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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
  FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE CARUARU
     BACHARELADO EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO




Motivação de Engenheiros de Software no Contexto Open Source: Um
    Estudo de Caso com a Comunidade Android Brasil Projetos




                DANILO MONTEIRO RIBEIRO




                    Caruaru, Junho de 2012.
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO


                     DANILO MONTEIRO RIBEIRO




Motivação de Engenheiros de Software no Contexto Open Source: Um
    Estudo de Caso com a Comunidade Android Brasil Projetos




                                Monografia apresentada a Faculdade de Ciência e
                                Tecnologia de Caruaru - Universidade de
                                Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do
                                grau de Bacharel em Sistemas de Informação, sob
                                orientação do Profº. M.Sc. Pietro Pereira Pinto e co-
                                orientação pelo Profº M.Sc Alberto César Cavalcanti
                                França.




             Orientador: M.Sc Pietro Pereira Pinto

             Co-orientador: M.Sc Alberto César Cavalcanti França



                                CARUARU

                                   2012
iii




Dedico este trabalho à minha família, amigos e
professores.
iv




                                AGRADECIMENTOS



      Gostaria de agradecer neste trabalho, o meu grande amigo e incentivador tio
Neto que sempre me ajudou durante a graduação, me fez pensar questões mais
amplas e a sempre buscar dar o melhor de mim, assim como meu tio Sandro, são
exemplos de superação e de seres humanos que eu quero ser.

      Minha mãe que apesar de tudo fez sempre o possível e o impossível para eu
me tornar a pessoa que sou e apesar da saudade sempre me incentivou a continuar
no curso.

      Meus amigos de Casa e de Graduação, em especial Levi, Carlos Magno, o
mão de vaca do César Albuquerque, Maryvania e José “Marola” Paulo, enchi muito o
saco desse povo, mas passamos juntos e sobrevivemos.

       Minha namorada Juliett Figueiredo com quem eu quero construir minha
família, que me acompanhou durante essa jornada, cerca de 3 anos de graduação
me ouvindo falar de pesquisa, artigos, trabalhos, deve ter sido um saco mas quase
nunca reclamou e sempre foi compreensiva.

       Gostaria de agradecer Humberto Rocha pela oportunidade que tive de ser
aluno bolsista de Iniciação Cientifica, assim como Vinicius Garcia que aceitou a ideia
de ser meu orientador, aprendi muito com os dois durante esse tempo e foi muito
proveitoso.

       Alguns professores me marcaram mais que outros, não desmerecendo os
outros claros, Almir Moura com sua didática sensacional, tornou-se um grande
amigo meu, Fernando Pontual, Carvalho e Cristóvão que com suas experiências me
ensinaram muita coisa na hora do almoço, sempre me ensinaram a ver mais que o
curso pode proporcionar. Cicero Garrozi, um professor com que eu ainda quero
trabalhar um dia.

       Não menos importante quero agradecer a Pietro por ter aceitado o desafio de
orientar em uma área que não é a dele, sempre atento as correções foi uma figura
importante na construção deste trabalho. Outra pessoa com que aprendi muito e foi
muito importante para a construção deste trabalho foi o César França que me ouviu
atentamente quando eu fui pedir para trabalhar em pesquisa de outra instituição,
aceitou me orientar mesmo eu não sendo aluno do mesmo, nem da instituição que
ele trabalha. Muito obrigado.

       Um alô especial para Flavio Neves, obrigado por tudo. A todos não citados,
infelizmente o espaço é pouco, mas obrigado. Deus, obrigado por todas as coisas
boas e ruins na minha vida.
v




                                     Resumo



Este trabalho tem como tema central o estudo da motivação em engenheiros de
software no contexto Open Source. Foi realizado um estudo de caso na comunidade
Android-Brasil-Projetos para identificar como os fatores motivadores agem nos
membros das equipes de desenvolvimento de software no contexto Open Source na
comunidade Android-Brasil-Projetos, para isso, foi necessário identificar quais
fatores influenciam na comunidade e quais são os sinais externos de motivação e
desmotivação. Foram entrevistadas quatro pessoas da comunidade sendo um
mantenedor e três desenvolvedores. Os dados coletados foram analisados utilizando
métodos da Teoria Fundamentada (Grounded Theory), e sintetizados em uma teoria
fundamentada nos dados que pode fornecer um entendimento sobre os
relacionamentos, causas e consequências dentro do contexto estudado. Como
resultado foram encontrados 28 fatores que influenciam na motivação da amostra
estudada e foram desenvolvidas 11 proposições. Além disso, foram definidos como
os fatores centrais da teoria o comprometimento e o interesse pessoal.

Palavras-chave: Engenheiro de Software, Motivação, Open Source.
vi




                                     Abstract

This work is focused on the study of motivation on Open Source software engineers.
A case study was performed in the community Android-Brasil-Projetos to identify as
the motivating factors act on members of software development in the Open Source
context within the community Android-Brasil-Projetos, for this, it was necessary
identify which factors influence in the community and what are the external signs of
motivation and demotivation. We interviewed four members from the community: a
maintainer and three developers, the collected data were analyzed using Grounded
Theory and were synthesized in a theory based on data to provide an understanding
of the relationships, causes and consequences within the context studied. As a result
were found 29 factors that influence the motivation of the sample studied and were
developed 11 propositions. Furthermore, were defined as the central factors of theory
the commitment and personal interest.

Key Words: Software Engineer, Motivation, Open Source.
vii




                                                         SUMÁRIO

1.      INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

     1.2       Objetivos ..................................................................................................... 12
        1.2.1        Objetivo Geral ...................................................................................... 12
        1.2.2        Objetivos Específicos ........................................................................... 12
     1.3       Justificativa de pesquisa ............................................................................. 13
     1.4       Organização do Trabalho ............................................................................ 15

2       REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 16

     2.1 Open Source e Software Livre ......................................................................... 16
     2.1.1           Software Livre ...................................................................................... 16
     2.1.2           Free Software Fundation ...................................................................... 17
     2.1.3           Software Open Source ......................................................................... 18
     2.1.3.1         Características do desenvolvimento Open Source .............................. 21
     2.2 O Estudo da Motivação e suas Aplicações ao Contexto da Engenharia de
     Software................................................................................................................. 22
     2.2.1           O Estudo da Motivação na Psicologia .................................................. 22
     2.2.2           Motivação no Desenvolvimento de Software ....................................... 23
     2.2.3           Motivação no contexto Open Source ................................................... 27
     2.2.3.1         WU et al (2007) .................................................................................... 28
     2.2.3.2         Oreg e Nov (2007)................................................................................ 29
     2.2.3.3         Von Krogh et al (2008) ......................................................................... 31
     2.3 Discussão ........................................................................................................ 34

3       MÉTODOS ......................................................................................................... 35

     3.1       Natureza da Pesquisa ................................................................................. 35
        3.1.1        Quanto aos Fins ................................................................................... 35
        3.1.2 Quanto à Forma de Abordagem ................................................................ 35
        3.1.3 Quanto aos métodos de procedimentos .................................................... 36
     3.2 Premissas ........................................................................................................ 37
     3.3 Etapas de pesquisa ......................................................................................... 37
viii



   3.4 Seleção de sujeitos .......................................................................................... 38
   3.4.1 Entrevista ...................................................................................................... 38
   3.5 Procedimentos da análise de dados ................................................................ 41
   3.5.1 Teoria Fundamentada em Dados (Ground Theory) ...................................... 41
   3.5.2 Procedimento de codificação ........................................................................ 42
   3.5.2.1 Codificação Aberta..................................................................................... 44
   3.5.2.2         Codificação Axial .................................................................................. 45
   3.5.2.3         Codificação Seletiva ............................................................................. 46
   3.6       Limitações ................................................................................................... 47
   3.7       Discussão ................................................................................................... 48

4. Resultados ........................................................................................................... 48

   4.1 Descrição do Contexto..................................................................................... 48
   4.2 Resultados da Codificação aberta ................................................................... 50
   4.2.1 Aspectos da Comunidade ............................................................................. 51
   4.2.3 Aspectos do trabalho em equipe .................................................................. 55
   4.3 Resultados da codificação axial ....................................................................... 60
   4.4 Resultados da codificação seletiva .................................................................. 63
   4.5 Avaliações dos Resultados .............................................................................. 65

5. Conclusão ............................................................................................................ 68

   5.1 Trabalhos futuros ............................................................................................. 69

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 71
ix
                                                     Índice de figuras




Figura 1 - MOCC .................................................................................................................... 26
Figura 2 - Motivadores intrínsecos e extrínsecos ............................................................. 27
Figura 3 - Geração da teoria da comunidade ................................................................... 65
x




                                                Índice de Tabelas

Tabela 1 - Evolução do conceito de Motivação ................................................................ 22
Tabela 2 - Fatores Motivadores........................................................................................... 24
Tabela 3 - Fatores Desmotivadores ................................................................................... 25
Tabela 4 - Fatores Motivacionais intrínsecos .................................................................... 32
Tabela 5 - Fatores Motivacionais extrínsecos internos ................................................... 32
Tabela 6 - Fatores Motivacionais extrínsecos................................................................... 33
Tabela 7 - Aspectos motivacionais ..................................................................................... 50
Tabela 8 - Sinais de motivação ........................................................................................... 58
11

1. INTRODUÇÃO
      A atividade de desenvolvimento de software enfrenta crescentes desafios
visando a diminuição de custo, esforço e tempo de chegada dos produtos no
mercado. Contudo, a complexidade e tamanho dos produtos estão aumentando e,
consequentemente, os gestores precisam buscar novas alternativas para o processo
de desenvolvimento.
      Uma dessas alternativas pode ser a utilização de software Open Source
(FERREIRA, 2005). Segundo Koch (2008) e Subramanyam e Xia (2008), os
aplicativos Open Source são aqueles cujo código fonte está disponível para qualquer
pessoa, ou seja, ele está sob uma licença que estabelece condições para
modificação, reuso e redistribuição do software, oferecendo assim a possibilidade de
um usuário modificá-lo, adequando-o as suas necessidades.
      De acordo com IBM (2007), uma das principais características deste tipo de
software é fato de ser normalmente desenvolvido por equipes distribuídas
geograficamente. Em geral, os membros dessas equipes não se conhecem
pessoalmente e são coordenados por estruturas baseadas em meritocracia, nas
quais, de acordo com Ferreira (2008), as pessoas obtêm tarefas e responsabilidades
de acordo com seu merecimento. Essa forma de organização é bem diferente das
estruturas hierárquicas formais que contam com um gerente para distribuir
atividades e cobrar produtividades de seus subordinados.
      Conforme    França       et   al   (2011),   o   comportamento   de   equipes   de
desenvolvimento de software tem sido estudado de forma crescente nos últimos
anos, principalmente através de pesquisas que buscam entender, em especial, os
fatores   que motivam      e    desmotivam engenheiros de         software durante     o
desenvolvimento do projeto.
      França e Da Silva (2009) afirmam que existem duas ideias principais de
interesse da indústria na gestão comportamental: a primeira corresponde à
necessidade de criação de um clima organizacional no qual os colaboradores
possam obter respeito e valorização; a segunda parte da premissa que pessoas
motivadas produzem mais.
12

          Seguindo a premissa que pessoas motivadas produzem mais, Von Krogh et al
(2008) busca entender o que motiva os engenheiros de software Open Source. Para
este autor, neste contexto, as equipe são formadas por colaboradores voluntários,
que trabalham quando querem, de forma autônoma e sem vínculos empregatícios,
ou obrigações com o projeto. Apesar destes colaboradores poderem se desligar do
projeto a qualquer momento, eles conseguem desenvolver, com sucesso, projetos
de alto nível e complexidade (IBM, 2007).
          Para realização deste estudo foi utilizada uma comunidade Open Source, a
Android-Brasil-Projetos, que utiliza uma tecnologia recente de desenvolvimento
mobile (Android1), Open Source, que segundo a Motorola (2012) são ativados mais
de 850 mil aparelhos que funcionam à base desta tecnologia no mundo por dia.

    1.2 Objetivos

          Para responder à pergunta de pesquisa: Como os fatores motivadores agem
na comunidade Android-Brasil-Projetos? Foram definidos os seguintes objetivos,
divididos em geral e específicos:

1.2.1 Objetivo Geral

          Este trabalho tem como objetivo identificar como agem os principais fatores
motivacionais         que    afetam      os    engenheiros   de   software   no   contexto   de
desenvolvimento de software Open Source na comunidade Android-Brasil-Projetos.

1.2.2 Objetivos Específicos

          •     Identificar, com base em revisões de literatura, os principais fatores
          motivacionais ligados aos projetos de desenvolvimento de software Open
          Source;

          •      Adaptar o questionário desenvolvido por Da Silva et al (2011) para
          realidade do projetos de desenvolvimento de software Open Source;

          •     Realizar as entrevistas com engenheiros de software de projetos Open
          Source da comunidade Android-Brasil-Projetos para obter dados sobre o que
          os motiva e o sinais externos de motivação;

1
    Para mais informações http://www.android.com/
13

          •      Analisar os dados coletados através do instrumento de pesquisa
          aplicado;

          •      Encontrar quais fatores motivacionais afetam a comunidade Android-
          Brasil-Projetos;

          •     Conhecer quais são os sinais externos de motivação na comunidade
          Android-Brasil-Projetos.

          •      Explicar como os fatores encontrados agem na comunidade Android-
          Brasil-Projetos.

1.3       Justificativa de pesquisa
          De acordo com Wu et al (2007), a comunidade Open Source tem produzido
um grande numero de projetos software de sucesso, dentre eles: Linux, Apache,
Perl e SendMail. Driver e Weiss (2005) projetaram que o software Open Source
estaria no ano de 2010 em 75% das empresas, operando em conjunto com software
proprietários. Entretanto, segundo a TIINSIDE (2008), essa projeção já foi superada
e estima-se que esse percentual já estava em 85% em 2008.
          Desde então, o movimento de software Open Source vem crescendo muito,
atraindo novos parceiros e desenvolvendo novos aplicativos, como o Linux, que é
um sistema operacional desenvolvido com a licença GNU GPL 2. Em uma pesquisa
realizada em 2009 foi observada uma taxa de crescimento do software livre de cerca
de 20% anual, mostrando novamente o interesse das pessoas e empresas na área
(SOFTWARELIVREBRASIL, 2009).
          De acordo TIINSIDE (2008), o software livre e o de código aberto estão sendo
constantemente utilizados por empresas no seu dia-dia, destacando-se como as três
principais razões para a utilização de programas de código aberto: (i) a diminuição
do custo total de propriedade, (ii) a redução dos custos de desenvolvimento e (iii) o
fato de o software livre ser mais fácil de ser implementado em novos projetos de TI.
          Segundo Von Krogh et al (2008), nos últimos 15 anos os aplicativos Open
Source fizeram incursões bem-sucedidas em diversos segmentos, atraindo milhões
de usuários. Atualmente, as empresas investem e colaboram em grande quantidade
neste tipo de produto. Como resultado disto, Von Krogh et al (2008 p.4, tradução

2
    é uma designação de uma licença para software livre idealizada por Richard Matthew Stallman
14

nossa) afirma que: “os gestores destas empresas estão cada vez mais dependente
de recursos de desenvolvimento que estão fora do seu controle direto”.
           Assim, esses gestores estão preocupados com o que motiva colaboradores
externos a participar na criação de um software Open Source. Von Krogh et al
(2008) cita como exemplo que se uma empresa decide investir milhões de dólares a
fim de migrar os seus servidores para um sistema Linux da IBM os gestores vão
querer saber até que ponto o Linux continuará a receber contribuições por
voluntários, como o software irá evoluir, e se Linux e outros projetos envolvidos
terão melhoria em novas versões.
           Desta     forma,      entender       os    fatores     envolvidos   na   motivação   no
desenvolvimento de software no cenário Open Source é de grande importância para
uma empresa que investe ou deseja investir em nesse tipo de sistema, pois ela deve
acompanhar e incentivar a comunidade e seus membros, para que os aplicativos
utilizados por ela tenham seus problemas corrigidos e evoluam de acordo com suas
necessidades, trazendo benefícios para a empresa e mantendo a competitividade da
mesma.
           Além disso, os mantenedores3 de comunidades Open Source também
precisam saber o que faz os membros contribuírem mais com a comunidade e
permanecerem nos projetos até que estes sejam concluídos com sucesso, ou
continuem a trabalhar na evolução do mesmo.
           Para isso, é de suma importância a realização de uma pesquisa que vise
encontrar indícios sobre os fatores motivacionais aplicados nesse contexto, para que
se possa compreender melhor o fenômeno estudado e encontrar possíveis novos
fatores motivacionais.
           Entretanto, ainda são escassos os estudos que visam identificar os fatores
motivacionais no contexto de projetos de software Open Source usando uma
abordagem qualitativa. Sendo assim, a problemática da pesquisa pode ser
representada pela pergunta: Como os principais fatores motivadores que levam
engenheiros de software a contribuir com projetos Open Source agem na
comunidade Android-Brasil-Projetos?


3
    Os mantenedores são os responsáveis pelos projetos na comunidade.
15

1.4 Organização do Trabalho
       Neste capítulo foi realizada uma breve introdução aos temas deste trabalho:
Motivação no desenvolvimento de software e Open Source software. Foi também
apresentado o problema de pesquisa, os objetivos gerais e específicos do trabalho e
a justificativa para realização deste. O restante do trabalho está organizado da
seguinte forma:

       Capítulo 2 – Referencial teórico: Neste capítulo é feita uma revisão
bibliográfica acerca dos principais temas relacionados à pesquisa, a saber: Open
Source e Software Livre, Motivação na engenharia de Software e no contexto Open
Source;

       Capítulo 3 – Métodos: É o capítulo no qual se contempla a descrição do
método de pesquisa utilizado no trabalho, bem como as limitações deste;

       Capítulo 4 – Resultados: Onde serão apresentados os resultados da
codificação aberta, axial e seletiva.

       Capítulo 5 – Conclusão e trabalhos futuros: Contempla as conclusões
obtidas da realização da pesquisa e geração da teoria, assim como os trabalhos
futuros.
16

2 REFERENCIAL TEÓRICO
       Neste capítulo de referencial teórico são apresentadas as definições dos
conceitos necessários ao desenvolvimento do trabalho, a saber: software livre, Open
Source e motivação.

   2.1 Open Source e Software Livre

      Este capítulo aborda de forma sucinta o assunto Software Open Source,
discorrendo brevemente sobre sua Historia, sua definição e diferenças com o
software livre e algumas características do processo de desenvolvimento de
software Open Source.

   2.1.1 Software Livre

      De acordo com GNU (1996), um software para ser considerado livre deve
garantir a qualquer pessoa as premissas de: (i) executar o programa, (ii) a qualquer
momento modificar o programa para atender a novas necessidades, (iii) distribuir
livremente cópias originais,(iv) distribuir livremente cópias modificadas.
      O software livre é diferente do software proprietário, pois, segundo Saleh
(2004 p.13), “No software proprietário em geral a única liberdade garantida ao
usuário é a de usar o programa, mesmo assim somente após seu licenciamento, e
com compromisso de não redistribuí-lo nem modifica-lo”. Existem ainda software
proprietários grátis, como jogos e mensageiros instantâneos. Contudo, como estes
não seguem as quatro premissas do software livre, apresentadas anteriormente, não
são considerados livres.
      Saleh (2004) afirma que nas décadas de 1960 e 1970 praticamente todo o
software era livre, pois a pratica da comercialização de licenças ainda não era
difundida, já que o foco dos fornecedores de tecnologia estava no hardware, muitas
vezes fornecido em conjunto com os sistemas operacionais. Os aplicativos
geralmente eram desenvolvidos de acordo com as necessidades dos usuários que
compravam o hardware, sendo específicos para a arquitetura adquirida.
      Devidos a estas características, universidades, empresas e centros de
pesquisas compartilhavam os códigos da mesma comunidade, sem preocupações
17

com direitos autorais. Como na segunda metade da década de 1970 a
comercialização de licenças começou a aparecer com mais força, o movimento do
software livre sentiu a necessidade de se organizar mais, tendo como umas das
consequências a criação da Free Software Fundation (SALEH, 2004).

   2.1.2 Free Software Fundation

         Em 1985 foi iniciada a Free Software Fundation, criada por Richard Stallman,
com o objetivo de promover na comunidade de informática o espírito cooperativo
que se apresentava no inicio da computação, em que seus códigos, informações e
maneiras de trabalho eram livremente compartilhados (STALLMAN, 2002). Esta
organização é considerada como a principal patrocinadora do projeto GNU/LINUX
(GNU, 1996).
         Em 1981, o laboratório de inteligência artificial do Massachusetts Institute of
Technology (MIT) teve seu principal computador, que tinha o sistema operacional e
aplicativos desenvolvidos pela própria equipe da universidade, com software livre,
substituído por outro computador com códigos proprietários e fechados do fabricante
do novo computador (STALLMAN, 2002).
         Richard Stallman, até então professor do MIT, resolveu que não deveria
assinar os acordos de não divulgação impostos pelo fornecedor do hardware,
decidindo assim, não trabalhar com o software proprietário do fornecedor. Stallman
queria incentivar as pessoas a criarem software suficiente que permitisse a utilização
de um computador sem a necessidade de qualquer programa proprietário, pois ele
acredita que essa opção é a única socialmente justa (STALLMAN, 1999 apud Saleh
2004).
         Stallman (1999 apud Saleh, 2004, p.18) afirma que:

                       “o software proprietário implica numa organização social na qual não é
                      permitido às pessoas compartilhar conhecimento, não é permitido ajudar ao
                      próximo e incita à competição ao invés da colaboração: acredita que todo
                      software deveria ser livre”.

         Stallman (1999 apud Saleh 2004, p.18) considera que: “uma vez pagos os
custos de desenvolvimento limitar o acesso ao software traz muito mais malefícios
18

que benefícios.” Quando o usuário resolve pagar pela licença, está acontecendo
uma transferência de riquezas que será benéfica para ambas as partes, uma vez
que o usuário terá o software para resolver seu problema e a empresa terá o valor
da licença. Todavia, se o usuário resolve não adquirir o software, pois existe à
necessidade de pagamento, está havendo prejuízo a uma das partes sem que haja
benefício de ninguém.
           Stallman (1999 apud SALEH 2004) pondera que o prejuízo à sociedade pela
restrição é maior que os possíveis ganhos individuais da empresa, já que se estão
sendo impostas restrições a um bem cujo custo marginal de produção é zero, ou
seja, não ocorre acréscimo (ou decréscimo) do custo total quando se aumenta (ou
diminui) a quantidade de software produzida, e que as empresas de software
proprietário restringem a cooperação entre as pessoas e limitam o conhecimento da
sociedade com a proibição da distribuição do software. A principal ideia que
Stallman (1999 apud Saleh 2004) quer passar é que o software fechado nega o
acesso à informação e ao conhecimento, elementos sem os quais é impossível
estabelecer uma sociedade mais justa e democrática.

      2.1.3 Software Open Source

           A Open Source Initiative4 [s.d] aponta que a publicação do trabalho de Eric
Raymond (1997), intitulado de “A Catedral e o Bazar5”, o qual apresenta ao leitor
uma nova maneira de compreender e descrever as práticas populares na
comunidade Software Livre, foi de grande importância para o difusão do software
Open Source. Sua análise, centrada na ideia de revisão por pares distribuída, na
liberação de software para que as pessoas testem antes do produto final, teve
sucesso, tanto dentro como (e de forma até inesperada) fora da cultura livre.
           A apresentação deste trabalho em setembro de 1997 foi o incentivo para a
Netscape, em 22 de janeiro de 1998, liberar o código fonte de seu popular
navegador da Web como software livre, de acordo com a Open Source Initiative, que
afirma ainda que: “existia um sentimento generalizado de que as regras de



4
    Para maiores informações: http://www.opensource.org
5
    Texto disponível em http://www.catb.org/~esr/writings/cathedral-bazaar/
19

desenvolvimento estavam prestes a mudar, e que qualquer coisa seria possível”.
(OPEN SOURCE INITIATIVE, s.d, tradução nossa)
      O rótulo "Open Source" foi concebido em uma sessão realizada em 03 de
fevereiro de 1998, em Palo Alto, Califórnia. Dentre as pessoas presentes nesta
sessão estavam: Todd Anderson, Chris Peterson (do Foresight Institute), John
"maddog" Hall e Larry Augustin (ambos da Linux International), Sam Ockman (do
Grupo Vale do Silício do usuário do Linux), Michael Tiemann, e Eric Raymond,
ícones da comunidade livre (OPEN SOUCE INITIATIVE, s.d).
      A Open Source Initiative [s.d] afirma que os conferencistas decidiram que não
era interessante ficar limitado pela atitude moralizadora e de confronto que tinha sido
associada ao software livre no passado, e que seria interessante vender as ideias
estritamente pragmáticas que motivaram Netscape. Eles debateram as táticas que
deveriam usar e um novo rótulo, "Open Source", foi proposto por Chris Peterson.
Cinco dias depois, em 8 de fevereiro de 1998, foi emitida a primeira chamada
pública para a comunidade começar a usar o novo termo.
      As pessoas envolvidas no movimento Open Source trabalhavam com
software livre, mas sentiam-se incomodadas com o caráter ideológico imposto pela
FSF e sua licença GNU GPL. Então, esse movimento quis retirar do
desenvolvimento de software livre qualquer componente social ou ideológico. O
software deve ser aberto não por questões de liberdade, mas sim porque o modelo
aberto de desenvolvimento é mais eficiente tanto técnica quanto economicamente
(OPEN SOUCE INITIATIVE, s.d; SALEH, 2004). A ideia principal é que enquanto os
programadores estão lendo e modificando o código, naturalmente vão aparecer
melhorias, adaptações e correções, que têm como consequência uma maior
evolução do programa.
      Qualquer licença de software pode ser considerada aberta caso siga os
seguintes termos (PERENS, 1999; OPEN SOUCE INITIATIVE s.d):
         (i) Distribuição livre – A licença não deve impedir a venda ou distribuição do
programa gratuitamente, seja ele como componente de outro programa ou não.
         (ii) Código fonte – O programa deve incluir seu código fonte ou deve haver
algum maneira de obtê-lo pela internet ou com custo de reprodução, permitindo a
20

sua distribuição também na forma compilada. O código deve ser legível e inteligível
por qualquer programador.
         (iii) Trabalhos Derivados – A licença deve permitir modificações e trabalhos
derivados, permitindo, inclusive, que esses sejam distribuídos sobre os mesmos
termos da licença original.
        (iv) Integridade do autor do código fonte - A licença pode impedir que o
código fonte seja distribuído em uma forma modificada apenas se a ela permitir a
distribuição de arquivos de atualização com o código fonte para o propósito de
modificar o programa. A licença também deve permitir a distribuição do programa
desenvolvido a partir do código fonte modificado. Todavia, a licença pode ainda
requerer que programas derivados tenham um nome ou número de versão
diferentes do programa original.
         (v) Não pode haver discriminação contra pessoas ou grupos - A licença não
pode ser discriminatória contra qualquer pessoa ou grupo de pessoas.
        (vi) Não pode haver discriminação contra áreas de atuação - A licença não
deve impedir qualquer pessoa de usar o programa em um ramo específico de
atuação. Por exemplo, ela não deve proibir que o programa seja usado em um
empresa, ou para pesquisa genética.
        (vii) Distribuição da Licença - Os direitos ao programa devem ser aplicáveis
para todos aqueles que receberem o programa, sem a necessidade da execução de
uma licença adicional para estas partes.
        (viii) A Licença não é específica a um produto - Os direitos associados ao
programa não devem estar sujeitos que o programa seja parte de uma distribuição
específica de programas, ou seja, não se pode obrigar a executar o programa
somente em alguma distribuição do Linux, por exemplo. Se o programa é extraído
desta distribuição e usado ou distribuído dentro dos termos da licença do programa,
todas as partes para as quais o programa é redistribuído devem ter os mesmos
direitos que aqueles que são garantidos em conjunção com a distribuição de
programas original.
       (ix) A Licença não restringe outros programas - A licença não pode colocar
empecilhos em outros programas que são distribuídos juntos com o programa
21

licenciado. Isto é, a licença não pode especificar que todos os programas
distribuídos na mesma mídia de armazenamento sejam programas de código aberto.
         (x) A Licença é neutra em relação a tecnologia - Nenhuma cláusula da
licença pode estabelecer uma tecnologia individual, estilo ou interface a ser aplicada
no programa
      Como pode ser notado na leitura dos termos, na definição da licença Open
Source não é feita qualquer referência a aspectos políticos, sociais e de liberdade,
diferentemente da licença de software livre, proposta pela FSF, na qual o aspecto
principal é a liberdade. Em um software Open Source existe a possibilidade de que
um software aberto seja fechado posteriormente e para ser distribuído como
software proprietário, algo não permitido pela licença do software livre.
      Stallman (2002) afirma que o objetivo do software Open Source é produzir
software poderoso e de alta qualidade, e que isso é um objetivo louvável, mas não o
mais importante, pois o mais importante para ele é que o software siga as quatro
premissas do software livre.

     2.1.3.1 Características do desenvolvimento Open Source

   Segundo Nunes (2007), os projetos Open Source apresentam algumas
características que os tornam diferentes do paradigma de desenvolvimento
convencional, como: (i) Trabalho voluntário, uma vez boa parte dos desenvolvedores
trabalham sem remuneração, (ii) Trabalho não é designado, as tarefas ficam
disponíveis para os membros que tenham interesse ou aptidão as escolham para
realizar, (iii) Ausência de cumprimento de horários e de lista de entregas, uma vez
que o trabalho é voluntário, as pessoas trabalham em horários diversificados e
contribuem da maneira que podem, (iv) lançamentos de versões, a própria
comunidade em conjunto com os mantenedores discute quando será lançada uma
nova versão do software e atualizações da mesma, (v) teste, em projetos Open
Source é comum utilizar os usuários como testadores do software, assim como nem
sempre existe um sistema bem definidos de testes de software e (vi) planejamento,
nem sempre é possível devido ao não determinismo da colaboração.
22

   Todavia, estas caraterísticas não estão presentes em todas as comunidades,
algumas comunidades podem ter características únicas ou não utilizar algumas das
caraterísticas citadas.



   2.2 O Estudo da Motivação e suas Aplicações ao Contexto da Engenharia
   de Software

   Nas subseções a seguir serão apresentados os conceitos de motivação na
psicologia, no desenvolvimento de software e no contexto Open Source.

2.2.1 O Estudo da Motivação na Psicologia

       Segundo Todorov e Moreira (2005), o estudo da motivação humana vem
sendo observado desde o começo do século XX, com base na psicoterapia, na
psicometria e nas teorias de aprendizagem.
       França e Da Silva (2009) afirmam que a definição de motivação tem resultado
em diversas teorias, trazendo consigo, inclusive, diversas definições para o termo,
conforme exemplificado na Tabela 1.

                          Tabela 1 - Evolução do conceito de Motivação
Ano      Autores                          O que é motivação?

1959     Krech e Crutchfield              Um motivo é a uma necessidade ou desejo acoplado
                                          com a intenção de atingir um objetivo apropriado

1961     Young                            Uma busca dos determinantes (todos os determinantes)
                                          da atividade humana e animal.

1964     Atkinson                         Uma     concepção   coerente    dos    determinantes
                                          contemporâneos da direção, do vigor e da persistência
                                          da ação.

1967     Hilgard e Atkinson               “Motivo” é algo que incita o organismo á ação ou que
                                          sustenta ou dá direção à ação quando o organismo foi
                                          ativado.

1997     Rogers, Ludington e Graham       Motivação é um sentimento interno, é um impulso que
                                          alguém tem de fazer para realizar alguma coisa.

2000     Licury e Fenouillet              ... a motivação é o conjunto de mecanismos biológicos e
                                          psicológicos que possibilitam o desencadear da ação,
                                          da orientação (para uma meta ou, ao contrário, para se
                                          afastar dela) e, enfim, da intensidade e da persistência:
                                          quanto mais motivada a pessoa está, mais persistente e
23

                                      maior é a atividade.

2001     Penna                        É o conjunto de relações entre as operações de
                                      estimulação ou privação e as modificações observadas
                                      no comportamento que se processa após as citadas
                                      operações.

2004     Bzuneck                      A motivação tem sido entendida ora como um fator
                                      psicológico, ou conjunto de fatores ora como um
                                      processo. Estes fatores levam a uma escolha, instigam,
                                      fazem iniciar um comportamento direcionado a um
                                      objetivo.

                          Fonte: França e Silva (2009)

       Pode ser observado na Tabela 1 uma série de conceitos sobre motivação,
que possuem características semelhantes, como fatores psicológicos e biológicos,
sendo um sentimento interno, que leva um indivíduo a executar uma ação com
intensidade e persistência para maximizar o resultado.
       Isto corrobora com a definição apresentada por Minicucci (2009 apud Da
SILVA et al 2011), que define motivação como sendo algo interno ao indivíduo, que
varia de acordo com o objetivo, apresentando direção, intensidade, força e duração,
determinando um comportamento.
       Todavia, um problema recorrente na literatura que aborda motivação é a
confusão que existe com outros fenômenos como entusiasmo, satisfação, conforto,
alegria, necessidade, vontade, fé, desejo e instinto (Da SILVA; FRANÇA, 2011;
BERGAMINI, 1998; Da SILVA et al, 2011). Contudo, motivação se distingue destas
palavras, pois ela é intrínseca à pessoa e pela sua capacidade de gerar um
comportamento sustentável e por isso deve ser analisada de maneira mais completa
(Da SILVA et al, 2011).

2.2.2 Motivação no Desenvolvimento de Software

       De acordo com Sharp et al (2009), a motivação na Engenharia de Software é
reconhecida como um fator preponderante para o sucesso os projetos desse tipo.
Alguns trabalhos foram realizados com o objetivo de explorar e delinear os fatores
que motivam e desmotivam os engenheiros de software, bem como verificar quais os
modelos de motivação existentes. Beecham et al (2007) realizaram uma revisão
sistemática na literatura na qual catalogaram 92 artigos sobre motivação em
24

Engenharia de Software, publicados entre os anos de 1980 a 2006. Tal estudo
procurou responder as seguintes questões: (i) Quais as características dos
engenheiros de software? (ii) O que (des)motiva engenheiros de software a serem
mais produtivos ou menos produtivos? (iii) Quais são os sinais externos ou
resultados de engenheiros de software (des)motivados? (iv) Quais aspectos da
Engenharia de Software (des)motivam os engenheiros de software? (v) Quais os
modelos de motivação existentes na Engenharia de Software?
      França et al (2011) realizaram uma atualização desta revisão com o objetivo
de responder as mesmas questões do estudo original, porém com artigos publicados
no período de 2006 até 2010. Essa atualização da revisão encontrou 53 artigos, os
quais foram analisados para se chegar a novas evidências, com relação ao estudo
original, que reforçam alguns resultados encontrados no trabalho de Beecham et al.
(2007).
      Com a aplicação da pesquisa de Beecham et al (2007) foi observado que a
motivação dos engenheiros de software é definida por três fatores que estão
relacionados: características individuais, controles internos e moderadores externos.
Além disso, a pesquisa apresenta que engenheiros desmotivados tendem a deixar
as organizações onde trabalham, enquanto que o aumento de produtividade e a
retenção de membros da organização tende a serem resultados associados aos
engenheiros motivados. O trabalho apresenta também a divisão em duas listas dos
fatores que motivam (Tabela 2) e desmotivam (Tabela 3) o Engenheiro de Software
com base em outros trabalhos da literatura como a teoria da motivação-higiene
criada pelo psicólogo Frederick Herzberg (1923-2000).

                            Tabela 2 - Fatores Motivadores
                      Motivação para Engenheiros de Software

                          Recompensa e             Satisfação da
                            incentivos            necessidade de
                                                 desenvolvimento
                       Variedade do trabalho     Plano de Carreira
                           Sensação de         Equilíbrio entre a vida
                       pertencimento a uma     pessoal e profissional
                              esquipe
                        Trabalhar em uma           Participação
                       empresa de sucesso
                         Empowerement/               Feedback
                         Responsabilidade
25

                        Bom gerenciamento               Reconhecimento
                        Confiança/ respeito                Equidade

                       Trabalho tecnicamente          Segurança no emprego
                            desafiador
                       Contribuir/ importância        Condições apropriadas
                              da tarefa                    de trabalho
                             Autonomia                 Identificação com a
                                                               tarefa
                        Recursos suficientes
                                 Adaptado de Da Silva et al. (2011)
                           Tabela 3 - Fatores Desmotivadores
                      Desmotivadores           para     Engenheiros         de
                      Software

                                Risco                           Stress
                             Inequidade                Trabalho interessante
                                                       feito por outras partes
                         Sistema desleal de              Falta de promoção
                            recompensa
                         Comunicação Ruim                 Pagamento não
                                                            competitivo
                        Metas não realísticas           Mau relacionamento
                                                         com os colegas e
                                                              usuários
                        Gerenciamento ruim             Ambiente de trabalho
                                                      ruim (falta de recursos)
                      Produção de Software de                Equidade
                           má qualidade
                         Falta de influência     Adequação cultural
                                                         ruim
                                  Adaptado de Da Silva et al (2011)

      O principal fator motivador encontrado no trabalho de Beecham et al (2007)
foi a identificação com a tarefa. Quanto mais o indivíduo se identifica com a tarefa
mais ele fica motivado. Outros fatores motivadores que também tiveram destaque
são: participação, bom gerenciamento, plano de carreira e variedade da tarefa. No
estudo realizado por França et al (2011), foi encontrado que os fatores mais
recorrentes são: identificação com a tarefa, participação e bom gerenciamento.
Outros fatores que também estão entre os mais citados são: boa auto-imagem,
aprendizagem e auto-desenvolvimento.
      Quanto aos fatores desmotivacionais, o ambiente de trabalho ruim, com a
falta de recurso se destaca como característica mais citada, de acordo com o estudo
de Beecham et al (2007). Já o trabalho de França et al (2011) cita como principais:
complexidade da tarefa (muito fácil ou muito difícil) e carga de trabalho. Entre os
26

fatores em comum do estudo de França et al (2011) com estudo de Beecham et al
(2007) aparecem gerenciamento ruim e pagamento não competitivo.
        Sharp et al (2009) propõem um novo modelo de motivação em Engenharia de
Software, baseado em na teoria da motivação-higiene de Herzberg6, o qual eles
denominam de MOCC (Motivators, Outcomes, Characteristics and Context). Esse
modelo, apresentado na Figura 1, foca apenas nos resultados referentes aos fatores
motivadores, já que para o autor a motivação e desmotivação são constructos
diferentes.




                                            Figura 1 - MOCC
                                       Fonte: Da Silva et al (2011)




6
 Para mais informações: http://www.sobreadministracao.com/tudo-sobre-a-teoria-dos-dois-fatores-de-frederick-
herzberg/
27




                    Figura 2 - Motivadores intrínsecos e extrínsecos
                            Fonte: Da Silva et al (2011)

2.2.3 Motivação no contexto Open Source

      Segundo WU et al (2007) o software, no contexto Open Source,             é
desenvolvido espontaneamente por participantes de comunidades organizadas,
localizadas ao redor do mundo e trabalhando com o auxilio da Internet. Também são
característica desse tipo de projeto os integrantes contribuírem mesmo sem terem
vínculos empregatícios, pagamentos ou mesmo sem serem recrutados pelas
organizações responsáveis pelo produto em desenvolvimento (LERNE;TIROLE,
2002). Nas seções 2.2.3.1, 2.2.3.2, 2.2.3.3 são apresentados estudos que abordam
os motivos dos engenheiros de software contribuírem voluntariamente, com seu
tempo e habilidades, em projetos Open Source. Após isso, será feito uma
consideração final sobre os assuntos.
28

2.2.3.1     WU et al (2007)

        Este trabalho investiga a intenção dos desenvolvedores de software Open
Souce de continuarem envolvidos em projetos futuros, identificando os fatores que
os influenciam para isso. Para realiza-lo o autor desenvolveu um modelo de
pesquisa empírico, validado com 148 participantes e utilizando a escala de Likert7.
        Com base na revisão de literatura o autor encontra uma lista de fatores
extrínsecos e intrínsecos envolvidos no Open Source. Os fatores extrínsecos,
segundo o autor, são os fatores ambientais, interpostos pela organização a um
indivíduo. Os motivadores intrínsecos, também chamados de motivadores internos,
estão relacionados às necessidades do indivíduo. Vale destacar que neste trabalho
o autor não analisou o conjunto completo de possíveis motivadores, se
concentrando, então, naqueles que ele acredita terem efeito mais forte, que são:
(i) Comportamento de ajuda: Wu et al (2005) acredita que o altruísmo é natural do
ser humano, e é exibido de alguma maneira por todos. Baseado nesse ponto de
vista acredita-se que os desenvolvedores contribuem porque eles gostam de
estender a mão aos outros e, simultaneamente, gostam de ter a mesma ajuda
quando precisam.
(ii) Aprimoramento do capital humano: O capital humano é um dos incentivos
extrínsecos envolvidos no software Open Source. Sendo assim, o capital humano
envolve o acumulo de investimentos das pessoas na sua educação e no treinamento
do trabalho que elas desenvolvem no dia-a-dia.
(iii) Progressão na carreira: Baseado em outros estudos, acredita-se que a
participação em um projeto Open Source pode avançar a carreira de uma pessoa de
duas maneiras: através da demonstração de suas capacidades e habilidades para
potenciais empregadores; usando a participação em projetos para obter acesso ao
capital de risco, aquisição de ações ou para lançar um empreendimento empresarial.
(IV) Satisfação de necessidades pessoais: Vários projetos Open Source começam
porque os desenvolvedores não conseguem encontrar produtos que satisfazem uma



7
  É uma escala onde os respondentes são solicitados não só a concordarem ou discordarem das afirmações, mas
também a informarem qual o seu grau de concordância / discordância.
29

função em particular, dessa forma, o software e o conhecimento necessário para
utilizá-lo provêm um valor extrínseco para o desenvolvedor.
         Além disso, para sua pesquisa WU et al (2007, tradução nossa p.259)
também relaciona o nível de satisfação com o projeto afirmando que: “A satisfação
(em trabalhar em um projeto Open Source) deve depender de suas expectativas
pós-participação contra a sua percepção de valência para o seu desempenho”, ou
seja, a reação emocional às suas próprias motivações. De acordo com Reilly (2005),
a baixa satisfação no trabalho pode levar a comportamentos de indisciplina e
sabotagem.       Em   contraste,   a   satisfação   no   trabalho   pode   aumentar   o
comprometimento organizacional e a cidadania (LEE; MODAWY, 1987).
      Neste trabalho, o fator satisfação com a participação em projetos Open Souce é
a influência mais forte na participação em futuros projetos, seguido de:
aperfeiçoamento do capital humano e satisfação de necessidade pessoal. Ou seja,
os membros quando satisfeitos com sua particição em algum projeto Open Source
tendem a continuar participando em futuros projetos.

2.2.3.2       Oreg e Nov (2007)

         Oreg e Nov (2007) examinaram como o contexto de projetos Open Source e
os valores pessoais dos contribuintes estão relacionados com os tipos de motivação
deles. Para isso eles usaram um survey, que foi aplicado a 300 contribuintes, em
dois contextos Open Source: Software e Conteúdo. O autor encontrou que os
contribuintes do contexto de software dão maior ênfase sobre a reputação e as
motivações de auto-desenvolvimento, enquanto que os contribuintes do contexto de
conteúdo (mantenedores da Wikipedia, por exemplo) dão maior ênfase nos motivos
altruístas.
         Para realizar sua pesquisa o autor encontrou e classificou os seguintes
fatores motivadores:

(i)      Reputação: Os autores acreditam, assim como Lakhani e Wolf (2005), que
          empresas procuram programadores com habilidades especiais e podem
          encontrar essas habilidades examinando códigos de software Open Source.
30

        Assim, ganhar reputação pode ser extremamente interessante para quem
        quer progredir a carreira na indústria de Software (LERNER; TIROLE, 2002).

(ii)    Desenvolvimento próprio (aprendizado): Raymond (1999) afirma que o
        processo de desenvolvimento de software Open Source envolve um
        mecanismo de revisão de pares intensivo. Através deste processo os
        colaboradores recebem feedback e podem obter sugestões de estilos de
        programação e lógicas para melhorar suas habilidades profissionais
        (LAKHANI; WOLF, 2005).

(iii)   Altruismo: Para Oreg e Nov (2007), o altruismo é um motivador tanto no
        contexto de desenvolvimento quanto no contexto de conteúdo, só que por
        motivos diferentes. No conteúdo as pessoas querem compartilhar o
        conhecimento que elas detém (BONACCORSI; ROSSI, 2003); enquanto que
        no contexto de software as pessoas estão mais focadas no que elas podem
        ganhar do outros na comunidade e nas implicações no crescimento da
        própria carreira (LERNER; TIROLE, 2002).
        Para realizar sua pesquisa os autores utilizaram quatro valores de Schwartz
(1994) que eles acreditavam que teriam as seguintes relações com os três fatores:
(i) Realização com Reputação, pois os desenvolvedores pretende demostrar sua
competência para comunidade; (ii) Autodireção com Desenvolvimento próprio, já
que para o autor envolve a criatividade e liberdade; (iii) Benevolência e
Universalismo com Altruísmo, já que ambos, segundo os autores, promoviam o bem-
estar do próximo.
        Como resultado da pesquisa, os autores encontraram que motivação para
construir uma reputação em Open Source está correlacionada com ênfase do valor
da realização do individuo. Já a motivação para melhorar as suas competências
(Desenvolvimento próprio) está associada com sua ênfase pessoal em autonomia,
crescimento e livre pensamento. A motivação de ajudar a comunidade Open Source
está ligada ao valor da promoção do bem-estar ao próximo.
        Embora a reputação, conforme a hipótese dos autores, era para ser mais forte
no contexto de software do que no contexto de conteúdo, foi, no entanto, de forma
inesperada o fator de motivação mais fraco dos três, em ambos os contextos. Oreg e
31

Nov (2007) acreditavam que exigência dos contribuintes em tornar pública a sua
experiência tornaria a reputação o fator mais forte, ao invés de mais fraco, em
ambos os contextos.

2.2.3.3     Von Krogh et al (2008)

         Von Krogh et al (2008) identificaram na literatura os principais fatores
motivacionais ligados aos projetos Open Souce. Os autores dividem os fatores em:
(i) motivacionais intrínsecos (Tabela 4), também chamados de motivadores internos,
que estão relacionados com as necessidades que satisfazem o indivíduo; (ii)
Motivacionais extrínsecos (Tabela 5), que são os fatores ambientais interpostos pela
organização a um indivíduo; (iii) fatores motivacionais extrínsecos internos (Tabela
6), que são definidos como auto-reguladores de comportamento, diferenciando dos
fatores extrínsecos porque estes são imposições externas (VON KROGH et al,
2008).
         Na revisão de literatura foram adotados métodos de análise crítica, qualitativa
e sintética, com quatro passos principais na identificação do material. Primeiro, foi
identificado artigos listados no banco de dados da Institute for Scientific Information,
que continham as palavras chaves “Open Source software” e “motivação”. O
segundo passo foi revisar a lista de referências dos artigos encontrados para
procurar novas fontes que não foram listados na primeira etapa ou artigos excluídos
por conta dos critérios utilizados. No terceiro passo, os pesquisadores navegaram
por repositórios de artigos on-line (por exemplo, www.opensource.mit.edu) para
identificar artigos que correspondem aos critérios de pesquisa. Em quarto lugar, com
artigos de conferências e capítulos de livros que eram conhecidos pelos
pesquisadores e colegas de trabalho que ainda não tinham constado nas pesquisas.
         Trabalhos teóricos e conceituais foram examinados buscando-se fatores
motivacionais usados para criar a teoria. Fatores motivacionais que se mostraram
relevante em trabalhos empíricos também foram incluídos na revisão. A inclusão de
trabalhos empíricos é compreensiva, considerando que a inclusão das contribuições
puramente teóricas é mais seletiva (Von KROGH et al, 2008). Se um estudo utilizou
uma terminologia diferente, mas a motivação parecia suficientemente com uma já
existente na taxonomia, esta foi incorporada a taxonomia existente.
32



                        Tabela 4 - Fatores Motivacionais intrínsecos
Motivação            Conceito                                       Trabalhos Relacionados
Ideologia            Ideologia é citada como um dos principais      HEMETSBERGER (2004);
                     motivos para iniciar um projeto Open Source.   GHOSH, (2005);
                     Pode ser observada com o uso de termos         DAVID et al. (2003);
                     como: “Software deve ser livre para todos”,    LAKHANI e WOLF (2005);
                     ou “o código aberto deve substituir o          HERTEL et al. (2003);
                     software proprietário”.                        GOSAIN (2006);
Altruísmo            É a preocupação pelo bem-estar do próximo.     OSTERLOH e ROTA (2007);
                                                                    LINDENBERG (2001);
                                                                    HEMETSBERGER (2004);
                                                                    HARS e OU (2002);
                                                                    GHOSH (2005);
Prazer e diversão    Prazer e diversão são impulsionadores da       BENKLER (2002);
                     “cultura hacker” que emergiu na década de      OSTERLOH e ROTA (2007);
                     1980.                                           LAKHANI e VON HIPPEL
                                                                    (2003);
                                                                    LUTHIGER e JUNGWIRTH
                                                                    (2007);
                                                                    LAKHANI e WOLF (2005);
                                                                    HERTEL et al. (2003);
                                                                    ROBERTS et al. (2006);
Amigos de Sangue     É um tipo de organização social, onde cada     ZEITLYN (2003);
(Kinship             família (casta) tende a fazer tudo pelo        HEMETSBERGER (2004);
Amity)               sucesso da própria família, ou dos seus        HARS e OU (2002);
                     próprios membros.                              LAKHANI e WOLF (2005);

                             Adaptado de Von KROGH et al (2008)
                    Tabela 5 - Fatores Motivacionais extrínsecos internos
Motivação            Conceito                                       Trabalhos Relacionados
Reputação            A reputação pode ser classificada como:        RAYMOND (1998);
                     reputação interna, quando é direcionada aos    STEWART (2005);
                     membros da comunidade ou potenciais            LERNER e TIROLE (2002);
                     empregadores, e externa vem de fora da         OSTERLOH e ROTA (2007);
                     comunidade e de outras pessoas                  LAKHANI e VON HIPPEL
                     significantes, como amigos.                    (2003);
                                                                    LATTEMANN e STIEGLITZ
                                                                    (2005);
                                                                    SPAETH et al (2008);
                                                                    LAKHANI e WOLF (2005);
                                                                    HEMETSBERGER (2004);
                                                                    HARS e OU (2002); GHOSH
                                                                    (2005)
                                                                    LAKHANI e WOLF (2005);
                                                                    ROBERTS et al (2006);
                                                                    STEWART (2005);
                                                                    HEMETSBERGER (2004);
                                                                    HERTEL et al (2003);
33

Motivação         Conceito                                       Trabalhos Relacionados
Reciprocidade /   Para o desenvolvimento Open Source a           BERGQUIST e LJUNGBERG
Economia da       economia da doação faz com que os              (2001);
doação            desenvolvedores distribuam seu código          HEMETSBERGER (2004);
                  esperando que haja reciprocidade.              LAKHANI e WOLF (2005);
                                                                 DAVID et al (2003);
                                                                 LAKHANI e VON HIPPEL
                                                                 (2003);

Aprendizado       É a motivação de aprender novas                GHOSH (2005);
                  habilidades ou a oportunidade de               HEMETSBERGER (2004);
                  experiência de desenvolver software e tê-lo    LAKHANI e WOLF (2005);
                  testado e comentado por outras pessoas         WU et al (2007);
                  após o lançamento.                             ROBERT et al (2006)
                                                                 YE e KISHIDA (2003);
                                                                 LAVE e WENGER (1991);
                                                                 RULLANI (2007);
Valor de uso      É a motivação de criar software para uso       RAYMOND (1999);
próprio           próprio, ou seja, resolver algum problema      LAKHANI e VON HIPPEL
                  que os aplicativos atuais não conseguem        (2003);
                  resolver de maneira satisfatória.              OSTERLOH e ROTA (2007);
                                                                 GHOSH (2005);
                                                                 DAVID et al (2003);
                                                                 HARS e OU (2002);
                                                                 LAKHANI E WOLF (2005);
                                                                 WU et al (2007) ;
                                                                 HARS e OU (2002);
                                                                 HERTEL et al (2003);
                                                                 ROBERTS et al (2006);
                          Adaptado de Von KROGH et al (2008)




                     Tabela 6 - Fatores Motivacionais extrínsecos
Motivação         Conceito                                       Trabalhos Relacionados
Carreira          Os desenvolvedores são motivados por           LAKHANI e WOLF (2005);
                  preocupações na carreira. Publicar um          HEMETSBERGER (2004);
                  software livre pode mostrar seu talento para   WU et al (2007) ;
                  potenciais empregadores, aumentado,            HARS e OU (2002);
                  assim, seu valor no mercado de trabalho.       ROBERTS et al (2006);
                                                                 GHOSH (2005);
Pagamento         Uma minoria significativa (aproximadamente     LAKHANI e WOLF (2005);
                  40%) dos colaboradores são pagos para          HARS e OU (2002);
                  participar de projetos Open Source. O          HERTEL et al. (2003);
                  conceito é semelhante ao de uma empresa        LUTHIGER e JUNGWIRTH
                  de software proprietário em que o              (2007);
                  desenvolvedor ganha por produção.              DAHLANDER AND WALLIN
                                                                 (2006);
                          Adaptado de Von KROGH et al (2008)
34

   2.3 Discussão
      O trabalho de Von Krogh et al       (2008)   foi de suma importância para a
pesquisa realizada, pois forneceu análise bastante abrangente e permitiu a
identificação de uma taxonomia dominante na literatura, utilizada para agrupar os
fatores de motivação identificados depois que a codificação ficou pronta. Em sua
pesquisa, foram encontrados 10 fatores ao todo, sendo dois fatores motivacionais
extrísicos (Carreira e Pagamento), quatro fatores motivacionais intrísicos (Altruismo,
Ideologia, Prazer, e Amigos de sangue) e quatro fatores motivacionais extrínsecos
internos (Reputação, Reciprocidade, Valor de uso próprio e aprendizado).

      Os trabalhos de Wu et al (2008) e Oreg e Nov (2007) fornecem proposições
que ajudam a entender melhor algumas questões inerentes ao desenvolvimento de
software Open Source.

      Baseado no referencial teórico desenvolvido neste capítulo foi possível
realizar a pesquisa e escolher uma metodologia a ser utilizada para se obter
sucesso na realização da mesma.
35

3 MÉTODOS
       Neste capítulo é exposta a metodologia adotada para a realização deste
trabalho. Segundo Pinheiro (2010, p.20), o método científico “É o conjunto de
processos ou operações mentais que se deve empregar na investigação científica”.

 3.1 Natureza da Pesquisa

       3.1.1 Quanto aos Fins

       Esta pesquisa pode ser classificada como descritiva e exploratória. Ela é
descritiva, pois visa descrever características de um fenômeno e exploratória porque
visa conhecer inicialmente o tema de estudo.
       Segundo Pinheiro (2010, p.21), a pesquisa exploratória “visa proporcionar
maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir
hipóteses”. Ainda segundo este autor, a pesquisa descritiva visa “descrever as
características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de
relações entre variáveis.”
       Este trabalho tem como principal característica descobrir como os principais
fatores motivacionais que afetam os engenheiros de software no contexto de
desenvolvimento de software Open Source agem na comunidade Android-Brasil-
Projetos.

      3.1.2 Quanto à Forma de Abordagem

       Quanto à forma de abordagem, a pesquisa classifica-se como qualitativa,
utilizando o paradigma interpretativo-construtivista. Segundo Neves (1996, p.1):
                    A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu
                    desenvolvimento; além disso, não busca enumerar ou medir eventos e,
                    geralmente, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados;
                    seu foco de interesse é amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da
                    adotada pelos métodos quantitativos.

       Desta forma, esta pesquisa busca investigar os fatores que motivam os
engenheiros de software na realização do seu trabalho a partir dos relatos das
entrevistas.
       Além disso, a pesquisa utilizará como abordagem o método indutivo, que,
segundo Marconi e Lakatos (2004, p.53), a partir de dados específicos e
36

suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral. Marconi e Lakatos (2004
p.54) consideram três etapas para essa abordagem:
            Observação dos fenômenos: Observar e analisar os fenômenos, a
             fim de descobrir as causas da sua manifestação;
            Descoberta da relação entre eles: comparar buscando identificar
             similaridades ou diferenças entre os fatos ou fenômenos, com o
             objetivo de descobrir relacionamento entre eles;
            Generalização       da     relação:     generalizar     os    relacionamentos
             encontrados na etapa           anterior, entre os fatos e fenômenos
             semelhantes.
      A partir de dados coletados de um grupo de participantes deseja-se chegar a
uma teoria fundamentada, baseada em interpretações e abstrações, objetivando
identificar os principais fatores motivacionais que afetam os engenheiros de software
no contexto de desenvolvimento de software Open Source na comunidade Android-
Brasil-Projetos. Todavia, neste trabalho não será realizada a generalização da
relação.

      3.1.3 Quanto aos métodos de procedimentos

      Conforme Marconi e Lakatos (2004), os métodos de procedimentos são
etapas mais concretas de uma pesquisa, com uma finalidade mais restrita de
explicação geral dos fenômenos. Para esse trabalho o procedimento adotado foi o
estudo de caso. Yin (2005, tradução nossa p. 32) descreve que:
                    “um estudo de caso investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu
                    contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o
                    contexto não estão claramente definidos”.
      Segundo Runeson e Host (2008), na Engenharia de Software um caso pode
ser: um projeto de desenvolvimento de software, uma tecnologia, indivíduo, grupo de
pessoas, um processo, entre outros. Já uma unidade de análise pode ser constituída
por um projeto, indivíduo, grupo, entre outros.
        De acordo com Yin (2005), este trabalho é um estudo de caso holístico de
caso único. Holístico porque a unidade de análise é o engenheiro de software, pois o
objetivo da pesquisa é estudar os fenômenos e aspectos que influenciam a
37

motivação dos indivíduos ligados à área de Engenharia de Software no contexto
Open Source, abrangendo os seguintes perfis nesta categoria: desenvolvedores,
mantenedores, contudo, sendo focada nos desenvolvedores. Caso único, no qual é
considerada a organização como caso representativo, que se deseja investigar os
acontecimentos que motivam ou desmotivam os engenheiros de software na
realização das suas atividades.

3.2 Premissas

      Este estudo tem como premissa a existência de fatores que influenciam na
motivação, em projetos Open Source, dos engenheiros de software relacionados à
área de Engenharia de Software, às atividades técnicas, ao trabalho em equipe,
além de aspectos organizacionais que influenciam os indivíduos. Também se
acredita que existam indicativos ou sinais percebidos pelos indivíduos quando da
ocorrência da motivação e que suas ações e comportamento influenciam o resultado
do seu trabalho, assim como, se considera que as ações organizacionais, para
motivar os indivíduos, podem ser influenciadas pelo conceito que a organização
apresenta sobre o tema.

3.3 Etapas de pesquisa

      As etapas de pesquisa utilizadas foram baseadas no trabalho de França et al
(2011). Foram feitas alterações no protocolo base para adequá-lo ao contexto de
Open Source. De inicio, foi realizada uma revisão bibliográfica para adquirir um
conhecimento maior sobre motivação e desenvolvimento de software Open Source.
Com isso, foram encontrados trabalhos que abordavam os seguintes temas:
conceitos básicos de motivação e software Open Source, revisões sistemáticas da
literatura envolvendo motivação na Engenharia de Software e motivação no contexto
Open Source. Foram considerados nessa revisão livros, artigos científicos e
dissertações acadêmicas escritos em Português ou Inglês.
       Depois desta etapa, foram utilizadas as revisões sistemáticas na literatura
sobre motivação na Engenharia de Software e motivação no desenvolvimento de
software Open Source. A partir destas revisões iniciais, sobre os temas, as questões
38

de pesquisa foram refinadas. Após esta fase foi realizada uma adaptação no roteiro
de entrevista utilizado por França et al (2011), de forma a enquadra-lo ao contexto
Open Source.
        Dando sequência a pesquisa, foi realizada a coleta de dados através de
entrevistas via Skype8 com envolvidos no desenvolvimento de software Open
Source, a saber: desenvolvedores e mantenedores de projetos da comunidade
Android-Brasil-Projetos. Os dados coletados foram transcritos para análise utilizando
os procedimentos da Teoria Fundamentada (Grounded Theory) (STRAUSS;
CORBIN, 2008). Com base nesta metodologia, os dados foram codificados
utilizando codificação aberta, codificação axial e codificação seletiva. Como
resultados destes procedimentos foram derivadas preposições e histórias para
geração de uma teoria fundamentada nos dados (França et al 2011).

3.4 Seleção de sujeitos
        A seleção de sujeitos foi realizada utilizando o critério de conveniência,
abordando indivíduos através da melhor acessibilidade. Os dados adquiridos são do
tipo primário, ou seja, foram conseguidos diretamente pelo pesquisador através das
técnicas escolhidas (entrevistas) (GIL, 2008).
        Foi utilizado a auto-seleção9 de amostragem que é útil quando se quer
permitir que os indivíduos possam escolher se desejam participar da pesquisa
voluntariamente, todavia os indivíduos não são abordado pelo pesquisador
diretamente(LAERD [s.d]).
        Para isso foi enviado um e-mail, no dia 07/05/2012, para o Grupo do
AndroidBrasil-projetos, perguntado aos membros quem gostaria de participar das
pesquisas. Os membros que aceitaram o convite enviaram um e-mail de reposta ao
pesquisador e foram contatados posteriormente para marcar a entrevista.

3.4.1 Entrevista
        Para o desenvolvimento deste trabalho foram realizadas entrevistas, que, na
opinião de Runeson e Host (2008 apud Da SILVA et al 2011), são muito importantes


8
 Skpe é um software de comunicação de voz e vídeo, para mais informações http://www.skype.com
9
 Para mais informações sobre auto-seleção: http://dissertation.laerd.com/articles/self-selection-sampling-an-
overview.php
39

como fonte de evidências e, de acordo com Seaman(1999 apud Da SILVA et al,
2011), são comumente empregadas como técnicas de coletas de dados em
pesquisas qualitativas.
      Desta forma, o objetivo das entrevistas foi realizar um levantamento dos
fatores   que   motivavam    os   engenheiros      de   software   Open   Source   no
desenvolvimento dos projetos, na execução das suas tarefas, no seu trabalho em
equipe, além da percepção dos mesmos sobre características organizacionais que
influenciavam na sua motivação e desmotivação para o trabalho.
      Pinheiro (2010 p. 35) define que a entrevista serve para se obter informações
do entrevistado sobre determinado assunto e podem ser divididas como
estruturadas, ou não estruturadas. Queiroz (1988 apud DUARTE, 2002) afirma que
existe mais um tipo de entrevista além dos apresentados por Pinheiro (2010 p.35): a
entrevista semiestruturada, que é uma técnica de coleta de dados que supõe uma
conversação continuada entre informante e pesquisador que deve ser dirigida por
este de acordo com seus objetivos.
      Neste estudo de caso, o tipo de entrevista adotado foi o de entrevista
semiestruturada, no qual não existe rigidez no roteiro e algumas questões podem
ser mais exploradas, bem como, durante entrevista, pode-se decidir por se seguir
uma ordem diferente do roteiro, ou seja, não necessariamente todas as questões
precisam ser feitas e outras podem surgir de acordo com o andamento do processo
(SEAMAN, 1999 apud Da SILVA et al , 2011).
      Assim como no roteiro proposto por Da Silva et al (2011), este trabalho se
preocupou em adaptar as perguntas para que os entrevistados se sintam
estimulados a responder as questões de pesquisa, o roteiro original e os roteiros
adaptados podem se observados nos Apêndices B e C.
      Para isso, o roteiro foi desenvolvido de maneira que cada questão do roteiro
de entrevista fosse classificada segundo um conjunto de seis tipos de questões
conforme, Merriam (2009 apud Da SILVA et al, 2011), de forma semelhante ao
trabalho desenvolvido por Da Silva et al (2011).
    Experiência e comportamento: Nesta categoria as questões visam obter
      informações de comportamento ou experiência do entrevistado;
40

    Opinião e valor: Nesta categoria a intenção é obter a opinião ou crença
      referente a alguma coisa por parte do entrevistado;
    Sentimento: Quando o pesquisador deseja focar na dimensão afetiva
      humana do participante, procurando adjetivos como respostas, exemplo:
      alegre, medo, intimidado, comprometimento, distraído, entre outros;
    Sensoriais: Tem um foco maior em saber sobre o que o entrevistado ouviu,
      escutou, entre outros;
    Conhecimento: Neste tipo de questão o objetivo é obter do participante o seu
      conhecimento sobre alguma situação;
    Background: Este tipo de questões serve para obter uma visão geral do
      entrevistado como idade, renda e escolaridade.
      Da Silva et al (2011) evitou desenvolver alguns tipos de questões, que
também serão evitadas nessa pesquisa:
    Múltiplas questões: Evitar elabora uma série de questões dentro de uma
      única pergunta, levando o entrevistado a se perder nas respostas e não
      responder uma por uma;
    Questão principal: Evitar perguntar ao entrevistado questões principais da
      pesquisa;
    Questões sim ou não: Evitar elaborar questões que podem ser respondidas
      simplesmente com um sim ou um não.
      Para este trabalho foram adaptados dois diferentes roteiros de entrevista que
foram desenvolvidos para os perfis de engenheiros de software Open Source,
coordenadores/gerentes/lideres de projetos Open Source.
      Os participantes da pesquisa foram contatados pelo e-mail do grupo.
Posteriormente, os que aceitaram participar da pesquisa foram contatados pelo e-
mail pessoal com antecedência à realização das entrevistas para marcar um melhor
dia e horário. As entrevistas não estruturadas foram agendadas e conduzidas
utilizando o Skype, de forma individual.    No momento da entrevista foi feita a
apresentação de detalhes da pesquisa, citando o grupo de pesquisadores
responsáveis, política de confidencialidade, objetivos e resultados esperados. Foi
entregue um termo de confidencialidade (Apêndice A) e a coleta de autorização
41

realizada. O pesquisador solicitava autorização verbal para gravar as entrevistas e,
se permitido, as entrevistas eram gravadas.

3.5 Procedimentos da análise de dados

      Este trabalho, assim como o desenvolvido por Da Silva et al (2011), adotou
métodos de análise de dados qualitativos, devido a semelhança de abordagem.
Segundo Runeson e Host (2008 apud Da Silva et al 2011) e Seaman (1999 apud Da
Silva et al 2011), os métodos de uma análise de dados qualitativos podem ser
divididos em duas categorias que podem ser utilizadas em estudos de caso. Da
Silva et al (2011) justifica a utilização desses métodos a fim de fundamentar os
resultados baseados e evidenciados a partir dos dados.
    Geração de teoria: Segundo Da Silva et al (2011), é geralmente utilizada
      com o objetivo de extrair um conjunto de declarações e proposições
      fundamentadas em dados, a partir de algum trecho de transcrições e
      refinadas e modificadas sobre outras passagens relacionadas. Da Silva et al
      (2011 p.44) ainda afirma que: “Estes métodos são frequentemente chamados
      de “grounded theory” ou teoria fundamentada nos dados, pois as teorias ou
      hipóteses geradas são fundamentadas nos dados”.
      Neste trabalho foram usados alguns aspectos de grounded theory que serão
mencionados a seguir, todavia pela quantidade de dados, não foram gerados
hipóteses e sim proposições, além disso, essas proposições geram indícios de uma
teoria da motivação que atua somente na comunidade Android-Brasil-Projetos, muito
embora acredita-se que os fatores encontrados possam ser observados em outras
comunidades, eles devem ser mais bem estudados antes de serem aplicados em
outras comunidades.

3.5.1 Teoria Fundamentada em Dados (Ground Theory)

      A abordagem utilizada nesta pesquisa é chamada de Teoria Fundamentada
em Dados. Ela foi desenvolvida por dois sociólogos (Glaser e Strauss) para ser
utilizada na pesquisa qualitativa. A escolha dessa forma de abordagem se dá pela
sua grande aceitação por pesquisadores qualitativos (STRAUSS; CORBIN, 2008).
42

      Easterbrook (2008) acredita que na Teoria Fundamentada em Dados a
análise inicial dos dados é desenvolvida sem categorias pré-estabelecidas, pois os
padrões de interesse relacionados ao contexto da pesquisa emergem a partir de
comparações realizadas repetidamente pelo pesquisador a partir dos dados
existentes.
      Para Strauss e Corbin (2008), o nome Teoria Fundamentada em Dados
significa que a teoria foi desenvolvida a partir dos dados, sistematicamente
coletados, e analisados por meio de um processo de pesquisa.
      Para Da Silva et al (2011), na Teoria Fundamentada em Dados as hipóteses
são elaboradas como parte integrante da metodologia e que as hipóteses têm como
objetivo obter entendimento dos fenômenos, no caso desta pesquisa foram geradas
proposições, como abordado anteriormente, e que a abrangência da teoria usada
está circunscrita ao espaço amostral utilizado, a comunidade Open Source Android-
Brasil-Projetos.
      Kimura et al (2003) acredita que a abordagem metodológica da Teoria
Fundamentada em Dados proporciona algumas dificuldades práticas, como, a
quantidade de tempo que o pesquisador precisa para proceder à coleta, codificação
e o grande volume de dados a serem analisados, a exposição do pesquisador com
os participantes para criar um "clima" de interação (Sheldon, 1998 apud Kimura et al
2003). Kimura et al (2003) acredita, também, que outro ponto que deve ser
considerado pelo pesquisador é a busca pela eliminação consciente das crenças
preconcebidas a respeito do fenômeno em estudo, a fim de permitir que os dados
apontem a identificação dos conceitos e suas inter-relações, desenvolvendo, dessa
forma, uma teoria descontaminada de preconceitos do pesquisador.

3.5.2 Procedimento de codificação

      Os procedimentos de codificação utilizados nesta pesquisa são semelhantes
aos utilizados por Da Silva et al (2011) em sua pesquisa. Da Silva et al (2011)
acredita que o procedimento de codificação tem como entrada a transcrição na
íntegra das gravações de entrevistas e notas de campo obtidas no processo de
coleta de dado.
43

         Da Silva et al (2011) ressalta ainda que não é um processo estático e rígido,
pois ele é justamente o contrário, já que o pesquisador evolui a sua análise e
interpretação dos dados de forma criativa oscilando entre os três tipos de
codificação, e na utilização de técnicas e procedimentos analíticos. Os três tipos do
processo de codificação devem ser encarados como formas diferentes de tratar o
material nesse caso os dados. (FLICK, 2009 apud Da SILVA et al 2011; STRAUSS ;
CORBIN, 2008, p. 67).

         Existem   duas    ferramentas   analíticas   que   são   importantes   para   o
desenvolvimento de uma teoria e muito utilizadas durante as três etapas de
codificação, que tem por objetivo ajudar o pesquisador a entender e reconhecer o
que realmente está contido no texto (STRAUSS e CORBIN, 2008; Da SILVA et al ,
2011):

         a) Formulação de perguntas: As perguntas “quem?”, “quando?”, “por quê?”,
“onde?”, “o que?”, “como?”, “com que resultados?”, são uteis para o pesquisador
quando ele está com dificuldades durante uma análise sem conseguir enxergar
explicações dos fenômenos. Da Silva et al (2011) ainda destaca que o objetivo da
formulação de perguntas não é gerar dados e sim formas e ideias de como olhar
para os dados.

         b) Comparações: É uma maneira que estimula o pensamento do pesquisador
no desenvolvimento de propriedades e dimensões de uma categoria. Comparação
incidente por incidente, com o objetivo de identificar propriedades, significa comparar
um incidente a outro buscando similaridades e diferenças entre eles. Segundo Da
Silva et al    (2011),    durante a análise de dados, esse procedimento é utilizado
quando não se consegue classificar ou nomear um incidente porque ainda não se
tem um entendimento aprofundado. Utilizando um pensamento comparativo e
metáforas o pesquisador pode encontrar situações e propriedades que o ajudem a
desenvolver uma categoria.
44

3.5.2.1 Codificação Aberta

      Durante a codificação aberta se dar início ao processo de confrontar os
incidentes aplicáveis em cada categoria (GLASER & STRAUSS, 1967 apud
CASSIANI et al, 1996). Segundo Cassiani et al (1996), o investigador codifica os
incidentes em tantas categorias quanto possível. Todos os dados são passíveis,
neste momento, de uma codificação. A codificação é o processo em que os dados
são codificados, comparados com outros dados e designados em categorias.
      Da Silva et al (2011) afirma que a codificação aberta é uma série de passos
analíticos cuja finalidade é a identificação de categorias com suas propriedades e
dimensões. Segundo este autor, o passo inicial é a rotulação de conceitos, a partir
de porções do texto. Essas porções de texto que foram transcritos recebem um
conceito, que é um nome que os representa dentro do contexto da pesquisa,
podendo ser uma palavra, uma linha, uma frase ou um parágrafo que foi
conceituado a partir da identificação nos dados de incidentes, ideias, eventos, atos,
acontecimentos ou fatos (STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 103-107; FLICK, 2009,
p.277-279 apud Da SILVA et al, 2011).
      Strauss e Corbin (2008) expõem o conceito como um fenômeno rotulado a
partir dos dados, que é a representação abstrata de um fato, ideia ou acontecimento
que o pesquisador julgou importante dentro do contexto da pesquisa.
      Da Silva et al (2011) explica que a identificação de conceitos linha por linha
para início de uma pesquisa é a mais indicada, já que o pesquisador ainda está se
acostumando com os dados e isso o ajuda a entender o que está ocorrendo. Outra
indicação para conceituação linha por linha é para algum trecho do texto que não
está claro. Outra forma é codificar uma frase ou parágrafo inteiro, dessa maneira
deve-se perguntar e tentar identificar “Qual é a principal ideia revelada por essa
sentença ou parágrafo?” (STRAUSS e CORBIN, 2008, p. 120).
      Depois de abrir o texto e identificado alguns conceitos, o passo seguinte do
procedimento é o agrupamento desses conceitos em um conceito mais abstrato, que
deve ter a capacidade de explicar “O que está acontecendo aqui?”. Esse
agrupamento de conceitos é identificado como uma categoria. Categorias são
conceitos mais abstratos derivados dos dados que representam um fenômeno (um
45

problema, uma questão, preocupações ou assuntos) que tem a capacidade de
explicar “O que está acontecendo aqui”? (STRAUSS; CORBIN, 2008; FLICK, 2009
apud Da SILVA et al , 2011).
      As categorias descobertas devem ser desenvolvidas em termos de suas
propriedades e dimensões. Um exemplo utilizado para representar isso é o conceito
de cor. Suas propriedades podem ser tonalidade, intensidade e matiz. Onde cada
uma dessas propriedades pode ser dimensionada. Uma tonalidade mais clara ou
mais escura, uma intensidade maior ou menor.          (STRAUSS e CORBIN, 2008;
FLICK, 2009 apud Da SILVA et al, 2011). Da Silva et al (2011) acredita que no final
da codificação aberta o resultado dever ser uma lista de códigos e categorias com
suas propriedades e dimensões. Para complementar, o pesquisador pode se utilizar
de memorandos e anotações a fim de explicar e registrar suas observações e
pensamentos sobre cada categoria gerada.

3.5.2.2     Codificação Axial
      Segundo Da Silva et al (2011), após a codificação aberta, deve ser feita uma
codificação axial, que tem como objetivo relacionar as categorias resultantes da
codificação aberta com às suas subcategorias para que se tenha um maior poder
explanatório sobre os fenômenos. Da Silva et al (2011) afirma que subcategorias
são categorias, porém no lugar de representar um fenômeno, elas têm a capacidade
de responder as seguintes perguntas sobre os fenômenos (“de que forma?”,
“quando?”, “como?”, “por quê?”, “para que?”, “com que consequências?”, entre
outros).
          Ao identificar essas subcategorias, começa-se a descobrir relações entre as
categorias de forma a contextualizar melhor o fenômeno estudado (STRAUSS;
CORBIN, 2008; FLICK, 2009 apud Da SILVA et al, 2011).
      Strauss e Corbin (2008) apresentaram um mecanismo analítico conceitual em
relação aos dados para organizar a formulação desse relacionamento chamado
paradigma. Segundo Da Silva et al (2011), a ideia desse mecanismo é apoiar o
esclarecimento e a identificação das relações entre um fenômeno,        identificando
suas causas, consequências e estratégias de ações envolvidas. Os termos utilizados
no paradigma fornecem uma linguagem familiar e lógica facilitando a discussão. A
46

seguir serão apresentados os termos de acordo Strauss e Corbin (2008) e Flick
(2009 apud Da SILVA et al, 2011):
•     Fenômeno: Na codificação, fenômeno é uma categoria que responde a
pergunta “o que está acontecendo aqui?”, são padrões de acontecimentos, fatos ou
ações que as pessoas, ou grupo de pessoas, fazem respondendo a situações ou
problemas nas quais elas estão envolvidas.
•     Condições: Agrupamento de conceitos com respostas a questões do tipo:
"como", "por que", "quando", "de que forma". Forma uma estrutura contextual, ou
conjunto de situações ou circunstâncias na qual os fenômenos estão envolvidos.
•     Ações/interações:       Surgem    a   partir   das   condições.   São   respostas
estratégicas, ou rotineiras das pessoas, grupo de pessoas ou organizações a
problemas, acontecimentos ou fatos.
•     Consequências: São os resultados (consequências) das ações/interações.
Sempre que acontece uma ação/interação ou a ausência delas, seja por uma
pessoa, grupo ou organização em relação algum problema, questão ou evento, há
alguma consequência envolvida. Entender essas consequências bem como a forma
como elas alteram o fenômeno possibilita a obtenção de explicações mais completas
sobre o fenômeno
      Quando se identificam a relação entre as categorias e a associação com suas
subcategorias, junto com a utilização do mecanismo paradigma, o pesquisador
começa a identificar o que são condições, ações/interações e consequências.

3.5.2.3     Codificação Seletiva

      De acordo com Da Silva et al (2011), o último passo do processo de
codificação é a codificação seletiva, que tem como objetivo integrar e refinar as
categorias a fim de descrever uma teoria final. Essa descrição da teoria se dá
através da identificação e do relacionamento de uma categoria central com as
demais categorias identificadas em todo o processo.
          Da Silva et al (2011) afirma que a primeira coisa a se fazer na codificação
seletiva é a identificação da categoria central. A categoria central, ou categoria
básica, representa o tema principal da pesquisa e, assim como as demais
categorias, é uma abstração que emergiu dos dados. Da Silva et al (2011) afirma,
47

ainda, que essa categoria tem um grande poder analítico, pois tem uma capacidade
de reunir e de se relacionar com as outras categorias e, dessa forma, obtém um
poder explanatório ao seu redor. Uma técnica para a descoberta dessa categoria é
redigir, em poucas linhas, uma história descritiva da pesquisa com o foco sobre “O
que parece estar acontecendo ali?”, “Qual a principal questão ou problema com o
qual essas pessoas parecem estar lidando?”. Um retorno aos dados para reler as
entrevistas ajuda nessa identificação (STRAUSS;CORBIN, 2008, p.146-148; FLICK,
2009 apud Da SILVA et al, 2011).
      Strauss e Corbin (2008) explicam que após essa identificação da categoria
central o pesquisador escreve novamente uma história, mas, desta vez, utilizando as
demais categorias existentes e os relacionamentos com a categoria central. A partir
dessa história emerge a teoria final da pesquisa.
      Da Silva et al (2011, p.53) afirma que “Uma vez seguida sistematicamente à
metodologia e o desenvolvimento do modelo teórico é necessário refinar e validar o
esquema teórico”. O refinamento da teoria consiste em complementar categorias mal
desenvolvidas, podendo inclusive voltar a campos para isso. No refinamento da
teoria podem-se encontrar excessos de dados e conceitos estranhos que nunca
foram desenvolvidos, quando isso é verificado, esses excessos devem ser deixados
de lado (STRAUSS e CORBIN, 2008, p.155-157).

3.6   Limitações

      Os objetivos da pesquisa foram alcançados, todavia existiu dificuldade
 principalmente na questão das realizações de entrevistas, já que essa etapa
 depende bastante dos membros participantes da comunidade Android-Brasil-
 Projetos, que possuem diversas tarefas durante o dia e tem seu tempo limitado. As
 entrevistas foram realizada via Skype devido a dispersão dos membros que estão
 localizados em várias partes do Brasil, o que também dificultou na realização do
 processo. Inicialmente foram obtidos 8 respostas positivas para realização das
 entrevistas, contudo, somente 4 pessoas responderam positivamente em relação
 ao horário da entrevista e estiveram disponíveis no Skype para participar no
 horário marcado. Devido à limitação de tempo, o número de entrevistados se
 restringiu a quatro integrantes.
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Motivação de Desenvolvedores Open Source

  • 1. UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE CARUARU BACHARELADO EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Motivação de Engenheiros de Software no Contexto Open Source: Um Estudo de Caso com a Comunidade Android Brasil Projetos DANILO MONTEIRO RIBEIRO Caruaru, Junho de 2012.
  • 2. UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO DANILO MONTEIRO RIBEIRO Motivação de Engenheiros de Software no Contexto Open Source: Um Estudo de Caso com a Comunidade Android Brasil Projetos Monografia apresentada a Faculdade de Ciência e Tecnologia de Caruaru - Universidade de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Sistemas de Informação, sob orientação do Profº. M.Sc. Pietro Pereira Pinto e co- orientação pelo Profº M.Sc Alberto César Cavalcanti França. Orientador: M.Sc Pietro Pereira Pinto Co-orientador: M.Sc Alberto César Cavalcanti França CARUARU 2012
  • 3. iii Dedico este trabalho à minha família, amigos e professores.
  • 4. iv AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer neste trabalho, o meu grande amigo e incentivador tio Neto que sempre me ajudou durante a graduação, me fez pensar questões mais amplas e a sempre buscar dar o melhor de mim, assim como meu tio Sandro, são exemplos de superação e de seres humanos que eu quero ser. Minha mãe que apesar de tudo fez sempre o possível e o impossível para eu me tornar a pessoa que sou e apesar da saudade sempre me incentivou a continuar no curso. Meus amigos de Casa e de Graduação, em especial Levi, Carlos Magno, o mão de vaca do César Albuquerque, Maryvania e José “Marola” Paulo, enchi muito o saco desse povo, mas passamos juntos e sobrevivemos. Minha namorada Juliett Figueiredo com quem eu quero construir minha família, que me acompanhou durante essa jornada, cerca de 3 anos de graduação me ouvindo falar de pesquisa, artigos, trabalhos, deve ter sido um saco mas quase nunca reclamou e sempre foi compreensiva. Gostaria de agradecer Humberto Rocha pela oportunidade que tive de ser aluno bolsista de Iniciação Cientifica, assim como Vinicius Garcia que aceitou a ideia de ser meu orientador, aprendi muito com os dois durante esse tempo e foi muito proveitoso. Alguns professores me marcaram mais que outros, não desmerecendo os outros claros, Almir Moura com sua didática sensacional, tornou-se um grande amigo meu, Fernando Pontual, Carvalho e Cristóvão que com suas experiências me ensinaram muita coisa na hora do almoço, sempre me ensinaram a ver mais que o curso pode proporcionar. Cicero Garrozi, um professor com que eu ainda quero trabalhar um dia. Não menos importante quero agradecer a Pietro por ter aceitado o desafio de orientar em uma área que não é a dele, sempre atento as correções foi uma figura importante na construção deste trabalho. Outra pessoa com que aprendi muito e foi muito importante para a construção deste trabalho foi o César França que me ouviu atentamente quando eu fui pedir para trabalhar em pesquisa de outra instituição, aceitou me orientar mesmo eu não sendo aluno do mesmo, nem da instituição que ele trabalha. Muito obrigado. Um alô especial para Flavio Neves, obrigado por tudo. A todos não citados, infelizmente o espaço é pouco, mas obrigado. Deus, obrigado por todas as coisas boas e ruins na minha vida.
  • 5. v Resumo Este trabalho tem como tema central o estudo da motivação em engenheiros de software no contexto Open Source. Foi realizado um estudo de caso na comunidade Android-Brasil-Projetos para identificar como os fatores motivadores agem nos membros das equipes de desenvolvimento de software no contexto Open Source na comunidade Android-Brasil-Projetos, para isso, foi necessário identificar quais fatores influenciam na comunidade e quais são os sinais externos de motivação e desmotivação. Foram entrevistadas quatro pessoas da comunidade sendo um mantenedor e três desenvolvedores. Os dados coletados foram analisados utilizando métodos da Teoria Fundamentada (Grounded Theory), e sintetizados em uma teoria fundamentada nos dados que pode fornecer um entendimento sobre os relacionamentos, causas e consequências dentro do contexto estudado. Como resultado foram encontrados 28 fatores que influenciam na motivação da amostra estudada e foram desenvolvidas 11 proposições. Além disso, foram definidos como os fatores centrais da teoria o comprometimento e o interesse pessoal. Palavras-chave: Engenheiro de Software, Motivação, Open Source.
  • 6. vi Abstract This work is focused on the study of motivation on Open Source software engineers. A case study was performed in the community Android-Brasil-Projetos to identify as the motivating factors act on members of software development in the Open Source context within the community Android-Brasil-Projetos, for this, it was necessary identify which factors influence in the community and what are the external signs of motivation and demotivation. We interviewed four members from the community: a maintainer and three developers, the collected data were analyzed using Grounded Theory and were synthesized in a theory based on data to provide an understanding of the relationships, causes and consequences within the context studied. As a result were found 29 factors that influence the motivation of the sample studied and were developed 11 propositions. Furthermore, were defined as the central factors of theory the commitment and personal interest. Key Words: Software Engineer, Motivation, Open Source.
  • 7. vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 1.2 Objetivos ..................................................................................................... 12 1.2.1 Objetivo Geral ...................................................................................... 12 1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 12 1.3 Justificativa de pesquisa ............................................................................. 13 1.4 Organização do Trabalho ............................................................................ 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 16 2.1 Open Source e Software Livre ......................................................................... 16 2.1.1 Software Livre ...................................................................................... 16 2.1.2 Free Software Fundation ...................................................................... 17 2.1.3 Software Open Source ......................................................................... 18 2.1.3.1 Características do desenvolvimento Open Source .............................. 21 2.2 O Estudo da Motivação e suas Aplicações ao Contexto da Engenharia de Software................................................................................................................. 22 2.2.1 O Estudo da Motivação na Psicologia .................................................. 22 2.2.2 Motivação no Desenvolvimento de Software ....................................... 23 2.2.3 Motivação no contexto Open Source ................................................... 27 2.2.3.1 WU et al (2007) .................................................................................... 28 2.2.3.2 Oreg e Nov (2007)................................................................................ 29 2.2.3.3 Von Krogh et al (2008) ......................................................................... 31 2.3 Discussão ........................................................................................................ 34 3 MÉTODOS ......................................................................................................... 35 3.1 Natureza da Pesquisa ................................................................................. 35 3.1.1 Quanto aos Fins ................................................................................... 35 3.1.2 Quanto à Forma de Abordagem ................................................................ 35 3.1.3 Quanto aos métodos de procedimentos .................................................... 36 3.2 Premissas ........................................................................................................ 37 3.3 Etapas de pesquisa ......................................................................................... 37
  • 8. viii 3.4 Seleção de sujeitos .......................................................................................... 38 3.4.1 Entrevista ...................................................................................................... 38 3.5 Procedimentos da análise de dados ................................................................ 41 3.5.1 Teoria Fundamentada em Dados (Ground Theory) ...................................... 41 3.5.2 Procedimento de codificação ........................................................................ 42 3.5.2.1 Codificação Aberta..................................................................................... 44 3.5.2.2 Codificação Axial .................................................................................. 45 3.5.2.3 Codificação Seletiva ............................................................................. 46 3.6 Limitações ................................................................................................... 47 3.7 Discussão ................................................................................................... 48 4. Resultados ........................................................................................................... 48 4.1 Descrição do Contexto..................................................................................... 48 4.2 Resultados da Codificação aberta ................................................................... 50 4.2.1 Aspectos da Comunidade ............................................................................. 51 4.2.3 Aspectos do trabalho em equipe .................................................................. 55 4.3 Resultados da codificação axial ....................................................................... 60 4.4 Resultados da codificação seletiva .................................................................. 63 4.5 Avaliações dos Resultados .............................................................................. 65 5. Conclusão ............................................................................................................ 68 5.1 Trabalhos futuros ............................................................................................. 69 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 71
  • 9. ix Índice de figuras Figura 1 - MOCC .................................................................................................................... 26 Figura 2 - Motivadores intrínsecos e extrínsecos ............................................................. 27 Figura 3 - Geração da teoria da comunidade ................................................................... 65
  • 10. x Índice de Tabelas Tabela 1 - Evolução do conceito de Motivação ................................................................ 22 Tabela 2 - Fatores Motivadores........................................................................................... 24 Tabela 3 - Fatores Desmotivadores ................................................................................... 25 Tabela 4 - Fatores Motivacionais intrínsecos .................................................................... 32 Tabela 5 - Fatores Motivacionais extrínsecos internos ................................................... 32 Tabela 6 - Fatores Motivacionais extrínsecos................................................................... 33 Tabela 7 - Aspectos motivacionais ..................................................................................... 50 Tabela 8 - Sinais de motivação ........................................................................................... 58
  • 11. 11 1. INTRODUÇÃO A atividade de desenvolvimento de software enfrenta crescentes desafios visando a diminuição de custo, esforço e tempo de chegada dos produtos no mercado. Contudo, a complexidade e tamanho dos produtos estão aumentando e, consequentemente, os gestores precisam buscar novas alternativas para o processo de desenvolvimento. Uma dessas alternativas pode ser a utilização de software Open Source (FERREIRA, 2005). Segundo Koch (2008) e Subramanyam e Xia (2008), os aplicativos Open Source são aqueles cujo código fonte está disponível para qualquer pessoa, ou seja, ele está sob uma licença que estabelece condições para modificação, reuso e redistribuição do software, oferecendo assim a possibilidade de um usuário modificá-lo, adequando-o as suas necessidades. De acordo com IBM (2007), uma das principais características deste tipo de software é fato de ser normalmente desenvolvido por equipes distribuídas geograficamente. Em geral, os membros dessas equipes não se conhecem pessoalmente e são coordenados por estruturas baseadas em meritocracia, nas quais, de acordo com Ferreira (2008), as pessoas obtêm tarefas e responsabilidades de acordo com seu merecimento. Essa forma de organização é bem diferente das estruturas hierárquicas formais que contam com um gerente para distribuir atividades e cobrar produtividades de seus subordinados. Conforme França et al (2011), o comportamento de equipes de desenvolvimento de software tem sido estudado de forma crescente nos últimos anos, principalmente através de pesquisas que buscam entender, em especial, os fatores que motivam e desmotivam engenheiros de software durante o desenvolvimento do projeto. França e Da Silva (2009) afirmam que existem duas ideias principais de interesse da indústria na gestão comportamental: a primeira corresponde à necessidade de criação de um clima organizacional no qual os colaboradores possam obter respeito e valorização; a segunda parte da premissa que pessoas motivadas produzem mais.
  • 12. 12 Seguindo a premissa que pessoas motivadas produzem mais, Von Krogh et al (2008) busca entender o que motiva os engenheiros de software Open Source. Para este autor, neste contexto, as equipe são formadas por colaboradores voluntários, que trabalham quando querem, de forma autônoma e sem vínculos empregatícios, ou obrigações com o projeto. Apesar destes colaboradores poderem se desligar do projeto a qualquer momento, eles conseguem desenvolver, com sucesso, projetos de alto nível e complexidade (IBM, 2007). Para realização deste estudo foi utilizada uma comunidade Open Source, a Android-Brasil-Projetos, que utiliza uma tecnologia recente de desenvolvimento mobile (Android1), Open Source, que segundo a Motorola (2012) são ativados mais de 850 mil aparelhos que funcionam à base desta tecnologia no mundo por dia. 1.2 Objetivos Para responder à pergunta de pesquisa: Como os fatores motivadores agem na comunidade Android-Brasil-Projetos? Foram definidos os seguintes objetivos, divididos em geral e específicos: 1.2.1 Objetivo Geral Este trabalho tem como objetivo identificar como agem os principais fatores motivacionais que afetam os engenheiros de software no contexto de desenvolvimento de software Open Source na comunidade Android-Brasil-Projetos. 1.2.2 Objetivos Específicos • Identificar, com base em revisões de literatura, os principais fatores motivacionais ligados aos projetos de desenvolvimento de software Open Source; • Adaptar o questionário desenvolvido por Da Silva et al (2011) para realidade do projetos de desenvolvimento de software Open Source; • Realizar as entrevistas com engenheiros de software de projetos Open Source da comunidade Android-Brasil-Projetos para obter dados sobre o que os motiva e o sinais externos de motivação; 1 Para mais informações http://www.android.com/
  • 13. 13 • Analisar os dados coletados através do instrumento de pesquisa aplicado; • Encontrar quais fatores motivacionais afetam a comunidade Android- Brasil-Projetos; • Conhecer quais são os sinais externos de motivação na comunidade Android-Brasil-Projetos. • Explicar como os fatores encontrados agem na comunidade Android- Brasil-Projetos. 1.3 Justificativa de pesquisa De acordo com Wu et al (2007), a comunidade Open Source tem produzido um grande numero de projetos software de sucesso, dentre eles: Linux, Apache, Perl e SendMail. Driver e Weiss (2005) projetaram que o software Open Source estaria no ano de 2010 em 75% das empresas, operando em conjunto com software proprietários. Entretanto, segundo a TIINSIDE (2008), essa projeção já foi superada e estima-se que esse percentual já estava em 85% em 2008. Desde então, o movimento de software Open Source vem crescendo muito, atraindo novos parceiros e desenvolvendo novos aplicativos, como o Linux, que é um sistema operacional desenvolvido com a licença GNU GPL 2. Em uma pesquisa realizada em 2009 foi observada uma taxa de crescimento do software livre de cerca de 20% anual, mostrando novamente o interesse das pessoas e empresas na área (SOFTWARELIVREBRASIL, 2009). De acordo TIINSIDE (2008), o software livre e o de código aberto estão sendo constantemente utilizados por empresas no seu dia-dia, destacando-se como as três principais razões para a utilização de programas de código aberto: (i) a diminuição do custo total de propriedade, (ii) a redução dos custos de desenvolvimento e (iii) o fato de o software livre ser mais fácil de ser implementado em novos projetos de TI. Segundo Von Krogh et al (2008), nos últimos 15 anos os aplicativos Open Source fizeram incursões bem-sucedidas em diversos segmentos, atraindo milhões de usuários. Atualmente, as empresas investem e colaboram em grande quantidade neste tipo de produto. Como resultado disto, Von Krogh et al (2008 p.4, tradução 2 é uma designação de uma licença para software livre idealizada por Richard Matthew Stallman
  • 14. 14 nossa) afirma que: “os gestores destas empresas estão cada vez mais dependente de recursos de desenvolvimento que estão fora do seu controle direto”. Assim, esses gestores estão preocupados com o que motiva colaboradores externos a participar na criação de um software Open Source. Von Krogh et al (2008) cita como exemplo que se uma empresa decide investir milhões de dólares a fim de migrar os seus servidores para um sistema Linux da IBM os gestores vão querer saber até que ponto o Linux continuará a receber contribuições por voluntários, como o software irá evoluir, e se Linux e outros projetos envolvidos terão melhoria em novas versões. Desta forma, entender os fatores envolvidos na motivação no desenvolvimento de software no cenário Open Source é de grande importância para uma empresa que investe ou deseja investir em nesse tipo de sistema, pois ela deve acompanhar e incentivar a comunidade e seus membros, para que os aplicativos utilizados por ela tenham seus problemas corrigidos e evoluam de acordo com suas necessidades, trazendo benefícios para a empresa e mantendo a competitividade da mesma. Além disso, os mantenedores3 de comunidades Open Source também precisam saber o que faz os membros contribuírem mais com a comunidade e permanecerem nos projetos até que estes sejam concluídos com sucesso, ou continuem a trabalhar na evolução do mesmo. Para isso, é de suma importância a realização de uma pesquisa que vise encontrar indícios sobre os fatores motivacionais aplicados nesse contexto, para que se possa compreender melhor o fenômeno estudado e encontrar possíveis novos fatores motivacionais. Entretanto, ainda são escassos os estudos que visam identificar os fatores motivacionais no contexto de projetos de software Open Source usando uma abordagem qualitativa. Sendo assim, a problemática da pesquisa pode ser representada pela pergunta: Como os principais fatores motivadores que levam engenheiros de software a contribuir com projetos Open Source agem na comunidade Android-Brasil-Projetos? 3 Os mantenedores são os responsáveis pelos projetos na comunidade.
  • 15. 15 1.4 Organização do Trabalho Neste capítulo foi realizada uma breve introdução aos temas deste trabalho: Motivação no desenvolvimento de software e Open Source software. Foi também apresentado o problema de pesquisa, os objetivos gerais e específicos do trabalho e a justificativa para realização deste. O restante do trabalho está organizado da seguinte forma: Capítulo 2 – Referencial teórico: Neste capítulo é feita uma revisão bibliográfica acerca dos principais temas relacionados à pesquisa, a saber: Open Source e Software Livre, Motivação na engenharia de Software e no contexto Open Source; Capítulo 3 – Métodos: É o capítulo no qual se contempla a descrição do método de pesquisa utilizado no trabalho, bem como as limitações deste; Capítulo 4 – Resultados: Onde serão apresentados os resultados da codificação aberta, axial e seletiva. Capítulo 5 – Conclusão e trabalhos futuros: Contempla as conclusões obtidas da realização da pesquisa e geração da teoria, assim como os trabalhos futuros.
  • 16. 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo de referencial teórico são apresentadas as definições dos conceitos necessários ao desenvolvimento do trabalho, a saber: software livre, Open Source e motivação. 2.1 Open Source e Software Livre Este capítulo aborda de forma sucinta o assunto Software Open Source, discorrendo brevemente sobre sua Historia, sua definição e diferenças com o software livre e algumas características do processo de desenvolvimento de software Open Source. 2.1.1 Software Livre De acordo com GNU (1996), um software para ser considerado livre deve garantir a qualquer pessoa as premissas de: (i) executar o programa, (ii) a qualquer momento modificar o programa para atender a novas necessidades, (iii) distribuir livremente cópias originais,(iv) distribuir livremente cópias modificadas. O software livre é diferente do software proprietário, pois, segundo Saleh (2004 p.13), “No software proprietário em geral a única liberdade garantida ao usuário é a de usar o programa, mesmo assim somente após seu licenciamento, e com compromisso de não redistribuí-lo nem modifica-lo”. Existem ainda software proprietários grátis, como jogos e mensageiros instantâneos. Contudo, como estes não seguem as quatro premissas do software livre, apresentadas anteriormente, não são considerados livres. Saleh (2004) afirma que nas décadas de 1960 e 1970 praticamente todo o software era livre, pois a pratica da comercialização de licenças ainda não era difundida, já que o foco dos fornecedores de tecnologia estava no hardware, muitas vezes fornecido em conjunto com os sistemas operacionais. Os aplicativos geralmente eram desenvolvidos de acordo com as necessidades dos usuários que compravam o hardware, sendo específicos para a arquitetura adquirida. Devidos a estas características, universidades, empresas e centros de pesquisas compartilhavam os códigos da mesma comunidade, sem preocupações
  • 17. 17 com direitos autorais. Como na segunda metade da década de 1970 a comercialização de licenças começou a aparecer com mais força, o movimento do software livre sentiu a necessidade de se organizar mais, tendo como umas das consequências a criação da Free Software Fundation (SALEH, 2004). 2.1.2 Free Software Fundation Em 1985 foi iniciada a Free Software Fundation, criada por Richard Stallman, com o objetivo de promover na comunidade de informática o espírito cooperativo que se apresentava no inicio da computação, em que seus códigos, informações e maneiras de trabalho eram livremente compartilhados (STALLMAN, 2002). Esta organização é considerada como a principal patrocinadora do projeto GNU/LINUX (GNU, 1996). Em 1981, o laboratório de inteligência artificial do Massachusetts Institute of Technology (MIT) teve seu principal computador, que tinha o sistema operacional e aplicativos desenvolvidos pela própria equipe da universidade, com software livre, substituído por outro computador com códigos proprietários e fechados do fabricante do novo computador (STALLMAN, 2002). Richard Stallman, até então professor do MIT, resolveu que não deveria assinar os acordos de não divulgação impostos pelo fornecedor do hardware, decidindo assim, não trabalhar com o software proprietário do fornecedor. Stallman queria incentivar as pessoas a criarem software suficiente que permitisse a utilização de um computador sem a necessidade de qualquer programa proprietário, pois ele acredita que essa opção é a única socialmente justa (STALLMAN, 1999 apud Saleh 2004). Stallman (1999 apud Saleh, 2004, p.18) afirma que: “o software proprietário implica numa organização social na qual não é permitido às pessoas compartilhar conhecimento, não é permitido ajudar ao próximo e incita à competição ao invés da colaboração: acredita que todo software deveria ser livre”. Stallman (1999 apud Saleh 2004, p.18) considera que: “uma vez pagos os custos de desenvolvimento limitar o acesso ao software traz muito mais malefícios
  • 18. 18 que benefícios.” Quando o usuário resolve pagar pela licença, está acontecendo uma transferência de riquezas que será benéfica para ambas as partes, uma vez que o usuário terá o software para resolver seu problema e a empresa terá o valor da licença. Todavia, se o usuário resolve não adquirir o software, pois existe à necessidade de pagamento, está havendo prejuízo a uma das partes sem que haja benefício de ninguém. Stallman (1999 apud SALEH 2004) pondera que o prejuízo à sociedade pela restrição é maior que os possíveis ganhos individuais da empresa, já que se estão sendo impostas restrições a um bem cujo custo marginal de produção é zero, ou seja, não ocorre acréscimo (ou decréscimo) do custo total quando se aumenta (ou diminui) a quantidade de software produzida, e que as empresas de software proprietário restringem a cooperação entre as pessoas e limitam o conhecimento da sociedade com a proibição da distribuição do software. A principal ideia que Stallman (1999 apud Saleh 2004) quer passar é que o software fechado nega o acesso à informação e ao conhecimento, elementos sem os quais é impossível estabelecer uma sociedade mais justa e democrática. 2.1.3 Software Open Source A Open Source Initiative4 [s.d] aponta que a publicação do trabalho de Eric Raymond (1997), intitulado de “A Catedral e o Bazar5”, o qual apresenta ao leitor uma nova maneira de compreender e descrever as práticas populares na comunidade Software Livre, foi de grande importância para o difusão do software Open Source. Sua análise, centrada na ideia de revisão por pares distribuída, na liberação de software para que as pessoas testem antes do produto final, teve sucesso, tanto dentro como (e de forma até inesperada) fora da cultura livre. A apresentação deste trabalho em setembro de 1997 foi o incentivo para a Netscape, em 22 de janeiro de 1998, liberar o código fonte de seu popular navegador da Web como software livre, de acordo com a Open Source Initiative, que afirma ainda que: “existia um sentimento generalizado de que as regras de 4 Para maiores informações: http://www.opensource.org 5 Texto disponível em http://www.catb.org/~esr/writings/cathedral-bazaar/
  • 19. 19 desenvolvimento estavam prestes a mudar, e que qualquer coisa seria possível”. (OPEN SOURCE INITIATIVE, s.d, tradução nossa) O rótulo "Open Source" foi concebido em uma sessão realizada em 03 de fevereiro de 1998, em Palo Alto, Califórnia. Dentre as pessoas presentes nesta sessão estavam: Todd Anderson, Chris Peterson (do Foresight Institute), John "maddog" Hall e Larry Augustin (ambos da Linux International), Sam Ockman (do Grupo Vale do Silício do usuário do Linux), Michael Tiemann, e Eric Raymond, ícones da comunidade livre (OPEN SOUCE INITIATIVE, s.d). A Open Source Initiative [s.d] afirma que os conferencistas decidiram que não era interessante ficar limitado pela atitude moralizadora e de confronto que tinha sido associada ao software livre no passado, e que seria interessante vender as ideias estritamente pragmáticas que motivaram Netscape. Eles debateram as táticas que deveriam usar e um novo rótulo, "Open Source", foi proposto por Chris Peterson. Cinco dias depois, em 8 de fevereiro de 1998, foi emitida a primeira chamada pública para a comunidade começar a usar o novo termo. As pessoas envolvidas no movimento Open Source trabalhavam com software livre, mas sentiam-se incomodadas com o caráter ideológico imposto pela FSF e sua licença GNU GPL. Então, esse movimento quis retirar do desenvolvimento de software livre qualquer componente social ou ideológico. O software deve ser aberto não por questões de liberdade, mas sim porque o modelo aberto de desenvolvimento é mais eficiente tanto técnica quanto economicamente (OPEN SOUCE INITIATIVE, s.d; SALEH, 2004). A ideia principal é que enquanto os programadores estão lendo e modificando o código, naturalmente vão aparecer melhorias, adaptações e correções, que têm como consequência uma maior evolução do programa. Qualquer licença de software pode ser considerada aberta caso siga os seguintes termos (PERENS, 1999; OPEN SOUCE INITIATIVE s.d): (i) Distribuição livre – A licença não deve impedir a venda ou distribuição do programa gratuitamente, seja ele como componente de outro programa ou não. (ii) Código fonte – O programa deve incluir seu código fonte ou deve haver algum maneira de obtê-lo pela internet ou com custo de reprodução, permitindo a
  • 20. 20 sua distribuição também na forma compilada. O código deve ser legível e inteligível por qualquer programador. (iii) Trabalhos Derivados – A licença deve permitir modificações e trabalhos derivados, permitindo, inclusive, que esses sejam distribuídos sobre os mesmos termos da licença original. (iv) Integridade do autor do código fonte - A licença pode impedir que o código fonte seja distribuído em uma forma modificada apenas se a ela permitir a distribuição de arquivos de atualização com o código fonte para o propósito de modificar o programa. A licença também deve permitir a distribuição do programa desenvolvido a partir do código fonte modificado. Todavia, a licença pode ainda requerer que programas derivados tenham um nome ou número de versão diferentes do programa original. (v) Não pode haver discriminação contra pessoas ou grupos - A licença não pode ser discriminatória contra qualquer pessoa ou grupo de pessoas. (vi) Não pode haver discriminação contra áreas de atuação - A licença não deve impedir qualquer pessoa de usar o programa em um ramo específico de atuação. Por exemplo, ela não deve proibir que o programa seja usado em um empresa, ou para pesquisa genética. (vii) Distribuição da Licença - Os direitos ao programa devem ser aplicáveis para todos aqueles que receberem o programa, sem a necessidade da execução de uma licença adicional para estas partes. (viii) A Licença não é específica a um produto - Os direitos associados ao programa não devem estar sujeitos que o programa seja parte de uma distribuição específica de programas, ou seja, não se pode obrigar a executar o programa somente em alguma distribuição do Linux, por exemplo. Se o programa é extraído desta distribuição e usado ou distribuído dentro dos termos da licença do programa, todas as partes para as quais o programa é redistribuído devem ter os mesmos direitos que aqueles que são garantidos em conjunção com a distribuição de programas original. (ix) A Licença não restringe outros programas - A licença não pode colocar empecilhos em outros programas que são distribuídos juntos com o programa
  • 21. 21 licenciado. Isto é, a licença não pode especificar que todos os programas distribuídos na mesma mídia de armazenamento sejam programas de código aberto. (x) A Licença é neutra em relação a tecnologia - Nenhuma cláusula da licença pode estabelecer uma tecnologia individual, estilo ou interface a ser aplicada no programa Como pode ser notado na leitura dos termos, na definição da licença Open Source não é feita qualquer referência a aspectos políticos, sociais e de liberdade, diferentemente da licença de software livre, proposta pela FSF, na qual o aspecto principal é a liberdade. Em um software Open Source existe a possibilidade de que um software aberto seja fechado posteriormente e para ser distribuído como software proprietário, algo não permitido pela licença do software livre. Stallman (2002) afirma que o objetivo do software Open Source é produzir software poderoso e de alta qualidade, e que isso é um objetivo louvável, mas não o mais importante, pois o mais importante para ele é que o software siga as quatro premissas do software livre. 2.1.3.1 Características do desenvolvimento Open Source Segundo Nunes (2007), os projetos Open Source apresentam algumas características que os tornam diferentes do paradigma de desenvolvimento convencional, como: (i) Trabalho voluntário, uma vez boa parte dos desenvolvedores trabalham sem remuneração, (ii) Trabalho não é designado, as tarefas ficam disponíveis para os membros que tenham interesse ou aptidão as escolham para realizar, (iii) Ausência de cumprimento de horários e de lista de entregas, uma vez que o trabalho é voluntário, as pessoas trabalham em horários diversificados e contribuem da maneira que podem, (iv) lançamentos de versões, a própria comunidade em conjunto com os mantenedores discute quando será lançada uma nova versão do software e atualizações da mesma, (v) teste, em projetos Open Source é comum utilizar os usuários como testadores do software, assim como nem sempre existe um sistema bem definidos de testes de software e (vi) planejamento, nem sempre é possível devido ao não determinismo da colaboração.
  • 22. 22 Todavia, estas caraterísticas não estão presentes em todas as comunidades, algumas comunidades podem ter características únicas ou não utilizar algumas das caraterísticas citadas. 2.2 O Estudo da Motivação e suas Aplicações ao Contexto da Engenharia de Software Nas subseções a seguir serão apresentados os conceitos de motivação na psicologia, no desenvolvimento de software e no contexto Open Source. 2.2.1 O Estudo da Motivação na Psicologia Segundo Todorov e Moreira (2005), o estudo da motivação humana vem sendo observado desde o começo do século XX, com base na psicoterapia, na psicometria e nas teorias de aprendizagem. França e Da Silva (2009) afirmam que a definição de motivação tem resultado em diversas teorias, trazendo consigo, inclusive, diversas definições para o termo, conforme exemplificado na Tabela 1. Tabela 1 - Evolução do conceito de Motivação Ano Autores O que é motivação? 1959 Krech e Crutchfield Um motivo é a uma necessidade ou desejo acoplado com a intenção de atingir um objetivo apropriado 1961 Young Uma busca dos determinantes (todos os determinantes) da atividade humana e animal. 1964 Atkinson Uma concepção coerente dos determinantes contemporâneos da direção, do vigor e da persistência da ação. 1967 Hilgard e Atkinson “Motivo” é algo que incita o organismo á ação ou que sustenta ou dá direção à ação quando o organismo foi ativado. 1997 Rogers, Ludington e Graham Motivação é um sentimento interno, é um impulso que alguém tem de fazer para realizar alguma coisa. 2000 Licury e Fenouillet ... a motivação é o conjunto de mecanismos biológicos e psicológicos que possibilitam o desencadear da ação, da orientação (para uma meta ou, ao contrário, para se afastar dela) e, enfim, da intensidade e da persistência: quanto mais motivada a pessoa está, mais persistente e
  • 23. 23 maior é a atividade. 2001 Penna É o conjunto de relações entre as operações de estimulação ou privação e as modificações observadas no comportamento que se processa após as citadas operações. 2004 Bzuneck A motivação tem sido entendida ora como um fator psicológico, ou conjunto de fatores ora como um processo. Estes fatores levam a uma escolha, instigam, fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo. Fonte: França e Silva (2009) Pode ser observado na Tabela 1 uma série de conceitos sobre motivação, que possuem características semelhantes, como fatores psicológicos e biológicos, sendo um sentimento interno, que leva um indivíduo a executar uma ação com intensidade e persistência para maximizar o resultado. Isto corrobora com a definição apresentada por Minicucci (2009 apud Da SILVA et al 2011), que define motivação como sendo algo interno ao indivíduo, que varia de acordo com o objetivo, apresentando direção, intensidade, força e duração, determinando um comportamento. Todavia, um problema recorrente na literatura que aborda motivação é a confusão que existe com outros fenômenos como entusiasmo, satisfação, conforto, alegria, necessidade, vontade, fé, desejo e instinto (Da SILVA; FRANÇA, 2011; BERGAMINI, 1998; Da SILVA et al, 2011). Contudo, motivação se distingue destas palavras, pois ela é intrínseca à pessoa e pela sua capacidade de gerar um comportamento sustentável e por isso deve ser analisada de maneira mais completa (Da SILVA et al, 2011). 2.2.2 Motivação no Desenvolvimento de Software De acordo com Sharp et al (2009), a motivação na Engenharia de Software é reconhecida como um fator preponderante para o sucesso os projetos desse tipo. Alguns trabalhos foram realizados com o objetivo de explorar e delinear os fatores que motivam e desmotivam os engenheiros de software, bem como verificar quais os modelos de motivação existentes. Beecham et al (2007) realizaram uma revisão sistemática na literatura na qual catalogaram 92 artigos sobre motivação em
  • 24. 24 Engenharia de Software, publicados entre os anos de 1980 a 2006. Tal estudo procurou responder as seguintes questões: (i) Quais as características dos engenheiros de software? (ii) O que (des)motiva engenheiros de software a serem mais produtivos ou menos produtivos? (iii) Quais são os sinais externos ou resultados de engenheiros de software (des)motivados? (iv) Quais aspectos da Engenharia de Software (des)motivam os engenheiros de software? (v) Quais os modelos de motivação existentes na Engenharia de Software? França et al (2011) realizaram uma atualização desta revisão com o objetivo de responder as mesmas questões do estudo original, porém com artigos publicados no período de 2006 até 2010. Essa atualização da revisão encontrou 53 artigos, os quais foram analisados para se chegar a novas evidências, com relação ao estudo original, que reforçam alguns resultados encontrados no trabalho de Beecham et al. (2007). Com a aplicação da pesquisa de Beecham et al (2007) foi observado que a motivação dos engenheiros de software é definida por três fatores que estão relacionados: características individuais, controles internos e moderadores externos. Além disso, a pesquisa apresenta que engenheiros desmotivados tendem a deixar as organizações onde trabalham, enquanto que o aumento de produtividade e a retenção de membros da organização tende a serem resultados associados aos engenheiros motivados. O trabalho apresenta também a divisão em duas listas dos fatores que motivam (Tabela 2) e desmotivam (Tabela 3) o Engenheiro de Software com base em outros trabalhos da literatura como a teoria da motivação-higiene criada pelo psicólogo Frederick Herzberg (1923-2000). Tabela 2 - Fatores Motivadores Motivação para Engenheiros de Software Recompensa e Satisfação da incentivos necessidade de desenvolvimento Variedade do trabalho Plano de Carreira Sensação de Equilíbrio entre a vida pertencimento a uma pessoal e profissional esquipe Trabalhar em uma Participação empresa de sucesso Empowerement/ Feedback Responsabilidade
  • 25. 25 Bom gerenciamento Reconhecimento Confiança/ respeito Equidade Trabalho tecnicamente Segurança no emprego desafiador Contribuir/ importância Condições apropriadas da tarefa de trabalho Autonomia Identificação com a tarefa Recursos suficientes Adaptado de Da Silva et al. (2011) Tabela 3 - Fatores Desmotivadores Desmotivadores para Engenheiros de Software Risco Stress Inequidade Trabalho interessante feito por outras partes Sistema desleal de Falta de promoção recompensa Comunicação Ruim Pagamento não competitivo Metas não realísticas Mau relacionamento com os colegas e usuários Gerenciamento ruim Ambiente de trabalho ruim (falta de recursos) Produção de Software de Equidade má qualidade Falta de influência Adequação cultural ruim Adaptado de Da Silva et al (2011) O principal fator motivador encontrado no trabalho de Beecham et al (2007) foi a identificação com a tarefa. Quanto mais o indivíduo se identifica com a tarefa mais ele fica motivado. Outros fatores motivadores que também tiveram destaque são: participação, bom gerenciamento, plano de carreira e variedade da tarefa. No estudo realizado por França et al (2011), foi encontrado que os fatores mais recorrentes são: identificação com a tarefa, participação e bom gerenciamento. Outros fatores que também estão entre os mais citados são: boa auto-imagem, aprendizagem e auto-desenvolvimento. Quanto aos fatores desmotivacionais, o ambiente de trabalho ruim, com a falta de recurso se destaca como característica mais citada, de acordo com o estudo de Beecham et al (2007). Já o trabalho de França et al (2011) cita como principais: complexidade da tarefa (muito fácil ou muito difícil) e carga de trabalho. Entre os
  • 26. 26 fatores em comum do estudo de França et al (2011) com estudo de Beecham et al (2007) aparecem gerenciamento ruim e pagamento não competitivo. Sharp et al (2009) propõem um novo modelo de motivação em Engenharia de Software, baseado em na teoria da motivação-higiene de Herzberg6, o qual eles denominam de MOCC (Motivators, Outcomes, Characteristics and Context). Esse modelo, apresentado na Figura 1, foca apenas nos resultados referentes aos fatores motivadores, já que para o autor a motivação e desmotivação são constructos diferentes. Figura 1 - MOCC Fonte: Da Silva et al (2011) 6 Para mais informações: http://www.sobreadministracao.com/tudo-sobre-a-teoria-dos-dois-fatores-de-frederick- herzberg/
  • 27. 27 Figura 2 - Motivadores intrínsecos e extrínsecos Fonte: Da Silva et al (2011) 2.2.3 Motivação no contexto Open Source Segundo WU et al (2007) o software, no contexto Open Source, é desenvolvido espontaneamente por participantes de comunidades organizadas, localizadas ao redor do mundo e trabalhando com o auxilio da Internet. Também são característica desse tipo de projeto os integrantes contribuírem mesmo sem terem vínculos empregatícios, pagamentos ou mesmo sem serem recrutados pelas organizações responsáveis pelo produto em desenvolvimento (LERNE;TIROLE, 2002). Nas seções 2.2.3.1, 2.2.3.2, 2.2.3.3 são apresentados estudos que abordam os motivos dos engenheiros de software contribuírem voluntariamente, com seu tempo e habilidades, em projetos Open Source. Após isso, será feito uma consideração final sobre os assuntos.
  • 28. 28 2.2.3.1 WU et al (2007) Este trabalho investiga a intenção dos desenvolvedores de software Open Souce de continuarem envolvidos em projetos futuros, identificando os fatores que os influenciam para isso. Para realiza-lo o autor desenvolveu um modelo de pesquisa empírico, validado com 148 participantes e utilizando a escala de Likert7. Com base na revisão de literatura o autor encontra uma lista de fatores extrínsecos e intrínsecos envolvidos no Open Source. Os fatores extrínsecos, segundo o autor, são os fatores ambientais, interpostos pela organização a um indivíduo. Os motivadores intrínsecos, também chamados de motivadores internos, estão relacionados às necessidades do indivíduo. Vale destacar que neste trabalho o autor não analisou o conjunto completo de possíveis motivadores, se concentrando, então, naqueles que ele acredita terem efeito mais forte, que são: (i) Comportamento de ajuda: Wu et al (2005) acredita que o altruísmo é natural do ser humano, e é exibido de alguma maneira por todos. Baseado nesse ponto de vista acredita-se que os desenvolvedores contribuem porque eles gostam de estender a mão aos outros e, simultaneamente, gostam de ter a mesma ajuda quando precisam. (ii) Aprimoramento do capital humano: O capital humano é um dos incentivos extrínsecos envolvidos no software Open Source. Sendo assim, o capital humano envolve o acumulo de investimentos das pessoas na sua educação e no treinamento do trabalho que elas desenvolvem no dia-a-dia. (iii) Progressão na carreira: Baseado em outros estudos, acredita-se que a participação em um projeto Open Source pode avançar a carreira de uma pessoa de duas maneiras: através da demonstração de suas capacidades e habilidades para potenciais empregadores; usando a participação em projetos para obter acesso ao capital de risco, aquisição de ações ou para lançar um empreendimento empresarial. (IV) Satisfação de necessidades pessoais: Vários projetos Open Source começam porque os desenvolvedores não conseguem encontrar produtos que satisfazem uma 7 É uma escala onde os respondentes são solicitados não só a concordarem ou discordarem das afirmações, mas também a informarem qual o seu grau de concordância / discordância.
  • 29. 29 função em particular, dessa forma, o software e o conhecimento necessário para utilizá-lo provêm um valor extrínseco para o desenvolvedor. Além disso, para sua pesquisa WU et al (2007, tradução nossa p.259) também relaciona o nível de satisfação com o projeto afirmando que: “A satisfação (em trabalhar em um projeto Open Source) deve depender de suas expectativas pós-participação contra a sua percepção de valência para o seu desempenho”, ou seja, a reação emocional às suas próprias motivações. De acordo com Reilly (2005), a baixa satisfação no trabalho pode levar a comportamentos de indisciplina e sabotagem. Em contraste, a satisfação no trabalho pode aumentar o comprometimento organizacional e a cidadania (LEE; MODAWY, 1987). Neste trabalho, o fator satisfação com a participação em projetos Open Souce é a influência mais forte na participação em futuros projetos, seguido de: aperfeiçoamento do capital humano e satisfação de necessidade pessoal. Ou seja, os membros quando satisfeitos com sua particição em algum projeto Open Source tendem a continuar participando em futuros projetos. 2.2.3.2 Oreg e Nov (2007) Oreg e Nov (2007) examinaram como o contexto de projetos Open Source e os valores pessoais dos contribuintes estão relacionados com os tipos de motivação deles. Para isso eles usaram um survey, que foi aplicado a 300 contribuintes, em dois contextos Open Source: Software e Conteúdo. O autor encontrou que os contribuintes do contexto de software dão maior ênfase sobre a reputação e as motivações de auto-desenvolvimento, enquanto que os contribuintes do contexto de conteúdo (mantenedores da Wikipedia, por exemplo) dão maior ênfase nos motivos altruístas. Para realizar sua pesquisa o autor encontrou e classificou os seguintes fatores motivadores: (i) Reputação: Os autores acreditam, assim como Lakhani e Wolf (2005), que empresas procuram programadores com habilidades especiais e podem encontrar essas habilidades examinando códigos de software Open Source.
  • 30. 30 Assim, ganhar reputação pode ser extremamente interessante para quem quer progredir a carreira na indústria de Software (LERNER; TIROLE, 2002). (ii) Desenvolvimento próprio (aprendizado): Raymond (1999) afirma que o processo de desenvolvimento de software Open Source envolve um mecanismo de revisão de pares intensivo. Através deste processo os colaboradores recebem feedback e podem obter sugestões de estilos de programação e lógicas para melhorar suas habilidades profissionais (LAKHANI; WOLF, 2005). (iii) Altruismo: Para Oreg e Nov (2007), o altruismo é um motivador tanto no contexto de desenvolvimento quanto no contexto de conteúdo, só que por motivos diferentes. No conteúdo as pessoas querem compartilhar o conhecimento que elas detém (BONACCORSI; ROSSI, 2003); enquanto que no contexto de software as pessoas estão mais focadas no que elas podem ganhar do outros na comunidade e nas implicações no crescimento da própria carreira (LERNER; TIROLE, 2002). Para realizar sua pesquisa os autores utilizaram quatro valores de Schwartz (1994) que eles acreditavam que teriam as seguintes relações com os três fatores: (i) Realização com Reputação, pois os desenvolvedores pretende demostrar sua competência para comunidade; (ii) Autodireção com Desenvolvimento próprio, já que para o autor envolve a criatividade e liberdade; (iii) Benevolência e Universalismo com Altruísmo, já que ambos, segundo os autores, promoviam o bem- estar do próximo. Como resultado da pesquisa, os autores encontraram que motivação para construir uma reputação em Open Source está correlacionada com ênfase do valor da realização do individuo. Já a motivação para melhorar as suas competências (Desenvolvimento próprio) está associada com sua ênfase pessoal em autonomia, crescimento e livre pensamento. A motivação de ajudar a comunidade Open Source está ligada ao valor da promoção do bem-estar ao próximo. Embora a reputação, conforme a hipótese dos autores, era para ser mais forte no contexto de software do que no contexto de conteúdo, foi, no entanto, de forma inesperada o fator de motivação mais fraco dos três, em ambos os contextos. Oreg e
  • 31. 31 Nov (2007) acreditavam que exigência dos contribuintes em tornar pública a sua experiência tornaria a reputação o fator mais forte, ao invés de mais fraco, em ambos os contextos. 2.2.3.3 Von Krogh et al (2008) Von Krogh et al (2008) identificaram na literatura os principais fatores motivacionais ligados aos projetos Open Souce. Os autores dividem os fatores em: (i) motivacionais intrínsecos (Tabela 4), também chamados de motivadores internos, que estão relacionados com as necessidades que satisfazem o indivíduo; (ii) Motivacionais extrínsecos (Tabela 5), que são os fatores ambientais interpostos pela organização a um indivíduo; (iii) fatores motivacionais extrínsecos internos (Tabela 6), que são definidos como auto-reguladores de comportamento, diferenciando dos fatores extrínsecos porque estes são imposições externas (VON KROGH et al, 2008). Na revisão de literatura foram adotados métodos de análise crítica, qualitativa e sintética, com quatro passos principais na identificação do material. Primeiro, foi identificado artigos listados no banco de dados da Institute for Scientific Information, que continham as palavras chaves “Open Source software” e “motivação”. O segundo passo foi revisar a lista de referências dos artigos encontrados para procurar novas fontes que não foram listados na primeira etapa ou artigos excluídos por conta dos critérios utilizados. No terceiro passo, os pesquisadores navegaram por repositórios de artigos on-line (por exemplo, www.opensource.mit.edu) para identificar artigos que correspondem aos critérios de pesquisa. Em quarto lugar, com artigos de conferências e capítulos de livros que eram conhecidos pelos pesquisadores e colegas de trabalho que ainda não tinham constado nas pesquisas. Trabalhos teóricos e conceituais foram examinados buscando-se fatores motivacionais usados para criar a teoria. Fatores motivacionais que se mostraram relevante em trabalhos empíricos também foram incluídos na revisão. A inclusão de trabalhos empíricos é compreensiva, considerando que a inclusão das contribuições puramente teóricas é mais seletiva (Von KROGH et al, 2008). Se um estudo utilizou uma terminologia diferente, mas a motivação parecia suficientemente com uma já existente na taxonomia, esta foi incorporada a taxonomia existente.
  • 32. 32 Tabela 4 - Fatores Motivacionais intrínsecos Motivação Conceito Trabalhos Relacionados Ideologia Ideologia é citada como um dos principais HEMETSBERGER (2004); motivos para iniciar um projeto Open Source. GHOSH, (2005); Pode ser observada com o uso de termos DAVID et al. (2003); como: “Software deve ser livre para todos”, LAKHANI e WOLF (2005); ou “o código aberto deve substituir o HERTEL et al. (2003); software proprietário”. GOSAIN (2006); Altruísmo É a preocupação pelo bem-estar do próximo. OSTERLOH e ROTA (2007); LINDENBERG (2001); HEMETSBERGER (2004); HARS e OU (2002); GHOSH (2005); Prazer e diversão Prazer e diversão são impulsionadores da BENKLER (2002); “cultura hacker” que emergiu na década de OSTERLOH e ROTA (2007); 1980. LAKHANI e VON HIPPEL (2003); LUTHIGER e JUNGWIRTH (2007); LAKHANI e WOLF (2005); HERTEL et al. (2003); ROBERTS et al. (2006); Amigos de Sangue É um tipo de organização social, onde cada ZEITLYN (2003); (Kinship família (casta) tende a fazer tudo pelo HEMETSBERGER (2004); Amity) sucesso da própria família, ou dos seus HARS e OU (2002); próprios membros. LAKHANI e WOLF (2005); Adaptado de Von KROGH et al (2008) Tabela 5 - Fatores Motivacionais extrínsecos internos Motivação Conceito Trabalhos Relacionados Reputação A reputação pode ser classificada como: RAYMOND (1998); reputação interna, quando é direcionada aos STEWART (2005); membros da comunidade ou potenciais LERNER e TIROLE (2002); empregadores, e externa vem de fora da OSTERLOH e ROTA (2007); comunidade e de outras pessoas LAKHANI e VON HIPPEL significantes, como amigos. (2003); LATTEMANN e STIEGLITZ (2005); SPAETH et al (2008); LAKHANI e WOLF (2005); HEMETSBERGER (2004); HARS e OU (2002); GHOSH (2005) LAKHANI e WOLF (2005); ROBERTS et al (2006); STEWART (2005); HEMETSBERGER (2004); HERTEL et al (2003);
  • 33. 33 Motivação Conceito Trabalhos Relacionados Reciprocidade / Para o desenvolvimento Open Source a BERGQUIST e LJUNGBERG Economia da economia da doação faz com que os (2001); doação desenvolvedores distribuam seu código HEMETSBERGER (2004); esperando que haja reciprocidade. LAKHANI e WOLF (2005); DAVID et al (2003); LAKHANI e VON HIPPEL (2003); Aprendizado É a motivação de aprender novas GHOSH (2005); habilidades ou a oportunidade de HEMETSBERGER (2004); experiência de desenvolver software e tê-lo LAKHANI e WOLF (2005); testado e comentado por outras pessoas WU et al (2007); após o lançamento. ROBERT et al (2006) YE e KISHIDA (2003); LAVE e WENGER (1991); RULLANI (2007); Valor de uso É a motivação de criar software para uso RAYMOND (1999); próprio próprio, ou seja, resolver algum problema LAKHANI e VON HIPPEL que os aplicativos atuais não conseguem (2003); resolver de maneira satisfatória. OSTERLOH e ROTA (2007); GHOSH (2005); DAVID et al (2003); HARS e OU (2002); LAKHANI E WOLF (2005); WU et al (2007) ; HARS e OU (2002); HERTEL et al (2003); ROBERTS et al (2006); Adaptado de Von KROGH et al (2008) Tabela 6 - Fatores Motivacionais extrínsecos Motivação Conceito Trabalhos Relacionados Carreira Os desenvolvedores são motivados por LAKHANI e WOLF (2005); preocupações na carreira. Publicar um HEMETSBERGER (2004); software livre pode mostrar seu talento para WU et al (2007) ; potenciais empregadores, aumentado, HARS e OU (2002); assim, seu valor no mercado de trabalho. ROBERTS et al (2006); GHOSH (2005); Pagamento Uma minoria significativa (aproximadamente LAKHANI e WOLF (2005); 40%) dos colaboradores são pagos para HARS e OU (2002); participar de projetos Open Source. O HERTEL et al. (2003); conceito é semelhante ao de uma empresa LUTHIGER e JUNGWIRTH de software proprietário em que o (2007); desenvolvedor ganha por produção. DAHLANDER AND WALLIN (2006); Adaptado de Von KROGH et al (2008)
  • 34. 34 2.3 Discussão O trabalho de Von Krogh et al (2008) foi de suma importância para a pesquisa realizada, pois forneceu análise bastante abrangente e permitiu a identificação de uma taxonomia dominante na literatura, utilizada para agrupar os fatores de motivação identificados depois que a codificação ficou pronta. Em sua pesquisa, foram encontrados 10 fatores ao todo, sendo dois fatores motivacionais extrísicos (Carreira e Pagamento), quatro fatores motivacionais intrísicos (Altruismo, Ideologia, Prazer, e Amigos de sangue) e quatro fatores motivacionais extrínsecos internos (Reputação, Reciprocidade, Valor de uso próprio e aprendizado). Os trabalhos de Wu et al (2008) e Oreg e Nov (2007) fornecem proposições que ajudam a entender melhor algumas questões inerentes ao desenvolvimento de software Open Source. Baseado no referencial teórico desenvolvido neste capítulo foi possível realizar a pesquisa e escolher uma metodologia a ser utilizada para se obter sucesso na realização da mesma.
  • 35. 35 3 MÉTODOS Neste capítulo é exposta a metodologia adotada para a realização deste trabalho. Segundo Pinheiro (2010, p.20), o método científico “É o conjunto de processos ou operações mentais que se deve empregar na investigação científica”. 3.1 Natureza da Pesquisa 3.1.1 Quanto aos Fins Esta pesquisa pode ser classificada como descritiva e exploratória. Ela é descritiva, pois visa descrever características de um fenômeno e exploratória porque visa conhecer inicialmente o tema de estudo. Segundo Pinheiro (2010, p.21), a pesquisa exploratória “visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses”. Ainda segundo este autor, a pesquisa descritiva visa “descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.” Este trabalho tem como principal característica descobrir como os principais fatores motivacionais que afetam os engenheiros de software no contexto de desenvolvimento de software Open Source agem na comunidade Android-Brasil- Projetos. 3.1.2 Quanto à Forma de Abordagem Quanto à forma de abordagem, a pesquisa classifica-se como qualitativa, utilizando o paradigma interpretativo-construtivista. Segundo Neves (1996, p.1): A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento; além disso, não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de interesse é amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos. Desta forma, esta pesquisa busca investigar os fatores que motivam os engenheiros de software na realização do seu trabalho a partir dos relatos das entrevistas. Além disso, a pesquisa utilizará como abordagem o método indutivo, que, segundo Marconi e Lakatos (2004, p.53), a partir de dados específicos e
  • 36. 36 suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral. Marconi e Lakatos (2004 p.54) consideram três etapas para essa abordagem:  Observação dos fenômenos: Observar e analisar os fenômenos, a fim de descobrir as causas da sua manifestação;  Descoberta da relação entre eles: comparar buscando identificar similaridades ou diferenças entre os fatos ou fenômenos, com o objetivo de descobrir relacionamento entre eles;  Generalização da relação: generalizar os relacionamentos encontrados na etapa anterior, entre os fatos e fenômenos semelhantes. A partir de dados coletados de um grupo de participantes deseja-se chegar a uma teoria fundamentada, baseada em interpretações e abstrações, objetivando identificar os principais fatores motivacionais que afetam os engenheiros de software no contexto de desenvolvimento de software Open Source na comunidade Android- Brasil-Projetos. Todavia, neste trabalho não será realizada a generalização da relação. 3.1.3 Quanto aos métodos de procedimentos Conforme Marconi e Lakatos (2004), os métodos de procedimentos são etapas mais concretas de uma pesquisa, com uma finalidade mais restrita de explicação geral dos fenômenos. Para esse trabalho o procedimento adotado foi o estudo de caso. Yin (2005, tradução nossa p. 32) descreve que: “um estudo de caso investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Segundo Runeson e Host (2008), na Engenharia de Software um caso pode ser: um projeto de desenvolvimento de software, uma tecnologia, indivíduo, grupo de pessoas, um processo, entre outros. Já uma unidade de análise pode ser constituída por um projeto, indivíduo, grupo, entre outros. De acordo com Yin (2005), este trabalho é um estudo de caso holístico de caso único. Holístico porque a unidade de análise é o engenheiro de software, pois o objetivo da pesquisa é estudar os fenômenos e aspectos que influenciam a
  • 37. 37 motivação dos indivíduos ligados à área de Engenharia de Software no contexto Open Source, abrangendo os seguintes perfis nesta categoria: desenvolvedores, mantenedores, contudo, sendo focada nos desenvolvedores. Caso único, no qual é considerada a organização como caso representativo, que se deseja investigar os acontecimentos que motivam ou desmotivam os engenheiros de software na realização das suas atividades. 3.2 Premissas Este estudo tem como premissa a existência de fatores que influenciam na motivação, em projetos Open Source, dos engenheiros de software relacionados à área de Engenharia de Software, às atividades técnicas, ao trabalho em equipe, além de aspectos organizacionais que influenciam os indivíduos. Também se acredita que existam indicativos ou sinais percebidos pelos indivíduos quando da ocorrência da motivação e que suas ações e comportamento influenciam o resultado do seu trabalho, assim como, se considera que as ações organizacionais, para motivar os indivíduos, podem ser influenciadas pelo conceito que a organização apresenta sobre o tema. 3.3 Etapas de pesquisa As etapas de pesquisa utilizadas foram baseadas no trabalho de França et al (2011). Foram feitas alterações no protocolo base para adequá-lo ao contexto de Open Source. De inicio, foi realizada uma revisão bibliográfica para adquirir um conhecimento maior sobre motivação e desenvolvimento de software Open Source. Com isso, foram encontrados trabalhos que abordavam os seguintes temas: conceitos básicos de motivação e software Open Source, revisões sistemáticas da literatura envolvendo motivação na Engenharia de Software e motivação no contexto Open Source. Foram considerados nessa revisão livros, artigos científicos e dissertações acadêmicas escritos em Português ou Inglês. Depois desta etapa, foram utilizadas as revisões sistemáticas na literatura sobre motivação na Engenharia de Software e motivação no desenvolvimento de software Open Source. A partir destas revisões iniciais, sobre os temas, as questões
  • 38. 38 de pesquisa foram refinadas. Após esta fase foi realizada uma adaptação no roteiro de entrevista utilizado por França et al (2011), de forma a enquadra-lo ao contexto Open Source. Dando sequência a pesquisa, foi realizada a coleta de dados através de entrevistas via Skype8 com envolvidos no desenvolvimento de software Open Source, a saber: desenvolvedores e mantenedores de projetos da comunidade Android-Brasil-Projetos. Os dados coletados foram transcritos para análise utilizando os procedimentos da Teoria Fundamentada (Grounded Theory) (STRAUSS; CORBIN, 2008). Com base nesta metodologia, os dados foram codificados utilizando codificação aberta, codificação axial e codificação seletiva. Como resultados destes procedimentos foram derivadas preposições e histórias para geração de uma teoria fundamentada nos dados (França et al 2011). 3.4 Seleção de sujeitos A seleção de sujeitos foi realizada utilizando o critério de conveniência, abordando indivíduos através da melhor acessibilidade. Os dados adquiridos são do tipo primário, ou seja, foram conseguidos diretamente pelo pesquisador através das técnicas escolhidas (entrevistas) (GIL, 2008). Foi utilizado a auto-seleção9 de amostragem que é útil quando se quer permitir que os indivíduos possam escolher se desejam participar da pesquisa voluntariamente, todavia os indivíduos não são abordado pelo pesquisador diretamente(LAERD [s.d]). Para isso foi enviado um e-mail, no dia 07/05/2012, para o Grupo do AndroidBrasil-projetos, perguntado aos membros quem gostaria de participar das pesquisas. Os membros que aceitaram o convite enviaram um e-mail de reposta ao pesquisador e foram contatados posteriormente para marcar a entrevista. 3.4.1 Entrevista Para o desenvolvimento deste trabalho foram realizadas entrevistas, que, na opinião de Runeson e Host (2008 apud Da SILVA et al 2011), são muito importantes 8 Skpe é um software de comunicação de voz e vídeo, para mais informações http://www.skype.com 9 Para mais informações sobre auto-seleção: http://dissertation.laerd.com/articles/self-selection-sampling-an- overview.php
  • 39. 39 como fonte de evidências e, de acordo com Seaman(1999 apud Da SILVA et al, 2011), são comumente empregadas como técnicas de coletas de dados em pesquisas qualitativas. Desta forma, o objetivo das entrevistas foi realizar um levantamento dos fatores que motivavam os engenheiros de software Open Source no desenvolvimento dos projetos, na execução das suas tarefas, no seu trabalho em equipe, além da percepção dos mesmos sobre características organizacionais que influenciavam na sua motivação e desmotivação para o trabalho. Pinheiro (2010 p. 35) define que a entrevista serve para se obter informações do entrevistado sobre determinado assunto e podem ser divididas como estruturadas, ou não estruturadas. Queiroz (1988 apud DUARTE, 2002) afirma que existe mais um tipo de entrevista além dos apresentados por Pinheiro (2010 p.35): a entrevista semiestruturada, que é uma técnica de coleta de dados que supõe uma conversação continuada entre informante e pesquisador que deve ser dirigida por este de acordo com seus objetivos. Neste estudo de caso, o tipo de entrevista adotado foi o de entrevista semiestruturada, no qual não existe rigidez no roteiro e algumas questões podem ser mais exploradas, bem como, durante entrevista, pode-se decidir por se seguir uma ordem diferente do roteiro, ou seja, não necessariamente todas as questões precisam ser feitas e outras podem surgir de acordo com o andamento do processo (SEAMAN, 1999 apud Da SILVA et al , 2011). Assim como no roteiro proposto por Da Silva et al (2011), este trabalho se preocupou em adaptar as perguntas para que os entrevistados se sintam estimulados a responder as questões de pesquisa, o roteiro original e os roteiros adaptados podem se observados nos Apêndices B e C. Para isso, o roteiro foi desenvolvido de maneira que cada questão do roteiro de entrevista fosse classificada segundo um conjunto de seis tipos de questões conforme, Merriam (2009 apud Da SILVA et al, 2011), de forma semelhante ao trabalho desenvolvido por Da Silva et al (2011).  Experiência e comportamento: Nesta categoria as questões visam obter informações de comportamento ou experiência do entrevistado;
  • 40. 40  Opinião e valor: Nesta categoria a intenção é obter a opinião ou crença referente a alguma coisa por parte do entrevistado;  Sentimento: Quando o pesquisador deseja focar na dimensão afetiva humana do participante, procurando adjetivos como respostas, exemplo: alegre, medo, intimidado, comprometimento, distraído, entre outros;  Sensoriais: Tem um foco maior em saber sobre o que o entrevistado ouviu, escutou, entre outros;  Conhecimento: Neste tipo de questão o objetivo é obter do participante o seu conhecimento sobre alguma situação;  Background: Este tipo de questões serve para obter uma visão geral do entrevistado como idade, renda e escolaridade. Da Silva et al (2011) evitou desenvolver alguns tipos de questões, que também serão evitadas nessa pesquisa:  Múltiplas questões: Evitar elabora uma série de questões dentro de uma única pergunta, levando o entrevistado a se perder nas respostas e não responder uma por uma;  Questão principal: Evitar perguntar ao entrevistado questões principais da pesquisa;  Questões sim ou não: Evitar elaborar questões que podem ser respondidas simplesmente com um sim ou um não. Para este trabalho foram adaptados dois diferentes roteiros de entrevista que foram desenvolvidos para os perfis de engenheiros de software Open Source, coordenadores/gerentes/lideres de projetos Open Source. Os participantes da pesquisa foram contatados pelo e-mail do grupo. Posteriormente, os que aceitaram participar da pesquisa foram contatados pelo e- mail pessoal com antecedência à realização das entrevistas para marcar um melhor dia e horário. As entrevistas não estruturadas foram agendadas e conduzidas utilizando o Skype, de forma individual. No momento da entrevista foi feita a apresentação de detalhes da pesquisa, citando o grupo de pesquisadores responsáveis, política de confidencialidade, objetivos e resultados esperados. Foi entregue um termo de confidencialidade (Apêndice A) e a coleta de autorização
  • 41. 41 realizada. O pesquisador solicitava autorização verbal para gravar as entrevistas e, se permitido, as entrevistas eram gravadas. 3.5 Procedimentos da análise de dados Este trabalho, assim como o desenvolvido por Da Silva et al (2011), adotou métodos de análise de dados qualitativos, devido a semelhança de abordagem. Segundo Runeson e Host (2008 apud Da Silva et al 2011) e Seaman (1999 apud Da Silva et al 2011), os métodos de uma análise de dados qualitativos podem ser divididos em duas categorias que podem ser utilizadas em estudos de caso. Da Silva et al (2011) justifica a utilização desses métodos a fim de fundamentar os resultados baseados e evidenciados a partir dos dados.  Geração de teoria: Segundo Da Silva et al (2011), é geralmente utilizada com o objetivo de extrair um conjunto de declarações e proposições fundamentadas em dados, a partir de algum trecho de transcrições e refinadas e modificadas sobre outras passagens relacionadas. Da Silva et al (2011 p.44) ainda afirma que: “Estes métodos são frequentemente chamados de “grounded theory” ou teoria fundamentada nos dados, pois as teorias ou hipóteses geradas são fundamentadas nos dados”. Neste trabalho foram usados alguns aspectos de grounded theory que serão mencionados a seguir, todavia pela quantidade de dados, não foram gerados hipóteses e sim proposições, além disso, essas proposições geram indícios de uma teoria da motivação que atua somente na comunidade Android-Brasil-Projetos, muito embora acredita-se que os fatores encontrados possam ser observados em outras comunidades, eles devem ser mais bem estudados antes de serem aplicados em outras comunidades. 3.5.1 Teoria Fundamentada em Dados (Ground Theory) A abordagem utilizada nesta pesquisa é chamada de Teoria Fundamentada em Dados. Ela foi desenvolvida por dois sociólogos (Glaser e Strauss) para ser utilizada na pesquisa qualitativa. A escolha dessa forma de abordagem se dá pela sua grande aceitação por pesquisadores qualitativos (STRAUSS; CORBIN, 2008).
  • 42. 42 Easterbrook (2008) acredita que na Teoria Fundamentada em Dados a análise inicial dos dados é desenvolvida sem categorias pré-estabelecidas, pois os padrões de interesse relacionados ao contexto da pesquisa emergem a partir de comparações realizadas repetidamente pelo pesquisador a partir dos dados existentes. Para Strauss e Corbin (2008), o nome Teoria Fundamentada em Dados significa que a teoria foi desenvolvida a partir dos dados, sistematicamente coletados, e analisados por meio de um processo de pesquisa. Para Da Silva et al (2011), na Teoria Fundamentada em Dados as hipóteses são elaboradas como parte integrante da metodologia e que as hipóteses têm como objetivo obter entendimento dos fenômenos, no caso desta pesquisa foram geradas proposições, como abordado anteriormente, e que a abrangência da teoria usada está circunscrita ao espaço amostral utilizado, a comunidade Open Source Android- Brasil-Projetos. Kimura et al (2003) acredita que a abordagem metodológica da Teoria Fundamentada em Dados proporciona algumas dificuldades práticas, como, a quantidade de tempo que o pesquisador precisa para proceder à coleta, codificação e o grande volume de dados a serem analisados, a exposição do pesquisador com os participantes para criar um "clima" de interação (Sheldon, 1998 apud Kimura et al 2003). Kimura et al (2003) acredita, também, que outro ponto que deve ser considerado pelo pesquisador é a busca pela eliminação consciente das crenças preconcebidas a respeito do fenômeno em estudo, a fim de permitir que os dados apontem a identificação dos conceitos e suas inter-relações, desenvolvendo, dessa forma, uma teoria descontaminada de preconceitos do pesquisador. 3.5.2 Procedimento de codificação Os procedimentos de codificação utilizados nesta pesquisa são semelhantes aos utilizados por Da Silva et al (2011) em sua pesquisa. Da Silva et al (2011) acredita que o procedimento de codificação tem como entrada a transcrição na íntegra das gravações de entrevistas e notas de campo obtidas no processo de coleta de dado.
  • 43. 43 Da Silva et al (2011) ressalta ainda que não é um processo estático e rígido, pois ele é justamente o contrário, já que o pesquisador evolui a sua análise e interpretação dos dados de forma criativa oscilando entre os três tipos de codificação, e na utilização de técnicas e procedimentos analíticos. Os três tipos do processo de codificação devem ser encarados como formas diferentes de tratar o material nesse caso os dados. (FLICK, 2009 apud Da SILVA et al 2011; STRAUSS ; CORBIN, 2008, p. 67). Existem duas ferramentas analíticas que são importantes para o desenvolvimento de uma teoria e muito utilizadas durante as três etapas de codificação, que tem por objetivo ajudar o pesquisador a entender e reconhecer o que realmente está contido no texto (STRAUSS e CORBIN, 2008; Da SILVA et al , 2011): a) Formulação de perguntas: As perguntas “quem?”, “quando?”, “por quê?”, “onde?”, “o que?”, “como?”, “com que resultados?”, são uteis para o pesquisador quando ele está com dificuldades durante uma análise sem conseguir enxergar explicações dos fenômenos. Da Silva et al (2011) ainda destaca que o objetivo da formulação de perguntas não é gerar dados e sim formas e ideias de como olhar para os dados. b) Comparações: É uma maneira que estimula o pensamento do pesquisador no desenvolvimento de propriedades e dimensões de uma categoria. Comparação incidente por incidente, com o objetivo de identificar propriedades, significa comparar um incidente a outro buscando similaridades e diferenças entre eles. Segundo Da Silva et al (2011), durante a análise de dados, esse procedimento é utilizado quando não se consegue classificar ou nomear um incidente porque ainda não se tem um entendimento aprofundado. Utilizando um pensamento comparativo e metáforas o pesquisador pode encontrar situações e propriedades que o ajudem a desenvolver uma categoria.
  • 44. 44 3.5.2.1 Codificação Aberta Durante a codificação aberta se dar início ao processo de confrontar os incidentes aplicáveis em cada categoria (GLASER & STRAUSS, 1967 apud CASSIANI et al, 1996). Segundo Cassiani et al (1996), o investigador codifica os incidentes em tantas categorias quanto possível. Todos os dados são passíveis, neste momento, de uma codificação. A codificação é o processo em que os dados são codificados, comparados com outros dados e designados em categorias. Da Silva et al (2011) afirma que a codificação aberta é uma série de passos analíticos cuja finalidade é a identificação de categorias com suas propriedades e dimensões. Segundo este autor, o passo inicial é a rotulação de conceitos, a partir de porções do texto. Essas porções de texto que foram transcritos recebem um conceito, que é um nome que os representa dentro do contexto da pesquisa, podendo ser uma palavra, uma linha, uma frase ou um parágrafo que foi conceituado a partir da identificação nos dados de incidentes, ideias, eventos, atos, acontecimentos ou fatos (STRAUSS; CORBIN, 2008, p. 103-107; FLICK, 2009, p.277-279 apud Da SILVA et al, 2011). Strauss e Corbin (2008) expõem o conceito como um fenômeno rotulado a partir dos dados, que é a representação abstrata de um fato, ideia ou acontecimento que o pesquisador julgou importante dentro do contexto da pesquisa. Da Silva et al (2011) explica que a identificação de conceitos linha por linha para início de uma pesquisa é a mais indicada, já que o pesquisador ainda está se acostumando com os dados e isso o ajuda a entender o que está ocorrendo. Outra indicação para conceituação linha por linha é para algum trecho do texto que não está claro. Outra forma é codificar uma frase ou parágrafo inteiro, dessa maneira deve-se perguntar e tentar identificar “Qual é a principal ideia revelada por essa sentença ou parágrafo?” (STRAUSS e CORBIN, 2008, p. 120). Depois de abrir o texto e identificado alguns conceitos, o passo seguinte do procedimento é o agrupamento desses conceitos em um conceito mais abstrato, que deve ter a capacidade de explicar “O que está acontecendo aqui?”. Esse agrupamento de conceitos é identificado como uma categoria. Categorias são conceitos mais abstratos derivados dos dados que representam um fenômeno (um
  • 45. 45 problema, uma questão, preocupações ou assuntos) que tem a capacidade de explicar “O que está acontecendo aqui”? (STRAUSS; CORBIN, 2008; FLICK, 2009 apud Da SILVA et al , 2011). As categorias descobertas devem ser desenvolvidas em termos de suas propriedades e dimensões. Um exemplo utilizado para representar isso é o conceito de cor. Suas propriedades podem ser tonalidade, intensidade e matiz. Onde cada uma dessas propriedades pode ser dimensionada. Uma tonalidade mais clara ou mais escura, uma intensidade maior ou menor. (STRAUSS e CORBIN, 2008; FLICK, 2009 apud Da SILVA et al, 2011). Da Silva et al (2011) acredita que no final da codificação aberta o resultado dever ser uma lista de códigos e categorias com suas propriedades e dimensões. Para complementar, o pesquisador pode se utilizar de memorandos e anotações a fim de explicar e registrar suas observações e pensamentos sobre cada categoria gerada. 3.5.2.2 Codificação Axial Segundo Da Silva et al (2011), após a codificação aberta, deve ser feita uma codificação axial, que tem como objetivo relacionar as categorias resultantes da codificação aberta com às suas subcategorias para que se tenha um maior poder explanatório sobre os fenômenos. Da Silva et al (2011) afirma que subcategorias são categorias, porém no lugar de representar um fenômeno, elas têm a capacidade de responder as seguintes perguntas sobre os fenômenos (“de que forma?”, “quando?”, “como?”, “por quê?”, “para que?”, “com que consequências?”, entre outros). Ao identificar essas subcategorias, começa-se a descobrir relações entre as categorias de forma a contextualizar melhor o fenômeno estudado (STRAUSS; CORBIN, 2008; FLICK, 2009 apud Da SILVA et al, 2011). Strauss e Corbin (2008) apresentaram um mecanismo analítico conceitual em relação aos dados para organizar a formulação desse relacionamento chamado paradigma. Segundo Da Silva et al (2011), a ideia desse mecanismo é apoiar o esclarecimento e a identificação das relações entre um fenômeno, identificando suas causas, consequências e estratégias de ações envolvidas. Os termos utilizados no paradigma fornecem uma linguagem familiar e lógica facilitando a discussão. A
  • 46. 46 seguir serão apresentados os termos de acordo Strauss e Corbin (2008) e Flick (2009 apud Da SILVA et al, 2011): • Fenômeno: Na codificação, fenômeno é uma categoria que responde a pergunta “o que está acontecendo aqui?”, são padrões de acontecimentos, fatos ou ações que as pessoas, ou grupo de pessoas, fazem respondendo a situações ou problemas nas quais elas estão envolvidas. • Condições: Agrupamento de conceitos com respostas a questões do tipo: "como", "por que", "quando", "de que forma". Forma uma estrutura contextual, ou conjunto de situações ou circunstâncias na qual os fenômenos estão envolvidos. • Ações/interações: Surgem a partir das condições. São respostas estratégicas, ou rotineiras das pessoas, grupo de pessoas ou organizações a problemas, acontecimentos ou fatos. • Consequências: São os resultados (consequências) das ações/interações. Sempre que acontece uma ação/interação ou a ausência delas, seja por uma pessoa, grupo ou organização em relação algum problema, questão ou evento, há alguma consequência envolvida. Entender essas consequências bem como a forma como elas alteram o fenômeno possibilita a obtenção de explicações mais completas sobre o fenômeno Quando se identificam a relação entre as categorias e a associação com suas subcategorias, junto com a utilização do mecanismo paradigma, o pesquisador começa a identificar o que são condições, ações/interações e consequências. 3.5.2.3 Codificação Seletiva De acordo com Da Silva et al (2011), o último passo do processo de codificação é a codificação seletiva, que tem como objetivo integrar e refinar as categorias a fim de descrever uma teoria final. Essa descrição da teoria se dá através da identificação e do relacionamento de uma categoria central com as demais categorias identificadas em todo o processo. Da Silva et al (2011) afirma que a primeira coisa a se fazer na codificação seletiva é a identificação da categoria central. A categoria central, ou categoria básica, representa o tema principal da pesquisa e, assim como as demais categorias, é uma abstração que emergiu dos dados. Da Silva et al (2011) afirma,
  • 47. 47 ainda, que essa categoria tem um grande poder analítico, pois tem uma capacidade de reunir e de se relacionar com as outras categorias e, dessa forma, obtém um poder explanatório ao seu redor. Uma técnica para a descoberta dessa categoria é redigir, em poucas linhas, uma história descritiva da pesquisa com o foco sobre “O que parece estar acontecendo ali?”, “Qual a principal questão ou problema com o qual essas pessoas parecem estar lidando?”. Um retorno aos dados para reler as entrevistas ajuda nessa identificação (STRAUSS;CORBIN, 2008, p.146-148; FLICK, 2009 apud Da SILVA et al, 2011). Strauss e Corbin (2008) explicam que após essa identificação da categoria central o pesquisador escreve novamente uma história, mas, desta vez, utilizando as demais categorias existentes e os relacionamentos com a categoria central. A partir dessa história emerge a teoria final da pesquisa. Da Silva et al (2011, p.53) afirma que “Uma vez seguida sistematicamente à metodologia e o desenvolvimento do modelo teórico é necessário refinar e validar o esquema teórico”. O refinamento da teoria consiste em complementar categorias mal desenvolvidas, podendo inclusive voltar a campos para isso. No refinamento da teoria podem-se encontrar excessos de dados e conceitos estranhos que nunca foram desenvolvidos, quando isso é verificado, esses excessos devem ser deixados de lado (STRAUSS e CORBIN, 2008, p.155-157). 3.6 Limitações Os objetivos da pesquisa foram alcançados, todavia existiu dificuldade principalmente na questão das realizações de entrevistas, já que essa etapa depende bastante dos membros participantes da comunidade Android-Brasil- Projetos, que possuem diversas tarefas durante o dia e tem seu tempo limitado. As entrevistas foram realizada via Skype devido a dispersão dos membros que estão localizados em várias partes do Brasil, o que também dificultou na realização do processo. Inicialmente foram obtidos 8 respostas positivas para realização das entrevistas, contudo, somente 4 pessoas responderam positivamente em relação ao horário da entrevista e estiveram disponíveis no Skype para participar no horário marcado. Devido à limitação de tempo, o número de entrevistados se restringiu a quatro integrantes.