Este documento discute como as pessoas podem "reprogramar sociosferas" através da criação de redes. Ao criar redes, você pode "inocular um vírus" nas instituições hierárquicas existentes e alterar a estrutura da sociedade. Isso pode ser feito através da criação de comunidades de aprendizagem, grupos espirituais, redes de engajamento político e empresas em rede. Ao se tornar um "netweaver" que cria redes, você pode desafiar o "velho mundo único" e
1. Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio
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(Corresponde ao vigésimo-quinto tópico do Capítulo 7,
intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)
Reprogramando sociosferas
Basta que você se dedique a “fazer” redes para inocular um virus nos
programas verticalizadores
Escolas (e ensino), igrejas (e religiões), partidos (e corporações), Estados-
nações (e seus aparatos), empresas-hierárquicas: basta mexer no código
de uma dessas instituições para alterar a programação da sociedade. Há
várias entradas. Você pode escolher por onde quer começar a hackear o
mundo único, reprogramando sociosferas.
Entretanto, para reprogramar sociosferas glocais – ao sabor de fluzz – não
basta hackear, é necessário também fazer netweaving.
2. Netweaving – articulação e animação de redes sociais – será cada vez mais
necessário para a experimentação inovadora em todas aquelas áreas que
questionam o velho mundo único, ensejando a emergência de novos
mundos altamente conectados: comunidades de aprendizagem em rede,
ecclesias para compartilhar formas pós-religiosas de espiritualidade, redes
de interação política pública em vizinhanças e setores de atividade,
comunidades glocais em cidades inovadoras, empresas-redes – tudo isso é
semente! Não-escolas, não-igrejas, não-partidos, não-Estados-nações e
não-empresas-hierárquicas são sementes: o que daí nascerá (depois) não
se pode saber (antes). Mas basta que você se dedique a uma dessas
atividades para inocular um virus nos programas verticalizadores. Não, não
é necessário uma grande revolução transformadora da sociedade como um
todo (mesmo porque não existe tal ‘sociedade como um todo’ e, portanto,
também não existe essa grande revolução redentora ou salvadora: como
dizia Paulo Brabo (2007), “o mundo não pode ser salvo de uma só vez... [só
pode ser salvo] redimindo-se um momento de cada vez”) (55).
É claro que tudo isso se resume em uma palavra: rede. Redes devem ser
encaradas, nesse sentido, como movimentos de desconstituição de
hierarquias. “Fazer” redes é desconstituir hierarquias.
Ao fazer isso, você se tornará um netweaver. Não importa onde atue, desde
que você desista das instituições hierárquicas: seja desistindo das escolas,
para atuar como catalisador de processos de aprendizagem em
comunidades livres de buscadores e polinizadores, estruturadas em rede;
seja desistindo das igrejas, mas (só se você quiser) não de compartilhar sua
mística ou sua espiritualidade com outras pessoas; seja desistindo dos
partidos, mas não desistindo de fazer política (pública), exercitando a
democracia cooperativa na base da sociedade e no cotidiano das pessoas
que convivem com você, na sua localidade ou setor de atividade; seja
desistindo das noções regressivas de patriotismo e nacionalismo e virando
cidadão transnacional de sua glocalidade; seja desistindo das empresas-
hierárquicas, mas não de empreender e de se associar a outros
empreendedores para estruturar novas empresas em rede.
No mundo único, entretanto, a desistência passa pela desobediência. Você
não conseguirá realizar nada disso se não tiver a firme disposição de
desobedecer aos mantenedores do velho mundo, que continuam mais
(re)ativos do que nunca, talvez pressentindo fluzz – esse vento nuclear que
vem varrendo tudo por aí.
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3. Nota
(55) BRABO, Paulo (2007). “Microsalvamentos: como salvar o mundo um instante
de cada vez” in <http://www.baciadasalmas.com>
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