objeto de ostentação.
Uma vez eu ouvi um grupo de garotas dizendo que agora podiam “trocar o status de
relacionamento”. Eu fiquei matutando... Trocar status de relacionamento? Aí eu descobri que
isso era mostrar para um grande número de pessoas numa rede social, que agora ela está
namorando. Eu cheguei à conclusão que para muitas pessoas um namoro é como um objeto
de ouro. Bonito, mas sem utilidade.
É complicado... eu existo há muito tempo. Não adianta vim com argumentos do tipo:
Os tempos mudam. Eu sei muito mais do que você que os tempos mudam. Afinal eu sou de
séculos atrás. A propósito, eu estava com Jesus. Ele trazia felicidade. Mas essa era atual... está
complicada de aturar. Quando eu vejo pessoas clamando por mim em suas vidas, eu percebo
contrastes... Querem ser felizes, mas pautam sua felicidade em besteiras. Eu quero mostrar a
você leitor, o quanto minha vida está difícil.
Eu andando pelas ruas de um estado do Brasil... Ah sim, São Paulo. Lá, eu procurava
algum lugar para habitar. Até que ouvi, uma voz feminina e triste dizendo: “Eu quero muito ser
feliz, porque eu sou tão infeliz? Minha vida é uma droga!”. Adentrei nessa casa e fui direto ao
quarto dessa jovem. Descobri que seu nome era Julia. Porém, eu não podia chegar perto dela,
a tristeza dela me impedia de se aproximar. Então de longe, eu a observava... Ela estava
chorando bastante, aquilo me cortava o coração. Eu queria muito ajudá-la, mas como? Isso
tem que partir dela. Ela olhava para o alto, olhava para o chão... muito pensativa. Olhava para
o celular provavelmente pensando em ligar para alguém, quando num ímpeto de raiva ela joga
seu celular na parede, bem próximo de onde eu estava. Olho para o celular e vejo uma
mensagem de “Danilo”. Estava escrito: “Some da minha vida, eu não te amo mais.”. Aí eu
entendi o motivo da súplica por mim daquela garota. Mas, muito sem entender... O que eu
tenho a ver com isso? Não podendo ajudá-la, eu fui embora, continuei andando... Quando
ouço mais um grito, dessa vez uma voz masculina, dizendo: “Que vida de merda, eu nunca vou
ser feliz nessa vida.”. Eu tinha esperanças de agora poder ajudar alguém — depois de tanto
tempo sem fazer nada. —então fui à casa do menino. Chegando lá, fui ao seu quarto e
novamente não pude chegar próximo a ele. Mais um ser que carregava a tristeza junto de si.
3. Ele estava de frente a um computador olhando fixamente para a tela e chorando... Pude ler
algumas palavras: “Luiz, a gente não pode ficar junto, somos só amigos.”. Mais uma vez eu
fiquei perplexo... O que eu tinha a ver com aquilo? Então eu resolvi voltar para a rua, sentar
numa calçada e pensar... Não cheguei a nenhuma conclusão, mas ouvi mais um grito de uma
voz aparentemente de alguém mais experiente — sim, de gente velha — então imaginei que
agora eu poderia atuar, finalmente teria alguém me chamando para ajudá-lo de verdade.
Cheguei nessa casa e observei um senhor, bebendo uísque, triste, chorando... E dizendo:
“Minha vida é uma merda, esse tempo todo eu trabalhei pra caramba e continuo pobre! Eu
queria ser feliz!”. Eu fiquei ali matutando novamente... Porque mais uma pessoa me
chamou para nada? Ué... Problemas financeiros? O que isso tem a ver comigo? Eu comecei a
achar que as pessoas estavam brincando comigo. Que elas descobriram que eu perambulo
pelas ruas a procura de ajudar alguém, e agora essas pessoas suplicam por mim para
simplesmente eu perder tempo. Mas, eu acabei entendendo... As pessoas acham que a
felicidade é baseada em coisas supérfluas. Há pessoas que acham que só vão me alcançar
quando encontrarem seu amor; outras, acham que só vão me alcançar, quando forem ricas e
tiverem status. Que ingênuos... Eu estou nos momentos mais simples... eu sempre estou nos
momentos que você nem percebe...
Eu quero te contar uma história, das várias que eu tenho pra lhe contar, mas que não
tem nem como escrever aqui, se não sua leitura não acabará nunca. Mas, é uma história que
retrata o quanto eu estou nos momentos mais simples de sua vida. Eu lembro-me que em
1921 mais ou menos... um garoto chamado Paulo, carinhosamente chamado por sua mãe de
“Paulinho” — vale ressaltar que esse garoto tinha 17 anos na época — ele amava muito sua
mãe. Infelizmente, não tinha seu pai, abandonou sua mãe quando soube que ela estava
grávida. Eu gostava de habitar ali com eles, já que eu podia ficar ali, ali não habitava a tristeza.
Eles viviam uma vida simples, porém incrível. Todos os dias sua mãe acordava o Paulinho para
tomar o seu café da manhã. Ele adorava comer o seu pão e café-com-leite junto com sua mãe.
Ali sentados, eu os observava... Aquela casa e aquela mesa eram simples, mas tinha a minha
ilustre presença. A Felicidade. Após o café da manhã, Paulinho ia para sua escola, estava no
último ano do ensino médio. Sua mãe trabalhava muito para poder após o término do colégio,
pagar a faculdade para o seu filho. Ela era faxineira de um escritório de advocacia e eu lembro-
me perfeitamente do que ela dizia para suas amigas: “Meu filho vai fazê Direito, vai ser um
doutô igual a esses daqui do escritório.”. Era o sonho dessa mãe. O filho? Queria fazer Direito
para realizar o sonho de sua mãe. Mas, sua mãe passaria por um momento difícil. Num certo
dia, Paulinho olhou no relógio e percebeu que era 11:00, sua mãe chamava-lhe às 09:00. Ele
achou estranho, então desceu para ver onde sua mãe estava e a encontrou no chão,
inconsciente. Ele ficou desesperado, chamou o resgate desesperado, com muito medo de ter
acontecido algo sério com sua amada mãe. Passaram-se dias e sua mãe permanecia no mesmo
estado, inconsciente. Eu ficava ali observando o Paulinho. Sentado, desesperado, com medo,
muito medo. Confesso que eu tive vontade de ir conversar com ele, mas lembrei que eu sou
um ser metafísico. Passaram-se mais cinco dias, quando finalmente sua mãe acordou. Ele
muito feliz foi lá falar com sua mãe. Foi um momento incrível... aquele momento, que eu os
abracei junto...
Percebe leitor? Percebe agora o que é a felicidade? Diga-me se em algum momento
desse ocorrido eu citei: Namoro, carros, dinheiro ou status? Pois é... NÃO. Eu ainda fico pasmo,
quando eu ouço que há pessoas que passam a vida à procura de mim. Como pode isso? Uma
vida inteira, procurando algo tão simples... O pior é quando eu fiquei sabendo que estão
querendo me vender. Sim, me vender... Escrevem livros denominados de “Auto-ajuda” para
poder ajudar as pessoas a encontrar-me... ou vendem umas cápsulas que se chamam “anti-
depressivos”. O pior, é que tudo isso é inútil.
Leitor, eu não sei se você também é esse tipo de louco que vive a minha procura. Caso
seja, espero que eu possa ter te ajudado. Saiba que eu não tenho moradia fixa, eu estou por
aí... disposto a ajudar. Disposto a te fazer feliz. Infelizmente, alguns dizem que eu sou algo
4. inexistente, vê se pode isso? Inexistente... sim, talvez eu até seja, sou inexistente para quem
diz que sou inexistente. Sabe para quem eu sou inexistente também? Para quem me procura.
Oras, mas por quê? Quem procura a felicidade, nunca acha. Eu vou até você. E estarei contigo,
no momento que você menos perceber.
Saiba, que eu estou nesse exato momento olhando fixamente para você. Observando-
lhe... Mas, agora depende de você. Você quer que eu te observe de longe ou que eu vá até aí
lhe dar um abraço? A vida é sua, depende de você ser, feliz.