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1A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos




                               A Guerra da Balaiada
     A epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos
                                              Coleção Negro Cosme




                                              São Luís/Maranhão
                                         2ª Edição – dezembro de 1998



Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
2A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos



EXPEDIENTE
Publicação
Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA)

Colaboradores
Sociedade Maranhense de defesa dos Direitos Humanos – SMDDH
(Projeto Vida de Negro).
Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (ACONERUQ)

Apoio
EZE/CESE (BA)
Fundação Ford (RJ)
Oxfam/Recife (PE)


Texto em literatura de cordel: Magno José Cruz
Capa (adaptação): Carlos César França Cruz (Caóca)
Montagem e digitação: Ivan Rodrigues Costa e Raimundo M. Matos Paixão
Diagramação e design da versão digital: Etnia Design


E-book disponível no site www.ccnma.org.br
E-mail: ccnma@ccnma.org.br


Contato
Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA)
Rua dos Guaranis, s/n° - Barés – João Paulo
65040.630 – São Luís/MA
(98) 243-9707 / 249-4938




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3A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos




A BALAIADA E OS QUILOMBOLAS

No Maranhão, no período da escravidão, também existiram grandes
quilombos como o de Palmares. Os maiores foram o Quilombo Lagoa
Amarela, no município de Chapadinha, e o Quilombo de Limoeiro, no
município de Turiaçu. Os quilombolas participaram de movimentos de
dimensões que ultrapassam a defesa do quilombo. O principal desses
movimentos foi a Guerra da Balaiada, ocorrida no Maranhão entre
1838 e 1841.
     A apresentação que se faz aqui dos fatos está baseada na consulta
a historiadores contemporâneos e cronistas da época. É evidente que a
interpretação desses fatos pode ser diferente, de acordo com o ponto de
vista de quem interprete. Inclusive levando em consideração que os
registros documentais que nos chegam aos dias de hoje foram feitos
pêlos vencedores, os quais evidentemente procuram detratar os seus
inimigos.
     A Guerra da Balaiada, como ficou conhecida, se iniciou por
questões políticas entre partidos, mas acabou por ser assumida por
vaqueiros e homens sem posses em geral que lutavam contra o
recrutamento forçado para as forças militares e contra os desmandos de
chefes políticos locais e, finalmente, por quilombolas, que sustentaram
o combate até o fim, conforme apontam diversos historiadores.
     Portanto, há 160 anos, no dia 13 de dezembro de 1838, começou a
Guerra da Balaiada. Foi uma das maiores e mais significativas
rebeliões populares já registradas em terras do Maranhão e com forte
repercussão em todo o país.
      Trecho da Cartilha Projeto Vida de Negro: 10 Anos de Luta pela Regularização e Titulação
das Terras de Preto no Maranhão.




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4A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos




A EPOPÉIA DOS GUERREIROS BALAIOS
NA VERSÃO DOS OPRIMIDOS

Dá licença rapazeada
Que eu aqui vou relatar
(Prestem muita atenção!)
Prá depois poder contar
Pois aconteceu no Maranhão
No Piauí e Ceará


             Foi em mil e oitocentos
             No ano de trinta e oito
             Quando explodiu a Balaiada
             Com muitos cabras afoitos
             Pra agarrar a burguesada
             E (ó) cortar-lhe o pescoço


Unindo valentes vaqueiros
Raimundo Gomes Vieira
Na Vila da Manga chegou
Assaltando a cadeia
À toda nação brasileira
Um manifesto gritou

             Exigia a revogação
             Da dita Lei dos Prefeitos
             Aos revoltosos anistia
             Justiça aos prisioneiros
             E para a tropa garantia
             De pagamento em dinheiro


Reivindicava liberdade
Criticava o preconceito
Queria total expulsão
Dos lusitanos solteiros
Transformava em ação
O blá-blá politiqueiro


             Brigavam "bentevis" e "cabanos"
             Na política do Maranhão
             Briga de jornal (lero-lero)
             Vejam a comparação:
             Briga de Sarney e Castelo
             Pra enganar Zé Povão


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5A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos




A Província naquela época
Tinha problemas sociais
Sofriam caboclos e negros
Com os preconceitos raciais
Fome, "pega", desemprego
Tudo consta nos anais


             Manuel Francisco dos Anjos
             De "Balaio" apelidado
             Era pobre e lavrador
             E teve o nome manchado
             Então na guerra entrou
             Pra se vingar dos soldados


Veterano de outras guerras
O chefe índio Matroá
Aderiu a Balaiada
E como líder foi lutar
Tendo menção destacada
Na luta do libertar


             A participação das mulheres
             É bom senso não esquecer
             Escondiam os revoltados
             Davam a eles o que comer
             Enganando os soldados
             Que queriam os prender


Corriam por essas bandas
Revoltas e insurreições
A massa escrava fugia
Para formar quilombações
Em Itapecuru, Codó, Caxias
Turiaçu e Guimarães


             É preciso contar direitinho
             Para ninguém se enganar
             A rebeldia dessa negrada
             Lutando para se libertar
             Foi antes da Balaiada
             Pelo Norte se espalhar




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6A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos



Esses negros organizados
Chamados de quilombolas
Viram na Balaiada
Que era chegada a hora
Da liberdade sonhada
Renascer naquela aurora


             Cosme Bento das Chagas
             Logo então se destacou
             E lá de Lagoa Amarela
             Três mil negros libertou
             E com tal valentia cega
             A Balaiada engrossou


No Quilombo do Lagoa Amarela
A negrada tudo tinha
Caça assada no espeto
Feijão, arroz e farinha
Água fria do Rio Preto
Ervas medicinais e mandinga


             Ali Negro Cosme implantou
             Uma conceituada escola
             Para ensinar ler e escrever
             À toda massa quilombola
             Quera o líder dizer:
             “Façamos nossa história”


“Tutor das Liberdades Bentevis”
Negro Cosme foi chamado
Homem muito inteligente
Procurou ter falidos
Entre toda pobre gente


             Negros livres e aquilombados
             Até comerciantes pequenos
             Vaqueiros e lavradores
             Aderiram ao Movimento
             A Revolta, meus senhores
             Foi do povo desse tempo




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7A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos



A guerra cresceu tanto
Invadindo até Caxias
Implantando a igualdade
Coisa que nunca se via
Foi a riqueza da cidade
Entre os pobres dividida


             Os negros felizes cantavam
             Sorrisos abertos e francos
             "Balaio chegou / Balaio chegou
             Cadê branco?
             Não há mais branco
             Não há mais sinhô"


Na cidade de São Luís
Os "bentevis" amedrontados
Se juntaram aos "cabanos"
Passando pro outro lado
Sem ser por baixo dos panos
Deixaram de ser mascarados


             Foi então que o Regente
             Providências veio tomar
             Chamou Luís Alves de Lima
             E lhe pôs de tudo a par
             Da guerra de Norte acima
             E era para cacetear


Luís virou Presidente
Da Província do Maranhão
Com poder e muita banca
Iniciou a repressão
Jogando pessoas brancas
Contra os negros em ação


             O mesmo Luís Alves de Lima
             Que negociou com farroupilhas
             Tratou os negros guerreiros
             Como gentalha maltrapilha
             Como assassinos, bandoleiros
             Indignos da tal Anistia




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8A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos



Mais de dez mil mortes cruéis
Mulheres, velhos, crianças
Foi o saldo tenebroso
Daquela cruel matança
E o "Pacificador" orgulhoso
Da nefasta aventurança


             Na Anistia acreditando
             Matroá velho e cansado
             Foi morto ao se entregar
             Raimundo Gomes, coitado
             Foi pelo Duque deportado
             E "morreu" no viajar


Mostrando muita bravura
Cosme na luta insistiu
Perseguido por todo lado
Muitas vezes ele "sumiu"
Deixando o Duque danado
Chamando-o de negro vil


                No peito-a-peito com
                Luís Cosme sempre foi o primeiro
                Não perdeu uma pro
                Duque Que via nele um feiticeiro
                Cheio de manhas e truques
                Foi como Zumbi um guerreiro


A caça ao Negro Cosme
Um dia chegou ao fim
No Combate de Calabouço
Na Região do Mearim
Lutando feito um louco
Foi aprisionado enfim...


              Da cadeia de Itapecuru
              Para a cidade de São Luís
              Cosme então foi enviado
              E o povo ainda diz
              Ele foi o maior do Reinado
              Das Liberdades Bentevis




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9A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos



No ano de quarenta e dois
De volta a Itapecuru
Negro Cosme é enforcado
Na antiga Praça da Cruz
Deixando, porém, marcado
A valentia a que fez juz


             Partiu o Imperador Bentevi
             Como um guerreiro vencedor
             Que sonhou libertar seu povo
             De todo regime opressor
             Ergueu bem alto um sonho novo
             Da Nação Quilombola Nagô


Na história que tem nos livros
Escritos pela burguesia
Cosme é o grande bandido
(Ora vejam, quem diria!)
E Luís, racista assumido
É o herói Duque de Caxias


             Contei parte da Balaiada
             E da bravura daquela gente
             Há muito o que contar
             Da lição desses valentes
             Cosme, Balaio e Matroá
             Pois quem luta sempre vence


A luta não terminou
Pois a exploração continua
Vamos ser os novos balaios
E sairmos todos às ruas
Gritando contra os lacaios



                  NOTAS DO AUTOR

                    Vila da Manga: localizava-se no hoje município de Nina Rodrigues.

                    Lagoa Amarela: localizava-se no hoje município de Chapadinha.

                    Rio Preto: o Quilombo Lagoa Amarela situava-se nas cabeceiras do Rio
                    Preto.

                    "Pega": expressão usada para definir o recrutamento forçado para formar


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10 A   GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos



                     tropas militares a fim de combater as rebeliões populares, geralmente de
                     uma província para outra.

                     "Bentevis": membros ou simpatizantes do Partido Liberal (oposição ao
                     governo).

                     "Cabanos": membros ou simpatizantes do Partido Conservador (governo).

                     "Tutore Imperador das Liberdades Bentevis": expressão com a qual
                     Negro Cosme se
                     auto-denominava.

                     Barão de Caxias e Duque de Caxias: títulos recebidos por Luís Alves de
                     Lima e Silva após sufocar, de forma cruel e violenta, a Guerra da Balaiada,
                     que teve como principal centro de concentração e atuação a cidade do
                     sertão maranhense Caxias.

                     Farroupilhas: Revoltosos da Guerra dos Farrapos, ocorrida no Rio Grande
                     do Sul entre 1835 a 1845.



                       NINGUÉM NOS VENCERÁ E A BALAIADA CONTINUA!




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A guerra da balaiada

  • 1. 1A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos A Guerra da Balaiada A epopéia dos guerreiros balaios na versão dos oprimidos Coleção Negro Cosme São Luís/Maranhão 2ª Edição – dezembro de 1998 Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 2. 2A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos EXPEDIENTE Publicação Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA) Colaboradores Sociedade Maranhense de defesa dos Direitos Humanos – SMDDH (Projeto Vida de Negro). Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão (ACONERUQ) Apoio EZE/CESE (BA) Fundação Ford (RJ) Oxfam/Recife (PE) Texto em literatura de cordel: Magno José Cruz Capa (adaptação): Carlos César França Cruz (Caóca) Montagem e digitação: Ivan Rodrigues Costa e Raimundo M. Matos Paixão Diagramação e design da versão digital: Etnia Design E-book disponível no site www.ccnma.org.br E-mail: ccnma@ccnma.org.br Contato Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA) Rua dos Guaranis, s/n° - Barés – João Paulo 65040.630 – São Luís/MA (98) 243-9707 / 249-4938 Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 3. 3A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos A BALAIADA E OS QUILOMBOLAS No Maranhão, no período da escravidão, também existiram grandes quilombos como o de Palmares. Os maiores foram o Quilombo Lagoa Amarela, no município de Chapadinha, e o Quilombo de Limoeiro, no município de Turiaçu. Os quilombolas participaram de movimentos de dimensões que ultrapassam a defesa do quilombo. O principal desses movimentos foi a Guerra da Balaiada, ocorrida no Maranhão entre 1838 e 1841. A apresentação que se faz aqui dos fatos está baseada na consulta a historiadores contemporâneos e cronistas da época. É evidente que a interpretação desses fatos pode ser diferente, de acordo com o ponto de vista de quem interprete. Inclusive levando em consideração que os registros documentais que nos chegam aos dias de hoje foram feitos pêlos vencedores, os quais evidentemente procuram detratar os seus inimigos. A Guerra da Balaiada, como ficou conhecida, se iniciou por questões políticas entre partidos, mas acabou por ser assumida por vaqueiros e homens sem posses em geral que lutavam contra o recrutamento forçado para as forças militares e contra os desmandos de chefes políticos locais e, finalmente, por quilombolas, que sustentaram o combate até o fim, conforme apontam diversos historiadores. Portanto, há 160 anos, no dia 13 de dezembro de 1838, começou a Guerra da Balaiada. Foi uma das maiores e mais significativas rebeliões populares já registradas em terras do Maranhão e com forte repercussão em todo o país. Trecho da Cartilha Projeto Vida de Negro: 10 Anos de Luta pela Regularização e Titulação das Terras de Preto no Maranhão. Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 4. 4A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos A EPOPÉIA DOS GUERREIROS BALAIOS NA VERSÃO DOS OPRIMIDOS Dá licença rapazeada Que eu aqui vou relatar (Prestem muita atenção!) Prá depois poder contar Pois aconteceu no Maranhão No Piauí e Ceará Foi em mil e oitocentos No ano de trinta e oito Quando explodiu a Balaiada Com muitos cabras afoitos Pra agarrar a burguesada E (ó) cortar-lhe o pescoço Unindo valentes vaqueiros Raimundo Gomes Vieira Na Vila da Manga chegou Assaltando a cadeia À toda nação brasileira Um manifesto gritou Exigia a revogação Da dita Lei dos Prefeitos Aos revoltosos anistia Justiça aos prisioneiros E para a tropa garantia De pagamento em dinheiro Reivindicava liberdade Criticava o preconceito Queria total expulsão Dos lusitanos solteiros Transformava em ação O blá-blá politiqueiro Brigavam "bentevis" e "cabanos" Na política do Maranhão Briga de jornal (lero-lero) Vejam a comparação: Briga de Sarney e Castelo Pra enganar Zé Povão Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 5. 5A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos A Província naquela época Tinha problemas sociais Sofriam caboclos e negros Com os preconceitos raciais Fome, "pega", desemprego Tudo consta nos anais Manuel Francisco dos Anjos De "Balaio" apelidado Era pobre e lavrador E teve o nome manchado Então na guerra entrou Pra se vingar dos soldados Veterano de outras guerras O chefe índio Matroá Aderiu a Balaiada E como líder foi lutar Tendo menção destacada Na luta do libertar A participação das mulheres É bom senso não esquecer Escondiam os revoltados Davam a eles o que comer Enganando os soldados Que queriam os prender Corriam por essas bandas Revoltas e insurreições A massa escrava fugia Para formar quilombações Em Itapecuru, Codó, Caxias Turiaçu e Guimarães É preciso contar direitinho Para ninguém se enganar A rebeldia dessa negrada Lutando para se libertar Foi antes da Balaiada Pelo Norte se espalhar Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 6. 6A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos Esses negros organizados Chamados de quilombolas Viram na Balaiada Que era chegada a hora Da liberdade sonhada Renascer naquela aurora Cosme Bento das Chagas Logo então se destacou E lá de Lagoa Amarela Três mil negros libertou E com tal valentia cega A Balaiada engrossou No Quilombo do Lagoa Amarela A negrada tudo tinha Caça assada no espeto Feijão, arroz e farinha Água fria do Rio Preto Ervas medicinais e mandinga Ali Negro Cosme implantou Uma conceituada escola Para ensinar ler e escrever À toda massa quilombola Quera o líder dizer: “Façamos nossa história” “Tutor das Liberdades Bentevis” Negro Cosme foi chamado Homem muito inteligente Procurou ter falidos Entre toda pobre gente Negros livres e aquilombados Até comerciantes pequenos Vaqueiros e lavradores Aderiram ao Movimento A Revolta, meus senhores Foi do povo desse tempo Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 7. 7A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos A guerra cresceu tanto Invadindo até Caxias Implantando a igualdade Coisa que nunca se via Foi a riqueza da cidade Entre os pobres dividida Os negros felizes cantavam Sorrisos abertos e francos "Balaio chegou / Balaio chegou Cadê branco? Não há mais branco Não há mais sinhô" Na cidade de São Luís Os "bentevis" amedrontados Se juntaram aos "cabanos" Passando pro outro lado Sem ser por baixo dos panos Deixaram de ser mascarados Foi então que o Regente Providências veio tomar Chamou Luís Alves de Lima E lhe pôs de tudo a par Da guerra de Norte acima E era para cacetear Luís virou Presidente Da Província do Maranhão Com poder e muita banca Iniciou a repressão Jogando pessoas brancas Contra os negros em ação O mesmo Luís Alves de Lima Que negociou com farroupilhas Tratou os negros guerreiros Como gentalha maltrapilha Como assassinos, bandoleiros Indignos da tal Anistia Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 8. 8A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos Mais de dez mil mortes cruéis Mulheres, velhos, crianças Foi o saldo tenebroso Daquela cruel matança E o "Pacificador" orgulhoso Da nefasta aventurança Na Anistia acreditando Matroá velho e cansado Foi morto ao se entregar Raimundo Gomes, coitado Foi pelo Duque deportado E "morreu" no viajar Mostrando muita bravura Cosme na luta insistiu Perseguido por todo lado Muitas vezes ele "sumiu" Deixando o Duque danado Chamando-o de negro vil No peito-a-peito com Luís Cosme sempre foi o primeiro Não perdeu uma pro Duque Que via nele um feiticeiro Cheio de manhas e truques Foi como Zumbi um guerreiro A caça ao Negro Cosme Um dia chegou ao fim No Combate de Calabouço Na Região do Mearim Lutando feito um louco Foi aprisionado enfim... Da cadeia de Itapecuru Para a cidade de São Luís Cosme então foi enviado E o povo ainda diz Ele foi o maior do Reinado Das Liberdades Bentevis Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 9. 9A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos No ano de quarenta e dois De volta a Itapecuru Negro Cosme é enforcado Na antiga Praça da Cruz Deixando, porém, marcado A valentia a que fez juz Partiu o Imperador Bentevi Como um guerreiro vencedor Que sonhou libertar seu povo De todo regime opressor Ergueu bem alto um sonho novo Da Nação Quilombola Nagô Na história que tem nos livros Escritos pela burguesia Cosme é o grande bandido (Ora vejam, quem diria!) E Luís, racista assumido É o herói Duque de Caxias Contei parte da Balaiada E da bravura daquela gente Há muito o que contar Da lição desses valentes Cosme, Balaio e Matroá Pois quem luta sempre vence A luta não terminou Pois a exploração continua Vamos ser os novos balaios E sairmos todos às ruas Gritando contra os lacaios NOTAS DO AUTOR Vila da Manga: localizava-se no hoje município de Nina Rodrigues. Lagoa Amarela: localizava-se no hoje município de Chapadinha. Rio Preto: o Quilombo Lagoa Amarela situava-se nas cabeceiras do Rio Preto. "Pega": expressão usada para definir o recrutamento forçado para formar Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
  • 10. 10 A GUERRA DA BALAIADA – a epopéia dos guerreiros balaios na versão dos orpimidos tropas militares a fim de combater as rebeliões populares, geralmente de uma província para outra. "Bentevis": membros ou simpatizantes do Partido Liberal (oposição ao governo). "Cabanos": membros ou simpatizantes do Partido Conservador (governo). "Tutore Imperador das Liberdades Bentevis": expressão com a qual Negro Cosme se auto-denominava. Barão de Caxias e Duque de Caxias: títulos recebidos por Luís Alves de Lima e Silva após sufocar, de forma cruel e violenta, a Guerra da Balaiada, que teve como principal centro de concentração e atuação a cidade do sertão maranhense Caxias. Farroupilhas: Revoltosos da Guerra dos Farrapos, ocorrida no Rio Grande do Sul entre 1835 a 1845. NINGUÉM NOS VENCERÁ E A BALAIADA CONTINUA! Centro de Cultura Negra do Maranhão e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos