SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 4
Descargar para leer sin conexión
Em época de vindima, abunda vinho a martelo
                        ( porque não vou a manifestações partidárias)



Tomando como fulcro a manifestação da CGTP de dia 29, algumas reflexões:



   1. Governo de esquerda, clama o PC/CGTP. O que é um governo de esquerda?

Um governo PC/BE para o qual nada aponta? As sondagens revelam que na ausência de
alternativa credível, o eleitorado balança, desta vez do PSD para o PS, no sentido inverso ao
verificado em meados de 2011. E a esquerda institucional não descola da sua representação
habitual, mais ou menos a mesma desde 1975.

Um governo de independentes de esquerda (como o de Pintasilgo em 1979?) como produto da
iniciativa presidencial? Com este presidente, o do BPN?

Com um PS refundado ou regenerado, disposto a romper com o torniquete do capital
financeiro que se perfila por detrás da troika? Quem acredita nisso? Vamos continuar a ter um
PS com uma liderança frágil, sem projeto, muito acusador do governo Passos mas, sem
molestar a troika com uma só palavra de desagrado. Alguém configura uma revolta dentro do
PS?

O apoio do PC/BE a um governo PS seria facilmente conseguido. Recordamos que Fazenda
recentemente perguntava o que tencionava fazer o PS quanto ao orçamento, revelando assim
a subalternidade do BE face aos desígnios do PS. Umas secretarias de estado como no governo
Dilma seriam uma prenda interessante e barata mas, recordamos que nas eleições de 1999,
Guterres preferiu comer o queijo limiano a negociar com os deputados do novel BE, então
ainda radical.

Num cenário de eleições e mesmo que o PS ganhasse, a gravidade da situação atual conduziria
um bloco central como em 1983, durante a intervenção do FMI; acreditamos que Portas até
ficaria contente por ficar de fora.

Não parece disponível qualquer solução favorável para a multidão, saída de eleições, dentro
do actual modelo político e de representação.



   2. Política de esquerda clama o PC/CGTP. Sem colocar o sistema em causa?

 Grazia.tanta@gmail.com                        29/09/2012                               1
Não se fala do sistema, o que pressupõe a sua aceitação como base consolidada de vida para
os residentes em Portugal. E há boas razões para essa aceitação. A vida parlamentar é doce, os
media estão sempre solícitos a gravar banalidades para o telejornal, os subsídios públicos para
o partido acontecem enquanto houver votantes, ser dirigente sindical é profissão sem risco de
despedimento, se se apostar no continuismo mais retrógrado, se se tiver estômago para
entreter os trabalhadores com slogans que têm decénios. E o sistema não poderia existir sem
sindicalistas macios ou coniventes, concertação social, bem como sem polícia para colocar na
ordem elementos insubmissos ao melhor dos sistemas, o da democracia de mercado.

Como o sistema não é perfeito porque lhe falta uma política de esquerda, aí estão os bravos
sindicalistas e deputados de esquerda para convencer as pessoas de que só a sua existência
permitirá, garantirá a sua implantação. E daí que seja preciso enquadrar os desalinhados,
indignados, descontentes, através da unidade em torno daqueles ungidos lideres das massas
trabalhadoras. Quem desconfiar dessa unidade, em cujo processo nunca falham manobras,
votações fantasmas, cooptações de ingénuos, é subtilmente afastado das reuniões e decisões.

Política de esquerda significa um carinho especial por médios, pequenos, pequeníssimos e
nano empresários, na senda da unidade dos portugueses honrados, inventada por Cunhal.
Empresários esses que, sem viabilidade e sem receitas, colaboram valentemente para os
números dos despedimentos enquanto apoiam os partidos da direita. Isso justifica que a
palavra capitalismo seja pouco ouvida nas chefias da esquerda institucional.

Política de esquerda é o silêncio sobre o modelo político atual, sobre este sistema de
representação que nomeia mais do que elege? O apoio à mascarada das assembleias
municipais, à inviabilidade subversiva dos referendos, a recusa, mesmo a um muito tímido
orçamento “participativo”?

Ora se os sindicatos são um exemplo evidente de uma profunda falta de democracia, não cabe
à CGTP colocar na agenda reivindicações democráticas. Dentro da lógica do centralismo
democrático, o comité central é a fonte de toda a legitimidade.



    3. Política patriótica clama o PC/CGTP. O que será isso quando as nações se tornam
       autarquias?

Aceita-se implicitamente – ao descartar soluções solidárias e concertadas com outras vítimas
da troika – que não somos gregos, como se ouve da boca dos membros do governo. Não
nascemos na Grécia mas, de facto, estamos todos gregos, nós os helénicos, os hispânicos…

Cá, como nos outros países, as burocracias sindicais cuidam da sua sobrevivência e da
manutenção dos seus serviços de controlo social, prestados no âmbito da sua pertença às
 Grazia.tanta@gmail.com                         29/09/2012                                2
respetivas oligarquias nacionais. Como o seu quadro é estritamente nacional, como é nesse
quadro que se joga a sua sobrevivência, a adopção de um discurso patriótico é necessário.

Como não têm o arrojo de denunciar e combater o capitalismo global, o sistema financeiro
dominante, ou as anti-democráticas instituições comunitárias e internacionais, - embora intra-
muros defendam a saída do euro - os nossos sindicalistas e o seu partido fixam-se na troika,
retirando daí argumentos para o seu discurso nacionalista que, indiretamente, retira
visibilidade às reivindicações da extrema direita.



   4. O futuro dos grupos e do movimento indignado nascido o ano passado

Tem sido expresso pela parte maioritária do movimento a defesa de fórmulas de democracia
direta, de assembleismo, de horizontalidade e ausência de chefias. E uma afirmação de que
“eles não nos representam”.

A despolitização gerada nas mais jovens gerações, pela classe política, desde a “normalização”
de novembro de 1975, afastou-as tanto dos partidos políticos como da prática política; e,
dessa inexperiência, sai uma concepção romântica da unidade, como algo que dispensa uma
criteriosa construção. Convencem-se da bondade de elementos com objetivos ínvios de
captação da generosidade, do desejo de mudança daqueles jovens, para integrarem a sua
criatividade na órbita e sob a bandeira das instituições do sistema ou de grupos candidatos a
um reconhecimento por parte daquele. E, claro, tratarão de untar ou mimar alguns, com
ofertas de emprego ou candidaturas a lugares políticos ou, mais simplesmente, dando-lhes
protagonismo.

Sinteticamente,

   •   Como se coaduna a procura de formas democráticas, de reformulação do sistema
       político e de representação, com a presença em manifestações e eventos patrocinados
       por burocracias avessas à democracia, como a CGTP e o PC?

   •   Como se coaduna a horizontalidade, a ausência de hierarquias, a discussão coletiva,
       com a presença subordinada em eventos onde é claramente definida uma orientação
       partidária como resolução dos problemas do “país”? Onde há um orador de serviço – o
       distinto Arménio – membro do comité central de uma relíquia da guerra fria?

   •   Depois das várias manifestações e eventos abertos e plurais que se desenvolvem
       desde o ano passado, vamos confluir em eventos da CGTP ou dirigidos por controleiros
       trotskistas? Vamos desistir da autonomia, da afirmação de formas democráticas de


 Grazia.tanta@gmail.com                         29/09/2012                               3
funcionamento, descredibilizando-nos perante as pessoas que assim, verão nisso que
      “são todos iguais”?

  •   Vamos andar de evento em evento, ora ornamentando a unidade na submissão aos
      desígnios da CGTP/PC, ora inseridos na orla do BE? É assim muito difícil de entender
      que as estratégias partidárias passam exclusivamente pelo aumento do seu
      financiamento público e do seu peso específico dentro do sistema político e
      económico, que nos condena à pobreza ou ao genocídio? Que as estratégias
      partidárias passam precisamente pela inexistência de autonomia, de projeto e de
      estratégia por parte do movimento social?




Grazia.tanta@gmail.com                       29/09/2012                              4

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Elisio Estanque
 
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14Elisio Estanque
 
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerdaA democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerdaGRAZIA TANTA
 
Social-democracia e aparelhismo
Social-democracia e aparelhismoSocial-democracia e aparelhismo
Social-democracia e aparelhismoElisio Estanque
 
Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia Miguel Rosario
 
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014Elisio Estanque
 
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)GRAZIA TANTA
 
Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em PortugalSobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em PortugalGRAZIA TANTA
 
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentosDepois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentosGRAZIA TANTA
 
Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo Elisio Estanque
 
Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Elisio Estanque
 
Moção Sectorial - Renovação Política
Moção Sectorial - Renovação PolíticaMoção Sectorial - Renovação Política
Moção Sectorial - Renovação Políticajsribatejo
 
Elites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluçõesElites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluçõesElisio Estanque
 
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdadeA uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdadeGRAZIA TANTA
 
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Elisio Estanque
 
A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicosA Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicosGRAZIA TANTA
 
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012Elisio Estanque
 
Presidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democráticoPresidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democráticoGRAZIA TANTA
 
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17Elisio Estanque
 

La actualidad más candente (20)

Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
Ps, pc e a esquerda desavinda publico 01.10-2014
 
Etica
EticaEtica
Etica
 
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
Onde pára o socialismo ee publico_02.06.14
 
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerdaA democracia de mercado e a actuação da esquerda
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
 
Social-democracia e aparelhismo
Social-democracia e aparelhismoSocial-democracia e aparelhismo
Social-democracia e aparelhismo
 
Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia Manifesto do PT da periferia
Manifesto do PT da periferia
 
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
Ee .carta aberta de um ex militante-jun_2014
 
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
Social democracia. afunda-se ou renova-se (1ª parte)
 
Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em PortugalSobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
Sobrevoando 40 anos de eleições em Portugal
 
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentosDepois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
Depois da romaria eleitoral o programa segue dentro de momentos
 
Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo Entre o populismo e o euroceticismo
Entre o populismo e o euroceticismo
 
Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?Uma 'geringonça' para o Brasil?
Uma 'geringonça' para o Brasil?
 
Moção Sectorial - Renovação Política
Moção Sectorial - Renovação PolíticaMoção Sectorial - Renovação Política
Moção Sectorial - Renovação Política
 
Elites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluçõesElites, lideres e revoluções
Elites, lideres e revoluções
 
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdadeA uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
A uma democracia de controlo poderá suceder uma democracia de liberdade
 
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
Da reuniao esquerdas ee af_publico_08.06.2013
 
A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicosA Constituição (CRP)  e alguns dos seus princípios oligárquicos
A Constituição (CRP) e alguns dos seus princípios oligárquicos
 
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
Público 12 passos troikados ee_16.09.2012
 
Presidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democráticoPresidente da república – figura dispensável num regime democrático
Presidente da república – figura dispensável num regime democrático
 
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
Ee juventude bloqueada (i) publico_18.05.17
 

Destacado

Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138
Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138
Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138Neves Corretor
 
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoO pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoGRAZIA TANTA
 
MS Business intelligence | Fabio Marçolia
MS Business intelligence | Fabio MarçoliaMS Business intelligence | Fabio Marçolia
MS Business intelligence | Fabio MarçoliaFábio Marçolia
 

Destacado (8)

Algebra Arrayan
Algebra ArrayanAlgebra Arrayan
Algebra Arrayan
 
Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138
Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138
Victoria Bay Residencial - imagens tour - Neves (27) 8825-2138
 
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoO pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
 
Prog habilidadsocial<
Prog habilidadsocial<Prog habilidadsocial<
Prog habilidadsocial<
 
02 docentes buenas ideas
02 docentes buenas ideas02 docentes buenas ideas
02 docentes buenas ideas
 
Estado
EstadoEstado
Estado
 
Unidade 3 ativ_3
Unidade 3 ativ_3Unidade 3 ativ_3
Unidade 3 ativ_3
 
MS Business intelligence | Fabio Marçolia
MS Business intelligence | Fabio MarçoliaMS Business intelligence | Fabio Marçolia
MS Business intelligence | Fabio Marçolia
 

Similar a Manifestações e política de esquerda questionadas

A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaA Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaGRAZIA TANTA
 
Tese municipal chapa lutar e resistir
Tese municipal   chapa lutar e resistirTese municipal   chapa lutar e resistir
Tese municipal chapa lutar e resistirSofia Cavedon
 
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial GRAZIA TANTA
 
Bss entrevista istoé
Bss entrevista istoéBss entrevista istoé
Bss entrevista istoéjlexeni
 
Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏
Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏
Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏Lucio Borges
 
Votar para quê e para quem parlamento europeu
Votar para quê e para quem   parlamento europeuVotar para quê e para quem   parlamento europeu
Votar para quê e para quem parlamento europeuGRAZIA TANTA
 
DS tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)
DS   tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)DS   tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)
DS tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)Sofia Cavedon
 
Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)
Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)
Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)GRAZIA TANTA
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-GRAZIA TANTA
 
Democracia ou cleptocracia
Democracia ou cleptocraciaDemocracia ou cleptocracia
Democracia ou cleptocraciaGRAZIA TANTA
 
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal UFPB
 
O sistema partidário português
O sistema partidário  portuguêsO sistema partidário  português
O sistema partidário portuguêsGRAZIA TANTA
 
A propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza Pereira
A propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza PereiraA propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza Pereira
A propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza PereiraMonitor Científico FaBCI
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construçãoO que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construçãoGRAZIA TANTA
 
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarinsEleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarinsGRAZIA TANTA
 
Democracia, democracia das empresas e wikileaks
Democracia, democracia das empresas e wikileaksDemocracia, democracia das empresas e wikileaks
Democracia, democracia das empresas e wikileaksGRAZIA TANTA
 

Similar a Manifestações e política de esquerda questionadas (20)

A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesaA Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
A Grécia, o Syriza e a esquerda menor portuguesa
 
Rms reafirmar o-papel_historico_do_pt
Rms   reafirmar o-papel_historico_do_ptRms   reafirmar o-papel_historico_do_pt
Rms reafirmar o-papel_historico_do_pt
 
Tese municipal chapa lutar e resistir
Tese municipal   chapa lutar e resistirTese municipal   chapa lutar e resistir
Tese municipal chapa lutar e resistir
 
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial Paródia na paróquia – a eleição presidencial
Paródia na paróquia – a eleição presidencial
 
Bss entrevista istoé
Bss entrevista istoéBss entrevista istoé
Bss entrevista istoé
 
Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏
Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏
Jornal Inconfidência nº 226 de 30 de abril/2016‏
 
Votar para quê e para quem parlamento europeu
Votar para quê e para quem   parlamento europeuVotar para quê e para quem   parlamento europeu
Votar para quê e para quem parlamento europeu
 
DS tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)
DS   tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)DS   tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)
DS tese chapa DM - lula livre - ds e ed - ped - 2019 (1)
 
Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)
Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)
Um internacionalismo do século xxi, contra o capitalismo e o nacionalismo (2)
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
 
Democracia ou cleptocracia
Democracia ou cleptocraciaDemocracia ou cleptocracia
Democracia ou cleptocracia
 
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
Manifestações nas ruas, as eleições em 2014 e a política do Bem X Mal
 
O sistema partidário português
O sistema partidário  portuguêsO sistema partidário  português
O sistema partidário português
 
Ds democracia socialista
Ds   democracia socialistaDs   democracia socialista
Ds democracia socialista
 
A propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza Pereira
A propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza PereiraA propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza Pereira
A propaganda eleitoral no Brasil - Cristiano Neves de Souza Pereira
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construçãoO que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
O que é uma esquerda. Pilares para a sua construção
 
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarinsEleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
Eleições autárquicas – questões para incomodar mandarins
 
Plano de Governo - Victor Assis
Plano de Governo - Victor AssisPlano de Governo - Victor Assis
Plano de Governo - Victor Assis
 
Democracia, democracia das empresas e wikileaks
Democracia, democracia das empresas e wikileaksDemocracia, democracia das empresas e wikileaks
Democracia, democracia das empresas e wikileaks
 

Más de GRAZIA TANTA

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docGRAZIA TANTA
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGRAZIA TANTA
 

Más de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the loose
 

Manifestações e política de esquerda questionadas

  • 1. Em época de vindima, abunda vinho a martelo ( porque não vou a manifestações partidárias) Tomando como fulcro a manifestação da CGTP de dia 29, algumas reflexões: 1. Governo de esquerda, clama o PC/CGTP. O que é um governo de esquerda? Um governo PC/BE para o qual nada aponta? As sondagens revelam que na ausência de alternativa credível, o eleitorado balança, desta vez do PSD para o PS, no sentido inverso ao verificado em meados de 2011. E a esquerda institucional não descola da sua representação habitual, mais ou menos a mesma desde 1975. Um governo de independentes de esquerda (como o de Pintasilgo em 1979?) como produto da iniciativa presidencial? Com este presidente, o do BPN? Com um PS refundado ou regenerado, disposto a romper com o torniquete do capital financeiro que se perfila por detrás da troika? Quem acredita nisso? Vamos continuar a ter um PS com uma liderança frágil, sem projeto, muito acusador do governo Passos mas, sem molestar a troika com uma só palavra de desagrado. Alguém configura uma revolta dentro do PS? O apoio do PC/BE a um governo PS seria facilmente conseguido. Recordamos que Fazenda recentemente perguntava o que tencionava fazer o PS quanto ao orçamento, revelando assim a subalternidade do BE face aos desígnios do PS. Umas secretarias de estado como no governo Dilma seriam uma prenda interessante e barata mas, recordamos que nas eleições de 1999, Guterres preferiu comer o queijo limiano a negociar com os deputados do novel BE, então ainda radical. Num cenário de eleições e mesmo que o PS ganhasse, a gravidade da situação atual conduziria um bloco central como em 1983, durante a intervenção do FMI; acreditamos que Portas até ficaria contente por ficar de fora. Não parece disponível qualquer solução favorável para a multidão, saída de eleições, dentro do actual modelo político e de representação. 2. Política de esquerda clama o PC/CGTP. Sem colocar o sistema em causa? Grazia.tanta@gmail.com 29/09/2012 1
  • 2. Não se fala do sistema, o que pressupõe a sua aceitação como base consolidada de vida para os residentes em Portugal. E há boas razões para essa aceitação. A vida parlamentar é doce, os media estão sempre solícitos a gravar banalidades para o telejornal, os subsídios públicos para o partido acontecem enquanto houver votantes, ser dirigente sindical é profissão sem risco de despedimento, se se apostar no continuismo mais retrógrado, se se tiver estômago para entreter os trabalhadores com slogans que têm decénios. E o sistema não poderia existir sem sindicalistas macios ou coniventes, concertação social, bem como sem polícia para colocar na ordem elementos insubmissos ao melhor dos sistemas, o da democracia de mercado. Como o sistema não é perfeito porque lhe falta uma política de esquerda, aí estão os bravos sindicalistas e deputados de esquerda para convencer as pessoas de que só a sua existência permitirá, garantirá a sua implantação. E daí que seja preciso enquadrar os desalinhados, indignados, descontentes, através da unidade em torno daqueles ungidos lideres das massas trabalhadoras. Quem desconfiar dessa unidade, em cujo processo nunca falham manobras, votações fantasmas, cooptações de ingénuos, é subtilmente afastado das reuniões e decisões. Política de esquerda significa um carinho especial por médios, pequenos, pequeníssimos e nano empresários, na senda da unidade dos portugueses honrados, inventada por Cunhal. Empresários esses que, sem viabilidade e sem receitas, colaboram valentemente para os números dos despedimentos enquanto apoiam os partidos da direita. Isso justifica que a palavra capitalismo seja pouco ouvida nas chefias da esquerda institucional. Política de esquerda é o silêncio sobre o modelo político atual, sobre este sistema de representação que nomeia mais do que elege? O apoio à mascarada das assembleias municipais, à inviabilidade subversiva dos referendos, a recusa, mesmo a um muito tímido orçamento “participativo”? Ora se os sindicatos são um exemplo evidente de uma profunda falta de democracia, não cabe à CGTP colocar na agenda reivindicações democráticas. Dentro da lógica do centralismo democrático, o comité central é a fonte de toda a legitimidade. 3. Política patriótica clama o PC/CGTP. O que será isso quando as nações se tornam autarquias? Aceita-se implicitamente – ao descartar soluções solidárias e concertadas com outras vítimas da troika – que não somos gregos, como se ouve da boca dos membros do governo. Não nascemos na Grécia mas, de facto, estamos todos gregos, nós os helénicos, os hispânicos… Cá, como nos outros países, as burocracias sindicais cuidam da sua sobrevivência e da manutenção dos seus serviços de controlo social, prestados no âmbito da sua pertença às Grazia.tanta@gmail.com 29/09/2012 2
  • 3. respetivas oligarquias nacionais. Como o seu quadro é estritamente nacional, como é nesse quadro que se joga a sua sobrevivência, a adopção de um discurso patriótico é necessário. Como não têm o arrojo de denunciar e combater o capitalismo global, o sistema financeiro dominante, ou as anti-democráticas instituições comunitárias e internacionais, - embora intra- muros defendam a saída do euro - os nossos sindicalistas e o seu partido fixam-se na troika, retirando daí argumentos para o seu discurso nacionalista que, indiretamente, retira visibilidade às reivindicações da extrema direita. 4. O futuro dos grupos e do movimento indignado nascido o ano passado Tem sido expresso pela parte maioritária do movimento a defesa de fórmulas de democracia direta, de assembleismo, de horizontalidade e ausência de chefias. E uma afirmação de que “eles não nos representam”. A despolitização gerada nas mais jovens gerações, pela classe política, desde a “normalização” de novembro de 1975, afastou-as tanto dos partidos políticos como da prática política; e, dessa inexperiência, sai uma concepção romântica da unidade, como algo que dispensa uma criteriosa construção. Convencem-se da bondade de elementos com objetivos ínvios de captação da generosidade, do desejo de mudança daqueles jovens, para integrarem a sua criatividade na órbita e sob a bandeira das instituições do sistema ou de grupos candidatos a um reconhecimento por parte daquele. E, claro, tratarão de untar ou mimar alguns, com ofertas de emprego ou candidaturas a lugares políticos ou, mais simplesmente, dando-lhes protagonismo. Sinteticamente, • Como se coaduna a procura de formas democráticas, de reformulação do sistema político e de representação, com a presença em manifestações e eventos patrocinados por burocracias avessas à democracia, como a CGTP e o PC? • Como se coaduna a horizontalidade, a ausência de hierarquias, a discussão coletiva, com a presença subordinada em eventos onde é claramente definida uma orientação partidária como resolução dos problemas do “país”? Onde há um orador de serviço – o distinto Arménio – membro do comité central de uma relíquia da guerra fria? • Depois das várias manifestações e eventos abertos e plurais que se desenvolvem desde o ano passado, vamos confluir em eventos da CGTP ou dirigidos por controleiros trotskistas? Vamos desistir da autonomia, da afirmação de formas democráticas de Grazia.tanta@gmail.com 29/09/2012 3
  • 4. funcionamento, descredibilizando-nos perante as pessoas que assim, verão nisso que “são todos iguais”? • Vamos andar de evento em evento, ora ornamentando a unidade na submissão aos desígnios da CGTP/PC, ora inseridos na orla do BE? É assim muito difícil de entender que as estratégias partidárias passam exclusivamente pelo aumento do seu financiamento público e do seu peso específico dentro do sistema político e económico, que nos condena à pobreza ou ao genocídio? Que as estratégias partidárias passam precisamente pela inexistência de autonomia, de projeto e de estratégia por parte do movimento social? Grazia.tanta@gmail.com 29/09/2012 4