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FOOLISHOP
O garoto assistindo à TV; atento à propaganda:
“Lançamento Foolishop: Uma lapiseira que vai revolucionar os padrões de
praticidade e economia de tempo. Estamos falando da lapiseira FAST AND HARD. Ela
faz a ponta de um lápis em 0.025 milésimo de segundo mais rápido que a lapiseiras
convencionais. O seu formato anatômico (em forma de urso polar) permite a qualquer
pessoa fazer uma ponta de lápis mais precisa e delineada. Além de evitar aqueles
transtornos de pontas quebrando, pó de grafite sujando as mãos, e lascas de madeira
caindo no chão.
A FAST AND HARD é a única lapiseira feita com tecnologia anti-nuclear e
anti-inundação. Não há mais porque se preocupar com inundações, guerras nucleares,
tsunamis ou chuva de meteoros. A FAST AND HARD foi desenvolvida por
engenheiros da NASA e foi testada sob as mais variadas condições térmicas, climáticas
e gravitacionais, resistindo sempre de forma impressionante.
Não perca tempo, ligue já para o número aparecendo na tela da sua TV. E se
você ligar agora, você ganhara um estojo anti-risco que vai deixar sua FAST AND
HARD sempre com aspecto de nova. A FAST AND HARD é um produto
FOOLISHOP.”
Terminando a propaganda o garoto levanta da poltrona e grita:
- Mãe, eu quero um FAST AND HARD!
MARSHALL
Três amigos chegam a um workshop de bateria num salão paroquial. Os três
sentam bem ao fundo do salão. Depois de algumas demonstrações técnicas de
poliritimia, o baterista abre espaço para as perguntas:
- Alguém gostaria de fazer alguma pergunta? Algum comentário?
Um dos amigos levanta e indaga:
- Ei, véi, essa caixa amplificada aí do lado é Marshall?
O baterista dá risada:
- É, sim, meu amigo. Alguém mais gostaria de fazer alguma pergunta.
Mais uma vez o amigo se pronuncia:
- Ô, véi, qual a potência dessa Marshall aí?
- Não, sei, mas deve ser potente. Diz o baterista visivelmente incomodado com a
nova pergunta
- Valeu, véi!
O músico segue com uma apresentação de uma canção do Dream Theatre. A
platéia fica impressionada com sua técnica. Ele executa a canção de forma primorosa.
Ao finalizar a apresentação, o baterista fala um pouco sobre os compassos e os
contratempos executados. Mais uma vez abre espaço para o público perguntar:
- Véi, essa Marshall aí do lado tem distorção?
- Meu amigo, me desculpa, mas as perguntas a que me refiro são sobre o
workshop que estou apresentando de bateria; não me leve a mal, não. Se você quiser
saber sobre a caixa pode perguntar isso ao pessoal da igreja; deve ser deles o
equipamento.
- Tá bom... Mas essa marca Marshall é boa, né, véi?
- Qual é, amigo? O workshop é sobre bateria não é sobre caixa, pô!
O público, sem entender o que acontece, permanece só observando:
- Bem, pessoal, alguma pergunta antes da próxima demonstração?
- Ô, véi, essa Marshall aí tem reverb?
- Qual é, cara? Por que é que você veio num workshop de bateria se só quer
saber sobre uma porcaria de uma caixa Marshall?
- Oxe, véi, porcaria não! Essa caixa tem distorção, reverb, tem 150 watts de
potência RMS e é uma das melhores marcas no mercado!
- Se tu sabe essas meda tudo, porque fica perguntando, então, pô?
- Ô, véi, a caixa é minha...
- Hã?
- Eu alugo a caixa aí, viu galera? Quem tiver interesse é só me procurar depois.
Marshall é profissa!
UMA DE ESCOLA
A aula havia acabado de começar. Era semana de prova. O professor, como
sempre muito atento, observava cada aluno cuidadosamente na busca de uma atitude
suspeita que denunciasse a cola.
- Mauro, senta direito; virado para frente.
- Ester, costas na cadeira!
- Marta, abaixa a prova!
Foram assim os primeiros minutos. Poucas situações realmente suspeitas; até
que um dos alunos deixou cair o lápis. O professor, como um felino selvagem que
encontra a sua presa, fixou os olhos no aluno numa tácita acusação.
- Professor, posso pegar o lápis?
- Então acha que não conheço essa estratégia?
- Estratégia? Posso pegar o lápis?
- A velha estratégia do lápis. Se cai uma vez é a questão 1; se cai vinte vezes nos
próximos 6 minutos a resposta está dada a toda a sala: questão 20, e letra F. Ou ainda, o
lápis pode ser um código. O L de lápis simboliza a questão 12, já que o L é a 12ª letra
do alfabeto. E as letras A, P, I e S, respectivamente indicam a resposta da questão de
matemática: 116918; que deve ser uma das alternativas entre as letras A e E da questão
12!
- Professor, a prova é de português!
- Correto, mas deve haver uma questão 12 com uma alternativa 116918!
- Professor, a prova só tem 10 questões e todas são abertas.
- Sim, mas 116918 pode ser um código, por exemplo, para a palavra “lápis”; que
pode ser uma alternativa para a questão 12!
- Professor, o senhor está louco? Posso pegar meu lápis, por favor, que continua
no chão? Preciso terminar de responder a questão da prova.
A turma toda naquele momento havia parado de fazer a prova para ouvir o
discurso do professor. Atônitos, nenhum dos alunos ousava falar sequer um “aí”.
- Posso pegar o lápis, professor?
- Claro! Mas cuidado, estou de olho em você.
Aos pouco, os alunos foram retomando a concentração e recobrando o raciocínio
necessário para concluir a resolução da prova. Alguns minutos depois, o silêncio foi
novamente quebrado, agora, pela voz de uma simpática aluna:
- Professor, posso pegar minha lapiseira pra fazer a ponta do meu lápis?
- Aha! A velha estratégia da lapiseira!

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  • 1. FOOLISHOP O garoto assistindo à TV; atento à propaganda: “Lançamento Foolishop: Uma lapiseira que vai revolucionar os padrões de praticidade e economia de tempo. Estamos falando da lapiseira FAST AND HARD. Ela faz a ponta de um lápis em 0.025 milésimo de segundo mais rápido que a lapiseiras convencionais. O seu formato anatômico (em forma de urso polar) permite a qualquer pessoa fazer uma ponta de lápis mais precisa e delineada. Além de evitar aqueles transtornos de pontas quebrando, pó de grafite sujando as mãos, e lascas de madeira caindo no chão. A FAST AND HARD é a única lapiseira feita com tecnologia anti-nuclear e anti-inundação. Não há mais porque se preocupar com inundações, guerras nucleares, tsunamis ou chuva de meteoros. A FAST AND HARD foi desenvolvida por engenheiros da NASA e foi testada sob as mais variadas condições térmicas, climáticas e gravitacionais, resistindo sempre de forma impressionante. Não perca tempo, ligue já para o número aparecendo na tela da sua TV. E se você ligar agora, você ganhara um estojo anti-risco que vai deixar sua FAST AND HARD sempre com aspecto de nova. A FAST AND HARD é um produto FOOLISHOP.” Terminando a propaganda o garoto levanta da poltrona e grita: - Mãe, eu quero um FAST AND HARD!
  • 2. MARSHALL Três amigos chegam a um workshop de bateria num salão paroquial. Os três sentam bem ao fundo do salão. Depois de algumas demonstrações técnicas de poliritimia, o baterista abre espaço para as perguntas: - Alguém gostaria de fazer alguma pergunta? Algum comentário? Um dos amigos levanta e indaga: - Ei, véi, essa caixa amplificada aí do lado é Marshall? O baterista dá risada: - É, sim, meu amigo. Alguém mais gostaria de fazer alguma pergunta. Mais uma vez o amigo se pronuncia: - Ô, véi, qual a potência dessa Marshall aí? - Não, sei, mas deve ser potente. Diz o baterista visivelmente incomodado com a nova pergunta - Valeu, véi! O músico segue com uma apresentação de uma canção do Dream Theatre. A platéia fica impressionada com sua técnica. Ele executa a canção de forma primorosa. Ao finalizar a apresentação, o baterista fala um pouco sobre os compassos e os contratempos executados. Mais uma vez abre espaço para o público perguntar: - Véi, essa Marshall aí do lado tem distorção? - Meu amigo, me desculpa, mas as perguntas a que me refiro são sobre o workshop que estou apresentando de bateria; não me leve a mal, não. Se você quiser saber sobre a caixa pode perguntar isso ao pessoal da igreja; deve ser deles o equipamento. - Tá bom... Mas essa marca Marshall é boa, né, véi?
  • 3. - Qual é, amigo? O workshop é sobre bateria não é sobre caixa, pô! O público, sem entender o que acontece, permanece só observando: - Bem, pessoal, alguma pergunta antes da próxima demonstração? - Ô, véi, essa Marshall aí tem reverb? - Qual é, cara? Por que é que você veio num workshop de bateria se só quer saber sobre uma porcaria de uma caixa Marshall? - Oxe, véi, porcaria não! Essa caixa tem distorção, reverb, tem 150 watts de potência RMS e é uma das melhores marcas no mercado! - Se tu sabe essas meda tudo, porque fica perguntando, então, pô? - Ô, véi, a caixa é minha... - Hã? - Eu alugo a caixa aí, viu galera? Quem tiver interesse é só me procurar depois. Marshall é profissa! UMA DE ESCOLA A aula havia acabado de começar. Era semana de prova. O professor, como sempre muito atento, observava cada aluno cuidadosamente na busca de uma atitude suspeita que denunciasse a cola. - Mauro, senta direito; virado para frente. - Ester, costas na cadeira! - Marta, abaixa a prova!
  • 4. Foram assim os primeiros minutos. Poucas situações realmente suspeitas; até que um dos alunos deixou cair o lápis. O professor, como um felino selvagem que encontra a sua presa, fixou os olhos no aluno numa tácita acusação. - Professor, posso pegar o lápis? - Então acha que não conheço essa estratégia? - Estratégia? Posso pegar o lápis? - A velha estratégia do lápis. Se cai uma vez é a questão 1; se cai vinte vezes nos próximos 6 minutos a resposta está dada a toda a sala: questão 20, e letra F. Ou ainda, o lápis pode ser um código. O L de lápis simboliza a questão 12, já que o L é a 12ª letra do alfabeto. E as letras A, P, I e S, respectivamente indicam a resposta da questão de matemática: 116918; que deve ser uma das alternativas entre as letras A e E da questão 12! - Professor, a prova é de português! - Correto, mas deve haver uma questão 12 com uma alternativa 116918! - Professor, a prova só tem 10 questões e todas são abertas. - Sim, mas 116918 pode ser um código, por exemplo, para a palavra “lápis”; que pode ser uma alternativa para a questão 12! - Professor, o senhor está louco? Posso pegar meu lápis, por favor, que continua no chão? Preciso terminar de responder a questão da prova. A turma toda naquele momento havia parado de fazer a prova para ouvir o discurso do professor. Atônitos, nenhum dos alunos ousava falar sequer um “aí”. - Posso pegar o lápis, professor? - Claro! Mas cuidado, estou de olho em você.
  • 5. Aos pouco, os alunos foram retomando a concentração e recobrando o raciocínio necessário para concluir a resolução da prova. Alguns minutos depois, o silêncio foi novamente quebrado, agora, pela voz de uma simpática aluna: - Professor, posso pegar minha lapiseira pra fazer a ponta do meu lápis? - Aha! A velha estratégia da lapiseira!