O segundo encontro do projeto Café com Políticas Públicas discutiu políticas públicas culturais e recebeu o especialista Paulo César Garcez Marins. O debate incluiu questões sobre patrimônio cultural no Brasil, a importância da Vila de Paranapiacaba, e a necessidade de valorizar patrimônios industriais e do trabalho. O próximo encontro discutirá políticas de desenvolvimento sustentável.
1. Edição n° 2
Julho/2012
News
Informativo mensal do projeto de extensão Café com Politicas Públicas
2° encontro/ 1° itinerante reúne especialistas em politicas públicas culturais
O segundo Café com Políticas Públicas discutiu o tema Políticas Públicas Culturais. O especialista convidado do mês de
junho foi o professor doutor Paulo César Garcez Marins, especialista em patrimônios culturais. O encontro foi realizado no
dia 4 de junho, na Fundação Pró-Memória em São Caetano do Sul. A mediação feita pela professora doutora Ana Maria
Dietrich. Confira abaixo alguns momentos do debate:
‘Precisamos formar, com efeito, Tenho expectativas que a própria UFABC seja um lugar de gestação de reflexões
decisões conscientes daquilo para reorientar essa trajetória porque, com efeito, vocês têm especialistas e
que ficará e daquilo que jovens pesquisadores. A memória do trabalho está muito gravada aqui no ABC
perderemos.’ para as pessoas simplesmente abrirem mão de seus lugares de memória.
O Professor Doutor Paulo César Porque há a desvalorização do patrimônio industrial?
Garcez Marins é historiador, doutor Penso que o patrimônio não deve ser escolhido apenas por técnicos especialistas;
em História Social pela Faculdade esse é o primeiro caminho para o patrimônio tombado nada significar para a maior
de Filosofia, Letras e Ciências parte das pessoas. É essa a trajetória de constituição histórica das ações
Humanas da USP, docente do patrimoniais e é essa que fez com que a população não se envolvesse com a
Musei Paulista da USP e dos programas de pós graduação da preservação, senão - e no mais das vezes - a contragosto. O patrimônio industrial é
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. É autor, entre alvo de desamor e de desatenção historicamente no país, porque é do século XX, e
outros trabalhos, de "Trajetória e Preservação do Patrimônio patrimônios do século XX nunca foram nomeados como algo de amplo interesse do
Cultural Paulista". governo federal, Por outro lado, as fábricas ou estações ferroviárias são lugares
óbvios de memória do trabalho, e os lugares de trabalho também nunca foram
O que são considerados hoje patrimônio cultural no Brasil?
efetivamente valorizados pelo governo federal. O IPAHN priorizou a preservação de
Desde a década de 1990, quando se gestou a ideia de uma proteção legal para o
templos, de fortalezas como bens da engenharia militar do Brasil, de palácios, etc.,
patrimônio material no país, criou-se uma perspectiva completamente nova nas
e quase na totalidade erguidos no período colonial.
práticas de preservação, com a possibilidade de registrar bens consideráveis
intangíveis, imateriais. Essa é a grande novidade dos últimos 10 anos no Brasil. Do
O que se pode fazer com esses patrimônios desvalorizados?
tocável passamos também para aquilo que é intocável. São grandes hoje os
Creio que, nas universidades, precisamos construir estratégias para suscitar na
esforços federais da ampliação daquilo que imaginávamos ser patrimônio cultural
sociedade a ambição de discutir e nomear seu patrimônio. Talvez seja uma ilusão
até muito pouco tempo atrás. Porém, há muito que fazer no âmbito da preservação
nossa a indústria ou o patrimônio ferroviário ser de interesse amplo pela população.
do patrimônio edificado, no país e em nosso estado. Não temos nenhuma fábrica
Talvez seja de uma parcela menor, mas já assim será significativo preservá-los. O
tombada pelo IPHAN em São Paulo, não obstante o protagonismo dos paulistas na
patrimônio não deve ser o âmbito das homogeneidades, das totalidades.
industrialização do país já desde a década de 1920. Essa situação de desprestígio
Precisamos aprender a respeitar e preservar o interesse de vários, pois vários
que as políticas culturais federais impuseram a São Paulo fez com que, de alguma
compõem a sociedade. É parte do compromisso dos órgãos ampliar os debates, até
maneira, nós também aprendêssemos lentamente que o nosso lugar não é um
para sabermos se esse debate é significativo ou não. Precisamos formar, com
espaço de memória no país.
efeito, decisões conscientes daquilo que ficará e daquilo que perderemos. O que
não dá para acontecer é assistir tudo cair sem se envolver, sem que possamos nem
Explique um pouco sobre a Vila de Paranapiacaba, tida como um
mesmo reivindicar o
patrimônio cultural tomado pelo IPHAN. Como foi o processo de
direito constitucional
tombamento e porque é uma iniciativa isolada em São Paulo?
de preservarmos os
Paranapiacaba, como foi dito no documentário, foi objeto de um tombamento que
suportes das muitas
demorou para ser efetivado. Ele já está concluído há mais de 10 anos e, ainda
memórias que
assim, ações concretas do governo federal para a restauração desse patrimônio
compõem nosso
são irrisórias. Nós aguardamos, também há mais de uma década, quando a
legado cultural e nossa Mesa composta por Heitor Glauber e Soraia O. Costa (Neblina
prefeitura de Santo André entrou em tratativas com a Rede Ferroviária Federal para
vida social. Sobre Trilhos), Profª Drª Ana Maria Dietrich e Profº Drº
assumir a vila de Paranapiacaba, que isso fosse o começo de uma nova era para a
vila e isso não aconteceu. O processo de degradação física da vila é muito grande.
Paulo César Garcez Marins
2. Café com PP News São Bernardo do Campo, julho de 2012
Apresentação artística
Documentário: Transformação Sensível - Neblina sobre Trilhos
(UFABC/ CUFSA, 2012. Dir.: Soraia O. Costa/ Rafael Caitano. Orientação: Profa. Dra. Ana Maria Dietrich e Prof. Dr. Claudio Camargo Penteado
(UFABC). Co-orientação - Prof. Ms. Odair de Sá Garcia (CUFSA).
A neblina que se esconde sob os trilhos da ferrovia é descortinada nesse documentário sobre a Vila de Paranapiacaba a partir da narrativa dos
ferroviários, principais protagonistas dessa rica história. Mesmo sendo considerado um patrimônio da humanidade, pouco se conhece sobre a rica
história dessa Vila. O filme busca unir passado e presente, questionando os motivos que levaram ao abandono e descaso desse importante
patrimônio. A exibição debate itinerante está sendo realizada em instituições próximas do eixo ferroviário Santos-Jundiaí. A meta é se alcançar 50
exibições até o final do ano. Confira abaixo trechos da entrevista feita com Soraia Costa (diretora do documentário) e Heitor Glauber (produtor do
documentário e aluno do BC&T da UFABC):
‘A vila de Paranapiacaba tem ‘As pessoas são participativas, não ficam apenas ouvindo o que
importância relativa a cultura e vamos falar, eles perguntam, acrescentam informações. Cada
trabalho não só para a região, mas pessoa tem uma lembrança ao falar da cidade.’
também para o Brasil, por ter essa
característica, reflete um marco de Como está sendo a reação do público? Como reagiu o público nas
um momento histórico no qual nós escolas de Ensino Médio? E nas universidades e instituições?
vivíamos o auge do momento A reação do público está sendo ótima. Nas escolas, até mesmo as
ferroviário por ser o principal crianças já sabem um pouco da história. Fomos a uma escola de 5ª e 6ª
escoador do café.’ série, e eles já sabiam um pouco da história da vila. Quando fomos ao
EMEJA (supletivo) as pessoas de lá se interessaram bastante, como eram
Como surgiu a ideia de fazer um pessoas mais velhas, eles conheciam a história, sobre a ferrovia e sobre a
própria cidade. Eles disseram que na época deles a vila era de outro
documentário sobre a primeira via modo, mas hoje em dia há um descaso com o local. As pessoas são
férrea em solo paulista? participativas, não ficam apenas ouvindo o que vamos falar, eles
A ideia nasceu entre alguns alunos da Fundação Santo André, por meio perguntam, acrescentam informações. Cada pessoa tem uma lembrança
de projetos de pesquisa em comum. Em meio às discussões surgiu o ao falar da cidade.
grupo “História sobre Trilhos”, o meu foco de pesquisa é a urbanização, a
chegada da indústria em São Paulo e consequentemente a ferrovia, que
deu a base pra transformação do rural para o urbano. Por que é importante se utilizar a linguagem audiovisual para fins
didáticos?
Fazer um documentário em linguagem audiovisual é diferente do que
Qual a importância da Vila de Paranapiacaba para a história da apenas só falar, pois ao fazer em audio visual as pessoas terão um
região? interesse maior. Ao verem uma imagem, as pessoas comentam se já
Por ser uma vila de ferroviários. Paranapiacaba foi moldada para os .
estiveram lá, comparam como era antes e
trabalhadores da ferrovia fazerem a manutenção durante 24h, as vezes como está hoje. Nesse documentário,
trabalhavam 10, 12, 16 horas, o que dificultava eles morarem longe do quando fomos ao EMEJA, havia pessoas
seu local de trabalho. A vila de Paranapiacaba tem importância relativa a que não tinham ido para Paranapiacaba
cultura e trabalho não só para a região, mas também para o Brasil, por ter m a s a o v e r o d o c u m e n t á r i o s e
essa característica, reflete um marco de um momento histórico no qual interessavam e já estavam combinando
nós vivíamos o auge do momento ferroviário por ser o principal escoador de ir visitar. É mais interessante também
do café. Então São Paulo, diferente de outras regiões, se consolidou do que ler, pois muitas pessoas não
essa economia cafeeira junto com a elite ou as fazendas que existiam gostam e preferem assistir a um vídeo.
aqui. Uma coisa está vinculada a outra: a ferrovia, o café, o trabalho...
A importância da vila é da história, da geografia, da arquitetura, de
sistemas da informação, da engenharia, da ciência, do saber fazer as
máquinas.
O próximo encontro será uma aula pública a ser realizada no dia 1º de agosto às 15h no campus Alfa da UFABC com o tema ‘Politicas
Públicas de Desenvolvimento Sustentável’. Contará com a presença do Profº Dr. Olympio Barbanti (Dr. em Políticas Sociais na
London School of Economics) e da mediação do Prof. Dr. Ramon Garcia Fernandez (docente da UFABC) e de apresentação
artística André Luiz (violinista erudito, camerata Villa Lobos de Santos, discente da UFABC e integrante do projeto Batuclagem
/ P R O E X / U F A B C ) t o c a n d o v i o l ã o e r u d i t o .
Endereço: Rua Arcturus, s/n, Jardim Antares, São Bernardo do Campo
Faça o dowload e confira o aúdio do debate na íntegra no site:
Informes: http://www.4shared.com/mp3/0QIN1zDg/Gravacao-_Cafe_com_PP-_04_de_j.html
- | Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades discute o tema
“Perspectivas e desafios da interdisciplinaridade” em Niterói - RJ entre os dias 3 e 5 de setembro Dúvidas, sugestões, reclamações? cafecompp@gmail.com
de 2012. Mais informações em http://coninter.blogspot.com.br/
- Ocorreu no dia 21 de junho em São Bernardo do Campo uma passeata em prol de Curta nossa página no faceboook: http://www.facebook.com/CafeComPp
melhorias na educação, organizada pela UFABC em conjunto com a UNIFESP, com a
participação de alunos, TA’s e professores. Na Sexta feira, dia 22 de junho, houve a Greve
Junina na UFABC de Santo André, comandada pelo Comando de Greve UFABC. Mais Saiba mais em: http://bpp.ufabc.edu.br/
informações em http://comandodegrevediscenteufabc.wordpress.com/ http://cafecompp.blogspot.com.br/
Expediente
Editora responsável pela edição: Ana Carolina Esteves Barbosa e Mariane Z
Zavatieri
Coordenadora do informativo: Ana Maria Dietrich
Coordenação do projeto: Ramon Garcia Fernandez (docente UFABC)
Equipe do projeto: Artur Zimerman e Ana Maria Dietrich (docentes UFABC); Flavia
Lima e Lucas Furtado (técnicos administrativos).
Equipe de estagiários: Ana Carolina E. Barbosa (discente BCH); Mariane Zavatieri
(discente BCH); Ulisses de Souza Martins (discente BCT).