1. O poema "Os Sapos" ironiza a estética parnasiana de escrever poesia, zombando de suas regras rígidas sobre a forma dos versos.
2. Bandeira usa aliterações e assonâncias para imitar o som dos sapos coaxando, criticando sutilmente a poesia formalista dos parnasianos.
3. Ao compor todos os versos em redondilhas menores, a forma mais simples, o poeta modernista questiona a ênfase parnasiana na sofisticação em detrimento da simplic
3. - Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, nasceu em
Recife, Pernambuco em 1886. Morou um tempo no Rio de Janeiro e
depois se mudou para São Paulo em 1904, onde ingressou na
faculdade de arquitetura, mas precisou abandonar, pois contraiu
tuberculose.
- Em 1913 viajou para a Suíça, em busca de cura e ficou mais de um
ano internado. Nesse período, Bandeira conhece o futuro famoso
poeta francês Paul Éluard e este o mantém a par das inovações
artísticas na Europa. Discutem sobre a possibilidade de fazer versos
livres, o que mais tarde, realmente acontece, pois Manuel Bandeira
ficou conhecido como o mestre dos versos livres.
- Ingressou na literatura, em 1917, com o livro "A Cinza Das Horas", de
influência Parnasiana e Simbolista. Em 1919 publicou "Carnaval", que
representou sua entrada no movimento modernista.
- Para a Semana de Arte Moderna enviou o poema "Os Sapos", que
lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal. Bandeira
vai se encaixando cada vez mais no modernismo com suas obras
posteriores.
- Faleceu em 1968, no Rio de Janeiro, vítima de uma hemorragia
gástrica.
4.
5. - A força de sua poesia está na
simplicidade da
linguagem, coloquial e
densa, despojada e
plurissignificativa ao mesmo
tempo. Segundo o próprio
poeta, "o grande mistério está
na simplicidade", ou seja, em
exprimir com grande singeleza
conteúdos humanos profundos.
- Alma romântica, remodelada pelo
existencialismo do século XX, sem
sentimentalismos e sem
idealizações, seus temas são a paixão pela
vida, o conformismo com a morte, o amor
e o erotismo, a solidão, a angústia
existencial, a infância, as ações mecânicas
do cotidiano. A própria doença
(tuberculose) o assombrou desde a
adolescência e o fez crer que a qualquer
momento morreria.
- Essa presença da morte, vista de modo melancólico e
resignado, mas nunca trágico ou dramático, faz de sua
poesia um dos mais comoventes testemunhos
da humildade. Por conta disso, ao recriar suas
experiências pessoais, acaba conferindo a elas um valor
universal, em que temas e sentimentos atingem a
todos..
6.
7. rio...
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
8.
9. 1. “Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.”
1. Nos
versos, Bandeira
ironiza o jeito
Parnasiano de
escrever. Sendo que
antes, as únicas rimas
válidas eram aquelas
que rimavam classes
gramaticais
diferentes.
2. “Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.”
2. O autor ressalta a
estética Parnasiana de
forma sarcástica.
3. “Brada em um
assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo”.
3. Manuel Bandeira
também faz uma
alusão irônica aos
poemas que
valorizam a
descrição dos
objetos e da
escultura clássica.
4. “ Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…”
4. Citação de uma
cantiga popular
brasileira.
10. - Além do conteúdo
temático, o poeta faz
algumas construções
estruturais que dão sentido
ao tema. Uma destas
construções é o uso de
aliterações em “p” e “b” e as
assonâncias em “u” e “a”
que remetem o som do
pulo dos sapos, assim
como, o jogo de palavras
em ” Não foi! – Foi! – Não
foi!” que faz analogia ao
coaxar dos sapos.
- O poeta moderno não utiliza a
forma como meio de compor o
tema, mas também, como forma de
compor a ironia temática presente
no texto. Por exemplo, a composição
de todos os versos com a mesma
métrica (cinco sílabas) faz parte da
proposta parnasiana. No entanto, o
poema é criado em redondilhas
menores, isto é, a forma mais
simples de se compor as sílabas
poéticas, o que para os parnasianos
é inaceitável, já que eles louvavam a
sofisticação e não a simplicidade.