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                                             Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                           Dr. Samuel Ulisses




Ementa: Estuda o modelo bíblico-reformado de missões. Inclui investigações sobre as
pressuposições, natureza, princípios e métodos de comunicação do evangelho em outras
culturas.

Objetivos:
   1. Destacar as bases do conceito Bíblico de Missão Integral como a linha mestra da
      Missiologia.
   2. Apresentar a missão como um tema central e abrangente na Bíblia.
   3. Despertar no aluno a capacidade de desenvolver uma compreensão e ação
      missiológica bíblico-reformada.

                                    1. Prolegômenos

       Em primeiro lugar, devemos ter em mente do que estamos tratando nesta matéria;
para isso observe as breves definições abaixo:


                                      1.1 Definições:
Animismo: Religião primitiva que atribui uma alma a todos os fenômenos naturais,
presente nos rituais dos povos indígenas .
Contextualização: Conjunto de circunstâncias que se levam em conta os acontecimentos
atuais presentes nas culturas; tais como: fome, opressão, guerras, suborno, etc. , ou outras
situações nas quais o missionário deve responder         positivamente, apresentando uma
proposta encarnacional do evangelho do reino.
Choque Cultural: Conflito, Choque, oposição, luta, entre a cultura do missionário com a
cultura do povo local.
Cosmovisão: Lentes, pelas quais, enxerga-se o mundo ao redor .
Etnia: Termo grego cujo significado é: Nação, Povo. Retrata um grupo de pessoas cuja
unidade repousa na estrutura familiar, econômica e social comum, que falam uma mesma
língua e possuem uma mesma cultura: costumes, crença, valores etc. Em Mateus 28.16,
não se restringe apenas a etnia, mas amplia-se em seu conceito, revelando a dimensão
sociocultural da vida humana.
Etnocentrismo: Tendência de um indivíduo para valorizar sua cultura impondo-a.
Costuma-se dizer que, ao arrumar a mala, o missionário leva consigo sua cultura junto,
tendo a mesma mais valor do que a Bíblia.
Igrejas Autóctones: Igrejas locais que possuem autonomia administrativa, litúrgica ,
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                                                          Dr. Samuel Ulisses



arquitetônica e andam com suas próprias pernas , são auto-governadas e auto-sustentadas e
auto-proclamadora.
Indigenização: Diz respeito às culturas tradicionais de uma etnia.
Janela 10x40: Conhecida também como “Cinturão da resistência”, estende – se do oeste
da África até o leste da Ásia. Assim denominada pela sua localização, partindo de dez
graus acima da linha do Equador. A maioria dos PNA’s residem neste retângulo
imaginário, denominado Janela 10x40, além de mulçumanos, indus, budistas e outras
religiões.
Línguas Ágrafes: Linguas que não possuem grafia .
MCI: O movimento de Crescimento da Igreja, refere-se a uma escola de pensamento
missiológico, cujo pai do movimento é Dr. Donald MacGavran, missionário na índia. Este
movimento tem sua origem na Índia e é fruto do contacto que Macgavren teve com as
pesquisas do bispo metodista chamado Waskom Pickett.
Missão: A palavra missão não se encontrar nas escrituras, seu conceito se deriva da
palavra grega αποστελλω, cujo significado é “enviar” , enfatizando o ato redentivo de
Deus,    em Cristo, para alcançar os desgraçados pelo pecado ,         envolve o conceito
encarnacional de Jesus, como em Jo 1. Revela a intenção divina contida em Gn 1 / Ap. 21 ,
na qual descreve a preocupação universal de Deus em conceder a Jesus “ toda autoridade
... no céu e na terra” (Mt 28.18), para a execução do plano redentivo de Deus. Nesta
ocasião, Jesus envia seus discípulos, que em seu nome , rompem barreiras geográficas,
étnicas, ideológicas, sociais, culturais, religiosas e lingüísticas, levando ao mundo o
evangelho integral. Tendo todo o mundo como campo missionário , cumprindo Gn 12.3 /
Gl 3.29, reconhecendo como o Pai enviou o filho e como o Filho nos enviou (Jo 17.18).
Missionário: Servo do Senhor enviado para alcançar os não salvos, que se envolve em seu
chamado de forma integral,       e cumpre seu chamado como missionário Cultural ou
Transcultural.
Missão Transcultural: Obra missionária desenvolvida além de suas fronteiras culturais.
Missão Integral: Crescimento simultâneo na : Comunhão, Ensino, acréscimo, serviço,
discipulado, treinamento, testemunho. Prevê enxergar o homem como um todo, como um
ser completo, com necessidades físicas e espirituais.
Missão Urbana: Obra missionária desenvolvida em cidades. Devido a explosão urbana
que vem sendo observada atualmente, urge a confecção de métodos e estratégias
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                                             Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
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específicas, visando o alcançar nos grandes centros urbanos, nos parques industriais,
shopping’s , condomínios , favelas etc.
Missão Rural: Obra missionária desenvolvida no interior. Embora a TV venha
urbanizando o interior do país, ainda hoje, necessário se faz entender que o mundo rural
tem sua maneira de ser e entender os valores dos grandes centros urbanos, dentro de sua
cosmovisão que abarca lendas, mitos e sincretismos, exigindo uma metodologia distinta
dos centros urbanos.
Missio Dei: Missão do Trino Deus, que só Ele pode fazer. Na qual Deus usa também
elementos sagrados (sua Igreja) para cumprir seu objetivo.
Pesquisa de Campo: Levantamento feito, para se saber as características: sociais,
culturais, espirituais, políticas, financeiras, geográficas etc., do local, onde há interesse de
desenvolver uma ação missionária.
PNA’s: Povos não Alcançados, ou seja, que não possuem nenhum referencial do
evangelho em seu país.
Ponto de Contato: São ganchos, oportunidades que o missionário encontra em uma
cultura, facilitando-o a aplicar as boas novas de Cristo, podendo ser um costume, uma
frase, uma divindade... . Um exemplo clássico é dado pelo Apóstolo Paulo no areópago
(Atos 17.22-23).
Supra – cultura: Diz respeito aos fenômenos da crença e dos comportamentos culturais
que tem origem fora da cultura humana . Que vem a ser a existência de Deus e seu Reino
versos, o diabo e seu reino. A cultura cristã enfatiza isso em : Rm 8.19-22; 1 Co 10.20; Ef
1.15-23; 1 Jo 5.18-19. Portanto, o evangelho está acima de qualquer cultura; pois é o
instrumento de Juízo e Graça divina.
Sincretismo : Promove a tentativa de unificação de diversos valores, práticas e crenças
religiosas, como ocorre no catolicismo brasileiro, por exemplo que abarca religiões
africanas.
Teologia de Missões: É a metodologia do estudo bíblico a partir do contexto histórico ,
social , cultural e gramatical. Na qual objetiva-se estudar missões pelo prisma das Sagradas
Escrituras. Sendo assim, na teologia bíblica de missões busca-se entender a ação
missionária de Deus, na qual o Trino Deus utiliza-se de elementos sagrados ou não, para
resgatar a sua criação.
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                                                                    Dr. Samuel Ulisses




                       2. A Mensagem Missionária no Velho Testamento
           Deus e as nações precisa ser estudado. Afirma Neill: “As religiões da humanidade
revestiram na sua maioria , sempre o caracter local e até tribal.”1 A idéia era, que a
adoração de uma divindade, só era possível em seu território geográfico, fora dele, o
adorador não gozava de proteção, e consequentemente, deveria render-se ao Deus local.
Consequentemente suas divindades eram definidas como fortes ou fracas, conforme os
resultados obtidos nas guerras. Há vários textos que podemos destacar a esse respeito: I
Samuel 16; Dn 6; 26.19 e Rute 1.16.
           Estas idéias antigas são pagãs, e consequentemente contrárias ao que Deus revela
em todo Velho Testamento , onde Deus é único e vindica exclusividade : Gn 18.25; Ex
20.3; Sl 22.27-28; Is 37.19; Jr 10.6-7. Neill afirma: “Algumas tribos contam que nos
tempos antigos o céu se encontrava tão perto da terra que o homem podia tocar-lhe ; existia
então um verdadeiro contato entre Deus e o homem, mas este pecou, e Deus, tendo-se
ofendido , afastou-se para a distância imensa, nunca mais se sabendo nada dele”2 .
      De fato podemos perceber, a luz de estudos de Antropologistas que em todos os povos
é possível extrair , até mesmo do povo mais primitivo , ainda que deturpado, a concepção
da existência de um Deus Supremo.

                             2.1 A Missão Universal de Deus (Gn 1-3)
      Para iniciarmos esta abordagem é necessário uma visão panorâmica de Gn 1-11:
               Gn 1 - Deus é o autor único de toda a criação.
               Gn 2 - O centro da Criação é o Homem.
               Gn 3 - O Homem usa mal sua centralidade, não entende sua responsabilidade e
               peca contra Deus.
               Gn 4-6 - O pecado afeta toda a criação, alienando-a de Deus .
               Gn 7-8 - Deus, através do Dilúvio, executa seu julgamento.
               Gn 8-9 - Após e através do Juízo , Deus manifesta sua Graça, e preserva a
               vida Humana.
               Gn 10 - Uma nova geração de Homens originando o mundo das nações.
               Gn 11 – Esta nova geração se afasta de Deus, então um novo Julgamento é

1
    NEILL, Stephen , História das Missões. Edições Vida Nova, São Paulo,1989. p.13
2
    Ibid.14
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                                                  Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                                  Dr. Samuel Ulisses



                executado por Deus através de Babel.
          Podemos olhar para        este panorama, e perceber que a temática básica destes
capítulos , à luz da Missio Dei, revela a intenção e ação de Deus , no sentido de
relacionar-se graciosamente e redentoramente não só no universo, como também, com
toda humanidade e suas diversas etnias.


                          2.2 A Criação como Ponto de Partida na Missio Dei
          Ao descrever missões, devemos defini-la, não como tarefa da Igreja, mas como
uma atividade primordial e basicamente de Deus. Nestes termos podemos ver a missão
como um movimento do Rei-Criador em direção ao mundo, movimento este que se
caracteriza pela graça e pela restauração da criação.
          O principio conceitual da Missio Dei, na qual Deus para cumprir soberanamente
sua vontade. Há várias passagens bíblicas que registram Deus usando outras nações e seus
governantes, para o cumprimento de seus propósitos salvíficos, tais como: Esdras 1.1-3;
Isaías 44.28; Jeremias 25.8-9; Jo 1.1-19 .
          Cumpre a igreja reconhecer que sua tarefa missionária está subordinada a missio
Dei. Afirma Carriker: "A missão soberana de Deus chegará a sua conclusão com a
participação da igreja na promoção do reino sobre toda criação e todo povo. É na
segurança da missão de Deus que a igreja assume a sua missão (missiones ecclesiae)."3


          Conforme a figura abaixo, Deus criou reinos, e para governa-los , criou reis.


                                               CRIADOR


          "Reinos"                          Reinados                        "Reis"
            0
          1 Luz/Trevas                                                      40 Luminares
          20 Céu/Águas                                                      50 Peixe /Aves
          30 Mares/Terra                                                    60 Animais
                                                                            Homem: Co-Regência

          Esta figura reflete o mandato cultural, na qual a imagem e semelhança de Deus é


3
    CARRIKER, C. Timóthy. Missão Integral . Uma Teologia Bíblica.São Paulo: SEPAL, 1992. p. 36
6
                                             Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                            Dr. Samuel Ulisses



imputada no homem, para "ter domínio" (râdhâh) e "dominar" (kôbhash) a terra.
       Em Gn 1.27-28, percebemos que esta tarefa não se resume apenas ao homem, mas
no sentido genérico, pertence ao homem e a mulher. Ambos têm a responsabilidade de
administrar três áreas principais:
                       1a Familiar e Social (Gn 1.28)
                       2a Ecológica e Econômica (Gn 1.28-30)
                       3a Governo (Gn 1.28)


                           2.3 A Queda e Suas Conseqüências
       Quando o ser humano deu ouvido a serpente, deixou então de reconhecer a
divindade de Deus e , consequentemente renunciou seu mandato cultural. Este abalo na
ordem criada por Deus , desumanizou a humanidade.
       As conseqüências deste ato, afeta :
                       1a Relacionamento com Deus (Gn 3.10)
                       2a Familiar e Social (Gn 3.12;4.8)
                       3a Ecológica e Econômica (Gn 3. 17-18)
                       4a Governo (Gn 3.19)
       Embora a criação conheça a desordem promovida pelo pecado , isto não afeta a
Soberania de Deus. O Próprio julgamento da serpente e do homem e mulher assevera isto.


                              2.4 Justiça e Graça (Gn 4-11)
       Deus de forma soberana exerce sobre a humanidade, conforme encontramos em Gn
1-11, seus juízos, acompanhados de sua graça e indicações de salvação, vejamos:
.
               1° A queda - manifesta juízo, mas também, estabelece a sua graça e
               misericórdia em Gn 3.15.


               2° O dilúvio - uma vez que a humanidade encontra-se em total alienação de
               Deus, conforme o registrado em Gn 6. 1-7 . Em meio a este terrível e justo
               juízo de Deus, Ele manifesta sua misericórdia em Gn 6.8-22, salvando Noé
               sua família e animais de todas as espécies, escolhidos pelo próprio Deus.
               Esta escolha/eleição, deveu-se, unicamente, a graça de Deus.
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                                            Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                           Dr. Samuel Ulisses




               3° Babel – mais uma vez o homem insiste em seu caminho de pecado, desta
               vez , coletivamente, envolve-se em um projeto arrogante e grandioso,
               buscando auto-suficiência de Deus (Gn 11.4). Frente a tamanha ousadia, o
               julgamento de Deus       provocou uma completa desestruturação social ,
               econômica e política . Observe       em Gn 11.7, o mundo tornou-se uma
               confusão. Além disso, gerou insegurança de um novo começo, entretanto,
               com este julgamento, Deus evitou a concentração do homem e,
               consequentemente a concentração do mal.
       É muito importante, ainda, não esquecer que os três juízos de Deus sobre a
humanidade descritos em Gn 1-11, são acumulativos, ou seja, um não anula o outro, antes
o pressupõe, e cada vez se torna mais severo, no entanto, nunca deixa de manifestar a
misericordiosa graça de Deus e sua intenção redentora.


                           2.5 Todos os Povos na Mira de Deus
       Para um leitor desatento, aparentemente Gn 10, descreve uma daquelas cansativas
genealogias. Entretanto, este capítulo manifesta a intenção original de Deus em relacionar-
se salvificamente com toda humanidade.
       A lista das nações, indica que o propósito redentor de Deus (Rei-Criador) não está
restrito a uma única nação, ou a uma determinada raça/etinia , mas sim , no sentido
universal, a todos os povos . Isto está diretamente ligado a ação redentora de Jesus Cristo
(Jo 3.16; 1 Tm 2.1-7; Rm 1.16-17).


                                Implicações Missiológicas
               1. No ato da Criação, podemos ver que Deus se movimenta de forma ativo e
               soberano em direção ao mundo e ao ser humano. O Deus que se aproxima
               de nós, age e cria , e que tem poder sobre toda criação , conduzindo seus
               propósitos à uma realização completa na história, na qual inclui todos os
               povos.


               2. O mandato Cultural , como reflexo da imago Dei, é parte inerente de todo
               ser humano, em Cristo, ela é progressivamente restaurada, nos conduzindo a
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                                             Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                             Dr. Samuel Ulisses



               uma missão que nos leva a responsabilidade como co-regentes em toda sua
               extensão. Esta restauração deve recuperar o equilíbrio relacional do homem
               e da mulher. E, conseqüentemente, refletirá em nossa ação missionária no
               mundo.


               3. O pecado não deve ser visto apenas como um mal espiritual, mas como
               um status integral (Relacionamento com Deus ; Familiar e Social ;
               Ecológica e Econômica; Governo). A missão, portanto, precisa prover ao
               ser humano uma salvação integral.


               4. Todos os seres humanos da face da terra, em todos os tempos, lugares,
               culturas e raças, ninguém podem ser discriminado, todos são iguais perante
               Deus. A missão deve respeitar suas distinções, e não impor nenhum modelo
               de cristianismo ou evangelho de dominação.


               5. Com Noé, aprendemos que a missão não pode estar desvinculada da
               vida e da fé pessoal e eclesial.


               6. Babel revela a divisão do mundo em vários idiomas e dialetos. Muitos
               destes idiomas não possuem ágrafia e muitos outros estão em processo de
               extinção . É muito importante investir na tradução de bíblias para estes
               povos, para que cada um possa conhecer Jesus Cristo, dentro de seu próprio
               contexto cultural .


                                     2.6 Eleição e Aliança
       A transição entre Gn 11 e Gn 12 é muito significativa, uma vez que manifesta a
resposta de Deus a desordem e pecados humanos , e para a dispersão da humanidade
ocorrida em Babel. Agora, Deus passa de um relacionamento diretamente o pessoal com
as nações, para um relacionamento diretamente pessoal com um só homem (Abraão), sua
família e o povo que se originou dele (Israel).
       Com o chamamento de Israel, Deus não muda sua missão, ao contrário, conforme
afirma Bosch : "a história de Israel é a continuação dos tratamentos de Deus com as
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                                                  Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
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nações."4
        Em Gn 12.1-3, fica muito claro o conceito de eleição e vocação interligados e
dependentes , visto que ambos dependem totalmente de Deus. Afirma Blauw: "o chamado
de Abraão (é assim, implicitamente, de Israel) deve ser visto à luz da revelação de Deus às
nações , pode ser vislumbrado, de modo especial, em Gn 12.3"5. Não podemos desvincular
as eleição da vocação.
        O que de fato temos em Gn 12.1-3, é uma aliança entre Deus e Abraão/Israel. A
escolha de Deus em firmar aliança com Israel, não indica que Deus tenha se esquecido do
restante do mundo. Blauw afirma:
                 Israel não é tanto o objeto da eleição divina quanto sujeito do serviço exigido por Deus à
                 base da eleição. Talvez a coisa pudesse ser posta nestes termos: não há serviço mediante
                 eleição, antes, eleição por causa do serviço. Portanto, a eleição não é primariamente
                 privilégio, mas responsabilidade6.



        Infelizmente , Israel deixou de cumpriu com sua eleição-vocação-aliança, devido a
sua altivez . Julgando ser o único povo amado por Deus , rejeitou então seu privilégio de
servir na missão de Deus, sendo benção a todos os povos .


                                     Implicações Missiológicas
                 1. A missão que recebemos de Deus, exige de nós reconhecer com
                 humildade, que somos um povo no meio do vasto e complexo universo das
                 nações (goyim).
                 A Igreja, dentro de cada povo, e, por sua vez, como povo de um Deus
                 redentor, tem a incumbência de agir transformadoramente dentro de cada
                 povo deste mundo.
                 2. Não podemos conceituar eleição e vocação , sem deixar para traz
                 qualquer sentimento que dê a falsa impressão de que Deus tem maior
                 interesse por nós do que por qualquer outra nação. Este sentimento de
                 triunfalismo e ou favoritismo.
                 Urge resgatarmos os valores que são conseqüência da eleição vocação, tais
                 como: serviço, entrega e sacrifício. Do contrário, nossa missão ficará

4
  Bosch, David J. Witness to The World the Christian Mission in Theologica   Perspective. Atlanta,
         Georgia: John Knox Press, 1980. p. 61-62.
5
  Blauw, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966. p. 21
10
                                                   Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                                    Dr. Samuel Ulisses



                   descaracterizada.
                   3. Nossa missão precisa ser centrada no mundo, uma vez que Deus tem, no
                   mundo, o alvo do seu amor redentivo.
                   Nosso maior desafio, hoje, é sair de nossas fronteiras                 eclesiásticas,
                   priorizando a expansão do Reino de Deus. Portanto, nunca podemos
                   esquecer de que a intenção de Deus , ainda é a redenção do mundo na sua
                   integralidade, ou seja, não somente os seres humanos , mas também toda
                   criação.

                        3. A Mensagem Missionária do Novo Testamento:

                                             3.1 Introdução
      Sabemos que as três civilizações que contribuíram para o nascimento de Cristo e o
advento do Cristianismo foram: Gregos, Romana e Judaica. Vejamos:
      Civilização Grega: Influenciaram com sua arte, arquitetura, literatura, língua (grego
      Koiné), a ciência e a filosofia.
      Civilização Romana: Varreram os piratas dos mares, construíram boas estradas, que
      por sua vez, eram bem guarnecidas, produziram o que foi chamado de Pax Rornana.
      Civilização Judaica: Traziam consigo a missão de serem benção a todas as famílias
      da terra, além de uma religiosidade que combinava duas características essenciais: a
      primeira, o mais elevado conceito acerca de Deus (Resultado AT); a segunda, o mais
      alto ideal de vida moral (Resultado concepção que tinham acerca de Deus).
      O único povo que possuía a esperança da vinda de um Salvador. Outro fator
importante, e que, os judeus deram ao Cristianismo o Velho Testamento. Sendo dispersos,
Os judeus criaram sinagogas por onde passavam. Tornando-se o núcleo da Igreja Cristã.
Green afirma: ...nenhum outro período da história do mundo estava melhor preparado para
receber a jovem Igreja que o primeiro século d.C. , com oportunidades enormes para
espalhar e compreender a fé, em um império literalmente mundial. A conjunção de
elementos gregos, romanos e judaicos nesta praeparatio evangelica é conhecida de
todos...7 Referindo-se ao nascimento de Cristo, Winter afirma:
                           A “visitação” de Cristo foi um acontecimento dramático, repleto de prodígios e
                           ocorrendo surpreendentemente “no tempo devido”. Jesus nasceu como membro de

6
    Idem, p. 23
7
    GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida Nova,1984. p. 11-26.
11
                                                 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                                   Dr. Samuel Ulisses


                         um povo subjugado. No entanto, apesar de seu imperialismo sanguinário , Roma
                         foi verdadeiramente um instrumento nas mãos de Deus, para preparar o mundo
                         para a sua vinda. Roma controlava um dos maiores impérios que o mundo já
                         conheceu , impondo a paz romana sobre toda espécie de povos bárbaros e
                         estranhos. Durante séculos, os imperadores romanos construíram um amplo
                         sistema de comunicação abrangente tanto os 400.000 quilômetros de
                         maravilhosas estradas que se estendiam por todo o império, como a rápida
                         transmissão de mensagens e documentos . Em suas conquistas , Roma teve seu
                         domínio pelo menos uma civilização bem mais adiantada do que a sua própria , a
                         Grécia. E professores e artesãos de finíssima educação, levados como escravos
                         levados para cada uma das maiores cidades do império, ensinaram a língua
                         grega. O grego veio a ser falado desde a Inglaterra té a Palestina.8

          Mais uma vez , fica clara a concepção da Missio Dei, na qual Deus cumpre seus
propósitos missio-redentivos com ou sem a participação ativa de seu povo escolhido.

                    3.2 A Mensagem Missionária do Novo Testamento:
          O NT traz, como tema e conteúdo, a proclamação do reino de Deus como
cumprimento das promessas de Deus do AT. Green afirma: “Aquele que veio pregando as
boas novas passou a ser o conteúdo das boas novas!” 9
          O Reino de Deus se personifica em Jesus, no que afirma Carriker:
                         O escopo de missões sempre foi e sempre será universal, já que procura anunciar e
                         promover o reino de Deus por todo o mundo. Na própria história de Israel, a mão
                         forte e poderosa de Deus se estende ao povo, não somente para seu benefício, mas
                         também como testemunho às nações, a fim de leva-las a conhecerem o Senhor dos
                         Exércitos. No Novo Testamento, essa preocupação universal de Deus intensifica-
                         se a partir do ministério de Jesus .10

          Esta correlação que há entre reino de Deus e revelação messiânica, é descrita por
Blauw: “ ...a relação entre o reino de Deus e a revelação messiânica passa a ser uma
correlação de força que quase se poderia falar de identificação de Jesus Cristo com o
Reino de Deus; Ele não apenas proclama , mas é , na sua pessoa , o Reino que está entre
nós.”11
          Uma investigação, nos evangelhos nos permitirá notar e detectar o plano mestre e
universal de Deus em Cristo Jesus.(Mc 10.44-45; Jo 10.9-10; Lc 10.10. . Isto está claro em
seu ministério, quando ele rompe as barreiras geográficas (Lc 4.14-15); sociais (Lc 7.36;
11.37); culturais e religiosas (Lc 10.29-37;7.9), evidenciando sua soberania escatológica,
visando os propósitos missio-redentores de Deus. Afirma Blauw: “A manifestação dos

8
  WINTER. Ralph D. e Hawthorne , Steven. Missões Transculturais - Uma Perspectiva Histórica. Editora
       Mundo Cristão, São Paulo, 1987. p. 166.
9
  GREEN, Evangelização na Igreja Primitiva, p. 58
10
   CARRIKER, Missões na Bíblia - Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992 . p. 25
12
                                                   Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                                    Dr. Samuel Ulisses



grandes atos de Deus para as nações determina o caracter da história depois da morte e
ressurreição de Cristo.”12
        Nos atos redentivos de Deus, cumpre-se em Jesus a unificação dos povos. No que
afirma Neill:
                         Só Jesus, em virtude da obediência a Deus , mesmo nas situações mais extremas ,
                         cumpriu o destino de Israel. O Povo da eleição de Deus, o velho Israel , já poderia
                         assim participara posteriormente de tal destino. O objectivo de Deus consistia
                         agora em caminhar para um novo Israel, trazido para a fé por Jesus Cristo , cuja
                         característica principal se definiu pela vontade de morrer e de renascer de novo
                         com ele.Chegara o dia dos Gentios. A porta encontrava-se ainda aberta a todos os
                         israelitas que aceitassem e cressem. Mas, tanto para juDeus como para gentios, a
                         única entrada realiza-se a partir de agora através da fé em Jesus Cristo. 13

        Sob este prisma, percebe-se que a morte e ressurreição de Cristo selam o destino e
futuro de seu povo. E também transforma a “Redução Progressiva” do V.T. em “Expansão
Progressíva”14
        Esta mudança de foco, revela Jesus como o centro e não mais Jerusalém. Doravante
todas as etnias da terra se achegarão a Cristo (Fl 2.10-11; Rm 14.11-12). Isso evidencia
não só a intenção divina de uma nova criação em Cristo, mas também, dá sinais claros de
que a Igreja passa a ser o novo Israel.


                         3.4 Missão no Ministério do Espírito Santo:
        Irrefutavelmente, o avanço irresistível da Igreja se deu de forma vibrante após
terem os discípulos no pentecostes , sido capacitados com o Espírito Santo (At 2). .Afirma
Carriker:
                         O Espírito Santo foi derramado apenas quatro vezes em Atos. Cada uma das
                         conquistas na expansão missionária foi acompanhada por sinais milagrosos. A
                         primeira vez foi a vinda do Espírito no Petencostes (2.1-13): a Segunda, quando o
                         evangelho alcançou a Samaria, a primeira cidade não judia (8.14-17) ; a terceira,
                         quando Pedro pregou à primeira família gentia, a de Cornélio, em Cesaréia (10.44-
                         45) e, finalmente, a Quarta, quando Paulo conseguiu demonstrar a diferença entre
                         o evangelho de Jesus e a pregação de João Batista (19.1-6). Todas as vezes o
                         próprio Espírito Santo marcou milagrosamente , a introdução de uma nova fase na
                         tarefa missionária a nós confiada.15

        A promessa contida em Atos 1.8, cumpre-se em Atos 2 , anuncia o mandato que
nos qualifica como testemunhas de Cristo enfatizando a universalidade missionária da

11
   Blauw, A Natureza Missionária da Igreja,p. 72
12
   Ibid., 82-83
13
   NEILL, História das Missões, p. 21
14
   Blauw, A Natureza Missionária, p. 91.
15
   CARRIKER, Missões na Bíblia, p. 39
13
                                                  Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                                   Dr. Samuel Ulisses



Igreja .Neill afirma: “A Igreja da primeira geração cristã era do tipo genuinamente
                16
missionária.”        No que também afirma           Zabatiero: “Antes do Pentecostes não havia
Igreja cristã, não havia experiência cristã. ... Ao inaugurar a Igreja , o Pentecostes inaugura
a era missionária, pois , em Atos, Igreja é missão.17”
        Pentecostes é a     inversão do que ocorreu em Babel, revelando-nos os propósitos
missio-redentivos de Deus. Afirmam Shenk e Stutzman:
                         Todos ouviram a palavra de Deus em sua própria língua. Foi um sinal de Deus de
                         que o evangelho se destina a todas as pessoas de todas as culturas. À medida que
                         as pessoas aceitam o evangelho, elas se congregam numa nova comunidade. A
                         dispersão em Babel foi o contrário do que houve no Pentecostes. A Igreja é a nova
                         comunidade que traz o remédio para as divisões dos povos. Embora as diferenças
                         de língua e cultura não tenham desaparecido com o Pentecostes, os seres
                         humanos descobriram a preciosa unidade e a fraternidade do Espírito Santo, que
                         aproxima e une pessoas de diferentes culturas , tornando-as verdadeiros irmãos e
                         irmãs.18


                                    3.5 O Apostolo Paulo e Missões:
        O Apóstolo Paulo teve um relevante papel no palco das missões. Referindo-se a
ele, Tucker afirma: “O Apóstolo Paulo indiscutivelmente mantém o lugar de maior
missionário da primeira Igreja.”19 Mesmo enfrentando intempéries (2 Co 11.25-28), em
suas viagens missionárias pelo mundo mediterrâneo, o apóstolo Paulo estabeleceu Igrejas
autóctones. Referindo-se a Paulo, Blauw afirma:
                         Para Paulo há dois pontos de vista: (1) os cristãos, não os juDeus são a
                         congregação de Deus , porque a coisa importante não é Israel segundo a carne ,
                         mas Israel segundo o espírito(ponto de vista muito forte em gálatas por exemplo);
                         (2) há apenas um povo de Deus , a saber, Israel, sendo que os cristãos gentios são
                         incorporados neste povo como prosélitos (especialmente os Romanos).20


        E é exatamente o apostolado de Paulo que vai nos proporcionar a noção correta do
que vem a ser a relação complicada entre Israel , a comunidade de Cristo e o mundo das
nações. Embora não seja o único apóstolo aos gentios, tornou-se o mais preeminente. Sua
intenção era pregar o evangelho de Cristo em todas as províncias do Grande Império

16
   NEILL, História das Missões, p. 24
17
   ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Poder e Testemunho – Missões em Atos 1 e 2. Em Missões e A Igreja
        Brasileira, Vol. 3 – Perspectivas Teológicas. Organizado Por Carriker, C. Timóteo. São Paulo:
        Editora Mundo Cristão, 1993. p. 84
18
   SHENK, W. David & STUTZMAN, Ervin R. Criando Comunidades do Reino – Modelos
        Neotestamentários da Implantação de Igrejas. Trad. Rubes Castilho. Campinas: Editora Cristã
        Unida, 1995. p. 9
19
   TUCKER, Ruth A. “... Até aos Confins da Terra” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs. São
        Paulo: Edições Vida Nova, 1986. p.,28-29
20
   Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, 93.
14
                                                 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                                  Dr. Samuel Ulisses



Romano (Rm 15.19-20; 22-24). Partindo de Antioquia em suas                três viagens missionárias.
A escolha de Antioquia como ponto de partida não acontece por acaso, uma vez que
Antioquia era um importante entroncamento viário.21


                                    Vejamos a trajetória de Paulo:
1a Viagem Missionária: Chipre, Panfília, Licaônia(At 13-14). Surge a controvérsia da
circuncisão dos pagãos convertidos(Concílio de Jerusalém é convocado – At 15.1-29; Gl
2.1-10);
2a Viagem Missionária : Licaônia território Gálata , Trôade, Macedônia (Filipos ,
Tessalônica ), Atenas, Corinto, retorno a Antioquia, via Éfeso (At 15.41; 18.22);
3a Viagem Missionária : Galácia , Éfeso (mais de 2 anos), Macedônia, inverno em
corinto, Retorno a Jerusalém, via Macedônia e Mileto. Cativeiro em Jerusalém (At 18,23.
23.31).




21
     COTHENET, E. São Paulo e o seu Tempo –Trad. Benôni Lemos. São aulo:Edições Paulinas, 1984. p. 39
15
                                          Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I
                                                        Dr. Samuel Ulisses




                                  BIBLIOGRAFIA:


BLAUW, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966.

BOSCH, David J. Witness to The World the Christian Mission in Theologica
     Perspective. Atlanta, GEORGIA, John Knox Press, 1980.

CARRIKER, C. Timóthy. Missão Integral . Uma Teologia Bíblica.São Paulo: SEPAL,
      1992.
_________________, Missões na Bíblia - Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992.

COTHENET, E. São Paulo e o seu Tempo –Trad. Benôni Lemos. São aulo:Edições
    Paulinas, 1984.

GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida Nova,1984.

NEILL, Stephen , História das Missões. Edições Vida Nova, São Paulo,1989.

SHENK, W. David & STUTZMAN, Ervin R. Criando Comunidades do Reino – Modelos
     Neotestamentários da Implantação de Igrejas. Trad. Rubes Castilho. Campinas:
     Editora Cristã Unida, 1995.

TUCKER, Ruth A. “... Até aos Confins da Terra” – Uma História Biográfica das Missões
    Cristãs. São Paulo: Edições Vida Nova, 1986.

ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Poder e Testemunho – Missões em Atos 1 e 2. Em
    Missões e A Igreja Brasileira, Vol. 3 – Perspectivas Teológicas. Organizado Por

CARRIKER, C. Timóteo. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1993.

WINTER. Ralph D. e Hawthorne , Steven. Missões Transculturais - Uma Perspectiva
     Histórica. Editora Mundo Cristão, São Paulo, 1987.


                    OUTRAS OBRAS A SEREM CONSULTADAS:

BOSCH, David J. Missão Transformadora : Mudanças de Paradigma na Teologia da
      Missão. Tradução de Geraldo Kornörfer; Luis Marcos Sander – São Leopoldo, RS:
      Sinodal, 2002.
PADILHA , C. René. Missão Integral – Ensaios sobre o Reino e a Igreja . Trad. Emil
      Albert Sobottka. São Paulo: FTLB - Temática Publicações , 1992.
PIPER, J. Alegrem-se os Povos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
STEUERNAGEL, Valdir Raul, org. A Missão da Igreja: uma visão panorâmica sobre
      os desafios e propostas de missão para a Igreja na antevéspera do terceiro milênio.
      Belo Horizonte: Missão Editora, 1994.

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Introdução à Teologia Bíblica de Missões

  • 1. 1 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses Ementa: Estuda o modelo bíblico-reformado de missões. Inclui investigações sobre as pressuposições, natureza, princípios e métodos de comunicação do evangelho em outras culturas. Objetivos: 1. Destacar as bases do conceito Bíblico de Missão Integral como a linha mestra da Missiologia. 2. Apresentar a missão como um tema central e abrangente na Bíblia. 3. Despertar no aluno a capacidade de desenvolver uma compreensão e ação missiológica bíblico-reformada. 1. Prolegômenos Em primeiro lugar, devemos ter em mente do que estamos tratando nesta matéria; para isso observe as breves definições abaixo: 1.1 Definições: Animismo: Religião primitiva que atribui uma alma a todos os fenômenos naturais, presente nos rituais dos povos indígenas . Contextualização: Conjunto de circunstâncias que se levam em conta os acontecimentos atuais presentes nas culturas; tais como: fome, opressão, guerras, suborno, etc. , ou outras situações nas quais o missionário deve responder positivamente, apresentando uma proposta encarnacional do evangelho do reino. Choque Cultural: Conflito, Choque, oposição, luta, entre a cultura do missionário com a cultura do povo local. Cosmovisão: Lentes, pelas quais, enxerga-se o mundo ao redor . Etnia: Termo grego cujo significado é: Nação, Povo. Retrata um grupo de pessoas cuja unidade repousa na estrutura familiar, econômica e social comum, que falam uma mesma língua e possuem uma mesma cultura: costumes, crença, valores etc. Em Mateus 28.16, não se restringe apenas a etnia, mas amplia-se em seu conceito, revelando a dimensão sociocultural da vida humana. Etnocentrismo: Tendência de um indivíduo para valorizar sua cultura impondo-a. Costuma-se dizer que, ao arrumar a mala, o missionário leva consigo sua cultura junto, tendo a mesma mais valor do que a Bíblia. Igrejas Autóctones: Igrejas locais que possuem autonomia administrativa, litúrgica ,
  • 2. 2 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses arquitetônica e andam com suas próprias pernas , são auto-governadas e auto-sustentadas e auto-proclamadora. Indigenização: Diz respeito às culturas tradicionais de uma etnia. Janela 10x40: Conhecida também como “Cinturão da resistência”, estende – se do oeste da África até o leste da Ásia. Assim denominada pela sua localização, partindo de dez graus acima da linha do Equador. A maioria dos PNA’s residem neste retângulo imaginário, denominado Janela 10x40, além de mulçumanos, indus, budistas e outras religiões. Línguas Ágrafes: Linguas que não possuem grafia . MCI: O movimento de Crescimento da Igreja, refere-se a uma escola de pensamento missiológico, cujo pai do movimento é Dr. Donald MacGavran, missionário na índia. Este movimento tem sua origem na Índia e é fruto do contacto que Macgavren teve com as pesquisas do bispo metodista chamado Waskom Pickett. Missão: A palavra missão não se encontrar nas escrituras, seu conceito se deriva da palavra grega αποστελλω, cujo significado é “enviar” , enfatizando o ato redentivo de Deus, em Cristo, para alcançar os desgraçados pelo pecado , envolve o conceito encarnacional de Jesus, como em Jo 1. Revela a intenção divina contida em Gn 1 / Ap. 21 , na qual descreve a preocupação universal de Deus em conceder a Jesus “ toda autoridade ... no céu e na terra” (Mt 28.18), para a execução do plano redentivo de Deus. Nesta ocasião, Jesus envia seus discípulos, que em seu nome , rompem barreiras geográficas, étnicas, ideológicas, sociais, culturais, religiosas e lingüísticas, levando ao mundo o evangelho integral. Tendo todo o mundo como campo missionário , cumprindo Gn 12.3 / Gl 3.29, reconhecendo como o Pai enviou o filho e como o Filho nos enviou (Jo 17.18). Missionário: Servo do Senhor enviado para alcançar os não salvos, que se envolve em seu chamado de forma integral, e cumpre seu chamado como missionário Cultural ou Transcultural. Missão Transcultural: Obra missionária desenvolvida além de suas fronteiras culturais. Missão Integral: Crescimento simultâneo na : Comunhão, Ensino, acréscimo, serviço, discipulado, treinamento, testemunho. Prevê enxergar o homem como um todo, como um ser completo, com necessidades físicas e espirituais. Missão Urbana: Obra missionária desenvolvida em cidades. Devido a explosão urbana que vem sendo observada atualmente, urge a confecção de métodos e estratégias
  • 3. 3 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses específicas, visando o alcançar nos grandes centros urbanos, nos parques industriais, shopping’s , condomínios , favelas etc. Missão Rural: Obra missionária desenvolvida no interior. Embora a TV venha urbanizando o interior do país, ainda hoje, necessário se faz entender que o mundo rural tem sua maneira de ser e entender os valores dos grandes centros urbanos, dentro de sua cosmovisão que abarca lendas, mitos e sincretismos, exigindo uma metodologia distinta dos centros urbanos. Missio Dei: Missão do Trino Deus, que só Ele pode fazer. Na qual Deus usa também elementos sagrados (sua Igreja) para cumprir seu objetivo. Pesquisa de Campo: Levantamento feito, para se saber as características: sociais, culturais, espirituais, políticas, financeiras, geográficas etc., do local, onde há interesse de desenvolver uma ação missionária. PNA’s: Povos não Alcançados, ou seja, que não possuem nenhum referencial do evangelho em seu país. Ponto de Contato: São ganchos, oportunidades que o missionário encontra em uma cultura, facilitando-o a aplicar as boas novas de Cristo, podendo ser um costume, uma frase, uma divindade... . Um exemplo clássico é dado pelo Apóstolo Paulo no areópago (Atos 17.22-23). Supra – cultura: Diz respeito aos fenômenos da crença e dos comportamentos culturais que tem origem fora da cultura humana . Que vem a ser a existência de Deus e seu Reino versos, o diabo e seu reino. A cultura cristã enfatiza isso em : Rm 8.19-22; 1 Co 10.20; Ef 1.15-23; 1 Jo 5.18-19. Portanto, o evangelho está acima de qualquer cultura; pois é o instrumento de Juízo e Graça divina. Sincretismo : Promove a tentativa de unificação de diversos valores, práticas e crenças religiosas, como ocorre no catolicismo brasileiro, por exemplo que abarca religiões africanas. Teologia de Missões: É a metodologia do estudo bíblico a partir do contexto histórico , social , cultural e gramatical. Na qual objetiva-se estudar missões pelo prisma das Sagradas Escrituras. Sendo assim, na teologia bíblica de missões busca-se entender a ação missionária de Deus, na qual o Trino Deus utiliza-se de elementos sagrados ou não, para resgatar a sua criação.
  • 4. 4 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses 2. A Mensagem Missionária no Velho Testamento Deus e as nações precisa ser estudado. Afirma Neill: “As religiões da humanidade revestiram na sua maioria , sempre o caracter local e até tribal.”1 A idéia era, que a adoração de uma divindade, só era possível em seu território geográfico, fora dele, o adorador não gozava de proteção, e consequentemente, deveria render-se ao Deus local. Consequentemente suas divindades eram definidas como fortes ou fracas, conforme os resultados obtidos nas guerras. Há vários textos que podemos destacar a esse respeito: I Samuel 16; Dn 6; 26.19 e Rute 1.16. Estas idéias antigas são pagãs, e consequentemente contrárias ao que Deus revela em todo Velho Testamento , onde Deus é único e vindica exclusividade : Gn 18.25; Ex 20.3; Sl 22.27-28; Is 37.19; Jr 10.6-7. Neill afirma: “Algumas tribos contam que nos tempos antigos o céu se encontrava tão perto da terra que o homem podia tocar-lhe ; existia então um verdadeiro contato entre Deus e o homem, mas este pecou, e Deus, tendo-se ofendido , afastou-se para a distância imensa, nunca mais se sabendo nada dele”2 . De fato podemos perceber, a luz de estudos de Antropologistas que em todos os povos é possível extrair , até mesmo do povo mais primitivo , ainda que deturpado, a concepção da existência de um Deus Supremo. 2.1 A Missão Universal de Deus (Gn 1-3) Para iniciarmos esta abordagem é necessário uma visão panorâmica de Gn 1-11: Gn 1 - Deus é o autor único de toda a criação. Gn 2 - O centro da Criação é o Homem. Gn 3 - O Homem usa mal sua centralidade, não entende sua responsabilidade e peca contra Deus. Gn 4-6 - O pecado afeta toda a criação, alienando-a de Deus . Gn 7-8 - Deus, através do Dilúvio, executa seu julgamento. Gn 8-9 - Após e através do Juízo , Deus manifesta sua Graça, e preserva a vida Humana. Gn 10 - Uma nova geração de Homens originando o mundo das nações. Gn 11 – Esta nova geração se afasta de Deus, então um novo Julgamento é 1 NEILL, Stephen , História das Missões. Edições Vida Nova, São Paulo,1989. p.13 2 Ibid.14
  • 5. 5 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses executado por Deus através de Babel. Podemos olhar para este panorama, e perceber que a temática básica destes capítulos , à luz da Missio Dei, revela a intenção e ação de Deus , no sentido de relacionar-se graciosamente e redentoramente não só no universo, como também, com toda humanidade e suas diversas etnias. 2.2 A Criação como Ponto de Partida na Missio Dei Ao descrever missões, devemos defini-la, não como tarefa da Igreja, mas como uma atividade primordial e basicamente de Deus. Nestes termos podemos ver a missão como um movimento do Rei-Criador em direção ao mundo, movimento este que se caracteriza pela graça e pela restauração da criação. O principio conceitual da Missio Dei, na qual Deus para cumprir soberanamente sua vontade. Há várias passagens bíblicas que registram Deus usando outras nações e seus governantes, para o cumprimento de seus propósitos salvíficos, tais como: Esdras 1.1-3; Isaías 44.28; Jeremias 25.8-9; Jo 1.1-19 . Cumpre a igreja reconhecer que sua tarefa missionária está subordinada a missio Dei. Afirma Carriker: "A missão soberana de Deus chegará a sua conclusão com a participação da igreja na promoção do reino sobre toda criação e todo povo. É na segurança da missão de Deus que a igreja assume a sua missão (missiones ecclesiae)."3 Conforme a figura abaixo, Deus criou reinos, e para governa-los , criou reis. CRIADOR "Reinos" Reinados "Reis" 0 1 Luz/Trevas 40 Luminares 20 Céu/Águas 50 Peixe /Aves 30 Mares/Terra 60 Animais Homem: Co-Regência Esta figura reflete o mandato cultural, na qual a imagem e semelhança de Deus é 3 CARRIKER, C. Timóthy. Missão Integral . Uma Teologia Bíblica.São Paulo: SEPAL, 1992. p. 36
  • 6. 6 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses imputada no homem, para "ter domínio" (râdhâh) e "dominar" (kôbhash) a terra. Em Gn 1.27-28, percebemos que esta tarefa não se resume apenas ao homem, mas no sentido genérico, pertence ao homem e a mulher. Ambos têm a responsabilidade de administrar três áreas principais: 1a Familiar e Social (Gn 1.28) 2a Ecológica e Econômica (Gn 1.28-30) 3a Governo (Gn 1.28) 2.3 A Queda e Suas Conseqüências Quando o ser humano deu ouvido a serpente, deixou então de reconhecer a divindade de Deus e , consequentemente renunciou seu mandato cultural. Este abalo na ordem criada por Deus , desumanizou a humanidade. As conseqüências deste ato, afeta : 1a Relacionamento com Deus (Gn 3.10) 2a Familiar e Social (Gn 3.12;4.8) 3a Ecológica e Econômica (Gn 3. 17-18) 4a Governo (Gn 3.19) Embora a criação conheça a desordem promovida pelo pecado , isto não afeta a Soberania de Deus. O Próprio julgamento da serpente e do homem e mulher assevera isto. 2.4 Justiça e Graça (Gn 4-11) Deus de forma soberana exerce sobre a humanidade, conforme encontramos em Gn 1-11, seus juízos, acompanhados de sua graça e indicações de salvação, vejamos: . 1° A queda - manifesta juízo, mas também, estabelece a sua graça e misericórdia em Gn 3.15. 2° O dilúvio - uma vez que a humanidade encontra-se em total alienação de Deus, conforme o registrado em Gn 6. 1-7 . Em meio a este terrível e justo juízo de Deus, Ele manifesta sua misericórdia em Gn 6.8-22, salvando Noé sua família e animais de todas as espécies, escolhidos pelo próprio Deus. Esta escolha/eleição, deveu-se, unicamente, a graça de Deus.
  • 7. 7 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses 3° Babel – mais uma vez o homem insiste em seu caminho de pecado, desta vez , coletivamente, envolve-se em um projeto arrogante e grandioso, buscando auto-suficiência de Deus (Gn 11.4). Frente a tamanha ousadia, o julgamento de Deus provocou uma completa desestruturação social , econômica e política . Observe em Gn 11.7, o mundo tornou-se uma confusão. Além disso, gerou insegurança de um novo começo, entretanto, com este julgamento, Deus evitou a concentração do homem e, consequentemente a concentração do mal. É muito importante, ainda, não esquecer que os três juízos de Deus sobre a humanidade descritos em Gn 1-11, são acumulativos, ou seja, um não anula o outro, antes o pressupõe, e cada vez se torna mais severo, no entanto, nunca deixa de manifestar a misericordiosa graça de Deus e sua intenção redentora. 2.5 Todos os Povos na Mira de Deus Para um leitor desatento, aparentemente Gn 10, descreve uma daquelas cansativas genealogias. Entretanto, este capítulo manifesta a intenção original de Deus em relacionar- se salvificamente com toda humanidade. A lista das nações, indica que o propósito redentor de Deus (Rei-Criador) não está restrito a uma única nação, ou a uma determinada raça/etinia , mas sim , no sentido universal, a todos os povos . Isto está diretamente ligado a ação redentora de Jesus Cristo (Jo 3.16; 1 Tm 2.1-7; Rm 1.16-17). Implicações Missiológicas 1. No ato da Criação, podemos ver que Deus se movimenta de forma ativo e soberano em direção ao mundo e ao ser humano. O Deus que se aproxima de nós, age e cria , e que tem poder sobre toda criação , conduzindo seus propósitos à uma realização completa na história, na qual inclui todos os povos. 2. O mandato Cultural , como reflexo da imago Dei, é parte inerente de todo ser humano, em Cristo, ela é progressivamente restaurada, nos conduzindo a
  • 8. 8 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses uma missão que nos leva a responsabilidade como co-regentes em toda sua extensão. Esta restauração deve recuperar o equilíbrio relacional do homem e da mulher. E, conseqüentemente, refletirá em nossa ação missionária no mundo. 3. O pecado não deve ser visto apenas como um mal espiritual, mas como um status integral (Relacionamento com Deus ; Familiar e Social ; Ecológica e Econômica; Governo). A missão, portanto, precisa prover ao ser humano uma salvação integral. 4. Todos os seres humanos da face da terra, em todos os tempos, lugares, culturas e raças, ninguém podem ser discriminado, todos são iguais perante Deus. A missão deve respeitar suas distinções, e não impor nenhum modelo de cristianismo ou evangelho de dominação. 5. Com Noé, aprendemos que a missão não pode estar desvinculada da vida e da fé pessoal e eclesial. 6. Babel revela a divisão do mundo em vários idiomas e dialetos. Muitos destes idiomas não possuem ágrafia e muitos outros estão em processo de extinção . É muito importante investir na tradução de bíblias para estes povos, para que cada um possa conhecer Jesus Cristo, dentro de seu próprio contexto cultural . 2.6 Eleição e Aliança A transição entre Gn 11 e Gn 12 é muito significativa, uma vez que manifesta a resposta de Deus a desordem e pecados humanos , e para a dispersão da humanidade ocorrida em Babel. Agora, Deus passa de um relacionamento diretamente o pessoal com as nações, para um relacionamento diretamente pessoal com um só homem (Abraão), sua família e o povo que se originou dele (Israel). Com o chamamento de Israel, Deus não muda sua missão, ao contrário, conforme afirma Bosch : "a história de Israel é a continuação dos tratamentos de Deus com as
  • 9. 9 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses nações."4 Em Gn 12.1-3, fica muito claro o conceito de eleição e vocação interligados e dependentes , visto que ambos dependem totalmente de Deus. Afirma Blauw: "o chamado de Abraão (é assim, implicitamente, de Israel) deve ser visto à luz da revelação de Deus às nações , pode ser vislumbrado, de modo especial, em Gn 12.3"5. Não podemos desvincular as eleição da vocação. O que de fato temos em Gn 12.1-3, é uma aliança entre Deus e Abraão/Israel. A escolha de Deus em firmar aliança com Israel, não indica que Deus tenha se esquecido do restante do mundo. Blauw afirma: Israel não é tanto o objeto da eleição divina quanto sujeito do serviço exigido por Deus à base da eleição. Talvez a coisa pudesse ser posta nestes termos: não há serviço mediante eleição, antes, eleição por causa do serviço. Portanto, a eleição não é primariamente privilégio, mas responsabilidade6. Infelizmente , Israel deixou de cumpriu com sua eleição-vocação-aliança, devido a sua altivez . Julgando ser o único povo amado por Deus , rejeitou então seu privilégio de servir na missão de Deus, sendo benção a todos os povos . Implicações Missiológicas 1. A missão que recebemos de Deus, exige de nós reconhecer com humildade, que somos um povo no meio do vasto e complexo universo das nações (goyim). A Igreja, dentro de cada povo, e, por sua vez, como povo de um Deus redentor, tem a incumbência de agir transformadoramente dentro de cada povo deste mundo. 2. Não podemos conceituar eleição e vocação , sem deixar para traz qualquer sentimento que dê a falsa impressão de que Deus tem maior interesse por nós do que por qualquer outra nação. Este sentimento de triunfalismo e ou favoritismo. Urge resgatarmos os valores que são conseqüência da eleição vocação, tais como: serviço, entrega e sacrifício. Do contrário, nossa missão ficará 4 Bosch, David J. Witness to The World the Christian Mission in Theologica Perspective. Atlanta, Georgia: John Knox Press, 1980. p. 61-62. 5 Blauw, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966. p. 21
  • 10. 10 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses descaracterizada. 3. Nossa missão precisa ser centrada no mundo, uma vez que Deus tem, no mundo, o alvo do seu amor redentivo. Nosso maior desafio, hoje, é sair de nossas fronteiras eclesiásticas, priorizando a expansão do Reino de Deus. Portanto, nunca podemos esquecer de que a intenção de Deus , ainda é a redenção do mundo na sua integralidade, ou seja, não somente os seres humanos , mas também toda criação. 3. A Mensagem Missionária do Novo Testamento: 3.1 Introdução Sabemos que as três civilizações que contribuíram para o nascimento de Cristo e o advento do Cristianismo foram: Gregos, Romana e Judaica. Vejamos: Civilização Grega: Influenciaram com sua arte, arquitetura, literatura, língua (grego Koiné), a ciência e a filosofia. Civilização Romana: Varreram os piratas dos mares, construíram boas estradas, que por sua vez, eram bem guarnecidas, produziram o que foi chamado de Pax Rornana. Civilização Judaica: Traziam consigo a missão de serem benção a todas as famílias da terra, além de uma religiosidade que combinava duas características essenciais: a primeira, o mais elevado conceito acerca de Deus (Resultado AT); a segunda, o mais alto ideal de vida moral (Resultado concepção que tinham acerca de Deus). O único povo que possuía a esperança da vinda de um Salvador. Outro fator importante, e que, os judeus deram ao Cristianismo o Velho Testamento. Sendo dispersos, Os judeus criaram sinagogas por onde passavam. Tornando-se o núcleo da Igreja Cristã. Green afirma: ...nenhum outro período da história do mundo estava melhor preparado para receber a jovem Igreja que o primeiro século d.C. , com oportunidades enormes para espalhar e compreender a fé, em um império literalmente mundial. A conjunção de elementos gregos, romanos e judaicos nesta praeparatio evangelica é conhecida de todos...7 Referindo-se ao nascimento de Cristo, Winter afirma: A “visitação” de Cristo foi um acontecimento dramático, repleto de prodígios e ocorrendo surpreendentemente “no tempo devido”. Jesus nasceu como membro de 6 Idem, p. 23 7 GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida Nova,1984. p. 11-26.
  • 11. 11 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses um povo subjugado. No entanto, apesar de seu imperialismo sanguinário , Roma foi verdadeiramente um instrumento nas mãos de Deus, para preparar o mundo para a sua vinda. Roma controlava um dos maiores impérios que o mundo já conheceu , impondo a paz romana sobre toda espécie de povos bárbaros e estranhos. Durante séculos, os imperadores romanos construíram um amplo sistema de comunicação abrangente tanto os 400.000 quilômetros de maravilhosas estradas que se estendiam por todo o império, como a rápida transmissão de mensagens e documentos . Em suas conquistas , Roma teve seu domínio pelo menos uma civilização bem mais adiantada do que a sua própria , a Grécia. E professores e artesãos de finíssima educação, levados como escravos levados para cada uma das maiores cidades do império, ensinaram a língua grega. O grego veio a ser falado desde a Inglaterra té a Palestina.8 Mais uma vez , fica clara a concepção da Missio Dei, na qual Deus cumpre seus propósitos missio-redentivos com ou sem a participação ativa de seu povo escolhido. 3.2 A Mensagem Missionária do Novo Testamento: O NT traz, como tema e conteúdo, a proclamação do reino de Deus como cumprimento das promessas de Deus do AT. Green afirma: “Aquele que veio pregando as boas novas passou a ser o conteúdo das boas novas!” 9 O Reino de Deus se personifica em Jesus, no que afirma Carriker: O escopo de missões sempre foi e sempre será universal, já que procura anunciar e promover o reino de Deus por todo o mundo. Na própria história de Israel, a mão forte e poderosa de Deus se estende ao povo, não somente para seu benefício, mas também como testemunho às nações, a fim de leva-las a conhecerem o Senhor dos Exércitos. No Novo Testamento, essa preocupação universal de Deus intensifica- se a partir do ministério de Jesus .10 Esta correlação que há entre reino de Deus e revelação messiânica, é descrita por Blauw: “ ...a relação entre o reino de Deus e a revelação messiânica passa a ser uma correlação de força que quase se poderia falar de identificação de Jesus Cristo com o Reino de Deus; Ele não apenas proclama , mas é , na sua pessoa , o Reino que está entre nós.”11 Uma investigação, nos evangelhos nos permitirá notar e detectar o plano mestre e universal de Deus em Cristo Jesus.(Mc 10.44-45; Jo 10.9-10; Lc 10.10. . Isto está claro em seu ministério, quando ele rompe as barreiras geográficas (Lc 4.14-15); sociais (Lc 7.36; 11.37); culturais e religiosas (Lc 10.29-37;7.9), evidenciando sua soberania escatológica, visando os propósitos missio-redentores de Deus. Afirma Blauw: “A manifestação dos 8 WINTER. Ralph D. e Hawthorne , Steven. Missões Transculturais - Uma Perspectiva Histórica. Editora Mundo Cristão, São Paulo, 1987. p. 166. 9 GREEN, Evangelização na Igreja Primitiva, p. 58 10 CARRIKER, Missões na Bíblia - Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992 . p. 25
  • 12. 12 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses grandes atos de Deus para as nações determina o caracter da história depois da morte e ressurreição de Cristo.”12 Nos atos redentivos de Deus, cumpre-se em Jesus a unificação dos povos. No que afirma Neill: Só Jesus, em virtude da obediência a Deus , mesmo nas situações mais extremas , cumpriu o destino de Israel. O Povo da eleição de Deus, o velho Israel , já poderia assim participara posteriormente de tal destino. O objectivo de Deus consistia agora em caminhar para um novo Israel, trazido para a fé por Jesus Cristo , cuja característica principal se definiu pela vontade de morrer e de renascer de novo com ele.Chegara o dia dos Gentios. A porta encontrava-se ainda aberta a todos os israelitas que aceitassem e cressem. Mas, tanto para juDeus como para gentios, a única entrada realiza-se a partir de agora através da fé em Jesus Cristo. 13 Sob este prisma, percebe-se que a morte e ressurreição de Cristo selam o destino e futuro de seu povo. E também transforma a “Redução Progressiva” do V.T. em “Expansão Progressíva”14 Esta mudança de foco, revela Jesus como o centro e não mais Jerusalém. Doravante todas as etnias da terra se achegarão a Cristo (Fl 2.10-11; Rm 14.11-12). Isso evidencia não só a intenção divina de uma nova criação em Cristo, mas também, dá sinais claros de que a Igreja passa a ser o novo Israel. 3.4 Missão no Ministério do Espírito Santo: Irrefutavelmente, o avanço irresistível da Igreja se deu de forma vibrante após terem os discípulos no pentecostes , sido capacitados com o Espírito Santo (At 2). .Afirma Carriker: O Espírito Santo foi derramado apenas quatro vezes em Atos. Cada uma das conquistas na expansão missionária foi acompanhada por sinais milagrosos. A primeira vez foi a vinda do Espírito no Petencostes (2.1-13): a Segunda, quando o evangelho alcançou a Samaria, a primeira cidade não judia (8.14-17) ; a terceira, quando Pedro pregou à primeira família gentia, a de Cornélio, em Cesaréia (10.44- 45) e, finalmente, a Quarta, quando Paulo conseguiu demonstrar a diferença entre o evangelho de Jesus e a pregação de João Batista (19.1-6). Todas as vezes o próprio Espírito Santo marcou milagrosamente , a introdução de uma nova fase na tarefa missionária a nós confiada.15 A promessa contida em Atos 1.8, cumpre-se em Atos 2 , anuncia o mandato que nos qualifica como testemunhas de Cristo enfatizando a universalidade missionária da 11 Blauw, A Natureza Missionária da Igreja,p. 72 12 Ibid., 82-83 13 NEILL, História das Missões, p. 21 14 Blauw, A Natureza Missionária, p. 91. 15 CARRIKER, Missões na Bíblia, p. 39
  • 13. 13 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses Igreja .Neill afirma: “A Igreja da primeira geração cristã era do tipo genuinamente 16 missionária.” No que também afirma Zabatiero: “Antes do Pentecostes não havia Igreja cristã, não havia experiência cristã. ... Ao inaugurar a Igreja , o Pentecostes inaugura a era missionária, pois , em Atos, Igreja é missão.17” Pentecostes é a inversão do que ocorreu em Babel, revelando-nos os propósitos missio-redentivos de Deus. Afirmam Shenk e Stutzman: Todos ouviram a palavra de Deus em sua própria língua. Foi um sinal de Deus de que o evangelho se destina a todas as pessoas de todas as culturas. À medida que as pessoas aceitam o evangelho, elas se congregam numa nova comunidade. A dispersão em Babel foi o contrário do que houve no Pentecostes. A Igreja é a nova comunidade que traz o remédio para as divisões dos povos. Embora as diferenças de língua e cultura não tenham desaparecido com o Pentecostes, os seres humanos descobriram a preciosa unidade e a fraternidade do Espírito Santo, que aproxima e une pessoas de diferentes culturas , tornando-as verdadeiros irmãos e irmãs.18 3.5 O Apostolo Paulo e Missões: O Apóstolo Paulo teve um relevante papel no palco das missões. Referindo-se a ele, Tucker afirma: “O Apóstolo Paulo indiscutivelmente mantém o lugar de maior missionário da primeira Igreja.”19 Mesmo enfrentando intempéries (2 Co 11.25-28), em suas viagens missionárias pelo mundo mediterrâneo, o apóstolo Paulo estabeleceu Igrejas autóctones. Referindo-se a Paulo, Blauw afirma: Para Paulo há dois pontos de vista: (1) os cristãos, não os juDeus são a congregação de Deus , porque a coisa importante não é Israel segundo a carne , mas Israel segundo o espírito(ponto de vista muito forte em gálatas por exemplo); (2) há apenas um povo de Deus , a saber, Israel, sendo que os cristãos gentios são incorporados neste povo como prosélitos (especialmente os Romanos).20 E é exatamente o apostolado de Paulo que vai nos proporcionar a noção correta do que vem a ser a relação complicada entre Israel , a comunidade de Cristo e o mundo das nações. Embora não seja o único apóstolo aos gentios, tornou-se o mais preeminente. Sua intenção era pregar o evangelho de Cristo em todas as províncias do Grande Império 16 NEILL, História das Missões, p. 24 17 ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Poder e Testemunho – Missões em Atos 1 e 2. Em Missões e A Igreja Brasileira, Vol. 3 – Perspectivas Teológicas. Organizado Por Carriker, C. Timóteo. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1993. p. 84 18 SHENK, W. David & STUTZMAN, Ervin R. Criando Comunidades do Reino – Modelos Neotestamentários da Implantação de Igrejas. Trad. Rubes Castilho. Campinas: Editora Cristã Unida, 1995. p. 9 19 TUCKER, Ruth A. “... Até aos Confins da Terra” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs. São Paulo: Edições Vida Nova, 1986. p.,28-29 20 Blauw, A Natureza Missionária da Igreja, 93.
  • 14. 14 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses Romano (Rm 15.19-20; 22-24). Partindo de Antioquia em suas três viagens missionárias. A escolha de Antioquia como ponto de partida não acontece por acaso, uma vez que Antioquia era um importante entroncamento viário.21 Vejamos a trajetória de Paulo: 1a Viagem Missionária: Chipre, Panfília, Licaônia(At 13-14). Surge a controvérsia da circuncisão dos pagãos convertidos(Concílio de Jerusalém é convocado – At 15.1-29; Gl 2.1-10); 2a Viagem Missionária : Licaônia território Gálata , Trôade, Macedônia (Filipos , Tessalônica ), Atenas, Corinto, retorno a Antioquia, via Éfeso (At 15.41; 18.22); 3a Viagem Missionária : Galácia , Éfeso (mais de 2 anos), Macedônia, inverno em corinto, Retorno a Jerusalém, via Macedônia e Mileto. Cativeiro em Jerusalém (At 18,23. 23.31). 21 COTHENET, E. São Paulo e o seu Tempo –Trad. Benôni Lemos. São aulo:Edições Paulinas, 1984. p. 39
  • 15. 15 Introdução a Teologia Bíblica de Missões – I Dr. Samuel Ulisses BIBLIOGRAFIA: BLAUW, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966. BOSCH, David J. Witness to The World the Christian Mission in Theologica Perspective. Atlanta, GEORGIA, John Knox Press, 1980. CARRIKER, C. Timóthy. Missão Integral . Uma Teologia Bíblica.São Paulo: SEPAL, 1992. _________________, Missões na Bíblia - Princípios gerais. São Paulo: Vida Nova, 1992. COTHENET, E. São Paulo e o seu Tempo –Trad. Benôni Lemos. São aulo:Edições Paulinas, 1984. GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida Nova,1984. NEILL, Stephen , História das Missões. Edições Vida Nova, São Paulo,1989. SHENK, W. David & STUTZMAN, Ervin R. Criando Comunidades do Reino – Modelos Neotestamentários da Implantação de Igrejas. Trad. Rubes Castilho. Campinas: Editora Cristã Unida, 1995. TUCKER, Ruth A. “... Até aos Confins da Terra” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs. São Paulo: Edições Vida Nova, 1986. ZABATIERO, Júlio Paulo Tavares. Poder e Testemunho – Missões em Atos 1 e 2. Em Missões e A Igreja Brasileira, Vol. 3 – Perspectivas Teológicas. Organizado Por CARRIKER, C. Timóteo. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1993. WINTER. Ralph D. e Hawthorne , Steven. Missões Transculturais - Uma Perspectiva Histórica. Editora Mundo Cristão, São Paulo, 1987. OUTRAS OBRAS A SEREM CONSULTADAS: BOSCH, David J. Missão Transformadora : Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão. Tradução de Geraldo Kornörfer; Luis Marcos Sander – São Leopoldo, RS: Sinodal, 2002. PADILHA , C. René. Missão Integral – Ensaios sobre o Reino e a Igreja . Trad. Emil Albert Sobottka. São Paulo: FTLB - Temática Publicações , 1992. PIPER, J. Alegrem-se os Povos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. STEUERNAGEL, Valdir Raul, org. A Missão da Igreja: uma visão panorâmica sobre os desafios e propostas de missão para a Igreja na antevéspera do terceiro milênio. Belo Horizonte: Missão Editora, 1994.