2012 1
ARGUMENTAÇÃO E
RETÓRICA
DISCIPLINA DE FILOSOFIA
ESCOLA SECUNDÁRIA DR. JAIME MAGALHÃES LIMA
11.º Ano
2012
2
Disciplina de Filosofia – 11.º Ano Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima - Aveiro
Retórica
Após a disputa entre uma retórica vã, ou ao serviço do ignóbil, do
Sofista Górgias e a verdade racionalmente evidente de Platão,
Aristóteles apresenta um meio termo considerando que há campos da
actividade e conhecimento humano em que a verdade é substituída
pelo verosímil: o domínio público, o tribunal e a política.
Nestes domínios não há maior vergonha do que o justo não ser capaz de
se defender face ao injusto.
Assim, embora a retórica não seja uma actividade que desvende a
verdade é, pelo menos, uma actividade de investigação e defesa do
justo e do mais verosímil.
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Retórica
ARGUMENTOS E
FALÁCIAS
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Retórica
Os argumentos
• Os argumentos são peças imprescindíveis para quem
pretende sustentar uma tese ou apresentar dados pró ou
contra uma tese.
• Apontaremos aqui alguns desses tipos de argumentos que
podem ser utilizados.
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Retórica
alguns tipos de Argumentos
A1) - Dedutivos: entimema
B) Indutivo: a generalização
C) Pelo exemplo e o contra-exemplo
D) Por analogia
E) Com base em causas: estabelecendo relações causais
F) Da autoridade
G) Ad hominem
H) Ad populum
I) Ad misericordiam
J) Quase-lógicos. J1) Transitividade; J2) Reciprocidade; J3) …
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Retórica
A) Argumentos dedutivos
• Argumentos suportados na necessidade lógica: Se as premissas
são verdadeiras a conclusão é necessariamente verdadeira
Exemplo:
A fruta é rica em vitaminas
A maçã é fruta
A maçã é rica em vitaminas
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Retórica
A1) Entimema
• Argumento dedutivo que se realiza subentendendo uma das
premissas.
Por exemplo: O aborto é um crime porque é imoral. Fica subentendido
que «todos os crimes são imorais».
• Este tipo de argumento facilmente se torna falacioso se não tivermos cuidado ao
abordá-lo. Exige espírito crítico e atenção por parte do auditório.
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B) Argumento indutivo
• Chegam a uma conclusão geral, partindo de casos ou exemplos
particulares, ou premissas menos extensas
Exemplo:
As maçãs, as peras, as laranjas são ricas em vitaminas.
Maçãs, peras em laranjas são frutas, consequentemente a fruta é
rica em vitaminas
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Retórica
C) Argumento com base no exemplo e o CONTRA-EXEMPLO
• O exemplo impressiona razão e emoção, pois dirige-se ao homem
total, que não só pensa, como sente e age.
• Górgias: o que possui a arte da retórica tem mais sucesso do que o
médico a persuadir o doente a submeter-se a um tratamento.
• O contra-exemplo é um argumento muito eficaz como contra-
argumento…
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Retórica
Outros tipos de argumentos
• Linguísticos:
• As metáforas,
• alegorias,
• parábolas
• Modelos: Cristo, Luther King
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D) Argumentos por analogia
• Vão do particular ao particular
• Pretendem mostrar que outro caso, semelhante ao primeiro em alguns
aspectos conhecidos, é também semelhante noutros aspectos desconhecidos
Exemplo A:
Crianças e velhinhos são seres igualmente frágeis.
Devemos cuidar e amar as crianças.
Logo, devemos cuidar e amar os velhinhos
Exemplo B:
Os seres humanos gritam e sentem dor quando se lhes bate
Os animais gritam quando se lhes bate
Logo, os animais sentem dor quando se lhes bate.
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E) Argumentos sobre causas
• Argumentos que mostram a relação entre dois fenómenos, em
que um deles é considerado a causa/razão/origem dos outros.
• Estabelece sem duvidas relações causais
• Deve atender a que:
a) A sucessão temporal é condição necessária, mas não
suficiente
b) A sucessão pode dever-se não um só fenómeno mas a mais
do que um factor.
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F) Argumentos com base na autoridade
• Apoiam-se no testemunho de pessoas ou instituições que são
reconhecidas como possuindo conhecimentos seguros e de grande
credibilidade acerca da matéria em causa
• Exemplo A: um médico que aconselha determinado medicamento
• Exemplo B: um académico que é refenciado como tendo tido
determinada posição na sua área de saber…
• Exemplo C: A DGS aconselha a vacinação X
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G) Argumento ad hominem
• Ataca o homem que argumenta,
- denunciando a incongruência entre as suas palavras e os seus
actos, ou a incoerência/contradição lógica entre diferentes
opiniões da pessoa;
- denunciando interesses pessoais
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Retórica
H) Argumento ad misericordiam
• Apelo à misericórdia, à piedade, com razoabilidade
Exemplo:
No tribunal para atenuar a pena quando se pede em consideração
a infância infeliz do arguido ou o seu cadastro limpo.
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I) Argumentos Quase-lógicos
1. Transitividade
• Os amigos do meus amigos meus amigos são.
(+ x +) = +
• Os amigos dos meus inimigos são meus inimigos
(+ x -) = -
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Retórica
I) Outros argumentos Quase-lógicos
• 2. Reciprocidade
• “trabalho igual, salário igual”
• “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”
• 3. Inclusão ou composição
- O que vale para as partes também vale para o todo
• 4. Divisão: o inverso da composição
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Retórica
Falácias informais
• Se até agora as falácias estudadas dizem respeito à
dimensão formal, ou seja, ao não cumprimento das regras
da lógica formal,
• de seguida estudar-se-ão falácias informais, ou seja,
argumentos erróneos ou insuficientes para sustentar uma
tese e que surgem sob a aparência de verdadeiros,
correctos, razoáveis ou suficientes para sustentar a tese.
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Retórica
Falácias informais
• Principais tipologias:
• A) Falácias da irrelevância
• B) Falácias da Insuficiência de Dados
• C) Falácias da Ambiguidade
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A) Falácias da irrelevância
ignoratio elenchi
As premissas não são relevantes
para sustentarem as conclusões
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A1) Falácia ad baculum ou recurso à força
• Argumento que recorre a formas de ameaça como meio de fazer
aceitar uma afirmação. Agir sobre a vontade do outro com recurso à
violência física ou psicológica.
Exemplo:
1) “Mas porquê?” “Porque eu mando!”
2) “…Ou fazes ou ficas de castigo.!”
3) Uma chapada como estímulo.
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A2) Falácia ad hominem (contra o homem)
• Tipo de argumento dirigido contra o homem.
• Em vez de se atacar ou refutar a tese ou o argumento, ataca-
se o homem que a defende,
- atacando ao seu carácter
- insinuando interesses pessoais
Exemplo:
A tua tese não interessa para nada! És um falso!
…o racismo e os preconceitos…
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Retórica
A3) Falácia ad ignorantiam ou da ignorância
• Cometido quando uma proposição é tida como verdadeira só porque
não se pode provar a sua falsidade e o inverso.
Exemplo:
Os fantasmas existem. Ninguém provou que não existem!
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A4) Falácia ad misericordiam ou apelo à piedade
Ocorre quando se apela ao sentimento de piedade ou compaixão para
se conseguir que uma determinada conclusão seja aceita
Exemplo:
1. Ypsilón condenado por ser assassino dos seus pais, pede ao Sr. Juiz
clemência por ser órfão.
2. Sei que tive negativas em todos os testes, mas esforcei-me tanto e
estou tão cansado! Trabalhar e estudar não é nada fácil. Tente
compreender que preciso passar de ano!
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A5) Falácia ad populum – apelo à emoção
Apelar às emoção da multidão, para excitar o entusiasmo, a ira ou a ódio.
Pode utilizar o preconceito, o desejo de pertença a determinado grupo social. Muito utilizado em
propaganda e em publicidade.
1. As pessoas de bom gosto preferem o vinho x, logo devo beber o vinho x.
2. Se você fosse bela poderia viver como nós. Compre também Buty-EZ e torne-se bela. (Aqui
apela-se às "pessoas bonitas")
Adesão a uma determinada tese, por via da criação de um ambiente fortemente emocional
(Pathos), cuja apresentação se deve a uma pessoa credora de popularidade, que promove um
ambiente de euforia e encantamento.
3. “vingar os nossos mortos”
4. O que ocorre no campo de futebol: se todos assobiam, assobiasse…
Apelo para que alguém se deixe ir com a multidão:
“mas todos fazem”
5. Toda a gente sabe que a Terra é plana. Então por que razão insistes nas tuas excêntricas
teorias?
referências: Copi e Cohen: 103; Davis:
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A7) Falácia ex populum
• Consiste no apelo à opinião da maioria para que um indivíduo ou
conjunto de indivíduos justifique e adira a uma determinada tese
• Uma proposição é verdadeira por ser aceite como verdadeira por
algum sector representativo da população.
Exemplo:
A) Mãe deixa-me ir à discoteca! Todos os meus amigos vão!
B) Não tens razão, pois todos pensam o contrário.
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A8) Falácia ad verecundiam ou da autoridade
• Apela à autoridade não qualificada
• Argumento que pretende sustentar uma tese unicamente apelando a
uma personalidade de reconhecido mérito mas não o sendo no
campo em questão
Exemplo:
Figo é uma personalidade reconhecida no futebol, Figo diz que a GALP
é a melhor petrolífera, logo a melhor petrolífera de Portugal é a GALP
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B) Falácias da Insuficiência de Dados
As premissas não fornecem dados suficientes para
garantir a conclusão
Conjunto de falácias que se cometem pelo facto de
se induzir de forma apressada e irreflectida, o que
conduz a conclusões abusivas.
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B1) Falácia da generalização precipitada
• Enunciar uma lei ou uma regra geral a partir de dados não
representativos ou insuficientes e/ou quando existe contra-
exemplo.
Exemplo:
O fenómeno X ocorre em A1 e A2, logo o fenómeno X ocorre em
todos os AA
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Retórica
B2) Falácia da Falsa Causa
• Falácia que consiste em atribuir a causa de um fenómeno a outro
fenómeno, não existindo entre ambos qualquer relação causal ou pela
simples razão de o preceder
Exemplo:
Abriram a porta e a Ana tossiu, logo a Ana tossiu porque abriram a
porta.
Refutação: confunde a sucessão temporal com a implicação causal
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B3) Falácia de Petição de Princípio
• Quando de postula ou se dá por provado, o que se deveria
justamente provar. A conclusão é uma premissa
Exemplo:
1 - O aluno não é considerado disléxico, pois não está referenciado
como tal.
2 - “Uma vez que não estou a mentir, estou a dizer a verdade”;
3 - «Bem sabeis que mereço muito mais a vossa piedade do que um
castigo. De facto, o castigo cabe aos culpados, a piedade aos que
são objecto de uma acusação injusta.» In Perelman T.Argumentação
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B4) Falácia da Pergunta Complexa
1) Fazer uma pergunta que pressupõe uma resposta previamente dada.
O interlocutor fica numa situação embaraçosa, quer responda
afirmativa ou negativamente. Está sempre garantida uma situação
desfavorável para quem responde.
2) Ou a pergunta realiza a CONJUNÇÃO de duas ideias distintas, sendo
que a aceitação de uma obriga a aceitar a outra.
Exemplo 1) – “Já tens hábito de tomar banho?”
Seja a resposta afirmativa ou negativa, o interlocutor está-se sempre a
comprometer.
Exemplo 2) “ És a favor da posse de armas e contra a liberdade?
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C) Falácia de Ambiguidade
A falácia resulta de as premissas estarem formuladas
numa linguagem ambígua
C1) Equivocidade
C1.1.) Ambiguidade lexical
C1.2.) Anfibologia
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Retórica
C2) Falácia do espantalho ou boneco de palha
A) atribuir a outrem uma opinião fictícia, ou
B) em deturpar as suas afirmações de modo a terem outro
significado e serem mais fáceis de refutar. Refuta Y, refutando Z
(interpretação abusiva de Y)
Exemplo A)
“- Vou à matança da porca da minha tia!
- A Inês disse-me que a tia dela é porca.” (poderia ser de ambiguidade)
Exemplo B)
Ípsilon: “se restringirmos o uso automóvel estamos a limitar a liberdade.
Òmega: “Ípsilon quer voltar à ditadura.”
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C3) Falácia ad terrorem
• Fazer aceitar uma tese invocando as consequências negativas
que resultarão se tal tese não for aceite.
Exemplo:
1. Utilizar o medo de morrer na campanha pelo uso do preservativo.
2. “Se não votarem em nós será o caos.”
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C4) Falácia do acidente
É aplicada a regra geral quando as circunstâncias sugerem que se deve aplicar uma
excepção à regra.
Exemplos:
• A lei diz que não deves conduzir a mais de 50 Km/h. Portanto, mesmo que se
urgente chegar ao hospital não deves ultrapassar os 50 km/h.
• É bom devolver as coisas que nos emprestaram. Portanto, deves devolver essa
arma automática ao louco que te a emprestou. (Adaptado de Platão, A República,
I).
Refutação: identifique a regra geral em questão e mostre que não é uma regra geral
estrita. Depois mostre que as circunstâncias deste caso sugerem que a regra não
deve aplicar-se.
Referências: Copi e Cohen: 100 .
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Retórica
C5) Falácia inversa do acidente
Aplica-se uma excepção à regra geral a casos em que se deve
aplicar a regra geral.
Exemplos:
• Se deixou que Joana, a tal moça que ficou muito doente, entregasse o
trabalho mais tarde, também deveria permitir que toda a turma
entregasse o trabalho mais tarde
• Se doentes terminais usam heroína, todos os homens podem usar.
Refutação: identifique a regra geral em questão e mostre que o caso
especial é uma excepção à regra.
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Retórica
C6) Derrapagem (bola de neve)
• Para mostrar que uma proposição, P, é inaceitável, extraem-se
consequências inaceitáveis de P e consequências das consequências...
• O argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é falso ou
duvidoso. Mas a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos
vários passos "se... então..." que constituem o todo do argumento.
Exemplos:
Nunca deves jogar. Uma vez que comeces a jogar verás que é difícil deixar o jogo.
Em breve estarás a deixar todo o teu dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode
acontecer que te vires para o crime para suportar as tuas despesas e pagar as
dívidas.
Refutação: Identifique a proposição, P, que está a ser refutada e identifique o evento
final, Q, da série de eventos. Depois mostre que este evento final, Q, não tem de
ocorrer como consequência de P.
Referências: Cedarblom e Paulsen: 137
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Retórica
C7) Falácia da omissão de dados
Dados importantes, que arruinariam um argumento indutivo, são
excluídos.
A exigência de que toda a informação relevante e disponível seja
incluída num argumento indutivo, é chamada "princípio da
informação total".
2012 40
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Retórica
Falácia da invenção de factos
A falácia da invenção de factos acontece quando alguém tenta explicar
porque acontece um certo fenómeno, sem ter provas que este tenha
acontecido, aconteça ou possa vir a acontecer
Exemplos:
João disse ter entrado na loja porque queria comprar maçãs.
(na verdade João entrou na loja para ver a Maria)
2012 41
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Retórica
Falácia Post hoc ergo propter hoc
Significa: "depois disso, logo, por causa disso".
Um autor comete a falácia quando pressupõe que, por uma coisa se
seguir a outra, então esta é causa daquela.
Confusão entre sequência temporal e sequência causal
Exemplos:
A imigração do Alentejo para Lisboa aumentou mal a prosperidade
aumentou. Portanto, o incremento da imigração foi causado pelo
incremento da prosperidade.
O livro desapareceu depois da Ómega ter estado na sala, logo a
Ómega é a responsável
2012 42
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Retórica
Falácia Efeito conjunto
Sustenta-se que uma coisa causa outra mas, de facto, são ambas o efeito
de uma mesma causa subjacente.
Esta falácia é muitas vezes apresentada como um caso especial de
falácia post hoc ergo propter hoc.
Exemplos:
Estamos a viver uma fase de elevado desemprego que é provocado por
um baixo consumo. (De facto, ambos podem ser causados por taxas de
juro muito elevadas.)
Estás com febre e isso está a fazer com que te enchas de borbulhas.
(De facto, ambos os sintomas são causados pelo sarampo.)
2012 43
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Retórica
Falácia - Efeito conjunto
O objecto ou evento identificado como a causa de um efeito, é uma causa verdadeira
– mas insignificante quando comparada com outras causas desse evento.
Exemplos:
Fumar causa a poluição do ar. (Confere, mas o efeito do fumo do tabaco é
insignificante comparado com o efeito poluente dos automóveis);
Deixar a sua lareira acesa durante a noite contribui para o aquecimento global do
planeta (idem).
2012 44
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Retórica
Falácia da Causa complexa
O efeito é provocado por um certo número de objectos, dos quais a causa
identificada é apenas uma parte.
Exemplos:
O acidente não teria ocorrido se não fosse a má localização do arbusto. (Confere,
mas o acidente não teria ocorrido se o condutor não estivesse altamente
alcoolizado, por exemplo);
Estou cheio de frio porque o tempo assim o está. (Confere, mas não teria frio se
tivesse vestido mais roupa, por exemplo).
2012 45
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Retórica
Falácia da generalização precipitada
• As falácias da insuficiência de dados resulta das premissas não fornecem
dados suficientes para garantir a conclusão.
• Ou seja, é induz-se de forma apressada e irreflectida, o que conduz a
conclusões abusivas. As falácias da insuficiência de dados subdividem-se em
falácias da generalização precipitada e de falácias de falsa causa.
Exemplo
A laranja, o tomate, o dióspiro, a pêra e a tangerina são frutas ricas em
vitamina C, logo todas as frutas são ricas em vitamina C
O argumento é uma falácia de generalização precipitada porque partimos de casos
particulares (a laranja, o tomate, a pêra e a tangerina) para generalizarmos (todas as
frutas). Ao dizermos que todas as frutas são ricas em vitamina C, porque muitas frutas o
são, podemos ser rapidamente contrariados, por exemplo com a banana, que é um fruto
e não tem vitamina C.
2012 46
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Retórica
Falácia do Acidente
Ocorre quando consideramos como verdadeiro para um caso particular o que é
verdadeiro num sentido geral. É o que acontece com argumentos do tipo estatístico
quando uma regra geral é aplicada a um caso cuja ocorrência acidental determina a
não aplicabilidade de tal lei.
Exemplo:
“Em média, cada dois portugueses come uma galinha por dia.”
“É bom devolver as coisas que nos emprestaram. Portanto, deves devolver essa arma
automática ao louco que te emprestou.”
REFUTAÇÃO: Identificar a regra geral em questão e mostre que não é uma regra
geral estrita. Depois mostre que as circunstâncias deste caso sugerem que a regra
não deve aplicar-se.
2012 47
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Retórica
Falácia da Ambiguidade Lexical
A mesma palavra pode ser usada com dois significados diferentes.
Exemplos:
• Criminalidade é ilegalidade. O julgamento de um roubo ou assassínio são
acções criminais. Os julgamentos de roubos e assassínios são designados
de acções criminais. Logo, os julgamentos de roubos e assassínios são
ilegais.
• Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não
matam crianças.
2012 48
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Retórica
Anfibologia
Ocorre quando a construção da frase permite atribuir-lhe diferentes
significados.
Exemplos:
• Na fábrica X todos gostam de um telemóvel.
(Esta frase pode ser interpretada de duas maneiras: ou todos gostam de
um telemóvel qualquer ou todos gostam do mesmo telemóvel)
2012 49
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Retórica
Falácias da Ambiguidade Sintáctica
As falácias desta secção são, todas elas, falácias geradas pela falta de
clareza no uso de uma frase ou palavra. Há dois modos de isto suceder:
• A palavra ou frase pode ser ambígua, caso em que tem mais de um
sentido distinto;
• A palavra ou frase pode ser vaga. Nesse caso não tem um sentido distinto
ou claro.
Exemplo: Òmega diz que hoje o senhor do café está muito sóbrio.
(Esta frase se for ouvida por uma pessoa que não conheça o senhor do café, leva a
pensar que o senhor do café está sempre embriagado)
2012 50
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Argumentação e Retórica
Ênfase
A ênfase é usada para sugerir uma proposição diferente daquela
que, de facto, é expressa.
Exemplos:
A) Não há BEBIDAS GRÁTIS
B) GRÁTIS NUNCA