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Publicado em Sposito, M.Encarnação- org. Urbanização e Perspectivas -pg.211 a 230
UNESP- Gasper 2001


                 Produção do Espaço e Ambiente Urbano
                                                    Arlete Moyses Rodrigues 1




        Endeusados ou endemoninhados os problemas da e na cidade, do e no urbano e
do ambiente são controversos2. Desafiam pesquisadores a compreenderem sua
complexidade, preencher lagunas no conhecimento e explicitar clara e coerentemente os
seus termos sem o que “pode-se cair no vazio ou na ambigüidade”3 . O tema
‘ambiental; na geografia em especial, é defendido por uns e execrado por outros. Diz
Edgar Morin4 que os que endemoninham (não o considerando relevante, apontando
apenas críticas) acabam por endeusar e sacralizar um tema. Concordando com Morin,
pretende-se com este texto, contribuir para a análise da problemática ambiental urbana
em sua complexidade, tema controverso e contraditório nas ciências da sociedade.
Para realizar esta proposição, tecer-se-á considerações sobre o debate sobre a cidade e
do urbano,       natureza, desenvolvimento, técnica, ciência, enfatizando-se um dos
problemas urbanos tidos como ambientais quando na realidade são sociais.
        O urbano é tido, simultaneamente, como símbolo da ‘libertação do homem’ da
‘natureza’5, no sentido genérico do Ser Humano e como lugar da opressão. Cidade e
urbano, obras humanas, mostram o avanço científico/tecnológico- símbolos e signos
do período contemporâneo, a globalização dos fluxos - sociais, culturais, científicos,
econômicos, financeiros, etc-. Cidade e Urbano mostram-se também como lugar de
opressão para os que estão à margem da ‘urbanidade’, com fragmentação da vida
quotidiana, expressa pelas rupturas, violência, pobreza, miséria; falta de habitações, de
saneamento básico, de segurança, de transportes coletivos, pela poluição do ar, da água
e dos alimentos.
        A ‘natureza;’ cantada em verso e prosa é tida como fonte de recuperação das
‘forças’ gastas no cotidiano citadino. Prega-se a volta ao mundo do ‘campo’6, atividades


1
  Profa.Livre docente - Unicamp - e-mail amoyses@mandic.com.br
2
  Controvérsias estão relacionadas ao debate científico e nem sempre às contradições da vida real.
3
   Milton Santos - FSP 21/11/99 - Caderno Mais página .5
4
  Morin, E. 1996
5
   Natureza está entre aspas pelos seus amplos significados. O domínio da natureza como ‘obra’ humana
é abordada por vários autores. Veja-se, em especial, Thomaz, K. 1989
6
  “Campo” visto como benéfico, mas onde se ignoram o trabalho e o trabalhador.
                                                                                                        1
turísticas ‘regenerativas’, replantio de árvores, uso de filtros antipoluição, a bicicleta
como meio de transporte etc. Simultaneamente, na cidade, a ‘natureza’ precisa ser
abolida para o porvir humano. Enterram-se rios e córregos (canalização);
impermeabilizam-se ruas, avenidas, fundos de vale (asfalto) para possibilitar o
deslocamento dos veículos, cada vez em maior número,                   derrubam-se matas para
edificar lugares de ‘convivência’, de produção e de consumo. Trata-se do mesmo
processo - ‘o bem e o mal’- , ou seja a modernização reflexiva que“ significa a
possibilidade de uma (auto)destruição criativa para toda uma era: aquela da sociedade
industrial. O ‘sujeito’ desta destruição criativa não é a revolução, não é a crise, mas a
vitória da modernização ocidental” (Giddens, 1997:12)“
        O conceito de modernização reflexiva, para Giddens,                           implica em
autoconfrontação        e não reflexão, ou seja, engrendra suas próprias contradições,
porém as análises (e a mídia) fragmentam as informações que permitiriam compreender
aspectos da realidade ocultando, .endemoninhando, sacralizando, endeusando, virando
‘moda’. Como diz Robert Kurtz7 (1999:5) “..a moda é o posto da crítica. Crítica radical
não pode virar modismo sem perder a alma. O que está na crista da onda é maneira
como idéias são transformadas em lixo de praia”. Quando o ambiente geográfico, vira
meio ambiente, perde suas substâncias e significados. Vira moda, captura discursos e
agendas oficiais. Perde sua ‘alma’.
        Este texto não trata da ‘moda’ meio ambiente mas de aspectos de problemas
urbanos denominados aqui de problemática ambiental urbana. As apologias - otimistas
e pessimistas - sacralizam ‘temas’ sem desvelar a vida na atualidade, não preenchem o
vazio dos discursos sobre o meio ambiente. Afirma Edgar Morin que a ciência é
aventura, que o conhecimento científico             se constrói, sem       cessar. É necessário,
portanto, tentar desconstruir e reconstruir instrumentais analíticos para compreender a
complexidade do real. A complexidade não é a completude do conhecimento, mas sua
incompletude. A complexidade é inerente ao pensamento científico mesmo quando seu
objetivo é revelar leis simples (Morin, 1996). No geral, porém, as análises são
simplificadoras, sem revelar leis que por serem              complexas necessitam de teorias
adequadas. O mundo mudou, mas as categorias de análise permanecem as do passado e
muitas vezes tornaram-se vazias de conteúdo pois viraram ‘moda’.


7
 Robert Kurtz (1999) tece estas considerações na apresentação do livro de Anselm Jappe - 1999 Guy
Debord - Editora Vozes
                                                                                                    2
A cidade e o urbano são medidas e mediadas pelo valor de troca,
incessantemente         alterado no processo indissolúvel de transformação da sociedade/
ciência/ técnica/tecnologia/sociedade. Fruto da segmentação das disciplinas científicas
as análises, contudo, são parciais e dicotomizadas.
           A ‘natureza’ também é mediada pelo valor de troca. Os elementos da ‘natureza,
transformam-se em ‘recursos naturais’, que apropriados, devem ser transformados,
modificados pela sociedade/ciência/técnica/ tecnologia/sociedade. São mercadorias que
podem ser utilizadas ‘in natura’ - água, vegetação, ar ou transformadas como ferro, aço,
gasolina, álcool, entre vários outros.
           Da ‘natureza’ se extrai a vida. Da cidade e do urbano se ‘extrai’ a possibilidade
da realização da vida humana. Dos homens e mulheres, na cidade e no campo, se extrai
a energia transformada também, em ‘recursos humanos’ qualificados para o trabalho.
           Adam Smith (1776), citado por Masi (1999:14) apontava que o desenvolvimento
da divisão do trabalho limita a maioria a poucas operações simples8. No entanto,
“o que forma a inteligência da maioria dos homens é necessariamente sua ocupação
ordinária. Um homem que gasta toda sua vida realizando poucas e simples
operações(...) não tem oportunidade de aplicar sua inteligência ou de exercitar sua
inventividade(...) , em geral torna-se tão estúpido e ignorante quanto pode sê-lo uma
criatura humana”.
           A ‘criatura humana’ torna-se um ‘recurso humano’ para ser utilizado em tarefas
rotineiras. A taylorização é o exemplo dos gestos repetitivos do processo industrial. Na
atualidade, a forma rotineira modifica-se. O ‘gesto repetitivo’ parece deslocar-se para
as ‘compras’ da ‘sociedade do consumo’. Estas transformações, porém, são vistas ora
como ‘progresso’, como ‘mudança do mundo’, sem análises críticas aprofundadas, ora
como forma de espoliação e exploração da vida.
           Lasswel (citado por Masi 1999) afirma que as estruturas políticas são
formalmente liberais e democráticas :“se fundamentam na prosperidade material, e , o
que é ainda mais importante, além desta, no tédio, na apatia, na aceitação passiva, no
tácito acordo de não discutir questões capazes de ‘dividir’...” (p. 24). A aceitação
passiva não se dá apenas no cidadão comum, mas na ciência que se recusa a debater
questões que podem dividir a comunidade científica, apegando-se a paradigmas que
reafirmam teorias existentes.


8
    A divisão do trabalho que ocorre desde a antigüidade é intensificada no capitalismo.
                                                                                           3
É necessário desvendar no processo civilizatório,                as desigualdades sociais,
políticas e econômicas; concentração de renda, de propriedades; desemprego e baixos
salários; exploração e espoliação urbana; violência;                   ausência de escolaridade;
desigualdades entre regiões e nações; devastação das matas, poluição do ar , do solo e
das águas enclaves, segregação sócio-espacial etc. como a outra face da mesma moeda
o avanço da ciência e da técnica. Verifica que ‘propostas, projetos, planos’ para
minorar problemas se pautam na crença de que a ciência e a técnica os resolverão. Cria-
se o ‘consenso’ de que no futuro todos os problemas serão resolvidos, com o acordo
‘tácito’ de não discutir a reflexividade da modernização9., ou seja os problemas
gerados pelo próprio avanço científico e econômico.
        A ênfase das análises no período moderno pautou-se no ‘tempo’ e na ciência
como resolução para as desigualdades. O ‘passar do tempo’, o avanço da ciência e da
técnica, têm acelerado a criação de novas problemáticas, entre as quais a ambiental
urbana. O ‘passar do tempo’ , o avanço da ciência e da técnica resolveu alguns
problemas mas criou, necessariamente, outros.                É    onde o modo de produção de
mercadorias mais avançou que a devastação ambiental é também mais acelerada. 10.


Elementos para geografizar problemas ambientais urbanos
        A ‘natureza’, tida como inesgotável,                     mediada pelo desenvolvimento
científico/tecnológico e os elementos da ‘natureza’ que compõem a vida quotidiana na
cidade e no urbano estão, muitas vezes, ocultos.11 Transformados de elementos da
natureza em mercadorias, passaram a ser denominados de recursos naturais. Os não
renováveis estão se esgotando, enquanto se busca alternativa, no futuro, para que outros
sejam utilizados em seu lugar.            Os recursos renováveis mudaram                de categoria,
passaram a        não renováveis ou necessitam de                 longo período para         que sua
renovabilidade mantenha-se, assim mesmo, se a poluição for estancada.
        A preocupação com devastação e poluição é muito anterior ao período
contemporâneo (Thomaz, K. 1989), mas a procura das causas e ‘soluções’ ocorre, em
especial, após 1972, com a publicação do Relatório do Clube de Roma (Meadows,



9
  Veja-se, Rodrigues, Arlete Moysés - 1988 - que aponta como os problemas são considerados como
desvios do modelo e como se sacralizam a ciência e a técnica, consideradas como solução, no futuro, para
os problemas do presente.
10
   Rodrigues, idem
11
   Ver Rodrigues, -ibidem .
                                                                                                       4
12
1972)       , que apresentou um cenário pessimista, salientando os aspectos negativos do
avanço da ciência, do crescimento econômico e populacional. Domenico de Masi diz
que “os aspectos negativos, suscetíveis de transformar o triunfo do gênero humano em
sua ruína” (1999:369) foram destacados pelo Relatório que apesar de muito criticado
geografiza os problemas ambientais, mostrando que não são apenas locais como eram
entendidos até então, mas mundiais.
            Nas últimas décadas deste século, o meio ambiente, a questão ambiental, a
problemática ambiental (seja qual for o termo utilizado), institucionaliza-se. Passa a
fazer parte das agendas locais, nacionais e internacionais. Para a cidade e o urbano
inclui-se o tema nos ‘planos’, planejamento, projetos de saneamento básico, da volta
do ‘verde’, despoluição,        ‘educação      ambiental’, ‘cidade sustentável’, ‘agenda 21,
agenda, gestão ambiental, bacias hidrográficas como unidade de análise e intervenção,
turismo ecológico, resíduos sólidos, reciclagem etc., etc. A preocupação intensifica-se
com o aumento do buraco na camada de ozônio, chuvas ácidas, mudanças climáticas
etc.
            Os problemas ambientais são apenas uma “moda”; mostram a ponta de um
‘iceberg’ de autoconfrontação; representam a possibilidade de construção de um novo
paradigma científico; a redescoberta dos limites dos recursos ‘naturais’; a incapacidade
da ciência/técnica dar conta dos problemas criados?
            É simultaneamente moda que homogeneiza ‘discursos retóricos’(sem teoria)
considerando a ‘natureza’           como ‘bem comum da humanidade’, embora esteja
apropriada privadamente; cria           o consenso do ‘bem comum’ numa sociedade de
desiguais. Deslocam-se as análises: da produção e da desigualdade societária para o
‘consumo’ dos objetos, da            ‘natureza’. Cria o consenso             de ‘bem comum da
humanidade’, enquanto o ‘comum’ da humanidade, sua capacidade de pensar , tem sido
dilapidado pela repetitividade dos gestos e do sobreviver no mundo contemporâneo.
Considera-se que os problemas são gerados pelos indivíduos, como no passado (e
presente) os responsáveis pela miséria e pobreza são os pobres e os miseráveis. Palavra
de ‘moda’ para obter-se financiamento para os países pobres. 13


12
   O Clube de Roma é formado por um grupo de cidadãos de todos os países individualmente
preocupados com a crescente ameaça implícita nos muitos problemas interdependentes que se apresentam
para o gênero Humano ( Meadows, D. 1972).
13
   Um dos aspectos da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento é este deslocamento.
Afirma-se que os países ‘desenvolvidos’ devem financiar (com recursos e técnicas) os ‘subdesenvolvidos’
que têm problemas de meio ambiente.
                                                                                                      5
O ambiente e seus problemas, entretanto, são também a ponta de ‘icebergs’,
mostrando que nem a ciência/técnica, nem os ‘recursos financeiros’ deram conta de
resolver os problemas do passado e, além disso, criou novos. Estes ‘novos’ problemas
precisam ser decodificados para sair-se da aparência e considerar a essência da ‘crise
ecológica’. Como diz Giddens:
           “A metamorfose dos efeitos colaterais despercebidos da produção industrial (ou
da produção do meio técnico científico informacional, como afirma Milton Santos14)      na perspectiva
das crises ecológicas globais não parece mais um problema do mundo que nos cerca -
um chamado ‘problema ambiental’-, mas sim uma crise institucional profunda da
própria sociedade. Enquanto estes desenvolvimentos forem vistos em contraposição
ao horizonte conceitual da sociedade industrial e, portanto, como efeitos negativos da
ação permanentemente responsável e calculável                          do sistema permanecerão
irreconhecíveis... No autoconceito da sociedade de risco, a sociedade torna-se
reflexiva, o que significa dizer que ela se torna um tema e um problema por ela
própria” (op. cit p.19-grifos nossos).
           Os problemas da e na cidade, do e no urbano, do e no ambiente são decorrentes
do triunfo do modo industrial de produzir mercadorias (ou da modernização) e não dos
seus fracassos. A realização humana, no seu devir e porvir, cria a reflexividade, seus
problemas, sem parcelamentos de análises.
           Temas da atualidade, como a globalização e fragmentação parecem opostos e
excludentes, porém, estão contidos em todas as esferas da vida. Mostram como os
limites e os avanços técnicos impedem o desenvolvimento da potencialidade humana.
A mundialização das rotinas do taylorismo fragmentou o conhecimento, transformando-
o em gestos repetitivos. A globalização atual fragmenta todas as esferas da vida e do
conhecimento. Desnaturalizou              a natureza humana         nas suas próprias        formas de
reprodução.
           Está à disposição dos interessados, na Internet, bancos de DNA de óvulos de
mulheres ‘bonitas’ para escolha , não da sua própria reprodução, mas da reprodução da
‘embalagem’. Ápice da socialização da própria natureza humana. Está a disposição dos
interessados, também, conhecer os ‘depósitos’ de menores (não de crianças), que são
mortos e se matam (revoltas da FEBEM no Estado de São Paulo- 10/99), os ‘pequenos’
assassinatos dos jovens da classe média, a ausência de calorias mínimas para a maioria,


14
     Santos, Milton 1996 - A natureza do Espaço - técnica e tempo - razão e emoção - Editora Hucitec
                                                                                                       6
a contaminação das águas e do solo, a poluição, a coleta de lixo nos depósitos dos
inservíveis. O torpor anunciado por Adam Smith “estúpido como pode ser um ser
humano”, destituído de sua capacidade de pensar, é a ponta de um iceberg.
        Como diz Morin, ciência é aventura, o conhecimento científico se constrói, se
desconstrói, sem cessar. É preciso argumentar para quem e porque se pretende
descortinar a realidade, fazer ciência com consciência.
        Se a aventura for a apenas a retórica e a busca da realização pessoal, então, o
tema ambiente é moda. É a moda dos discursos genéricos, fornecendo pressupostos
não     passíveis de contestação, tais como: “o ‘desenvolvimento sustentável’ é um
objetivo a ser alcançado não só pelas nações em ‘desenvolvimento’, mas também pelas
                     15
industrializadas”         “A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável -
de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade
das gerações futuras e atenderam também às suas”16. Nas cidades atuais “Tudo é
muito poluído e barulhento, sem espaço e inseguro, a calçada vazia passa a ser
dominada por flanelinhas e, mais tarde, meliantes ameaçadores, violentos... Ruas com
vida, diversidade e interesses costumam compor bairros sadios, de moradia atraente, e
cidade sem exclusão”17
        A ‘preocupação’ com a melhoria do ‘ambiente’ passou a ser considerada
‘vontade geral’, trazendo-a diretamente para o campo da política                            nacional e
internacional. Os discursos simplificam a realidade.                      Fetichizam-se problemas
ambientais, mostrando-se apenas a ponta final do processo, o consumo. Firma-se o
‘consenso e a moda’ com o uso do termo desenvolvimento sustentável e da procura do
bem-estar geral para as gerações presentes e futuras, no mercado. Abstrai-se da
realidade concreta a desigualdade social. O tema é tratado sob o signo do bem-estar
geral, perpassando classes sociais, propriedade e apropriação. Tenta-se atenuar os
efeitos adversos através de instrumentos como os Relatórios de Impactos Ambientais -
RIMAs, que se detêm quase sempre no âmbito local.
        Podem ter como objeto a construção do ‘ideal’, do desejo, mas não permitem
construir uma nova utopia. São idéias deslocadas da vida real . A utopia18 é necessária

15
   Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - 1991
16
   idem p.9
17
   Sirkis, Alfredo - 1999 . A autor dá muitas ‘dicas’ tais como : plantar árvores, reformar as calçadas,
delimitar áreas específicas para os camelôs, colocação de frades e grampos, criação de faixas para
pedestres e muitas outras.
18
   Como afirma Boaventura Souza Santos “A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades
humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe , só porque existe, em nome de
                                                                                                         7
para o porvir humano. A utopia pressupõe que o que está à margem seja trazido para o
centro e o que está nas margens não é o consumo ou retóricas, mas o SER humano.
        Apesar de o debate sobre problemas ambientais ser histórico, esses problemas
foram entendidos, até a década de 70, como locais. Sendo locais e localizados poderiam
ser resolvidos. A publicação do Relatório do Clube de Roma, já citado, mostra que não
são locais, pois se o crescimento econômico continuasse na direção em que estava a
humanidade estaria fadada a sofrer um redimensionamento porque não se estava
dando conta dos danos irreversíveis ao planeta.
        Redescobre-se19 que a natureza não tem fronteiras, que a alteração da qualidade
da água, ar, solo não se mantém nos limites dos territórios do Estado-Nação ou de locais
geográficos. Esta redescoberta, porém não é suficiente, porque as análises da poluição
do ar e das águas, dos resíduos (sólidos, líquidos e gasosos) são deslocadas da produção
para o consumo,          sem que as desigualdades sociais levar em consideração as
desigualdades sociais, ‘todos são transformados em responsáveis’. Desde os que só
conseguem ‘consumir’ a ração necessária a uma parca sobrevivência até aqueles que
apresentam consumo desperdiçador.
        A ciência e a técnica permanecem sacralizadas e tidas como remédios                        para
todos os males que serão resolvidos no ‘futuro’. Os                  problemas       reais são vistos
separadamente do aparato do meio técnico/científico informacional20. No Brasil, é
comum atribuir-se os problemas ambientais à falta de progresso, enquanto nos países
ditos desenvolvidos os problemas são mostrados como decorrentes do progresso. É
exatamente o ‘progresso’ que ocasiona muitos dos problemas da atualidade.


Aspectos da reflexividade de problemas ambientais
        Paul Virilo(1996) mostra como o avanço científico altera a produção do espaço
urbano. O conhecimento do território, das paisagens naturais, no processo de
desenvolvimento, na passagem do virtual ao efetivo, é analisado através de ‘cinco




algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e porque merece a pena lutar...(grifos
nossos ) 1995:323). É na realidade, portanto, que podemos construir a utopia e não com pressupostos
sem significação.
19
   Redescobre-se porque os geógrafos, entre outros, sempre mostraram que a natureza tem limites, mas
não fronteiras.
20
   Ver, numa análise oposta à que estamos demonstrando, Rybcswybsxi, W.
                                                                                                          8
motores’, que modificam e modificaram o quadro de produção da história, do espaço e
da própria ciência.21
        O motor a vapor - máquina da revolução industrial - propicia mudanças na
produção em geral. O trem além da produção dos caminhos de ferro, possibilita um
novo tipo de deslocamento, não mais na velocidade do homem e dos animais, mas
numa máquina construída pelos homens.               Os caminhos de ferro mudam o mundo
mudado. Permitem um novo tipo de deslocamento                      e de velocidade. Altera o
conhecimento da paisagem nos deslocamentos por trem. Chega-se mais rápido aos
outros lugares, encurta-se o tempo do percurso, embora ainda seja o mesmo território.
        Considerado o motor da revolução industrial, altera-se a produção do espaço: as
indústrias localizam-se nas proximidades das fontes de energia - carvão vegetal e hulha.
O uso do carvão vegetal provocou devastação de florestas, modificações no clima, no
relevo, no solo e o modo capitalista nas relações societárias. O uso da hulha - um
recurso esgotável - apropriados pela sociedade, consumidos e os restos devem ser
repostos em algum lugar: os resíduos aumentam.
        O motor a explosão e as máquinas-veículos constituem o segundo grande
motor da história e da produção do espaço. Destacam-se o automóvel e o avião, que
alteram o conhecimento do território. O             automóvel,     além de promover estradas
diferentes da do ‘caminho de ferro’, precisa de ruas, avenidas, estradas recobertas com
camada asfáltica, extraída do petróleo (energia fóssil que movimenta também o motor a
explosão). Amplia os lugares percorridos, pode-se parar em qualquer ponto e observar o
que está além da estrada: o transporte porta a porta e destrona o trem, pelo menos no
Brasil. O petróleo, como fonte de energia, produz ‘inservíveis’ - nos seus primórdios
poucos derivados do mesmo eram utilizados -. O esgotamento previsto dessa fonte de
energia movimenta também poderes políticos e econômicos para                       conquistas   de
territórios pelas corporações internacionais. Pelo domínio das reservas de petróleo,
criam-se guerras e destruição.
        Muda a dinâmica da circulação, dos meios de transporte, muda-se também a
dinâmica da edificação das e nas cidades. O avião, além da rapidez de deslocamento,
permite uma visão inédita do mundo, ver os lugares do alto, atravessar rapidamente os
oceanos e mares e as denominadas terras inóspitas. O território pode ser fotografado,
desenvolve-se a aerofotogametria e os mapeamentos sem necessidade de ‘aventuras’,

21
  Incluímos aspectos não abordados por Paul Virilio(1999), seguindo a cronologia dos motores
apresentada pelo autor.
                                                                                                 9
como a de Richard Burton ou de Humboldt.                     Novas máquinas, novas formas de
deslocamento, novas visões e a ampliação do mundo. Se o mundo já era conhecido
desde o século XVI, passa a ser visto em diferentes escalas. Permite aà guerra à
distância.
        Expande-se a visão do mundo e, contraditoriamente, são consumidos                              os
recursos naturais, como o carvão vegetal, o carvão mineral ( hulha), o petróleo para
produzir as máquinas - veículos              e combustíveis, lançando ao mesmo tempo na
atmosfera gases poluídores -. Trata-se da contradição do desenvolvimento que ao
mesmo tempo em que utiliza recursos naturais precisa de recipientes para lançar os
produtos consumidos.22
        O motor elétrico deu origem às turbinas, propiciando o avanço da indústria da
aviação e a eletrificação, através da qual o escuro (ligada a rotação da terra em volta do
sol) deixa de existir. Alterou, nas cidades, o ritmo do trabalho, não mais dado pelo dia
e noite - claro e escuro -. O tempo, parece tornar-se elástico, as metrópoles e as grandes
cidades fervilham durante 24 horas. O trabalho noturno aparece como uma forma de
tornar ‘elástico’ o tempo para as alterações urbanas23. Favoreceu a arte do cinema,
televisão, alterando hábitos culturais e o conhecimento do mundo distante através das
imagens. Permitiu o desenvolvimento dos elevadores, que juntamente com a invenção
do telefone, possibilitou a construção dos arranha-céus, ‘criam’ solo urbano. Muda-se
a ‘paisagem’ das e nas cidades.
        As redes de cidades passam a ser entranhadas, o território é esquadrinhado e
mostrado pelas telas do cinema e televisão. O real e o exótico são difundidos para o
mundo, expandem-se as atividades industrias e novas surgem como a                            atividades
turística que busca a ‘natureza’ como ‘fonte de descanso.
        A indústria não mais comanda sozinha o processo de urbanização que também
comanda a indústria. Na produção do urbano mediada e mediatizada pelo meio
técnico/científico/informacional, alteraram-se a ‘produção’ e o de consumo. Num
passado não muito distante , a forma de comercialização das mercadorias era realizada
em pequenas edificações: vendas, quitandas, padarias, feiras livres (realizadas no
espaço público). Em pouco anos,               os supermercados, depois os hipermercados e


22
   Veja-se a respeito Edmar Altvater - 1995 - Editora da Unesp- SP e um clássico da geografia : Jean
Brunhes - Geografia Humana -1962.
23
   Sobre essas alterações que não se reproduzem biologicamente, ver-se , Arlete Moysés Rodrigues
(1998)
                                                                                                       10
sacolões (feiras em espaços fechados) adquiriram supremacia. Roupas e equipamentos
‘sofisticados’ passaram das ‘lojas’ para galerias e shoppings centers24
        As edificações decorrentes dessas formas de concentração do capital                     são
visíveis no espaço urbano . As novas edificações aumentam a circulação de veículos,
ambientes fechados (e ‘seguros’25) instalam-se ar condicionado, escadas rolantes, um
templo de mercadorias. Representam progresso da ciência e da técnica. Consomem
energia (e para isto precisam de maior fontes geradoras), aumentam a poluição tanto
pela circulação de veículos, como do CFC lançado na atmosfera, os congestionamentos
‘pioram’ a qualidade de vida dos moradores vizinhos. Aumentam o preço da terra. A
reflexividade do progresso, do desenvolvimento não é atribuída aos chamados ‘agentes
produtores’ do espaço urbano, mas ao consumidor, usuário, cliente, categorias que
tomaram conta do ideário geral.
        Alterou-se o ‘modo de consumo’ e o objeto do desejo do ‘consumidor’. Antes
as embalagens eram simples e, muitas vezes, produtos, como arroz, feijão, óleo se
vendiam agranel, as bebidas tinham cascos reutilizáveis, trocavam-se as embalagens
de vidro vazias por outras cheias. A transformação do comércio                 fez desaparecer o
‘vendedor’ , cada ‘consumidor’ é seu próprio ‘vendedor’., O trabalho passou a ser do
comprador que        escolhe a “marca”, a “mercadoria” e o ‘produto’ que quer comprar.
Cabe indagar se escolhe ou se já foi ‘escolhido’ pela propaganda? As “ vendinhas”
desapareceram ou são utilizadas para outro uso. Nos bairros mais ‘pobres’ permanecem
as ‘vendas’, cujos preços são mais elevados 26, São tidos como permanência do atraso.
        As mercadorias, os objetos, as marcas, precisam, agora, vender-se, assim, entra
em cena o ‘colorido embalagens”. Embalar pode ter vários significados: embalar,
embrulhar. E embrulhar não é só colocar embalagem, mas também tapear.                            A
‘embalagem” precisa         agora ser comprada também, ou seja ser atrativa para os
‘consumidores’ . Mudou           o modo de ‘consumo’ e a forma                 de produção das
mercadorias. As embalagens ‘valem’ mais que o conteúdo. Mas , a relação entre a
produção e o consumo não tem sido devidamente analisada, a responsabilidade pelo
descarte das embalagens é atribuída ao ‘consumidor’.


24
   Manoel Seabra, pioneiro nos estudos sobre o comércio, tem como sucessora Silvana Pintaudi (UNESP-
Rio Claro) que, além de seus próprios trabalhos, orienta nesta linha de pesquisa.
25
   ‘Seguros’ contra os pobres e os mendigos,. mas não contra a violência da classe ‘média, como a
chacina que ocorreu dentro de um cinema do Shopping Morumbi, em São Paulo, no início de novembro
de 1999.
26
   Engels demonstrou esse processo já na Inglaterra do Século XIX.
                                                                                                  11
Nos supermercados e hipermercados, alguns produtos, tidos como ‘essenciais’
- arroz, feijão, óleo café, farinha, ovos, amido de milho, sal, açúcar - têm embalagens
simples. . Em geral, são os produtos mais sofisticados, ou menos ‘necessários’ para a
sobrevivência da maioria, que mudaram de embalagens, passando para vidro, plástico,
alumínio ,’caixas sofisticadas’. Todos materiais jogados fora após o consumo do
conteúdo. Mudaram de aparência e os preços aumentaram, como é o caso do leite
vendido em caixas que é mais caro do que o de saco de plástico.
       As chamadas análises ambientais observam apenas a ponta final - o consumo .
A produção das embalagens tem o objetivo de que o produto seja vendido pela sua
aparência. A maioria dos estudos, contudo, analisa o ‘lixo doméstico’, a embalagem
que é descartada após o consumo do conteúdo. Cabe destacar que analisar os resíduos
sólidos domiciliares e sua forma de deposição é importante, principalmente para os
municípios, responsáveis pela coleta. Questiona-se o fato de que está faltando análises
que mostrem quem produz o lixo não é o ‘domicílio’, mas sim a produção(em geral) e o
novo modo de consumo a ela relacionada.
       Para decodificar este problema da ‘moda’ da questão ambiental            é preciso
considerar a origem dos descartáveis e não apenas o momento do descarte que ocorre
nas residências. Deve ser considerado o uso dos elementos da natureza tornados
recursos (mercadorias) que se esgotam rapidamente nesse processo. O aumento destss
materiais originou a indústria da reciclagem que se atribui e a quem é atribuída uma
grande contribuição para o ‘bem comum’.
       Oculta a    geração dos problemas ambientais, cria-se a        chamada educação
ambiental. Como diz Paula Brugüer (1999), não se trata de educação ambiental, mas de
‘adestramento ambiental’. As frases como : não jogue lixo na rua, separe os produtos
para reciclagem para economizar ‘natureza separe e junte as latas de bebidas (nas
escolas), trocando-as por computadores etc. não educam apenas treinam para atos
repetitivos sem consciência.
       Essa nova mercadoria - os resíduos sólidos recicláveis’ -          é ‘vendida’ e
‘comprada’ no mercado, contudo o preço é definido pelo comprador e não por aqueles
que os ‘descartam’. Estranha mercadoria que só tem valor para quem a utiliza e não para
quem já pagou por ela nas outras mercadorias embaladas.
       Sem endeusar e sem endemoninhar o que é chamado de problemática ambiental
é preciso considerar o processo de produção dos ‘riscos artificiais’ , a reflexividade que
está deslocada para o ‘consumo’ e o consumidor. Pode-se, assim, tentar compreender
                                                                                       12
o meio técnico científico informacional, como ensina Milton Santos, a complexidade da
vida ‘moderna’ onde           as transformações societárias não são casuais, mas causais.
Retoma-se Paul Virilio para alguns comentários sobre os dois últimos motores.
        O motor-foguete permitiu uma visão de fora da terra e, ao homem, escapar da
força da gravidade terrestre. Amplia o sistema de comunicação das imagens e do
levantamento através da imagem de satélites. O mundo todo pode ser visto pelas
imagens da televisão e do cinema. Nem por isso a natureza deixou de ser dilapidada,
embora passe a ser compreendida como sem fronteiras. Para a produção necessita-se,
cada vez mais, dos elementos da natureza. Até o espaço sideral está cheio de lixo dos
foguetes que pesquisam esse espaço .
        O último motor é o da informática - que digitaliza a imagem e o som, assim
como a realidade ‘virtual’.          Como diz Paul Virilio , pode-se pensar em uma
concorrência do virtual com o real, da ‘derrota dos fatos’, na qual o mundo dos fatos
reais é desqualificado, desacreditado, concorrendo com o mundo virtual. Todas as
sociedades antigas viviam em tempos locais, aqueles em que viviam . Trata-se de uma
deslocalização e destemporalização. Altera-se o tempo e os espaços locais. Quando se
‘entra’ no tempo mundial, ingressa-se no virtual. Uma entrevista pode ser dada num
lugar e ao mesmo tempo ser vista em outros, como se o tempo e o lugar fossem os
mesmos, ou seja ‘juntos’, estando separados. Sintetiza o avanço dos motores da
história. As atividades econômicas apropriam-se dessa produção histórica , da ‘era
             27
‘digital .        Novos resíduos são criados e provocam danos à natureza (além do uso dos
elementos naturais como recursos).
        O corpo, segundo Paul Virillio, é o último ‘planeta’ a ser conquistado pela
técnica que já conquistou o planeta terra, redefiniu territórios, através de estradas, das
redes elétricas, das turbinas etc. Hoje a miniaturização das técnicas permite equipar o
corpo do homem. Pode-se dizer, afirma o autor, que o homem está só, exposto à
técnica tal como o planeta terra já foi exposto, provocando o desemprego de certos
órgãos do corpo. O homem nu foi desvalorizado e vestiu-se. Atualmente o nu são os
órgãos que são desqualificados.          A endocolonização não ocorre somente com as
populações, mas com o corpo humano - que é investido e fagocitado pela técnica



27
  Paul Virilio analisa a complexidade dessa produção. Detive-me, aqui, apenas em aponta alguns
elementos para mostrar como várias análises são simplificadoras como o processo de urbanização e da
temática ambiental.. Ver também Rodrigues, 1999.
                                                                                                      13
.Indaga-se que nesta grandeza do fim do milênio chegou-se ao limite: ao limite atômico,
ao limite em relação à poluição do planeta, à técnica , à demografia.
        Uma grande época e um grande perigo. Será que o homem compreenderá o que
está em jogo? Qualquer inovação, descoberta colocada para a sociedade, altera, mesmo
sem que o pesquisador, inventor ou aventureiro saiba ou queria, a dinâmica societária e
sua relação com a natureza.         Esse processo ocorre desde a hominização: provocar e
manter o fogo, construir um abrigo, usar os animais como suporte para o transporte, a
roda, o moinho - utilizando a água -, a máquina a vapor, o motor a explosão, as turbinas
elétricas, o telefone, o elevador, o avião, os foguetes e, finalmente, os chips de
computadores. Toda a maquinária produzida, enfim, altera a forma de se relacionar
com a natureza e a produção do espaço.
        O avanço        do meio técnico-científico-informacional            intensifica o uso dos
elementos da natureza, transformados em recursos naturais - mercadorias, portanto -
que provocam a alteração dos ecossistemas naturais de forma inusitada. Também são
necessários lugares para depositar os inservíveis. Continuam as previsões sobre contas
e inflação, esquecendo-se de que os elementos da natureza, agora escassos, tornam-se
mais caros e provocam também inflação.
        Para finalizar, considera-se que os problemas ambientais trouxeram à tona a
importância do espaço geográfico28 . Cabe a nós geógrafos uma tarefa fundamental ,
sem endeusar,       endemoninhar, entrar na ‘moda’ o meio ambiente, compreender a
complexidade dos novos problemas colocados pela temática ambiental urbana. O
urbano como modo de vida está presente em toda a sociedade. Ao abordar a temática
ambiental, tentando analisar sua complexidade não se provoca um deslocamento do
objeto de estudo do geógrafo, pelo contrário, trata-se de geografizar - ver como se
grafa o espaço - talvez até para afirmar a própria necessidade de compreender a
produção do espaço do e no mundo contemporâneo.


Bibliografia citada :
Altvater , Elmar - 1995 - “O preço da riqueza” - Editora Unesp - São Paulo
Brügger, Paula - 1999 - “Educação ou Adestramento Ambiental” - Editora Letras
       Contemporâneas - Rio de Janeiro
Brunhes, Jean 1962 - “Geografia Humana” - Editora Fundo de Cultura -Rio de Janeiro
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - 1991 “Nosso Futuro
       Comum”- Editora Fundação Getúlio Vargas - 2ª edição
28
  Sobre a importância que adquire o espaço geográfico com a problemática ambiental, veja-se entre
outros, Rodrigues, Arlete M. op.cit
                                                                                                    14
Giddens; Beck e Lash - 1997 “Modernização Reflexiva - Política, tradição e
        estética na ordem social moderna” Editora da Unesp -
Harvey, David 1992 “Condição Pós-Moderna” Edições Loyola -São Paulo
Masi, Domênico - 1999 - “A sociedade pós industrial” - Editora Senac - São Paulo
Meadows, D - 1972 - Limits to Growth - Potomac Associates -Washington
Morin, Edgar - 1996 - “Ciência com Consciência” - Editora Bertrand Brasil - Rio de
        Janeiro
Rybczynski, W. 1996 - “Vida nas Cidades - Expectativas Urbanos no Novo Mundo”-
        Editora Record - rio de Janeiro
Rodrigues, Arlete Moysés - 1998 “Produção e Consumo do e no Espaço
        - Problemática Ambiental Urbana”- Editora Hucitec- São Paulo .
                1999 -“Turismo e Sustentabilidade” In Revista de Geografia
                da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Ano V nº 9 -
Santos, Boaventura de S. 1995 “Pela mão de Alice - O social e o político na pós
        modernidade” Editora Cortez - São Paulo
Santos, Milton - 1996 - “A natureza do espaço - Técnica e Tempo - Razão e Emoção” -
        Editora Hucitec - São Paulo
Sirkis, Alfredo - 1999 - “Ecologia Urbana e Poder Local” - Editora Onda Azul -Rio de
        Janeiro
Thomaz, Keit - 1988 - “O homem e o Mundo Natural “- Editora Cia das Letras - São
        Paulo.
Virilio, Paul - 1996- “A arte do Motor” - Editora Estação Liberdade - São Paulo
                1998 - “Os motores da História” - In Tecnociência e Cultura - ensaios
                sobre o Tempo Presente - Org. Hermete Reis Araujo - Editora Estação
                Liberdade - São Paulo




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Problemas ambientais urbanos e a complexidade da modernização reflexiva

  • 1. Publicado em Sposito, M.Encarnação- org. Urbanização e Perspectivas -pg.211 a 230 UNESP- Gasper 2001 Produção do Espaço e Ambiente Urbano Arlete Moyses Rodrigues 1 Endeusados ou endemoninhados os problemas da e na cidade, do e no urbano e do ambiente são controversos2. Desafiam pesquisadores a compreenderem sua complexidade, preencher lagunas no conhecimento e explicitar clara e coerentemente os seus termos sem o que “pode-se cair no vazio ou na ambigüidade”3 . O tema ‘ambiental; na geografia em especial, é defendido por uns e execrado por outros. Diz Edgar Morin4 que os que endemoninham (não o considerando relevante, apontando apenas críticas) acabam por endeusar e sacralizar um tema. Concordando com Morin, pretende-se com este texto, contribuir para a análise da problemática ambiental urbana em sua complexidade, tema controverso e contraditório nas ciências da sociedade. Para realizar esta proposição, tecer-se-á considerações sobre o debate sobre a cidade e do urbano, natureza, desenvolvimento, técnica, ciência, enfatizando-se um dos problemas urbanos tidos como ambientais quando na realidade são sociais. O urbano é tido, simultaneamente, como símbolo da ‘libertação do homem’ da ‘natureza’5, no sentido genérico do Ser Humano e como lugar da opressão. Cidade e urbano, obras humanas, mostram o avanço científico/tecnológico- símbolos e signos do período contemporâneo, a globalização dos fluxos - sociais, culturais, científicos, econômicos, financeiros, etc-. Cidade e Urbano mostram-se também como lugar de opressão para os que estão à margem da ‘urbanidade’, com fragmentação da vida quotidiana, expressa pelas rupturas, violência, pobreza, miséria; falta de habitações, de saneamento básico, de segurança, de transportes coletivos, pela poluição do ar, da água e dos alimentos. A ‘natureza;’ cantada em verso e prosa é tida como fonte de recuperação das ‘forças’ gastas no cotidiano citadino. Prega-se a volta ao mundo do ‘campo’6, atividades 1 Profa.Livre docente - Unicamp - e-mail amoyses@mandic.com.br 2 Controvérsias estão relacionadas ao debate científico e nem sempre às contradições da vida real. 3 Milton Santos - FSP 21/11/99 - Caderno Mais página .5 4 Morin, E. 1996 5 Natureza está entre aspas pelos seus amplos significados. O domínio da natureza como ‘obra’ humana é abordada por vários autores. Veja-se, em especial, Thomaz, K. 1989 6 “Campo” visto como benéfico, mas onde se ignoram o trabalho e o trabalhador. 1
  • 2. turísticas ‘regenerativas’, replantio de árvores, uso de filtros antipoluição, a bicicleta como meio de transporte etc. Simultaneamente, na cidade, a ‘natureza’ precisa ser abolida para o porvir humano. Enterram-se rios e córregos (canalização); impermeabilizam-se ruas, avenidas, fundos de vale (asfalto) para possibilitar o deslocamento dos veículos, cada vez em maior número, derrubam-se matas para edificar lugares de ‘convivência’, de produção e de consumo. Trata-se do mesmo processo - ‘o bem e o mal’- , ou seja a modernização reflexiva que“ significa a possibilidade de uma (auto)destruição criativa para toda uma era: aquela da sociedade industrial. O ‘sujeito’ desta destruição criativa não é a revolução, não é a crise, mas a vitória da modernização ocidental” (Giddens, 1997:12)“ O conceito de modernização reflexiva, para Giddens, implica em autoconfrontação e não reflexão, ou seja, engrendra suas próprias contradições, porém as análises (e a mídia) fragmentam as informações que permitiriam compreender aspectos da realidade ocultando, .endemoninhando, sacralizando, endeusando, virando ‘moda’. Como diz Robert Kurtz7 (1999:5) “..a moda é o posto da crítica. Crítica radical não pode virar modismo sem perder a alma. O que está na crista da onda é maneira como idéias são transformadas em lixo de praia”. Quando o ambiente geográfico, vira meio ambiente, perde suas substâncias e significados. Vira moda, captura discursos e agendas oficiais. Perde sua ‘alma’. Este texto não trata da ‘moda’ meio ambiente mas de aspectos de problemas urbanos denominados aqui de problemática ambiental urbana. As apologias - otimistas e pessimistas - sacralizam ‘temas’ sem desvelar a vida na atualidade, não preenchem o vazio dos discursos sobre o meio ambiente. Afirma Edgar Morin que a ciência é aventura, que o conhecimento científico se constrói, sem cessar. É necessário, portanto, tentar desconstruir e reconstruir instrumentais analíticos para compreender a complexidade do real. A complexidade não é a completude do conhecimento, mas sua incompletude. A complexidade é inerente ao pensamento científico mesmo quando seu objetivo é revelar leis simples (Morin, 1996). No geral, porém, as análises são simplificadoras, sem revelar leis que por serem complexas necessitam de teorias adequadas. O mundo mudou, mas as categorias de análise permanecem as do passado e muitas vezes tornaram-se vazias de conteúdo pois viraram ‘moda’. 7 Robert Kurtz (1999) tece estas considerações na apresentação do livro de Anselm Jappe - 1999 Guy Debord - Editora Vozes 2
  • 3. A cidade e o urbano são medidas e mediadas pelo valor de troca, incessantemente alterado no processo indissolúvel de transformação da sociedade/ ciência/ técnica/tecnologia/sociedade. Fruto da segmentação das disciplinas científicas as análises, contudo, são parciais e dicotomizadas. A ‘natureza’ também é mediada pelo valor de troca. Os elementos da ‘natureza, transformam-se em ‘recursos naturais’, que apropriados, devem ser transformados, modificados pela sociedade/ciência/técnica/ tecnologia/sociedade. São mercadorias que podem ser utilizadas ‘in natura’ - água, vegetação, ar ou transformadas como ferro, aço, gasolina, álcool, entre vários outros. Da ‘natureza’ se extrai a vida. Da cidade e do urbano se ‘extrai’ a possibilidade da realização da vida humana. Dos homens e mulheres, na cidade e no campo, se extrai a energia transformada também, em ‘recursos humanos’ qualificados para o trabalho. Adam Smith (1776), citado por Masi (1999:14) apontava que o desenvolvimento da divisão do trabalho limita a maioria a poucas operações simples8. No entanto, “o que forma a inteligência da maioria dos homens é necessariamente sua ocupação ordinária. Um homem que gasta toda sua vida realizando poucas e simples operações(...) não tem oportunidade de aplicar sua inteligência ou de exercitar sua inventividade(...) , em geral torna-se tão estúpido e ignorante quanto pode sê-lo uma criatura humana”. A ‘criatura humana’ torna-se um ‘recurso humano’ para ser utilizado em tarefas rotineiras. A taylorização é o exemplo dos gestos repetitivos do processo industrial. Na atualidade, a forma rotineira modifica-se. O ‘gesto repetitivo’ parece deslocar-se para as ‘compras’ da ‘sociedade do consumo’. Estas transformações, porém, são vistas ora como ‘progresso’, como ‘mudança do mundo’, sem análises críticas aprofundadas, ora como forma de espoliação e exploração da vida. Lasswel (citado por Masi 1999) afirma que as estruturas políticas são formalmente liberais e democráticas :“se fundamentam na prosperidade material, e , o que é ainda mais importante, além desta, no tédio, na apatia, na aceitação passiva, no tácito acordo de não discutir questões capazes de ‘dividir’...” (p. 24). A aceitação passiva não se dá apenas no cidadão comum, mas na ciência que se recusa a debater questões que podem dividir a comunidade científica, apegando-se a paradigmas que reafirmam teorias existentes. 8 A divisão do trabalho que ocorre desde a antigüidade é intensificada no capitalismo. 3
  • 4. É necessário desvendar no processo civilizatório, as desigualdades sociais, políticas e econômicas; concentração de renda, de propriedades; desemprego e baixos salários; exploração e espoliação urbana; violência; ausência de escolaridade; desigualdades entre regiões e nações; devastação das matas, poluição do ar , do solo e das águas enclaves, segregação sócio-espacial etc. como a outra face da mesma moeda o avanço da ciência e da técnica. Verifica que ‘propostas, projetos, planos’ para minorar problemas se pautam na crença de que a ciência e a técnica os resolverão. Cria- se o ‘consenso’ de que no futuro todos os problemas serão resolvidos, com o acordo ‘tácito’ de não discutir a reflexividade da modernização9., ou seja os problemas gerados pelo próprio avanço científico e econômico. A ênfase das análises no período moderno pautou-se no ‘tempo’ e na ciência como resolução para as desigualdades. O ‘passar do tempo’, o avanço da ciência e da técnica, têm acelerado a criação de novas problemáticas, entre as quais a ambiental urbana. O ‘passar do tempo’ , o avanço da ciência e da técnica resolveu alguns problemas mas criou, necessariamente, outros. É onde o modo de produção de mercadorias mais avançou que a devastação ambiental é também mais acelerada. 10. Elementos para geografizar problemas ambientais urbanos A ‘natureza’, tida como inesgotável, mediada pelo desenvolvimento científico/tecnológico e os elementos da ‘natureza’ que compõem a vida quotidiana na cidade e no urbano estão, muitas vezes, ocultos.11 Transformados de elementos da natureza em mercadorias, passaram a ser denominados de recursos naturais. Os não renováveis estão se esgotando, enquanto se busca alternativa, no futuro, para que outros sejam utilizados em seu lugar. Os recursos renováveis mudaram de categoria, passaram a não renováveis ou necessitam de longo período para que sua renovabilidade mantenha-se, assim mesmo, se a poluição for estancada. A preocupação com devastação e poluição é muito anterior ao período contemporâneo (Thomaz, K. 1989), mas a procura das causas e ‘soluções’ ocorre, em especial, após 1972, com a publicação do Relatório do Clube de Roma (Meadows, 9 Veja-se, Rodrigues, Arlete Moysés - 1988 - que aponta como os problemas são considerados como desvios do modelo e como se sacralizam a ciência e a técnica, consideradas como solução, no futuro, para os problemas do presente. 10 Rodrigues, idem 11 Ver Rodrigues, -ibidem . 4
  • 5. 12 1972) , que apresentou um cenário pessimista, salientando os aspectos negativos do avanço da ciência, do crescimento econômico e populacional. Domenico de Masi diz que “os aspectos negativos, suscetíveis de transformar o triunfo do gênero humano em sua ruína” (1999:369) foram destacados pelo Relatório que apesar de muito criticado geografiza os problemas ambientais, mostrando que não são apenas locais como eram entendidos até então, mas mundiais. Nas últimas décadas deste século, o meio ambiente, a questão ambiental, a problemática ambiental (seja qual for o termo utilizado), institucionaliza-se. Passa a fazer parte das agendas locais, nacionais e internacionais. Para a cidade e o urbano inclui-se o tema nos ‘planos’, planejamento, projetos de saneamento básico, da volta do ‘verde’, despoluição, ‘educação ambiental’, ‘cidade sustentável’, ‘agenda 21, agenda, gestão ambiental, bacias hidrográficas como unidade de análise e intervenção, turismo ecológico, resíduos sólidos, reciclagem etc., etc. A preocupação intensifica-se com o aumento do buraco na camada de ozônio, chuvas ácidas, mudanças climáticas etc. Os problemas ambientais são apenas uma “moda”; mostram a ponta de um ‘iceberg’ de autoconfrontação; representam a possibilidade de construção de um novo paradigma científico; a redescoberta dos limites dos recursos ‘naturais’; a incapacidade da ciência/técnica dar conta dos problemas criados? É simultaneamente moda que homogeneiza ‘discursos retóricos’(sem teoria) considerando a ‘natureza’ como ‘bem comum da humanidade’, embora esteja apropriada privadamente; cria o consenso do ‘bem comum’ numa sociedade de desiguais. Deslocam-se as análises: da produção e da desigualdade societária para o ‘consumo’ dos objetos, da ‘natureza’. Cria o consenso de ‘bem comum da humanidade’, enquanto o ‘comum’ da humanidade, sua capacidade de pensar , tem sido dilapidado pela repetitividade dos gestos e do sobreviver no mundo contemporâneo. Considera-se que os problemas são gerados pelos indivíduos, como no passado (e presente) os responsáveis pela miséria e pobreza são os pobres e os miseráveis. Palavra de ‘moda’ para obter-se financiamento para os países pobres. 13 12 O Clube de Roma é formado por um grupo de cidadãos de todos os países individualmente preocupados com a crescente ameaça implícita nos muitos problemas interdependentes que se apresentam para o gênero Humano ( Meadows, D. 1972). 13 Um dos aspectos da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento é este deslocamento. Afirma-se que os países ‘desenvolvidos’ devem financiar (com recursos e técnicas) os ‘subdesenvolvidos’ que têm problemas de meio ambiente. 5
  • 6. O ambiente e seus problemas, entretanto, são também a ponta de ‘icebergs’, mostrando que nem a ciência/técnica, nem os ‘recursos financeiros’ deram conta de resolver os problemas do passado e, além disso, criou novos. Estes ‘novos’ problemas precisam ser decodificados para sair-se da aparência e considerar a essência da ‘crise ecológica’. Como diz Giddens: “A metamorfose dos efeitos colaterais despercebidos da produção industrial (ou da produção do meio técnico científico informacional, como afirma Milton Santos14) na perspectiva das crises ecológicas globais não parece mais um problema do mundo que nos cerca - um chamado ‘problema ambiental’-, mas sim uma crise institucional profunda da própria sociedade. Enquanto estes desenvolvimentos forem vistos em contraposição ao horizonte conceitual da sociedade industrial e, portanto, como efeitos negativos da ação permanentemente responsável e calculável do sistema permanecerão irreconhecíveis... No autoconceito da sociedade de risco, a sociedade torna-se reflexiva, o que significa dizer que ela se torna um tema e um problema por ela própria” (op. cit p.19-grifos nossos). Os problemas da e na cidade, do e no urbano, do e no ambiente são decorrentes do triunfo do modo industrial de produzir mercadorias (ou da modernização) e não dos seus fracassos. A realização humana, no seu devir e porvir, cria a reflexividade, seus problemas, sem parcelamentos de análises. Temas da atualidade, como a globalização e fragmentação parecem opostos e excludentes, porém, estão contidos em todas as esferas da vida. Mostram como os limites e os avanços técnicos impedem o desenvolvimento da potencialidade humana. A mundialização das rotinas do taylorismo fragmentou o conhecimento, transformando- o em gestos repetitivos. A globalização atual fragmenta todas as esferas da vida e do conhecimento. Desnaturalizou a natureza humana nas suas próprias formas de reprodução. Está à disposição dos interessados, na Internet, bancos de DNA de óvulos de mulheres ‘bonitas’ para escolha , não da sua própria reprodução, mas da reprodução da ‘embalagem’. Ápice da socialização da própria natureza humana. Está a disposição dos interessados, também, conhecer os ‘depósitos’ de menores (não de crianças), que são mortos e se matam (revoltas da FEBEM no Estado de São Paulo- 10/99), os ‘pequenos’ assassinatos dos jovens da classe média, a ausência de calorias mínimas para a maioria, 14 Santos, Milton 1996 - A natureza do Espaço - técnica e tempo - razão e emoção - Editora Hucitec 6
  • 7. a contaminação das águas e do solo, a poluição, a coleta de lixo nos depósitos dos inservíveis. O torpor anunciado por Adam Smith “estúpido como pode ser um ser humano”, destituído de sua capacidade de pensar, é a ponta de um iceberg. Como diz Morin, ciência é aventura, o conhecimento científico se constrói, se desconstrói, sem cessar. É preciso argumentar para quem e porque se pretende descortinar a realidade, fazer ciência com consciência. Se a aventura for a apenas a retórica e a busca da realização pessoal, então, o tema ambiente é moda. É a moda dos discursos genéricos, fornecendo pressupostos não passíveis de contestação, tais como: “o ‘desenvolvimento sustentável’ é um objetivo a ser alcançado não só pelas nações em ‘desenvolvimento’, mas também pelas 15 industrializadas” “A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável - de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras e atenderam também às suas”16. Nas cidades atuais “Tudo é muito poluído e barulhento, sem espaço e inseguro, a calçada vazia passa a ser dominada por flanelinhas e, mais tarde, meliantes ameaçadores, violentos... Ruas com vida, diversidade e interesses costumam compor bairros sadios, de moradia atraente, e cidade sem exclusão”17 A ‘preocupação’ com a melhoria do ‘ambiente’ passou a ser considerada ‘vontade geral’, trazendo-a diretamente para o campo da política nacional e internacional. Os discursos simplificam a realidade. Fetichizam-se problemas ambientais, mostrando-se apenas a ponta final do processo, o consumo. Firma-se o ‘consenso e a moda’ com o uso do termo desenvolvimento sustentável e da procura do bem-estar geral para as gerações presentes e futuras, no mercado. Abstrai-se da realidade concreta a desigualdade social. O tema é tratado sob o signo do bem-estar geral, perpassando classes sociais, propriedade e apropriação. Tenta-se atenuar os efeitos adversos através de instrumentos como os Relatórios de Impactos Ambientais - RIMAs, que se detêm quase sempre no âmbito local. Podem ter como objeto a construção do ‘ideal’, do desejo, mas não permitem construir uma nova utopia. São idéias deslocadas da vida real . A utopia18 é necessária 15 Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - 1991 16 idem p.9 17 Sirkis, Alfredo - 1999 . A autor dá muitas ‘dicas’ tais como : plantar árvores, reformar as calçadas, delimitar áreas específicas para os camelôs, colocação de frades e grampos, criação de faixas para pedestres e muitas outras. 18 Como afirma Boaventura Souza Santos “A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe , só porque existe, em nome de 7
  • 8. para o porvir humano. A utopia pressupõe que o que está à margem seja trazido para o centro e o que está nas margens não é o consumo ou retóricas, mas o SER humano. Apesar de o debate sobre problemas ambientais ser histórico, esses problemas foram entendidos, até a década de 70, como locais. Sendo locais e localizados poderiam ser resolvidos. A publicação do Relatório do Clube de Roma, já citado, mostra que não são locais, pois se o crescimento econômico continuasse na direção em que estava a humanidade estaria fadada a sofrer um redimensionamento porque não se estava dando conta dos danos irreversíveis ao planeta. Redescobre-se19 que a natureza não tem fronteiras, que a alteração da qualidade da água, ar, solo não se mantém nos limites dos territórios do Estado-Nação ou de locais geográficos. Esta redescoberta, porém não é suficiente, porque as análises da poluição do ar e das águas, dos resíduos (sólidos, líquidos e gasosos) são deslocadas da produção para o consumo, sem que as desigualdades sociais levar em consideração as desigualdades sociais, ‘todos são transformados em responsáveis’. Desde os que só conseguem ‘consumir’ a ração necessária a uma parca sobrevivência até aqueles que apresentam consumo desperdiçador. A ciência e a técnica permanecem sacralizadas e tidas como remédios para todos os males que serão resolvidos no ‘futuro’. Os problemas reais são vistos separadamente do aparato do meio técnico/científico informacional20. No Brasil, é comum atribuir-se os problemas ambientais à falta de progresso, enquanto nos países ditos desenvolvidos os problemas são mostrados como decorrentes do progresso. É exatamente o ‘progresso’ que ocasiona muitos dos problemas da atualidade. Aspectos da reflexividade de problemas ambientais Paul Virilo(1996) mostra como o avanço científico altera a produção do espaço urbano. O conhecimento do território, das paisagens naturais, no processo de desenvolvimento, na passagem do virtual ao efetivo, é analisado através de ‘cinco algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e porque merece a pena lutar...(grifos nossos ) 1995:323). É na realidade, portanto, que podemos construir a utopia e não com pressupostos sem significação. 19 Redescobre-se porque os geógrafos, entre outros, sempre mostraram que a natureza tem limites, mas não fronteiras. 20 Ver, numa análise oposta à que estamos demonstrando, Rybcswybsxi, W. 8
  • 9. motores’, que modificam e modificaram o quadro de produção da história, do espaço e da própria ciência.21 O motor a vapor - máquina da revolução industrial - propicia mudanças na produção em geral. O trem além da produção dos caminhos de ferro, possibilita um novo tipo de deslocamento, não mais na velocidade do homem e dos animais, mas numa máquina construída pelos homens. Os caminhos de ferro mudam o mundo mudado. Permitem um novo tipo de deslocamento e de velocidade. Altera o conhecimento da paisagem nos deslocamentos por trem. Chega-se mais rápido aos outros lugares, encurta-se o tempo do percurso, embora ainda seja o mesmo território. Considerado o motor da revolução industrial, altera-se a produção do espaço: as indústrias localizam-se nas proximidades das fontes de energia - carvão vegetal e hulha. O uso do carvão vegetal provocou devastação de florestas, modificações no clima, no relevo, no solo e o modo capitalista nas relações societárias. O uso da hulha - um recurso esgotável - apropriados pela sociedade, consumidos e os restos devem ser repostos em algum lugar: os resíduos aumentam. O motor a explosão e as máquinas-veículos constituem o segundo grande motor da história e da produção do espaço. Destacam-se o automóvel e o avião, que alteram o conhecimento do território. O automóvel, além de promover estradas diferentes da do ‘caminho de ferro’, precisa de ruas, avenidas, estradas recobertas com camada asfáltica, extraída do petróleo (energia fóssil que movimenta também o motor a explosão). Amplia os lugares percorridos, pode-se parar em qualquer ponto e observar o que está além da estrada: o transporte porta a porta e destrona o trem, pelo menos no Brasil. O petróleo, como fonte de energia, produz ‘inservíveis’ - nos seus primórdios poucos derivados do mesmo eram utilizados -. O esgotamento previsto dessa fonte de energia movimenta também poderes políticos e econômicos para conquistas de territórios pelas corporações internacionais. Pelo domínio das reservas de petróleo, criam-se guerras e destruição. Muda a dinâmica da circulação, dos meios de transporte, muda-se também a dinâmica da edificação das e nas cidades. O avião, além da rapidez de deslocamento, permite uma visão inédita do mundo, ver os lugares do alto, atravessar rapidamente os oceanos e mares e as denominadas terras inóspitas. O território pode ser fotografado, desenvolve-se a aerofotogametria e os mapeamentos sem necessidade de ‘aventuras’, 21 Incluímos aspectos não abordados por Paul Virilio(1999), seguindo a cronologia dos motores apresentada pelo autor. 9
  • 10. como a de Richard Burton ou de Humboldt. Novas máquinas, novas formas de deslocamento, novas visões e a ampliação do mundo. Se o mundo já era conhecido desde o século XVI, passa a ser visto em diferentes escalas. Permite aà guerra à distância. Expande-se a visão do mundo e, contraditoriamente, são consumidos os recursos naturais, como o carvão vegetal, o carvão mineral ( hulha), o petróleo para produzir as máquinas - veículos e combustíveis, lançando ao mesmo tempo na atmosfera gases poluídores -. Trata-se da contradição do desenvolvimento que ao mesmo tempo em que utiliza recursos naturais precisa de recipientes para lançar os produtos consumidos.22 O motor elétrico deu origem às turbinas, propiciando o avanço da indústria da aviação e a eletrificação, através da qual o escuro (ligada a rotação da terra em volta do sol) deixa de existir. Alterou, nas cidades, o ritmo do trabalho, não mais dado pelo dia e noite - claro e escuro -. O tempo, parece tornar-se elástico, as metrópoles e as grandes cidades fervilham durante 24 horas. O trabalho noturno aparece como uma forma de tornar ‘elástico’ o tempo para as alterações urbanas23. Favoreceu a arte do cinema, televisão, alterando hábitos culturais e o conhecimento do mundo distante através das imagens. Permitiu o desenvolvimento dos elevadores, que juntamente com a invenção do telefone, possibilitou a construção dos arranha-céus, ‘criam’ solo urbano. Muda-se a ‘paisagem’ das e nas cidades. As redes de cidades passam a ser entranhadas, o território é esquadrinhado e mostrado pelas telas do cinema e televisão. O real e o exótico são difundidos para o mundo, expandem-se as atividades industrias e novas surgem como a atividades turística que busca a ‘natureza’ como ‘fonte de descanso. A indústria não mais comanda sozinha o processo de urbanização que também comanda a indústria. Na produção do urbano mediada e mediatizada pelo meio técnico/científico/informacional, alteraram-se a ‘produção’ e o de consumo. Num passado não muito distante , a forma de comercialização das mercadorias era realizada em pequenas edificações: vendas, quitandas, padarias, feiras livres (realizadas no espaço público). Em pouco anos, os supermercados, depois os hipermercados e 22 Veja-se a respeito Edmar Altvater - 1995 - Editora da Unesp- SP e um clássico da geografia : Jean Brunhes - Geografia Humana -1962. 23 Sobre essas alterações que não se reproduzem biologicamente, ver-se , Arlete Moysés Rodrigues (1998) 10
  • 11. sacolões (feiras em espaços fechados) adquiriram supremacia. Roupas e equipamentos ‘sofisticados’ passaram das ‘lojas’ para galerias e shoppings centers24 As edificações decorrentes dessas formas de concentração do capital são visíveis no espaço urbano . As novas edificações aumentam a circulação de veículos, ambientes fechados (e ‘seguros’25) instalam-se ar condicionado, escadas rolantes, um templo de mercadorias. Representam progresso da ciência e da técnica. Consomem energia (e para isto precisam de maior fontes geradoras), aumentam a poluição tanto pela circulação de veículos, como do CFC lançado na atmosfera, os congestionamentos ‘pioram’ a qualidade de vida dos moradores vizinhos. Aumentam o preço da terra. A reflexividade do progresso, do desenvolvimento não é atribuída aos chamados ‘agentes produtores’ do espaço urbano, mas ao consumidor, usuário, cliente, categorias que tomaram conta do ideário geral. Alterou-se o ‘modo de consumo’ e o objeto do desejo do ‘consumidor’. Antes as embalagens eram simples e, muitas vezes, produtos, como arroz, feijão, óleo se vendiam agranel, as bebidas tinham cascos reutilizáveis, trocavam-se as embalagens de vidro vazias por outras cheias. A transformação do comércio fez desaparecer o ‘vendedor’ , cada ‘consumidor’ é seu próprio ‘vendedor’., O trabalho passou a ser do comprador que escolhe a “marca”, a “mercadoria” e o ‘produto’ que quer comprar. Cabe indagar se escolhe ou se já foi ‘escolhido’ pela propaganda? As “ vendinhas” desapareceram ou são utilizadas para outro uso. Nos bairros mais ‘pobres’ permanecem as ‘vendas’, cujos preços são mais elevados 26, São tidos como permanência do atraso. As mercadorias, os objetos, as marcas, precisam, agora, vender-se, assim, entra em cena o ‘colorido embalagens”. Embalar pode ter vários significados: embalar, embrulhar. E embrulhar não é só colocar embalagem, mas também tapear. A ‘embalagem” precisa agora ser comprada também, ou seja ser atrativa para os ‘consumidores’ . Mudou o modo de ‘consumo’ e a forma de produção das mercadorias. As embalagens ‘valem’ mais que o conteúdo. Mas , a relação entre a produção e o consumo não tem sido devidamente analisada, a responsabilidade pelo descarte das embalagens é atribuída ao ‘consumidor’. 24 Manoel Seabra, pioneiro nos estudos sobre o comércio, tem como sucessora Silvana Pintaudi (UNESP- Rio Claro) que, além de seus próprios trabalhos, orienta nesta linha de pesquisa. 25 ‘Seguros’ contra os pobres e os mendigos,. mas não contra a violência da classe ‘média, como a chacina que ocorreu dentro de um cinema do Shopping Morumbi, em São Paulo, no início de novembro de 1999. 26 Engels demonstrou esse processo já na Inglaterra do Século XIX. 11
  • 12. Nos supermercados e hipermercados, alguns produtos, tidos como ‘essenciais’ - arroz, feijão, óleo café, farinha, ovos, amido de milho, sal, açúcar - têm embalagens simples. . Em geral, são os produtos mais sofisticados, ou menos ‘necessários’ para a sobrevivência da maioria, que mudaram de embalagens, passando para vidro, plástico, alumínio ,’caixas sofisticadas’. Todos materiais jogados fora após o consumo do conteúdo. Mudaram de aparência e os preços aumentaram, como é o caso do leite vendido em caixas que é mais caro do que o de saco de plástico. As chamadas análises ambientais observam apenas a ponta final - o consumo . A produção das embalagens tem o objetivo de que o produto seja vendido pela sua aparência. A maioria dos estudos, contudo, analisa o ‘lixo doméstico’, a embalagem que é descartada após o consumo do conteúdo. Cabe destacar que analisar os resíduos sólidos domiciliares e sua forma de deposição é importante, principalmente para os municípios, responsáveis pela coleta. Questiona-se o fato de que está faltando análises que mostrem quem produz o lixo não é o ‘domicílio’, mas sim a produção(em geral) e o novo modo de consumo a ela relacionada. Para decodificar este problema da ‘moda’ da questão ambiental é preciso considerar a origem dos descartáveis e não apenas o momento do descarte que ocorre nas residências. Deve ser considerado o uso dos elementos da natureza tornados recursos (mercadorias) que se esgotam rapidamente nesse processo. O aumento destss materiais originou a indústria da reciclagem que se atribui e a quem é atribuída uma grande contribuição para o ‘bem comum’. Oculta a geração dos problemas ambientais, cria-se a chamada educação ambiental. Como diz Paula Brugüer (1999), não se trata de educação ambiental, mas de ‘adestramento ambiental’. As frases como : não jogue lixo na rua, separe os produtos para reciclagem para economizar ‘natureza separe e junte as latas de bebidas (nas escolas), trocando-as por computadores etc. não educam apenas treinam para atos repetitivos sem consciência. Essa nova mercadoria - os resíduos sólidos recicláveis’ - é ‘vendida’ e ‘comprada’ no mercado, contudo o preço é definido pelo comprador e não por aqueles que os ‘descartam’. Estranha mercadoria que só tem valor para quem a utiliza e não para quem já pagou por ela nas outras mercadorias embaladas. Sem endeusar e sem endemoninhar o que é chamado de problemática ambiental é preciso considerar o processo de produção dos ‘riscos artificiais’ , a reflexividade que está deslocada para o ‘consumo’ e o consumidor. Pode-se, assim, tentar compreender 12
  • 13. o meio técnico científico informacional, como ensina Milton Santos, a complexidade da vida ‘moderna’ onde as transformações societárias não são casuais, mas causais. Retoma-se Paul Virilio para alguns comentários sobre os dois últimos motores. O motor-foguete permitiu uma visão de fora da terra e, ao homem, escapar da força da gravidade terrestre. Amplia o sistema de comunicação das imagens e do levantamento através da imagem de satélites. O mundo todo pode ser visto pelas imagens da televisão e do cinema. Nem por isso a natureza deixou de ser dilapidada, embora passe a ser compreendida como sem fronteiras. Para a produção necessita-se, cada vez mais, dos elementos da natureza. Até o espaço sideral está cheio de lixo dos foguetes que pesquisam esse espaço . O último motor é o da informática - que digitaliza a imagem e o som, assim como a realidade ‘virtual’. Como diz Paul Virilio , pode-se pensar em uma concorrência do virtual com o real, da ‘derrota dos fatos’, na qual o mundo dos fatos reais é desqualificado, desacreditado, concorrendo com o mundo virtual. Todas as sociedades antigas viviam em tempos locais, aqueles em que viviam . Trata-se de uma deslocalização e destemporalização. Altera-se o tempo e os espaços locais. Quando se ‘entra’ no tempo mundial, ingressa-se no virtual. Uma entrevista pode ser dada num lugar e ao mesmo tempo ser vista em outros, como se o tempo e o lugar fossem os mesmos, ou seja ‘juntos’, estando separados. Sintetiza o avanço dos motores da história. As atividades econômicas apropriam-se dessa produção histórica , da ‘era 27 ‘digital . Novos resíduos são criados e provocam danos à natureza (além do uso dos elementos naturais como recursos). O corpo, segundo Paul Virillio, é o último ‘planeta’ a ser conquistado pela técnica que já conquistou o planeta terra, redefiniu territórios, através de estradas, das redes elétricas, das turbinas etc. Hoje a miniaturização das técnicas permite equipar o corpo do homem. Pode-se dizer, afirma o autor, que o homem está só, exposto à técnica tal como o planeta terra já foi exposto, provocando o desemprego de certos órgãos do corpo. O homem nu foi desvalorizado e vestiu-se. Atualmente o nu são os órgãos que são desqualificados. A endocolonização não ocorre somente com as populações, mas com o corpo humano - que é investido e fagocitado pela técnica 27 Paul Virilio analisa a complexidade dessa produção. Detive-me, aqui, apenas em aponta alguns elementos para mostrar como várias análises são simplificadoras como o processo de urbanização e da temática ambiental.. Ver também Rodrigues, 1999. 13
  • 14. .Indaga-se que nesta grandeza do fim do milênio chegou-se ao limite: ao limite atômico, ao limite em relação à poluição do planeta, à técnica , à demografia. Uma grande época e um grande perigo. Será que o homem compreenderá o que está em jogo? Qualquer inovação, descoberta colocada para a sociedade, altera, mesmo sem que o pesquisador, inventor ou aventureiro saiba ou queria, a dinâmica societária e sua relação com a natureza. Esse processo ocorre desde a hominização: provocar e manter o fogo, construir um abrigo, usar os animais como suporte para o transporte, a roda, o moinho - utilizando a água -, a máquina a vapor, o motor a explosão, as turbinas elétricas, o telefone, o elevador, o avião, os foguetes e, finalmente, os chips de computadores. Toda a maquinária produzida, enfim, altera a forma de se relacionar com a natureza e a produção do espaço. O avanço do meio técnico-científico-informacional intensifica o uso dos elementos da natureza, transformados em recursos naturais - mercadorias, portanto - que provocam a alteração dos ecossistemas naturais de forma inusitada. Também são necessários lugares para depositar os inservíveis. Continuam as previsões sobre contas e inflação, esquecendo-se de que os elementos da natureza, agora escassos, tornam-se mais caros e provocam também inflação. Para finalizar, considera-se que os problemas ambientais trouxeram à tona a importância do espaço geográfico28 . Cabe a nós geógrafos uma tarefa fundamental , sem endeusar, endemoninhar, entrar na ‘moda’ o meio ambiente, compreender a complexidade dos novos problemas colocados pela temática ambiental urbana. O urbano como modo de vida está presente em toda a sociedade. Ao abordar a temática ambiental, tentando analisar sua complexidade não se provoca um deslocamento do objeto de estudo do geógrafo, pelo contrário, trata-se de geografizar - ver como se grafa o espaço - talvez até para afirmar a própria necessidade de compreender a produção do espaço do e no mundo contemporâneo. Bibliografia citada : Altvater , Elmar - 1995 - “O preço da riqueza” - Editora Unesp - São Paulo Brügger, Paula - 1999 - “Educação ou Adestramento Ambiental” - Editora Letras Contemporâneas - Rio de Janeiro Brunhes, Jean 1962 - “Geografia Humana” - Editora Fundo de Cultura -Rio de Janeiro Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - 1991 “Nosso Futuro Comum”- Editora Fundação Getúlio Vargas - 2ª edição 28 Sobre a importância que adquire o espaço geográfico com a problemática ambiental, veja-se entre outros, Rodrigues, Arlete M. op.cit 14
  • 15. Giddens; Beck e Lash - 1997 “Modernização Reflexiva - Política, tradição e estética na ordem social moderna” Editora da Unesp - Harvey, David 1992 “Condição Pós-Moderna” Edições Loyola -São Paulo Masi, Domênico - 1999 - “A sociedade pós industrial” - Editora Senac - São Paulo Meadows, D - 1972 - Limits to Growth - Potomac Associates -Washington Morin, Edgar - 1996 - “Ciência com Consciência” - Editora Bertrand Brasil - Rio de Janeiro Rybczynski, W. 1996 - “Vida nas Cidades - Expectativas Urbanos no Novo Mundo”- Editora Record - rio de Janeiro Rodrigues, Arlete Moysés - 1998 “Produção e Consumo do e no Espaço - Problemática Ambiental Urbana”- Editora Hucitec- São Paulo . 1999 -“Turismo e Sustentabilidade” In Revista de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Ano V nº 9 - Santos, Boaventura de S. 1995 “Pela mão de Alice - O social e o político na pós modernidade” Editora Cortez - São Paulo Santos, Milton - 1996 - “A natureza do espaço - Técnica e Tempo - Razão e Emoção” - Editora Hucitec - São Paulo Sirkis, Alfredo - 1999 - “Ecologia Urbana e Poder Local” - Editora Onda Azul -Rio de Janeiro Thomaz, Keit - 1988 - “O homem e o Mundo Natural “- Editora Cia das Letras - São Paulo. Virilio, Paul - 1996- “A arte do Motor” - Editora Estação Liberdade - São Paulo 1998 - “Os motores da História” - In Tecnociência e Cultura - ensaios sobre o Tempo Presente - Org. Hermete Reis Araujo - Editora Estação Liberdade - São Paulo 15