3. Nadir Afonso Rodrigues
nasceu em 4 de Dezembro de
1920, no lugar dos Codeçais.
Filho do poeta Artur Maria
Afonso e de Palmira Rodrigues
Afonso, testemunho do
sentimento romântico de seus
pais.
Criança apaixonada, impulsiva,
banhada pela irrealidade do
sonho o «Riri», como era
conhecido na infância, ansiava
ardentemente ter asas,
sonhava ser «Rei» (...)
4. Depois, pouco a pouco, surgiu o mundo das artes.
Aos quatro anos pintava o seu primeiro «quadro»: um círculo
vermelho na parede do seu quarto (...)
«A obra de arte é um espetáculo de exatidão», escreveria mais
tarde, «a lei das formas geométricas é o mais belo encontro da
minha vida».
Aos sete anos, entra para a Escola Régia e aos onze ingressa no
Liceu Fernão de Magalhães. ( ... )
Nadir Afonso pinta aos catorze anos os seus primeiros trabalhos a
óleo, percorrendo a cidade com o seu cavalete: «vejo o perfil
destes horizontes através de olhares antepassados, como uma
dádiva hereditária e sobrenatural». ( ... )
5. Forte de S. Francisco (aguarela), 1937
Toda a sua atividade se concentra então na prática da pintura.
Ganha o 2.° prémio no concurso "Qual o mais belo trecho da paisagem
portuguesa?“, em 1937.
6. Dirige-se à Escola de Belas-Artes do Porto munido de meia folha de papel
selado em que pede a inscrição no curso de pintura.
Porém, matricula-se em arquitetura também.
O Porto, com a sua arquitetura barroca, debruçado sobre o Douro, impressiona-
o. Percorre a cidade, pintando.
«Eu encontrei o expressionismo na pintura ao longo de um
caminho que percorri absolutamente só».
Estreitando as relações com os seus colegas das Belas-Artes, faz parte do
grupo dos Independentes do Porto, expondo em todas as suas exposições até
1946.
Por volta de 1943, Nadir Afonso redige os seus primeiros estudos.
O fenómeno da geometria e da ótica que sempre o apaixonou, revela-se mais
claramente.
A sua obra «A Ribeira» do Porto, dá entrada no Museu de Arte Contemporânea
de Lisboa. Nadir Afonso tem apenas 24 anos.
No Verão do mesmo ano, é convidado como arquiteto, a tomar parte numa
missão estética na cidade de Évora. ( ... )
7. Em Abril de 1946, então com 25 anos de idade, Nadir Afonso vai para
Paris.
Em Paris, obtém, por intermédio de Portinari, uma bolsa de estudo do
governo francês.
Matricula-se no curso de pintura da École des Beaux-Arts.
Toma contacto com o grande mundo da Arte.
Trabalhar na arquitectura para publicar um livro com as suas pinturas, era
o seu objectivo imediato.
Colabora com o arquitecto francês Le Corbusier. Le Corbusier concedeu-
lhe as manhãs livres para pintar.
Em 1948 é admitido em Paris no Salão "Moins de trinte ans" ..
Em 1948 defende tese na cidade do Porto com um projecto executado em
Paris sob a orientação de Le Corbusier.
Nos princípios de 1949, retira-se de Paris.
8. No dia 4 de Dezembro de 1951, Nadir escreve à sua família:
«faço hoje 31 anos de idade e encontro-me em Veneza, no
meio de uma ponte, debruçado sobre o Grande Canal.
Dum lado está Paris e a Europa, e do outro a América do
Sul, no dia 14 embarco em Génova para o Rio de Janeiro».
Em 1953 regressa a Paris e retoma o contacto com artistas, desenvolvendo
os seus estudos de estética e da obra que denomina «Espacillimité».
Em Paris alterna o seu trabalho entre períodos de pintura e períodos de
arquitectura.
A história da vida de Nadir Afonso é a de um homem que traz consigo uma
mensagem: uma visão original da estética e uma obra de características
invulgares.
9. Nadir Afonso acentua o rumo da sua vida exclusivamente dedicada
à criação duma obra.
Desenvolve os seus escritos sobre a Geometria que considera a
essência da arte.
Uma primeira publicação - La Sensibilité Plastique - aparece em
1958 em Paris. É um pequeno trabalho de análise das leis naturais
suscetíveis de revolucionar toda a estética tradicional.
Nadir não é apenas um arquiteto: reúne numa síntese audaciosa as
suas qualidades de pintor, de esteta e de geometria.
Em 1960 vem com a família para Portugal e trabalha na arquitetura,
em Chaves e em Coimbra.
10. Em 1970 publicou "Mécanismes de la Création Artistique", que foi
tema de uma exposição retrospetiva no Centre Culturel Portugais da
Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, repetida na Fundação
Calouste Gulbenkian em Lisboa.
Em 16 de janeiro de 2009 teve lugar a apresentação pública do projeto
da Fundação Nadir Afonso, um projeto do arquiteto Siza Vieira, assim
como o Centro de Artes, em Boticas desenhado pela arquiteta
americana Louise Braverman.
Em 2010 realizou-se uma grandiosa exposição da sua obra intitulada
"Nadir Afonso Sem Limites", comissariada por Adelaide Ginga e
patente no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, e no Museu
Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, em Lisboa. O Museu da
Presidência também lhe dedicou a exposição "Absoluto 2010".
11. Em 2011 foi convidado a ilustrar a capa do 147.º aniversário do Diário
de Notícias e em janeiro de 2012 foi homenageado no Teatro Nacional
S. João, com a estreia do filme de Jorge Campos "Nadir Afonso - O
Tempo não Existe“.
A 5 de novembro de 2012 foi homenageado pela Universidade do Porto
com a atribuição do título de Doutor Honoris Causa.
Faleceu em Cascais, onde vivia com a sua família, no dia 11 de
dezembro de 2013, aos 93 anos de idade.
15. Rio Tâmega
Rio gentil de margens verdejantes
Em que retinam cantos de sereia!
Águas rolando por lençóis d'areia,
De pérolas translúcidas, brilhantes!
Junto de ti, os rouxinóis vibrantes
Entoam sonorosa melopeia.
E quando sobre tudo o Sol vagueia,
Tens notas de beleza fascinantes!
Dás alegria a quem te vê passar
Beijando relvas e movendo azenhas
Subindo em baldes para ir regar.
Mas tens o teu reverso! Se embraveces
Uivando de revolta, arrastas penhas,
Submerges as campinas! Entonteces!
17. O Banho
Tempo de banho. Distinta e cativante,
Aos primeiros raios dos clarões nascentes,
Corres banhar-te nas Iímpidas correntes,
Inda o sol não aparece e vem distante.
Treme o Tâmega de gozo palpitante,
Só de lhe tocarem nos areais dormentes
Muito ao de leve, teus pés alvinitentes,
E o teu corpo contornado e provocante.
Mordem-se de inveja, as rosas pela margem,
Vendo o terno enleio com que beija a aragem
Tua negra trança tão comprida e farta,
Espreitam-te as aves vendo-te tão bela ...
Eu, finalmente chamando-te uma estrela
Não sei mais meu amor que pôr na carta.
20. Oh meu bom velho pai
Oh meu bom velho pai
Que olhar cabisbaixo é esse que te acompanha?
Homem de perseverança errante,
Homem grande.
Carregas contigo um percurso pando
E agora?
Tantas histórias,
tantos acontecimentos passados,
tanta desaventurança!
Penaste nessa errância
com pobres de espírito te invejando
com gente te silenciando ...
(E só porque lhes fazias sombra ... )
Apodera-se de mim uma enorme fúria
Não pai, não vou esquecer ...
Não pai, como poderei esquecer?
Não me peçam que deixe de sentir essa dor,
esse desassossego!
Vale-te a pintura, a escrita,
e o conforto de saber que a tua obra, essa, fica!
Porque estás cabisbaixo meu velho pai?
Sossega meu pai ...
Artur Afonso
22. Bibliografia:
Artur Maria Afonso Poesia / Pintura [de] Nadir Afonso, Poesia [de] Artur Afonso
;Coordenação: Laura Afonso - Chaves : Fundação Nadir Afonso, 2009.
Textos retirados da brochura Notas biográficas de Janeiro de 93 - Escola
Preparatória Nadir Afonso
Webgrafia:
https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?p_pagina=antigos%20estudant
es%20ilustres%20-%20nadir%20afonso