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DIRETRIZES PROGRAMÁTICAS PARA O PARTIDO VERDE 2014
VIVERBEM.VIVERVERDE
INTRODUÇÃO
	 Tratamos aqui das diretrizes para elaboração de um pro-
grama do PV para o Brasil/2014. Pedimos que sejam avaliadas,
criticadas, corrigidas, modificadas. Elas foram escritas após re-
visita aos programas do PV de 2005 e 2010 que devem ser vis-
tos como uma retaguarda valida para estas diretrizes.
	 Estas dez orientações são uma espécie de matriz para
gerar um programa com propostas mais específicas em cada
tema.Vejam que em cada diretriz já há exemplos de objetivos
mais precisos. A ideia não é construir mais um programa en-
ciclopédico, como se costuma fazer neste tipo de campanha
para o executivo, que pouca gente lê. Às vezes nem o próprio
candidato. Além disso, no Brasil ultimamente a maior parte
dos vários programas são bem parecidos na sua maior parte.
Afinal de contas, por exemplo, as três mais poderosas candida-
turas atuais são da mesma família política: socialdemocracia,
socialista e socialista quase marxista, todas com tempero de
capitalismo liberal.
	 O que queremos é marcar nossas diferenças nesta con-
vergência para que o povo possa julgar se merecemos ou não
o seu apoio. Estas correntes políticas só levavam em conta o
social e o econômico, tratando o ambiental como uma fonte
infinita à nossa disposição.
O conceito de desenvolvimento
sustentável surgiu como proposta a partir
de estudos da ONU e foi apresentado de for-
ma mais acabada no encontro Rio-92. Está
baseado em evidências científicas e pressu-
postos éticos. Trata-se de reavaliar todas as
políticas públicas, a produção e consumo
de bens e serviços, enfim as formas de viver
e conviver que tanto o capitalismo quanto
o socialismo defenderam/implantaram nos
últimos séculos.
	 A nova proposta procura em cada
ação individual ou coletiva equilibrar os
fatores ecológicos/sociais/econômicos. E é
um equilíbrio sempre móvel, mutável, pois
a Terra está sempre em evolução, não é es-
tática. Importante: não se trata de uma re-
vanche ambiental, um predomínio do am-
biental sobre o social e econômico, e sim
uma equação equilibrada dos três fatores.
	 Nós humanos somos a causa dos problemas, e não ha-
verá solução sem a nossa participação.
Estas ideias se materializaram em 1992 em três convenções
que são ainda hoje os principais documentos base destas mu-
danças: as convenções do Clima (trata do aquecimento global,
principal desfio econômico, social e ambiental do século XXI),
da Biodiversidade e de Combate à Desertificação. A elas deve-
mos acrescentar a preocupação mundial com o uso da água.
	 A necessária implementação das mudanças ocasio-
nadas pelo desenvolvimento sustentável exige também uma
crescente governança global e um ambiente de democracia,
cultura de paz e respeito aos direitos humanos.
	 A governança global não elimina a iniciativa local. Pelo
contrário. O princípio da subsidiariedade proposto pela Igreja
Católica no início do século passado é atualíssimo. Libera, es-
timula a energia do cidadão para ajudar a família, desta para
a comunidade, desta para a região, desta para o país e deste
para o território da Terra comum. Tudo que pode ser feito no
nível local deve ser feito no nível local, sempre procurando
observar o horizonte global.
	 Recentemente, um órgão brasileiro semelhante ao
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC
- ONU), reunindo e revisando centenas de trabalhos de pes-
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
1.
4
VIVERBEM.VIVERVERDE
quisadores brasileiros, mostrou como a crise
climática pode impactar os diversos biomas
brasileiros e como é urgente a ação para pro-
mover a mudança de política e hábitos dos
cidadãos em geral e dos líderes políticos, sin-
dicais, empresariais, intelectuais, políticos,
religiosos, populares etc.
	 Desenvolvimento sustentável não
significa estagnação ou retrocesso na quali-
dade de vida. Pelo contrario, é melhoria da
qualidade de vida feita de forma equilibra-
da, inclusive superando as inaceitáveis dife-
renças extremadas no nível de vida dentro
dos países e entre países. Pode sim haver
necessidade do chamado “crescimento zero”
em algumas regiões do mundo ou redução
no padrão de consumo de setores de classes
privilegiadas, mesmo em países considera-
dos pobres ou em desenvolvimento como
o Brasil, quando este nível de consumo for
realmente insustentável e fator de opressão
social e ambiental.
	 Não é ocioso repetir que para nós a crise climática e
da biodiversidade são os desafios mais importantes para a hu-
manidade no século XXI. Todos os outros problemas, todas as
políticas públicas devem ser revistas por este ponto de vista e
rearticuladas de forma transversal a partir desta perspectiva.
	 Nosso aparente radicalismo se baseia nas evidências
científicas atuais e na coragem de falar a verdade ao nosso
povo mesmo que seja para propor mudanças de hábitos, o que
sempre pode trazer certo grau de sacrifício.
	 O que o PV quer é mostrar que é possível um projeto
para o Brasil que combine desenvolvimento sustentável, justiça
social, cultura de paz com radicalização da democracia.
5
6
REFORMA
POLÍTICA
2.
	 Reforma política. Mais democracia.
Política não é negócio. Política é para ser-
vir. O Brasil avançou com a redemocratiza-
ção após a Constituinte 87/88. Em uma área,
porém há estagnação ou retrocesso a cada
ano: trata-se da qualidade da política. Os
partidos, as instituições representativas le-
gislativas e executivas não conseguem mais
dar conta do necessário diálogo com a socie-
dade, cada vez mais informada, mais livre,
mais exigente.
	 Temos que decifrar desafios cada
vez mais complexos e não há aparato insti-
tucional na política preparado para ser es-
paço de amplo diálogo e resolução pacífica
de conflitos normais numa democracia. A re-
forma mãe e mais urgente do momento é a
reforma política para radicalizar a democra-
	 “Como avançarmos em direção a um mundo no qual os ideais de li-
berdade e igualdade possam se concretizar de forma mais satisfatória in-
corporando a aceitação da diversidade como valor central num cenário que
já é irreversivelmente global.” Jean Subirats / Barcelona.
cia. Queremos mais democracia representativa, participativa e
direta e menos corporativismo, clientelismo e burocracia cada
vez mais pesada e cara. Seis pontos para mais democracia:
2.1. Nível Federal
	 Menos parlamentares e mais trabalho parlamentar.
Salário de no máximo 20 salários mínimos. Máximo de dois
servidores de carreira e um de livre provimento para cada par-
lamentar. Fim das verbas de gabinete. Fim de frotas de carros
oficiais. Fim de emendas individuais ao orçamento. Extinção
do Senado, pois a Câmara dos Deputados já garante o caráter
federativo do processo legislativo quando distribui o número
de vagas com um número mínimo de deputados para os es-
tados menos populosos e um teto para os estados de maior
população. Os estados mais populosos ficam assim sub repre-
sentados, e isto é um fator necessário de coesão federativa.
	 A Câmara Federal teria uma redução de 25% em cada
bancada dos estados. Ficaríamos assim com cerca de 411 de-
putados. Reorganizar o trabalho legislativo de forma a torná-lo
mais concentrado, gastar menos com viagens e permitir mais
contato com os estados e cidadãos. Mais qualidade em Brasília
com menos quantidade e despesas.
.
7
VIVERBEM.VIVERVERDE
2.2. Nível Estadual.
	 Redução em 25% das bancadas esta-
duais em cada estado. Salário máximo de 20
salários mínimos. Um assessor de carreira
e um de livre provimento para cada parla-
mentar. Fim de verbas de gabinete. Fim de
frotas de veículos oficiais para parlamenta-
res.
2.3. Nível Municipal
	 Aqui buscamos a fusão da demo-
cracia representativa e participativa. Aqui
queremos aumento expressivo dos repre-
sentantes municipais eleitos. Este deve ser o
principal nível de renovação e vida política
da nação, pois é o que está mais perto do
povo e mais sujeito à sua influência direta
e diária. Devemos aqui ter uma grande in-
tegração entre democracia representativa e
participativa. Fim do salário para vereador.
	 Ser vereador é função de relevância
pública. Ser vereador é uma honra para o
cidadão eleito pelo povo. Ser vereador é ser um militante de
causas publicas. O vereador deve exercer uma ocupação pro-
fissional que lhe garanta renda e, em alguns dias da semana,
conforme o tamanho da cidade, pode ter dispensa autorizada
sem perda de salário e com ajuda de custo, se ficar provado que
é necessário, para o exercício da vereança.
	 O vereador deve ter a capacidade de articular um co-
letivo de cidadãos voluntários que construam com ele o seu
mandato. Fim das verbas de gabinetes. Fim das assessorias
profissionalizadas. Fim das frotas de carros para vereadores. O
importante para o parlamentar local é o contato com o povo
no seu dia a dia e a disposição para estudar os problemas da
cidade.
	 A cada território com 100 mil habitantes em uma ci-
dade serão organizados os conselhos de cidadãos com 50 par-
ticipantes eleitos diretamente, simultaneamente à eleição dos
vereadores. Terão funções integradas e complementares às Câ-
maras Municipais, com participação na elaboração de projetos,
de orçamento, debates sobre programas e obras prioritárias,
fiscalização do executivo e diálogo com os movimentos sociais
e cidadãos. 		
	 Não há salário para esta função. Só como exemplo,
8
REFORMA
POLÍTICA
2.
vejam o caso de São Paulo/capital e seus
parcos 55 vereadores para 11 milhões de
habitantes. É um arremedo de democra-
cia representativa. Com este novo sistema
de democracia representativa/participativa
teríamos cerca de 5.500 vereadores/conse-
lheiros espalhados e acessíveis em toda a
cidade.
2.4. Democracia Direta
	 Prioridade na tramitação legislativa
para as iniciativas de leis populares. Nor-
mas mais flexíveis para consultas populares
usando referendos e plebiscito. Explorar a
possibilidade de consultas por via eletrô-
nica (“internética”) para agilizar, ampliar e
tornar mais sustentáveis do ponto de vista
orçamentário as consultas e debates popu-
lares sobre os problemas da cidade.
2.5. Voto Distrital Misto/faculta-
tivo
	 O voto distrital misto é uma forma
que combina politização e transparência
ideológica, aproximando o parlamento do
cidadão, além de uma evidente e radical di-
minuição dos gastos de campanha. As campanhas estão cada
vez mais caras e dependentes do poder econômico e estatal.
Esse é um dos motivos do progressivo apodrecimento dos nos-
sos parlamentos.
	 Com esta proposta, metade dos representantes seriam
eleitos na lista partidária e a outra metade nos distritos eleito-
rais por voto majoritário. Limite muito estrito dos gastos máxi-
mos de campanha, facilitando o controle social e dos tribunais
sobre os mesmos. Financiamento público de campanha permi-
tindo doações de pessoas físicas com limite de valor por CPF.
Voto facultativo. Voto é consciência.
2.6. Novo Plebiscito sobre o parlamentarismo
	 Mudar radicalmente a forma de montar o poder exe-
cutivo. Pode ser paradoxal falar neste reforço do poder do par-
lamento exatamente neste momento em que ele é tão atacado
em todo o país. Mas esta é a reforma decisiva para ampliar a
democracia no Brasil e reformar profundamente o próprio par-
lamento. O atual modelo de presidencialismo imperial e cen-
tralizador estimula o messianismo despolitizador e regressivo.
	 Isto é sempre perigosamente flertar com o autorita-
rismo, ao mesmo tempo em que amesquinha e desmoraliza
diariamente os parlamentos. O parlamento vive hoje à sombra
9
VIVERBEM.VIVERVERDE
do executivo. Vive das sobras que caem da
mesa orçamentária do presidente, governa-
dor ou prefeito, que servem para alimen-
tar seu apetite clientelístico e corporativo.
Além de desmoralizado o parlamento, hoje
é irresponsável.
	 Afinal de contas, faça chuva ou faça
sol, vá bem ou mal o nosso país, seja o exe-
cutivo exitoso ou desastroso, os parlamenta-
res têm os seus mandatos garantidos por 4
ou 8 anos! Não. Isto tem que acabar.
	 Se o governo é um desastre temos
que ter recursos democráticos e institucio-
nais previstos no parlamentarismo para
mudá-lo a qualquer momento, sem que isto
signifique um dramático risco de ruptura.
Executivo e parlamento podem ter os seus
4 anos de mandatos normalmente se forem bons para o país,
para o estado, para o município, porém devem ser substituídos
democraticamente a qualquer momento, como prevê o parla-
mentarismo, se falharem gravemente nas suas tarefas. É isto
que o parlamentarismo permite e o atual sistema não, salvo em
raríssimos e dramáticos casos de impedimentos.
10
MAIS BRASIL E MENOS
BRASÍLIA. FEDERAÇÃO/ESTADO
3.
	 Nossa orientação é fortalecer a ad-
ministração das políticas públicas nos mu-
nicípios. A proximidade com os cidadãos
abre oportunidade maior à participação e
democracia direta. Garante também a ex-
pressão das diversidades locais e evita per-
das de transmissão de recursos no percurso
federal/estadual/municipal. Facilita a arti-
culação transversal de políticas e a criativi-
dade e diversidade nas propostas de inclu-
são social dos mais pobres.
	 A Constituinte de 87/88 já determi-
nou uma visão de reforço da atuação mu-
nicipalista que não foi explorada com toda
consequência por causa da resistência de
Brasília em repassar poderes e orçamentos;
por sua tendência em manter burocracias
pesadas para dirigir programas de cima
para baixo, inclusive com interesses de do-
mínio e manipulação política e social. 		
	 Para exercer plenamente seus pa-
péis porém, os municípios devem existir
de fato e não apenas como captadores de
recursos federais e para manter pequenas
burocracias políticas à custa dos recursos
repassados. Nossa ideia é, na divisão dos
recursos totais dos tributos, deslocar progressivamente e por
critérios automáticos estes recursos em direção aos estados e
municípios, que deverão ser avaliados na sua aplicação por in-
dicadores nacionais.
	 Os governos estaduais devem ajudar a agrupar municí-
pios em regiões e consórcios para tornar mais eficientes as vá-
rias políticas públicas. Queremos descentralização com gestão
territorial e intersetorialidade de políticas públicas.
	 Algumas tarefas que devem ser essencialmente mu-
nicipais: Assistência social e superação da pobreza; educação
infantil e fundamental; promoção, prevenção e vigilância em
saúde; atenção básica e pronto atendimento em saúde; apoio
e promoção de atividades de cultura, lazer e esportes; mobili-
dade urbana; transporte público em quantidade suficiente e
qualidade adequada de conforto, usando combustíveis mais
limpos; prioridade para os pedestres; calçadas verdes e aces-
síveis; apoio ao uso da bicicleta; pedágio urbano nas grandes
cidades para moderar o uso de veículos individuais e gerar re-
cursos novos para a expansão do transporte público; inspeção
veicular cada vez mais abrangente e severa para promover a
saúde e diminuir as emissões de gases efeito estufa; urbanis-
mo; cidade compacta; cidade como local de convivência de
trabalho/comércio/moradia/cultura/lazer e de convivência
de classes sociais; desestímulo à formação de bairros e con-
domínios “gueto”; respeito e expansão das áreas verdes, das
áreas de preservação permanentes, renaturalização de rios e
córregos e arborização urbana; urbanização das favelas e lo-
teamentos precários e ao mesmo tempo prevenção rigorosa
de ocupações de áreas de risco e de preservação permanentes.
A crise climática tem uma urgência máxima no país: impedir
que as enchentes e deslizamentos cada vez mais frequentes
11
VIVERBEM.VIVERVERDE
desalojem e matem a população pobre das
cidades. Um dos principais indicadores de
avaliação dos executivos deve ser número de
desabrigados e mortes por desastres climáti-
cos por ano.
	 Os governos estaduais devem ter
como suas tarefas essenciais: educação mé-
dia e superior; segurança pública; admi-
nistração penitenciária; infraestrutura de
transportes de cargas. O governo estadual,
articulado com os municípios na gestão ter-
ritorial, deve garantir: saúde especializada e
hospitalar, transportes metropolitanos, sa-
neamento básico (água/esgoto/ resíduos só-
lidos), proteção ao meio ambiente e ações de
promoção de uma economia e agricultura de
baixo carbono.
	 O governo federal deve ser um exem-
plo de estado coordenador, nem mínimo,
nem hipertrofiado pelo câncer do clientelis-
mo, da burocracia excessiva da politização
da ocupação dos cargos. Não pode querer
administrar ou impor de cima para baixo
programas ou projetos aos estados e municí-
pios.
Corte imediato dos gastos com cargos de con-
fiança. Extinguir 50% deles. Analisar detida-
mente os outros 50% para chegar, se possível,
a um máximo de 10% do número atualmente
usado pelo governo federal.
	 Valorização do funcionário de car-
reira e concursado. Gestão de pessoal par-
ticipativa e rigorosa com metas e formação
continuada, planos de carreiras, estímulos e
sanções quando necessárias.
	 Reforma imediata do “maior minis-
tério do mundo”: 24 ministérios propria-
mente ditos, 10 secretarias com status de ministérios e 5 ór-
gãos ligados à presidência com status de ministérios. Total:
39 ministros!
Proposta PV, 14 ministérios:
1) Seguridade Social (saúde e previdência).
2) Educação, Cultura e Esportes.
3) Trabalho, Desenvolvimento Social e Superação da Miséria.
4) Direitos humanos, Gênero, Nações Indígenas e Reparação
das Sequelas da Escravidão.
5) Meio ambiente, Recursos Hídricos, Energia, Cidades.
6) Justiça.
7) Autodefesa.
8) Agricultura (reforma agrária, abastecimento e pesca).
9) Fazenda, Planejamento e Gestão.
10) Infraestrutura (transportes, turismo, comunicação).
11) Relações Exteriores.
12) Ciência e Tecnologia (indústria, comércio, mineração).
13) Amazônia.
14) Nordeste.
	 Pode parecer estranho que apareçam com destaque
tarefas e propostas referentes a estados e municípios, porém
isto é muito necessário para uma adequada divisão de tribu-
tos e para acabar de uma vez com a política de colocar de
joelhos estados e municípios no altar do governo federal.
Manter os três princípios econômi-
cos adotados pelo governo do presidente
Itamar Franco e pelos governos que vieram
depois, comandados pelo PSDB e PT nas úl-
timas décadas, de superávit primário, câm-
bio flutuante e metas inflacionárias com
responsabilidade fiscal. E acrescentar a es-
ses princípios administrativos/econômicos
metas socioambientais como critério de de-
sempenho dos governos federal, estaduais
e municipais. Com a vitória sobre a inflação
conseguida com o Plano Real, a democracia
brasileira tem conseguido avanços reais no
campo social e econômico. Já o campo am-
biental não tem tido a mesma sorte.
	 É claro que o desempenho nacio-
nal, mais ainda em época de intensa globa-
lização, tem períodos de estímulos positivos
e negativos da conjuntura internacional
com reflexo nos nossos indicadores. Tam-
bém o estilo de cada governo ajuda ou atra-
palha o ambiente de trabalho no Brasil. Por
exemplo, de estilo negativo podemos citar o
uso político partidário de agências, estatais
e bancos nacionais. Nos últimos anos têm
12
ECONOMIA
VERDE
4.
aparecido desvios como o estímulo ao consumismo insusten-
tável, intervencionismo estatal, direcionamento de subsídios,
estagnação na produtividade e inovação, conformismo com o
sistema tributário infernalmente complexo e verdadeira penei-
ra diante da sonegação. Tentativa de empurrar com a barriga
a inflação pela manipulação de preços particularmente nociva
para economia e para meio ambiente no caso dos combustí-
veis fósseis. Dificuldades em inserir o Brasil no comércio in-
ternacional. São dificuldades mas não é um fim do mundo, dá
para corrigir. Dito isto, passamos a adiantar diretrizes que pre-
tendem legitimamente imprimir um estilo verde na economia
nacional.
4.1 Numa época em que tanto o interesse nacional quanto
o interesse das demais nações deveria estar voltado para en-
frentar o desafio maior da crise do aquecimento global, perda
de biodiversidade e pressão sobre os limites do planeta, nosso
objetivo na condução da economia é combinar a construção
de um país com economia de baixo carbono com democracia,
respeito à diversidade e promoção de maior igualdade. Em pri-
meiro lugar, não tomaremos mais o crescimento do PIB como
um parâmetro quase religioso para avaliar a vida do país. Ado-
taremos em seu lugar o IDH da ONU que leva em conta três
fatores no seu cálculo: evolução do PIB per capita, indicadores
de educação e indicadores de saúde.
13
VIVERBEM.VIVERVERDE
	 Queremos completá-lo acrescen-
tando um quarto parâmetro, que é o am-
biental. Por exemplo, evolução da taxa de
desmatamento, ou evolução dos níveis de
emissão de gás efeito estufa no país.
4.2 Vamos assumir o compromisso de não
aumentar a carga tributária em percentual
do PIB hoje em 36%, e estudar formas de
procurar reduzi-la.
4.3 Uma empresa no Brasil gasta 2.600 ho-
ras/ano para tentar processar e pagar todos
os impostos. Nos outros países da América
Latina, esta média fica em cerca de 300
horas/ano! Defendemos a adoção de um
imposto único arrecadatório sobre movi-
mentação financeira, baseado na proposta
do professor Marcos Cintra, em substituição
aos atuais impostos arrecadatórios federais.
Ficam preservadas, claro, como prevê a pro-
posta original, taxas por serviços individua-
lizados, tributos com função regulatória ou
fiscalizadora.
	 O fato de termos um imposto único arrecadatório fede-
ral não é impeditivo que o governo federal tenha políticas que
procurem equilibrar os fatores ambientais/sociais/econômicos,
pois sempre teremos um forte poder de estímulo ou deWsestí-
mulo usando o poder de uma política de compras e licitações
sustentáveis, por exemplo, ou revogando os subsídios para ati-
vidades da antiga economia carbono intensivo. Pode se lançar
mão também de CIDEs para metas específicas de indução da
economia de baixo carbono ou proteção de nossa biodiversi-
dade. Será negociada de forma gradual a adesão dos estados e
municípios para substituição dos tributos municipais e estadu-
ais pelo imposto único arrecadatório.
	 Será adotada uma alíquota nas movimentações finan-
ceiras que permita manter integralmente a atual arrecadação
federal de forma não a sofrer a nação qualquer turbulência
orçamentária ou prejuízo nos atuais programas e políticas pú-
blicas em andamento.
	 Esperamos uma grande economia na burocracia públi-
ca e privada, o que poderá se reverter em aumento de nossa
competitividade, concorrência, inovação, investimentos, mais
trabalho e melhorias nos serviços oferecidos à população. É im-
portante lembrar que, apesar desta economia, isto não quer
dizer que não teremos um forte e profissional aparelho de fis-
calização que vai herdar um corpo altamente preparado e de
carreira já montado em todo Brasil para garantir a arrecadação
14
ECONOMIA
VERDE
4.
e reprimir possíveis desvios de conduta.
	 Com o tempo e acompanhando o
desempenho do tributo único arrecadató-
rio federal, pode se estudar com segurança
se é possível reduzir alíquotas para diminuir
a carga tributária sem prejuízo da constante
busca de melhoria dos serviços públicos e as-
sim aumentar a competitividade nacional.
4.4 Agricultura
	 O PV considera a agricultura uma
das atividades econômicas e culturais mais
importantes da humanidade. Talvez a mais
essencial à nossa vida. Os métodos sustentá-
veis que vão conformar a nossa nova forma
de viver precisam então ser construídos por
todos que trabalham com a terra. 	
	 Trabalhadores rurais ou proprietá-
rios pequenos, médios, grandes, muito gran-
des. Todos precisam ajudar nesta transição,
e o próprio cidadão consumidor terá um pa-
pel decisivo neste processo pelo lado da de-
manda. O PV não se recusa a dialogar a este
respeito com ninguém. E sabemos que já
existem avanços e mesmo empreendimentos
realmente sustentáveis e até orgânicos entre
os grandes. Porém, não seria transparente
não dizer que o PV tem sua preferência pela
agricultura familiar, pela pequena e média
propriedade, pois são as modalidades que podem evoluir com
mais rapidez para sustentabilidade.
	 O PV é decididamente favorável à transição para o esti-
lo orgânico de agricultura. Somos decididamente contrários ao
uso de agrotóxicos que prejudiquem a biodiversidade, a saúde
dos trabalhadores do campo e a saúde dos consumidores em
geral. É preciso iniciar já uma transição para reduzir nossa de-
pendência em relação a este tipo de insumo agrícola. Não é
possível admitir crescimento à custa de danos ambientais. Uso
em excesso de nitrogênio e fósforo em fertilizantes. Exploração
excessiva de oceanos e rios pela pesca.
	 O PV é decididamente favorável ao respeito à nossa
legislação ambiental, mesmo tendo sido derrotado na última
votação do atual Código Florestal no congresso nacional. Não
vamos desistir do nosso direito de procurar melhorá-lo em no-
vas rodadas legislativas, porém o que está estabelecido é para
ser cumprido.
	 Desta forma, queremos nos colocar abertos à constru-
ção de consensos que, sempre respeitando os limites legais,
possam significar uma evolução para uma agricultura cada
vez mais limpa, mais saudável, mais competitiva no mercado
brasileiro e mundial, e que garanta a segurança alimentar em
quantidade e qualidade aos brasileiros.
4.5 A água é atualmente, e será no futuro, questão funda-
mental para o desenvolvimento sustentável e foco de conflitos
nacionais, internacionais, transnacionais. As mudanças climá-
ticas afetam os recursos hídricos em todo o mundo, com secas
15
VIVERBEM.VIVERVERDE
prolongadas, desertificação e inundações de
grandes áreas. A ONU estima que, até 2025,
30% da população mundial estará enfrentan-
do severa escassez de água.
	 O Brasil, em cujo território está 12%
de toda a água doce superficial do planeta
e grandes aquíferos subterrâneos, tem uma
responsabilidade ímpar com a proteção dos
mananciais, rios, águas subterrâneas.
	 A disponibilidade e qualidade da
água para consumo, direto ou indireto (agri-
cultura, agropecuária), está diretamente re-
lacionada aos nossos modos de vida, práticas
agrícolas, práticas de construção, aglomera-
ções urbanas, geração de energia.
	 Nosso compromisso é cuidar, com
prioridade e equanimidade, dessa riqueza e
garantir sua acessibilidade a todos.
16
	 A produção e uso de energia no Bra-
sil representa cerca de 10% de toda a ativi-
dade econômica do país, aproximadamente
300 bilhões de reais por ano, despendidos
principalmente com eletricidade e deriva-
dos de petróleo.
	 O setor de energia é, portanto, um
importante setor da economia. Mais do que
isto, o que se faz neste setor – ou o que se
deixa de fazer – tem uma importância fun-
damental para um desenvolvimento susten-
tável ou predatório pelas razões seguintes:
- A poluição do ar nas grandes cidades de-
pende criticamente dos combustíveis que se
usa e de como eles são usados;
- A adoção de um modelo rodoviário para
transportes está estrangulando hoje as
grandes cidades brasileiras;
- A expansão do sistema de produção de
energia elétrica está originando problemas
ambientais e sociais crescentes à medida
que o potencial hidroelétrico das regiões
Sul-Sudeste se esgota e os novos empreen-
dimentos se deslocam para a Amazônia. As
termelétricas que deveriam operar de for-
ma emergencial atuam hoje com altos cus-
tos de importação de combustíveis fósseis;
- A ênfase dada à exploração e produção de
petróleo a grandes profundidades na plata-
forma continental (Pré-Sal) tem o potencial
de tornar o país um exportador de petróleo,
mas ao mesmo tempo exaurir a capacidade
de investimento da Petrobras, direcionan-
do-a prioritariamente para atividades de
alto risco e comprometendo todos os seus
recursos financeiros quando existem outros
investimentos de menor risco na área de
energias renováveis.
	 É preciso, contudo, atentar para o fato de que o con-
sumo de energia “per capita” dos brasileiros é ainda de apro-
ximadamente metade do consumo de países de clima ameno
da Europa, como Portugal e Espanha. Não há dúvida, portanto,
que na média ele terá que crescer nas próximas décadas para
nos levar a um patamar de desenvolvimento comparável ao
destes países e corrigir as grandes desigualdades no acesso à
energia que caracterizam nosso país. É essencial também que o
aumento da oferta e o consumo sejam feitos de forma eficien-
te, sem comprometer nossos recursos naturais e sem ampliar as
emissões de gases de efeito estufa.
5.1. Tráfego Ferroviário
	 Para um país ao mesmo tempo altamente urbanizado
e de dimensões continentais como o Brasil, o principal pro-
blema estrutural no qual a energia tem impacto direto é o de
transporte, tanto urbano como de longa distância.
A adoção de um modelo rodoviário no Governo de Juscelino
Kubitschek na década dos anos 50 do século passado teve como
consequência imediata o abandono progressivo das ferrovias
para transporte de cargas e a introdução tardia do metrô nos
grandes centros urbanos. A única grande ferrovia em constru-
ção no Brasil é a Norte-Sul, que foi iniciada há mais de 20 anos
e está longe de ser concluída.
	 Todos os países com extensão territorial parecida com
o Brasil, como os Estados Unidos, a China, Rússia e Índia, man-
tiveram a opção ferroviária apesar da expansão do tráfego ro-
doviário que caracterizou a segunda metade do século 20. Nos
Estados Unidos, apesar do seu magnífico sistema de rodovias,
mais da metade do transporte de cargas é feito por tráfego fer-
roviário.
	 Reavivar e construir novas ferrovias é um objetivo que
terá que ser adotado. Mais ainda, o enorme litoral do país
aponta para a reativação do tráfego marítimo para o transporte
de mercadorias para as regiões mais distantes do país e moder-
nização dos portos.
	 Além disso, o tráfego ferroviário pode, em boa parte,
ENERGIA5.
17
VIVERBEM.VIVERVERDE
ser eletrificado, o que é uma vantagem adi-
cional para um país como o Brasil. Além de
mais eficiente no seu uso, energia elétrica é
produzida de fontes renováveis de eletrici-
dade (em sua maioria hidroelétrica) em con-
traste com os outros países, que usam deri-
vados de petróleo como combustível, muito
mais poluentes.
5.2. Hidroeletricidade
	 O Brasil tem um potencial de gera-
ção de cerca de 250 milhões de quilowatts
de eletricidade, dos quais um terço já está
sendo utilizado. A capacidade instalada tem
crescido cerca de 4000 quilowatts por ano.
Do ponto de vista técnico, é possível dobrar
o potencial utilizado, o que permitiria para
os próximos 20 anos manter a expansão da
produção de energia hidroelétrica num nível
satisfatório.
O problema é que esta expansão poderá
ocorrer na Região Amazônica, o que gera
conflitos de natureza social e ambiental. E
exige um desenvolvimento técnico especial
para não degradar um bioma tão complexo.
	 A construção de usinas afeta a popu-
lação local, sobretudo quando grandes lagos
são formados como reservatórios de água
para permitir o funcionamento da usina nos
períodos do ano em que não chove. Frequen-
temente 10 ou 20 mil pessoas são afetadas e
têm que ser deslocadas. Há também proble-
mas ambientais decorrentes das obras reali-
zadas e da indução da ocupação no entorno
do empreendimento.
	 Por outro lado, cada milhão de qui-
lowatts instalado numa hidroelétrica gera eletricidade suficien-
te para atender às necessidades de pelo menos dois milhões de
pessoas, que em geral vivem a milhares de quilômetro da usina
geradora.Há aqui um claro conflito e a necessidade de tomar
decisões difíceis. Sucessivos governos se revelaram incapazes
de resolver estes problemas.
	 Só um planejamento criterioso, que se debruce sobre
todos os lados do problema, pode resolver estes conflitos. Uma
possibilidade é sempre negociar e implantar as compensações
ambientais e sociais antes e só depois iniciar a construção de
novas usinas hidroelétricas licenciadas.
5.3. Eficiência Energética
	 A eficiência dos equipamentos que usam energia no
país é, de modo geral, inferior à dos similares usado no ex-
terior. Automóveis consomem mais de 1 litro de combustível
para percorrer 7 ou 8 quilômetros quando poderiam cobrir o
dobro dessa distância com a mesma quantidade de energia. O
mesmo ocorre em geladeiras que consomem o dobro de eletri-
cidade do que congêneres estrangeiras ou fogões a gás e outros
utensílios domésticos que têm desempenho ineficiente.
	 A adoção de automóveis e ônibus elétricos é desesti-
mulada e o uso da bicicleta tem importância subestimada. O
que se impõe aqui é introduzir novos equipamentos e modelos
mais eficientes, retirando do mercado, ao longo do tempo, os
menos eficientes. Isto é feito através de normas, leis e regu-
lamentos que gradualmente exijam padrões de desempenho
cada vez melhores. Tais procedimentos foram introduzidos em
1980 na Califórnia, que hoje é o estado com melhores índices
de eficiência nos Estados Unidos. O consumo de eletricidade
naquele estado é cerca da metade do consumo “per capita” no
país como um todo.
	 No Brasil a Lei 10.295 de 2002 permite adotar procedi-
mentos similares, mas até hoje eles têm sido introduzidos, com
poucas exceções, como voluntários. Há uma resistência das in-
dústrias para que estes se tornem mandatórios.
	 Essa introdução deve ser gradual e não necessita de
18
recursos orçamentários (como é o caso da
construção de hidroelétricas ou ferrovias),
mas apenas de vontade política e decisão de
implementar a Lei.
5.4.Energia Elétrica
	 Problemas conjunturais foram cria-
dos nos últimos anos por decisões políticas.
Eles precisam ser resolvidos para permitir
que os problemas estruturais possam ser
melhor equacionados. Os principais proble-
mas na área energética são os leilões para
construção de novas usinas para geração de
eletricidade, a renovação das concessões e a
administração dos preços de venda de deri-
vados do petróleo.
	 Desde 2004 o Governo Federal, atra-
vés da EPE (Empresa de Planejamento Ener-
gético), tem feito leilões para a construção de
novas usinas geradoras com a finalidade de
expandir o sistema.
	 Por opção política, foi adotada a
regra de fazer com que todas as formas de
energia (hidroelétrica, térmica, eólica, bio-
massa) competissem em igualdade de condi-
ções nos leilões com um preço máximo (para
o quilowatt/hora) fixado pela EPE. A justifica-
tiva para tal procedimento é aparentemente
beneficiar o consumidor, já que competição
levaria à queda de preços, garantindo a “mo-
dicidade tarifária”.
	 Na prática o resultado é que todas
as fontes alternativas às hidroelétricas foram
excluídas da competição. Só mais recente-
mente fontes de energia eólica começaram a
competir devido ao fato de haver um excesso
de oferta de equipamentos e uma redução
na demanda de equipamentos devido à crise econômica
global.
	 O procedimento usado pela EPE não se justifica
porque não é possível produzir energia elétrica sem aten-
tar para suas especificidades tecnológicas locacionais e
operacionais. Como as tecnologias envolvidas são diferen-
tes, resultam em impactos socioambientais diferentes.
	 O procedimento correto seria a realização de lei-
lões regionais e estabelecer preços máximos diferentes
para cada fonte (eólica, biomassa, gás etc). Gradativamente
estes preços máximos deveriam cair para os leilões realiza-
dos a cada ano, encorajando a competição e abrindo espa-
ço para energias renováveis. As novas fontes, mais limpas,
precisam de subvenções em seus estágios iniciais de matu-
ração. Essa é uma forma mais racional de se aplicar recur-
sos públicos, comparativamente à ênfase nos combustíveis
fósseis.
	 Outro problema conjuntural foi a decisão do go-
verno federal de antecipar a renovação das concessões de
usinas hidroelétricas previstas para os próximos anos, des-
de que a tarifa de venda de energia ao consumidor fosse
reduzida em 20%. A medida foi considerada demagógica e
levou as empresas do sistema Eletrobrás à insolvência, sen-
do necessários recursos do Tesouro Nacional para viabilizá-
-las. No fundo, a população em geral (através dos impostos)
pagou pelos descontos que os consumidores recebiam, fa-
vorecendo claramente as indústrias intensivas no consumo
de eletricidade.
	 O procedimento correto deveria ter sido esperar
que as concessões se esgotassem (geralmente num prazo
de 30 anos) e que o governo as licitasse novamente, es-
timulando a concorrência entre os atuais detentores das
concessões e novos competidores. Isso certamente levaria
à redução permanente das tarifas.
ENERGIA5.
19
VIVERBEM.VIVERVERDE
5.5. Petróleo e Etanol
	 O entusiasmo nacionalista gerado
com a descoberta de campos de petróleo com
grandes reservas na camada de pré-sal fez
com que o governo federal deixasse de reali-
zar novos leilões para exploração desde 2008,
com a expectativa que a Petrobras o fizesse.
	 Esta política se revelou equivocada
porque a capacidade de investimento da Pe-
trobras não foi suficiente para arcar com os
investimentos que são necessários e manter
os atuais campos em produção.
	 Com isso caiu a produção, o que, com-
binado com atrasos na construção de novas
refinarias, levou a Petrobras a importar petró-
leo e derivados. Além disso, o governo admi-
nistra os preços de venda do diesel e gasolina
e não tem permitido que eles acompanhem o
aumento do custo de petróleo importado.
	 A justificativa para tal política é a ne-
cessidade de combater a inflação, o que levou
a Petrobrás a vender derivados de petróleo
a preços inferiores aos que paga por eles no
exterior. O resultado foi um endividamento
crescente e uma queda vertiginosa do valor
das suas ações. Além disso, a Petrobras vem
adquirindo grandes quantidades de gás natu-
ral liquefeito no mercado “spot” a preços mais
altos que os dos fornecimentos normais para
operar termoelétricas.
	 Uma consequência colateral da políti-
ca de preços artificiais da gasolina foi a “asfi-
xia” da produção de etanol da cana de açúcar,
uma vez que os preços de venda do produto
são indexados aos da gasolina e se mantêm
constantes desde 2007. Isso é totalmente irrealista, já que os
outros insumos usados na produção do álcool (como fertilizan-
tes) aumentaram de preço, acompanhando a elevação dos cus-
tos do petróleo no exterior.
	 A solução para estes problemas é adotar uma política
realista de preços, que acompanhe o custo real do petróleo no
exterior. As consequências inflacionárias destes aumentos - se
forem reais – precisariam ser compensadas por outras medidas
antinflacionárias que não levem à deterioração das contas da
Petrobrás e à destruição do Programa do Álcool.
O maior programa de energia renovável do mundo, que é o uso
do Etanol, deve ser apoiado e não estrangulado como está sen-
do.
5.6. “Descarbonização” da matriz energética
	A “descarbonização” da matriz energética significa, ba-
sicamente, a substituição das fontes que emitem mais carbono
(especialmente CO2) para cada unidade de energia final por ou-
tras menos emissoras. As fontes renováveis (hidráulica, eólica,
solar, biomassa moderna) são as mais “limpas” nesse sentido e,
por definição, não exauríveis. Assim, além de poluírem menos,
elas têm seu fornecimento perene, aumentando a segurança
energética e reduzindo a dependência de custosas importações.
	 Os países desenvolvidos e alguns emergentes (como a
China) reconhecem esse valor estratégico, aliado aos benefícios
da criação de mais empregos e de competitividade econômica.
Hoje, além de suprirem suas necessidades com essas fontes, ex-
portam equipamentos e serviços, melhorando seus balanços de
pagamento.
	 O rápido desenvolvimento tecnológico dos novos reno-
váveis foi alavancado por políticas racionais, que subsidiaram
esses sistemas durante sua maturação. Hoje, muitos já são com-
petitivos com o petróleo, carvão e gás natural, a ponto de paí-
ses da OPEP se preocuparem com tal concorrência e passarem
também a desenvolver sistemas renováveis.
	 O Brasil possui uma matriz altamente renovável, mas
20
esta prevalência está sendo ameaçada pela
desindustrialização (que afeta equipamen-
tos), pelos subsídios à gasolina (que afetam
a cadeia do etanol e bioenergia) e pela prio-
rização da exploração do petróleo (em de-
trimento de outras formas de infraestrutura
energética mais descentralizadas, resilientes
e limpas como a solar e a eólica).
	 O Brasil tem natureza para ser o
campeão mundial de energia solar. Não
pode se conformar, em uma copa do mundo
de energia solar, em ser desclassificado nas
eliminatórias e ver outros menos aquinhoa-
dos pela natureza, como Alemanha e China,
jogarem a final da competição.
5.7. As perspectivas do Pré-Sal
	 À medida que as reservas “tradicio-
nais” de petróleo se esgotam – como está
ocorrendo com os poços da Petrobras na
Bacia de Campos – as empresas petrolíferas
procuram desenvolver técnicas para retirar
petróleo de reservas “não tradicionais” como
areia asfáltica no Canadá ou exploração em
grandes profundidades. O petróleo “não con-
vencional” é mais difícil de produzir e conse-
quentemente o seu custo é mais elevado.
	 A estratégia de todas as empresas de
petróleo é a de que o preço elevado justifica
exploração em áreas mais difíceis. Em outras
palavras, elas acreditam que a demanda por
petróleo vai continuar a aumentar, e que
com isso os preços do petróleo vão também
aumentar, e isto justifica a procura de petró-
leo mais problemático e mais caro.
Esta estratégia enfrenta três desafios sérios:
- Problemas técnicos e econômicos,
- Problemas ambientais e
- Alternativas ao uso de petróleo.
	 No Brasil a Petrobras concentra seus esforços nos de-
pósitos chamados de Pré-Sal, situados a grandes profundida-
des (mais de cinco quilômetros) debaixo de uma camada de sal
de cerca de dois quilômetros de espessura.
	 Os problemas técnicos e econômicos do Pré-Sal são
imensos e o fracasso das tentativas de Eike Batista em produ-
zir petróleo ilustram bem estas dificuldades. Localizar petróleo
nas profundezas do oceano é uma coisa, trazê-lo para a super-
fície e leva-lo até uma refinaria é outra. O otimismo permanen-
te da Petrobras de que todos estes problemas vão ser resolvidos
não ajuda muito, nem a falta de transparência sobre os custos
do petróleo produzido. Estimativas não oficiais dão conta de
que eles seriam superiores a 50 dólares por barril produzido.
Em comparação, petróleo “convencional” custa menos de 10
dólares por barril para se produzir e o fato de ser vendido a
mais de 100 dólares por barril é consequência de acordos po-
líticos e comerciais dos países produtores que fazem parte da
OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
	 Os problemas ambientais da exploração de petróleo
em grandes profundezas são na realidade “terra incógnita”.
Não há muita experiência prévia das companhias internacio-
nais nesta área e a liderança da Petrobras em exploração em
águas profundas traz consigo problemas novos. Prudência e
humildade seriam uma boa estratégia a seguir.
	 Quanto a acidentes na produção de petróleo, é útil
comparar a experiência dos Estados Unidos, Noruega, Inglater-
ra e Brasil.
As empresas de petróleo classificam acidentes em várias cate-
gorias:
- Segurança ocupacional
- Colisões
- Pequenos incêndios
- Perda total de poços de petróleo
	 Os Estados Unidos, devido ao acidente da Britsh Petro-
leum no Golfo do México, têm o pior desempenho em todas
ENERGIA5.
21
VIVERBEM.VIVERVERDE
as categorias. O Brasil, contudo é o pior em
colisões e pequenos incêndios. A Noruega é
melhor líder em segurança. Custos elevados
na produção de petróleo “não convencional”
são o “calcanhar de Aquiles” desta estratégia
e podem justamente inviabilizá-la porque
tornam mais competitivas as alternativas ao
petróleo.
	 Quais são estas alternativas?
- Gás de xisto, que está sendo produzido em
grandes quantidades e a baixo custo nos Es-
tados Unidos e que está levando a uma re-
dução de importações de petróleo daquele
país. Com mais petróleo disponível no mun-
do, seu custo deverá cair, embora a um pre-
ço ambiental muito mais alto, especialmente
no caso da extração do gás do xisto, que é
altamente danoso aos recursos hídricos mais
valiosos que o combustível fóssil.
- Automóveis elétricos ou híbridos que usam
eletricidade substituindo derivados de petró-
leo. Eletricidade pode ser produzida usando
hidroelétricas ou energia solar e eólica, re-
duzindo também as importações de petróleo
dos Estados Unidos e países da Europa.
- Aumento da eficiência dos motores usados
na indústria automobilística, que também
está ocorrendo desde 1980. Tanto a União
Europeia como os Estados Unidos fixam de
tempos em tempos a quilometragem média
que os veículos automotores devem atingir.
Por exemplo, nos Estados Unidos ela foi fixa-
da em 10,6 quilômetros por litro em 1975,
deverá atingir 16,6 quilômetros por litros
em 2016 e 23 quilômetros por litro em 2025.
Com isso, se a frota não aumentar muito, o
consumo de derivados de petróleo diminui.
- A produção de biocombustíveis como eta-
nol da cana de açúcar no Brasil e de milho nos Estados Uni-
dos. Hoje, eles substituem 3% do petróleo que é consumido no
mundo, mas esta percentagem poderá facilmente atingir 10%.
Há aqui uma grande oportunidade para o Brasil exportar sua
tecnologia de produção de cana de açúcar e de produção de
etanol, que já atingiu um elevado nível de produtividade.
	 Em conclusão, o que se pode dizer é que grandes em-
preendimentos em petróleo como o Pré-Sal têm grandes riscos.
O que a prudência recomenda é que a Petrobras deveria tentar
reduzir os seus custos e riscos com outras empresas petrolíferas
mundiais com experiência nesta área.
	 Contudo, o que estamos presenciando nas políticas
adotadas pelo governo brasileiro na área de petróleo desde
2008 é exatamente o oposto. A Petrobras ficou sozinha na ex-
ploração do Pré-Sal, endividando-se enormemente ao ponto de
suas ações terem perdido cerca de 80% do seu valor nos últimos
anos. Contribui para isto o congelamento dos preços de deriva-
dos de petróleo, o que levou a empresa a vender gasolina com
prejuízo e, no processo, asfixiando o Programa do Álcool de
cana de açúcar.
	 Só em 2013 foi realizado um leilão para exploração no
Pré-Sal, com resultados pouco encorajadores e cujas consequ-
ências ainda é cedo demais para avaliar.
	 Este não é o caminho a seguir e uma correção de rumos
torna-se cada vez mais urgente.
Obs: todo o item 5 e seus subitens estão baseados de
forma livre em textos do Prof. José Goldemberg.
Em Tempo: Na questão nuclear nossa diretriz é a tra-
dicional do PV em todo o mundo, somos contrários.
Não queremos sua expansão no Brasil e queremos
que se programe a desativação das usinas existentes
no litoral do Rio de Janeiro.
22
PREVIDÊNCIA
SEGURA
6.
	 O orçamento federal tem uma arre-
cadação em tributos correspondente a 36%
do PIB. Ele gasta quase 7% do PIB em be-
nefícios do INSS para a população em geral
e quase 4% do PIB na previdência do setor
público federal, e não estamos levando em
conta os gastos estaduais e municipais.
	 Associem este dado, que reflete um
quadro de flagrante desigualdade de direi-
tos, com a transição demográfica que levará
a uma presença cada vez maior de idosos
com mais expectativa de vida. Esperamos
que seja mais vida saudável e ativa. A rela-
ção aposentado/trabalhador ativo tende ao
equilíbrio e depois se inverterá. Nós já tí-
nhamos conhecimento destes dois fatos há
pelo menos duas décadas.
	 Infelizmente os últimos governos e
congressos não prepararam uma transição
mais suave no final dos anos 80 e início dos
anos 90 do século passado. Alguns ajustes
foram feitos nos governos PSDB e PT, porém
são insuficientes diante da extensão do pro-
blema social e econômico que viveremos se
não agirmos já.
	 Nossa proposta é preservar os direitos adquiridos do
setor público e privado legalmente constituídos e criação, para
todos novos contratados dos setores público e privado, de um
regime básico único de previdência nacional. Para todos, quer
dizer para todos: alto burocrata, deputado, camponês ou em-
presário.
	 O regime único usará o atual regime do INSS como
ponto de partida, mantendo os tipos possíveis de aposentado-
ria - por contribuição, idade, invalidez, especial em casos de
profissões insalubres e perigosas.
	 Podem ser necessários ajustes quanto a tempo de con-
tribuição e idades mínimas. Queremos estudar a possibilidade
de aumentar o teto máximo da aposentadoria, passando do
atual, aproximadamente 6 vezes o salário mínimo, para 10 ve-
zes o salário mínimo. Acima do teto de 10 salários mínimos o
cidadão deve buscar participar de previdência complementar
se for o caso.
	 Além dos aspectos econômicos/orçamentários, insisti-
mos no aspecto da justiça. Este novo formato certamente será
um fator de coesão nacional e reconhecimento de vivermos
num país mais justo e mais igualitário. Não é fácil falar isto,
porém não falar é ser conivente com a desigualdade atual e
omisso com o futuro da relação trabalho/aposentadoria no
país.
23
VIVERBEM.VIVERVERDE
SAÚDE E
EDUCAÇÃO
7.
	 O PV quer se comprometer com os
atuais movimentos da sociedade civil que
lutam por mais recursos para as políticas
públicas de saúde e educação. As duas áreas
terão, junto com os estímulos à economia
de baixo carbono e de combate ao aqueci-
mento global (agricultura mais limpa, com-
bate ao desmatamento, energias renováveis,
transporte público limpo), a prioridade nos
recursos que remanejarmos no orçamento,
os que vamos conseguir com a reforma tri-
butária do imposto único arrecadatório fe-
deral e os que vamos recuperar com cortes
nos gastos públicos que faremos com uma
política de maior austeridade em Brasília.
Porém não queremos ficar numa floresta de
prioridades comuns em programas partidá-
rios e eleitorais particularmente nestas áre-
as. Queremos apontar as árvores da floresta
que serão prioritariamente apoiadas, pelo
menos no início do processo.
7.1 Carreira nacional para professores e profis-
sionais de saúde.
	Numa primeira etapa a carreira estará disponível na
educação para os professores do ensino fundamental e na
saúde para os profissionais que atuam no programa saúde da
família (agentes comunitários, enfermeiras e médicos). É uma
carreira nacional. Não é federal. Poderão aderir servidores pú-
blicos de estados e municípios que queiram participar do pro-
grama e mesmo trabalhadores das entidades que trabalham
para a rede pública de alguma maneira regular. As entidades
parceiras do PSF participarão desde o início.
	 Haverá um piso nacional para os profissionais, que
podem ter adicionais municipais, estaduais ou federais por
trabalharem em locais de mais difícil acesso e mais precárias
condições de vida. O governo federal coordenará, a cada 5
anos, concursos de acesso de maneira que os profissionais vão
subindo de nível, se aprovados, podendo chegar até um nível
6 máximo das suas respectivas carreiras. O pagamento é garan-
tido por um fundo nacional específico, para onde são destina-
24
SAÚDE E
EDUCAÇÃO
7
dos recursos federais, estaduais, municipais
devidamente acordados e proporcionais ao
número de profissionais incluídos.
	 Esperamos que este grande conjunto
de trabalhadores de saúde e educação, além
das condições dignas de salários, trabalho e
boa formação, sejam um fator decisivo de co-
esão e solidariedade nacional. E deverão ter
o devido respeito e reconhecimento por isto.
São uma esperança de difusão de valores e
exemplo pela sua postura, capazes de inspi-
rar as novas gerações que terão contato com
eles.
7.2. O currículo do ensino funda-
mental
	 Deve, ao lado dos conteúdos tradi-
cionais, dar mais destaque para formação
de valores, inclusive o valor do trabalho, da
solidariedade, do respeito à diversidade, a
observação da natureza e música.
7.3. O orçamento da saúde dará
ênfase aos aspectos de educação
para promoção e prevenção na
saúde
	 É preciso que as próprias pessoas
assumam de forma autônoma e informada
suas responsabilidades com sua própria saú-
de e de sua família. É preciso que as outras
políticas públicas assumam também suas
responsabilidades neste campo da atenção a
saúde. Por exemplo, no caso do transporte,
reduzindo a poluição do ar proveniente de
veículos que usam diesel e gasolina e circulam muitas vezes
desregulados pelas cidades. Por exemplo, na agricultura, pro-
duzindo alimentos orgânicos e saudáveis e na indústria de ali-
mento adotando limites adequados de açúcar, sal e gorduras.
Isto é também uma questão orçamentária que visa regular o
crescimento teoricamente infinito das demandas por atenção
à saúde.
	 Nossas prioridades neste campo são hipertensão, dia-
betes, obesidade, vida saudável para os idosos, poluição do ar,
violência, dependência de drogas legais ou ilegais.
7.4 Planejamento Familiar
	 É um direito básico e precisa ser ofertado extensa e
generosamente a todas as pessoas. Está incluída a opção por
esterilização voluntaria. Além de ser um elemento de estabi-
lidade familiar, tem implicações no aumento da autonomia
feminina e na redução dos índices de pobreza e violência. É
um direito constitucional.
7.5. A interrupção da gravidez não é planeja-
mento familiar
	 É falta ou falha do planejamento. É uma questão
muito difícil, pois envolve aspectos religiosos e filosóficos que
devemos respeitar. Nós não estimulamos a prática do aborto,
pois ele é sempre traumático para a mulher que se vê obrigada
a praticá-lo e traumático também para seu companheiro se a
ama de verdade. Porém nós não podemos ignorar esta reali-
dade de sofrimento de muitas mulheres que por algum motivo
muito forte recorrem a ele a cada ano. Nós não concordamos
em criminalizá-las.
	 Por isto queremos a legalização do procedimento, es-
tabelecendo regras e limites de idade gestacional numa lei,
mas que permita à mulher e seu companheiro seguirem este
caminho com segurança. Profissionais de saúde e instituições
podem, por razões filosóficas e religiosas, se abster de oferecer
25
VIVERBEM.VIVERVERDE
Nota: Médicos estrangeiros. O recente programa de
importação de médicos estrangeiros é a mais com-
pleta confissão do Ministério da Educação em seu
fracasso de prover os profissionais que o SUS preci-
sa para continuar sua tarefa de expandir a atenção
a saúde a todas as classes sociais do país.
Passados já mais de 25 anos do início da implan-
tação do SUS, esta que é certamente a maior re-
forma social induzida pela Constituinte 87/88, que
visa garantir o direito à assistência à saúde a todos
os brasileiros, o sistema universitário nacional não
teve a capacidade de formar o médico especializa-
do na saúde da família que nós tanto precisamos.
Assim nós encaramos esta importação como uma
medida emergencial e de fôlego curto.
Precisamos da formação de médicos generalistas e
precisamos de uma carreira nacional que priorize
os médicos de saúde da família. Depois a carreira
pode ser estendida a outras especialidades, mas
deve começar pelos médicos saúde da família.
Quanto aos “médicos importados”, agradecemos
sua ajuda ao Brasil. Queremos que eles sejam
bem tratados, gostem do nosso país, façam a va-
lidação de seus cursos e se desejarem entrem na
nossa futura carreira nacional e fiquem morando
nas nossas cidades. Sobre os médicos cubanos, va-
mos tratá-los com o mesmo respeito e gratidão que
devemos aos médicos portugueses, argentinos ou
espanhóis. E vamos, é claro, pagar os mesmos salá-
rios. O que eles vão fazer com o dinheiro é decisão
deles. O que não faremos é ser coniventes com um
tipo moderno de escravidão
o serviço, desde que previamente comunica-
do à autoridade sanitária local. Nossa pro-
posta para reduzir ao máximo o número de
abortos é a oferta ampla do planejamento
familiar, a educação sexual nas escolas e o
fortalecimento das ligações familiares a car-
go de cada um dos cidadãos no âmbito de
suas famílias.
26
CULTURA
DE PAZ
8.
	 A democracia, o respeito aos direi-
tos humanos e a cultura de paz são os com-
ponentes necessários para um ambiente
onde o desenvolvimento sustentável pode
prosperar. A superação da hegemonia da
cultura da violência pela hegemonia da
cultura de paz nas relações das pessoas,
classes sociais, religiões, etnias ou nações
é uma revolução tão profunda quanto a
revolução verde do desenvolvimento sus-
tentável. É sua irmã legítima e inseparável.
8.1 Carta da Terra
	 No ano 2000 a ONU lançou o do-
cumento Carta da Terra. É um guia ético
e moral para convivência entre humanos
e entre humanos e o planeta onde eles
vivem e convivem com milhões de outras
espécies.
	 Usar a Carta da Terra como mate-
rial básico nas escolas é o seu uso mais co-
mum que devemos adotar em larga escala.
Mas nós queremos mais. Queremos que o
Congresso Nacional debata seu conteúdo
e, se concordar com o mesmo, incorpore
como um documento anexo à nossa Cons-
tituição.
	 Quando a ONU foi criada 1945 ti-
nha como metas: a paz mundial, proteger
os direitos humanos e promover a coope-
ração para o desenvolvimento social e eco-
nômico. A Carta da Terra vem completar
este conjunto com a preocupação ambien-
tal e reúne em um documento os quatro
objetivos.
8.2 Índios, negros, liberdade de orientação se-
xual e portadores de deficiência
	 É tradição do PV estar na vanguarda dessas questões
que no Brasil fazem parte da defesa dos direitos humanos, da
democracia e da cultura de paz.
Reconhecimento dos direitos dos povos indígenas aos meios
básicos de sua sobrevivência econômica e cultural, e a reali-
zação do seu direito à terra e de tomar suas próprias decisões.
Reconhecimento da contribuição da sua cultura ao patrimônio
universal.
	 No caso da liberdade de orientação sexual, o PV apoia
o direito ao casamento de pessoas do mesmo sexo, de adoção
de crianças por casais do mesmo sexo e quer que haja a crimi-
nalização da homofobia como já acontece com o racismo.
Quanto aos negros, o PV é o partido dos ideais de André Re-
bouças e Luís Gama.
	 A não adoção pela República das medidas de inclusão
social previstas por eles na ocasião da abolição da escravidão
no final do Império levou à situação que hoje continuamos
com o dever de reparar as sequelas do longo período da es-
cravidão. Os portadores de algum tipo de deficiência chegam
a 10% da população brasileira e só agora se inicia um processo
sistemático de inclusão social que contorne os diversos tipos
de dificuldades para sua participação ampla na vida social e
econômica do país.
8.3 Forças armadas neste novo contexto de
construção da hegemonia da cultura de paz
	 Queremos que elas fiquem caracterizadas como uma
força de autodefesa, o que é uma renúncia definitiva ao re-
curso da iniciativa de agressão a outro país. Ela deve ter uma
conexão regular com as forças de paz da ONU. Deve ser aboli-
do o serviço militar obrigatório, que pode ser substituído por
um serviço civil ou militar por livre decisão do jovem interes-
sado que esteja na idade prevista. Isto pode ser um serviço
à nação e ao mesmo tempo uma oportunidade de formação
27
VIVERBEM.VIVERVERDE
profissional para o jovem. As forças de auto-
defesa devem ser profissionais do comando
ao soldado. Devem ser requisitos dos nossos
oficiais na formação militar elementos de
engenharia e ciências naturais. O contingen-
te será reduzido. Porém, esta redução será
nas cidades e nas regiões sul e sudeste. As-
sim poderemos ter reforço nas fronteiras do
oeste e norte. Também deve ser uma função
das forças armadas o apoio ao desenvolvi-
mento da infraestrutura na Amazônia e no
nordeste. É preciso uma presença contínua
para proteção dos recursos ambientais do
nosso mar. Serão suspensas compras de avi-
ões em andamento e de investimento em
equipamentos como o submarino nuclear.
8.4 PV voltará a insistir em um
debate nacional visando uma
nova consulta plebiscitária sobre
uma legislação mais restritiva
nas vendas e porte de armas pe-
los cidadãos em geral
	 Um novo plebiscito do desarma-
mento. Julgamos que o porte de armas deve
ser monopólio das forças armadas e policiais
em serviço. É preciso uma forte repressão ao
contrabando e trafico de armas e um pro-
grama para busca e recolhimento de todas
as armas em mãos de civis. Isto certamente
facilitará a localização e isolamento dos cri-
minosos armados.
8.5 Enfrentar a economia do crime
	 Uma decisão crucial para enfrentar o tráfico de drogas
que tanto sofrimento e infelicidade tem trazido para o país é a
imediata legalização, para uso medicinal e recreativo, da maco-
nha. As outras drogas mais pesadas devem ter estratégias a ser
implementadas na sequência.
	 A política proibicionista impulsionada mundialmente
nas últimas década tem tido um efeito totalmente contrário
aos seus objetivos. O consumo não caiu e, pior, construiu indi-
retamente uma economia do crime poderosa, violenta, opres-
siva. O tráfico da maconha é um dos principais pilares desta
economia criminosa no Brasil e no mundo. Como ela é uma
droga cujos malefícios são equivalentes aos das drogas chama-
das legais, como fumo/tabaco e álcool, é por ela que devemos
começar com segurança nossa estratégia de confrontar a eco-
nomia do crime e da violência. Para nós a educação e a assis-
tência à saúde são mais eficientes do que a repressão policial.
	 Precisamos montar uma estrutura maior de apoio de
saúde para os casos mais graves e para as famílias que desejam
apoiar os jovens a se livrar de uma dependência. Fique bem
claro que o PV não apoia e nem incentiva o uso, seja do fumo,
do álcool ou da maconha. O que nós queremos é conseguir que
o uso dessas drogas, quando e se acontecer, seja o mais mode-
rado possível para preservar a saúde das pessoas e o equilíbrio
das famílias. O PV tem um projeto a este respeito tramitando
no Congresso Nacional que oferece como base para uma deci-
são neste caso.
8.6 Administração Penitenciária
	 Enquanto a educação e a melhoria das condições de
vida fazem seu trabalho de base para uma vida com menos
violência, temos uma preocupação emergencial. Como fazer a
administração penitenciária de uma forma que os culpados por
crimes paguem suas penas e sejam reintegrados ao convívio pa-
cífico dos seus concidadãos? É preciso julgar e prender, porém é
preciso recuperar, reintegrar, secando a fonte de soldados cada
28
CULTURA
DE PAZ
8.
vez mais violentos da economia do crime. 	
Um complexo penitenciário despreparado e
com baixo padrão de respeito aos direitos
humanos é uma escola do crime.
	 Fortalecer a defensoria pública. Mu-
tirões para libertar réus que já cumpriram
a pena e continuam presos (em 2013 foram
analisados 33 mil processos e concedidos 5
mil decisões entre progressão da pena, di-
reito ao trabalho externo, e pode ser feito
muito mais). Incentivar a concessão de cau-
telares diversas da prisão privativa de liber-
dade (por exemplo, monitoramento eletrô-
nico, proibição de acesso a determinados
lugares, recolhimento ao domicilio a noite
etc). 	
	 Queremos desafogar o sistema car-
cerário saturado e tornar mais justa a dosi-
metria da pena. Efetivar o direito ao traba-
lho e estudo dos apenados como uma forma
de preparar a inclusão social. Colônias para
trabalho. Manter a atual maioridade penal
em 18 anos, como estabelecido no Estatu-
to da Criança e do Adolescente, acreditando
no investimento em educação, recuperação
e em planejamento familiar. Apoio ao aco-
lhimento no serviço público e privado de
condenados por delitos leves que podem já
trabalhar nos regimes abertos e semiaber-
tos. Organizar um sistema de oportunidade
de trabalho para réus que já tenham cum-
prido pena para prevenir a reincidência (por
exemplo, potencializar o programa começar
de novo). Recuperar e reintegrar a juven-
tude que cometeu algum delito criminoso
deve ser uma obsessão do PV.
8.7 Programa nacional mais forte de preven-
ção à violência no trânsito
	 Fortalecer a segurança do pedestre e do ciclista e a di-
reção defensiva. Deter o morticínio que hoje é causado pelo
uso inseguro da motocicleta. São cerca de 40 mortes por dia
no Brasil. Comparando, já chegamos ao incrível número de um
óbito de motociclista para cada 3,5 homicídios.
8.8 Bem Estar Animal. Novo Abolicionismo
	 Além dos programas já tradicionais de preservação da
biodiversidade que tratam da proteção de animais silvestres,
há outro aspecto que afeta diretamente nossa formação para
cultura de paz. É o desrespeito e a verdadeira escravidão ani-
mal a que submetemos as espécies animais ditas domestica-
das.
	 Implementar o bem-estar dos animais no país, seja os
de produção (para consumo humano), os de estimação (geral-
mente os cães e gatos), os de trabalho, os selvagens e os de
laboratório, é um investimento que vai impactar também na
saúde pública, na saúde dos indivíduos e das comunidades, na
saúde dos próprios animais e no meio ambiente, além de favo-
recer a economia e a abertura de novos mercados. Para terem
bom nível de bem-estar, além de estarem saudáveis, os ani-
mais devem ter suas necessidades físicas e psicológicas supri-
das. Para tanto, a capacitação de profissionais que lidam com
as diferentes espécies é fundamental, bem como a fiscalização
nas diversas áreas para coibir práticas que geram sofrimento
no controle dos animais trabalhadores e os usados em pesqui-
sa.
	 Concluímos ainda este subitem com uma defesa da
adoção de uma alimentação mais saudável e pacífica. A for-
ma paradigmática deste comportamento é a alimentação ve-
getariana. Com o desenvolvimento da ciência dos alimentos
CULTURA
DE PAZ
8.
29
VIVERBEM.VIVERVERDE
e a produção agrícola, é hoje plenamente
possível alcançar um ideal de segurança
alimentar que dispense totalmente o uso
da carne na nossa dieta. É um benefício à
nossa saúde, ao meio ambiente (a pecuá-
ria é particularmente nociva e causadora
de aquecimento global) e à cultura de paz
apoiar a abolição desta escravidão e tortu-
ra dos animais domesticados.
	 É claro que a alimentação vegeta-
riana não pode, não deve e nunca será uma
imposição. É um esforço pelo exemplo,
pelo diálogo para evoluirmos progressiva-
mente para uma alimentação mais saudá-
vel e pacífica e ao mesmo tempo incentivar
mudanças na produção agrícola que garan-
tam uma segurança alimentar vegetariana
ou menos carnívora ao maior número de
pessoas que assim o desejarem.
30
DESIGUALDADE
MISÉRIA
9.
	 Como a visão ambiental, a preocu-
pação cComo a visão ambiental, a preocu-
pação com a redução das desigualdades e
a superação da miséria atravessa todos os
itens anteriores. No entanto, reconhecendo
que progredimos nestes anos de governos
democráticos, nós sabemos que nosso país
continua sendo um dos mais desiguais do
mundo, e muitos dos nossos ainda vivem
na miséria. Alguns programas neste período
democrático têm sido importantes para di-
minuir este problema e serão por nós apoia-
dos na sua continuidade.
	 O primeiro é o benefício de um sa-
lário mínimo previsto na Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) – pós-constituinte
para todos idosos e deficientes muito pobres
e que não tenham outro beneficio de segu-
ridade. Em 2011 o governo federal gastou
0,65% do PIB com este programa. Outro foi
a equiparação do piso de 1 salário mínimo
da aposentadoria rural em relação ao piso
já existente do trabalhador urbano, decisão
da Constituinte 87/88 de grande repercus-
são na zona rural do país. O terceiro é o pro-
grama chamado bolsa família, com o qual
em 2011 o governo federal gastou 0,45% do
valor do PIB daquele ano.
	 Também melhorias nas políticas
públicas saúde e educação, as ampliações
de oportunidades de trabalho e a própria
descentralização das atividades econômicas
pelo país nos últimos anos têm contribuído
para melhorar a situação das famílias mais pobres. São tendên-
cias que queremos aprofundar.
	 Nesse sentido, é nosso propósito apoiar fortemente as
redes de produção, de troca e de consumo, solidárias e susten-
táveis, que dão forma à economia solidária, da qual o coopera-
tivismo é parte fundamental. A economia solidária, como de-
fende o Prof. Paul Singer, pode ser uma via de desenvolvimento
de economia popular e sustentável.
	 Uma ideia para uma ação mais focada e mais sustentá-
vel é destinar uma parcela considerável dos créditos disponíveis
em órgãos oficiais como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econô-
mica para um grande programa de microfinanças e profissio-
nalização prioritariamente para as mulheres das famílias que
hoje recebem o bolsa família no país ou que estejam em famí-
lias perto do limiar de miséria. Estamos seguindo uma orien-
tação de Muhammad Yunus: “os pobres, uma vez capacitados
economicamente, são os lutadores mais decididos na batalha
para solucionar o problema populacional, dar um fim no anal-
fabetismo, viver vidas mais saudáveis e melhores. Quando os
formuladores de políticas finalmente se derem conta de que os
pobres são seus parceiros, em vez de espectadores ou inimigos,
progrediremos muito mais depressa que hoje”.
	 Os programas de inclusão são para libertar, dar autono-
mia, abrir novas perspectivas econômicas para as pessoas. 	
Nesse esforço de gerar empregos e perseguir o pleno empre-
go, precisamos dividir melhor o acesso ao trabalho. Queremos
reduzir de imediato a jornada de trabalho para 40 horas se-
manais e começar uma transição longa para chegarmos às 30
horas semanais.
31
VIVERBEM.VIVERVERDE
INTERNACIONALISMO10.
	 Este atual ciclo de globalização
impulsionado pela expansão dos meios de
comunicação e transportes, se bem admi-
nistrado por uma governança global, pode
trazer benefícios para todo planeta. Não é
isto que tem acontecido na verdade, pois
o poder dos mais fortes tem se sobreposto
a uma possível vontade das maiorias que
poderiam se expressar por uma democra-
cia ampliada mundialmente. Os mais fortes
têm se aproveitado da falta de regras mun-
diais que exerçam uma ação moderadora
sobre seus apetites selvagens.
	 O que precisamos para superar a
brutal e insustentável desigualdade entre
Estados Unidos da América e Etiópia, ou
entre Japão e Honduras, é uma evolução
amadurecida passo a passo por políticas
públicas internacionais em direção a uma
Federação Democrática de Nações. Isto vai
permitir a preservação da riqueza da nossa
diversidade cultural e vai permitir uma con-
vergência dos padrões de qualidade de vida
que superem a extrema riqueza e a extrema
pobreza hoje existente.
	 As duas mais importantes experi-
ências nas últimas décadas pós segunda
grande guerra de onde devemos tirar ensi-
namentos para colocar o Brasil na vanguar-
da desta construção são a ONU e a Comu-
nidade Europeia. Com todas suas limitações
e contradições, a ONU tem dado mostra
de capacidade histórica e inédita de gerar
pautas progressivas para políticas públicas.
A Comunidade Europeia vem mostrando ca-
pacidade de fechar feridas antigas e doloro-
sas de ódios seculares, caminhar para uma
convivência com diversidade e progredir na
convergência de padrões de bem estar entre os países reunidos
no seu território.
	 Apoiamos a ONU como organização global para geren-
ciar conflitos e manter a paz, ressaltando que no caso de falhas
de medidas de prevenção e nas situações de violação estrutu-
rais e maciças dos direitos humanos e/ou genocídio, o uso da
força pode ser justificado se significar o único meio de preven-
ção contra a continuidade da violação dos direitos humanos e
sofrimento, desde que a decisão e o comando sejam na ONU.
Cada nação, e mais ainda o Brasil pelo seu peso crescente no
cenário internacional, deve fazer o trabalho de desenvolvimen-
to sustentável e superação da miséria no seu território, mas ter
consciência que não há uma salvação isolada de um país. Por
mais poderoso que seja, isto é atualmente um delírio naciona-
lista e até reacionário.
	 Devemos ser um sujeito consciente e ativo neste pro-
cesso, e não ser arrastado por ele. Na construção de uma go-
vernança global o Brasil, por sua historia, pelas suas riquezas
ambientais e pelo temperamento de seu povo mestiço e cosmo-
polita, pode ter atuação destacada. São dois os nossos princi-
pais campos de atuação: cultura de paz e desenvolvimento sus-
tentável. Lembrando que estas forças caminham sempre juntas
com a defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento da
democracia. Estas são as linhas fortes do nosso trabalho na po-
lítica internacional.
	 Algumas propostas de desenvolvimento desta política:
- Metas de redução não voluntárias de emissões de gases efeito
estufa proporcionais às responsabilidades históricas e atuais.
- Metas de redução de gastos com orçamentos militares. Bani-
mento de armas atômicas.
- Metas de convergência nas obrigações trabalhistas e previden-
ciárias.
- Democratização das instâncias decisórias da ONU, inclusive
conselho de segurança.
- Prioridade para aproximação e acordo de livre comércio do
Brasil com a comunidade europeia.
- Compromisso com o desenvolvimento sustentável do conti-
nente africano.
Se uma consigna pudesse resumir as preocupações dos PVs em todos os países onde estão presentes, e particularmen-
te do PV do Brasil, que aqui trabalha por estas teses há 28 anos, poderíamos usar uma síntese baseada nos escritos e
nas vidas de homens como Thoreau, Tolstoy e Gandhi: simplicidade voluntária. Esta é a energia renovável e inesgo-
tável que move a revolução cultural verde.
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Diretrizes pv 2

  • 1. DIRETRIZES PROGRAMÁTICAS PARA O PARTIDO VERDE 2014 VIVERBEM.VIVERVERDE
  • 2.
  • 3. INTRODUÇÃO Tratamos aqui das diretrizes para elaboração de um pro- grama do PV para o Brasil/2014. Pedimos que sejam avaliadas, criticadas, corrigidas, modificadas. Elas foram escritas após re- visita aos programas do PV de 2005 e 2010 que devem ser vis- tos como uma retaguarda valida para estas diretrizes. Estas dez orientações são uma espécie de matriz para gerar um programa com propostas mais específicas em cada tema.Vejam que em cada diretriz já há exemplos de objetivos mais precisos. A ideia não é construir mais um programa en- ciclopédico, como se costuma fazer neste tipo de campanha para o executivo, que pouca gente lê. Às vezes nem o próprio candidato. Além disso, no Brasil ultimamente a maior parte dos vários programas são bem parecidos na sua maior parte. Afinal de contas, por exemplo, as três mais poderosas candida- turas atuais são da mesma família política: socialdemocracia, socialista e socialista quase marxista, todas com tempero de capitalismo liberal. O que queremos é marcar nossas diferenças nesta con- vergência para que o povo possa julgar se merecemos ou não o seu apoio. Estas correntes políticas só levavam em conta o social e o econômico, tratando o ambiental como uma fonte infinita à nossa disposição.
  • 4. O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu como proposta a partir de estudos da ONU e foi apresentado de for- ma mais acabada no encontro Rio-92. Está baseado em evidências científicas e pressu- postos éticos. Trata-se de reavaliar todas as políticas públicas, a produção e consumo de bens e serviços, enfim as formas de viver e conviver que tanto o capitalismo quanto o socialismo defenderam/implantaram nos últimos séculos. A nova proposta procura em cada ação individual ou coletiva equilibrar os fatores ecológicos/sociais/econômicos. E é um equilíbrio sempre móvel, mutável, pois a Terra está sempre em evolução, não é es- tática. Importante: não se trata de uma re- vanche ambiental, um predomínio do am- biental sobre o social e econômico, e sim uma equação equilibrada dos três fatores. Nós humanos somos a causa dos problemas, e não ha- verá solução sem a nossa participação. Estas ideias se materializaram em 1992 em três convenções que são ainda hoje os principais documentos base destas mu- danças: as convenções do Clima (trata do aquecimento global, principal desfio econômico, social e ambiental do século XXI), da Biodiversidade e de Combate à Desertificação. A elas deve- mos acrescentar a preocupação mundial com o uso da água. A necessária implementação das mudanças ocasio- nadas pelo desenvolvimento sustentável exige também uma crescente governança global e um ambiente de democracia, cultura de paz e respeito aos direitos humanos. A governança global não elimina a iniciativa local. Pelo contrário. O princípio da subsidiariedade proposto pela Igreja Católica no início do século passado é atualíssimo. Libera, es- timula a energia do cidadão para ajudar a família, desta para a comunidade, desta para a região, desta para o país e deste para o território da Terra comum. Tudo que pode ser feito no nível local deve ser feito no nível local, sempre procurando observar o horizonte global. Recentemente, um órgão brasileiro semelhante ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC - ONU), reunindo e revisando centenas de trabalhos de pes- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1. 4
  • 5. VIVERBEM.VIVERVERDE quisadores brasileiros, mostrou como a crise climática pode impactar os diversos biomas brasileiros e como é urgente a ação para pro- mover a mudança de política e hábitos dos cidadãos em geral e dos líderes políticos, sin- dicais, empresariais, intelectuais, políticos, religiosos, populares etc. Desenvolvimento sustentável não significa estagnação ou retrocesso na quali- dade de vida. Pelo contrario, é melhoria da qualidade de vida feita de forma equilibra- da, inclusive superando as inaceitáveis dife- renças extremadas no nível de vida dentro dos países e entre países. Pode sim haver necessidade do chamado “crescimento zero” em algumas regiões do mundo ou redução no padrão de consumo de setores de classes privilegiadas, mesmo em países considera- dos pobres ou em desenvolvimento como o Brasil, quando este nível de consumo for realmente insustentável e fator de opressão social e ambiental. Não é ocioso repetir que para nós a crise climática e da biodiversidade são os desafios mais importantes para a hu- manidade no século XXI. Todos os outros problemas, todas as políticas públicas devem ser revistas por este ponto de vista e rearticuladas de forma transversal a partir desta perspectiva. Nosso aparente radicalismo se baseia nas evidências científicas atuais e na coragem de falar a verdade ao nosso povo mesmo que seja para propor mudanças de hábitos, o que sempre pode trazer certo grau de sacrifício. O que o PV quer é mostrar que é possível um projeto para o Brasil que combine desenvolvimento sustentável, justiça social, cultura de paz com radicalização da democracia. 5
  • 6. 6 REFORMA POLÍTICA 2. Reforma política. Mais democracia. Política não é negócio. Política é para ser- vir. O Brasil avançou com a redemocratiza- ção após a Constituinte 87/88. Em uma área, porém há estagnação ou retrocesso a cada ano: trata-se da qualidade da política. Os partidos, as instituições representativas le- gislativas e executivas não conseguem mais dar conta do necessário diálogo com a socie- dade, cada vez mais informada, mais livre, mais exigente. Temos que decifrar desafios cada vez mais complexos e não há aparato insti- tucional na política preparado para ser es- paço de amplo diálogo e resolução pacífica de conflitos normais numa democracia. A re- forma mãe e mais urgente do momento é a reforma política para radicalizar a democra- “Como avançarmos em direção a um mundo no qual os ideais de li- berdade e igualdade possam se concretizar de forma mais satisfatória in- corporando a aceitação da diversidade como valor central num cenário que já é irreversivelmente global.” Jean Subirats / Barcelona. cia. Queremos mais democracia representativa, participativa e direta e menos corporativismo, clientelismo e burocracia cada vez mais pesada e cara. Seis pontos para mais democracia: 2.1. Nível Federal Menos parlamentares e mais trabalho parlamentar. Salário de no máximo 20 salários mínimos. Máximo de dois servidores de carreira e um de livre provimento para cada par- lamentar. Fim das verbas de gabinete. Fim de frotas de carros oficiais. Fim de emendas individuais ao orçamento. Extinção do Senado, pois a Câmara dos Deputados já garante o caráter federativo do processo legislativo quando distribui o número de vagas com um número mínimo de deputados para os es- tados menos populosos e um teto para os estados de maior população. Os estados mais populosos ficam assim sub repre- sentados, e isto é um fator necessário de coesão federativa. A Câmara Federal teria uma redução de 25% em cada bancada dos estados. Ficaríamos assim com cerca de 411 de- putados. Reorganizar o trabalho legislativo de forma a torná-lo mais concentrado, gastar menos com viagens e permitir mais contato com os estados e cidadãos. Mais qualidade em Brasília com menos quantidade e despesas. .
  • 7. 7 VIVERBEM.VIVERVERDE 2.2. Nível Estadual. Redução em 25% das bancadas esta- duais em cada estado. Salário máximo de 20 salários mínimos. Um assessor de carreira e um de livre provimento para cada parla- mentar. Fim de verbas de gabinete. Fim de frotas de veículos oficiais para parlamenta- res. 2.3. Nível Municipal Aqui buscamos a fusão da demo- cracia representativa e participativa. Aqui queremos aumento expressivo dos repre- sentantes municipais eleitos. Este deve ser o principal nível de renovação e vida política da nação, pois é o que está mais perto do povo e mais sujeito à sua influência direta e diária. Devemos aqui ter uma grande in- tegração entre democracia representativa e participativa. Fim do salário para vereador. Ser vereador é função de relevância pública. Ser vereador é uma honra para o cidadão eleito pelo povo. Ser vereador é ser um militante de causas publicas. O vereador deve exercer uma ocupação pro- fissional que lhe garanta renda e, em alguns dias da semana, conforme o tamanho da cidade, pode ter dispensa autorizada sem perda de salário e com ajuda de custo, se ficar provado que é necessário, para o exercício da vereança. O vereador deve ter a capacidade de articular um co- letivo de cidadãos voluntários que construam com ele o seu mandato. Fim das verbas de gabinetes. Fim das assessorias profissionalizadas. Fim das frotas de carros para vereadores. O importante para o parlamentar local é o contato com o povo no seu dia a dia e a disposição para estudar os problemas da cidade. A cada território com 100 mil habitantes em uma ci- dade serão organizados os conselhos de cidadãos com 50 par- ticipantes eleitos diretamente, simultaneamente à eleição dos vereadores. Terão funções integradas e complementares às Câ- maras Municipais, com participação na elaboração de projetos, de orçamento, debates sobre programas e obras prioritárias, fiscalização do executivo e diálogo com os movimentos sociais e cidadãos. Não há salário para esta função. Só como exemplo,
  • 8. 8 REFORMA POLÍTICA 2. vejam o caso de São Paulo/capital e seus parcos 55 vereadores para 11 milhões de habitantes. É um arremedo de democra- cia representativa. Com este novo sistema de democracia representativa/participativa teríamos cerca de 5.500 vereadores/conse- lheiros espalhados e acessíveis em toda a cidade. 2.4. Democracia Direta Prioridade na tramitação legislativa para as iniciativas de leis populares. Nor- mas mais flexíveis para consultas populares usando referendos e plebiscito. Explorar a possibilidade de consultas por via eletrô- nica (“internética”) para agilizar, ampliar e tornar mais sustentáveis do ponto de vista orçamentário as consultas e debates popu- lares sobre os problemas da cidade. 2.5. Voto Distrital Misto/faculta- tivo O voto distrital misto é uma forma que combina politização e transparência ideológica, aproximando o parlamento do cidadão, além de uma evidente e radical di- minuição dos gastos de campanha. As campanhas estão cada vez mais caras e dependentes do poder econômico e estatal. Esse é um dos motivos do progressivo apodrecimento dos nos- sos parlamentos. Com esta proposta, metade dos representantes seriam eleitos na lista partidária e a outra metade nos distritos eleito- rais por voto majoritário. Limite muito estrito dos gastos máxi- mos de campanha, facilitando o controle social e dos tribunais sobre os mesmos. Financiamento público de campanha permi- tindo doações de pessoas físicas com limite de valor por CPF. Voto facultativo. Voto é consciência. 2.6. Novo Plebiscito sobre o parlamentarismo Mudar radicalmente a forma de montar o poder exe- cutivo. Pode ser paradoxal falar neste reforço do poder do par- lamento exatamente neste momento em que ele é tão atacado em todo o país. Mas esta é a reforma decisiva para ampliar a democracia no Brasil e reformar profundamente o próprio par- lamento. O atual modelo de presidencialismo imperial e cen- tralizador estimula o messianismo despolitizador e regressivo. Isto é sempre perigosamente flertar com o autorita- rismo, ao mesmo tempo em que amesquinha e desmoraliza diariamente os parlamentos. O parlamento vive hoje à sombra
  • 9. 9 VIVERBEM.VIVERVERDE do executivo. Vive das sobras que caem da mesa orçamentária do presidente, governa- dor ou prefeito, que servem para alimen- tar seu apetite clientelístico e corporativo. Além de desmoralizado o parlamento, hoje é irresponsável. Afinal de contas, faça chuva ou faça sol, vá bem ou mal o nosso país, seja o exe- cutivo exitoso ou desastroso, os parlamenta- res têm os seus mandatos garantidos por 4 ou 8 anos! Não. Isto tem que acabar. Se o governo é um desastre temos que ter recursos democráticos e institucio- nais previstos no parlamentarismo para mudá-lo a qualquer momento, sem que isto signifique um dramático risco de ruptura. Executivo e parlamento podem ter os seus 4 anos de mandatos normalmente se forem bons para o país, para o estado, para o município, porém devem ser substituídos democraticamente a qualquer momento, como prevê o parla- mentarismo, se falharem gravemente nas suas tarefas. É isto que o parlamentarismo permite e o atual sistema não, salvo em raríssimos e dramáticos casos de impedimentos.
  • 10. 10 MAIS BRASIL E MENOS BRASÍLIA. FEDERAÇÃO/ESTADO 3. Nossa orientação é fortalecer a ad- ministração das políticas públicas nos mu- nicípios. A proximidade com os cidadãos abre oportunidade maior à participação e democracia direta. Garante também a ex- pressão das diversidades locais e evita per- das de transmissão de recursos no percurso federal/estadual/municipal. Facilita a arti- culação transversal de políticas e a criativi- dade e diversidade nas propostas de inclu- são social dos mais pobres. A Constituinte de 87/88 já determi- nou uma visão de reforço da atuação mu- nicipalista que não foi explorada com toda consequência por causa da resistência de Brasília em repassar poderes e orçamentos; por sua tendência em manter burocracias pesadas para dirigir programas de cima para baixo, inclusive com interesses de do- mínio e manipulação política e social. Para exercer plenamente seus pa- péis porém, os municípios devem existir de fato e não apenas como captadores de recursos federais e para manter pequenas burocracias políticas à custa dos recursos repassados. Nossa ideia é, na divisão dos recursos totais dos tributos, deslocar progressivamente e por critérios automáticos estes recursos em direção aos estados e municípios, que deverão ser avaliados na sua aplicação por in- dicadores nacionais. Os governos estaduais devem ajudar a agrupar municí- pios em regiões e consórcios para tornar mais eficientes as vá- rias políticas públicas. Queremos descentralização com gestão territorial e intersetorialidade de políticas públicas. Algumas tarefas que devem ser essencialmente mu- nicipais: Assistência social e superação da pobreza; educação infantil e fundamental; promoção, prevenção e vigilância em saúde; atenção básica e pronto atendimento em saúde; apoio e promoção de atividades de cultura, lazer e esportes; mobili- dade urbana; transporte público em quantidade suficiente e qualidade adequada de conforto, usando combustíveis mais limpos; prioridade para os pedestres; calçadas verdes e aces- síveis; apoio ao uso da bicicleta; pedágio urbano nas grandes cidades para moderar o uso de veículos individuais e gerar re- cursos novos para a expansão do transporte público; inspeção veicular cada vez mais abrangente e severa para promover a saúde e diminuir as emissões de gases efeito estufa; urbanis- mo; cidade compacta; cidade como local de convivência de trabalho/comércio/moradia/cultura/lazer e de convivência de classes sociais; desestímulo à formação de bairros e con- domínios “gueto”; respeito e expansão das áreas verdes, das áreas de preservação permanentes, renaturalização de rios e córregos e arborização urbana; urbanização das favelas e lo- teamentos precários e ao mesmo tempo prevenção rigorosa de ocupações de áreas de risco e de preservação permanentes. A crise climática tem uma urgência máxima no país: impedir que as enchentes e deslizamentos cada vez mais frequentes
  • 11. 11 VIVERBEM.VIVERVERDE desalojem e matem a população pobre das cidades. Um dos principais indicadores de avaliação dos executivos deve ser número de desabrigados e mortes por desastres climáti- cos por ano. Os governos estaduais devem ter como suas tarefas essenciais: educação mé- dia e superior; segurança pública; admi- nistração penitenciária; infraestrutura de transportes de cargas. O governo estadual, articulado com os municípios na gestão ter- ritorial, deve garantir: saúde especializada e hospitalar, transportes metropolitanos, sa- neamento básico (água/esgoto/ resíduos só- lidos), proteção ao meio ambiente e ações de promoção de uma economia e agricultura de baixo carbono. O governo federal deve ser um exem- plo de estado coordenador, nem mínimo, nem hipertrofiado pelo câncer do clientelis- mo, da burocracia excessiva da politização da ocupação dos cargos. Não pode querer administrar ou impor de cima para baixo programas ou projetos aos estados e municí- pios. Corte imediato dos gastos com cargos de con- fiança. Extinguir 50% deles. Analisar detida- mente os outros 50% para chegar, se possível, a um máximo de 10% do número atualmente usado pelo governo federal. Valorização do funcionário de car- reira e concursado. Gestão de pessoal par- ticipativa e rigorosa com metas e formação continuada, planos de carreiras, estímulos e sanções quando necessárias. Reforma imediata do “maior minis- tério do mundo”: 24 ministérios propria- mente ditos, 10 secretarias com status de ministérios e 5 ór- gãos ligados à presidência com status de ministérios. Total: 39 ministros! Proposta PV, 14 ministérios: 1) Seguridade Social (saúde e previdência). 2) Educação, Cultura e Esportes. 3) Trabalho, Desenvolvimento Social e Superação da Miséria. 4) Direitos humanos, Gênero, Nações Indígenas e Reparação das Sequelas da Escravidão. 5) Meio ambiente, Recursos Hídricos, Energia, Cidades. 6) Justiça. 7) Autodefesa. 8) Agricultura (reforma agrária, abastecimento e pesca). 9) Fazenda, Planejamento e Gestão. 10) Infraestrutura (transportes, turismo, comunicação). 11) Relações Exteriores. 12) Ciência e Tecnologia (indústria, comércio, mineração). 13) Amazônia. 14) Nordeste. Pode parecer estranho que apareçam com destaque tarefas e propostas referentes a estados e municípios, porém isto é muito necessário para uma adequada divisão de tribu- tos e para acabar de uma vez com a política de colocar de joelhos estados e municípios no altar do governo federal.
  • 12. Manter os três princípios econômi- cos adotados pelo governo do presidente Itamar Franco e pelos governos que vieram depois, comandados pelo PSDB e PT nas úl- timas décadas, de superávit primário, câm- bio flutuante e metas inflacionárias com responsabilidade fiscal. E acrescentar a es- ses princípios administrativos/econômicos metas socioambientais como critério de de- sempenho dos governos federal, estaduais e municipais. Com a vitória sobre a inflação conseguida com o Plano Real, a democracia brasileira tem conseguido avanços reais no campo social e econômico. Já o campo am- biental não tem tido a mesma sorte. É claro que o desempenho nacio- nal, mais ainda em época de intensa globa- lização, tem períodos de estímulos positivos e negativos da conjuntura internacional com reflexo nos nossos indicadores. Tam- bém o estilo de cada governo ajuda ou atra- palha o ambiente de trabalho no Brasil. Por exemplo, de estilo negativo podemos citar o uso político partidário de agências, estatais e bancos nacionais. Nos últimos anos têm 12 ECONOMIA VERDE 4. aparecido desvios como o estímulo ao consumismo insusten- tável, intervencionismo estatal, direcionamento de subsídios, estagnação na produtividade e inovação, conformismo com o sistema tributário infernalmente complexo e verdadeira penei- ra diante da sonegação. Tentativa de empurrar com a barriga a inflação pela manipulação de preços particularmente nociva para economia e para meio ambiente no caso dos combustí- veis fósseis. Dificuldades em inserir o Brasil no comércio in- ternacional. São dificuldades mas não é um fim do mundo, dá para corrigir. Dito isto, passamos a adiantar diretrizes que pre- tendem legitimamente imprimir um estilo verde na economia nacional. 4.1 Numa época em que tanto o interesse nacional quanto o interesse das demais nações deveria estar voltado para en- frentar o desafio maior da crise do aquecimento global, perda de biodiversidade e pressão sobre os limites do planeta, nosso objetivo na condução da economia é combinar a construção de um país com economia de baixo carbono com democracia, respeito à diversidade e promoção de maior igualdade. Em pri- meiro lugar, não tomaremos mais o crescimento do PIB como um parâmetro quase religioso para avaliar a vida do país. Ado- taremos em seu lugar o IDH da ONU que leva em conta três fatores no seu cálculo: evolução do PIB per capita, indicadores de educação e indicadores de saúde.
  • 13. 13 VIVERBEM.VIVERVERDE Queremos completá-lo acrescen- tando um quarto parâmetro, que é o am- biental. Por exemplo, evolução da taxa de desmatamento, ou evolução dos níveis de emissão de gás efeito estufa no país. 4.2 Vamos assumir o compromisso de não aumentar a carga tributária em percentual do PIB hoje em 36%, e estudar formas de procurar reduzi-la. 4.3 Uma empresa no Brasil gasta 2.600 ho- ras/ano para tentar processar e pagar todos os impostos. Nos outros países da América Latina, esta média fica em cerca de 300 horas/ano! Defendemos a adoção de um imposto único arrecadatório sobre movi- mentação financeira, baseado na proposta do professor Marcos Cintra, em substituição aos atuais impostos arrecadatórios federais. Ficam preservadas, claro, como prevê a pro- posta original, taxas por serviços individua- lizados, tributos com função regulatória ou fiscalizadora. O fato de termos um imposto único arrecadatório fede- ral não é impeditivo que o governo federal tenha políticas que procurem equilibrar os fatores ambientais/sociais/econômicos, pois sempre teremos um forte poder de estímulo ou deWsestí- mulo usando o poder de uma política de compras e licitações sustentáveis, por exemplo, ou revogando os subsídios para ati- vidades da antiga economia carbono intensivo. Pode se lançar mão também de CIDEs para metas específicas de indução da economia de baixo carbono ou proteção de nossa biodiversi- dade. Será negociada de forma gradual a adesão dos estados e municípios para substituição dos tributos municipais e estadu- ais pelo imposto único arrecadatório. Será adotada uma alíquota nas movimentações finan- ceiras que permita manter integralmente a atual arrecadação federal de forma não a sofrer a nação qualquer turbulência orçamentária ou prejuízo nos atuais programas e políticas pú- blicas em andamento. Esperamos uma grande economia na burocracia públi- ca e privada, o que poderá se reverter em aumento de nossa competitividade, concorrência, inovação, investimentos, mais trabalho e melhorias nos serviços oferecidos à população. É im- portante lembrar que, apesar desta economia, isto não quer dizer que não teremos um forte e profissional aparelho de fis- calização que vai herdar um corpo altamente preparado e de carreira já montado em todo Brasil para garantir a arrecadação
  • 14. 14 ECONOMIA VERDE 4. e reprimir possíveis desvios de conduta. Com o tempo e acompanhando o desempenho do tributo único arrecadató- rio federal, pode se estudar com segurança se é possível reduzir alíquotas para diminuir a carga tributária sem prejuízo da constante busca de melhoria dos serviços públicos e as- sim aumentar a competitividade nacional. 4.4 Agricultura O PV considera a agricultura uma das atividades econômicas e culturais mais importantes da humanidade. Talvez a mais essencial à nossa vida. Os métodos sustentá- veis que vão conformar a nossa nova forma de viver precisam então ser construídos por todos que trabalham com a terra. Trabalhadores rurais ou proprietá- rios pequenos, médios, grandes, muito gran- des. Todos precisam ajudar nesta transição, e o próprio cidadão consumidor terá um pa- pel decisivo neste processo pelo lado da de- manda. O PV não se recusa a dialogar a este respeito com ninguém. E sabemos que já existem avanços e mesmo empreendimentos realmente sustentáveis e até orgânicos entre os grandes. Porém, não seria transparente não dizer que o PV tem sua preferência pela agricultura familiar, pela pequena e média propriedade, pois são as modalidades que podem evoluir com mais rapidez para sustentabilidade. O PV é decididamente favorável à transição para o esti- lo orgânico de agricultura. Somos decididamente contrários ao uso de agrotóxicos que prejudiquem a biodiversidade, a saúde dos trabalhadores do campo e a saúde dos consumidores em geral. É preciso iniciar já uma transição para reduzir nossa de- pendência em relação a este tipo de insumo agrícola. Não é possível admitir crescimento à custa de danos ambientais. Uso em excesso de nitrogênio e fósforo em fertilizantes. Exploração excessiva de oceanos e rios pela pesca. O PV é decididamente favorável ao respeito à nossa legislação ambiental, mesmo tendo sido derrotado na última votação do atual Código Florestal no congresso nacional. Não vamos desistir do nosso direito de procurar melhorá-lo em no- vas rodadas legislativas, porém o que está estabelecido é para ser cumprido. Desta forma, queremos nos colocar abertos à constru- ção de consensos que, sempre respeitando os limites legais, possam significar uma evolução para uma agricultura cada vez mais limpa, mais saudável, mais competitiva no mercado brasileiro e mundial, e que garanta a segurança alimentar em quantidade e qualidade aos brasileiros. 4.5 A água é atualmente, e será no futuro, questão funda- mental para o desenvolvimento sustentável e foco de conflitos nacionais, internacionais, transnacionais. As mudanças climá- ticas afetam os recursos hídricos em todo o mundo, com secas
  • 15. 15 VIVERBEM.VIVERVERDE prolongadas, desertificação e inundações de grandes áreas. A ONU estima que, até 2025, 30% da população mundial estará enfrentan- do severa escassez de água. O Brasil, em cujo território está 12% de toda a água doce superficial do planeta e grandes aquíferos subterrâneos, tem uma responsabilidade ímpar com a proteção dos mananciais, rios, águas subterrâneas. A disponibilidade e qualidade da água para consumo, direto ou indireto (agri- cultura, agropecuária), está diretamente re- lacionada aos nossos modos de vida, práticas agrícolas, práticas de construção, aglomera- ções urbanas, geração de energia. Nosso compromisso é cuidar, com prioridade e equanimidade, dessa riqueza e garantir sua acessibilidade a todos.
  • 16. 16 A produção e uso de energia no Bra- sil representa cerca de 10% de toda a ativi- dade econômica do país, aproximadamente 300 bilhões de reais por ano, despendidos principalmente com eletricidade e deriva- dos de petróleo. O setor de energia é, portanto, um importante setor da economia. Mais do que isto, o que se faz neste setor – ou o que se deixa de fazer – tem uma importância fun- damental para um desenvolvimento susten- tável ou predatório pelas razões seguintes: - A poluição do ar nas grandes cidades de- pende criticamente dos combustíveis que se usa e de como eles são usados; - A adoção de um modelo rodoviário para transportes está estrangulando hoje as grandes cidades brasileiras; - A expansão do sistema de produção de energia elétrica está originando problemas ambientais e sociais crescentes à medida que o potencial hidroelétrico das regiões Sul-Sudeste se esgota e os novos empreen- dimentos se deslocam para a Amazônia. As termelétricas que deveriam operar de for- ma emergencial atuam hoje com altos cus- tos de importação de combustíveis fósseis; - A ênfase dada à exploração e produção de petróleo a grandes profundidades na plata- forma continental (Pré-Sal) tem o potencial de tornar o país um exportador de petróleo, mas ao mesmo tempo exaurir a capacidade de investimento da Petrobras, direcionan- do-a prioritariamente para atividades de alto risco e comprometendo todos os seus recursos financeiros quando existem outros investimentos de menor risco na área de energias renováveis. É preciso, contudo, atentar para o fato de que o con- sumo de energia “per capita” dos brasileiros é ainda de apro- ximadamente metade do consumo de países de clima ameno da Europa, como Portugal e Espanha. Não há dúvida, portanto, que na média ele terá que crescer nas próximas décadas para nos levar a um patamar de desenvolvimento comparável ao destes países e corrigir as grandes desigualdades no acesso à energia que caracterizam nosso país. É essencial também que o aumento da oferta e o consumo sejam feitos de forma eficien- te, sem comprometer nossos recursos naturais e sem ampliar as emissões de gases de efeito estufa. 5.1. Tráfego Ferroviário Para um país ao mesmo tempo altamente urbanizado e de dimensões continentais como o Brasil, o principal pro- blema estrutural no qual a energia tem impacto direto é o de transporte, tanto urbano como de longa distância. A adoção de um modelo rodoviário no Governo de Juscelino Kubitschek na década dos anos 50 do século passado teve como consequência imediata o abandono progressivo das ferrovias para transporte de cargas e a introdução tardia do metrô nos grandes centros urbanos. A única grande ferrovia em constru- ção no Brasil é a Norte-Sul, que foi iniciada há mais de 20 anos e está longe de ser concluída. Todos os países com extensão territorial parecida com o Brasil, como os Estados Unidos, a China, Rússia e Índia, man- tiveram a opção ferroviária apesar da expansão do tráfego ro- doviário que caracterizou a segunda metade do século 20. Nos Estados Unidos, apesar do seu magnífico sistema de rodovias, mais da metade do transporte de cargas é feito por tráfego fer- roviário. Reavivar e construir novas ferrovias é um objetivo que terá que ser adotado. Mais ainda, o enorme litoral do país aponta para a reativação do tráfego marítimo para o transporte de mercadorias para as regiões mais distantes do país e moder- nização dos portos. Além disso, o tráfego ferroviário pode, em boa parte, ENERGIA5.
  • 17. 17 VIVERBEM.VIVERVERDE ser eletrificado, o que é uma vantagem adi- cional para um país como o Brasil. Além de mais eficiente no seu uso, energia elétrica é produzida de fontes renováveis de eletrici- dade (em sua maioria hidroelétrica) em con- traste com os outros países, que usam deri- vados de petróleo como combustível, muito mais poluentes. 5.2. Hidroeletricidade O Brasil tem um potencial de gera- ção de cerca de 250 milhões de quilowatts de eletricidade, dos quais um terço já está sendo utilizado. A capacidade instalada tem crescido cerca de 4000 quilowatts por ano. Do ponto de vista técnico, é possível dobrar o potencial utilizado, o que permitiria para os próximos 20 anos manter a expansão da produção de energia hidroelétrica num nível satisfatório. O problema é que esta expansão poderá ocorrer na Região Amazônica, o que gera conflitos de natureza social e ambiental. E exige um desenvolvimento técnico especial para não degradar um bioma tão complexo. A construção de usinas afeta a popu- lação local, sobretudo quando grandes lagos são formados como reservatórios de água para permitir o funcionamento da usina nos períodos do ano em que não chove. Frequen- temente 10 ou 20 mil pessoas são afetadas e têm que ser deslocadas. Há também proble- mas ambientais decorrentes das obras reali- zadas e da indução da ocupação no entorno do empreendimento. Por outro lado, cada milhão de qui- lowatts instalado numa hidroelétrica gera eletricidade suficien- te para atender às necessidades de pelo menos dois milhões de pessoas, que em geral vivem a milhares de quilômetro da usina geradora.Há aqui um claro conflito e a necessidade de tomar decisões difíceis. Sucessivos governos se revelaram incapazes de resolver estes problemas. Só um planejamento criterioso, que se debruce sobre todos os lados do problema, pode resolver estes conflitos. Uma possibilidade é sempre negociar e implantar as compensações ambientais e sociais antes e só depois iniciar a construção de novas usinas hidroelétricas licenciadas. 5.3. Eficiência Energética A eficiência dos equipamentos que usam energia no país é, de modo geral, inferior à dos similares usado no ex- terior. Automóveis consomem mais de 1 litro de combustível para percorrer 7 ou 8 quilômetros quando poderiam cobrir o dobro dessa distância com a mesma quantidade de energia. O mesmo ocorre em geladeiras que consomem o dobro de eletri- cidade do que congêneres estrangeiras ou fogões a gás e outros utensílios domésticos que têm desempenho ineficiente. A adoção de automóveis e ônibus elétricos é desesti- mulada e o uso da bicicleta tem importância subestimada. O que se impõe aqui é introduzir novos equipamentos e modelos mais eficientes, retirando do mercado, ao longo do tempo, os menos eficientes. Isto é feito através de normas, leis e regu- lamentos que gradualmente exijam padrões de desempenho cada vez melhores. Tais procedimentos foram introduzidos em 1980 na Califórnia, que hoje é o estado com melhores índices de eficiência nos Estados Unidos. O consumo de eletricidade naquele estado é cerca da metade do consumo “per capita” no país como um todo. No Brasil a Lei 10.295 de 2002 permite adotar procedi- mentos similares, mas até hoje eles têm sido introduzidos, com poucas exceções, como voluntários. Há uma resistência das in- dústrias para que estes se tornem mandatórios. Essa introdução deve ser gradual e não necessita de
  • 18. 18 recursos orçamentários (como é o caso da construção de hidroelétricas ou ferrovias), mas apenas de vontade política e decisão de implementar a Lei. 5.4.Energia Elétrica Problemas conjunturais foram cria- dos nos últimos anos por decisões políticas. Eles precisam ser resolvidos para permitir que os problemas estruturais possam ser melhor equacionados. Os principais proble- mas na área energética são os leilões para construção de novas usinas para geração de eletricidade, a renovação das concessões e a administração dos preços de venda de deri- vados do petróleo. Desde 2004 o Governo Federal, atra- vés da EPE (Empresa de Planejamento Ener- gético), tem feito leilões para a construção de novas usinas geradoras com a finalidade de expandir o sistema. Por opção política, foi adotada a regra de fazer com que todas as formas de energia (hidroelétrica, térmica, eólica, bio- massa) competissem em igualdade de condi- ções nos leilões com um preço máximo (para o quilowatt/hora) fixado pela EPE. A justifica- tiva para tal procedimento é aparentemente beneficiar o consumidor, já que competição levaria à queda de preços, garantindo a “mo- dicidade tarifária”. Na prática o resultado é que todas as fontes alternativas às hidroelétricas foram excluídas da competição. Só mais recente- mente fontes de energia eólica começaram a competir devido ao fato de haver um excesso de oferta de equipamentos e uma redução na demanda de equipamentos devido à crise econômica global. O procedimento usado pela EPE não se justifica porque não é possível produzir energia elétrica sem aten- tar para suas especificidades tecnológicas locacionais e operacionais. Como as tecnologias envolvidas são diferen- tes, resultam em impactos socioambientais diferentes. O procedimento correto seria a realização de lei- lões regionais e estabelecer preços máximos diferentes para cada fonte (eólica, biomassa, gás etc). Gradativamente estes preços máximos deveriam cair para os leilões realiza- dos a cada ano, encorajando a competição e abrindo espa- ço para energias renováveis. As novas fontes, mais limpas, precisam de subvenções em seus estágios iniciais de matu- ração. Essa é uma forma mais racional de se aplicar recur- sos públicos, comparativamente à ênfase nos combustíveis fósseis. Outro problema conjuntural foi a decisão do go- verno federal de antecipar a renovação das concessões de usinas hidroelétricas previstas para os próximos anos, des- de que a tarifa de venda de energia ao consumidor fosse reduzida em 20%. A medida foi considerada demagógica e levou as empresas do sistema Eletrobrás à insolvência, sen- do necessários recursos do Tesouro Nacional para viabilizá- -las. No fundo, a população em geral (através dos impostos) pagou pelos descontos que os consumidores recebiam, fa- vorecendo claramente as indústrias intensivas no consumo de eletricidade. O procedimento correto deveria ter sido esperar que as concessões se esgotassem (geralmente num prazo de 30 anos) e que o governo as licitasse novamente, es- timulando a concorrência entre os atuais detentores das concessões e novos competidores. Isso certamente levaria à redução permanente das tarifas. ENERGIA5.
  • 19. 19 VIVERBEM.VIVERVERDE 5.5. Petróleo e Etanol O entusiasmo nacionalista gerado com a descoberta de campos de petróleo com grandes reservas na camada de pré-sal fez com que o governo federal deixasse de reali- zar novos leilões para exploração desde 2008, com a expectativa que a Petrobras o fizesse. Esta política se revelou equivocada porque a capacidade de investimento da Pe- trobras não foi suficiente para arcar com os investimentos que são necessários e manter os atuais campos em produção. Com isso caiu a produção, o que, com- binado com atrasos na construção de novas refinarias, levou a Petrobras a importar petró- leo e derivados. Além disso, o governo admi- nistra os preços de venda do diesel e gasolina e não tem permitido que eles acompanhem o aumento do custo de petróleo importado. A justificativa para tal política é a ne- cessidade de combater a inflação, o que levou a Petrobrás a vender derivados de petróleo a preços inferiores aos que paga por eles no exterior. O resultado foi um endividamento crescente e uma queda vertiginosa do valor das suas ações. Além disso, a Petrobras vem adquirindo grandes quantidades de gás natu- ral liquefeito no mercado “spot” a preços mais altos que os dos fornecimentos normais para operar termoelétricas. Uma consequência colateral da políti- ca de preços artificiais da gasolina foi a “asfi- xia” da produção de etanol da cana de açúcar, uma vez que os preços de venda do produto são indexados aos da gasolina e se mantêm constantes desde 2007. Isso é totalmente irrealista, já que os outros insumos usados na produção do álcool (como fertilizan- tes) aumentaram de preço, acompanhando a elevação dos cus- tos do petróleo no exterior. A solução para estes problemas é adotar uma política realista de preços, que acompanhe o custo real do petróleo no exterior. As consequências inflacionárias destes aumentos - se forem reais – precisariam ser compensadas por outras medidas antinflacionárias que não levem à deterioração das contas da Petrobrás e à destruição do Programa do Álcool. O maior programa de energia renovável do mundo, que é o uso do Etanol, deve ser apoiado e não estrangulado como está sen- do. 5.6. “Descarbonização” da matriz energética A “descarbonização” da matriz energética significa, ba- sicamente, a substituição das fontes que emitem mais carbono (especialmente CO2) para cada unidade de energia final por ou- tras menos emissoras. As fontes renováveis (hidráulica, eólica, solar, biomassa moderna) são as mais “limpas” nesse sentido e, por definição, não exauríveis. Assim, além de poluírem menos, elas têm seu fornecimento perene, aumentando a segurança energética e reduzindo a dependência de custosas importações. Os países desenvolvidos e alguns emergentes (como a China) reconhecem esse valor estratégico, aliado aos benefícios da criação de mais empregos e de competitividade econômica. Hoje, além de suprirem suas necessidades com essas fontes, ex- portam equipamentos e serviços, melhorando seus balanços de pagamento. O rápido desenvolvimento tecnológico dos novos reno- váveis foi alavancado por políticas racionais, que subsidiaram esses sistemas durante sua maturação. Hoje, muitos já são com- petitivos com o petróleo, carvão e gás natural, a ponto de paí- ses da OPEP se preocuparem com tal concorrência e passarem também a desenvolver sistemas renováveis. O Brasil possui uma matriz altamente renovável, mas
  • 20. 20 esta prevalência está sendo ameaçada pela desindustrialização (que afeta equipamen- tos), pelos subsídios à gasolina (que afetam a cadeia do etanol e bioenergia) e pela prio- rização da exploração do petróleo (em de- trimento de outras formas de infraestrutura energética mais descentralizadas, resilientes e limpas como a solar e a eólica). O Brasil tem natureza para ser o campeão mundial de energia solar. Não pode se conformar, em uma copa do mundo de energia solar, em ser desclassificado nas eliminatórias e ver outros menos aquinhoa- dos pela natureza, como Alemanha e China, jogarem a final da competição. 5.7. As perspectivas do Pré-Sal À medida que as reservas “tradicio- nais” de petróleo se esgotam – como está ocorrendo com os poços da Petrobras na Bacia de Campos – as empresas petrolíferas procuram desenvolver técnicas para retirar petróleo de reservas “não tradicionais” como areia asfáltica no Canadá ou exploração em grandes profundidades. O petróleo “não con- vencional” é mais difícil de produzir e conse- quentemente o seu custo é mais elevado. A estratégia de todas as empresas de petróleo é a de que o preço elevado justifica exploração em áreas mais difíceis. Em outras palavras, elas acreditam que a demanda por petróleo vai continuar a aumentar, e que com isso os preços do petróleo vão também aumentar, e isto justifica a procura de petró- leo mais problemático e mais caro. Esta estratégia enfrenta três desafios sérios: - Problemas técnicos e econômicos, - Problemas ambientais e - Alternativas ao uso de petróleo. No Brasil a Petrobras concentra seus esforços nos de- pósitos chamados de Pré-Sal, situados a grandes profundida- des (mais de cinco quilômetros) debaixo de uma camada de sal de cerca de dois quilômetros de espessura. Os problemas técnicos e econômicos do Pré-Sal são imensos e o fracasso das tentativas de Eike Batista em produ- zir petróleo ilustram bem estas dificuldades. Localizar petróleo nas profundezas do oceano é uma coisa, trazê-lo para a super- fície e leva-lo até uma refinaria é outra. O otimismo permanen- te da Petrobras de que todos estes problemas vão ser resolvidos não ajuda muito, nem a falta de transparência sobre os custos do petróleo produzido. Estimativas não oficiais dão conta de que eles seriam superiores a 50 dólares por barril produzido. Em comparação, petróleo “convencional” custa menos de 10 dólares por barril para se produzir e o fato de ser vendido a mais de 100 dólares por barril é consequência de acordos po- líticos e comerciais dos países produtores que fazem parte da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Os problemas ambientais da exploração de petróleo em grandes profundezas são na realidade “terra incógnita”. Não há muita experiência prévia das companhias internacio- nais nesta área e a liderança da Petrobras em exploração em águas profundas traz consigo problemas novos. Prudência e humildade seriam uma boa estratégia a seguir. Quanto a acidentes na produção de petróleo, é útil comparar a experiência dos Estados Unidos, Noruega, Inglater- ra e Brasil. As empresas de petróleo classificam acidentes em várias cate- gorias: - Segurança ocupacional - Colisões - Pequenos incêndios - Perda total de poços de petróleo Os Estados Unidos, devido ao acidente da Britsh Petro- leum no Golfo do México, têm o pior desempenho em todas ENERGIA5.
  • 21. 21 VIVERBEM.VIVERVERDE as categorias. O Brasil, contudo é o pior em colisões e pequenos incêndios. A Noruega é melhor líder em segurança. Custos elevados na produção de petróleo “não convencional” são o “calcanhar de Aquiles” desta estratégia e podem justamente inviabilizá-la porque tornam mais competitivas as alternativas ao petróleo. Quais são estas alternativas? - Gás de xisto, que está sendo produzido em grandes quantidades e a baixo custo nos Es- tados Unidos e que está levando a uma re- dução de importações de petróleo daquele país. Com mais petróleo disponível no mun- do, seu custo deverá cair, embora a um pre- ço ambiental muito mais alto, especialmente no caso da extração do gás do xisto, que é altamente danoso aos recursos hídricos mais valiosos que o combustível fóssil. - Automóveis elétricos ou híbridos que usam eletricidade substituindo derivados de petró- leo. Eletricidade pode ser produzida usando hidroelétricas ou energia solar e eólica, re- duzindo também as importações de petróleo dos Estados Unidos e países da Europa. - Aumento da eficiência dos motores usados na indústria automobilística, que também está ocorrendo desde 1980. Tanto a União Europeia como os Estados Unidos fixam de tempos em tempos a quilometragem média que os veículos automotores devem atingir. Por exemplo, nos Estados Unidos ela foi fixa- da em 10,6 quilômetros por litro em 1975, deverá atingir 16,6 quilômetros por litros em 2016 e 23 quilômetros por litro em 2025. Com isso, se a frota não aumentar muito, o consumo de derivados de petróleo diminui. - A produção de biocombustíveis como eta- nol da cana de açúcar no Brasil e de milho nos Estados Uni- dos. Hoje, eles substituem 3% do petróleo que é consumido no mundo, mas esta percentagem poderá facilmente atingir 10%. Há aqui uma grande oportunidade para o Brasil exportar sua tecnologia de produção de cana de açúcar e de produção de etanol, que já atingiu um elevado nível de produtividade. Em conclusão, o que se pode dizer é que grandes em- preendimentos em petróleo como o Pré-Sal têm grandes riscos. O que a prudência recomenda é que a Petrobras deveria tentar reduzir os seus custos e riscos com outras empresas petrolíferas mundiais com experiência nesta área. Contudo, o que estamos presenciando nas políticas adotadas pelo governo brasileiro na área de petróleo desde 2008 é exatamente o oposto. A Petrobras ficou sozinha na ex- ploração do Pré-Sal, endividando-se enormemente ao ponto de suas ações terem perdido cerca de 80% do seu valor nos últimos anos. Contribui para isto o congelamento dos preços de deriva- dos de petróleo, o que levou a empresa a vender gasolina com prejuízo e, no processo, asfixiando o Programa do Álcool de cana de açúcar. Só em 2013 foi realizado um leilão para exploração no Pré-Sal, com resultados pouco encorajadores e cujas consequ- ências ainda é cedo demais para avaliar. Este não é o caminho a seguir e uma correção de rumos torna-se cada vez mais urgente. Obs: todo o item 5 e seus subitens estão baseados de forma livre em textos do Prof. José Goldemberg. Em Tempo: Na questão nuclear nossa diretriz é a tra- dicional do PV em todo o mundo, somos contrários. Não queremos sua expansão no Brasil e queremos que se programe a desativação das usinas existentes no litoral do Rio de Janeiro.
  • 22. 22 PREVIDÊNCIA SEGURA 6. O orçamento federal tem uma arre- cadação em tributos correspondente a 36% do PIB. Ele gasta quase 7% do PIB em be- nefícios do INSS para a população em geral e quase 4% do PIB na previdência do setor público federal, e não estamos levando em conta os gastos estaduais e municipais. Associem este dado, que reflete um quadro de flagrante desigualdade de direi- tos, com a transição demográfica que levará a uma presença cada vez maior de idosos com mais expectativa de vida. Esperamos que seja mais vida saudável e ativa. A rela- ção aposentado/trabalhador ativo tende ao equilíbrio e depois se inverterá. Nós já tí- nhamos conhecimento destes dois fatos há pelo menos duas décadas. Infelizmente os últimos governos e congressos não prepararam uma transição mais suave no final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado. Alguns ajustes foram feitos nos governos PSDB e PT, porém são insuficientes diante da extensão do pro- blema social e econômico que viveremos se não agirmos já. Nossa proposta é preservar os direitos adquiridos do setor público e privado legalmente constituídos e criação, para todos novos contratados dos setores público e privado, de um regime básico único de previdência nacional. Para todos, quer dizer para todos: alto burocrata, deputado, camponês ou em- presário. O regime único usará o atual regime do INSS como ponto de partida, mantendo os tipos possíveis de aposentado- ria - por contribuição, idade, invalidez, especial em casos de profissões insalubres e perigosas. Podem ser necessários ajustes quanto a tempo de con- tribuição e idades mínimas. Queremos estudar a possibilidade de aumentar o teto máximo da aposentadoria, passando do atual, aproximadamente 6 vezes o salário mínimo, para 10 ve- zes o salário mínimo. Acima do teto de 10 salários mínimos o cidadão deve buscar participar de previdência complementar se for o caso. Além dos aspectos econômicos/orçamentários, insisti- mos no aspecto da justiça. Este novo formato certamente será um fator de coesão nacional e reconhecimento de vivermos num país mais justo e mais igualitário. Não é fácil falar isto, porém não falar é ser conivente com a desigualdade atual e omisso com o futuro da relação trabalho/aposentadoria no país.
  • 23. 23 VIVERBEM.VIVERVERDE SAÚDE E EDUCAÇÃO 7. O PV quer se comprometer com os atuais movimentos da sociedade civil que lutam por mais recursos para as políticas públicas de saúde e educação. As duas áreas terão, junto com os estímulos à economia de baixo carbono e de combate ao aqueci- mento global (agricultura mais limpa, com- bate ao desmatamento, energias renováveis, transporte público limpo), a prioridade nos recursos que remanejarmos no orçamento, os que vamos conseguir com a reforma tri- butária do imposto único arrecadatório fe- deral e os que vamos recuperar com cortes nos gastos públicos que faremos com uma política de maior austeridade em Brasília. Porém não queremos ficar numa floresta de prioridades comuns em programas partidá- rios e eleitorais particularmente nestas áre- as. Queremos apontar as árvores da floresta que serão prioritariamente apoiadas, pelo menos no início do processo. 7.1 Carreira nacional para professores e profis- sionais de saúde. Numa primeira etapa a carreira estará disponível na educação para os professores do ensino fundamental e na saúde para os profissionais que atuam no programa saúde da família (agentes comunitários, enfermeiras e médicos). É uma carreira nacional. Não é federal. Poderão aderir servidores pú- blicos de estados e municípios que queiram participar do pro- grama e mesmo trabalhadores das entidades que trabalham para a rede pública de alguma maneira regular. As entidades parceiras do PSF participarão desde o início. Haverá um piso nacional para os profissionais, que podem ter adicionais municipais, estaduais ou federais por trabalharem em locais de mais difícil acesso e mais precárias condições de vida. O governo federal coordenará, a cada 5 anos, concursos de acesso de maneira que os profissionais vão subindo de nível, se aprovados, podendo chegar até um nível 6 máximo das suas respectivas carreiras. O pagamento é garan- tido por um fundo nacional específico, para onde são destina-
  • 24. 24 SAÚDE E EDUCAÇÃO 7 dos recursos federais, estaduais, municipais devidamente acordados e proporcionais ao número de profissionais incluídos. Esperamos que este grande conjunto de trabalhadores de saúde e educação, além das condições dignas de salários, trabalho e boa formação, sejam um fator decisivo de co- esão e solidariedade nacional. E deverão ter o devido respeito e reconhecimento por isto. São uma esperança de difusão de valores e exemplo pela sua postura, capazes de inspi- rar as novas gerações que terão contato com eles. 7.2. O currículo do ensino funda- mental Deve, ao lado dos conteúdos tradi- cionais, dar mais destaque para formação de valores, inclusive o valor do trabalho, da solidariedade, do respeito à diversidade, a observação da natureza e música. 7.3. O orçamento da saúde dará ênfase aos aspectos de educação para promoção e prevenção na saúde É preciso que as próprias pessoas assumam de forma autônoma e informada suas responsabilidades com sua própria saú- de e de sua família. É preciso que as outras políticas públicas assumam também suas responsabilidades neste campo da atenção a saúde. Por exemplo, no caso do transporte, reduzindo a poluição do ar proveniente de veículos que usam diesel e gasolina e circulam muitas vezes desregulados pelas cidades. Por exemplo, na agricultura, pro- duzindo alimentos orgânicos e saudáveis e na indústria de ali- mento adotando limites adequados de açúcar, sal e gorduras. Isto é também uma questão orçamentária que visa regular o crescimento teoricamente infinito das demandas por atenção à saúde. Nossas prioridades neste campo são hipertensão, dia- betes, obesidade, vida saudável para os idosos, poluição do ar, violência, dependência de drogas legais ou ilegais. 7.4 Planejamento Familiar É um direito básico e precisa ser ofertado extensa e generosamente a todas as pessoas. Está incluída a opção por esterilização voluntaria. Além de ser um elemento de estabi- lidade familiar, tem implicações no aumento da autonomia feminina e na redução dos índices de pobreza e violência. É um direito constitucional. 7.5. A interrupção da gravidez não é planeja- mento familiar É falta ou falha do planejamento. É uma questão muito difícil, pois envolve aspectos religiosos e filosóficos que devemos respeitar. Nós não estimulamos a prática do aborto, pois ele é sempre traumático para a mulher que se vê obrigada a praticá-lo e traumático também para seu companheiro se a ama de verdade. Porém nós não podemos ignorar esta reali- dade de sofrimento de muitas mulheres que por algum motivo muito forte recorrem a ele a cada ano. Nós não concordamos em criminalizá-las. Por isto queremos a legalização do procedimento, es- tabelecendo regras e limites de idade gestacional numa lei, mas que permita à mulher e seu companheiro seguirem este caminho com segurança. Profissionais de saúde e instituições podem, por razões filosóficas e religiosas, se abster de oferecer
  • 25. 25 VIVERBEM.VIVERVERDE Nota: Médicos estrangeiros. O recente programa de importação de médicos estrangeiros é a mais com- pleta confissão do Ministério da Educação em seu fracasso de prover os profissionais que o SUS preci- sa para continuar sua tarefa de expandir a atenção a saúde a todas as classes sociais do país. Passados já mais de 25 anos do início da implan- tação do SUS, esta que é certamente a maior re- forma social induzida pela Constituinte 87/88, que visa garantir o direito à assistência à saúde a todos os brasileiros, o sistema universitário nacional não teve a capacidade de formar o médico especializa- do na saúde da família que nós tanto precisamos. Assim nós encaramos esta importação como uma medida emergencial e de fôlego curto. Precisamos da formação de médicos generalistas e precisamos de uma carreira nacional que priorize os médicos de saúde da família. Depois a carreira pode ser estendida a outras especialidades, mas deve começar pelos médicos saúde da família. Quanto aos “médicos importados”, agradecemos sua ajuda ao Brasil. Queremos que eles sejam bem tratados, gostem do nosso país, façam a va- lidação de seus cursos e se desejarem entrem na nossa futura carreira nacional e fiquem morando nas nossas cidades. Sobre os médicos cubanos, va- mos tratá-los com o mesmo respeito e gratidão que devemos aos médicos portugueses, argentinos ou espanhóis. E vamos, é claro, pagar os mesmos salá- rios. O que eles vão fazer com o dinheiro é decisão deles. O que não faremos é ser coniventes com um tipo moderno de escravidão o serviço, desde que previamente comunica- do à autoridade sanitária local. Nossa pro- posta para reduzir ao máximo o número de abortos é a oferta ampla do planejamento familiar, a educação sexual nas escolas e o fortalecimento das ligações familiares a car- go de cada um dos cidadãos no âmbito de suas famílias.
  • 26. 26 CULTURA DE PAZ 8. A democracia, o respeito aos direi- tos humanos e a cultura de paz são os com- ponentes necessários para um ambiente onde o desenvolvimento sustentável pode prosperar. A superação da hegemonia da cultura da violência pela hegemonia da cultura de paz nas relações das pessoas, classes sociais, religiões, etnias ou nações é uma revolução tão profunda quanto a revolução verde do desenvolvimento sus- tentável. É sua irmã legítima e inseparável. 8.1 Carta da Terra No ano 2000 a ONU lançou o do- cumento Carta da Terra. É um guia ético e moral para convivência entre humanos e entre humanos e o planeta onde eles vivem e convivem com milhões de outras espécies. Usar a Carta da Terra como mate- rial básico nas escolas é o seu uso mais co- mum que devemos adotar em larga escala. Mas nós queremos mais. Queremos que o Congresso Nacional debata seu conteúdo e, se concordar com o mesmo, incorpore como um documento anexo à nossa Cons- tituição. Quando a ONU foi criada 1945 ti- nha como metas: a paz mundial, proteger os direitos humanos e promover a coope- ração para o desenvolvimento social e eco- nômico. A Carta da Terra vem completar este conjunto com a preocupação ambien- tal e reúne em um documento os quatro objetivos. 8.2 Índios, negros, liberdade de orientação se- xual e portadores de deficiência É tradição do PV estar na vanguarda dessas questões que no Brasil fazem parte da defesa dos direitos humanos, da democracia e da cultura de paz. Reconhecimento dos direitos dos povos indígenas aos meios básicos de sua sobrevivência econômica e cultural, e a reali- zação do seu direito à terra e de tomar suas próprias decisões. Reconhecimento da contribuição da sua cultura ao patrimônio universal. No caso da liberdade de orientação sexual, o PV apoia o direito ao casamento de pessoas do mesmo sexo, de adoção de crianças por casais do mesmo sexo e quer que haja a crimi- nalização da homofobia como já acontece com o racismo. Quanto aos negros, o PV é o partido dos ideais de André Re- bouças e Luís Gama. A não adoção pela República das medidas de inclusão social previstas por eles na ocasião da abolição da escravidão no final do Império levou à situação que hoje continuamos com o dever de reparar as sequelas do longo período da es- cravidão. Os portadores de algum tipo de deficiência chegam a 10% da população brasileira e só agora se inicia um processo sistemático de inclusão social que contorne os diversos tipos de dificuldades para sua participação ampla na vida social e econômica do país. 8.3 Forças armadas neste novo contexto de construção da hegemonia da cultura de paz Queremos que elas fiquem caracterizadas como uma força de autodefesa, o que é uma renúncia definitiva ao re- curso da iniciativa de agressão a outro país. Ela deve ter uma conexão regular com as forças de paz da ONU. Deve ser aboli- do o serviço militar obrigatório, que pode ser substituído por um serviço civil ou militar por livre decisão do jovem interes- sado que esteja na idade prevista. Isto pode ser um serviço à nação e ao mesmo tempo uma oportunidade de formação
  • 27. 27 VIVERBEM.VIVERVERDE profissional para o jovem. As forças de auto- defesa devem ser profissionais do comando ao soldado. Devem ser requisitos dos nossos oficiais na formação militar elementos de engenharia e ciências naturais. O contingen- te será reduzido. Porém, esta redução será nas cidades e nas regiões sul e sudeste. As- sim poderemos ter reforço nas fronteiras do oeste e norte. Também deve ser uma função das forças armadas o apoio ao desenvolvi- mento da infraestrutura na Amazônia e no nordeste. É preciso uma presença contínua para proteção dos recursos ambientais do nosso mar. Serão suspensas compras de avi- ões em andamento e de investimento em equipamentos como o submarino nuclear. 8.4 PV voltará a insistir em um debate nacional visando uma nova consulta plebiscitária sobre uma legislação mais restritiva nas vendas e porte de armas pe- los cidadãos em geral Um novo plebiscito do desarma- mento. Julgamos que o porte de armas deve ser monopólio das forças armadas e policiais em serviço. É preciso uma forte repressão ao contrabando e trafico de armas e um pro- grama para busca e recolhimento de todas as armas em mãos de civis. Isto certamente facilitará a localização e isolamento dos cri- minosos armados. 8.5 Enfrentar a economia do crime Uma decisão crucial para enfrentar o tráfico de drogas que tanto sofrimento e infelicidade tem trazido para o país é a imediata legalização, para uso medicinal e recreativo, da maco- nha. As outras drogas mais pesadas devem ter estratégias a ser implementadas na sequência. A política proibicionista impulsionada mundialmente nas últimas década tem tido um efeito totalmente contrário aos seus objetivos. O consumo não caiu e, pior, construiu indi- retamente uma economia do crime poderosa, violenta, opres- siva. O tráfico da maconha é um dos principais pilares desta economia criminosa no Brasil e no mundo. Como ela é uma droga cujos malefícios são equivalentes aos das drogas chama- das legais, como fumo/tabaco e álcool, é por ela que devemos começar com segurança nossa estratégia de confrontar a eco- nomia do crime e da violência. Para nós a educação e a assis- tência à saúde são mais eficientes do que a repressão policial. Precisamos montar uma estrutura maior de apoio de saúde para os casos mais graves e para as famílias que desejam apoiar os jovens a se livrar de uma dependência. Fique bem claro que o PV não apoia e nem incentiva o uso, seja do fumo, do álcool ou da maconha. O que nós queremos é conseguir que o uso dessas drogas, quando e se acontecer, seja o mais mode- rado possível para preservar a saúde das pessoas e o equilíbrio das famílias. O PV tem um projeto a este respeito tramitando no Congresso Nacional que oferece como base para uma deci- são neste caso. 8.6 Administração Penitenciária Enquanto a educação e a melhoria das condições de vida fazem seu trabalho de base para uma vida com menos violência, temos uma preocupação emergencial. Como fazer a administração penitenciária de uma forma que os culpados por crimes paguem suas penas e sejam reintegrados ao convívio pa- cífico dos seus concidadãos? É preciso julgar e prender, porém é preciso recuperar, reintegrar, secando a fonte de soldados cada
  • 28. 28 CULTURA DE PAZ 8. vez mais violentos da economia do crime. Um complexo penitenciário despreparado e com baixo padrão de respeito aos direitos humanos é uma escola do crime. Fortalecer a defensoria pública. Mu- tirões para libertar réus que já cumpriram a pena e continuam presos (em 2013 foram analisados 33 mil processos e concedidos 5 mil decisões entre progressão da pena, di- reito ao trabalho externo, e pode ser feito muito mais). Incentivar a concessão de cau- telares diversas da prisão privativa de liber- dade (por exemplo, monitoramento eletrô- nico, proibição de acesso a determinados lugares, recolhimento ao domicilio a noite etc). Queremos desafogar o sistema car- cerário saturado e tornar mais justa a dosi- metria da pena. Efetivar o direito ao traba- lho e estudo dos apenados como uma forma de preparar a inclusão social. Colônias para trabalho. Manter a atual maioridade penal em 18 anos, como estabelecido no Estatu- to da Criança e do Adolescente, acreditando no investimento em educação, recuperação e em planejamento familiar. Apoio ao aco- lhimento no serviço público e privado de condenados por delitos leves que podem já trabalhar nos regimes abertos e semiaber- tos. Organizar um sistema de oportunidade de trabalho para réus que já tenham cum- prido pena para prevenir a reincidência (por exemplo, potencializar o programa começar de novo). Recuperar e reintegrar a juven- tude que cometeu algum delito criminoso deve ser uma obsessão do PV. 8.7 Programa nacional mais forte de preven- ção à violência no trânsito Fortalecer a segurança do pedestre e do ciclista e a di- reção defensiva. Deter o morticínio que hoje é causado pelo uso inseguro da motocicleta. São cerca de 40 mortes por dia no Brasil. Comparando, já chegamos ao incrível número de um óbito de motociclista para cada 3,5 homicídios. 8.8 Bem Estar Animal. Novo Abolicionismo Além dos programas já tradicionais de preservação da biodiversidade que tratam da proteção de animais silvestres, há outro aspecto que afeta diretamente nossa formação para cultura de paz. É o desrespeito e a verdadeira escravidão ani- mal a que submetemos as espécies animais ditas domestica- das. Implementar o bem-estar dos animais no país, seja os de produção (para consumo humano), os de estimação (geral- mente os cães e gatos), os de trabalho, os selvagens e os de laboratório, é um investimento que vai impactar também na saúde pública, na saúde dos indivíduos e das comunidades, na saúde dos próprios animais e no meio ambiente, além de favo- recer a economia e a abertura de novos mercados. Para terem bom nível de bem-estar, além de estarem saudáveis, os ani- mais devem ter suas necessidades físicas e psicológicas supri- das. Para tanto, a capacitação de profissionais que lidam com as diferentes espécies é fundamental, bem como a fiscalização nas diversas áreas para coibir práticas que geram sofrimento no controle dos animais trabalhadores e os usados em pesqui- sa. Concluímos ainda este subitem com uma defesa da adoção de uma alimentação mais saudável e pacífica. A for- ma paradigmática deste comportamento é a alimentação ve- getariana. Com o desenvolvimento da ciência dos alimentos CULTURA DE PAZ 8.
  • 29. 29 VIVERBEM.VIVERVERDE e a produção agrícola, é hoje plenamente possível alcançar um ideal de segurança alimentar que dispense totalmente o uso da carne na nossa dieta. É um benefício à nossa saúde, ao meio ambiente (a pecuá- ria é particularmente nociva e causadora de aquecimento global) e à cultura de paz apoiar a abolição desta escravidão e tortu- ra dos animais domesticados. É claro que a alimentação vegeta- riana não pode, não deve e nunca será uma imposição. É um esforço pelo exemplo, pelo diálogo para evoluirmos progressiva- mente para uma alimentação mais saudá- vel e pacífica e ao mesmo tempo incentivar mudanças na produção agrícola que garan- tam uma segurança alimentar vegetariana ou menos carnívora ao maior número de pessoas que assim o desejarem.
  • 30. 30 DESIGUALDADE MISÉRIA 9. Como a visão ambiental, a preocu- pação cComo a visão ambiental, a preocu- pação com a redução das desigualdades e a superação da miséria atravessa todos os itens anteriores. No entanto, reconhecendo que progredimos nestes anos de governos democráticos, nós sabemos que nosso país continua sendo um dos mais desiguais do mundo, e muitos dos nossos ainda vivem na miséria. Alguns programas neste período democrático têm sido importantes para di- minuir este problema e serão por nós apoia- dos na sua continuidade. O primeiro é o benefício de um sa- lário mínimo previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) – pós-constituinte para todos idosos e deficientes muito pobres e que não tenham outro beneficio de segu- ridade. Em 2011 o governo federal gastou 0,65% do PIB com este programa. Outro foi a equiparação do piso de 1 salário mínimo da aposentadoria rural em relação ao piso já existente do trabalhador urbano, decisão da Constituinte 87/88 de grande repercus- são na zona rural do país. O terceiro é o pro- grama chamado bolsa família, com o qual em 2011 o governo federal gastou 0,45% do valor do PIB daquele ano. Também melhorias nas políticas públicas saúde e educação, as ampliações de oportunidades de trabalho e a própria descentralização das atividades econômicas pelo país nos últimos anos têm contribuído para melhorar a situação das famílias mais pobres. São tendên- cias que queremos aprofundar. Nesse sentido, é nosso propósito apoiar fortemente as redes de produção, de troca e de consumo, solidárias e susten- táveis, que dão forma à economia solidária, da qual o coopera- tivismo é parte fundamental. A economia solidária, como de- fende o Prof. Paul Singer, pode ser uma via de desenvolvimento de economia popular e sustentável. Uma ideia para uma ação mais focada e mais sustentá- vel é destinar uma parcela considerável dos créditos disponíveis em órgãos oficiais como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econô- mica para um grande programa de microfinanças e profissio- nalização prioritariamente para as mulheres das famílias que hoje recebem o bolsa família no país ou que estejam em famí- lias perto do limiar de miséria. Estamos seguindo uma orien- tação de Muhammad Yunus: “os pobres, uma vez capacitados economicamente, são os lutadores mais decididos na batalha para solucionar o problema populacional, dar um fim no anal- fabetismo, viver vidas mais saudáveis e melhores. Quando os formuladores de políticas finalmente se derem conta de que os pobres são seus parceiros, em vez de espectadores ou inimigos, progrediremos muito mais depressa que hoje”. Os programas de inclusão são para libertar, dar autono- mia, abrir novas perspectivas econômicas para as pessoas. Nesse esforço de gerar empregos e perseguir o pleno empre- go, precisamos dividir melhor o acesso ao trabalho. Queremos reduzir de imediato a jornada de trabalho para 40 horas se- manais e começar uma transição longa para chegarmos às 30 horas semanais.
  • 31. 31 VIVERBEM.VIVERVERDE INTERNACIONALISMO10. Este atual ciclo de globalização impulsionado pela expansão dos meios de comunicação e transportes, se bem admi- nistrado por uma governança global, pode trazer benefícios para todo planeta. Não é isto que tem acontecido na verdade, pois o poder dos mais fortes tem se sobreposto a uma possível vontade das maiorias que poderiam se expressar por uma democra- cia ampliada mundialmente. Os mais fortes têm se aproveitado da falta de regras mun- diais que exerçam uma ação moderadora sobre seus apetites selvagens. O que precisamos para superar a brutal e insustentável desigualdade entre Estados Unidos da América e Etiópia, ou entre Japão e Honduras, é uma evolução amadurecida passo a passo por políticas públicas internacionais em direção a uma Federação Democrática de Nações. Isto vai permitir a preservação da riqueza da nossa diversidade cultural e vai permitir uma con- vergência dos padrões de qualidade de vida que superem a extrema riqueza e a extrema pobreza hoje existente. As duas mais importantes experi- ências nas últimas décadas pós segunda grande guerra de onde devemos tirar ensi- namentos para colocar o Brasil na vanguar- da desta construção são a ONU e a Comu- nidade Europeia. Com todas suas limitações e contradições, a ONU tem dado mostra de capacidade histórica e inédita de gerar pautas progressivas para políticas públicas. A Comunidade Europeia vem mostrando ca- pacidade de fechar feridas antigas e doloro- sas de ódios seculares, caminhar para uma convivência com diversidade e progredir na convergência de padrões de bem estar entre os países reunidos no seu território. Apoiamos a ONU como organização global para geren- ciar conflitos e manter a paz, ressaltando que no caso de falhas de medidas de prevenção e nas situações de violação estrutu- rais e maciças dos direitos humanos e/ou genocídio, o uso da força pode ser justificado se significar o único meio de preven- ção contra a continuidade da violação dos direitos humanos e sofrimento, desde que a decisão e o comando sejam na ONU. Cada nação, e mais ainda o Brasil pelo seu peso crescente no cenário internacional, deve fazer o trabalho de desenvolvimen- to sustentável e superação da miséria no seu território, mas ter consciência que não há uma salvação isolada de um país. Por mais poderoso que seja, isto é atualmente um delírio naciona- lista e até reacionário. Devemos ser um sujeito consciente e ativo neste pro- cesso, e não ser arrastado por ele. Na construção de uma go- vernança global o Brasil, por sua historia, pelas suas riquezas ambientais e pelo temperamento de seu povo mestiço e cosmo- polita, pode ter atuação destacada. São dois os nossos princi- pais campos de atuação: cultura de paz e desenvolvimento sus- tentável. Lembrando que estas forças caminham sempre juntas com a defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento da democracia. Estas são as linhas fortes do nosso trabalho na po- lítica internacional. Algumas propostas de desenvolvimento desta política: - Metas de redução não voluntárias de emissões de gases efeito estufa proporcionais às responsabilidades históricas e atuais. - Metas de redução de gastos com orçamentos militares. Bani- mento de armas atômicas. - Metas de convergência nas obrigações trabalhistas e previden- ciárias. - Democratização das instâncias decisórias da ONU, inclusive conselho de segurança. - Prioridade para aproximação e acordo de livre comércio do Brasil com a comunidade europeia. - Compromisso com o desenvolvimento sustentável do conti- nente africano. Se uma consigna pudesse resumir as preocupações dos PVs em todos os países onde estão presentes, e particularmen- te do PV do Brasil, que aqui trabalha por estas teses há 28 anos, poderíamos usar uma síntese baseada nos escritos e nas vidas de homens como Thoreau, Tolstoy e Gandhi: simplicidade voluntária. Esta é a energia renovável e inesgo- tável que move a revolução cultural verde.