1. 1
Nomes
Ester Maria Dreher Heuser
Luciana Alves Pinto
Michelle Silvestre Cabral
A literatura é a exploração do nome: Proust fez sair todo um mundo
desses poucos sons: Guermantes. No fundo, o escritor tem sempre em
si a crença de que os signos não são arbitrários e que o nome é uma
propriedade natural da coisa: os escritores estão ao lado de Cratilo,
não de Hermógenes.
Roland Barthes
Desenvolver uma reflexão sobre o conceito de nome é tanto desafiador quanto
provocador; sobretudo por se tratar de um tema já plenamente naturalizado, algo já
demasiadamente comum e prosaico. Poder-se-ia perguntar: Qual a importância de um
questionamento como este em meio a tantos conteúdos previstos pelo currículo do
Ensino Fundamental? Talvez, o mérito maior esteja justamente em estimular um apetite
que parece estar presente na maior parte das crianças: o impulso questionante. Tal
impulso, constitui-se, muitas vezes, num inconveniente para a sociedade atual: por que
se perguntar sobre uma coisa dada? Coisas comuns, ordinárias, há muito
consensualizadas? Quais as razões para que as coisas tenham nome? Esta não é uma
pergunta que tenha utilidade ou finalidade para a comunidade escolar ou para a vida nos
dias de hoje.
Talvez, sob a sombra dessa recusa iminente, se encontre assaz velado o legado
que persiste subjacente ao problema de como conceber o ato de educar. O ideal
utilitarista e objetivista, erigido na modernidade, ainda causa fortes influências e se
imiscui, de modo oculto, nas concepções de sujeito aprendiz e professor mestre que
pautam a relação estudante-professor na escola atualmente. Problematizar tais
concepções, desnaturalizar as relações, descortinar os pressupostos implicados nas
formulações mais arraigadas, entre outras coisas, constituem-se ocupações propriamente
filosóficas. Neste sentido, partir de conceitos aparentemente banais pode ser o início de
um caminho profícuo para distender, alargar, desdobrar a atitude crítica diante de um
mundo aparentemente já dado.
A oficina Nomes1 foi inventada com o objetivo de abrir um caminho de
1
Esta oficina faz parte do Projeto Escrileituras: um modo de ler e escrever em meio à vida e foi
desenvolvida numa turma de 3º ano do ensino fundamental da Escola Municipal André Zênere, localizada
na cidade de Toledo-PR.
2. 2
reflexão filosófica a partir da problematização de um conceito, retirado do cotidiano
das crianças, e considerado algo necessário, inquestionável. A discussão em torno dos
elementos implicados no conceito de nomes aparece já na Grécia Antiga no diálogo
Crátilo de Platão2. Como já tradicionalmente aceito, o diálogo platônico versa sobre a
adequação, a justeza dos nomes (orthotês onomatôn), dando origem as posteriores
investigações sobre o conceito de proposição e a construção dos discursos. No diálogo,
a personagem Sócrates examina as teses divergentes de Hermógenes e Crátilo. De
acordo com Hermógenes, os nomes seriam resultado de pura convenção, acordo, ou
seja, resultado do costume e da tradição. Contrapondo-se a este, Crátilo3 defende que,
(...) existe uma denominação exata e justa para cada um dos seres; um nome
não é a designação que, segundo um acordo, algumas pessoas dão a um
objeto, assinalando-o com uma parte de sua linguagem, senão que
naturalmente existe tanto para os gregos como para os bárbaros uma maneira
exata de denominar os seres que é idêntica para todos4.
De acordo, portanto, com Crátilo, os nomes espelham a natureza das coisas e,
seguindo a tradição heraclitiana de interpretação, esta consiste em ser um fluxo
constante. Tais teses apontam para dois caminhos divergentes: o relativismo de
Hermógenes e o ceticismo resultante da doutrina heraclitiana a respeito da mutabilidade
das coisas defendido por Crátilo. Diante de tais divergências, Sócrates é convidado a
participar do debate e auxiliar a encontrar uma saída adequada para a questão. Sócrates,
então, apresenta a tese (supostamente ensejada por Platão) de que os nomes espelham
sim a natureza das coisas, mas que esta consiste em ser, essencialmente, permanência e
não fluxo, como queria Crátilo na esteira de Heráclito.
A discussão desdobra-se na questão de determinar o desmembramento ou não
da associação entre linguagem e conhecimento, ou seja, em determinar a possibilidade
ou não da linguagem dizer as coisas tais como estas são. Se os nomes, pensados
enquanto imitações da realidade, abarcam ambiguidade de significados, poderiam tanto
significar a imagem de uma realidade que é puro fluxo quanto uma que se constitui
como permanência do mesmo. Como resultado, tornar-se-ia impossível determinar um
critério legítimo capaz de nortear a demarcação da verdade, o que colocaria em risco a
2
PLATÃO, 1972.
3
Crátilo foi discípulo de Heráclito e mestre de Platão, anteriormente a Sócrates.
4
PLATÃO, 1972, p. 508.
3. 3
própria possibilidade do conhecimento. Do resultado desta discussão depende toda a
dimensão dialógica e pedagógica da filosofia e do conhecimento como um todo, na
medida em que este depende do elemento linguístico para se concretizar e garantir sua
universalidade e objetividade.
No Crátilo, Platão desenvolve a tese de que para falar bem é necessário atender
às normas que determinam a maneira e os meios que as coisas têm de expressar e de ser
expressas por meio da palavra. O ato de falar nomeando é um ato que se refere às
coisas, pois nomear um objeto é uma parte da ação de falar. Para nomear um objeto é
necessário um nome, por isso um nome é o instrumento apropriado para nomear,
permitindo distinguir, separar (diakritikôs) e ensinar (didaskalilkôs) a essência das
coisas5. Neste sentido, para que possa cumprir sua função de instruir, o nome deve ser
usado de forma apropriada, conveniente e o dialético é apresentado como aquele que
sabe fazê-lo, de modo mais adequado.
Assim, os nomes enquanto instrumentos, são fabricados por um legislador de
nomes: o nomoteta. O bom instrutor (dialético) utiliza a obra do legislador (nomoteta)
servindo-se do nome. Mas nem todo homem pode legislar: o legislador deve ser aquele
que sabe impor aos sons e às sílabas o nome apropriado a cada objeto, que sabe o que é
o nome em si mesmo, de modo a poder criar e estabelecer todos os nomes segundo o
que é preciso. De acordo com Montenegro, comentando o diálogo Crátilo:
A seção dedicada às etimologias vem justamente ilustrar aquilo que, no plano
interno do diálogo, Sócrates acaba de obter de Hermógenes: 1) a renúncia ao
convencionalismo em prol da tese segundo a qual os nomes têm uma
correção por natureza (tese defendida por Crátilo!); 2) a anuência quanto à
idéia de que a atividade de nomear não se estende a todos, estando restrita a
alguns (...). Por meio do método de perguntas e respostas, Sócrates – que
encarna o papel do filósofo/dialético –, acaba por subverter os sentidos
comumente atribuídos aos nomes, admitindo a supressão ou o acréscimo de
letras e sílabas, a fim de obter o sentido filosófico almejado 6.
O diálogo chega ao final sem que Sócrates defina uma posição clara em favor
das teses apresentadas por Hermógenes, que vê os nomes como o resultado de uma
convenção, nem das de Crátilo que afirma que os nomes são estabelecidos em
5
Tal definição parece coincidir com a definição de dialética apresentada no Sofista: divisão por gêneros,
de modo a não tomar por outra uma forma que é a mesma, nem pela mesma uma forma que é outra
(PLATÃO apud MONTENEGRO, 2007, p. 371).
6
Ibidem.
4. 4
conformidade com o fluxo essencial das coisas. Para muitos comentadores, isto apenas
ilustra o caráter aporético das obras platônicas. Contra tal tese, Montenegro defende que
Platão oferece saídas para tais aporias, justamente na parte do diálogo dedicada às
etimologias. Neste sentido, afirma:
Lembremos que um dos últimos termos que Sócrates toma para análise é
justamente o termo "conhecimento" (epistêmê), aquilo que se supunha ser
tarefa da filosofia viabilizar pela linguagem. Mediante a análise, tem-se que,
ao invés de ser o movimento da alma que acompanha o movimento das
coisas, o conhecimento consiste naquilo que fixa (histêsin) a nossa alma nas
coisas (Crátilo 437a). Logo em seguida, acrescenta que o sentido de “relato”,
(historia) e, por conseguinte, algo que compete ao lógos, é o de fixar o fluxo
(histêsitonrhoun – 437b). Conhecer, portanto, significaria apreender, pelo
relato, a natureza das coisas, entendendo natureza como princípio, essência.
Desse modo, o conhecimento é o acesso àquilo que permanece como é.
Contrariamente ao que parecem apontar as aporias no final do Crátilo, tem-
se, a partir do próprio diálogo, sobretudo no exame das etimologias,
elementos para se pensar que o acesso ao conhecimento só pode se dar pelo
lógos, portanto, pela linguagem.7
Haveria que se levar em conta, segundo Montenegro, uma possível associação
entre a concepção platônica de significação e uma ontologia das formas e da alma,
presente na referida parte do diálogo Crátilo. Os nomes, sendo os instrumentos para o
conhecimento (que possibilitam o separar e o ensinar), serviriam à função última da
dialética, que coincide com a tarefa da filosofia. E, compreendendo o conhecimento
como aquilo que fixa nossa alma nas coisas, a linguagem representaria a possibilidade
mesma de tal fixação8. A viabilização de tal procedimento, portanto, implica o contexto
de uma relação mestre-discípulo, a qual se caracteriza, de acordo com o pensamento
platônico, eminentemente no âmbito da linguagem.
De acordo com o propósito desta oficina, contudo, importa destacar uma
característica intrínseca ao discurso platônico sobre a linguagem e a atividade
pedagógica, qual seja, de que para cada alma, em sentido estrito, deve haver um
discurso que melhor lhe convenha. Concordando com Montenegro, "não pode haver
conhecimento sem a intervenção da linguagem. Consequentemente, não pode haver
linguagem sem a possibilidade da polissemia"9. O cenário aporético sob o qual é
desenvolvida a reflexão platônica sobre a justeza dos nomes, portanto, talvez constitua
7
Idem, p. 374.
8
Ibidem.
9
Idem, p. 376.
5. 5
um elemento necessário à perspectiva da filosofia enquanto atividade e não meramente
transmissão de doutrinas. Neste sentido, o modelo dialético do pensamento platônico
serve como ilustração e orientação numa proposta de discussão sobre o conceito de
nomes na contemporaneidade.
Meios
Num primeiro momento da oficina, a intenção será de instigar os estudantes a
refletirem sobre a relação entre os nomes e os objetos que estes indicam de modo a
inserir o questionamento sobre o caráter natural ou convencional dessa relação. Num
segundo momento, aprofundando o problema, proporemos algumas dinâmicas10 que
estimulem a criação de nomes para diferentes objetos/imagens, problematizando a
questão sobre a necessidade ou não de que o nome indique uma característica do objeto
nomeado. Em seguida, numa terceira etapa, pretende-se inserir a dimensão da
significação como terceiro elemento a complementar a estrutura da linguagem. Nesta
fase, as dinâmicas terão como foco a reflexão sobre os diferentes sentidos que um
mesmo nome pode assumir de acordo com o contexto. Segue abaixo a exposição dos
elementos necessários à realização da oficina, bem como a descrição sintética das
dinâmicas.
Objetivos:
Investigar filosoficamente os elementos semânticos e linguísticos implicados num
nome;
Propiciar estratégias de diálogos investigativos que instiguem os participantes a
desnaturalizar suas concepções sobre o conceito de nome;
Oportunizar e incitar disposições criativas e inventivas que possibilitem a
reinvenção de nomes já dados e pré-fixados;
Desenvolver nos participantes o pensamento reflexivo, crítico, criativo e cuidadoso.
Estimular o hábito de apresentar razões para os argumentos através de
questionamentos bem orientados;
10
Todas as dinâmicas foram concebidas com intuito de possibilitar a agregação entre o rigor da reflexão
filosófica e o universo lúdico das crianças, buscando proporcionar um encontro (tradicionalmente
negado) entre estas duas dimensões. Acredita-se que tal realização, ao contrário do que em geral se
postula, possa gerar um enriquecimento positivo para ambas as partes.
6. 6
Procedimentos metodológicos:
Leitura, em conjunto, de obras de literatura infanto-juvenil que tratem do tema
proposto;
Realização de atividades que promovam a compreensão de noções como grupo,
equipe, união, cooperação, colaboração, segurança, etc.
Desenvolvimento de diálogos reflexivos que proporcionem o aprimoramento do
pensamento crítico, criativo e ético;
Produção:
Produção de textos curtos a partir dos diálogos e reflexões sobre os conceitos
apresentados;
Elaboração de acrósticos, nos quais as letras dos nomes dos participantes são
utilizadas para compor nomes de características suas.
Texto descritivo, a partir da observação de diferentes objetos de uso cotidiano.
Criação de texto coletivo.
Materiais:
Diversos objetos que tenham dois ou mais nomes dentro de uma bolsa (por exemplo
bonecos de algum personagem conhecido, óculos de sol ou colorido, alimentos
como bergamota [mexerica, tangerina], mandioca [aipim, macaxeira]; cédula de
dinheiro; miniaturas de monumentos; etc.).
Pompom, bolinha ou qualquer objeto que possa ser utilizado como moderador da
discussão, determinando quem está de posse da palavra naquele momento.
Lápis de cor, lápis preto, borracha; canetas hidrográficas;;
Textos de literatura selecionados;
Folhas sulfite e/ou fichas de cartolina (para registro das questões que orientarão os
diálogos);
Imagens (pessoas famosas, personagens conhecidos, obras artísticas, etc.);
7. 7
Artifícios
I – Mais de um nome/ Quantos nomes você tem? 11
Procedimento:
Parte 1
Dispor um recipiente (bolsa ou mochila ou sacola) contendo alguns objetos no
centro do círculo no qual os participantes estão dispostos e pedir que algo de dentro
do recipiente. Perguntar: “Isto tem nome?”. Registrar, numa folha de sulfite, os
nomes que forem sugeridos. Repetir o procedimento até que todos os objetos
tenham sido nomeados. O intuito é ressaltar o fato de que, com frequência, os
objetos têm mais de um nome, embora, em geral, isto não seja notado ou observado,
não constituindo, portanto, um movedor do pensamento.
Em seguida, pedir que os participantes escrevam numa folha seus nomes completos.
Peça, também, que escrevam seus apelidos.
Parte 2
Leitura, em conjunto, da história Marcelo, marmelo, martelo, de Ruth Rocha;
Dialogar com os participantes sobre as questões suscitadas pela leitura do livro.
Concomitantemente, podem ser distribuídas fichas com questionamentos pré-
elaborados diante dos participantes e solicitado que escolham uma. Após respondê-
las devem abrir a discussão para que todos possam participar concordando ou
discordando das posições apresentadas e formulando razões para suas afirmações.
Sugestões de questões:
Você tem mais de um nome? Explique. / Se alguém tem o mesmo nome que você,
isso faz com que sejam a mesma pessoa? / Se você tivesse um nome diferente,
seria uma pessoa diferente? / Um nome pode indicar como a pessoa é? / Um
nome pode ajudar a identificar algo ou alguém? Como? / Você usa seu nome
quando conversa consigo mesmo? / Todas as coisas têm nome? / Tudo poderia
ter o mesmo nome? / Podemos chamar a cadeira de Maria? / Dá para comprar
um novo nome? E para vender seu nome? / Será que os nomes têm histórias?/ O
nome pode guardar a história de quem nomeia? Como?
11
Algumas atividades foram inspiradas em sugestões encontradas nos Manuais do Professor que
acompanham as novelas lipmanianas (redigidos por Lipman e seus colaboradores), bem como nas
valiosas sugestões feitas por Jackson e Oho (1998) no artigo “Preparando-se para filosofar”. Como toda
apropriação, o processo implicou, necessariamente, reelaborações, reformulações, re-adaptações,
transformações, etc. (Conf. CORAZZA, 2011, pp. 66-69).
8. 8
Parte 3
Pedir aos participantes que registrem numa folha sua compreensão sobre as
questões: "Para que servem os nomes?", "Como surgem os nomes?", "Em que
consiste o nome?".
II – Acróstico
Procedimento:
Escrever o nome de cada participante numa folha de sulfite e pedir que eles façam
um acróstico, no qual cada letra de seu nome deverá compor o nome de uma
característica sua.
III – Relacionando características e nomes a animais
Procedimento:
Entregar aos participantes uma lista com nomes de alguns animais e outra com
algumas sugestões de nomes para estes (os nomes podem sugerir uma característica
de cada um). Pedir que pensem e registrem os critérios para determinar a adequação
dos nomes aos animais nomeados. Em seguida, solicitar que recortem e colem o
nome escolhido em frente ao nome do animal. Sugestões:
Lista de animais: elefante, tatu, morcego, tamanduá, girafa, castor, cobra,
cachorro, cervo, rato, tucano, gato, lesma.
Lista de nomes: Lustrosa, Dentão, Cavernoso, Bicudo, Bicuço, Cascão, Latildo,
Bichento, Rabicho, Narigão, Pontas, Pescoçuda, Enrolada.
IV – Relação entre nome e objeto/pessoa nomeada
Procedimento:
Parte 1
Leitura do livro A velhinha que dava nome às coisas, de Cynthia Rylant;
Propor aos participantes que façam perguntas ao texto, de modo a determinar os
aspectos que lhes pareceram mais significativos. Tais questionamentos, após
registrados e compartilhados, podem servir de ponto de partida para a
problematização filosófica dos temas e idéias suscitados pela leitura, garantindo,
assim, que a discussão se constitua de maneira expressiva às experiências singulares
9. 9
de cada um12. O docente, neste momento, deve assumir o papel de mero orientador
para que haja uma participação ampla e repartida de todos os integrantes e para que
o foco da discussão seja o exame dos pressupostos, das razões e das implicações
contidas nas opiniões expostas. O objetivo não será alcançar uma resposta
adequada ou uma solução ideal; ao contrário, consiste unicamente em desenvolver
o diálogo cooperativo e exploratório.
Parte 2
Dividir os participantes em grupos e entregar algumas imagens (pessoas famosas,
personagens conhecidos, obras artísticas, etc.); pedir que eles sugiram nomes para
elas e os registrem. Ao terminar, cada grupo apresenta suas imagens e seus
respectivos nomes para os outros participantes, esclarecendo as razões para as
escolhas. Dialogar sobre o significado dos nomes para aquelas pessoas e
personagens (relação da imagem com o nome/história de cada um).
V – Descrevendo objetos
Procedimentos:
Parte 1
Dividir os participantes em dois grupos (Grupo A e grupo B), de modo que um não
possa ver o outro.
Apresentar, para os dois grupos, alguns objetos e permitir que cada participante
escolha qual deseja descrever. Pedir que observem atentamente seu objeto e
registrem numa folha suas características, descrevendo-o; sem, contudo, dizer seu
nome. Ao final, recolher as folhas e os objetos.
Reunir os dois grupos e os objetos no mesmo local. Dispor os objetos em local que
todos possam vê-los. Distribuir as folhas com as descrições realizadas pelo grupo A
para o grupo B e, assim, novamente, as descrições do grupo B, para o grupo A.
Pedir que cada um faça a leitura da descrição que recebeu, tentando identificar qual
objeto esta indica. Caso o participante não consiga identificá-lo, os outros poderão
12
Conforme nos inspira a pensar Deleuze (1988, p. 259): "Fazem-nos acreditar, ao mesmo tempo, que os
problemas são dados já feitos e que eles desaparecem nas respostas ou na solução; (...) seriam apenas
quimeras. Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como o verdadeiro e o falso em relação a
esta atividade, só começa com a procura de soluções, só concerne às soluções. (...) É um preconceito
infantil, segundo o qual o mestre apresenta um problema, sendo nossa a tarefa de resolvê-lo e sendo o
resultado desta tarefa qualificado de verdadeiro ou de falso por uma autoridade poderosa. (...) Como se
não continuássemos escravos enquanto não dispusermos dos próprios problemas, de uma participação nos
problemas, de um direito aos problemas, de uma gestão dos problemas".
10. 10
ajudá-lo, de modo que, ao final da atividade, todos os objetos tenham sido
relacionados à sua descrição.
Dialogar sobre as dificuldades encontradas ao realizar as descrições e solicitar a
sugestão de alternativas que poderiam ser adotadas para facilitar a tarefa.
Parte 2
Leitura do livro Maneco, caneco, chapéu de funil, de Luiz Camargo;
Conversar com os participantes sobre as diferentes maneiras pelas quais pode ser
interpretado um mesmo objeto (sua utilidade, uso, finalidade, etc.) e como isso pode
refletir no modo de compreensão do mesmo. Assim como um objeto pode ser
descrito através de distintos nomes/características, também pode abarcar uma
diversidade de usos e significações.
Após a discussão, propor a elaboração de um texto coletivo envolvendo os objetos
descritos: cada participante apresenta seu objeto e todos colaboram para a criação da
história.
Referências
BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1970.
CAMARGO, Luiz. Maneco, caneco, chapéu de funil. São Paulo: Ática, 1980.
CORAZZA, Sandra Mara. Notas. In: HEUSER, Ester Maria Dreher (org.). Caderno de
Notas 1: projeto, notas & ressonâncias. Cuiabá: EdUFMT, 2011.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
JACKSON, Tom; OHO, Linda E. Preparando-se para filosofar. In: KOHAN, Walter
Omar; WAKSMAN, Vera (orgs.). Filosofia para crianças: na prática escolar. Vol.
2. Petrópolis: Vozes, 1998.
KOHAN, Walter Omar; WAKSMAN, Vera (orgs.). Filosofia e infância: possibilidades
de um encontro. Vol. 3. Petrópolis: Vozes, 1999.
______. Filosofia para crianças: a tentativa pioneira de Matthew Lipman. Vol. 1.
Petrópolis: Vozes, 1998.
MONTENEGRO, Maria Aparecida de Paiva. Linguagem e conhecimento no Crátilo de
Platão. Kriterion, Belo Horizonte, v. 48, n. 116, dez, 2007. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/kr/v48n116/a0648116.pdf>. Acesso em: 18/01/2012.
PLATÃO. Crátilo: Obra Completa. Madrid: Aguilar, 1972.
ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo. Ilustrações de Adalberto Cornacava. – 3.
ed. – Guarulhos: Salamandra, 2007.
RYLANT, Cynthia. A velhinha que dava nome às coisas. Ilustrado por Kathryn Brown.
Tradução de Gilda de Aquinol. São Paulo: BRINQUE-BOOK, 1997.