2. INTRODUÇÃO
A conjunção psicanálise e educação já conheceu inúmeras
formas, desde aquela própria ao otimismo que assolou o
movimento psicanalítico na década de vinte, confiante nos
auspícios de uma educação psicanaliticamente esclarecida,
conforme aos melhores ideais iluministas.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
3. Freud mesmo não pretendeu ocupar-se de tal tema, deixando-o
ao encargo de sua filha, que, dedicando-lhe “a obra de toda sua
vida”, pôde, segundo ele afirma, compensar a falha paterna. A
retórica de Freud, nesse caso, não deixa de ilustrar aquilo que faz
questão tanto aos métodos educativos quanto à formação do
psicanalista: o fato de que, ao ensinar, o que se transmite é,
justamente, o que falha, mais além de um saber.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
4. Se a eclosão da segunda guerra fez, por um lado, arrefecer o
otimismo no seio da psicanálise, por outro, resultou na expansão
e difusão da teoria psicanalítica pelo mundo.
A ciência judaica da Viena do início do século tornava-se
patrimônio cultural da civilização ocidental. Seus conceitos mais
caros passaram ao domínio público, sendo apropriados pelos
discursos hegemônicos do saber. A junção psicanálise e
educação recebia aí uma nova torção, onde a teoria psicanalítica
via-se degradada numa psicologização das relações de
aprendizagem.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
5. Sem nutrir a esperança de que uma educação psicanaliticamente
orientada venha livrar a infância de sua neurose, encontramo-
nos constantemente com a solicitação, dirigida à psicanálise, de
responder ao insabido da educação.
Nesse terreno, não cabe furtar-se ao diálogo: diálogo que exige,
contudo, recuperar e salvaguardar as distinções epistêmicas
operantes num campo e noutro para, então, descortinar-se uma
contribuição possível ao campo da educação a partir do seu
atravessamento pela noção de sujeito de desejo que a
psicanálise aporta.
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6. LIMITES E POSSIBILIDADES DA PSICANÁLISE NA EDUCAÇÃO
Comenta-se muito – e até se firma na legislação educacional –
que uma das tarefas da educação escolar é contribuir para a
formação da personalidade da pessoa. Sob o prisma da
Psicanálise, essa pretensão deve ser relativizada, pois os
alicerces do caráter do indivíduo já se encontram firmados
quando ele vai pela primeira vez à escola.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
7. Quando o professor entra em cena na vida da criança, tem
diante de si um indivíduo cujos traços fundamentais do ego já
estão sedimentados. Todas as vivências orais, anais,
masturbatórias, todo o conflito edipiano que sustenta o
superego, enfim, traços fundamentais do ego e de suas relações
com o id já se encontram definidos nesse momento.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
8. Recalcamentos, repressões, mecanismos de defesa do ego e de
ocultamento de desejos já fazem parte da personalidade. O que
pode fazer o professor, então?
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
9. Vimos acima que o professor, orientado pelos conhecimentos
psicanalíticos, dispõe de saberes que lhe permitem conhecer –
ou ao menos supor – o que se passa com seu aluno nas
diferentes fases de seu desenvolvimento, o modo como sua
libido se manifesta, os conflitos pelos quais atravessa e as
angústias das quais está sendo vítima.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
10. O professor que compreende a Psicanálise está à frente dos
demais, pois tem em mãos um quadro de referências que
fornece um panorama, ainda que não específico, sobre a vida
psíquica da criança e do adolescente.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
11. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
Sob a ótica da concepção freudiana de sociedade, qual é o
sentido da educação, seja no lar, seja na escola?
Inevitavelmente, a educação visa reprimir a energia sexual para
convertê-la em sentimentos que possam ser empregados em
prol da harmonia social. Este pressuposto aplica-se a qualquer
tipo de organização social, capitalista ou socialista.
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12. O que Freud quis dizer é que não existe a mínima possibilidade
de vivermos coletivamente sem que cada indivíduo aprenda
sentimentos como solidariedade, fraternidade e cooperação. E
estes sentimentos realmente se aprende, segundo ele, pois não
são próprios do ser humano, conforme ficou evidente nos
eventos da horda primitiva. Como são resultados de
aprendizagem, precisam ser ensinados, pela família e pela
escola.
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13. O que Freud quis dizer é que não existe a mínima possibilidade
de vivermos coletivamente sem que cada indivíduo aprenda
sentimentos como solidariedade, fraternidade e cooperação. E
estes sentimentos realmente se aprende, segundo ele, pois não
são próprios do ser humano, conforme ficou evidente nos
eventos da horda primitiva. Como são resultados de
aprendizagem, precisam ser ensinados, pela família e pela
escola.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
14. EDUCAÇÃO TERAPÊUTICA:
UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL ENTRE PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
A Educação Terapêutica, termo cunhado para fazer face a um
tipo de intervenção junto a crianças com problemas de
desenvolvimento, é um conjunto de práticas interdisciplinares de
tratamento, com especial ênfase nas práticas educacionais, que
visa à retomada do desenvolvimento global da criança ou à
retomada da estruturação psíquica interrompida ou à
sustentação do mínimo de sujeito que uma criança possa ter
construído.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
15. Em certa consonância com o “moderno” discurso da inclusão
escolar, a Educação Terapêutica propõe para a criança com
transtornos graves, primeiramente, um lugar na escola.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
16. Aposta-se com isso no poder subjetivante dos diferentes
discursos que são postos em circulação, no interior do campo
social, com o intuito de assegurar, sustentar ou modelar lugares
sociais para as crianças, levando em conta que, neste sentido, o
discurso (ou discursos) em torno do escolar são particularmente
poderosos.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
17. Uma designação de lugar social é especialmente importante para
as crianças incapazes de produzir laço social, como é o caso das
crianças psicóticas ou com transtornos graves. Mesmo
decadente, falida na sua capacidade de sustentar uma tradição
de ensino, a escola é uma instituição poderosa quando lhe
pedem que assine uma certidão de pertinência: quem está na
escola pode receber o carimbo de “criança”.
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
18. CONCLUSÃO
A Psicanálise trouxe uma nova forma de olhar a criança e a
infância. O maior contributo de Freud, para os profissionais da
educação, reside no facto de ter conduzido a uma forma nova de
olhar a infância, que contrasta fortemente com a crença
vitoriana de que o mau comportamento ou os problemas de
personalidade da criança eram o resultado do pecado original, só
corrigíveis por uma disciplina severa e rígida (Fontana, 1986).
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19. CONCLUSÃO
A Psicanálise trouxe uma nova forma de olhar a criança e a
infância. O maior contributo de Freud, para os profissionais da
educação, reside no facto de ter conduzido a uma forma nova de
olhar a infância, que contrasta fortemente com a crença
vitoriana de que o mau comportamento ou os problemas de
personalidade da criança eram o resultado do pecado original, só
corrigíveis por uma disciplina severa e rígida (Fontana, 1986).
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
20. Ao longo dos últimos cem anos, a Psicanálise teve um papel
incontornável na compreensão do funcionamento mental e,
inevitavelmente, os seus contributos foram sendo
progressivamente integrados no domínio educativo. Este artigo
centrar-se-á sobre a descrição deste contexto.
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