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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
               CENTRO DE EDUCAÇÃO
               CURSO DE GEOGRAFIA




               O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ?
(UM ESTUDO COM APRENDIZAGENS GEOGRÁFICAS DE ALUNOS
              COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS)




                                                   Eder Lira
                           Fernando Domingos Vieira Sartório
                            Kátia Nazaré dos Santos de Lima
                                      Renata Nunes da Silva




                     Vitória-ES
                        2010
Eder Lira
            Fernando Domingos Vieira Sartório
             Kátia Nazaré dos Santos de Lima
                  Renata Nunes da Silva




               O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ?
(UM ESTUDO COM APRENDIZAGENS GEOGRÁFICAS DE ALUNOS
              COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS)




                          Trabalho de conclusão de curso apresentado
                          como exigência parcial para a conclusão da
                          disciplina Tópicos Especiais de Ensino de
                          Geografia III, do Curso de Licenciatura em
                          Geografia da Universidade Federal do
                          Espírito Santo, sob orientação da Professora
                          Mestra Solange Lins Gonçalves.




                        Vitória-ES
                           2010
Eder Lira
                    Fernando Domingos Vieira Sartório
                     Kátia Nazaré dos Santos de Lima
                          Renata Nunes da Silva




                O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ?
 (UM ESTUDO COM APRENDIZAGENS GEOGRÁFICAS DE ALUNOS
               COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS)




Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial para a
conclusão da disciplina Tópicos Especiais de Ensino de Geografia III, do Curso de
Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo, sob
orientação da Professora Mestra Solange Lins Gonçalves.


                                                 Aprovada em 01 de julho de 2010.




                              Comissão Examinadora

                              ____________________________________
                              Profª Mestra Solange Lins Gonçalves.
                              Universidade Federal do Espírito Santo.
                              Orientadora.

                              ____________________________________

                              Profª Pós-Doutora Denise Meyrelles de Jesus.
                              Universidade Federal do Espírito Santo.


                              ____________________________________
                              Bacharel em História e Direito Profº Jair Marquioli.
                              EEEFM “Desembargador Carlos Xavier Paes
                              Barreto” / Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas
                              Portadoras de Deficiência Visual.
DEDICATÓRIA




   Dedicamos este trabalho a todos que
   contribuíram de forma positiva para a sua
   elaboração. Em especial, a todos aqueles
   que nos ensinaram “a ver o que não
   víamos”.
AGRADECIMENTOS


Agradecemos primeiramente a Deus, que nos amparou em todos os momentos de
alegrias, dúvidas, (des)gostos e, principalmente, através da fé nos fez perceber o
quanto o outro é importante e assim, nos fortaleceu nesta caminhada.

Às nossas famílias, nossos pilares, sustentáculos de nossas existências.
Agradecemos a todo apoio, concedido por aqueles, sem o qual, nosso caminho
seria muito, muito, muito mais difícil.

Agradecemos também aos nossos professores desde o ensino fundamental até os
atuais, que nos conduziram até este honroso momento.

Ao CAP (Centro de Apoio Pedagógico), especialmente ao professor Jair e a nossa
amiga Penha, que tanto contribuíram para a realização da oficina pedagógica,
ensinando e mediando nossas relações com os deficientes visuais. Deixamos aqui,
nosso muito obrigado às meninas que participaram da oficina pedagógica, provando-
nos que valeria a pena nos dedicarmos a este trabalho.

O desenvolvimento deste trabalho não seria possível sem a colaboração de todos os
integrantes do grupo, que se empenharam no levantamento bibliográfico, na
realização das entrevistas, na confecção dos recursos didáticos e no tempo
despendido na realização de todas as atividades referentes à pesquisa:



Ao Eder, pelos momentos de descontração em meio ao caos.

Ao Fernando, pelo afeto e carinho.

À Kátia, por suas palavras, que tanto enriqueceram o conteúdo deste trabalho.

À Renata, por seu envolvimento e responsabilidade.
"Se os meus olhos não me deixam obter
informações sobre homens e eventos, sobre
ideias e doutrinas, terei de encontrar uma
outra forma." (Louis Braille)
RESUMO


Caracteriza a atual fase, pela qual a educação inclusiva brasileira passa e as
dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais nas escolas. Expressa a
necessidade de se formar profissionais capacitados para atuarem com deficientes.
Demonstra os variados tipos de deficiência visuais existentes, desde a baixa visão,
até a cegueira, classificando cada uma delas. Propõe o uso de oficinas pedagógicas
para o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem de alunos deficientes
visuais, melhorando a prática pedagógica de professores com pouca experiência e
dando acesso à educação de direito aos deficientes visuais. Desvela sobre as
diversas possibilidades de trabalho, sobre as dificuldades dos deficientes visuais no
ensino da Geografia em sala de aula. Diagnostica, através de entrevistas, os
problemas enfrentados por instituições que dão suporte aos deficientes visuais, bem
como as dificuldades enfrentadas pelos mesmos no ensino de Geografia.
Desenvolve uma oficina pedagógica, baseada nas dificuldades diagnosticadas em
entrevistas realizadas com deficientes visuais. Produz recursos didáticos – mapa e
globo tátil – com materiais diferenciados (miçangas, tecidos, papéis importados), a
fim de levar aos deficientes visuais a compreensão de localização, sendo esta, uma
iniciação cartográfica de que eles tanto urgem. Conclui que as dificuldades
enfrentadas pelos deficientes visuais nas escolas de ensino regular são muitas e
que há falta de formação para os profissionais que se relacionam com esses
indivíduos.


Palavras-chave: Ensino de Geografia. Deficientes visuais. Recursos-didáticos.
LISTA DE FOTOGRAFIAS



Foto 01.......................................................................................................................24


Foto 02.......................................................................................................................25


Foto 03.......................................................................................................................27


Foto 04.......................................................................................................................39


Foto 05.......................................................................................................................39


Foto 06.......................................................................................................................40


Foto 07.......................................................................................................................41


Foto 08.......................................................................................................................93


Foto 09.......................................................................................................................93


Foto 10.......................................................................................................................94


Foto 11.......................................................................................................................94


Foto 12.......................................................................................................................95
LISTA DE TABELAS



Tabela 1 - Documentos catalogados.........................................................................33


Tabela 2 - Atividades previstas..................................................................................43
SUMÁRIO


1.INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11
2. - CAPÍTULO 1 – O QUANTO VÊ QUEM NÃO VÊ: CONCEITOS,
PROBLEMÁTICAS E O COTIDIANO ESCOLAR ................................................ 13
2.1 Deficiência visual: Conceitos ........................................................................... 13
3.- CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA E VIVÊNCIAS: A FORMAÇÃO
DOCENTE EM GEOGRAFIA E DEFICIÊNCIA VISUAL ...................................... 17
4.- CAPÍTULO 3 - A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS EM
GEOGRAFIA PARA O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE
DEFICIENTES VISUAIS ....................................................................................... 24
5.- CAPÍTULO 4 - TATEANDO CAMINHOS: METODOLOGIA,
PROCEDIMENTOS, ABORDAGENS E TRAJETÓRIAS ..................................... 29
5.1 A Abordagem ................................................................................................... 29
5.1.1 Caracterização do Lócus do Estudo ............................................................. 30
5.2 Revisão bibliográfica ........................................................................................ 31
5.3 As técnicas de coleta de dados ....................................................................... 32
5.4 Processos e instrumentos para obtenção de dados ........................................ 32
5.4.1 Pesquisa documental:................................................................................... 33
5.5 Entrevistas ....................................................................................................... 34
5.6 Oficina pedagógica .......................................................................................... 36
5.6.1 Globo Terrestre ............................................................................................. 38
5.6.2 Mapas táteis ................................................................................................. 41
5.7 Cronograma ..................................................................................................... 43
6. - CAPÍTULO 5 – O COTIDIANO ESCOLAR A PARTIR DA VIVÊNCIA, DO
EXPERIMENTADO: HISTÓRIA ORAL DE COORDENADORES,
PROFESSORES E ALUNOS................................................................................ 44
6.1 Entrevista 1 - Presidente do Instituto Braille do Espírito Santo – Sr Altamares
de Freitas ............................................................................................................... 44
6.1.1 Análise da Entrevista 1 ................................................................................. 52
6.2 Entrevista 2 - Pedagoga, coordenadora do CAP – Centro de Apoio
Pedagógico – Iris Fátima do Rosário ..................................................................... 53
6.2.1 - Análise da Entrevista 2 ............................................................................... 62
6.3 Entrevista 3 - Professor do CAP – Centro de Apoio Pedagógico - Jair Antonio
Marquioli ................................................................................................................ 63
6.3.1 Análise da Entrevista 3 ................................................................................. 75
6.4 Entrevista 4 - Alunos deficientes visuais da Escola Paes Barreto – Vitória/ES76
6.4.1 Análise da Entrevista 4 ................................................................................. 87
7. - CAPÍTULO 6 - OFICINA PEDAGÓGICA: “O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ?
INICIAÇÃO GEOGRÁFICA”................................................................................. 88
7.1 Objetivos gerais ............................................................................................... 88
7.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 88
7.3 Justificativa: ..................................................................................................... 88
7.4 Metodologia e Procedimentos: ........................................................................ 89
7.5 Passo-a-passo: ................................................................................................ 90
7.6 Avaliação: ........................................................................................................ 92
8.- CAPÍTULO 7 - A APLICAÇÃO DA OFICINA PEDAGÓGICA “O QUE VÊ
QUEM NÃO VÊ”:EXPERIMENTAÇÃO, APRENDIZADO E CONTENTAMENTO93
9. CONCLUSÃO ................................................................................................... 96
10.REFERÊNCIAS ................................................................................................ 98
ANEXO A – SUGESTÕES DE SITES SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA
VISUAL ............................................................................................................... 102
ANEXO B – SUGESTÕES DE VÍDEOS SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA
VISUAL ............................................................................................................... 103
ANEXO C – SUGESTÕES DE FILMES SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA
VISUAL ............................................................................................................... 104
ANEXO D – SUGESTÕES DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA
VISUAL ............................................................................................................... 106
11




1. 1INTRODUÇÃO


       Grandes são os desafios enfrentados para que se possa garantir um ensino
de qualidade aos alunos em nosso sistema de ensino e, maiores ainda são aqueles
enfrentados por quem necessita de um grau a mais de atenção e dedicação. As
pessoas são diferentes e aprendem de maneiras diferentes, porém quando são
acrescentadas a essas diferenças, deficiências sensoriais, físicas e intelectuais, é
imprescindível a formação de profissionais capacitados, para que se possa de fato
garantir-lhes o direito constitucional à educação.

       Nesta perspectiva, pensando na efetiva inclusão de pessoas com algum tipo
de deficiência no cotidiano escolar, propomo-nos a trabalhar, especificamente,
pesquisando e preparando recursos didáticos, na área de Geografia, voltados para
pessoas com deficiência visual, que estudam nas escolas regulares, considerando
que a inclusão escolar:




                       [...] abrange o significado de ações, posturas sociais e políticas
                      democráticas, visando ao reconhecimento e estabelecimento dos direitos
                      dos   grupos   excluídos   dentro   da   sociedade,   pela   via   da   escola
                      (GONÇALVES, A. F. S.; JESUS, D. M., 2001, p.1).




       Essa busca por informações não foi uma tarefa fácil. Surgiram dificuldades ao
longo do caminho, no que se refere a localizar e selecionar fontes bibliográficas e
outros tipos de materiais que tratassem sobre o assunto. Pensando contribuir
positivamente no processo de ensino-aprendizagem, decidimos oferecer uma




1
 Correção ortográfica e normatização realizada por Ingrid Regina Malaquias dos Santos.
Professora formada em Letras Português/Inglês na Faculdade Saberes.
12



pequena lista contendo sugestões de leitura, vídeos, entre outros (Anexo A, B, C e
D).

      Segundo De Masi (2002, p. 20): “A deficiência da visão é uma limitação
sensorial que pode atingir uma gravidade capaz de praticamente anular a
capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual, permitindo diversas
classificações de redução da visão.” Percebendo essa limitação, enfatizamos a
importância de intervenções pedagógicas que priorizem o aprimoramento dos outros
órgãos sensoriais, reforçando a validade da produção e da utilização de recursos
didáticos como meio de contribuir para a formação da imagem mental e a
representação simbólica necessárias à aprendizagem, fato que dentro da Geografia,
possa permitir uma melhor percepção de mundo para essas pessoas.

      Ressaltamos que, para o desenvolvimento desse estudo e para a produção
dos recursos didáticos, nos valemos de uma metodologia que permitisse o uso de
uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coletas de dados e
análise dos mesmos, como: revisão bibliográfica e pesquisas em documentos
oficiais, escolha do lócus para a aplicação do estudo (Centro de Apoio Pedagógico
às Pessoas com Deficiência Visual/Vitória, ES), entrevistas, aplicação de oficina
pedagógica e a consequente avaliação dos recursos didáticos produzidos – um
globo e um mapa tátil.

      O trajeto dessa pesquisa foi longo e denso, na compressão do espaço-tempo
do período de estudo. Embora tenhamos a compreensão da importância de cada
proposta envidada para contribuir com a formação da cidadania dos jovens
estudantes com deficiência visual, incluindo este nosso trabalho, no qual
empregamos os nossos melhores esforços, sabemos que há ainda muito por fazer.
O que nos conforta, estimula e nos dá certeza de que vale a pena insistir, pode ser
sintetizado nas admiradas expressões das jovens parceiras desta pesquisa: “Olha,
que lindo! Não sabia que a Índia tinha assim esse jeito, nem que a Ásia era assim
tão grande”

      O convite para “olhar” o que a jovem achou “tão lindo”, nos dá força para
continuar socializando o pouco que nos foi possível produzir, e para convidar cada
leitor a nos acompanhar nesse esforço de entender o que vê quem não vê...
13



2. – CAPÍTULO 1 – O QUANTO VÊ QUEM NÃO VÊ: CONCEITOS,
   PROBLEMÁTICAS E O COTIDIANO ESCOLAR


2.1 Deficiência visual: Conceitos



                     A história da deficiência, como a própria denominação indica, tem-se
                     colocado em nossa cultura como uma forma de caracterizar aqueles
                     sujeitos que, por razões variadas, apresentam um déficit, uma perda, tanto
                     na esfera orgânica quanto na psíquica (DINIZ, M.; RAHME, M. p.112, 2004).




      Partindo desse pressuposto, ao longo da história da humanidade, a
deficiência sensorial foi tratada de acordo com as características e particularidades
culturais de cada sociedade. Na antiguidade, quem possuía algum tipo de
deficiência era tratado à margem da sociedade e assim, eram classificados como
não hábeis, débeis e aleijados.




                              [...] nos séculos XVIII e meados do século XIX, encontra-se a fase
                     de institucionalização, em que os indivíduos que apresentavam deficiência
                     eram segregados e protegidos em instituições residenciais. [...] já no final do
                     século XIX e meados do século XX, pelo desenvolvimento de escolas e/ou
                     classes especiais em escolas públicas, visando oferecer à pessoa deficiente
                     uma educação à parte. [...] no final do século XX, por volta da década de 70,
                     observa-se um movimento de integração social dos indivíduos que
                     apresentavam deficiência, cujo objetivo era integrá-los em ambientes
                     escolares, o mais próximo possível daqueles oferecidos à pessoa normal
                     (MIRANDA,          A.    A.    B.    p.    2.    [200-]     Disponível     em:
                     <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/revis/revis15/art1_15.pdf>.
                     Acesso em: 13 de set. 2010.)




      Com a ascensão dos valores cristãos, os que antes ficavam excluídos
passaram a ter a proteção da Igreja. Já na Idade Moderna, a filosofia humanista
inicia o processo de entendimento dos problemas relacionados ao homem e assim,
inicia-se a tentativa educacional sob o enfoque patológico. Com os ideais da
Revolução Francesa - igualdade, liberdade e fraternidade - na Idade Moderna,
prolifera-se a necessidade da elaboração de uma consciência social; e as correntes
que defendiam os direitos do homem ganham forte adesão no mundo. Quando a
14



sociedade passou a diferenciar os indivíduos quanto a sua deficiência, já estava
sendo feita uma classificação primária das pessoas com necessidades especiais.

      Ao elaborar uma tentativa de classificação, ainda hoje se percebe resquícios
dos períodos da humanidade em que a deficiência era vista como algo maligno,
porém algumas linhas de pensamentos vêm contra essa concepção. Qualquer
análise que é feita que envolva diversos níveis, seja ela para diferenciar um grupo
de outro ou não, deve seguir um critério de classificação para uma posterior
equiparação    desses dados.       Quanto    aos deficientes       visuais é     necessário
primeiramente que se faça uma classificação para saber o quanto cada indivíduo
enxerga. Dentre as classificações existentes destacam-se a legal, médica,
educacional e a esportiva.

      Para os artigos publicados na revista digital EFDEPORTES (2001) “[...] há
várias classificações para a deficiência visual, que variam conforme as limitações e
os      fins      de         que        se        destinam”          (Disponível         em:
<http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm>. Acesso em 08 de abril de 2010).

      Para Munster e Almeida (2005):

                     [...] elas surgem para que as desvantagens decorrentes da visão funcional
                     de cada indivíduo sejam minimizadas, pois apesar das pessoas com
                     deficiência visual possuírem em comum o comprometimento do órgão da
                     visão, as alterações estruturais e anatômicas promovem modificações que
                     resultam em níveis diferenciados nas funções visuais, que interferem de
                     forma diferenciada no desempenho de cada indivíduo (Disponível em:
                     <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm >. Acesso em 08 de abril de
                     2010.).



      Quanto à classificação legal, ela existe para oferecer à pessoa com essa
necessidade especial os direitos e dessa forma permitir o acesso a cidadania.
Segundo as leis no âmbito do desporto (Piva e Pelé), certa quantia da arrecadação
das loterias deve ser repassada também para o comitê para olímpico brasileiro:




                     Leis no âmbito do desporto 10.264 (Lei Piva) e 9.615 (lei Pelé), de 16 de
                     julho de 2001: A lei 10.264, conhecida como Lei Piva foi sancionada pelo
                     Ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, estabelecendo
                     que 2% da arrecadação bruta das loterias federais do País sejam
15



                     repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (85%) e Comitê Paraolímpico
                     Brasileiro              (15%)                (Disponível           em:
                     <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm >. Acesso em 08 de abril de
                     2010.).

      Existem também outras leis que visam à integração social das pessoas com
deficiência visual como:

                     Lei Nº 7.853, de 24 de Outubro de 1989: Dispõe sobre o apoio às pessoas
                     com deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional
                     para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde. Institui a tutela
                     jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a
                     atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.

                     Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases
                     da          Educação           Nacional          (Disponível          em:
                     <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm >. Acesso em 08 de abril de
                     2010.).

      Além dessas classificações existe também a médica que, por sua vez,
estabelece critérios para a classificação segundo a capacidade de distinguir ou não
certos objetos:

      Segundo o texto da ACSM (American College of Sports Medicine) (1997)
citado por Fugita (2002) a cegueira pode ser definida como:

                               Cegueira por acuidade: significa possuir visão de 20/200 pés ou
                     inferior, com a melhor correção (uso de óculos). É a habilidade de ver em 20
                     pés ou 6,096 metros, o que o olho normal vê em 200 pés ou 60,96 metros
                     (ou seja, 1/10 ou menos que a visão normal), onde 1pé = 30,48
                     cm.Cegueira por campo visual: significa ter um campo visual menor do que
                     10° de visão central - ter uma visão de túnel.Cegueira total ou "não
                     percepção de luz": é a ausência de percepção visual ou a inabilidade de
                     reconhecer uma luz intensa exposta diretamente no olho.

      Já no âmbito educacional estabelece-se o critério de eficiência visual como
citado no artigo da revista digital EFDEPORTES.COM apud Kirk e Gallagher (1991):

                     Pessoa Cega: é aquela que possui perda total ou resíduo mínimo de visão,
                     necessitando do método Braille como meio de leitura e escrita e/ou outros
                     métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo
                     ensino-aprendizagem. Pessoa com baixa visão: é aquela que possui
                     resíduos visuais em grau que permitam ler textos impressos à tinta, desde
                     que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais, excluindo
                     as deficiências facilmente corrigidas pelo uso adequado de lentes (BRASIL.
                     Ministério da Educação e do Desporto, 1993).

      Quanto às concepções esportivas, também no âmbito do acesso dos
deficientes visuais e      para oferecer maior integração               social,   conforme a
16



Confederação Brasileira de Desportos para Cegos é necessário estabelecer um
critério oftalmológico para diferenciar os diversos níveis de deficiências:

                      [...] B1: De nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos até a
                      percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma
                      mão a qualquer distância ou direção.
                      B2: Da capacidade em reconhecer a forma de uma mão até a acuidade
                      visual de 2/60 e/ou campo visual inferior a 5 graus.
                      B3: Da acuidade visual de 2/60 a acuidade visual de 6/60 e/ou campo
                      visual de mais de 5 graus e menos de 20 graus (Disponível em >
                      <http://www.cbdc.org.br/novo_site/index.php?idmenu=26&codtipoconteudo=
                      4> Acesso em 08 de abril de 2010.).


      Por fim, pode-se através do que foi explicitado, compreender que,
dependendo do meio ao qual a classificação é solicitada, a mesma sofrerá influência
daquele que a solicita. Assim, seja qual for a necessidade de classificação, deve-se
primeiramente identificar o objeto, para assim, estabelecer o critério que mais se
adéqua a mesma.
17



3. – CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA E VIVÊNCIAS: A
   FORMAÇÃO DOCENTE EM GEOGRAFIA E DEFICIÊNCIA VISUAL


       É direito de todos os indivíduos o acesso a uma educação de qualidade,
dizem os documentos nacionais oficiais. A complexidade da diversidade não se
esgota nas diferenças de cultura, de educação, de histórias de vida. Esta
complexidade habita cada espaço entre as diferenças, impregnando-as também. E
se as diferenças são muitas entre as pessoas, elas são muito exigentes quando as
pessoas acrescentam a estas diferenças, deficiências como dificuldades na visão,
na audição, na movimentação e tantas outras, pois cada uma é um tipo e exige um
cuidar e um trabalhar com ela, especial. Nesta perspectiva, urge que sejam
formados professores capacitados a trabalhar com a diversidade de alunos
presentes no ambiente escolar.

       É consenso entre os profissionais da área da educação que a escola deve ser
um espaço de integração entre os indivíduos e que este espaço deve estar acessível
a todos, sendo assim, democrático. Porém, ao analisar a realidade da educação
brasileira, não é isto que constatamos. As marcas da exclusão estão presentes no
ambiente escolar, em processos explícitos e subliminares que segregam e
marginalizam com extrema perversidade indivíduos oriundos das classes populares
menos privilegiadas e com dupla intensidade aqueles que são portadores de algum
tipo de deficiência.

       Os documentos oficiais prevêem o caminho certo a ser tomado, mas isso não
é o suficiente. Esforços financeiros precisam ser investidos tanto em infraestrutura
física, quanto intelectual. Isso inclui desde prédios, equipamentos e mobiliários
adequados à diversidade até chegar na formação de educadores capazes de lidar
cuidadosa e competentemente com as diferenças, dando sustentação e promovendo
transformações necessárias às escolas.

       Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, já dispunha em
seu capítulo III, que:

                         “Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivada mediante a
                         garantia de:
18




                     III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
                     preferencialmente na rede regular de ensino “(BRASIL, Constituição da
                     República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1988).

      Essas orientações legais se coadunam com o campo conceitual concernente
à questão. Para Marchesi e Martin (1995), o aluno com necessidades especiais é
aquele que apresenta algum problema de aprendizagem ao longo de sua
escolarização, que exige uma atenção mais específica e mais recursos educacionais
do que os necessários para os colegas de sua idade.

      Ainda segundo esses estudiosos, (MARCHESI e MARTIN, 1995) o conceito
Necessidades Educacionais Especiais, passou a ser utilizado a partir da década de
1960. De acordo com Sassaki (1997), essa época testemunhou o boom de
instituições especializadas, tais como escolas especiais, centros de habilitação,
centros de reabilitação, oficinas protegidas de trabalho, clubes sociais especiais,
associações desportivas especiais, dentre outras. Sendo assim, a referida década
foi caracterizada pela tentativa de derrubar a prática da exclusão social a que foram
submetidas às pessoas deficientes por vários séculos.

                              Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a
                     constituir a proposta pedagógica da escola, definindo como seu público-alvo
                     os alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas
                     habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em
                     transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma
                     articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às
                     necessidades educacionais especiais desses alunos (MEC/Secretaria de
                     Educação        Especial.     p.15,     2008.      Disponível    em:      <
                     http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011730.pdf>.
                     Acesso em: 13 de set. de 2010.).

      A educação inclusiva propõe novas exigências ao atual sistema de educação
que precisa ser repensado. A formação adequada de professores preparados para
atuar em escolas regulares com alunos de necessidades educacionais especiais,
por conseguinte, tornou-se imprescindível. A LDB prevê, no Capítulo V, que os
sistemas de ensino deverão assegurar aos educandos com necessidades especiais:

                     “Art. 59 –

                     ...

                     III – Professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
                     para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
                     capacitados para integração desses educandos nas classes comuns”
19



                    (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de
                    1996).

      Apesar da Lei de Diretrizes e Bases prever como necessário um atendimento
especializado e professores capacitados, Ferreira (1998) destaca que as discussões
sobre as necessidades especiais não estão presentes nos cursos de formação de
professores. Porém, acreditamos que somente espaços de discussão garantidos em
universidades e academias não serão suficientes para a melhoria do processo de
aprendizagem dos alunos com necessidades especiais. Também não postulamos
que a inserção de temas, oficinas ou programas curriculares resolvam sozinhos tais
demandas. Pensamos que é preciso mais: uma mudança de postura de concepção
pedagógica é urgente e só se concretizará no esforço conjugado de ensino,
pesquisa e extensão como formação inicial e contínua de professores.

      Os professores enfrentam, cada vez mais, dificuldades em lidar com alunos.
Num jogo de palavras, dificuldades especiais ao lidarem com alunos com
dificuldades especiais. Segundo Almeida (1984) e Denari (1984), a expansão das
classes especiais nos anos 80 acarretou a democratização do ensino e suas
consequências ao ambiente escolar. Houve uma multiplicidade quantitativa na
entrada de alunos oriundos das camadas populares da sociedade, os quais
dispunham de um repertório cultural imensamente diferente daquele que a escola
exigia ou pretendia ter. Sendo assim, estes enfrentaram maiores dificuldades em
aprender o conteúdo escolar.

      De acordo com MEC/Secretaria de Educação Especial:

                             Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base
                    da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o
                    exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação
                    possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado e deve
                    aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação [...] para a oferta
                    dos serviços e recursos de educação especial (MEC/Secretaria de
                    Educação       Especial.  p.17     e    18,     2008.    Disponível     em:     <
                    http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011730.pdf>.
                    Acesso em: 13 de set. de 2010.).




      A falta de preparo dos professores para tratar com tais alunos fazia com que
estes fossem encaminhados para classes especiais. Tal medida isentava esses
20



profissionais da responsabilidade de aprender a lidar com os mesmos e com as
dificuldades que apresentavam.

      Estudos apresentados por Marin (1996) destacam que é necessário repensar
os cursos de formação de professores, adotando a história de vida dos alunos e
suas formas de socialização como alternativa para maior compreensão dos
processos de aprendizagens e possíveis limitações individuais ou sociais dos
sujeitos envolvidos na formação. A autora também afirma que, desde a década de
1950, a precariedade na formação dos professores e nos ambientes profissionais é
notória. Havia distância entre aquilo que era ensinado nas escolas e aquilo que era
forjado na vida profissional dos professores. Porém, apesar de todas as dificuldades
enfrentadas pelos professores e da falta de preparo, a autora ainda afirma que
existem profissionais que buscam continuamente acertar, mesmo diante da
realidade problemática.

      Isso inclui pensar que formação e construção da identidade profissional do
professor acontecem em conjunto, numa sintonia que se dará durante todo o curso
de sua vida, do seu cotidiano, da historicidade vivida. Segundo Santos (2002), a
trajetória do professor será marcada por contradições e conflitos, que ganham força
no ambiente escolar, e, acreditamos, com intensas ramificações, em sua vida
pessoal.

      Assim, com Cavaco (1991), acreditamos que o professor, notadamente, o
recém formado, traz consigo incertezas e inseguranças, muitas delas nascidas na
transição entre o fazer docente imediato e as orientações dos modelos tradicionais,
principalmente aqueles apresentados por seus antigos professores da escola
regular. Toda a experiência vivida e mais aquela que pode ser tecida, criada,
construída como proposta inovadora, e, que estes professores poderiam/deveriam
trazer para a escola, se contrai e acaba não sendo colocada em prática no sistema,
porque este os obriga a receber alunos especiais, em salas de aula lotadas, em
ambientes mal organizados e mal equipados – e, sobretudo, sem prepará-los para
este exercício.

      A escola, um ambiente marcado pela hierarquização e homogeneização,
necessita de profissionais comprometidos com a democratização, com a
21



solidariedade e com a cooperação. Por isto o papel do professor é fundamental na
educação inclusiva. Ele irá contra o modelo hegemônico, a fim de criar um novo
modelo que insira aqueles que possuem algum tipo de deficiência. Ele não poderá
se isentar de agir, sequer pelos problemas expostos.

      Diante dessas considerações, a formação de professores para a inclusão de
alunos deficientes não se dará apenas através da criação de leis ou especialização
de professores e mesmo de conteúdos voltados para a inclusão. Deve-se levar em
consideração que o professor traz consigo sua historicidade, conceitos pré
concebidos, imagens, crenças e valores em relação às pessoas com deficiência.
Urge então que, durante a formação desses professores, a história seja modificada,
os preconceitos sejam lapidados, modificados, a fim de que o professor possa
receber da melhor forma possível todo o treinamento oferecido e principalmente os
alunos com algum tipo de deficiência.

      Acreditando nisto, tomando como foco o ensino de Geografia e alunos com
dificuldades visuais, empenhamos nossos melhores esforços para colocar em
prática o que colhemos numa pesquisa que deu origem ao nosso trabalho. O que vê
quem não vê? Essa pergunta nos impulsiona e nos fez mergulhar em estudos que
nos permitisse ousar, pensar como quem não vê. Que geografias passam pela
percepção aguçada que se desenvolve em quem não vê? Como mediar
aprendizagens que lhes permitam (vi) ver num mundo que é pura Geografia?

      Se ensinar Geografia deve ser muito mais do que simplesmente repetir os
conteúdos dos livros didáticos e fazer com que os alunos decorem nomes de
lugares, de rios, de acidentes geográficos e conceitos utilizados pela matéria, como
trabalhar com quem nem vê rios, montes, lagos, cidades – a não ser pelo toque,
pelos sons, pelos cheiros, pelo pulsar da vida?

      Estudando a Geografia como alunos, aprendemos que esta ciência se ocupa
em compreender as relações espaciais existentes. Como professores, ao estudar
Geografia, entendemos que os educandos devem conseguir captar a essência do
que está sendo estudado para elaborar uma visão crítica do mundo em que vivem.
Neste momento do nosso estudo, tal pretensão ganha especial força: os alunos com
dificuldades visuais precisam dessa aprendizagem geográfica – desenvolver uma
22



visão crítica do mundo em que vivem e para conseguir isto, precisam aprender a (vi)
vê-lo, de formas diferentes e todas elas, formas conscientes.

      Percebe-se que trabalhar com esta perspectiva não é uma tarefa fácil, porém
é necessária para que seja garantido a esses indivíduos o direito de acesso ao
estudo e, consequentemente, sua integração – como cidadãos de direito – na
sociedade.

      Em nosso trabalho, na tentativa de interferirmos e agirmos de acordo com
essa concepção docente, que abraçamos, no desenvolver deste trabalho investimos
em duas direções, metodologicamente: 1. Aplicamos um questionário junto a
profissionais que trabalham com portadores de dificuldades visuais, buscando
entender como trabalham e que obstáculos encontram; 2. Preparamos uma oficina
pedagógica, visando contribuir com professores, a partir dos nossos estudos.

      De acordo com o IBGE a partir da promulgação da Lei nº 7.853, de 24 de
outubro de 1989, tornou-se obrigatório a inclusão nos censos nacionais de questões
que possibilitassem determinar de modo preciso as necessidades das pessoas com
deficiência. Tal medida visava fornecer bases que pudessem sustentar e definir a
tomada de medidas adequadas a esta parcela da população. Sendo assim, a partir
do Censo Demográfico de 2001, questões específicas foram elaboradas visando o
estudo das incapacidades na busca pela identificação de deficiências e do grau de
interferência das mesmas no desenvolvimento das atividades, no comportamento e
na participação social das pessoas inquiridas.

      Ainda, segundo o IBGE, considerando também o grau de severidade da
incapacidade, pode-se observar no Brasil a existência de aproximadamente 148 000
pessoas cegas, sendo que cerca de 77 900 são mulheres, e 70 100 são do sexo
masculino. Um total de 2.435.873 milhões de pessoas declarou ter grandes
dificuldades em enxergar e 14.060.946 milhões de pessoas declaram ter alguma
dificuldade para enxergar. No estado do Espírito Santo um total de 2.304 pessoas
declarou ser incapaz de enxergar, 51.610 se declaram com grande dificuldade para
enxergar e um total de 250.993 pessoas declara ter alguma dificuldade para
enxergar.
23



       Os dados obtidos pelo órgão acima mencionado informam que entre a parcela
da população com algum tipo de deficiência, as que possuem algum grau de
deficiência visual são as menos afetadas na frequência escolar apresentando uma
taxa de 93,3 % de crianças na escola, enquanto a taxa de escolarização de crianças
que declara não possuir nenhuma das incapacidades investigadas fica em torno de
95%.
24



4. - CAPÍTULO 3 - A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS
   EM GEOGRAFIA PARA O PROCESSO DE ENSINO-
   APRENDIZAGEM DE DEFICIENTES VISUAIS


                                                     Ensinar Geografia deve ser muito mais
                                              do que simplesmente repetir os conteúdos
                                              dos livros didáticos e fazer com que os alunos
                                              decorem nomes de lugares, de rios, de
                                              acidentes geográficos e conceitos utilizados
                                              pela     matéria.     Os     educandos        devem

Foto 1 – Autoria: Renata Nunes
                                              compreender as relações espaciais existentes
e conseguir captar a essência do que está sendo estudado para elaborar uma visão
crítica do mundo em que vivem.

                          Limitados à leitura de textos e às exposições dos professores, os alunos
                          encontram dificuldade para interagir com as diferentes linguagens e com os
                          recursos próprios da Geografia [...].
                          Quando, na escola, vigoram estratégias de ensino centradas na voz do
                          professor e na passividade do aluno, e o livro didático ainda comanda a
                          cena em sala de aula, outros recursos de excepcional relevância [...] têm
                          seu uso relegado. É compreensível que, neste caso, com alunos assim
                          desatendidos, o conhecimento geográfico não seja construído e a
                          memorização seja a forma habitual utilizada para mascarar o entendimento
                          (SCHÄFFER et al, 2003, p.16).

        A prática do professor em sala de aula torna-se fundamental para possibilitar
o entendimento crítico da Geografia, e consequentemente de mundo, pelos
educandos. Ao planejar suas aulas e preparar recursos didáticos, o professor
precisa considerar a pluralidade existente em cada turma. Deve-se entender que
mesmo em um grupo aparentemente homogêneo, existem grandes diferenças entre
seus componentes, como por exemplo, pessoas com deficiências sensoriais,
mentais, com déficits de aprendizagem, de classes sociais e culturas distintas, entre
outros.

        O Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial (2003) ressalta
que, constantemente tratamos esse grupo de alunos como uma unidade, quando na
verdade ele não é, pois é composto por pessoas singulares, únicas, que devem ser
conhecidas para que ocorra o sucesso no processo de ensino-aprendizagem. Ainda
25



de acordo com o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial no que
se refere às singularidades de cada aluno:

                           Há os que aprendem melhor através da experiência concreta. Há os que
                           aprendem melhor através da via auditiva. Há os que aprendem melhor, se
                           utilizarmos a via escrita. Há os que aprendem melhor, se puderem escrever
                           sobre o assunto que está sendo abordado (2003, p. 19).

        Dessa maneira, a educação deve se orientar pela utilização de recursos
didáticos que garantam o acesso do aluno ao conhecimento, não se esquecendo
dos que necessitam de uma atenção especial por apresentarem algum tipo de
deficiência física, mental, visual, auditiva e até mesmo altas habilidades.

        No processo de ensino-aprendizagem de deficientes visuais deve-se enfatizar
a    importância         dessas       intervenções      pedagógicas,        que     priorizem      o
desenvolvimento/treinamento dos sentidos. De acordo com o Ministério da
Educação/Secretaria de Educação Especial (2001), o desenvolvimento dos sentidos
(tátil-cinestésico-auditivo-olfativo-gustativo) deve ser encorajado no dia-a-dia das
pessoas com deficiência visual. Portanto, é vital a utilização de recursos didáticos na
sala de aula que auxiliem esse desenvolvimento dos sentidos e permitam uma
melhor percepção de mundo para essas pessoas.

                           Na educação de crianças com deficiência visual fica evidente a importância
                           da utilização de estratégias metodológicas que assegurem a integração e a
                           articulação do sistema multissensorial e que favoreça a construção do
                           sistema de significação e da linguagem pela ação da criança no tempo e no
                           espaço (Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial, 2001,
                           p.160).

                                                        Para aprimorar o processo de ensino-
                                                aprendizagem dos alunos com deficiência
                                                visual é válido a manipulação de objetos
                                                tridimensionais, construção de maquetes
                                                com aproveitamento de sucatas, grãos de
                                                tamanhos      e   textura    variados.     Tecidos,
                                                barbantes ou tintas em alto relevo, entre

 Foto 2 – Autoria: Kátia dos Santos
                                                outros, sendo esses materiais transformados
em recursos didáticos simples e práticos para contribuir com a formação da imagem
mental e a representação simbólica, necessárias à aprendizagem. “As mãos são os
olhos das pessoas com deficiência visual. O uso das mãos como instrumento de
26



percepção deve ser intensamente estimulado, incentivado e aprimorado” (GIL, M.,
2001, p. 24).

       Assim como o tato, a audição é outro sentido que deve ser estimulado, por
ser de grande importância para que o aluno com deficiência visual consiga perceber
o mundo a sua volta. Contudo, segundo Gil, no que se refere à criança/aluno com
deficiência visual:

                      [...] ela ainda precisa aprender o significado dos sons. Por exemplo: ao ouvir
                      a batida de uma porta, não sabe como é a porta, para que serve, e nem que
                      é feita de madeira. A aquisição do significado do mundo dos sons é um
                      processo lento (2001, p. 29 e 30).

       Dessa maneira, deve-se explorar ao máximo os recursos didáticos para
ajudar na compreensão dos conteúdos escolares por parte dos alunos em geral,
mas sempre lembrando que cada pessoa é um ser diferente do outro, ou seja, deve-
se respeitar o tempo de aprendizagem de cada um. Portanto, torna-se
imprescindível que o professor conheça as especificidades de cada aluno para que
possa adotar recursos didáticos compatíveis com as necessidades dos mesmos.

       Conforme estabelece o Ministério da Educação/Secretaria de Educação
Especial (2001), os alunos que apresentam baixa visão poderão se beneficiar com o
uso de lupas e materiais que apresentem um grande contraste de cores, que
facilitam a visualização de figuras e gráficos, por exemplo. Já os alunos com
ausência total da visão necessitam de recursos adaptados aos seus sentidos mais
apurados como o tato e a audição.

       Atualmente, existem vários recursos que podem ser empregados na sala de
aula para auxiliar o aprendizado dos alunos com deficiência visual. Além dos
materiais que permitem o acesso à leitura e à escrita, como a máquina de escrever
em braille, também existem alternativas didáticas de baixo custo como a produção
de objetos tridimensionais, jogos, maquetes e mapas táteis com a utilização de
diversos materiais – tintas de cores fortes e de alto relevo, areia, grãos de texturas
variadas, conchas, folhas secas, gravetos, argila, barbante, lixas, isopor, algodão,
entre outros. Dispor desses recursos enriquece o ensino da Geografia,
principalmente na área da cartografia, pois torna possível uma melhor compreensão
e percepção do espaço geográfico pelos alunos com deficiência visual.
27



                     A cartografia tem um papel importante nesse processo e, dessa forma,
                     precisa fornecer materiais adequados para a pessoa com deficiência visual.
                     Os mapas são até mais necessários para esse grupo de usuários do que
                     para aqueles que conseguem enxergar. Pessoas cegas podem usar um
                     mapa para se orientar, sem ajuda, dentro de um edifício. Por esse motivo,
                     todos os tipos de materiais cartográficos deveriam estar disponíveis na
                     forma tátil [...] (ALMEIDA, R. A., 2007, p. 120).

      Preparar esses recursos didáticos não
é uma tarefa fácil, sendo necessária uma
grande persistência para atingir o objetivo de
melhorar a qualidade do ensino oferecido a
esses alunos. “Tendo em vista o grupo de
alunos com deficiência visual, trabalhar com
as representações gráficas significa romper          Foto 3 – Autoria: Renata Nunes

barreiras e enfrentar desafios” (ALMEIDA, R. A., 2007, p. 127).

      Há ainda, recursos tecnológicos que podem facilitar o processo de ensino-
aprendizagem para alunos com deficiência visual. Entre eles, o livro falado que pode
ser gravado em diversos tipos de mídia, equipamentos de informática e softwares
específicos.

      De acordo com Gil (2001), há avanços significativos na área da informática
que proporcionam uma melhoria na aprendizagem das pessoas portadoras de baixa
visão, como os softwares especiais que permitem uma ampliação direta de textos -
nos quais a tela do computador age como uma lente de aumento. Encontram-se
ainda, no mercado, softwares de painel Braille, nos quais os dados fornecidos são
reproduzidos na escrita braille. “Para pessoas com cegueira total, há softwares que,
com um sintetizador de voz, fazem a leitura do que aparece escrito na tela do
microcomputador” (GIL, M., 2001, p. 47).

      Ainda de acordo com as orientações de Gil (2001), além destes recursos
didáticos disponíveis, torna-se necessário que o professor utilize algumas práticas
que facilitem o processo de ensino-aprendizagem dos alunos com deficiência visual,
tais como: fazer a leitura das anotações feitas no quadro; na medida do possível,
passar as mesmas atividades para todos os alunos da turma, inclusive para aqueles
com deficiência visual; e sempre que necessário, buscar o auxílio de profissionais
especializados que poderão orientar e oferecer recursos específicos.
28



      Com base em todas as informações até aqui colocadas, pode-se reforçar a
idéia da validade dos recursos didáticos enquanto meio facilitador do processo de
ensino-aprendizagem de todos os alunos, principalmente daqueles que possuem
algum tipo de deficiência, como a deficiência visual, enfatizada neste estudo.
Percebe-se que esta não é uma tarefa fácil, porém é necessária para que seja
garantido a esses indivíduos o direito de acesso ao estudo e, consequentemente,
sua integração – como cidadãos de direito – na sociedade.
29



5. - CAPÍTULO 4 - TATEANDO CAMINHOS: METODOLOGIA,
   PROCEDIMENTOS, ABORDAGENS E TRAJETÓRIAS


5.1 A Abordagem




      No estudo aqui proposto utilizamos uma abordagem qualitativa, haja vista que
estas possuem uma “característica multimetodológica, isto é, usam uma grande
variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados” (ALVES-MAZZOTTI
e GEWANDSZASDER, 2004, p.163). Também por trabalhar com o universal, ao
englobar significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes dentro
dos pensamentos, interpretações e ações humanas, compreendidas dentro das
realidades vividas e partilhadas nas interrelações dos grupos sociais. (MINAYO,
2007). A escolha desta abordagem é decorrente da visão dos pesquisadores de ser
a que melhor contempla o alcance dos objetivos propostos neste estudo.

      Trata-se de um estudo de caso. Descrevendo-o de modo amplo, trata-se de
uma investigação empírica de um fenômeno atual inserido num dado contexto em
que os limites entre tal fenômeno e seu contexto não estão claramente definidos
(YIN, 2005).

      A inclusão social de pessoas com deficiência, não somente no universo
escolar, mas no sentido de promover sua formação cidadã plena tem suscitado
debates quanto às formas e recursos necessários a esse fim. Assim, esse estudo de
caso buscou compreender no interior da dinâmica de interação entre os atores
envolvidos, aqui em especial os educadores e as pessoas com deficiência visual, o
“se”, o “como” a produção de recursos didáticos apropriados às formas de leitura e
interpretação adequadas a esse público, pode contribuir para que o processo de
ensino-aprendizagem, no caso em questão, o de Geografia, venha a alcançar o
máximo de sua potencialidade.
30



5.1.1 Caracterização do Lócus do Estudo




      A escolha do Lócus para aplicação do estudo decorreu da importância do
trabalho realizado no instituto, por ser uma referência na capacitação de professores
para o trabalho com pessoas com deficiência visual, público alvo do mesmo. O CAP
(Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas Portadoras de Deficiência Visual), do
Espírito Santo é uma instituição governamental que recebe capital do governo do
estado e federal. Este centro de apoio pedagógico está localizado na Escola
Estadual Paes Barreto, no bairro Jaburu, na cidade de Vitória, Espírito Santo.

      Segundo a Pedagoga, coordenadora da instituição, senhora Iris Fátima do
Rosário, o CAP do Espírito Santo trabalha com a capacitação de professores, para o
trabalho com deficientes visuais. Os cursos oferecidos pelo CAP são feitos a partir
de solicitações de prefeituras, do governo e de escolas que necessitem de
capacitação.

      Ainda segundo a coordenadora Iris, em geral existe muita dificuldade dos
professores ao trabalhar com os deficientes visuais, dentre essas, a constante troca
de professores nas escolas. O CAP atende a esta demanda e, quando solicitado,
disponibiliza também recursos didáticos das diversas áreas (Geografia, Matemática,
Física, dentre outras), para estes professores. Além de oferecer o suporte
necessário para o atendimento aos alunos, disponibilizando recursos diversos, tais
como, acervo bibliográfico e didático.

      Trabalham também com deficientes visuais, oferecendo o suporte material
necessário em suas aprendizagens, através da produção de recursos didáticos.
Desenvolvem atividades com bebês e crianças cegas ou com baixa visão, focando
na estimulação visual dos mesmos, para que não se perca o pouco que lhes resta
da visão. Atende ainda, a adultos com aulas de braille e de locomoção, que são
ministradas à tarde ensinando aos alunos deficientes visuais como utilizar a bengala,
dando-lhes mais liberdade para se locomoverem pelas ruas em seu dia a dia.

      Neste local efetuamos a obtenção de dados referentes ao estudo em questão
que serviram com base ao seu desenvolvimento, tais como, entrevistas com alunos
31



deficientes visuais e com os professores dos mesmos, onde foram diagnosticadas
dificuldades no processo de aprendizagem de conteúdos como, por exemplo, a
orientação e a compreensão do espaço geográfico. Obtivemos também indicações e
orientações sobre como deveriam ser elaborados recursos didáticos que pudessem
facilitar o aprendizado dos conteúdos em Geografia.

          Através das orientações e constatações buscamos promover a facilitação do
aprendizado por meio da iniciação geográfica para alunos cegos e de baixa visão.
Para alcançar esse objetivo, procedemos à aplicação de uma oficina pedagógica,
onde apresentamos um globo e um mapa tátil, representando os continentes, os
principais paralelos e meridianos e também suas respectivas escalas.




5.2 Revisão bibliográfica




          Neste processo realizamos a revisão teórica contemplando a reflexão sobre
inclusão através do estudo com aprendizagens geográficas com alunos com
deficiência visual. Objetivamos aqui, conhecer, contextualizar e trazer possibilidades
a respeito dessa questão, considerando-se a dimensão social, política e econômica,
que o mesmo poderá trazer como diferencial na vida dos alunos com deficiência
visual.

          Destacamos a importância do tema proposto, pois este “é importante quando,
de alguma forma, está relacionado à uma questão que polariza, ou afeta um
segmento substancial da sociedade” (MARTINS, G. A. e LINTZ, A., 2000, p.24).
Esse esforço serviu como norteador da pesquisa e da análise dos dados obtidos.
Compreende-se o quanto uma definição clara de conceitos e fonte teórica é
fundamental para a apreensão das dinâmicas que regem e permeiam as realidades
dos que são parcial ou totalmente privados do sentido da visão. Sendo assim
depreendemos que a observância dos fatos não se expressa através de
imediatismos, mas requer comprometimento, organização e técnicas.
32



5.3 As técnicas de coleta de dados



                     [...] a expressão „unidade de análise corresponde se refere à forma pela
                     qual organizaremos os dados para efeito de análise (...) Pesquisas
                     qualitativas tipicamente envolvem um grande volume de dados que
                     precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um
                     processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias,
                     tendências, padrões, relações desvendando-lhes o significado (ALVES-
                     MAZZOTTI e GEWANDSZASDER, 2004, p. 170).

      Sendo assim o material obtido ao longo do desenvolvimento dessa pesquisa,
visou à produção de um texto, sendo a abordagem qualitativa, tendo, portanto, como
centro a “[...] exploração do conjunto de opiniões e representações sociais sobre o
tema que pretende investigar” (GOMES,2007, p.79) e ainda “[...] é o ponto de partida
(porque se inicia com as próprias interpretações dos atores) e é o ponto de chegada
(porque é a interpretação das interpretações)” (GOMES apud GOMES,2007, p.80)

      Entendemos que as análises precisavam ser efetuadas durante todo o
desenrolar desse estudo, de modo progressivo e interativo com a coleta de dados.
Sendo assim, optamos pela análise de conteúdo, pois esta constitui um:

                     [...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
                     procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
                     mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de
                     conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
                     inferidas) destas mensagens (BARDIN apud GOMES, 2007, p. 83).

      A escolha foi também decorrente do fato deste tipo de análise possuir
variadas possibilidades de uso. Pois foi a partir deste que pudemos tomar
conhecimentos dos caminhos a serem trilhados.




5.4 Processos e instrumentos para obtenção de dados




      Dado o caráter multimetodológico de uma análise qualitativa, optamos pela
utilização de alguns instrumentos e técnicas por terem se apresentado como os mais
adequados ao desenvolvimento deste estudo. As técnicas utilizadas foram:
33



5.4.1 Pesquisa documental:




            A pesquisa documental foi utilizada porque “os documentos têm o potencial
de informar e estruturar as decisões que as pessoas tomam diariamente e em longo
prazo; eles também constituem leituras particulares dos eventos sociais” (MAY,
2004, p. 205). São considerados documentos “[...] qualquer registro escrito que
possa         ser    usado   como         fonte    de      informação”           (ALVES-MAZZOTTI              e
GEWANDSZASDER, 2004, p.169).

            Portanto, estes contribuíram para a compreensão das demandas, dos
processos e complexidades das interações sociais, entre o grupo enfocado e os
outros grupamentos sociais, de modo tal que auxiliaram na busca por informações
acerca dos mesmos.

            Em uma pesquisa documental, na leitura e interpretação das informações
acerca do tema escolhido, é imprescindível ao pesquisador conhecer, por exemplo,
a instituição ou seu criador, suas fontes e propósitos (BECKER apud ALVES-
MAZZOTTI e GEWANDSZASDER, 2004).

            Sendo assim os documentos pesquisados serão catalogados da seguinte
maneira: Exemplo:




Tabela 1. Documentos catalogados

Tipo            de   Ano     de   Tipo       de   Elaboração   Tipo         de    Informação      a    ser
documento            elaboração   fonte                        circulação         levantada
Censo                2000         Primária        IBGE         Irrestrita         Número de pessoas
demográfico                                                                       com deficiência visual
                                                                                  e outros.
Lei no âmbito        2001         Secundária      BRASIL       Irrestrita         Arrecadação         bruta
do desporto                                                                       das loterias federais
                                                                                  do país.
Lei    nº    7.853   1989         Primária        BRASIL       Irrestrita         Apoio      as   pessoas
Lei no âmbito                                                                     com deficiência.
do desporto
34



Lei Nº 9.394 –      1996    Primária   BRASIL     Irrestrita   Diretrizes e bases da
Lei            de                                              educação nacional.
Diretrizes      e
Bases          da
Educação
Art.     208    –   1988    Primária   BRASIL     Irrestrita   Direitos do cidadão
Constituição                                                   com       deficiência
da     República                                               visual.
Federativa do
Brasil
Art.     57     –   1988    Primária   BRASIL     Irrestrita   Capacitação          de
Constituição                                                   professores     para
da     República                                               atendimento
Federativa do                                                  especializado
Brasil



         Entretanto, é importante observar que somente a pesquisa documental não
contempla todos os aspectos focados no estudo, pois possibilitou apreender
somente parte de um fenômeno. Tendo sido então, necessário buscar outros
instrumentos que puderam trazer as perspectivas dos sujeitos partícipes no
processo, sem os quais não se poderiam compreender as dimensões necessárias à
pesquisa. Nesse sentido, o presente estudo utilizou outra técnica de coleta de dado
que foi a entrevista.




5.5 Entrevistas




         De acordo com Alves-Mazzoti e Gewandszajder (2004) as entrevistas se
apresentam como um excelente recurso investigativo na coleta de dados e
informações, pois permite interar-se sobre um assunto e explorá-lo de forma
profunda.

         Sendo assim, no alcance dos objetivos deste trabalho, foram utilizados os
pressupostos da história oral, que de acordo com Bom Meihy (1996) apresenta-se
como um eficiente recurso de pesquisa, ao possibilitar a elaboração de registros e
35



documentar experiências, saberes e práticas de pessoas, a respeito de suas
vivências e concepções. Isso significa uma possibilidade de documentar o não
documentado, visto que nessa abordagem de pesquisa o uso da documentação oral
equivale às fontes escritas.

      Dentre as três tendências de pesquisa que se utilizam da história oral esta
abordou a história oral temática, haja vista que a mesma partiu de um assunto
específico, preestabelecido, qual seja um estudo com aprendizagens geográficas de
alunos portadores de deficiência visual.

      Para Marchesi e Martin (1995), o aluno com necessidades especiais é aquele
que apresenta algum problema de aprendizagem ao longo de sua escolarização,
que exige uma atenção mais específica e mais recursos educacionais do que os
necessários para os colegas de sua idade.

      De acordo com MEC/Secretaria de Educação Especial,

                     Considera-se alunos com deficiência àqueles que têm impedimentos de
                     longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em
                     interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação
                     plena e efetiva na escola e na sociedade (MEC/Secretaria de Educação
                     Especial.          p.15,       2008.        Disponível        em:       <
                     http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011730.pdf>.
                     Acesso em: 13 de set. de 2010.).



        Sendo assim, buscamos identificar as demandas específicas desses alunos
em questão, visando à produção de materiais didáticos, que servissem como
auxiliares na prática docente e nos processos de inclusão deste público.

      Definidos tais procedimentos partimos para o contato com os atores
envolvidos neste contexto, buscando estabelecer a parceria necessária para a
realização das entrevistas e da coleta das respectivas narrativas. Assim,
contactados, os professores e colaboradores e expostos nossos objetivos de
pesquisa, foram agendadas datas, horários e locais para a realização das
respectivas entrevistas, que ocorreram em datas e locais definidos pelos mesmos e
duraram, em média, cerca de três horas cada.

      Após elaboração de roteiro semi-estruturado de entrevistas (tematizados) com
questões relacionadas à vivência docente, foram gravadas entrevistas com o diretor
36



do Instituto Braille do Espírito Santo, um coordenador do CAP (Centro de Apoio
Pedagógico), um professor, de História e Geografia, além de quatro alunos cegos e
de baixa visão. Através das entrevistas realizadas, foram diagnosticadas algumas
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem de professores e alunos quanto à
Geografia.

         Após a transcrição e textualização das mesmas, os textos foram passados
para os colaboradores para que os mesmos revisassem, acrescentassem e/ou
suprimissem frases que julgassem necessárias, bem como autorizassem à
apropriação das narrativas. Da análise dos dados obtidos com as entrevistas foi
possível detectar categorias relacionadas ao ensino de Geografia, saberes e
práticas docentes, gestadas, adaptadas e implementadas no cotidiano da sala de
aula, tendo como eixo principal a cidadania.

         Entretanto, reconhecemos aqui algumas limitações desta técnica, a exemplo,
o tempo, ocupado aos entrevistados e aos graduandos, como também na
transcrição que demandou um tratamento especial para que seu conteúdo fosse
apreendido com fidedignidade. Outro fator a ser considerado é a confiança, uma vez
que se faz necessário haver uma espontaneidade entre entrevistador/entrevistado
criando um vínculo e um grau de confiabilidade que resulte em dados fidedignos
para a pesquisa (ROSA; ARNOLDI, 2006).

         Procuramos convenientemente evitar alguns deslizes tais como: “[...] a falta
ou o excesso de questionamento, excessivo direcionamento por parte do
entrevistador, excesso de perspicácia de ambas as partes” (ROSA; ARNOLDI, 2006,
p.88).




5.6 Oficina pedagógica




         A escolha pela oficina pedagógica para verificarmos a eficácia dos recursos
didáticos produzidos, foi decorrente da visão dos pesquisadores de ser esta, uma
metodologia apropriada para o trabalho em grupo. Este recurso propicia a
construção do saber por todos os participantes e ainda cremos que pela
37



dinamicidade e flexibilidade inerentes a ele, conseguimos estimular a participação e
interação de todos os envolvidos durante o processo de ensino-aprendizagem o que
acreditamos ter sido essencial ao desenvolvimento desse estudo.

          Na elaboração da mesma procuramos observar um encadeamento em que
viéssemos a contemplar as características que se pressupõem essenciais a uma
oficina didática, tais como:

•         Objetivos de estudo comuns ao grupo;

•         Dinamicidade e praticidade nas ações didáticas;

•         Embasamento teórico simultâneo à prática;

•         Plasticidade metodológica;

•         Diversidade de recursos e técnicas didáticas;

•         Situação de aprendizagem conjunta: oficineiros e participantes;

•         Intenção de aplicabilidade dos resultados no cotidiano profissional;

•         Sequência didática com estrutura de complexidade crescente;

•         Disponibilidade de tempo concentrada e compatível com objetivos.

Objetivávamos ao procurar seguir as orientações acima citadas observar as
perspectivas fundamentais ao estudo em questão, que são:

•         Função investigativa: tarefa principal;

•         Função socializadora: forma de trabalho grupal;

•         Função prática: a experiência como ocasião de aprendizagem.

Através da mesma pudemos averiguar a eficácia do recurso didático produzido, a
saber, um globo terrestre em relevo e um mapa tátil. Estes foram utilizados como

    Informações obtidas em apresentação sobre oficinas pedagógicas da Profª Drª. Marisa Valladares.
38



base para que pudéssemos trabalhar os conceitos inerentes à localização e
orientação, haja vista a sua importância para o desenvolvimento das mais diversas
atividades humanas. Em especial, para as pessoas com deficiência visual, pois
constatamos através das entrevistas que uma das maiores dificuldades encontradas
por professores e alunos é quanto a esses conceitos.




5.6.1 Globo Terrestre



                     Saber geografia não é apenas evocar nomes. É reconhecer as influências,
                     as interações que lugares e paisagens tem com nosso cotidiano. É,
                     portanto, incluir-se no globo, sentir e agir no planeta como alguém capaz de
                     modificar o lugar onde vive, de (re) construí-lo e não apenas de ali estar
                     como um personagem num palco (SCHÄFFER, ET AL, 2003 p. 15).




       O globo terrestre constitui uma ferramenta indispensável na promoção das
aprendizagens não somente em Geografia, mas também nas demais disciplinas
curriculares. No entanto apesar de sua importância, este tem sua utilização limitada,
sendo que as estratégias de ensino são ainda muito centradas somente no livro
didático.

       Para saber Geografia é necessário que os sujeitos sejam alfabetizados na
leitura dos lugares, conhecendo-os, entendendo o porquê das relações entre objetos
e grupamentos sociais e ainda o porquê das ações ocorridas neste contexto e isto
perpassa também pelo uso do globo.

       Dentre os diversos temas em Geografia, o globo presta-se especialmente ao
ensino sobre orientação e localização, na apresentação da rede de coordenadas e
para esclarecer quanto às diferenças e distorções entre as representações
espaciais, por exemplo (SCHÄFFER, et al, 2003).

       Ainda de acordo com a supracitada autora, a partir do momento em que se
admitiu a forma quase redonda do planeta terra tornou-se possível representá-la.
39



       Embora a concepção do formato geóide da terra já estivesse presente entre
os pensadores gregos, foi somente na Idade Média que os globos terrestres
começaram a ser construídos na Europa e no Mundo Árabe.

       O século XVI é considerado o século de ouro da Cartografia, tendo se
destacado o trabalho de diversos cartógrafos, como por exemplo, os de Mercator.
Este desenvolvimento está diretamente ligado às Grandes Navegações e ao uso dos
instrumentos como a bússola e o astrolábio e ainda após a viagem de
circunavegação feita por Fernando de Magalhães e Sebastião Elcano entre 1512-
1522, quando a forma terrestre deixou de ser motivo de polêmica.

       O globo constitui a melhor forma de representação da terra, no entanto
apresenta algumas dificuldades, que envolvem esta reprodução no plano. Para
resolver esse problema são utilizadas as projeções cartográficas, que foram
desenvolvidas para dar uma solução ao problema da
transferência de uma imagem da superfície curva da esfera
terrestre para um plano da carta, o que sempre vai acarretar
deformações. Constituem-se de uma fórmula matemática que
transforma as coordenadas geográficas, a partir de uma
superfície esférica (elipsoidal), em coordenadas planas,
mantendo correspondência entre elas. O uso deste artifício
geométrico das projeções consegue reduzir as deformações,
mas nunca eliminá-las.                                          Foto 4 – Autoria: Kátia dos Santos


       Os tipos de propriedades geométricas que caracterizam as projeções
cartográficas, em suas relações entre a esfera (Terra) e um plano que é o mapa,
são: Conformes, quando os ângulos são mantidos idênticos (na esfera e no plano) e
                                  as áreas são deformadas; Equivalentes, quando as
                                  áreas    apresentam-se   idênticas   e     os     ângulos
                                  deformados e Afiláticas, quando as áreas e os ângulos
                                  apresentam-se deformados.

                                          Segundo Frigoletto (acesso em 07 de abril de
                                  2010), a maior parte das projeções hoje existentes
                                  deriva dos três tipos ou métodos originais, a saber:
 Foto 5 – Autoria: Renata Nunes
40



cilíndricas, cônicas e planas ou azimutais. Entre os mais conhecidos tipos de
projeção cartográfica, estão as projeções de Mercator, a projeção de Peters e a
projeção de Projeção de Mollweide, dentre outras.

        De acordo com SCHÄFER, (2003) em cartografia uma projeção é
caracterizada de acordo com o olhar de quem a elabora e é escolhida de modo a
selecionar e manter a correspondência que será mantida, reconhecendo as
distorções que irão aparecer de acordo com a intecionalidade.

      Na confecção de um globo podem ser utilizadas técnicas variadas de acordo
com     a   finalidade,    no   entanto    alguns   elementos        são    indispensáveis   ao
reconhecimento das informações constantes no mesmo, tais como:

       A rede de coordenadas com identificação do Meridiano de Greenwich e da
linha do Equador;
       A escala, em geral colocada junto à escala;
       A legenda, destacando os símbolos não convencionais, em geral colocadas
sobre as áreas oceânicas;
       O arco do meridiano em que aparecem os valores de latitude;
       Um círculo ou calota, em geral de plástico, sobre o Pólo Norte e onde há
marcação para leitura das horas.

        A presença destes elementos, mais a
qualidade da impressão, assegurando nitidez
das cores e dos símbolos, além da precisão
dos    traçados    conferem      a   um    globo    a
qualidade técnica, que potencializa a sua
leitura, que consiste na decodificação de seus
símbolos. A leitura do globo depende da                 Foto 6 – Autoria: Renata Nunes

compreensão dos símbolos e códigos utilizados para representação do real e para
tanto existem os códigos pré-estabelecidos, tais como as linhas, as cores, e os
símbolos indicativos dos fenômenos ordenados. Esses símbolos devem falar por si.

        Razões para utilização do globo:

                               É a representação que mais se aproxima da realidade, porque a
                          forma de um globo é muito semelhante à da terra;
41



                           Mostra em totalidade, os continentes, os oceanos e outros
                     importantes elementos físico-geográficos da terra;
                           Dá uma visão geral dos aspectos físicos e da divisão política de
                     nosso planeta;
                           Traz a rede de coordenadas geográficas (paralelos e meridianos)
                     completa e sem distorções;
                           Permite o cálculo direto das distancias mais curtas e o traçado de
                     rotas para navegação;
                           Pode ser movimentado, posicionando o eixo terrestre de diferentes
                     maneiras, fugindo à visão estereotipada de norte e sul embaixo que se
                     constrói por uma leitura inadequada dos mapas, que não podem ser
                     reposicionadas, com este objetivo, com a mesma facilidade;
                           Possibilita a simulação dos movimentos da terra e a conseqüente
                     compreensão da sucessão dos dias e das noites, das estações do ano, dos
                     fusos horários, dos eclipses, etc;
                           Suscita muitas indagações e reflexões naqueles que o movimentam
                     e o consultam;
                           É um objeto que magnetiza a atenção em qualquer faixa etária
                     (SCHÄFFER, et al, 2003, p. 39).


5.6.2 Mapas táteis



      De acordo com LOCH (2008, p.39) “[...] a cartografia tátil é um ramo
específico da Cartografia, que se ocupa da confecção de mapas e outros produtos
cartográficos que possam ser lidos por pessoas cegas ou com baixa visão” e os
mapas táteis [...]” e “[...]são representações gráficas em textura e relevo, que
servem para orientação e localização de lugares e objetos às pessoas com
deficiência   visual”. A Geografia necessita situar com precisão na superfície da
Terra, aquilo que quer estudar e analisar, assim o mapa sempre foi um importante
instrumento de comunicação entre os homens desde os mais remotos tempos.




                      Foto 7 – Autoria: Kátia dos Santos
42



         Inicialmente, com as movimentações humanas pelo espaço terrestre, tornou-
se necessário à busca por uma forma de representação do mesmo que
possibilitasse registrar pontos de referência e localização das fontes de alimentos.
Com o posterior desenvolvimento humano, os mapas são utilizados pela totalidade
com maior ou menor intensidade para expressarem-se espacialmente com as mais
variadas finalidades. Isto exige, portanto, não somente uma escritura do mesmo,
mas também uma forma de interpretação dos significantes presentes. (OLIVEIRA,
2007).

                       [...] o mapa ocupa um lugar de destaque na Geografia, porque é ao mesmo
                       tempo instrumento de trabalho, registro e armazenamento de informação,
                       além de um modo de expressão e comunicação, uma linguagem gráfica
                       (OLIVEIRA, 2007, p.16.).

         De acordo com ALMEIDA (2007), a representação gráfica da linguagem oral
nasceu da necessidade de mantê-la em depósito, de modo organizado e que
possibilitasse sua divulgação, sendo detectável através da visão, o mais eficaz meio
na   difusão    de   idéias   por   sua   abrangência,      sendo    os   demais     sentidos
complementares.

         A pessoa com deficiência visual conta somente com a audição e o tato e
quando possível com graus residuais da visão, o que prejudica sua percepção de
espaço e das relações espaciais, essenciais ao cotidiano humano. A linguagem
escrita foi substituída pelo sistema braille, mas uma:

                               [...] imagem espacial não pode ser transcrita e comunicada pela
                       linguagem convencional e por essa razão necessita de uma linguagem
                       gráfica própria, passível de ser percebida pelo tato e também comunicada
                       pelos sons (Almeida, 2007. p.119).

         A percepção do ambiente e o ensino de conceitos espaciais para pessoas
com deficiência visual têm sido prejudicados devido à limitada disponibilidade de
material gráfico. Sendo assim a elaboração de mapas táteis, torna-se indispensável
como forma de auxiliá-los a formarem e organizarem suas imagens mentais,
podendo funcionar como um recurso educativo a mais em seu processo de inclusão.
Fatores como tempo e custo de produção, a falta de apoio financeiro e de pessoas
especializadas na produção tem dificultado a utilização dos mesmos.

         Quanto à confecção de mapas táteis, esses exigem conceitos e regras
distintas como, por exemplo, um maior grau de generalização, omissões e
43



distorções que os tornem mais eficientes no atendimento de seus propósitos. Devem
ser apresentados de modo tal que permita com que sejam trabalhados menos
conteúdos por vez, facilitando a apreensão.

        É relevante que no processo de construção de mapas táteis, sejam
respondidas algumas questões básicas, como por exemplo, buscar definir quais são
as limitações mais significativas, seu grau de atuação e possíveis formas de
superação

        Além disto, é importante fazer uma releitura das variáveis visuais conhecidas
para outras que possam ser apreendidas pelo tato, como a utilização de diferentes
texturas, tamanhos, cores fortes no caso das pessoas com algum grau de visão
residual. (ALMEIDA. R. A., 2007)




5.7 Cronograma

Tabela 2 – Atividades previstas

Março                Abril         Maio       Junho     Julho
Levantamento Produção             Escrita Últimas       Dia        01:
de             da oficina         do
                                           Verificações Apresentação
Instituições e (1 semana)         trabalho
Escolas                                                 do trabalho
Levantamento Aplicação            Revisão
Bibliográfico da oficina          do
              (1 semana)          trabalho
Realização de Assimilação         Revisão
entrevistas   dos                 final
              resultados
44



6. – CAPÍTULO 5 – O COTIDIANO ESCOLAR A PARTIR DA
VIVÊNCIA,  DO  EXPERIMENTADO:  HISTÓRIA ORAL   DE
COORDENADORES, PROFESSORES E ALUNOS


6.1 Entrevista 1 - Presidente do Instituto Braille do Espírito Santo – Sr.
Altamares de Freitas




Entrevista realizada pelo graduando Fernando Domingos Vieira Sartório, no mês de
março de 2010, em Vitória/ES, com o Presidente do Instituto Luiz Braille do Espírito
Santo, Sr. Altamares de Freitas.

Fernando: Qual o seu nome e a sua formação?




Sr. Altamares: Altamares de Freitas, eu sou formado em Direito, sou advogado, né?
Sou formado também em Administração de Empresas.




Fernando: Você está a quanto tempo à frente da Instituição?




Sr. Altamares: Dia 30 de setembro de 2008 fui eleito e tomei posse em outubro do
mesmo ano.




Fernando: Tomou posse em 2008, né? Setembro.




Sr. Altamares: Fez um ano agora em outubro.
45



Fernando: E como surgiu essa oportunidade de trabalhar aqui, com as pessoas com
deficiência visual?




Sr. Altamares: Aconteceu através de um convite. Um amigo que era presidente do
conselho me convidou para ser conselheiro do Braille, e falei que não tinha tempo...




Fernando: Você não tinha experiência?




Sr. Altamares: Não. E acabou que ele insistiu e eu acabei aceitando, reunião era
uma vez ou outra, reunião de Conselho, né? Eu aceitei. Depois ele foi candidato a
presidente e cismou que eu tinha que ser o tesoureiro dele. Eu não queria nem ser
tesoureiro não, mas acabou que eu nunca fui tesoureiro em lugar nenhum. Acabei
aceitando, de tanto que ele insistiu. “Não, tem que ser você.” E eu fui um tesoureiro
diferente dos outros que entraram aqui. Tesoureiro tem que acompanhar o que há
de fato.




Fernando: O que estava acontecendo...




Sr. Altamares: Lógico. Eu tenho o relatório desde o primeiro cheque que eu assinei
aqui como tesoureiro. Aí depois o... esse presidente renunciou, perdeu a outra
eleição e eu continuei como tesoureiro. Eleição para presidente, e eu continuei como
tesoureiro. E no final do mandato eles me indicaram para ser presidente e foi por
aclamação, me elegeram por aclamação.




Fernando: Aqui o senhor é tesoureiro desde...
46



Sr. Altamares: Não, eu sou presidente.




Fernando: É. Agora o senhor é presidente, mas antes, quando o senhor começou o
senhor era tesoureiro desde que ano, mais ou menos?




Sr. Altamares: Acabou em 2008, não é? São três anos... 2005 parece.

Isso, três anos.




Fernando: O senhor sabe me dizer qual é a forma correta de se referir aos
indivíduos com deficiência visual? Se tem alguma forma de dizer...




Sr. Altamares: É pessoa com deficiência visual.




Fernando: Pessoa com deficiência visual? Sem problema nenhum?




Sr. Altamares: É.




Fernando: Então eu posso chegar e abordá-los dessa forma que não vai haver
nenhum tipo de problema?

Sr. Altamares: De jeito nenhum, é uma pessoa com deficiência visual. Mas eles não
têm nenhum complexo quanto à maneira de tratá-los.




Fernando: São tranqüilos em relação a isso, não é?
47




Sr. Altamares: São. Acabei de receber um que trabalhou aqui agora, que está lá em
cima, tem tempo que ele não vem aqui. E ele tem formação superior, tem dois
empregos, ele é professor. A esposa dele também tem formação superior e eles
saíram daqui, trabalha na prefeitura, tem dois empregos.




Fernando: Então, para eles é tranqüilo, né? Já é assim... integrado na sociedade,
não é?




Sr. Altamares: Já.




Fernando: Quais são os projetos desenvolvidos aqui no Instituto? O que o Instituto
faz?




Sr. Altamares: O Instituto na verdade, ele está recomeçando, entendeu? Passou por
uma fase meio difícil e hoje nós temos aqui artesanato, aula em braile, nós temos,
né? Tem os artesanatos...




Fernando: Semanalmente, não é?




Sr. Altamares: Os dias certos eu não sei. Só a parte da educação, lá vai saber te
informar. Mas nós temos aula em Braille, artesanato, temos também um início de
uma industrialização de bengalas, também cabide... Tudo em fase inicial por falta de
recursos, se tivesse recursos...
48



Fernando: E o recurso vem de onde? Vem do governo?




Sr. Altamares: Nossos recursos não vêm do governo, nossos recursos vêm, todos,
de pessoas que doam.

Fernando: Tudo doação?




Sr. Altamares: Tudo voluntariamente, as pessoas que querem contribuir. E quem vai
buscar esses recursos são os deficientes visuais. É um trabalho para eles, eles
ganham comissão pelo trabalho que fazem, mas eles têm que pagar também um
guia.




Fernando: E por enquanto, esse trabalho que é desenvolvido aqui, ele é voltado
para qual faixa etária, mais ou menos? Para as pessoas mais velhas...




Sr. Altamares: Nós não temos essa discriminação de faixa etária, desde que a
pessoa tenha condições de aprender, né? Por exemplo, o grupo, nosso maior, de
artesanato ele é já... quase que terceira idade. São mais adultos, não é?




Fernando: Então, pelo tipo de oficina, acaba atraindo mais um público, não é?




Sr. Altamares: É, acaba atraindo. Nós temos dança aqui. Nós estamos começando
agora uma parceria com um... com a comunidade aqui de... A escola de lá precisava
de espaço, nós cedemos o espaço desde que atenda os nossos deficientes. É uma
coisa que está começando agora...
49



Fernando: Com criança... como é que é?




Sr. Altamares: Qualquer idade.




Fernando: Qualquer idade.




Sr. Altamares: Aula de percussão também. A criançada está aprendendo percussão.
Vai começar agora aula de teclado.




Fernando: Então vocês trabalham com várias oficinas para atender o público em
geral?

Sr. Altamares: Várias oficinas. Nós estamos em fase de formação dessas oficinas
exatamente por falta de recursos. Então nós temos que fazer tudo devagar, muito
lento...quer dizer, tudo envolve investimento, não é?




Fernando: Mas não existe, assim, nenhum pedido que vocês fazem às instituições,
aos organismos do governo, e eles se recusam a atender? Ou eles ajudam? Como é
que funciona?




Sr. Altamares: Não, não recusa a atender. Hoje o Instituto tem problemas de... da
certidão negativa, por exemplo, federal, por causa do terreno de marinha. Porque
nós temos direito a isenção. Nós já entramos com o processo, ganhamos em
primeira instância. Aí, demora um pouco para sair essa certidão. Nós temos uma
dificuldade grande com o alvará da Vigilância Sanitária, por falta de obra. Nosso
prédio é grande. Envolve um investimento grande. Então, nós não temos recursos.
Nós precisamos de recursos para poder fazer as obras. O recurso público para vir
50



aqui, depende do alvará da Vigilância Sanitária e de outras certidões também. Então
é impossível a gente conseguir hoje, o alvará da Vigilância Sanitária. Nós tínhamos
aqui, pessoas morando aqui. Juntamente com o Ministério Público e a Prefeitura,
houve a remoção dessas que moravam aqui. Já não tem hoje, ninguém morando
mais. Então, as exigências são menores. Eu estou aguardando o relatório da
Vigilância Sanitária, para ver qual a obra que a gente vai ter que fazer, para a
gente... ver se a gente faz a obra com um investimento menor, porque não tem
gente morando.




Fernando: E até para contratar profissional, então, vocês tem dificuldades, não é?




Sr. Altamares: Tudo, exatamente. Sem recurso nós não temos condições.




Fernando: Quer contratar gente para oferecer e tem dificuldades...




Sr. Altamares: Exatamente. Eu estou com um laboratório de informática, eu estou
com o espaço lá, até mandei fazer a instalação já. E estou com um convênio
aprovado com a Fundação Bradesco, mas a Fundação Bradesco não paga um
profissional. E eu preciso de parceria para pagar um professor. E o professor que
vem pela Fundação Bradesco, se interessou por isso, ele é cego e tem um cão-guia.
O único cego que tem um cão-guia aqui em Vitória. Ele correu atrás disso,
exatamente para ele ser o professor. Então nós temos que dar preferência a ele,
para ele dar aula nesse caso. Mas mesmo se não tiver esse... nós estamos
montando, até sem a Fundação Bradesco, nós vamos ver se nós montamos, nós
mesmos montamos devagar... computador doado... Entendeu?




Fernando: Aos poucos...
51




Sr. Altamares: As instalações estão prontas e falta a gente... conseguir os
computadores todos.




Fernando: E a verba para poder subsidiar o... a manutenção e o professor.




Sr. Altamares: O professor. Exatamente, a manutenção e o professor.




Fernando: Então, a Instituição se mantém de doações. Geralmente essas doações
vêm de onde? Da população? Dos cegos que vão buscar?




Sr. Altamares: Da população. Da população que faz uma proposta, não é? Eles se
propõem a todo o mês dar uma contribuição. Quem vai buscar é o deficiente visual.
E é um trabalho para ele, que ele também ganha comissão para isso.




Fernando: Então os recursos que vocês oferecem são as oficinas, o laboratório... Ok
é isso então. Eu anotei algumas coisas...




Sr. Altamares: Lá em cima está funcionando. Se você quiser visitar o artesanato do
pessoal, eles estão trabalhando lá em cima. Se você quiser olhar.




Fernando: Eles estão trabalhando lá?




Sr. Altamares: Se você quiser olhar, eles estão fazendo o artesanato deles.
52




Fernando: Então... eu vou lá.




6.1.1 Análise da Entrevista 1




      O Instituto Braille do Espírito Santo está localizado no bairro Jesus de
Nazaréth na cidade de Vitória, Espírito Santo. O Instituto possui uma edificação de
grande porte, com tamanho suficiente para atender a demanda de deficientes
visuais da cidade.

      Apesar de toda a infraestrutura que o Instituto dispõe no que diz respeito ao
espaço físico, existem diversos entraves que dificultam a realização do trabalho de
forma eficaz e efetiva.

      O diretor do Instituto, Sr. Altamares de Freitas, reclama por investimentos de
infraestrutura que precisam ser feitos com urgência, no entanto, não há verba
suficiente para tais. Toda a arrecadação do Instituto é oriunda de doações populares
e de Instituições privadas que se propõem a investir no local.

      Apesar de todas as dificuldades, o Instituto Braille do Espírito Santo, capacita
os cegos que o procura, através de oficinas de artesanatos - artesanatos estes que
são vendidos para a comunidade em geral - além de aulas de Braille para os
deficientes visuais que procuram aprender a ler e a escrever.

      Não existe distinção de idade no momento de aprendizagem no Instituto
Braille do Espírito Santo. Pessoas de todas as idades que o procuram, têm acesso
ao que o mesmo proporciona. Oficinas de percussão são oferecidas aos jovens.
Além disso, a fim de promover um ambiente de integração com a sociedade em
geral, o Instituto promove encontros, feiras, que levam a sociedade a se mobilizar
em favor dos deficientes visuais.
O que ve
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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE GEOGRAFIA O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ? (UM ESTUDO COM APRENDIZAGENS GEOGRÁFICAS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS) Eder Lira Fernando Domingos Vieira Sartório Kátia Nazaré dos Santos de Lima Renata Nunes da Silva Vitória-ES 2010
  • 2. Eder Lira Fernando Domingos Vieira Sartório Kátia Nazaré dos Santos de Lima Renata Nunes da Silva O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ? (UM ESTUDO COM APRENDIZAGENS GEOGRÁFICAS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS) Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial para a conclusão da disciplina Tópicos Especiais de Ensino de Geografia III, do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo, sob orientação da Professora Mestra Solange Lins Gonçalves. Vitória-ES 2010
  • 3. Eder Lira Fernando Domingos Vieira Sartório Kátia Nazaré dos Santos de Lima Renata Nunes da Silva O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ? (UM ESTUDO COM APRENDIZAGENS GEOGRÁFICAS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS VISUAIS) Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial para a conclusão da disciplina Tópicos Especiais de Ensino de Geografia III, do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo, sob orientação da Professora Mestra Solange Lins Gonçalves. Aprovada em 01 de julho de 2010. Comissão Examinadora ____________________________________ Profª Mestra Solange Lins Gonçalves. Universidade Federal do Espírito Santo. Orientadora. ____________________________________ Profª Pós-Doutora Denise Meyrelles de Jesus. Universidade Federal do Espírito Santo. ____________________________________ Bacharel em História e Direito Profº Jair Marquioli. EEEFM “Desembargador Carlos Xavier Paes Barreto” / Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas Portadoras de Deficiência Visual.
  • 4. DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho a todos que contribuíram de forma positiva para a sua elaboração. Em especial, a todos aqueles que nos ensinaram “a ver o que não víamos”.
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, que nos amparou em todos os momentos de alegrias, dúvidas, (des)gostos e, principalmente, através da fé nos fez perceber o quanto o outro é importante e assim, nos fortaleceu nesta caminhada. Às nossas famílias, nossos pilares, sustentáculos de nossas existências. Agradecemos a todo apoio, concedido por aqueles, sem o qual, nosso caminho seria muito, muito, muito mais difícil. Agradecemos também aos nossos professores desde o ensino fundamental até os atuais, que nos conduziram até este honroso momento. Ao CAP (Centro de Apoio Pedagógico), especialmente ao professor Jair e a nossa amiga Penha, que tanto contribuíram para a realização da oficina pedagógica, ensinando e mediando nossas relações com os deficientes visuais. Deixamos aqui, nosso muito obrigado às meninas que participaram da oficina pedagógica, provando- nos que valeria a pena nos dedicarmos a este trabalho. O desenvolvimento deste trabalho não seria possível sem a colaboração de todos os integrantes do grupo, que se empenharam no levantamento bibliográfico, na realização das entrevistas, na confecção dos recursos didáticos e no tempo despendido na realização de todas as atividades referentes à pesquisa: Ao Eder, pelos momentos de descontração em meio ao caos. Ao Fernando, pelo afeto e carinho. À Kátia, por suas palavras, que tanto enriqueceram o conteúdo deste trabalho. À Renata, por seu envolvimento e responsabilidade.
  • 6. "Se os meus olhos não me deixam obter informações sobre homens e eventos, sobre ideias e doutrinas, terei de encontrar uma outra forma." (Louis Braille)
  • 7. RESUMO Caracteriza a atual fase, pela qual a educação inclusiva brasileira passa e as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais nas escolas. Expressa a necessidade de se formar profissionais capacitados para atuarem com deficientes. Demonstra os variados tipos de deficiência visuais existentes, desde a baixa visão, até a cegueira, classificando cada uma delas. Propõe o uso de oficinas pedagógicas para o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem de alunos deficientes visuais, melhorando a prática pedagógica de professores com pouca experiência e dando acesso à educação de direito aos deficientes visuais. Desvela sobre as diversas possibilidades de trabalho, sobre as dificuldades dos deficientes visuais no ensino da Geografia em sala de aula. Diagnostica, através de entrevistas, os problemas enfrentados por instituições que dão suporte aos deficientes visuais, bem como as dificuldades enfrentadas pelos mesmos no ensino de Geografia. Desenvolve uma oficina pedagógica, baseada nas dificuldades diagnosticadas em entrevistas realizadas com deficientes visuais. Produz recursos didáticos – mapa e globo tátil – com materiais diferenciados (miçangas, tecidos, papéis importados), a fim de levar aos deficientes visuais a compreensão de localização, sendo esta, uma iniciação cartográfica de que eles tanto urgem. Conclui que as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais nas escolas de ensino regular são muitas e que há falta de formação para os profissionais que se relacionam com esses indivíduos. Palavras-chave: Ensino de Geografia. Deficientes visuais. Recursos-didáticos.
  • 8. LISTA DE FOTOGRAFIAS Foto 01.......................................................................................................................24 Foto 02.......................................................................................................................25 Foto 03.......................................................................................................................27 Foto 04.......................................................................................................................39 Foto 05.......................................................................................................................39 Foto 06.......................................................................................................................40 Foto 07.......................................................................................................................41 Foto 08.......................................................................................................................93 Foto 09.......................................................................................................................93 Foto 10.......................................................................................................................94 Foto 11.......................................................................................................................94 Foto 12.......................................................................................................................95
  • 9. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Documentos catalogados.........................................................................33 Tabela 2 - Atividades previstas..................................................................................43
  • 10. SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 2. - CAPÍTULO 1 – O QUANTO VÊ QUEM NÃO VÊ: CONCEITOS, PROBLEMÁTICAS E O COTIDIANO ESCOLAR ................................................ 13 2.1 Deficiência visual: Conceitos ........................................................................... 13 3.- CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA E VIVÊNCIAS: A FORMAÇÃO DOCENTE EM GEOGRAFIA E DEFICIÊNCIA VISUAL ...................................... 17 4.- CAPÍTULO 3 - A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS EM GEOGRAFIA PARA O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE DEFICIENTES VISUAIS ....................................................................................... 24 5.- CAPÍTULO 4 - TATEANDO CAMINHOS: METODOLOGIA, PROCEDIMENTOS, ABORDAGENS E TRAJETÓRIAS ..................................... 29 5.1 A Abordagem ................................................................................................... 29 5.1.1 Caracterização do Lócus do Estudo ............................................................. 30 5.2 Revisão bibliográfica ........................................................................................ 31 5.3 As técnicas de coleta de dados ....................................................................... 32 5.4 Processos e instrumentos para obtenção de dados ........................................ 32 5.4.1 Pesquisa documental:................................................................................... 33 5.5 Entrevistas ....................................................................................................... 34 5.6 Oficina pedagógica .......................................................................................... 36 5.6.1 Globo Terrestre ............................................................................................. 38 5.6.2 Mapas táteis ................................................................................................. 41 5.7 Cronograma ..................................................................................................... 43 6. - CAPÍTULO 5 – O COTIDIANO ESCOLAR A PARTIR DA VIVÊNCIA, DO EXPERIMENTADO: HISTÓRIA ORAL DE COORDENADORES, PROFESSORES E ALUNOS................................................................................ 44 6.1 Entrevista 1 - Presidente do Instituto Braille do Espírito Santo – Sr Altamares de Freitas ............................................................................................................... 44 6.1.1 Análise da Entrevista 1 ................................................................................. 52 6.2 Entrevista 2 - Pedagoga, coordenadora do CAP – Centro de Apoio Pedagógico – Iris Fátima do Rosário ..................................................................... 53 6.2.1 - Análise da Entrevista 2 ............................................................................... 62 6.3 Entrevista 3 - Professor do CAP – Centro de Apoio Pedagógico - Jair Antonio Marquioli ................................................................................................................ 63 6.3.1 Análise da Entrevista 3 ................................................................................. 75 6.4 Entrevista 4 - Alunos deficientes visuais da Escola Paes Barreto – Vitória/ES76 6.4.1 Análise da Entrevista 4 ................................................................................. 87 7. - CAPÍTULO 6 - OFICINA PEDAGÓGICA: “O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ? INICIAÇÃO GEOGRÁFICA”................................................................................. 88 7.1 Objetivos gerais ............................................................................................... 88 7.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 88 7.3 Justificativa: ..................................................................................................... 88 7.4 Metodologia e Procedimentos: ........................................................................ 89 7.5 Passo-a-passo: ................................................................................................ 90 7.6 Avaliação: ........................................................................................................ 92 8.- CAPÍTULO 7 - A APLICAÇÃO DA OFICINA PEDAGÓGICA “O QUE VÊ QUEM NÃO VÊ”:EXPERIMENTAÇÃO, APRENDIZADO E CONTENTAMENTO93 9. CONCLUSÃO ................................................................................................... 96
  • 11. 10.REFERÊNCIAS ................................................................................................ 98 ANEXO A – SUGESTÕES DE SITES SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................................... 102 ANEXO B – SUGESTÕES DE VÍDEOS SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................................... 103 ANEXO C – SUGESTÕES DE FILMES SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................................... 104 ANEXO D – SUGESTÕES DE LIVROS SOBRE O ASSUNTO: DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................................... 106
  • 12. 11 1. 1INTRODUÇÃO Grandes são os desafios enfrentados para que se possa garantir um ensino de qualidade aos alunos em nosso sistema de ensino e, maiores ainda são aqueles enfrentados por quem necessita de um grau a mais de atenção e dedicação. As pessoas são diferentes e aprendem de maneiras diferentes, porém quando são acrescentadas a essas diferenças, deficiências sensoriais, físicas e intelectuais, é imprescindível a formação de profissionais capacitados, para que se possa de fato garantir-lhes o direito constitucional à educação. Nesta perspectiva, pensando na efetiva inclusão de pessoas com algum tipo de deficiência no cotidiano escolar, propomo-nos a trabalhar, especificamente, pesquisando e preparando recursos didáticos, na área de Geografia, voltados para pessoas com deficiência visual, que estudam nas escolas regulares, considerando que a inclusão escolar: [...] abrange o significado de ações, posturas sociais e políticas democráticas, visando ao reconhecimento e estabelecimento dos direitos dos grupos excluídos dentro da sociedade, pela via da escola (GONÇALVES, A. F. S.; JESUS, D. M., 2001, p.1). Essa busca por informações não foi uma tarefa fácil. Surgiram dificuldades ao longo do caminho, no que se refere a localizar e selecionar fontes bibliográficas e outros tipos de materiais que tratassem sobre o assunto. Pensando contribuir positivamente no processo de ensino-aprendizagem, decidimos oferecer uma 1 Correção ortográfica e normatização realizada por Ingrid Regina Malaquias dos Santos. Professora formada em Letras Português/Inglês na Faculdade Saberes.
  • 13. 12 pequena lista contendo sugestões de leitura, vídeos, entre outros (Anexo A, B, C e D). Segundo De Masi (2002, p. 20): “A deficiência da visão é uma limitação sensorial que pode atingir uma gravidade capaz de praticamente anular a capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual, permitindo diversas classificações de redução da visão.” Percebendo essa limitação, enfatizamos a importância de intervenções pedagógicas que priorizem o aprimoramento dos outros órgãos sensoriais, reforçando a validade da produção e da utilização de recursos didáticos como meio de contribuir para a formação da imagem mental e a representação simbólica necessárias à aprendizagem, fato que dentro da Geografia, possa permitir uma melhor percepção de mundo para essas pessoas. Ressaltamos que, para o desenvolvimento desse estudo e para a produção dos recursos didáticos, nos valemos de uma metodologia que permitisse o uso de uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coletas de dados e análise dos mesmos, como: revisão bibliográfica e pesquisas em documentos oficiais, escolha do lócus para a aplicação do estudo (Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual/Vitória, ES), entrevistas, aplicação de oficina pedagógica e a consequente avaliação dos recursos didáticos produzidos – um globo e um mapa tátil. O trajeto dessa pesquisa foi longo e denso, na compressão do espaço-tempo do período de estudo. Embora tenhamos a compreensão da importância de cada proposta envidada para contribuir com a formação da cidadania dos jovens estudantes com deficiência visual, incluindo este nosso trabalho, no qual empregamos os nossos melhores esforços, sabemos que há ainda muito por fazer. O que nos conforta, estimula e nos dá certeza de que vale a pena insistir, pode ser sintetizado nas admiradas expressões das jovens parceiras desta pesquisa: “Olha, que lindo! Não sabia que a Índia tinha assim esse jeito, nem que a Ásia era assim tão grande” O convite para “olhar” o que a jovem achou “tão lindo”, nos dá força para continuar socializando o pouco que nos foi possível produzir, e para convidar cada leitor a nos acompanhar nesse esforço de entender o que vê quem não vê...
  • 14. 13 2. – CAPÍTULO 1 – O QUANTO VÊ QUEM NÃO VÊ: CONCEITOS, PROBLEMÁTICAS E O COTIDIANO ESCOLAR 2.1 Deficiência visual: Conceitos A história da deficiência, como a própria denominação indica, tem-se colocado em nossa cultura como uma forma de caracterizar aqueles sujeitos que, por razões variadas, apresentam um déficit, uma perda, tanto na esfera orgânica quanto na psíquica (DINIZ, M.; RAHME, M. p.112, 2004). Partindo desse pressuposto, ao longo da história da humanidade, a deficiência sensorial foi tratada de acordo com as características e particularidades culturais de cada sociedade. Na antiguidade, quem possuía algum tipo de deficiência era tratado à margem da sociedade e assim, eram classificados como não hábeis, débeis e aleijados. [...] nos séculos XVIII e meados do século XIX, encontra-se a fase de institucionalização, em que os indivíduos que apresentavam deficiência eram segregados e protegidos em instituições residenciais. [...] já no final do século XIX e meados do século XX, pelo desenvolvimento de escolas e/ou classes especiais em escolas públicas, visando oferecer à pessoa deficiente uma educação à parte. [...] no final do século XX, por volta da década de 70, observa-se um movimento de integração social dos indivíduos que apresentavam deficiência, cujo objetivo era integrá-los em ambientes escolares, o mais próximo possível daqueles oferecidos à pessoa normal (MIRANDA, A. A. B. p. 2. [200-] Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/revis/revis15/art1_15.pdf>. Acesso em: 13 de set. 2010.) Com a ascensão dos valores cristãos, os que antes ficavam excluídos passaram a ter a proteção da Igreja. Já na Idade Moderna, a filosofia humanista inicia o processo de entendimento dos problemas relacionados ao homem e assim, inicia-se a tentativa educacional sob o enfoque patológico. Com os ideais da Revolução Francesa - igualdade, liberdade e fraternidade - na Idade Moderna, prolifera-se a necessidade da elaboração de uma consciência social; e as correntes que defendiam os direitos do homem ganham forte adesão no mundo. Quando a
  • 15. 14 sociedade passou a diferenciar os indivíduos quanto a sua deficiência, já estava sendo feita uma classificação primária das pessoas com necessidades especiais. Ao elaborar uma tentativa de classificação, ainda hoje se percebe resquícios dos períodos da humanidade em que a deficiência era vista como algo maligno, porém algumas linhas de pensamentos vêm contra essa concepção. Qualquer análise que é feita que envolva diversos níveis, seja ela para diferenciar um grupo de outro ou não, deve seguir um critério de classificação para uma posterior equiparação desses dados. Quanto aos deficientes visuais é necessário primeiramente que se faça uma classificação para saber o quanto cada indivíduo enxerga. Dentre as classificações existentes destacam-se a legal, médica, educacional e a esportiva. Para os artigos publicados na revista digital EFDEPORTES (2001) “[...] há várias classificações para a deficiência visual, que variam conforme as limitações e os fins de que se destinam” (Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm>. Acesso em 08 de abril de 2010). Para Munster e Almeida (2005): [...] elas surgem para que as desvantagens decorrentes da visão funcional de cada indivíduo sejam minimizadas, pois apesar das pessoas com deficiência visual possuírem em comum o comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e anatômicas promovem modificações que resultam em níveis diferenciados nas funções visuais, que interferem de forma diferenciada no desempenho de cada indivíduo (Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm >. Acesso em 08 de abril de 2010.). Quanto à classificação legal, ela existe para oferecer à pessoa com essa necessidade especial os direitos e dessa forma permitir o acesso a cidadania. Segundo as leis no âmbito do desporto (Piva e Pelé), certa quantia da arrecadação das loterias deve ser repassada também para o comitê para olímpico brasileiro: Leis no âmbito do desporto 10.264 (Lei Piva) e 9.615 (lei Pelé), de 16 de julho de 2001: A lei 10.264, conhecida como Lei Piva foi sancionada pelo Ex-Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, estabelecendo que 2% da arrecadação bruta das loterias federais do País sejam
  • 16. 15 repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro (85%) e Comitê Paraolímpico Brasileiro (15%) (Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm >. Acesso em 08 de abril de 2010.). Existem também outras leis que visam à integração social das pessoas com deficiência visual como: Lei Nº 7.853, de 24 de Outubro de 1989: Dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde. Institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional (Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd93/defic.htm >. Acesso em 08 de abril de 2010.). Além dessas classificações existe também a médica que, por sua vez, estabelece critérios para a classificação segundo a capacidade de distinguir ou não certos objetos: Segundo o texto da ACSM (American College of Sports Medicine) (1997) citado por Fugita (2002) a cegueira pode ser definida como: Cegueira por acuidade: significa possuir visão de 20/200 pés ou inferior, com a melhor correção (uso de óculos). É a habilidade de ver em 20 pés ou 6,096 metros, o que o olho normal vê em 200 pés ou 60,96 metros (ou seja, 1/10 ou menos que a visão normal), onde 1pé = 30,48 cm.Cegueira por campo visual: significa ter um campo visual menor do que 10° de visão central - ter uma visão de túnel.Cegueira total ou "não percepção de luz": é a ausência de percepção visual ou a inabilidade de reconhecer uma luz intensa exposta diretamente no olho. Já no âmbito educacional estabelece-se o critério de eficiência visual como citado no artigo da revista digital EFDEPORTES.COM apud Kirk e Gallagher (1991): Pessoa Cega: é aquela que possui perda total ou resíduo mínimo de visão, necessitando do método Braille como meio de leitura e escrita e/ou outros métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo ensino-aprendizagem. Pessoa com baixa visão: é aquela que possui resíduos visuais em grau que permitam ler textos impressos à tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais, excluindo as deficiências facilmente corrigidas pelo uso adequado de lentes (BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, 1993). Quanto às concepções esportivas, também no âmbito do acesso dos deficientes visuais e para oferecer maior integração social, conforme a
  • 17. 16 Confederação Brasileira de Desportos para Cegos é necessário estabelecer um critério oftalmológico para diferenciar os diversos níveis de deficiências: [...] B1: De nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos até a percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou direção. B2: Da capacidade em reconhecer a forma de uma mão até a acuidade visual de 2/60 e/ou campo visual inferior a 5 graus. B3: Da acuidade visual de 2/60 a acuidade visual de 6/60 e/ou campo visual de mais de 5 graus e menos de 20 graus (Disponível em > <http://www.cbdc.org.br/novo_site/index.php?idmenu=26&codtipoconteudo= 4> Acesso em 08 de abril de 2010.). Por fim, pode-se através do que foi explicitado, compreender que, dependendo do meio ao qual a classificação é solicitada, a mesma sofrerá influência daquele que a solicita. Assim, seja qual for a necessidade de classificação, deve-se primeiramente identificar o objeto, para assim, estabelecer o critério que mais se adéqua a mesma.
  • 18. 17 3. – CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO INCLUSIVA E VIVÊNCIAS: A FORMAÇÃO DOCENTE EM GEOGRAFIA E DEFICIÊNCIA VISUAL É direito de todos os indivíduos o acesso a uma educação de qualidade, dizem os documentos nacionais oficiais. A complexidade da diversidade não se esgota nas diferenças de cultura, de educação, de histórias de vida. Esta complexidade habita cada espaço entre as diferenças, impregnando-as também. E se as diferenças são muitas entre as pessoas, elas são muito exigentes quando as pessoas acrescentam a estas diferenças, deficiências como dificuldades na visão, na audição, na movimentação e tantas outras, pois cada uma é um tipo e exige um cuidar e um trabalhar com ela, especial. Nesta perspectiva, urge que sejam formados professores capacitados a trabalhar com a diversidade de alunos presentes no ambiente escolar. É consenso entre os profissionais da área da educação que a escola deve ser um espaço de integração entre os indivíduos e que este espaço deve estar acessível a todos, sendo assim, democrático. Porém, ao analisar a realidade da educação brasileira, não é isto que constatamos. As marcas da exclusão estão presentes no ambiente escolar, em processos explícitos e subliminares que segregam e marginalizam com extrema perversidade indivíduos oriundos das classes populares menos privilegiadas e com dupla intensidade aqueles que são portadores de algum tipo de deficiência. Os documentos oficiais prevêem o caminho certo a ser tomado, mas isso não é o suficiente. Esforços financeiros precisam ser investidos tanto em infraestrutura física, quanto intelectual. Isso inclui desde prédios, equipamentos e mobiliários adequados à diversidade até chegar na formação de educadores capazes de lidar cuidadosa e competentemente com as diferenças, dando sustentação e promovendo transformações necessárias às escolas. Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, já dispunha em seu capítulo III, que: “Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivada mediante a garantia de:
  • 19. 18 III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino “(BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1988). Essas orientações legais se coadunam com o campo conceitual concernente à questão. Para Marchesi e Martin (1995), o aluno com necessidades especiais é aquele que apresenta algum problema de aprendizagem ao longo de sua escolarização, que exige uma atenção mais específica e mais recursos educacionais do que os necessários para os colegas de sua idade. Ainda segundo esses estudiosos, (MARCHESI e MARTIN, 1995) o conceito Necessidades Educacionais Especiais, passou a ser utilizado a partir da década de 1960. De acordo com Sassaki (1997), essa época testemunhou o boom de instituições especializadas, tais como escolas especiais, centros de habilitação, centros de reabilitação, oficinas protegidas de trabalho, clubes sociais especiais, associações desportivas especiais, dentre outras. Sendo assim, a referida década foi caracterizada pela tentativa de derrubar a prática da exclusão social a que foram submetidas às pessoas deficientes por vários séculos. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a constituir a proposta pedagógica da escola, definindo como seu público-alvo os alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos (MEC/Secretaria de Educação Especial. p.15, 2008. Disponível em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011730.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2010.). A educação inclusiva propõe novas exigências ao atual sistema de educação que precisa ser repensado. A formação adequada de professores preparados para atuar em escolas regulares com alunos de necessidades educacionais especiais, por conseguinte, tornou-se imprescindível. A LDB prevê, no Capítulo V, que os sistemas de ensino deverão assegurar aos educandos com necessidades especiais: “Art. 59 – ... III – Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para integração desses educandos nas classes comuns”
  • 20. 19 (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 1996). Apesar da Lei de Diretrizes e Bases prever como necessário um atendimento especializado e professores capacitados, Ferreira (1998) destaca que as discussões sobre as necessidades especiais não estão presentes nos cursos de formação de professores. Porém, acreditamos que somente espaços de discussão garantidos em universidades e academias não serão suficientes para a melhoria do processo de aprendizagem dos alunos com necessidades especiais. Também não postulamos que a inserção de temas, oficinas ou programas curriculares resolvam sozinhos tais demandas. Pensamos que é preciso mais: uma mudança de postura de concepção pedagógica é urgente e só se concretizará no esforço conjugado de ensino, pesquisa e extensão como formação inicial e contínua de professores. Os professores enfrentam, cada vez mais, dificuldades em lidar com alunos. Num jogo de palavras, dificuldades especiais ao lidarem com alunos com dificuldades especiais. Segundo Almeida (1984) e Denari (1984), a expansão das classes especiais nos anos 80 acarretou a democratização do ensino e suas consequências ao ambiente escolar. Houve uma multiplicidade quantitativa na entrada de alunos oriundos das camadas populares da sociedade, os quais dispunham de um repertório cultural imensamente diferente daquele que a escola exigia ou pretendia ter. Sendo assim, estes enfrentaram maiores dificuldades em aprender o conteúdo escolar. De acordo com MEC/Secretaria de Educação Especial: Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação [...] para a oferta dos serviços e recursos de educação especial (MEC/Secretaria de Educação Especial. p.17 e 18, 2008. Disponível em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011730.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2010.). A falta de preparo dos professores para tratar com tais alunos fazia com que estes fossem encaminhados para classes especiais. Tal medida isentava esses
  • 21. 20 profissionais da responsabilidade de aprender a lidar com os mesmos e com as dificuldades que apresentavam. Estudos apresentados por Marin (1996) destacam que é necessário repensar os cursos de formação de professores, adotando a história de vida dos alunos e suas formas de socialização como alternativa para maior compreensão dos processos de aprendizagens e possíveis limitações individuais ou sociais dos sujeitos envolvidos na formação. A autora também afirma que, desde a década de 1950, a precariedade na formação dos professores e nos ambientes profissionais é notória. Havia distância entre aquilo que era ensinado nas escolas e aquilo que era forjado na vida profissional dos professores. Porém, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos professores e da falta de preparo, a autora ainda afirma que existem profissionais que buscam continuamente acertar, mesmo diante da realidade problemática. Isso inclui pensar que formação e construção da identidade profissional do professor acontecem em conjunto, numa sintonia que se dará durante todo o curso de sua vida, do seu cotidiano, da historicidade vivida. Segundo Santos (2002), a trajetória do professor será marcada por contradições e conflitos, que ganham força no ambiente escolar, e, acreditamos, com intensas ramificações, em sua vida pessoal. Assim, com Cavaco (1991), acreditamos que o professor, notadamente, o recém formado, traz consigo incertezas e inseguranças, muitas delas nascidas na transição entre o fazer docente imediato e as orientações dos modelos tradicionais, principalmente aqueles apresentados por seus antigos professores da escola regular. Toda a experiência vivida e mais aquela que pode ser tecida, criada, construída como proposta inovadora, e, que estes professores poderiam/deveriam trazer para a escola, se contrai e acaba não sendo colocada em prática no sistema, porque este os obriga a receber alunos especiais, em salas de aula lotadas, em ambientes mal organizados e mal equipados – e, sobretudo, sem prepará-los para este exercício. A escola, um ambiente marcado pela hierarquização e homogeneização, necessita de profissionais comprometidos com a democratização, com a
  • 22. 21 solidariedade e com a cooperação. Por isto o papel do professor é fundamental na educação inclusiva. Ele irá contra o modelo hegemônico, a fim de criar um novo modelo que insira aqueles que possuem algum tipo de deficiência. Ele não poderá se isentar de agir, sequer pelos problemas expostos. Diante dessas considerações, a formação de professores para a inclusão de alunos deficientes não se dará apenas através da criação de leis ou especialização de professores e mesmo de conteúdos voltados para a inclusão. Deve-se levar em consideração que o professor traz consigo sua historicidade, conceitos pré concebidos, imagens, crenças e valores em relação às pessoas com deficiência. Urge então que, durante a formação desses professores, a história seja modificada, os preconceitos sejam lapidados, modificados, a fim de que o professor possa receber da melhor forma possível todo o treinamento oferecido e principalmente os alunos com algum tipo de deficiência. Acreditando nisto, tomando como foco o ensino de Geografia e alunos com dificuldades visuais, empenhamos nossos melhores esforços para colocar em prática o que colhemos numa pesquisa que deu origem ao nosso trabalho. O que vê quem não vê? Essa pergunta nos impulsiona e nos fez mergulhar em estudos que nos permitisse ousar, pensar como quem não vê. Que geografias passam pela percepção aguçada que se desenvolve em quem não vê? Como mediar aprendizagens que lhes permitam (vi) ver num mundo que é pura Geografia? Se ensinar Geografia deve ser muito mais do que simplesmente repetir os conteúdos dos livros didáticos e fazer com que os alunos decorem nomes de lugares, de rios, de acidentes geográficos e conceitos utilizados pela matéria, como trabalhar com quem nem vê rios, montes, lagos, cidades – a não ser pelo toque, pelos sons, pelos cheiros, pelo pulsar da vida? Estudando a Geografia como alunos, aprendemos que esta ciência se ocupa em compreender as relações espaciais existentes. Como professores, ao estudar Geografia, entendemos que os educandos devem conseguir captar a essência do que está sendo estudado para elaborar uma visão crítica do mundo em que vivem. Neste momento do nosso estudo, tal pretensão ganha especial força: os alunos com dificuldades visuais precisam dessa aprendizagem geográfica – desenvolver uma
  • 23. 22 visão crítica do mundo em que vivem e para conseguir isto, precisam aprender a (vi) vê-lo, de formas diferentes e todas elas, formas conscientes. Percebe-se que trabalhar com esta perspectiva não é uma tarefa fácil, porém é necessária para que seja garantido a esses indivíduos o direito de acesso ao estudo e, consequentemente, sua integração – como cidadãos de direito – na sociedade. Em nosso trabalho, na tentativa de interferirmos e agirmos de acordo com essa concepção docente, que abraçamos, no desenvolver deste trabalho investimos em duas direções, metodologicamente: 1. Aplicamos um questionário junto a profissionais que trabalham com portadores de dificuldades visuais, buscando entender como trabalham e que obstáculos encontram; 2. Preparamos uma oficina pedagógica, visando contribuir com professores, a partir dos nossos estudos. De acordo com o IBGE a partir da promulgação da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, tornou-se obrigatório a inclusão nos censos nacionais de questões que possibilitassem determinar de modo preciso as necessidades das pessoas com deficiência. Tal medida visava fornecer bases que pudessem sustentar e definir a tomada de medidas adequadas a esta parcela da população. Sendo assim, a partir do Censo Demográfico de 2001, questões específicas foram elaboradas visando o estudo das incapacidades na busca pela identificação de deficiências e do grau de interferência das mesmas no desenvolvimento das atividades, no comportamento e na participação social das pessoas inquiridas. Ainda, segundo o IBGE, considerando também o grau de severidade da incapacidade, pode-se observar no Brasil a existência de aproximadamente 148 000 pessoas cegas, sendo que cerca de 77 900 são mulheres, e 70 100 são do sexo masculino. Um total de 2.435.873 milhões de pessoas declarou ter grandes dificuldades em enxergar e 14.060.946 milhões de pessoas declaram ter alguma dificuldade para enxergar. No estado do Espírito Santo um total de 2.304 pessoas declarou ser incapaz de enxergar, 51.610 se declaram com grande dificuldade para enxergar e um total de 250.993 pessoas declara ter alguma dificuldade para enxergar.
  • 24. 23 Os dados obtidos pelo órgão acima mencionado informam que entre a parcela da população com algum tipo de deficiência, as que possuem algum grau de deficiência visual são as menos afetadas na frequência escolar apresentando uma taxa de 93,3 % de crianças na escola, enquanto a taxa de escolarização de crianças que declara não possuir nenhuma das incapacidades investigadas fica em torno de 95%.
  • 25. 24 4. - CAPÍTULO 3 - A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS EM GEOGRAFIA PARA O PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM DE DEFICIENTES VISUAIS Ensinar Geografia deve ser muito mais do que simplesmente repetir os conteúdos dos livros didáticos e fazer com que os alunos decorem nomes de lugares, de rios, de acidentes geográficos e conceitos utilizados pela matéria. Os educandos devem Foto 1 – Autoria: Renata Nunes compreender as relações espaciais existentes e conseguir captar a essência do que está sendo estudado para elaborar uma visão crítica do mundo em que vivem. Limitados à leitura de textos e às exposições dos professores, os alunos encontram dificuldade para interagir com as diferentes linguagens e com os recursos próprios da Geografia [...]. Quando, na escola, vigoram estratégias de ensino centradas na voz do professor e na passividade do aluno, e o livro didático ainda comanda a cena em sala de aula, outros recursos de excepcional relevância [...] têm seu uso relegado. É compreensível que, neste caso, com alunos assim desatendidos, o conhecimento geográfico não seja construído e a memorização seja a forma habitual utilizada para mascarar o entendimento (SCHÄFFER et al, 2003, p.16). A prática do professor em sala de aula torna-se fundamental para possibilitar o entendimento crítico da Geografia, e consequentemente de mundo, pelos educandos. Ao planejar suas aulas e preparar recursos didáticos, o professor precisa considerar a pluralidade existente em cada turma. Deve-se entender que mesmo em um grupo aparentemente homogêneo, existem grandes diferenças entre seus componentes, como por exemplo, pessoas com deficiências sensoriais, mentais, com déficits de aprendizagem, de classes sociais e culturas distintas, entre outros. O Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial (2003) ressalta que, constantemente tratamos esse grupo de alunos como uma unidade, quando na verdade ele não é, pois é composto por pessoas singulares, únicas, que devem ser conhecidas para que ocorra o sucesso no processo de ensino-aprendizagem. Ainda
  • 26. 25 de acordo com o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial no que se refere às singularidades de cada aluno: Há os que aprendem melhor através da experiência concreta. Há os que aprendem melhor através da via auditiva. Há os que aprendem melhor, se utilizarmos a via escrita. Há os que aprendem melhor, se puderem escrever sobre o assunto que está sendo abordado (2003, p. 19). Dessa maneira, a educação deve se orientar pela utilização de recursos didáticos que garantam o acesso do aluno ao conhecimento, não se esquecendo dos que necessitam de uma atenção especial por apresentarem algum tipo de deficiência física, mental, visual, auditiva e até mesmo altas habilidades. No processo de ensino-aprendizagem de deficientes visuais deve-se enfatizar a importância dessas intervenções pedagógicas, que priorizem o desenvolvimento/treinamento dos sentidos. De acordo com o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial (2001), o desenvolvimento dos sentidos (tátil-cinestésico-auditivo-olfativo-gustativo) deve ser encorajado no dia-a-dia das pessoas com deficiência visual. Portanto, é vital a utilização de recursos didáticos na sala de aula que auxiliem esse desenvolvimento dos sentidos e permitam uma melhor percepção de mundo para essas pessoas. Na educação de crianças com deficiência visual fica evidente a importância da utilização de estratégias metodológicas que assegurem a integração e a articulação do sistema multissensorial e que favoreça a construção do sistema de significação e da linguagem pela ação da criança no tempo e no espaço (Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial, 2001, p.160). Para aprimorar o processo de ensino- aprendizagem dos alunos com deficiência visual é válido a manipulação de objetos tridimensionais, construção de maquetes com aproveitamento de sucatas, grãos de tamanhos e textura variados. Tecidos, barbantes ou tintas em alto relevo, entre Foto 2 – Autoria: Kátia dos Santos outros, sendo esses materiais transformados em recursos didáticos simples e práticos para contribuir com a formação da imagem mental e a representação simbólica, necessárias à aprendizagem. “As mãos são os olhos das pessoas com deficiência visual. O uso das mãos como instrumento de
  • 27. 26 percepção deve ser intensamente estimulado, incentivado e aprimorado” (GIL, M., 2001, p. 24). Assim como o tato, a audição é outro sentido que deve ser estimulado, por ser de grande importância para que o aluno com deficiência visual consiga perceber o mundo a sua volta. Contudo, segundo Gil, no que se refere à criança/aluno com deficiência visual: [...] ela ainda precisa aprender o significado dos sons. Por exemplo: ao ouvir a batida de uma porta, não sabe como é a porta, para que serve, e nem que é feita de madeira. A aquisição do significado do mundo dos sons é um processo lento (2001, p. 29 e 30). Dessa maneira, deve-se explorar ao máximo os recursos didáticos para ajudar na compreensão dos conteúdos escolares por parte dos alunos em geral, mas sempre lembrando que cada pessoa é um ser diferente do outro, ou seja, deve- se respeitar o tempo de aprendizagem de cada um. Portanto, torna-se imprescindível que o professor conheça as especificidades de cada aluno para que possa adotar recursos didáticos compatíveis com as necessidades dos mesmos. Conforme estabelece o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial (2001), os alunos que apresentam baixa visão poderão se beneficiar com o uso de lupas e materiais que apresentem um grande contraste de cores, que facilitam a visualização de figuras e gráficos, por exemplo. Já os alunos com ausência total da visão necessitam de recursos adaptados aos seus sentidos mais apurados como o tato e a audição. Atualmente, existem vários recursos que podem ser empregados na sala de aula para auxiliar o aprendizado dos alunos com deficiência visual. Além dos materiais que permitem o acesso à leitura e à escrita, como a máquina de escrever em braille, também existem alternativas didáticas de baixo custo como a produção de objetos tridimensionais, jogos, maquetes e mapas táteis com a utilização de diversos materiais – tintas de cores fortes e de alto relevo, areia, grãos de texturas variadas, conchas, folhas secas, gravetos, argila, barbante, lixas, isopor, algodão, entre outros. Dispor desses recursos enriquece o ensino da Geografia, principalmente na área da cartografia, pois torna possível uma melhor compreensão e percepção do espaço geográfico pelos alunos com deficiência visual.
  • 28. 27 A cartografia tem um papel importante nesse processo e, dessa forma, precisa fornecer materiais adequados para a pessoa com deficiência visual. Os mapas são até mais necessários para esse grupo de usuários do que para aqueles que conseguem enxergar. Pessoas cegas podem usar um mapa para se orientar, sem ajuda, dentro de um edifício. Por esse motivo, todos os tipos de materiais cartográficos deveriam estar disponíveis na forma tátil [...] (ALMEIDA, R. A., 2007, p. 120). Preparar esses recursos didáticos não é uma tarefa fácil, sendo necessária uma grande persistência para atingir o objetivo de melhorar a qualidade do ensino oferecido a esses alunos. “Tendo em vista o grupo de alunos com deficiência visual, trabalhar com as representações gráficas significa romper Foto 3 – Autoria: Renata Nunes barreiras e enfrentar desafios” (ALMEIDA, R. A., 2007, p. 127). Há ainda, recursos tecnológicos que podem facilitar o processo de ensino- aprendizagem para alunos com deficiência visual. Entre eles, o livro falado que pode ser gravado em diversos tipos de mídia, equipamentos de informática e softwares específicos. De acordo com Gil (2001), há avanços significativos na área da informática que proporcionam uma melhoria na aprendizagem das pessoas portadoras de baixa visão, como os softwares especiais que permitem uma ampliação direta de textos - nos quais a tela do computador age como uma lente de aumento. Encontram-se ainda, no mercado, softwares de painel Braille, nos quais os dados fornecidos são reproduzidos na escrita braille. “Para pessoas com cegueira total, há softwares que, com um sintetizador de voz, fazem a leitura do que aparece escrito na tela do microcomputador” (GIL, M., 2001, p. 47). Ainda de acordo com as orientações de Gil (2001), além destes recursos didáticos disponíveis, torna-se necessário que o professor utilize algumas práticas que facilitem o processo de ensino-aprendizagem dos alunos com deficiência visual, tais como: fazer a leitura das anotações feitas no quadro; na medida do possível, passar as mesmas atividades para todos os alunos da turma, inclusive para aqueles com deficiência visual; e sempre que necessário, buscar o auxílio de profissionais especializados que poderão orientar e oferecer recursos específicos.
  • 29. 28 Com base em todas as informações até aqui colocadas, pode-se reforçar a idéia da validade dos recursos didáticos enquanto meio facilitador do processo de ensino-aprendizagem de todos os alunos, principalmente daqueles que possuem algum tipo de deficiência, como a deficiência visual, enfatizada neste estudo. Percebe-se que esta não é uma tarefa fácil, porém é necessária para que seja garantido a esses indivíduos o direito de acesso ao estudo e, consequentemente, sua integração – como cidadãos de direito – na sociedade.
  • 30. 29 5. - CAPÍTULO 4 - TATEANDO CAMINHOS: METODOLOGIA, PROCEDIMENTOS, ABORDAGENS E TRAJETÓRIAS 5.1 A Abordagem No estudo aqui proposto utilizamos uma abordagem qualitativa, haja vista que estas possuem uma “característica multimetodológica, isto é, usam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados” (ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZASDER, 2004, p.163). Também por trabalhar com o universal, ao englobar significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes dentro dos pensamentos, interpretações e ações humanas, compreendidas dentro das realidades vividas e partilhadas nas interrelações dos grupos sociais. (MINAYO, 2007). A escolha desta abordagem é decorrente da visão dos pesquisadores de ser a que melhor contempla o alcance dos objetivos propostos neste estudo. Trata-se de um estudo de caso. Descrevendo-o de modo amplo, trata-se de uma investigação empírica de um fenômeno atual inserido num dado contexto em que os limites entre tal fenômeno e seu contexto não estão claramente definidos (YIN, 2005). A inclusão social de pessoas com deficiência, não somente no universo escolar, mas no sentido de promover sua formação cidadã plena tem suscitado debates quanto às formas e recursos necessários a esse fim. Assim, esse estudo de caso buscou compreender no interior da dinâmica de interação entre os atores envolvidos, aqui em especial os educadores e as pessoas com deficiência visual, o “se”, o “como” a produção de recursos didáticos apropriados às formas de leitura e interpretação adequadas a esse público, pode contribuir para que o processo de ensino-aprendizagem, no caso em questão, o de Geografia, venha a alcançar o máximo de sua potencialidade.
  • 31. 30 5.1.1 Caracterização do Lócus do Estudo A escolha do Lócus para aplicação do estudo decorreu da importância do trabalho realizado no instituto, por ser uma referência na capacitação de professores para o trabalho com pessoas com deficiência visual, público alvo do mesmo. O CAP (Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas Portadoras de Deficiência Visual), do Espírito Santo é uma instituição governamental que recebe capital do governo do estado e federal. Este centro de apoio pedagógico está localizado na Escola Estadual Paes Barreto, no bairro Jaburu, na cidade de Vitória, Espírito Santo. Segundo a Pedagoga, coordenadora da instituição, senhora Iris Fátima do Rosário, o CAP do Espírito Santo trabalha com a capacitação de professores, para o trabalho com deficientes visuais. Os cursos oferecidos pelo CAP são feitos a partir de solicitações de prefeituras, do governo e de escolas que necessitem de capacitação. Ainda segundo a coordenadora Iris, em geral existe muita dificuldade dos professores ao trabalhar com os deficientes visuais, dentre essas, a constante troca de professores nas escolas. O CAP atende a esta demanda e, quando solicitado, disponibiliza também recursos didáticos das diversas áreas (Geografia, Matemática, Física, dentre outras), para estes professores. Além de oferecer o suporte necessário para o atendimento aos alunos, disponibilizando recursos diversos, tais como, acervo bibliográfico e didático. Trabalham também com deficientes visuais, oferecendo o suporte material necessário em suas aprendizagens, através da produção de recursos didáticos. Desenvolvem atividades com bebês e crianças cegas ou com baixa visão, focando na estimulação visual dos mesmos, para que não se perca o pouco que lhes resta da visão. Atende ainda, a adultos com aulas de braille e de locomoção, que são ministradas à tarde ensinando aos alunos deficientes visuais como utilizar a bengala, dando-lhes mais liberdade para se locomoverem pelas ruas em seu dia a dia. Neste local efetuamos a obtenção de dados referentes ao estudo em questão que serviram com base ao seu desenvolvimento, tais como, entrevistas com alunos
  • 32. 31 deficientes visuais e com os professores dos mesmos, onde foram diagnosticadas dificuldades no processo de aprendizagem de conteúdos como, por exemplo, a orientação e a compreensão do espaço geográfico. Obtivemos também indicações e orientações sobre como deveriam ser elaborados recursos didáticos que pudessem facilitar o aprendizado dos conteúdos em Geografia. Através das orientações e constatações buscamos promover a facilitação do aprendizado por meio da iniciação geográfica para alunos cegos e de baixa visão. Para alcançar esse objetivo, procedemos à aplicação de uma oficina pedagógica, onde apresentamos um globo e um mapa tátil, representando os continentes, os principais paralelos e meridianos e também suas respectivas escalas. 5.2 Revisão bibliográfica Neste processo realizamos a revisão teórica contemplando a reflexão sobre inclusão através do estudo com aprendizagens geográficas com alunos com deficiência visual. Objetivamos aqui, conhecer, contextualizar e trazer possibilidades a respeito dessa questão, considerando-se a dimensão social, política e econômica, que o mesmo poderá trazer como diferencial na vida dos alunos com deficiência visual. Destacamos a importância do tema proposto, pois este “é importante quando, de alguma forma, está relacionado à uma questão que polariza, ou afeta um segmento substancial da sociedade” (MARTINS, G. A. e LINTZ, A., 2000, p.24). Esse esforço serviu como norteador da pesquisa e da análise dos dados obtidos. Compreende-se o quanto uma definição clara de conceitos e fonte teórica é fundamental para a apreensão das dinâmicas que regem e permeiam as realidades dos que são parcial ou totalmente privados do sentido da visão. Sendo assim depreendemos que a observância dos fatos não se expressa através de imediatismos, mas requer comprometimento, organização e técnicas.
  • 33. 32 5.3 As técnicas de coleta de dados [...] a expressão „unidade de análise corresponde se refere à forma pela qual organizaremos os dados para efeito de análise (...) Pesquisas qualitativas tipicamente envolvem um grande volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações desvendando-lhes o significado (ALVES- MAZZOTTI e GEWANDSZASDER, 2004, p. 170). Sendo assim o material obtido ao longo do desenvolvimento dessa pesquisa, visou à produção de um texto, sendo a abordagem qualitativa, tendo, portanto, como centro a “[...] exploração do conjunto de opiniões e representações sociais sobre o tema que pretende investigar” (GOMES,2007, p.79) e ainda “[...] é o ponto de partida (porque se inicia com as próprias interpretações dos atores) e é o ponto de chegada (porque é a interpretação das interpretações)” (GOMES apud GOMES,2007, p.80) Entendemos que as análises precisavam ser efetuadas durante todo o desenrolar desse estudo, de modo progressivo e interativo com a coleta de dados. Sendo assim, optamos pela análise de conteúdo, pois esta constitui um: [...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN apud GOMES, 2007, p. 83). A escolha foi também decorrente do fato deste tipo de análise possuir variadas possibilidades de uso. Pois foi a partir deste que pudemos tomar conhecimentos dos caminhos a serem trilhados. 5.4 Processos e instrumentos para obtenção de dados Dado o caráter multimetodológico de uma análise qualitativa, optamos pela utilização de alguns instrumentos e técnicas por terem se apresentado como os mais adequados ao desenvolvimento deste estudo. As técnicas utilizadas foram:
  • 34. 33 5.4.1 Pesquisa documental: A pesquisa documental foi utilizada porque “os documentos têm o potencial de informar e estruturar as decisões que as pessoas tomam diariamente e em longo prazo; eles também constituem leituras particulares dos eventos sociais” (MAY, 2004, p. 205). São considerados documentos “[...] qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informação” (ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZASDER, 2004, p.169). Portanto, estes contribuíram para a compreensão das demandas, dos processos e complexidades das interações sociais, entre o grupo enfocado e os outros grupamentos sociais, de modo tal que auxiliaram na busca por informações acerca dos mesmos. Em uma pesquisa documental, na leitura e interpretação das informações acerca do tema escolhido, é imprescindível ao pesquisador conhecer, por exemplo, a instituição ou seu criador, suas fontes e propósitos (BECKER apud ALVES- MAZZOTTI e GEWANDSZASDER, 2004). Sendo assim os documentos pesquisados serão catalogados da seguinte maneira: Exemplo: Tabela 1. Documentos catalogados Tipo de Ano de Tipo de Elaboração Tipo de Informação a ser documento elaboração fonte circulação levantada Censo 2000 Primária IBGE Irrestrita Número de pessoas demográfico com deficiência visual e outros. Lei no âmbito 2001 Secundária BRASIL Irrestrita Arrecadação bruta do desporto das loterias federais do país. Lei nº 7.853 1989 Primária BRASIL Irrestrita Apoio as pessoas Lei no âmbito com deficiência. do desporto
  • 35. 34 Lei Nº 9.394 – 1996 Primária BRASIL Irrestrita Diretrizes e bases da Lei de educação nacional. Diretrizes e Bases da Educação Art. 208 – 1988 Primária BRASIL Irrestrita Direitos do cidadão Constituição com deficiência da República visual. Federativa do Brasil Art. 57 – 1988 Primária BRASIL Irrestrita Capacitação de Constituição professores para da República atendimento Federativa do especializado Brasil Entretanto, é importante observar que somente a pesquisa documental não contempla todos os aspectos focados no estudo, pois possibilitou apreender somente parte de um fenômeno. Tendo sido então, necessário buscar outros instrumentos que puderam trazer as perspectivas dos sujeitos partícipes no processo, sem os quais não se poderiam compreender as dimensões necessárias à pesquisa. Nesse sentido, o presente estudo utilizou outra técnica de coleta de dado que foi a entrevista. 5.5 Entrevistas De acordo com Alves-Mazzoti e Gewandszajder (2004) as entrevistas se apresentam como um excelente recurso investigativo na coleta de dados e informações, pois permite interar-se sobre um assunto e explorá-lo de forma profunda. Sendo assim, no alcance dos objetivos deste trabalho, foram utilizados os pressupostos da história oral, que de acordo com Bom Meihy (1996) apresenta-se como um eficiente recurso de pesquisa, ao possibilitar a elaboração de registros e
  • 36. 35 documentar experiências, saberes e práticas de pessoas, a respeito de suas vivências e concepções. Isso significa uma possibilidade de documentar o não documentado, visto que nessa abordagem de pesquisa o uso da documentação oral equivale às fontes escritas. Dentre as três tendências de pesquisa que se utilizam da história oral esta abordou a história oral temática, haja vista que a mesma partiu de um assunto específico, preestabelecido, qual seja um estudo com aprendizagens geográficas de alunos portadores de deficiência visual. Para Marchesi e Martin (1995), o aluno com necessidades especiais é aquele que apresenta algum problema de aprendizagem ao longo de sua escolarização, que exige uma atenção mais específica e mais recursos educacionais do que os necessários para os colegas de sua idade. De acordo com MEC/Secretaria de Educação Especial, Considera-se alunos com deficiência àqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade (MEC/Secretaria de Educação Especial. p.15, 2008. Disponível em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000011730.pdf>. Acesso em: 13 de set. de 2010.). Sendo assim, buscamos identificar as demandas específicas desses alunos em questão, visando à produção de materiais didáticos, que servissem como auxiliares na prática docente e nos processos de inclusão deste público. Definidos tais procedimentos partimos para o contato com os atores envolvidos neste contexto, buscando estabelecer a parceria necessária para a realização das entrevistas e da coleta das respectivas narrativas. Assim, contactados, os professores e colaboradores e expostos nossos objetivos de pesquisa, foram agendadas datas, horários e locais para a realização das respectivas entrevistas, que ocorreram em datas e locais definidos pelos mesmos e duraram, em média, cerca de três horas cada. Após elaboração de roteiro semi-estruturado de entrevistas (tematizados) com questões relacionadas à vivência docente, foram gravadas entrevistas com o diretor
  • 37. 36 do Instituto Braille do Espírito Santo, um coordenador do CAP (Centro de Apoio Pedagógico), um professor, de História e Geografia, além de quatro alunos cegos e de baixa visão. Através das entrevistas realizadas, foram diagnosticadas algumas dificuldades no processo de ensino-aprendizagem de professores e alunos quanto à Geografia. Após a transcrição e textualização das mesmas, os textos foram passados para os colaboradores para que os mesmos revisassem, acrescentassem e/ou suprimissem frases que julgassem necessárias, bem como autorizassem à apropriação das narrativas. Da análise dos dados obtidos com as entrevistas foi possível detectar categorias relacionadas ao ensino de Geografia, saberes e práticas docentes, gestadas, adaptadas e implementadas no cotidiano da sala de aula, tendo como eixo principal a cidadania. Entretanto, reconhecemos aqui algumas limitações desta técnica, a exemplo, o tempo, ocupado aos entrevistados e aos graduandos, como também na transcrição que demandou um tratamento especial para que seu conteúdo fosse apreendido com fidedignidade. Outro fator a ser considerado é a confiança, uma vez que se faz necessário haver uma espontaneidade entre entrevistador/entrevistado criando um vínculo e um grau de confiabilidade que resulte em dados fidedignos para a pesquisa (ROSA; ARNOLDI, 2006). Procuramos convenientemente evitar alguns deslizes tais como: “[...] a falta ou o excesso de questionamento, excessivo direcionamento por parte do entrevistador, excesso de perspicácia de ambas as partes” (ROSA; ARNOLDI, 2006, p.88). 5.6 Oficina pedagógica A escolha pela oficina pedagógica para verificarmos a eficácia dos recursos didáticos produzidos, foi decorrente da visão dos pesquisadores de ser esta, uma metodologia apropriada para o trabalho em grupo. Este recurso propicia a construção do saber por todos os participantes e ainda cremos que pela
  • 38. 37 dinamicidade e flexibilidade inerentes a ele, conseguimos estimular a participação e interação de todos os envolvidos durante o processo de ensino-aprendizagem o que acreditamos ter sido essencial ao desenvolvimento desse estudo. Na elaboração da mesma procuramos observar um encadeamento em que viéssemos a contemplar as características que se pressupõem essenciais a uma oficina didática, tais como: • Objetivos de estudo comuns ao grupo; • Dinamicidade e praticidade nas ações didáticas; • Embasamento teórico simultâneo à prática; • Plasticidade metodológica; • Diversidade de recursos e técnicas didáticas; • Situação de aprendizagem conjunta: oficineiros e participantes; • Intenção de aplicabilidade dos resultados no cotidiano profissional; • Sequência didática com estrutura de complexidade crescente; • Disponibilidade de tempo concentrada e compatível com objetivos. Objetivávamos ao procurar seguir as orientações acima citadas observar as perspectivas fundamentais ao estudo em questão, que são: • Função investigativa: tarefa principal; • Função socializadora: forma de trabalho grupal; • Função prática: a experiência como ocasião de aprendizagem. Através da mesma pudemos averiguar a eficácia do recurso didático produzido, a saber, um globo terrestre em relevo e um mapa tátil. Estes foram utilizados como Informações obtidas em apresentação sobre oficinas pedagógicas da Profª Drª. Marisa Valladares.
  • 39. 38 base para que pudéssemos trabalhar os conceitos inerentes à localização e orientação, haja vista a sua importância para o desenvolvimento das mais diversas atividades humanas. Em especial, para as pessoas com deficiência visual, pois constatamos através das entrevistas que uma das maiores dificuldades encontradas por professores e alunos é quanto a esses conceitos. 5.6.1 Globo Terrestre Saber geografia não é apenas evocar nomes. É reconhecer as influências, as interações que lugares e paisagens tem com nosso cotidiano. É, portanto, incluir-se no globo, sentir e agir no planeta como alguém capaz de modificar o lugar onde vive, de (re) construí-lo e não apenas de ali estar como um personagem num palco (SCHÄFFER, ET AL, 2003 p. 15). O globo terrestre constitui uma ferramenta indispensável na promoção das aprendizagens não somente em Geografia, mas também nas demais disciplinas curriculares. No entanto apesar de sua importância, este tem sua utilização limitada, sendo que as estratégias de ensino são ainda muito centradas somente no livro didático. Para saber Geografia é necessário que os sujeitos sejam alfabetizados na leitura dos lugares, conhecendo-os, entendendo o porquê das relações entre objetos e grupamentos sociais e ainda o porquê das ações ocorridas neste contexto e isto perpassa também pelo uso do globo. Dentre os diversos temas em Geografia, o globo presta-se especialmente ao ensino sobre orientação e localização, na apresentação da rede de coordenadas e para esclarecer quanto às diferenças e distorções entre as representações espaciais, por exemplo (SCHÄFFER, et al, 2003). Ainda de acordo com a supracitada autora, a partir do momento em que se admitiu a forma quase redonda do planeta terra tornou-se possível representá-la.
  • 40. 39 Embora a concepção do formato geóide da terra já estivesse presente entre os pensadores gregos, foi somente na Idade Média que os globos terrestres começaram a ser construídos na Europa e no Mundo Árabe. O século XVI é considerado o século de ouro da Cartografia, tendo se destacado o trabalho de diversos cartógrafos, como por exemplo, os de Mercator. Este desenvolvimento está diretamente ligado às Grandes Navegações e ao uso dos instrumentos como a bússola e o astrolábio e ainda após a viagem de circunavegação feita por Fernando de Magalhães e Sebastião Elcano entre 1512- 1522, quando a forma terrestre deixou de ser motivo de polêmica. O globo constitui a melhor forma de representação da terra, no entanto apresenta algumas dificuldades, que envolvem esta reprodução no plano. Para resolver esse problema são utilizadas as projeções cartográficas, que foram desenvolvidas para dar uma solução ao problema da transferência de uma imagem da superfície curva da esfera terrestre para um plano da carta, o que sempre vai acarretar deformações. Constituem-se de uma fórmula matemática que transforma as coordenadas geográficas, a partir de uma superfície esférica (elipsoidal), em coordenadas planas, mantendo correspondência entre elas. O uso deste artifício geométrico das projeções consegue reduzir as deformações, mas nunca eliminá-las. Foto 4 – Autoria: Kátia dos Santos Os tipos de propriedades geométricas que caracterizam as projeções cartográficas, em suas relações entre a esfera (Terra) e um plano que é o mapa, são: Conformes, quando os ângulos são mantidos idênticos (na esfera e no plano) e as áreas são deformadas; Equivalentes, quando as áreas apresentam-se idênticas e os ângulos deformados e Afiláticas, quando as áreas e os ângulos apresentam-se deformados. Segundo Frigoletto (acesso em 07 de abril de 2010), a maior parte das projeções hoje existentes deriva dos três tipos ou métodos originais, a saber: Foto 5 – Autoria: Renata Nunes
  • 41. 40 cilíndricas, cônicas e planas ou azimutais. Entre os mais conhecidos tipos de projeção cartográfica, estão as projeções de Mercator, a projeção de Peters e a projeção de Projeção de Mollweide, dentre outras. De acordo com SCHÄFER, (2003) em cartografia uma projeção é caracterizada de acordo com o olhar de quem a elabora e é escolhida de modo a selecionar e manter a correspondência que será mantida, reconhecendo as distorções que irão aparecer de acordo com a intecionalidade. Na confecção de um globo podem ser utilizadas técnicas variadas de acordo com a finalidade, no entanto alguns elementos são indispensáveis ao reconhecimento das informações constantes no mesmo, tais como:  A rede de coordenadas com identificação do Meridiano de Greenwich e da linha do Equador;  A escala, em geral colocada junto à escala;  A legenda, destacando os símbolos não convencionais, em geral colocadas sobre as áreas oceânicas;  O arco do meridiano em que aparecem os valores de latitude;  Um círculo ou calota, em geral de plástico, sobre o Pólo Norte e onde há marcação para leitura das horas. A presença destes elementos, mais a qualidade da impressão, assegurando nitidez das cores e dos símbolos, além da precisão dos traçados conferem a um globo a qualidade técnica, que potencializa a sua leitura, que consiste na decodificação de seus símbolos. A leitura do globo depende da Foto 6 – Autoria: Renata Nunes compreensão dos símbolos e códigos utilizados para representação do real e para tanto existem os códigos pré-estabelecidos, tais como as linhas, as cores, e os símbolos indicativos dos fenômenos ordenados. Esses símbolos devem falar por si. Razões para utilização do globo:  É a representação que mais se aproxima da realidade, porque a forma de um globo é muito semelhante à da terra;
  • 42. 41  Mostra em totalidade, os continentes, os oceanos e outros importantes elementos físico-geográficos da terra;  Dá uma visão geral dos aspectos físicos e da divisão política de nosso planeta;  Traz a rede de coordenadas geográficas (paralelos e meridianos) completa e sem distorções;  Permite o cálculo direto das distancias mais curtas e o traçado de rotas para navegação;  Pode ser movimentado, posicionando o eixo terrestre de diferentes maneiras, fugindo à visão estereotipada de norte e sul embaixo que se constrói por uma leitura inadequada dos mapas, que não podem ser reposicionadas, com este objetivo, com a mesma facilidade;  Possibilita a simulação dos movimentos da terra e a conseqüente compreensão da sucessão dos dias e das noites, das estações do ano, dos fusos horários, dos eclipses, etc;  Suscita muitas indagações e reflexões naqueles que o movimentam e o consultam;  É um objeto que magnetiza a atenção em qualquer faixa etária (SCHÄFFER, et al, 2003, p. 39). 5.6.2 Mapas táteis De acordo com LOCH (2008, p.39) “[...] a cartografia tátil é um ramo específico da Cartografia, que se ocupa da confecção de mapas e outros produtos cartográficos que possam ser lidos por pessoas cegas ou com baixa visão” e os mapas táteis [...]” e “[...]são representações gráficas em textura e relevo, que servem para orientação e localização de lugares e objetos às pessoas com deficiência visual”. A Geografia necessita situar com precisão na superfície da Terra, aquilo que quer estudar e analisar, assim o mapa sempre foi um importante instrumento de comunicação entre os homens desde os mais remotos tempos. Foto 7 – Autoria: Kátia dos Santos
  • 43. 42 Inicialmente, com as movimentações humanas pelo espaço terrestre, tornou- se necessário à busca por uma forma de representação do mesmo que possibilitasse registrar pontos de referência e localização das fontes de alimentos. Com o posterior desenvolvimento humano, os mapas são utilizados pela totalidade com maior ou menor intensidade para expressarem-se espacialmente com as mais variadas finalidades. Isto exige, portanto, não somente uma escritura do mesmo, mas também uma forma de interpretação dos significantes presentes. (OLIVEIRA, 2007). [...] o mapa ocupa um lugar de destaque na Geografia, porque é ao mesmo tempo instrumento de trabalho, registro e armazenamento de informação, além de um modo de expressão e comunicação, uma linguagem gráfica (OLIVEIRA, 2007, p.16.). De acordo com ALMEIDA (2007), a representação gráfica da linguagem oral nasceu da necessidade de mantê-la em depósito, de modo organizado e que possibilitasse sua divulgação, sendo detectável através da visão, o mais eficaz meio na difusão de idéias por sua abrangência, sendo os demais sentidos complementares. A pessoa com deficiência visual conta somente com a audição e o tato e quando possível com graus residuais da visão, o que prejudica sua percepção de espaço e das relações espaciais, essenciais ao cotidiano humano. A linguagem escrita foi substituída pelo sistema braille, mas uma: [...] imagem espacial não pode ser transcrita e comunicada pela linguagem convencional e por essa razão necessita de uma linguagem gráfica própria, passível de ser percebida pelo tato e também comunicada pelos sons (Almeida, 2007. p.119). A percepção do ambiente e o ensino de conceitos espaciais para pessoas com deficiência visual têm sido prejudicados devido à limitada disponibilidade de material gráfico. Sendo assim a elaboração de mapas táteis, torna-se indispensável como forma de auxiliá-los a formarem e organizarem suas imagens mentais, podendo funcionar como um recurso educativo a mais em seu processo de inclusão. Fatores como tempo e custo de produção, a falta de apoio financeiro e de pessoas especializadas na produção tem dificultado a utilização dos mesmos. Quanto à confecção de mapas táteis, esses exigem conceitos e regras distintas como, por exemplo, um maior grau de generalização, omissões e
  • 44. 43 distorções que os tornem mais eficientes no atendimento de seus propósitos. Devem ser apresentados de modo tal que permita com que sejam trabalhados menos conteúdos por vez, facilitando a apreensão. É relevante que no processo de construção de mapas táteis, sejam respondidas algumas questões básicas, como por exemplo, buscar definir quais são as limitações mais significativas, seu grau de atuação e possíveis formas de superação Além disto, é importante fazer uma releitura das variáveis visuais conhecidas para outras que possam ser apreendidas pelo tato, como a utilização de diferentes texturas, tamanhos, cores fortes no caso das pessoas com algum grau de visão residual. (ALMEIDA. R. A., 2007) 5.7 Cronograma Tabela 2 – Atividades previstas Março Abril Maio Junho Julho Levantamento Produção Escrita Últimas Dia 01: de da oficina do Verificações Apresentação Instituições e (1 semana) trabalho Escolas do trabalho Levantamento Aplicação Revisão Bibliográfico da oficina do (1 semana) trabalho Realização de Assimilação Revisão entrevistas dos final resultados
  • 45. 44 6. – CAPÍTULO 5 – O COTIDIANO ESCOLAR A PARTIR DA VIVÊNCIA, DO EXPERIMENTADO: HISTÓRIA ORAL DE COORDENADORES, PROFESSORES E ALUNOS 6.1 Entrevista 1 - Presidente do Instituto Braille do Espírito Santo – Sr. Altamares de Freitas Entrevista realizada pelo graduando Fernando Domingos Vieira Sartório, no mês de março de 2010, em Vitória/ES, com o Presidente do Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, Sr. Altamares de Freitas. Fernando: Qual o seu nome e a sua formação? Sr. Altamares: Altamares de Freitas, eu sou formado em Direito, sou advogado, né? Sou formado também em Administração de Empresas. Fernando: Você está a quanto tempo à frente da Instituição? Sr. Altamares: Dia 30 de setembro de 2008 fui eleito e tomei posse em outubro do mesmo ano. Fernando: Tomou posse em 2008, né? Setembro. Sr. Altamares: Fez um ano agora em outubro.
  • 46. 45 Fernando: E como surgiu essa oportunidade de trabalhar aqui, com as pessoas com deficiência visual? Sr. Altamares: Aconteceu através de um convite. Um amigo que era presidente do conselho me convidou para ser conselheiro do Braille, e falei que não tinha tempo... Fernando: Você não tinha experiência? Sr. Altamares: Não. E acabou que ele insistiu e eu acabei aceitando, reunião era uma vez ou outra, reunião de Conselho, né? Eu aceitei. Depois ele foi candidato a presidente e cismou que eu tinha que ser o tesoureiro dele. Eu não queria nem ser tesoureiro não, mas acabou que eu nunca fui tesoureiro em lugar nenhum. Acabei aceitando, de tanto que ele insistiu. “Não, tem que ser você.” E eu fui um tesoureiro diferente dos outros que entraram aqui. Tesoureiro tem que acompanhar o que há de fato. Fernando: O que estava acontecendo... Sr. Altamares: Lógico. Eu tenho o relatório desde o primeiro cheque que eu assinei aqui como tesoureiro. Aí depois o... esse presidente renunciou, perdeu a outra eleição e eu continuei como tesoureiro. Eleição para presidente, e eu continuei como tesoureiro. E no final do mandato eles me indicaram para ser presidente e foi por aclamação, me elegeram por aclamação. Fernando: Aqui o senhor é tesoureiro desde...
  • 47. 46 Sr. Altamares: Não, eu sou presidente. Fernando: É. Agora o senhor é presidente, mas antes, quando o senhor começou o senhor era tesoureiro desde que ano, mais ou menos? Sr. Altamares: Acabou em 2008, não é? São três anos... 2005 parece. Isso, três anos. Fernando: O senhor sabe me dizer qual é a forma correta de se referir aos indivíduos com deficiência visual? Se tem alguma forma de dizer... Sr. Altamares: É pessoa com deficiência visual. Fernando: Pessoa com deficiência visual? Sem problema nenhum? Sr. Altamares: É. Fernando: Então eu posso chegar e abordá-los dessa forma que não vai haver nenhum tipo de problema? Sr. Altamares: De jeito nenhum, é uma pessoa com deficiência visual. Mas eles não têm nenhum complexo quanto à maneira de tratá-los. Fernando: São tranqüilos em relação a isso, não é?
  • 48. 47 Sr. Altamares: São. Acabei de receber um que trabalhou aqui agora, que está lá em cima, tem tempo que ele não vem aqui. E ele tem formação superior, tem dois empregos, ele é professor. A esposa dele também tem formação superior e eles saíram daqui, trabalha na prefeitura, tem dois empregos. Fernando: Então, para eles é tranqüilo, né? Já é assim... integrado na sociedade, não é? Sr. Altamares: Já. Fernando: Quais são os projetos desenvolvidos aqui no Instituto? O que o Instituto faz? Sr. Altamares: O Instituto na verdade, ele está recomeçando, entendeu? Passou por uma fase meio difícil e hoje nós temos aqui artesanato, aula em braile, nós temos, né? Tem os artesanatos... Fernando: Semanalmente, não é? Sr. Altamares: Os dias certos eu não sei. Só a parte da educação, lá vai saber te informar. Mas nós temos aula em Braille, artesanato, temos também um início de uma industrialização de bengalas, também cabide... Tudo em fase inicial por falta de recursos, se tivesse recursos...
  • 49. 48 Fernando: E o recurso vem de onde? Vem do governo? Sr. Altamares: Nossos recursos não vêm do governo, nossos recursos vêm, todos, de pessoas que doam. Fernando: Tudo doação? Sr. Altamares: Tudo voluntariamente, as pessoas que querem contribuir. E quem vai buscar esses recursos são os deficientes visuais. É um trabalho para eles, eles ganham comissão pelo trabalho que fazem, mas eles têm que pagar também um guia. Fernando: E por enquanto, esse trabalho que é desenvolvido aqui, ele é voltado para qual faixa etária, mais ou menos? Para as pessoas mais velhas... Sr. Altamares: Nós não temos essa discriminação de faixa etária, desde que a pessoa tenha condições de aprender, né? Por exemplo, o grupo, nosso maior, de artesanato ele é já... quase que terceira idade. São mais adultos, não é? Fernando: Então, pelo tipo de oficina, acaba atraindo mais um público, não é? Sr. Altamares: É, acaba atraindo. Nós temos dança aqui. Nós estamos começando agora uma parceria com um... com a comunidade aqui de... A escola de lá precisava de espaço, nós cedemos o espaço desde que atenda os nossos deficientes. É uma coisa que está começando agora...
  • 50. 49 Fernando: Com criança... como é que é? Sr. Altamares: Qualquer idade. Fernando: Qualquer idade. Sr. Altamares: Aula de percussão também. A criançada está aprendendo percussão. Vai começar agora aula de teclado. Fernando: Então vocês trabalham com várias oficinas para atender o público em geral? Sr. Altamares: Várias oficinas. Nós estamos em fase de formação dessas oficinas exatamente por falta de recursos. Então nós temos que fazer tudo devagar, muito lento...quer dizer, tudo envolve investimento, não é? Fernando: Mas não existe, assim, nenhum pedido que vocês fazem às instituições, aos organismos do governo, e eles se recusam a atender? Ou eles ajudam? Como é que funciona? Sr. Altamares: Não, não recusa a atender. Hoje o Instituto tem problemas de... da certidão negativa, por exemplo, federal, por causa do terreno de marinha. Porque nós temos direito a isenção. Nós já entramos com o processo, ganhamos em primeira instância. Aí, demora um pouco para sair essa certidão. Nós temos uma dificuldade grande com o alvará da Vigilância Sanitária, por falta de obra. Nosso prédio é grande. Envolve um investimento grande. Então, nós não temos recursos. Nós precisamos de recursos para poder fazer as obras. O recurso público para vir
  • 51. 50 aqui, depende do alvará da Vigilância Sanitária e de outras certidões também. Então é impossível a gente conseguir hoje, o alvará da Vigilância Sanitária. Nós tínhamos aqui, pessoas morando aqui. Juntamente com o Ministério Público e a Prefeitura, houve a remoção dessas que moravam aqui. Já não tem hoje, ninguém morando mais. Então, as exigências são menores. Eu estou aguardando o relatório da Vigilância Sanitária, para ver qual a obra que a gente vai ter que fazer, para a gente... ver se a gente faz a obra com um investimento menor, porque não tem gente morando. Fernando: E até para contratar profissional, então, vocês tem dificuldades, não é? Sr. Altamares: Tudo, exatamente. Sem recurso nós não temos condições. Fernando: Quer contratar gente para oferecer e tem dificuldades... Sr. Altamares: Exatamente. Eu estou com um laboratório de informática, eu estou com o espaço lá, até mandei fazer a instalação já. E estou com um convênio aprovado com a Fundação Bradesco, mas a Fundação Bradesco não paga um profissional. E eu preciso de parceria para pagar um professor. E o professor que vem pela Fundação Bradesco, se interessou por isso, ele é cego e tem um cão-guia. O único cego que tem um cão-guia aqui em Vitória. Ele correu atrás disso, exatamente para ele ser o professor. Então nós temos que dar preferência a ele, para ele dar aula nesse caso. Mas mesmo se não tiver esse... nós estamos montando, até sem a Fundação Bradesco, nós vamos ver se nós montamos, nós mesmos montamos devagar... computador doado... Entendeu? Fernando: Aos poucos...
  • 52. 51 Sr. Altamares: As instalações estão prontas e falta a gente... conseguir os computadores todos. Fernando: E a verba para poder subsidiar o... a manutenção e o professor. Sr. Altamares: O professor. Exatamente, a manutenção e o professor. Fernando: Então, a Instituição se mantém de doações. Geralmente essas doações vêm de onde? Da população? Dos cegos que vão buscar? Sr. Altamares: Da população. Da população que faz uma proposta, não é? Eles se propõem a todo o mês dar uma contribuição. Quem vai buscar é o deficiente visual. E é um trabalho para ele, que ele também ganha comissão para isso. Fernando: Então os recursos que vocês oferecem são as oficinas, o laboratório... Ok é isso então. Eu anotei algumas coisas... Sr. Altamares: Lá em cima está funcionando. Se você quiser visitar o artesanato do pessoal, eles estão trabalhando lá em cima. Se você quiser olhar. Fernando: Eles estão trabalhando lá? Sr. Altamares: Se você quiser olhar, eles estão fazendo o artesanato deles.
  • 53. 52 Fernando: Então... eu vou lá. 6.1.1 Análise da Entrevista 1 O Instituto Braille do Espírito Santo está localizado no bairro Jesus de Nazaréth na cidade de Vitória, Espírito Santo. O Instituto possui uma edificação de grande porte, com tamanho suficiente para atender a demanda de deficientes visuais da cidade. Apesar de toda a infraestrutura que o Instituto dispõe no que diz respeito ao espaço físico, existem diversos entraves que dificultam a realização do trabalho de forma eficaz e efetiva. O diretor do Instituto, Sr. Altamares de Freitas, reclama por investimentos de infraestrutura que precisam ser feitos com urgência, no entanto, não há verba suficiente para tais. Toda a arrecadação do Instituto é oriunda de doações populares e de Instituições privadas que se propõem a investir no local. Apesar de todas as dificuldades, o Instituto Braille do Espírito Santo, capacita os cegos que o procura, através de oficinas de artesanatos - artesanatos estes que são vendidos para a comunidade em geral - além de aulas de Braille para os deficientes visuais que procuram aprender a ler e a escrever. Não existe distinção de idade no momento de aprendizagem no Instituto Braille do Espírito Santo. Pessoas de todas as idades que o procuram, têm acesso ao que o mesmo proporciona. Oficinas de percussão são oferecidas aos jovens. Além disso, a fim de promover um ambiente de integração com a sociedade em geral, o Instituto promove encontros, feiras, que levam a sociedade a se mobilizar em favor dos deficientes visuais.