Vicente do Rego Monteiro foi um pintor e poeta brasileiro nascido em 1899 em Recife. Ele estudou arte na França e participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Alternou entre períodos vivendo no Brasil e na França, onde se tornou reconhecido como pintor. Sua obra mistura temas indígenas brasileiros com referências bíblicas e clássicas.
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Vicente do Rego Monteiro
1. VICENTE do Rego Monteiro, (1899-1970). Nascido e falecido em Recife (PE). De uma família
de artistas - sua mãe era prima distante de Pedro Américo, seus irmãos eram os pintores
Fédora e Joaquim, o arquiteto José e a escritora Débora do Rego Monteiro - , transferiu-se em
1908 para o Rio de Janeiro, de onde em 1911 partiu para a França em companhia de Fédora
(com quem já se iniciara em pintura), a fim de que ambos pudessem aperfeiçoar-se em Paris.
Nessa cidade cursou as aulas de desenho, pintura e escultura das Academias Julian e
Calarose e já em 1913, com menos de 14 anos (pois nascera em dezembro de 1899), teve
uma pintura e uma escultura aceitas no Salon des Indépendents. Retornando ao Brasil em
1914 com o início da I Guerra Mundial, novamente se fixou no Rio de Janeiro, onde conquistou
discreta nomeada como escultor com um busto de Ruy Barbosa.
Em 1918, em Recife, Vicente assistiu aos espetáculos da dançarina Ana Pavlova no Teatro
Santa Isabel, fixando-os em numerosos desenhos. Teve então a idéia de realizar um bailado
brasileiro, com motivos indígenas. Nessa época surgem em sua produção desenhos, pinturas e
sobretudo aquarelas de assunto índio, que exporá a partir de 1919 em Recife, São Paulo e Rio
de Janeiro. Em 1920 passará alguns meses em Minas Gerais, acompanhando o irmão mais
novo, Joaquim, numa temporada de cura. Pouco depois embarca para a França, deixando em
mãos de Ronald de Carvalho as oito obras com que participará, em fevereiro de 1922, da
exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna, efetuada no Teatro Municipal de
São Paulo. Percorre logo em seguida outros países da Europa, em companhia de Gilberto
Freire.
Datam de 1923 algumas de suas obras mais importantes, como La Chasse, Fuite en Egypte
ou La Flagellation; integrado ao grupo da Gallerie de I'Effort Moderne, publica também em
1923 o livro Legendes, croyances et talismans des indiens de l'Amazonie, expõe no Salon des
Indépendents e no des Tuileries e desenha máscaras e costumes para o balé Legendes
Indiennes de l'Amazonie, dançado por Malkowsky no Teatro Femina de Paris. Em 1925
realiza uma individual na Galerie Fabre, com apresentação de Maurice Raynal, faz uma série
de ilustrações para livros, como Quelques visages de Paris e Découverte de la danse, de F.
Divoire, e se casa com uma jovem francesa, Marcelle Louis Villard. Nesse mesmo ano, um
incêndio consome seu ateliê da Avenue du Maine, 107, destruindo inúmeras telas.
Em 1928 Vicente efetua nova individual na Galerie Bernheim Jeune, com prefácio de Amédé
Ozenfant. No ateliê de Pablo Gargallo (que lhe executa um retrato em ferro), conhece o poeta
Géo-Charles, que se tornará desde então seu amigo inseparável. Parecendo desfrutar de boa
situação financeira, adquire uma casa de campo em 1929 e, apaixonado pelo automobilismo,
disputa corridas, chegando a participar em 1931 do Grand Prix de France.
Administrador da revista Montparnasse, dirigida por Géo-Charles, embarca na companhia
desse para o Brasil em 1930, após ter participado da criação do Salon des Surindépendents e
do Salon 1940: trazem ambos uma exposição de arte moderna européia, a primeira do tipo a
ser apresentada no País. A coletiva é levada sucessivamente a Recife, Rio de Janeiro e São
Paulo, integrada por originais de artistas como Braque, Campigli, Dérain, Dufy, Foujita, Gleizes,
Gris, Gromaire, Herbin, Laurens, Léger, Lhote, Lurçat, Marcoussis, Matisse, Picasso, Severini,
Vlaminck e Zack, além de Joaquim e Vicente do Rego Monteiro. Durante a permanência em
São Paulo, Vicente é convidado por Oswald de Andrade a aderir ao Movimento Antropofágico,
mas recusa o convite.
Numa nova estada em Recife a partir de 1932, Vicente arrenda com um cunhado o Engenho
Várzea Grande, disposto a fabricar aguardente. A empresa fracassa, e o artista volta-se para
outras iniciativas: a direção da revista Fronteiras e, em 1934, a realização de um filme, para o
qual chegou a importar da Europa um câmera e um diretor. Alternando a partir de então
permanências em Recife e em França, decora em 1937 a Capela do Brasil no Pavilhão do
Vaticano da Exposição Internacional de Paris, e entre 1938 e 1946 exerce o cargo de professor
de Desenho do Ginásio de Pernambuco, além de dirigir a Imprensa Oficial do Estado por algum
tempo. Durante todo o período vivido em Pernambuco, sua casa em Recife será o ponto de
convergência de poetas, pintores, intelectuais e artistas: Vicente, que em 1939 fundara com
Edgar Fernandes a revista Renovação, divulga através desse periódico de cultura os primeiros
trabalhos de jovens poetas como João Cabral de Melo Neto, Ledo Ivo, Antônio Rangel
2. Bandeira e Cláudio Tuiuti Tavares. Ele mesmo poeta, publica, em 1941, seu primeiro livro:
Poemas de bolso.
Em 1946, de novo em Paris, funda sua editora La Presse à Bras, imprimindo num prelo manual
belas plaquetas de poesia de autores franceses ou brasileiros. Nesse mesmo ano organiza o II
Congresso de Poesia do Recife (o primeiro ocorrera cinco anos antes, também por iniciativa
sua). Em Paris, em 1948, cria o "Muro da Poesia" do Salon de Mai, que será anualmente
organizado até 1952.
A partir de meados da década de 1940 diminui sensivelmente sua atividade como pintor,
enquanto inversamente aumenta seu labor de poeta. Surgem a partir de então numerosos
livros de versos, como Concrétion, Cartomancie (1952), Vers sur verre (1953), Broussais-la-
charité (1955); Prêmio de Poesia Le Mandat des Poètes), Mon onde était trop courte pour toi
(1956), etc. Após ausência de mais de dez anos retorna em 1957 ao Brasil, contratado como
professor da Escola de Belas Artes da Universidade de Pernambuco, efetuando também
mostras de monotipias em Recife e no Rio de Janeiro. Diversas outras exposições suceder-se-
iam em Paris de então até a morte, nas galerias Royale (1958), Michel (1960), Ror Vomar
(1962), La Baume (1963) e Debret (1967). Pouco apreciado e praticamente desconhecido em
sua própria terra, tem obras recusadas em 1963, ao tentar participar da V Bienal de São
Paulo...
Professor-colaborador do Instituto Central de Artes de Brasília em 1966, permanecerá nesse
cargo até setembro de 1968, tendo ainda dirigido a Gráfica-Piloto da Universidade de Brasília e
supervisionado seu Departamento de Artes Industriais. Ainda em 1966 realiza exposição de
pinturas e desenhos no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, voltando a mostrar
seus trabalhos em 1969 em Recife e no Rio de Janeiro, e em 1970 na Galeria Ranulfo da
capital pernambucana, onde faleceu a 5 de junho desse mesmo ano. Importante retrospectiva,
abrangendo mais de uma centena de obras, teve lugar em fins de 1971 no Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo, organizada por Walter Zanini; e também com
uma retrospectiva de suas pinturas foi inaugurado em Paris, em 1986, no Museu Géo-Charles.
Circunstâncias diversas fizeram de Vicente do Rego Monteiro o grande esquecido da revolução
modernista no Brasil. Tendo vivido praticamente toda a sua existência ausente dos grandes
centros culturais brasileiros de Rio de Janeiro e São Paulo, antes repartindo sua atividade entre
sua cidade natal, Recife e a de adoção, Paris, não foi senão ao cabo de uma longa carreira na
Europa que se viu reconhecido no Brasil pelas gerações mais novas, através de sucessivas
exposições que o recolocaram num lugar que era seu, mas do qual fora alijado em estranhas
condições. O fato é que Vicente, tendo embora participado da Semana de Arte Moderna de
1922 e integrado, em Recife, diversos movimentos artísticos e culturais de revitalização das
artes e das letras, era até bem recentemente pouco mais que um ilustre desconhecido em sua
terra natal. Acresce que, por longos anos, Vicente permaneceu afastado da pintura, dedicando-
se de preferência à criação literária, como poeta de fôlego que era, e às edições de luxo de
poetas seus amigos. Seu retorno às artes visuais ocorreu paulatinamente, e quando finalmente
se ia tornando um dos nomes mais em evidência da moderna Escola Brasileira de Pintura, já
seu ciclo vital chegava ao fim.
Vicente é artista pessoal, aparentado decerto a outros artistas, mas articulando perfeitamente
uma linguagem própria. Linguagem que, além do mais, baseia-se numa realidade nacional, não
tivesse sido Vicente antes de tudo - e mesmo vivendo longe tantos anos do Brasil -, pintor de
fundas preocupações com uma arte nacional brasileira - brasileira pela temática e pela
atmosfera. A esse respeito, seja observado desde logo que é a Vicente que, direta ou
indiretamente ligam-se todos os jovens pintores, gravadores e desenhistas contemporâneos do
Nordeste, como um Gilvan Sanico ou um João Câmara, todos preocupados em partir do
regional para o nacional e daí para o universal, infensos, aparentemente, às importações
periódicas dos últimos ismos em moda.
Senhor de sólido métier, dominando como poucos seu ofício, era esse domínio técnico
excepcional que permitia a Vicente evocar com leveza cromática, as formas escultóricas de
suas figuras, que pareciam destacar-se do ano bidimensional que ocupavam. Quanto ao seu
3. mundo de idéias, oscilava entre as figuras primevas do Continente Americano e a Bíblia, os
grandes clássicos, os temas grandiloqüentes que tornavam sua arte densa e profunda. Mas
teve também olhos para o esporte - ele, a quem o movimento fascinava -, e, homem de seu
tempo, sentiu em certo instante a sedução do Abstracionismo, abandonando a referência aos
objetos naturais para criar um mundo de texturas e cores independentes. Sua importância, que
extrapola as fronteiras do Brasil já que é hoje considerado em França pintor também francês,
pode bem ser aquilatada por essas palavras de seu companheiro de geração Gilberto Freire,
em 1969:
- Vicente foi, talvez, o maior dos pioneiros da modernização das artes no Brasil, que,
cronologicamente, data de 1922, e da Semana de Arte Moderna de São Paulo. Maior do que a
insigne Tarsila - por ter sido, desde o seu início, como artista renovador, um modernista
impregnado de indianismo. Maior - pelo mesmo motivo - do que Brecheret. Sob possíveis
sugestões do Regionalismo tradicionalista e, a seu modo, modernista, do Recife, parece ter se
antecipado a esses dois e a Leão Veloso, Anita Malfatti, Emiliano Di Cavalcanti, Goeldi - os
outros vigorosos pioneiros de 22 no Rio e em São Paulo.
Os calceteiros, óleo s/ tela, 1924;
0,45 X 1,65, Palais des Congrès, Liège, França.
Maternidade, óleo s/ tela, 1924;
0,45 X 1,65, Palácio Bandeirantes, SP.
Tenis, óleo s/ tela, 1928;
1,00 X 0,81, Palácio Bandeirantes, SP.
Pietá, óleo s/ tela. cerca de 1966;
1,00 X 1,34, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.
As religiosas, oléo s/ madeira, 1969;
0,68 X 0,79, Museu Nacional de Belas Artes, RJ