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loja do vinho




      Da distribuicão ao
                  ç
      É cada vez mais frequente uma distribuidora
      de vinhos alterar a sua filosofia e usar também a
      logística e o stock para potenciar as suas vendas,
      mas desta vez em direcção ao consumidor final.
      Foi o que aconteceu com as duas garrafeiras que
      visitámos da zona oeste, Scorpio e Estado Líquido.


      texto João Afonso
                                        * fotos Ricardo Palma Veiga
                                                                                                                  O
                                                                                                                  É diferente vender a profissionais (especialmente
                                                                                                                  restaurantes, cafés, bares e discotecas) e ao público
                                                                                                                  final. Desde logo porque o público paga a pronto, van-
                                                                                                                  tagem muito considerável nos tempos que correm,
                                                                                                                  em que a crise generalizada se instala na restauração
                                                                                                                  e traz consigo incertezas de liquidez que apavoram as
                                                                                                                  distribuidoras. E depois o distribuidor pode usar uma
                                                                                                                  boa parte da sua estrutura para amortizar – e não é
                                                                                                                  pouco – os custos inerentes da venda ao público.
                                                                                                                  Os dois casos que aqui apresentamos são exactamen-
                                                                                                                  te o resultado desta mudança: a garrafeira Scorpio e a
                                                                                                                  Estado Líquido.



150     r   e   v   i   s   t a   d e   v   i   n   h o   s   f   e   v   e   r   e   i   r   o   2   0   1   2
consumidor final
  Ambas as garrafeiras possuem logo à partida uma vanta-       rota. À nossa espera estava Américo Leal, personagem
  gem muito simpática face a muitas das tradicionais lojas     mais conhecida pela distribuição de vinhos que realiza na
  de vinho: um amplo espaço de estacionamento, logo à          região (e não só), através da sua distribuidora Scorpio.
  porta, muito útil para quem se vai abastecer. Em contra-     Com espaço para ‘dar e vender’ (o ‘parque’ possui hecta-
  partida, as localizações estão afastadas dos centros urba-   res de terra) Américo e a mulher, Helena, decidiram no
  nos empresariais e residenciais, obrigando o cliente a       ano passado iniciar a sua própria garrafeira. E usou para
  deslocar-se de propósito.                                    isso parte do seu maior armazém mas optou por não iso-
                                                               lar as duas zonas. O resultado é algo estranho porque a
  Os encantos do vinho                                         decoração da loja é moderna (e quanto a nós muito bem
  Optamos por começar pelo Norte e dirigimo-nos a São          conseguida) mas contrasta com as enormes prateleiras
  Jorge, em Porto de Mós (um pouco ao sul de Leiria), no       do restante armazém, à vista do cliente. Mas diz Américo
  sítio quase exacto onde se celebrou a batalha de Aljubar-    que este contraste, apesar de apanhar muita gente de sur-



                                                                                                                           151
loja do vinho
      presa, tem reunido opiniões positivas. E depois irá colo-
      car um gigantesco cortinado (amovível) que acabe por
      separar visualmente o armazém da garrafeira. Isto porque
      Américo Leal quer começar a dinamizar o espaço recor-
      rendo aos seus clientes mais habituais e aos que virão com
      a criação de um clube, de nome “Encanto do Vinho-Clu-
      be Vintage”. Estes clientes (e sócios) serão os principais
      alvos para as provas vínicas e jantares que Américo Leal
      quer fazer com grande periodicidade. As noites de fado
      serão também um chamariz que se junta à gastronomia e
      aos vinhos. Os sócios do clube terão descontos na loja e
      ainda poderão participar de visitas a alguns produtores
      de vinho.
      O espaço é desafogado e vinho, como se imagina, é coisa
      que aqui não falta. O portefólio é bastante bom, incluin-
      do néctares de praticamente todas as regiões do país, e
      como é óbvio não faltam sequer os grandes ícones, cui-
      dadosamente guardados em alguns armários com portas
      em vidro. Os vinhos estão divididos por regiões, faltando
      apenas o Algarve e os Açores. Américo Leal garante que
      já estão a dar passos para colmatar esta falha, iniciativa
      que será estendida também aos vinhos estrangeiros, ain-
      da com fraca participação. Em compensação, os preços                                         Contactos              lecção particular, assim como aguardentes raras, muitas
      são, no geral, bastante agradáveis.                                                          Estado Liquido         oriundas de garrafeiras particulares que foi adquirindo
                                                                                                   www.estadoliquido.pt   ao longo do tempo. “Temos vinhos com mais de um sé-
      Vinhos velhos                                                                                                       culo de idade”, afirma.
                                                                                                   Scorpio –
      A Scorpio tem algo que não existe em outras lojas de vi-                                                            Mesmo nos destilados existem produtos que dificilmen-
                                                                                                   Encantos do Vinho
      nho: um bom stock de vinhos mais velhos. De facto, como                                                             te encontrará em outros lados: ‘gin’s’ topo de gama, whiskies
                                                                                                   www.scorpio.pt
      a distribuidora está no mercado há vários anos, possui                                                              raros, rums ‘gourmet’, etc. “Gostamos de ter coisas dife-
      muitos néctares de colheitas mais antigas. Por exemplo,                                                             rentes”, diz Américo com orgulho.
      pode aqui adquirir todos os Chryseia saídos até hoje. A                                                             Em grande destaque estão algumas marcas distribuídas
      colecção de Vinho do Porto é especialmente vasta e Amé-                                                             em exclusivo pela Scorpio, como o Invejado, um tinto ex-
      rico leal tem grande orgulho nela. Na altura da visita, o                                                           clusivo para esta casa feito por Francisco Nunes Garcia,
      nosso anfitrião estava exactamente a colocar uma garrafa                                                            ou vinhos da Comenda Grande e Reguengo do Sousão, do
      de Vinho do Porto Niepoort de 1900: “isso é para vender                                                             Alto Alentejo, ou ainda a aguardente 1931, da Caves Neto
      ?”, indagamos. Américo Leal ficou na dúvida. Ainda não                                                              Costa, um produtor de licores e aguardentes (entre outros
      decidiu. Mas tem garrafas ainda mais velhas na sua co-                                                              produtos) que Américo Leal adquiriu há algum tempo.




                                                                                                                          Américo Leal




152      r   e   v   i   s   t a   d e   v   i   n   h o   s   f   e   v   e   r   e   i   r   o   2   0   1   2
turo próximo. Quanto aos produtos gourmet, só aparecem
                                                               em força na altura do Natal mas neste momento são pou-
                                                               cas as existências (excepto alguns presuntos e enchidos
                                                               de qualidade). O proprietário não enjeita que possa vir a
                                                               enveredar com mais força por esta área mas o negócio é
                                                               muito recente e, afirma, “estamos ainda a afinar muita
                                                               coisa e só dentro de um mês o espaço estará como o que-
                                                               remos”.

                                                               No Estado Líquido
                                                               Deixámos Porto de Mós e rumámos à região de Caldas da
                                                               Rainha. A garrafeira Estado Líquido não é complicada de
                                                               encontrar (existem alguns sinais que dão uma ajuda) mes-
                                                               mo considerando que está instalada numa zona ao estilo
                                                               ‘industrial’. Chegando lá deparamos com uma surpresa.
                                                               Edifício ao estilo de armazém mas bem arranjado. Lá den-
                                                               tro o espaço é arejado, luminoso, bem arrumado mas sem
                                                               luxos, muito informal.
                                                               Sabemos que o negócio familiar teve origem com o pai
Hélio Pereira                                                  dos actuais proprietários, os jovens Hélio e Tânia, com o
                                                               nome de Garrafeira Dona Leonor, há mais de 20 anos.
                                                               Hélio cedo se juntou ao pai e pouco tempo depois estava
  Algumas marcas desta conhecida casa bairradina fazem         ele próprio a gerir o negócio, ligado à distribuição de vi-
  parte do histórico de bebidas deste país, como os licores    nhos. Apesar de ser ainda um jovem, já tem muita expe-
  Triplice Seco, Tijuana, Absinto, Amêndoa Amarga e a          riência acumulada. Pouco a pouco a distribuição foi per-
  Ginjinha Natural. A própria unidade industrial que pre-      dendo para o cash & carry e hoje a maioria da facturação
  parava estas bebidas vai ser transferida para aqui.          passa por este tipo de venda, de retorno imediato.
  A parte relativa aos acessórios vínicos é ainda incipiente   Enquanto esperamos pelo proprietário faço o meu usual
  mas Américo Leal garante que terá mais variedade no fu-      passeio pelas prateleiras. E confesso a minha surpresa




                                                                                                                             153
loja do vinho
                                                                                   com a variedade de néctares à disposição. De todas as re-
                                                                                   giões de Portugal e de todos os estilos. Desde os vinhos
                                                                                   mais comuns aos mais caros, dos mais conhecidos às
                                                                                   quase-raridades. As regiões não estão identificadas mas
                                                                                   não vai encontrar um vinho do Alentejo no meio das gar-
                                                                                   rafas do Douro, por exemplo. De qualquer maneira, exis-
                                                                                   tem funcionários, com formação específica, que lhe po-
                                                                                   dem dar uma ajuda.
                                                                                   A surpresa continua nas prateleiras de espumantes, com
                                                                                   todas as principais marcas presentes, do baixo de gama
                                                                                   aos mais caros. E paramos na área dos vinhos estrangei-
                                                                                   ros, bem recheada de néctares (embora, no geral, vinhos
                                                                                   mais ‘comuns’). Para quem gosta de licores e destilados,
                                                                                   a variedade é também monumental. Mais uma vez em to-
                                                                                   das as gamas, do whisky corrente ao ‘luxuoso’.
                                                                                   Ou seja, à primeira vista a Estado Líquido parece quase
                                                                                   um supermercado de vinhos e bebidas, onde a abundân-
                                                                                   cia se junta à qualidade da escolha e ao serviço especiali-
                                                                                   zado. Mas esta apreciação é suavemente alterada quando
                                                                                   Hélio Pereira, o proprietário (em conjunto com a sua irmã
                                                                                   Tânia), nos mostra a sala onde guarda néctares de excep-
                                                                                   ção. Uma sala climatizada de tamanho generoso contém
                                                                                   quase tudo o que há de melhor em termos de destilados,
                                                                                   champanhes, vinhos do Porto e outros generosos. Nem
                                                                                   falta lá o Taylor’s Scion, a 2.500 euros: “O ano passado
                                                                                   vendemos 8 garrafas”, diz-nos Hélio. Impressionante!
       A Tasca do Joel, uma loja à parte                                           É Hélio quem faz a selecção dos néctares e marca o custo
                                                                                   dos néctares, claro. Neste aspecto, ninguém se pode quei-
       Neste périplo pelo Oeste passámos também numa garrafeira (e loja
                                                                                   xar: os preços são muito bons. E não admira. Os proprie-
       gourmet) que não podemos deixar de referir. A parte gourmet foi             tários usam este espaço como uma espécie de ‘cash & car-
       premiada este ano e está descrita na página 80. A garrafeira em si é sui    ry’ para profissionais (a maioria da clientela) mas aberto
       generis e merece decididamente uma visita. Não porque o portefólio          a particulares.
       seja gigantesco (mas não é nada mau, note-se) mas pela qualidade            Não faltam todo o tipo de acessórios mas a parte gourmet
       dos néctares. Vê-se que há aqui mão sabedora a escolher os vinhos,
       especialmente na gama alta. Incluindo muitos néctares que são raros
                                                                                   é quase inexistente. Não é decididamente uma aposta da
       de encontrar em outros sítios, com tiragens muito limitadas. E falamos      Estado Líquido mas, tal como Américo Leal nos tinha dito,
       de todo o estilo de vinhos: brancos, rosés, tintos, espumantes (incluindo   “não há grande procura”.
       champanhes topo de gama), generosos, etc. Não falta sequer uma boa          Muito importante ainda é a loja on-line, que tem todo o
       selecção de vinhos estrangeiros, especialmente europeus. Os preços,         stock da garrafeira e igualmente preços atraentes. E, cla-
       ainda por cima, não são nada maus. O atendimento e aconselhamento
       é simpático e sabedor. Nada mau, até porque o cliente pode escolher
                                                                                   ro, oferece desde logo a vantagem de não ter de sair de
       um vinho na garrafeira e degustá-lo logo a seguir no restaurante,           casa para receber as suas compras.
       pagando apenas um pequeno acréscimo de preço.                               “Tanto a loja física como a on-line estão a ter cresci-
       Apesar da exiguidade do espaço, há ainda lugar para vários acessórios       mentos bem interessantes”, garante Hélio. De tal ma-
       relacionados com o vinho (e não só): copos, decantadores, saca-rolhas,      neira que já está a pensar na expansão. Mas reserva mais
       mangas de frio, etc, etc.
       Este não é um conceito inédito (veja-se por exemplo o Veneza, no
                                                                                   noticias para um futuro próximo. Porque, afinal, o se-
       Algarve) mas a sinergia garrafeira/restaurante funciona muito bem.          gredo é a alma do negócio.




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  • 1. loja do vinho Da distribuicão ao ç É cada vez mais frequente uma distribuidora de vinhos alterar a sua filosofia e usar também a logística e o stock para potenciar as suas vendas, mas desta vez em direcção ao consumidor final. Foi o que aconteceu com as duas garrafeiras que visitámos da zona oeste, Scorpio e Estado Líquido. texto João Afonso * fotos Ricardo Palma Veiga O É diferente vender a profissionais (especialmente restaurantes, cafés, bares e discotecas) e ao público final. Desde logo porque o público paga a pronto, van- tagem muito considerável nos tempos que correm, em que a crise generalizada se instala na restauração e traz consigo incertezas de liquidez que apavoram as distribuidoras. E depois o distribuidor pode usar uma boa parte da sua estrutura para amortizar – e não é pouco – os custos inerentes da venda ao público. Os dois casos que aqui apresentamos são exactamen- te o resultado desta mudança: a garrafeira Scorpio e a Estado Líquido. 150 r e v i s t a d e v i n h o s f e v e r e i r o 2 0 1 2
  • 2. consumidor final Ambas as garrafeiras possuem logo à partida uma vanta- rota. À nossa espera estava Américo Leal, personagem gem muito simpática face a muitas das tradicionais lojas mais conhecida pela distribuição de vinhos que realiza na de vinho: um amplo espaço de estacionamento, logo à região (e não só), através da sua distribuidora Scorpio. porta, muito útil para quem se vai abastecer. Em contra- Com espaço para ‘dar e vender’ (o ‘parque’ possui hecta- partida, as localizações estão afastadas dos centros urba- res de terra) Américo e a mulher, Helena, decidiram no nos empresariais e residenciais, obrigando o cliente a ano passado iniciar a sua própria garrafeira. E usou para deslocar-se de propósito. isso parte do seu maior armazém mas optou por não iso- lar as duas zonas. O resultado é algo estranho porque a Os encantos do vinho decoração da loja é moderna (e quanto a nós muito bem Optamos por começar pelo Norte e dirigimo-nos a São conseguida) mas contrasta com as enormes prateleiras Jorge, em Porto de Mós (um pouco ao sul de Leiria), no do restante armazém, à vista do cliente. Mas diz Américo sítio quase exacto onde se celebrou a batalha de Aljubar- que este contraste, apesar de apanhar muita gente de sur- 151
  • 3. loja do vinho presa, tem reunido opiniões positivas. E depois irá colo- car um gigantesco cortinado (amovível) que acabe por separar visualmente o armazém da garrafeira. Isto porque Américo Leal quer começar a dinamizar o espaço recor- rendo aos seus clientes mais habituais e aos que virão com a criação de um clube, de nome “Encanto do Vinho-Clu- be Vintage”. Estes clientes (e sócios) serão os principais alvos para as provas vínicas e jantares que Américo Leal quer fazer com grande periodicidade. As noites de fado serão também um chamariz que se junta à gastronomia e aos vinhos. Os sócios do clube terão descontos na loja e ainda poderão participar de visitas a alguns produtores de vinho. O espaço é desafogado e vinho, como se imagina, é coisa que aqui não falta. O portefólio é bastante bom, incluin- do néctares de praticamente todas as regiões do país, e como é óbvio não faltam sequer os grandes ícones, cui- dadosamente guardados em alguns armários com portas em vidro. Os vinhos estão divididos por regiões, faltando apenas o Algarve e os Açores. Américo Leal garante que já estão a dar passos para colmatar esta falha, iniciativa que será estendida também aos vinhos estrangeiros, ain- da com fraca participação. Em compensação, os preços Contactos lecção particular, assim como aguardentes raras, muitas são, no geral, bastante agradáveis. Estado Liquido oriundas de garrafeiras particulares que foi adquirindo www.estadoliquido.pt ao longo do tempo. “Temos vinhos com mais de um sé- Vinhos velhos culo de idade”, afirma. Scorpio – A Scorpio tem algo que não existe em outras lojas de vi- Mesmo nos destilados existem produtos que dificilmen- Encantos do Vinho nho: um bom stock de vinhos mais velhos. De facto, como te encontrará em outros lados: ‘gin’s’ topo de gama, whiskies www.scorpio.pt a distribuidora está no mercado há vários anos, possui raros, rums ‘gourmet’, etc. “Gostamos de ter coisas dife- muitos néctares de colheitas mais antigas. Por exemplo, rentes”, diz Américo com orgulho. pode aqui adquirir todos os Chryseia saídos até hoje. A Em grande destaque estão algumas marcas distribuídas colecção de Vinho do Porto é especialmente vasta e Amé- em exclusivo pela Scorpio, como o Invejado, um tinto ex- rico leal tem grande orgulho nela. Na altura da visita, o clusivo para esta casa feito por Francisco Nunes Garcia, nosso anfitrião estava exactamente a colocar uma garrafa ou vinhos da Comenda Grande e Reguengo do Sousão, do de Vinho do Porto Niepoort de 1900: “isso é para vender Alto Alentejo, ou ainda a aguardente 1931, da Caves Neto ?”, indagamos. Américo Leal ficou na dúvida. Ainda não Costa, um produtor de licores e aguardentes (entre outros decidiu. Mas tem garrafas ainda mais velhas na sua co- produtos) que Américo Leal adquiriu há algum tempo. Américo Leal 152 r e v i s t a d e v i n h o s f e v e r e i r o 2 0 1 2
  • 4. turo próximo. Quanto aos produtos gourmet, só aparecem em força na altura do Natal mas neste momento são pou- cas as existências (excepto alguns presuntos e enchidos de qualidade). O proprietário não enjeita que possa vir a enveredar com mais força por esta área mas o negócio é muito recente e, afirma, “estamos ainda a afinar muita coisa e só dentro de um mês o espaço estará como o que- remos”. No Estado Líquido Deixámos Porto de Mós e rumámos à região de Caldas da Rainha. A garrafeira Estado Líquido não é complicada de encontrar (existem alguns sinais que dão uma ajuda) mes- mo considerando que está instalada numa zona ao estilo ‘industrial’. Chegando lá deparamos com uma surpresa. Edifício ao estilo de armazém mas bem arranjado. Lá den- tro o espaço é arejado, luminoso, bem arrumado mas sem luxos, muito informal. Sabemos que o negócio familiar teve origem com o pai Hélio Pereira dos actuais proprietários, os jovens Hélio e Tânia, com o nome de Garrafeira Dona Leonor, há mais de 20 anos. Hélio cedo se juntou ao pai e pouco tempo depois estava Algumas marcas desta conhecida casa bairradina fazem ele próprio a gerir o negócio, ligado à distribuição de vi- parte do histórico de bebidas deste país, como os licores nhos. Apesar de ser ainda um jovem, já tem muita expe- Triplice Seco, Tijuana, Absinto, Amêndoa Amarga e a riência acumulada. Pouco a pouco a distribuição foi per- Ginjinha Natural. A própria unidade industrial que pre- dendo para o cash & carry e hoje a maioria da facturação parava estas bebidas vai ser transferida para aqui. passa por este tipo de venda, de retorno imediato. A parte relativa aos acessórios vínicos é ainda incipiente Enquanto esperamos pelo proprietário faço o meu usual mas Américo Leal garante que terá mais variedade no fu- passeio pelas prateleiras. E confesso a minha surpresa 153
  • 5. loja do vinho com a variedade de néctares à disposição. De todas as re- giões de Portugal e de todos os estilos. Desde os vinhos mais comuns aos mais caros, dos mais conhecidos às quase-raridades. As regiões não estão identificadas mas não vai encontrar um vinho do Alentejo no meio das gar- rafas do Douro, por exemplo. De qualquer maneira, exis- tem funcionários, com formação específica, que lhe po- dem dar uma ajuda. A surpresa continua nas prateleiras de espumantes, com todas as principais marcas presentes, do baixo de gama aos mais caros. E paramos na área dos vinhos estrangei- ros, bem recheada de néctares (embora, no geral, vinhos mais ‘comuns’). Para quem gosta de licores e destilados, a variedade é também monumental. Mais uma vez em to- das as gamas, do whisky corrente ao ‘luxuoso’. Ou seja, à primeira vista a Estado Líquido parece quase um supermercado de vinhos e bebidas, onde a abundân- cia se junta à qualidade da escolha e ao serviço especiali- zado. Mas esta apreciação é suavemente alterada quando Hélio Pereira, o proprietário (em conjunto com a sua irmã Tânia), nos mostra a sala onde guarda néctares de excep- ção. Uma sala climatizada de tamanho generoso contém quase tudo o que há de melhor em termos de destilados, champanhes, vinhos do Porto e outros generosos. Nem falta lá o Taylor’s Scion, a 2.500 euros: “O ano passado vendemos 8 garrafas”, diz-nos Hélio. Impressionante! A Tasca do Joel, uma loja à parte É Hélio quem faz a selecção dos néctares e marca o custo dos néctares, claro. Neste aspecto, ninguém se pode quei- Neste périplo pelo Oeste passámos também numa garrafeira (e loja xar: os preços são muito bons. E não admira. Os proprie- gourmet) que não podemos deixar de referir. A parte gourmet foi tários usam este espaço como uma espécie de ‘cash & car- premiada este ano e está descrita na página 80. A garrafeira em si é sui ry’ para profissionais (a maioria da clientela) mas aberto generis e merece decididamente uma visita. Não porque o portefólio a particulares. seja gigantesco (mas não é nada mau, note-se) mas pela qualidade Não faltam todo o tipo de acessórios mas a parte gourmet dos néctares. Vê-se que há aqui mão sabedora a escolher os vinhos, especialmente na gama alta. Incluindo muitos néctares que são raros é quase inexistente. Não é decididamente uma aposta da de encontrar em outros sítios, com tiragens muito limitadas. E falamos Estado Líquido mas, tal como Américo Leal nos tinha dito, de todo o estilo de vinhos: brancos, rosés, tintos, espumantes (incluindo “não há grande procura”. champanhes topo de gama), generosos, etc. Não falta sequer uma boa Muito importante ainda é a loja on-line, que tem todo o selecção de vinhos estrangeiros, especialmente europeus. Os preços, stock da garrafeira e igualmente preços atraentes. E, cla- ainda por cima, não são nada maus. O atendimento e aconselhamento é simpático e sabedor. Nada mau, até porque o cliente pode escolher ro, oferece desde logo a vantagem de não ter de sair de um vinho na garrafeira e degustá-lo logo a seguir no restaurante, casa para receber as suas compras. pagando apenas um pequeno acréscimo de preço. “Tanto a loja física como a on-line estão a ter cresci- Apesar da exiguidade do espaço, há ainda lugar para vários acessórios mentos bem interessantes”, garante Hélio. De tal ma- relacionados com o vinho (e não só): copos, decantadores, saca-rolhas, neira que já está a pensar na expansão. Mas reserva mais mangas de frio, etc, etc. Este não é um conceito inédito (veja-se por exemplo o Veneza, no noticias para um futuro próximo. Porque, afinal, o se- Algarve) mas a sinergia garrafeira/restaurante funciona muito bem. gredo é a alma do negócio. 154