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UN. INSTITUTO CAIVS IVLIVS CAESAR – UNICIC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO: ESPECIALIZAÇÃO EM
PSICOPEDAGOGIA CLINICA E INSTITUCIONAL
ENICE LAZARETTI MIRANDA
DIFICULDADE NA LEITURA E ESCRITA
COLIDER – MT
FEVEREIRO DE 2012
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DIFICULDADE NA LEITURA E ESCRITA
ENICE LAZARETTI MIRANDA
RESUMO
O trabalho aqui proposto possui como foco um estudo de caso caracterizado por dificuldades
de aprendizagem referentes mais especificamente a leitura e a escrita, fundamenta-se na
queixa inicial da professora regente, relatando que um de seus alunos tem dificuldade de
aprendizagem. Ao tomar como referência o relato da professora, partiu-se para a realização do
presente estudo com finalidade de diagnosticar o contexto escolar, social, cognitivo, afetivo,
biológico e motor que envolve o aluno, nesse sentido, o estudo buscou identificar a possível
interferência de aspectos do meio social, cultural, familiar e educacional no seu processo de
aprendizagem. Para isso adotou-se alguns instrumentos de pesquisa como a anamnese e testes
piagetianos, os quais forneceram dados importantes para a verificação e identificação do
processo de desenvolvimento e apropriação do conhecimento percorrido pelo aluno. De posse
do resultado dos instrumentos foi planejar a intervenção cujo objetivo concentrou-se em
atender as necessidades do educando, oferecendo condições para que o próprio aluno se torne
o responsável pela construção do seu conhecimento.
Palavras-Chave: aprendizagem, leitura, escrita.
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ESTUDO DE CASO
Paciente: André de Souza
Psicopedagoga: Enice Lazaretti Miranda
1 – APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA:
O aluno estudado chama-se André tem 07 anos de idade, frequenta a 1ª fase do 1º ciclo
em sala regular. O mesmo apresenta dificuldade em memorizar as letras do alfabeto. A
professora relatou ser um aluno que não consegue concentra-se para realizar a atividades
propostas. Copia com letra legível, mas se perde muito e não sabe onde está copiando, sempre
deixa as palavras incompletas, só consegue realizar as atividades com ajuda da professora ou
colegas.
Ele é proveniente de uma família de classe baixa, onde somente o pai trabalha e ainda
não tem um emprego fixo, a mãe não trabalha fora, só tem uma casa na cidade e a mesma esta
em estado um pouco precário, a família é composta de 05 filhos, André é o caçula da família,
a irmã mais velha tem 15 anos e é a única que apresenta menos dificuldade na leitura e escrita,
os outros 3 irmãos apresentam dificuldade na aprendizagem.
O pai é garimpeiro e vem para casa uma vez por mês, mais ou menos, a mãe cuida da
casa, mas não tem muita responsabilidade sobre os filhos, deixa a carga para a filha mais
velha, que toma conta dos irmãos e também dos trabalhos da casa.
André é um aluno que não socializa com outros colegas, apresenta dificuldade em
trabalhar em grupo, nos trabalhos em grupo só participa se for junto com a professora, com os
colegas não participa.
Nesse sentido deu-se origem ao processo de investigação, para isso foram realizadas
observações na sala com a professora regente, em um segundo momento também foi realizado
uma anamnese com a mãe da criança, pois, com o pai não foi possível entrevistar por ele estar
trabalhando longe de casa. A fala angustiada da professora regente ao dizer que um de seus
alunos apresentava dificuldade na leitura e escrita, A professora deixou claro sua insatisfação
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em aprovar o aluno para a fase dois, pois segundo ela, não poderia retê-lo e não se sentia bem
em aprovar um aluno que apresentava muita dificuldade. Nessa perspectiva, expôs de forma
clara que não concordava com o sistema de ciclos, ressaltando que o professor perdeu o
domínio de sala de aula e ainda pior, não é mais respeitado, diante disso, demonstrou
concordar com a reprovação, considerando a retenção do aluno como a solução para vários
problemas, principalmente os problemas de aprendizagem.
No desenrolar da entrevista, a professora regente relatou que já tentou vários métodos
para trabalhar leitura e escrita com esse aluno, mas conseguiu algum resultado positivo na
leitura através de imagens.
2 – ESCLARECIMENTO DO PROBLEMA:
Para que se possa de alguma forma identificar o real problema de André, é de suma
importância conhecer seu dia-a-dia e também sua rotina. A partir daí ter tanto da escola
quanto da família o apoio que precisamos para mergulhar em sua vida e identificar se seu
problema de aprendizagem esta vinculado ao seu estado emocional, social, cognitivo.
Através da entrevista com a mãe, buscou-se coletar informações a cerca de seu
desenvolvimento motor, da linguagem e da sua relação interpessoal no cotidiano. A mãe
relata que, André é o caçula do casal, sendo que tem mais quatro irmãos, os outros irmãos
também tem problemas de aprendizagem, é um aluno que não falta à escola e participa das
atividades comemorativas propostas pela escola. O aluno tem poucas amizades, prefere ficar
sozinho. Obteve um desenvolvimento de crescimento normal sentou sem apoio aos oito
meses, engatinhou-se aos nove meses e começou a andar com um ano e dois meses.
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2.1 – Encontro Com Os Pais:
No encontro com a mãe de André, constatei que a mesma apresenta dificuldade em
relação à educação de seus filhos. Ela descreve André como um menino mimado e
indisciplinado, ele não se comporta em casa, sai à hora que quer, e volta quando quer. A mãe
relatou também que André não gosta de fazer a lição de casa.
2.2 – Observações Em Sala Comum E No Pátio De Recreação:
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A observação da sala de aula ocorreu durante uma semana e permitiram constatar que
os comportamentos do aluno em situação da aprendizagem correspondem muito aos descritos
pela professora.
As atividades, muito bem elaboradas, a professora mostrou ser uma profissional
competente, trabalhando a proposta pedagógica e a linha filosófica da escola. A docente busca
em todas as aulas estabelecer vínculos entre as atividades trabalhadas e a prática social,
aproximando o currículo do dia-a-dia das crianças e fazendo perceber onde os conteúdos da
escola se aplicam na vida.
No início da aula a professora canta uma música, neste momento o aluno participa
com animação, pois é a única atividade que o interessa. Na hora da explicação ele não
consegue se concentrar levanta várias vezes e pede ajuda em tudo, a professora dá novas
orientações individuais e a estimula a fazer o que sabe fazer sozinho.
No pátio de recreação percebe-se que o aluno não socializa com outros colegas,
sempre brinca sozinho ou fica sentado isolado.
2.3 – Avaliações Na Sala Multifuncional:
O aluno freqüenta articulação (reforço), conforme relato da professorada o mesmo
apresentava algum interesse em jogos pedagógicos no computador, mas mesmo assim
precisava de ajuda para realizar as atividades.
3 – IDENTIFICAÇÃO DA NATUREZA DO PROBLEMA:
Após ter analisado e observado alguns aspectos referente ao ambiente no qual André
vive e interage com a família, pode-se observar que o aluno possivelmente tem problemas
relacionados à falta de interesse e acompanhamento por parte da família. È de suma
importância aplicar no aluno testes Piagetianos e provas onde irá identificar problemas
relacionados à dificuldade de aprendizagem.
3.1 – Esfera Funcionamento Cognitivo E Linguagem Oral:
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No que se refere ao cognitivo, o aluno não tem boa assimilação nas informações
relacionadas a ele. Deste modo, o aluno apresenta dificuldade relacionada à memória a curta e
em longo prazo. André não tem um bom desenvolvimento vinculado a linguagem oral.
Na abordagem de Vygotsky a linguagem tem um papel de construtor e de propulsor do
pensamento, afirma que aprendizado não é desenvolvimento, o aprendizado adequadamente
organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de
desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (Vygotsky, 1991).
3.2 – Esfera Do Meio Ambiente:
Percebe-se que a família de André é um pouco desestruturada, o pai raramente está em
casa e a mãe não dá muita atenção na educação de seus filhos, deixando-os a sós com a filha
mais velha.
Nas observações realizadas na escola, nos permitiram que André encontra-se em um
ambiente social e acolhedor que ele aprecia. A professora concede muita atenção à ele, muitas
vezes ele não aceita a atenção dela guardando os materiais e ficando irritado.
3.3 – Esfera Das Aprendizagens Escolares:
A professora percebeu que André evoluiu somente na leitura visual através de
imagens, mas continua apresentando dificuldade no reconhecimento das letras do alfabeto.
3.4 – Esfera Desenvolvimento Afetivo-Social E Interações Sociais:
De acordo com as informações recolhidas pela professora, o desenvolvimento Afetivo-
Social do aluno aos poucos está lhes causando problemas, pois ele tem pouco interesse em
aprender, a família não colabora e ele se revolta cada vez mais. Nas Interações Sociais a
professora constata que o aluno não se mistura com os outros colegas, prefere ficar sozinho,
nos trabalhos em grupo quase não participa e quando é cobrado se irrita com a professora.
3.5 – Esfera Comportamentos E Atitudes Em Situação De Aprendizagem:
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Percebe-se que é nas atitudes de comportamento, dificuldade em concentrar-se nas
tarefas, falta de atenção, onde o aluno tem mais dificuldade para poder ter um desempenho
melhor em sala de aula. Não respeita as ordens exigidas pela professora, prefere fazer só o
que lhe interessa.
3.6 – Esfera Desenvolvimento Psicomotor e Saúde:
Para tanto, por meio de entrevista com a mãe de André e testes realizados com ele,
pode-se notar que o aluno apresenta atraso em seu desenvolvimento psicomotor, não se
esforça para tentar aprender, é um motivo por ele ter tanta dificuldade na alfabetização. Em
relação a saúde do aluno a mãe afirma que foi uma gestação sem planejamento, mas teve
acompanhamento médico no pré-natal, tomou todas as vacinas necessárias e hoje tem uma
ótima saúde e é muito difícil ficar doente.
3.7 – Hipótese:
Através de varias observações, entrevistas e acompanhamento com a criança, pode-se
dizer que ela apresenta dificuldade em atividades que envolvam o raciocino lógico
matemático. O aluno não apresenta interesse para expressar-se em relação a qualquer assunto,
ou também em atividades que a mesma tenha que realizar somente nas atividades no
computador ele mostrou-se interessado. Portanto, André mostra que sua dificuldade de
aprendizagem faz parte desde o seu frequentamento na pré-escola.
A criança com dificuldade de aprendizagem não deve ser classificada como deficiente.
Trata-se apenas de uma criança normal que aprende de uma forma diferente.
4 – RESOLUÇÕES DO PROBLEMA DO CASO:
Por meio de varias atividades desenvolvidas com André, também pelo
acompanhamento realizado com o mesmo, ressalta-se que o aluno apresenta habilidade para
classificar objetos, sendo uma criança que só realiza copias, e ainda assim deixa fora algumas
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letras, participa quando a professora esta junto com ele. Por meio da observação na sala de
André, percebe-se que o mesmo tem um desenvolvimento muito lento em sua coordenação
motora fina e grossa, tem certo grau de dificuldade na lateralidade. Apresenta em seu
comportamento em sala interesse quando o assunto não é importante para a aula. O aluno
passa muito tempo transitando pela sala. Percebe-se também que o aluno demonstra
dificuldade nos exercícios físicos.
Após ter-se vinculados varias informações referentes ao aluno, chega-se a seguinte
constatação: Se encaminha o aluno para a sala de articulação, pois o mesmo não se caracteriza
um aluno de AEE, mas uma criança que sofre com a falta do aprendizado e por não poder
acompanhar os colegas da turma. Assim é de suma importância encaminhar este aluno para a
sala de articulação, para assim, suprir a necessidade de sua dificuldade na leitura, no
reconhecimento dos códigos.
Dificuldade de aprendizagem no Processo de Alfabetização
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O ideal é iniciar a instrução enfatizando o desenvolvimento dos códigos ortográficos e
fonológicos, o que indiciaria muito positivamente na aquisição do reconhecimento da palavra
em maior grau do que nas estratégias tradicionais. (GARCIA, 1998).
Muitas das abordagens escolares derivam de concepções de ensino e aprendizagem da
palavra escrita que reduzem o processo da alfabetização e de leitura a simples decodificação
dos símbolos linguísticos. A escola transmite uma concepção de que a escrita é a transcrição
da oralidade. (Cagliari, 1989: 26)
O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes
começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade, etc. A
dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade
própria.
5 – ELABORAÇÃO DO PLANO DE AEE:
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O plano de intervenção vem com o intuito de suprir as dificuldades de aprendizagem
de André. Deste modo, serão trabalhadas com o aluno atividades que o estimulem em seu
desenvolvimento e relação à construção da habilidade à leitura.
A educadora por sua vez terá o papel de ser a mediadora da intervenção pedagógica.
Os métodos utilizados por ela serão de cunho lúdico para diferenciação da leitura, sendo, por
exemplo: Leitura de códigos, gibi, livros infantis, pequenos textos literários, caça-palavras,
alfabeto móvel, leitura em desenhos, deixando o mesmo fazer sua própria escolha para a
leitura, etc.
O reforço dar-se-á da seguinte maneira, encontros com a educadora duas vezes na
semana, no contra turno. O aluno será encaminhado para a sala de articulação, onde nesta sala
ele terá profissionais diferentes e com novos métodos de ensinamentos, assim se fará uma
nova observação se o mesmo precisa ainda de acompanhamento ou já supriu a sua dificuldade
de aprendizagem.
Para Weiss (2000, p.32) “o objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é
identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o
impedem de crescer na aprendizagem”. Sendo a aprendizagem um processo, que só acontece
através da interação do sujeito com o objeto e com o Outro.
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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
CAGLIARI, Tânia.(1989) O Professor Refém: para pais e professores entenderem por que
fracassa a educação no Brasil. Rio de Janeiro. Record.12 de abril de 2012.
GARCÍA, Jesus Nicasio. (1998). Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem,
leitura, escrita e matemática. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes
Médicas.12 de abril de 2012.
Dificuldade de aprendizagem no Processo de Alfabetização
www.profala.com/arteducesp/180htm
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1991.
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas
de aprendizagem escolar. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. 189 p. 02 de Fevereiro 2012.
www.abpp.com.br/artigos/78.htmEm cache - Similares