O estudo do trabalho, das questões que o envolvem e a relação do trabalho com outros aspectos da vida social são referências para os autores clássicos. Neste capítulo vamos conhecer a visão dos autores clássicos sobre o trabalho assalariado. Também veremos como o trabalho assalariado se desenvolveu, quais são suas características centrais no mundo atual, como se organiza o trabalho na indústria, qual o papel da gerência e como a tecnologia incrementa o trabalho.
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Capítulo 7 - O Mundo do Trabalho
1. Grafite de Banksy na cidade de Boston, Estados Unidos, em foto de 2010. Sobre a frase SIGA
SEUS SONHOS pichada no muro, uma tarja vermelha adverte: CANCELADO.
CAPÍTULO 7 - O MUNDO DO TRABALHO
2. 1. O TRABALHO EM DURKHEIM, WEBER E MARX
Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx,
apesar de terem aplicações e métodos
diferentes, elegeram o trabalho como objeto
científico de seus estudos. Esses 3 autores
clássicos da Sociologia foram influenciados pela
Revolução industrial e pela Revolução francesa,
marcos de um novo modo de vida no ocidente
em geral.
3. a) DURKHEIM concentra sua atenção na divisão do trabalho. Essa
divisão é responsável pelo desenvolvimento de uma sociedade
diferenciada internamente. Para Durkheim, quanto mais
especializado é o trabalho, mais laços de dependência se formam.
Assim, quanto mais desenvolvida for a divisão do trabalho, maior
será a teia de relações de dependência entre os indivíduos (um
padeiro depende de um agricultor, que depende de um ferreiro, e
assim por diante). Isso levará, por consequência, a uma maior
coesão social.
O trabalho, na concepção de Durkheim, é um fato social presente
em todos os tipos de sociedade. Há sociedades com menor ou
maior divisão do trabalho, mas em todas elas são encontradas
funções diferenciadas entre os indivíduos, o que os divide em
grupos funcionais distintos com condutas sociais também
distintas.
Nas sociedades capitalistas, o trabalho é pensado como uma
atividade funcional que deve ser exercida por um grupo específico:
os trabalhadores.
4. Durkheim entende a divisão social entre trabalhadores e
empregadores como uma divisão funcional. Divisão entre aqueles
que devem cumprir uma atividade de organização da produção e
mando (os empregadores) e os que devem desenvolver uma
atividade produtiva (os trabalhadores). Essa divisão, como
extensão da divisão do trabalho, promove a coesão social e, por
isso, deve ser preservada socialmente.
No entanto, nessa divisão há problemas que Durkheim vê como
doenças sociais que devem ser corrigidas para que o todo social se
desenvolva adequadamente. Se há excessos por parte de
capitalistas ou de trabalhadores, deve-se regulamentar suas
atividades a fim de alcançar o equilíbrio e garantir a integração
social das partes envolvidas. Dessa forma, o lema de Durkheim
prevalece: as partes (os indivíduos) devem submeter-se de modo a
garantir a permanência do todo (a sociedade). De um lado, o
capitalista não se deve deixar levar pelo egoísmo do lucro
exacerbado, de outro, o trabalhador não deve questionar sua
funcionalidade dentro da divisão do trabalho.
5. b) WEBER parte de uma perspectiva diferente de Durkheim.
Segundo ele, não há algo geral e comum a todas as sociedades.
Cada sociedade obedece as situações históricas exclusivas; e
no capitalismo, por condições específicas, o trabalho teria se
tornado uma atividade fundamental. Segundo Weber, não
bastou o desenvolvimento do mercado, da moeda, do
dinheiro, das relações de troca em geral para que o
capitalismo se constituísse como sociedade particular. Essas
condições estavam presentes em sociedades passadas, como
na antiga Roma e durante a Idade Média, quando já existiam
vários elementos que hoje governam as relações monetárias,
comerciais e de troca. A especificidade do capitalismo esta no
encontro entre o “espírito” capitalista , de obter sempre mais
lucros, e uma ética religiosa cujo fundamento é uma vida
regrada, de autocontrole que tem na poupança uma
característica central.
6. Nesse encontro entre a mente capitalista e a ética protestante, o
trabalho ocupa lugar central. Para o praticante do protestantismo,
o sucesso nos negócios é uma comprovação de ter sido escolhido
por Deus. O trabalho árduo e disciplinado e uma vida regrada e
sem excessos podem lhe trazer o êxito profissional, sinal de sua fé e
salvação espiritual.
No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905),
Weber observa que ocorreu um encontro que deu ao capitalismo
sua particularidade. Ele observou que a formação do capitalismo
teve como característica fundamental essa ação social orientada
por um objetivo racional. Com o objetivo de, ao ter êxito em sua
vida material, ter a segurança de ter sido escolhido por Deus. O
encontro entre uma ética religiosa e um espírito empreendedor
possibilitou a formação histórica do capitalismo. Entretanto, a
procura da riqueza, não mais estaria sendo guiada por padrões
éticos, mas associados tão somente a “paixões puramente
mundanas”.
7. c) MARX concentra sua análise nas formas históricas de
trabalho e, particularmente, no trabalho assalariado. O
trabalho assalariado é uma manifestação histórica de
como o capitalismo se organizou como sociedade.
Com base na exploração do trabalho assalariado, a
sociedade capitalista produz e reproduz sua existência.
Ou seja, o trabalho assalariado é uma atividade central
para a perpetuação das relações sociais entre capitalistas e
trabalhadores e, por consequência, da exploração e
dominação do trabalhador pelo capitalista.
Para Marx, a divisão em classes sociais constitui-se com
base na retirada, pela burguesia nascente do século XVIII,
do meios de produção (terras, ferramentas, animais, etc.)
dos pequenos produtores livres.
9. 2. FORÇA DE TRABALHO E ALIENAÇÃO
a) Força de Trabalho: Segundo Marx, a desigualdade social é
fruto da divisão da sociedade em classes. Aqueles que têm os
meios de produção (dinheiro, prédios, capital, ações na bolsa de
valores, etc.) compram o trabalho daqueles que não têm esses
meios.
A questão se torna ainda mais complexa quando falamos em força
de trabalho. Quando o capitalista paga pelas atividades
desenvolvidas numa empresa ou indústria em um mês, o que ele
está pagando? Por exemplo, se um grupo de trabalhadores está
empregado em um ramo da construção civil, e se no fim do mês
todos esses trabalhadores forem pagos pelo conjunto de seus
trabalhos, o capitalista não terá lucro. Isso quer dizer que o
capitalista paga a força de trabalho (a capacidade de trabalho) e
não todo o trabalho realizado naquele período (o resultado do
trabalho).
10. Com isso, formaram-se a burguesia e o proletariado, classes
fundamentais do capitalismo. A reprodução dessa divisão
social se dá com base na exploração do trabalho assalariado
que o trabalhador vende para o capitalista em troca de um
salário.
À primeira vista, o trabalho assalariado pode ser considerado
como atividade que é vendida pelo trabalhador em troca de
um salário pago pelo capitalista. No entanto, Marx assinala
que essa troca, apesar de aparentar igualdade, na prática se dá
de forma desigual. O capitalista tem um capital e com esse
capital monta um negócio. Para isso, precisa contratar certo
número de trabalhadores. Aparentemente, o capitalista
oferece trabalho e o trabalhador pode aceitar ou não esse
trabalho. No entanto, devemos considerar a desigualdade
histórica dessa relação de troca.
12. 3. Taylorismo: É uma concepção de produção, baseada num
método científico de organização do trabalho, desenvolvida pelo
engenheiro americano Frederick W. Taylor (1856-1915). Em 1911,
Taylor publicou “Os princípios da administração”, obra na qual expôs
seu método. A partir dessa concepção, o trabalho industrial foi
fragmentado, pois cada trabalhador passou a exercer uma atividade
específica no sistema industrial. A organização foi hierarquizada,
sistematizada e o tempo de produção passou a ser cronometrado.
Algumas características do Taylorismo:
Racionalização da produção;
Economia de mão-de-obra;
Aumento da produtividade no trabalho;
Corte de “gastos desnecessários de energia” e de
“comportamentos supérfluos” do trabalhador para acabar
com qualquer desperdício de tempo.
Desde então, e cada vez mais, tempo é uma mercadoria, e o
trabalhador é quem ”vende” sua mão-de-obra.
13. Taylorismo
Mulheres trabalham em fábrica de Doncaster, Inglaterra, em torno de 1916, costurando
tecidos para cortinas e assentos de vagões de passageiros da Great Northern Railway,
ferrovia britânica estabelecida em 1846.
14. Fordismo
Fordismo é o nome dado ao modelo de produção automobilística
em massa. Foi Instituído pelo norte-americano Henry Ford.
Esse método consistia em aumentar a produção através do aumento
de eficiência e baixar o preço do produto, resultando no aumento
das vendas que, por sua vez, iria permitir manter baixo o preço do
produto.
O Fordismo é utilizado até hoje na fabricação de automóveis. Foi e
continua sendo o único modelo de produção capaz de atender a
demanda exigida pela sociedade atual.
15. Fordismo
Anúncio publicado em revista feminina norte-americana
em torno de 1948 com os dizeres: MAIS FRIGIDAIRES
PRESTAM SERVIÇOS EM LARES AMERICANOS DO QUE
QUALQUER OUTRO REFRIGERADOR.
16. Fordismo
Em outubro de 1913, a primeira esteira mecânica do mundo entrou em operação
em uma fábrica da Ford na cidade de Highland Park, estado de Michigan, nos
Estados Unidos.
17. TOYOTISMO: Sistema de organização voltado para a produção de
mercadorias, criado no Japão após a 2ª Guerra Mundial, pelo engenheiro
Taiichi Ohno. Foi aplicado na fábrica da Toyota de onde se espalhou por
várias regiões do mundo a partir da década de 1960. Até hoje é aplicado em
muitas empresas.
As principais características do Toyotismo são:
• Mão-de-obra multifuncional e bem qualificada. Os trabalhadores são
educados, treinados e qualificados para conhecer todos os processos de
produção, podendo atuar em várias áreas do sistema produtivo da
empresa.
• Sistema flexível de mecanização, voltado para a produção somente do
necessário, evitando ao máximo o excedente. A produção deve ser
ajustada a demanda do mercado.
• Uso de controle visual em todas as etapas de produção como forma de
acompanhar e controlar o processo produtivo.
• Aplicação do sistema “Just in Time”, ou seja, produzir somente o
necessário, no tempo necessário e na quantidade necessária.
• Uso de pesquisas de mercado para adaptar os produtos às exigências dos
clientes.
18. Toyotismo
Linha de produção
operada por robôs em
montadora da cidade de
Kolin, na República
Tcheca, em foto de 2008.
A empresa, uma joint-
venture nipo-francesa,
produz 1050 carros por
dia; um novo carro sai da
fábrica a cada 56
segundos.
19. Neoliberalismo
Podemos definir o neoliberalismo como um conjunto de
ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a
não participação do estado na economia. De acordo com
esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio
(livre mercado), pois este princípio garante o
crescimento econômico e o desenvolvimento social de
um país.
Surgiu na década de 1970, através da Escola Monetarista
do economista Milton Friedman, como uma solução para
a crise que atingiu a economia mundial em 1973,
provocada pelo aumento excessivo no preço
do petróleo. Ganhou força nos anos 90 e está a pleno
vapor atualmente.
20. Charge de Angeli publicada no jornal Folha de São Paulo em 27 de
agosto de 2006.
21. Características do neoliberalismo:
• mínima participação estatal nos rumos da economia de um país e
diminuição do tamanho do estado, tornando-o mais eficiente;
• pouca intervenção do governo no mercado de trabalho;
• política de privatização de empresas estatais;
• livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização;
• abertura da economia para a entrada de multinacionais;
• adoção de medidas contra o protecionismo econômico;
• desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais
simplificadas para facilitar o funcionamento das atividades
econômicas;
• posição contrária aos impostos e tributos excessivos;
• aumento da produção, como objetivo básico para atingir o
desenvolvimento econômico;
• contra o controle de preços dos produtos e serviços por parte do
estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é suficiente para regular os
preços;
• a base da economia deve ser formada por empresas privadas;
• defesa dos princípios econômicos do capitalismo.
22. Novas modalidades de trabalho
Com o desenvolvimento da produção toyotista, caracterizada
pela automação produtiva, muitos trabalhadores foram
dispensados. Apesar disso, a produtividade aumentou muito,
restaurando os lucros. Esse aumento da produção foi
acompanhado por um crescimento do setor de serviços. Grandes
empresas de comida (fast-food), de saúde (convênios médicos),
de comunicação (telefonia, internet e televisão), entre outras,
dimensionaram o mercado por conta do enxugamento do
Estado e das políticas neoliberais.
Para desenvolver novos softwares (programas de computador),
as empresas precisam de profissionais qualificados nessa função;
um operador de telemarketing precisa ter certo grau de
instrução técnica. Portanto, novos tipos de qualificação
passaram a ser demandados pelas empresas criadas ou em
expansão.
23. Entre esses novos tipos de trabalho, um deles, que tem como fundamento
as qualificações intelectuais, ficou conhecido como imaterial. Por que
imaterial? Porque o trabalho feito tradicionalmente nas indústrias era
considerado material, isto é, todo tipo de trabalho que tem como
matéria-prima objetos físicos, que conseguimos tocar ou pegar. Já o
trabalho imaterial é todo aquele que tem como matéria-prima elementos
intangíveis (que não se pode tocar).