SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Discurso em homenagem a rômulo almeida
1. DISCURSO EM HOMENAGEM A RÔMULO ALMEIDA
RÔMULO ALMEIDA: USINA DE IDEIAS PELO PROGRESSO DA BAHIA E
DO BRASIL E GRANDE PALADINO PELO FIM DA DITADURA
MILITAR E PELA REDEMOCRATIZAÇÃO DA BAHIA E DO BRASIL
Fernando Alcoforado*
Estou bastante honrado em usar da palavra neste momento em que é prestada
homenagem a um dos mais eminentes brasileiros e baianos do Século XX graças à
deferência do presidente do IRAE- Instituto Rômulo Almeida de Altos Estudos,
Economista e Professor Aristeu Almeida que incumbiu-me da tarefa de falar em
nome desta instituição que tive o prazer de ser um dos seus fundadores e ter sido
seu primeiro presidente.
Eu não pretendo detalhar no meu pronunciamento toda a grande obra realizada por
Rômulo Almeida como economista e político na defesa dos interesses da Bahia e do
Brasil, mas destacar, sobretudo, que além de ter sido uma usina de ideias que
ajudou a conceber a criação do Polo Petroquímico de Camaçari, depois de propor a
criação da Petrobrás, Eletrobrás e outras estatais, inclusive a SUDENE, o BNB e o
BNDES, foi também um grande lutador pelo fim do regime militar e pela
redemocratização da Bahia e do Brasil.
Sobre o Polo Petroquímico de Camaçari, hoje denominado Polo Industrial de Camaçari,
que representou um ponto de inflexão na economia da Bahia, é importante destacar
que este empreendimento econômico nasceu a partir do PLANDEB- Plano de
Desenvolvimento do Estado da Bahia que foi o maior projeto de planejamento
econômico realizado na Bahia em sua história, elaborado pelos técnicos da
Comissão de Planejamento Econômico da Bahia –CPE, no governo de Antonio
Balbino de Carvalho Filho na década de 1950, sob a liderança do economista
Rômulo Barreto de Almeida.
Ressalte-se que o PLANDEB é contemporâneo do relatório do GTDN elaborado por
Celso Furtado na década de 1950 voltado para o desenvolvimento do Nordeste. A
importância do PLANDEB reside no fato de, por seu intermédio, o Estado da Bahia
ter superado meio século de decadência econômica que era denominado de “enigma
baiano” porque no Brasil apenas a Bahia tinha uma economia estagnada, isto é, não
crescia economicamente.
Cabe observar que, de 1895 a 1925, os principais produtos de exportação da Bahia eram
o açúcar, o café, o fumo, o cacau e o algodão. O cacau em baga alcançou em 1925 a
liderança entre os produtos de exportação da Bahia abrindo uma nova fase em sua
economia. No campo industrial, se destacavam as indústrias têxteis em um universo em
que havia dezenas de fábricas de chapéus, velas de cera, cigarros, charutos, calçados
que não passavam de pequenas e médias oficinas artesanais. De 1930 até 1950, a Bahia
continuou dependendo economicamente do seu principal produto de exportação: o
cacau, dependência essa que continuou até a década de 1980, mesmo após a
implantação da Refinaria de Mataripe em 1950.
A partir da década de 1950, o governo da Bahia desencadeou um processo de planejamento
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2. voltado para o desenvolvimento do Estado materializado no Plano de Desenvolvimento da
Bahia — PLANDEB. Para haver o PLANDEB, era necessária a existência de uma figura
providencial de larga visão que se chamava Rômulo Almeida, que buscou assentar as bases
para uma economia desenvolvida na Bahia estimulando o processo de industrialização.
No período entre 1950 e 1970, o Estado da Bahia passou por um processo sistemático de
planejamento, no qual se destaca como já afirmamos o Plano de Desenvolvimento da Bahia
— PLANDEB, elaborado sob a liderança de Rômulo Almeida, que projetou um setor
industrial objetivando um equilíbrio entre a produção de bens de consumo e de capital, além
de enfatizar a prioridade para a especialização das grandes empresas produtoras de bens
intermediários, aproveitando alguns recursos naturais à época abundantes na região, como o
petróleo.
O PLANDEB propunha projetos que integrariam de forma sistêmica os setores agrícola,
industrial e comercial, objetivando o desenvolvimento equilibrado do Estado da Bahia. A
estratégia adotada contemplava a atração de grandes empresas produtoras de bens
intermediários que atuariam como polos do desenvolvimento industrial juntamente com as
empresas produtoras de bens finais que se instalariam a jusante nos centros e distritos
industriais criados para abrigá-las, tanto na Região Metropolitana de Salvador quanto nas
cidades do interior.
Em sua história, o Estado da Bahia apresentou duas dinâmicas bem distintas: a
primeira, que vai do Século XVI até 1970, corresponde à fase de economia primário-
exportadora e, a segunda, de 1970 em diante, diz respeito à fase de economia
predominantemente industrial inaugurada com a implantação da indústria
petroquímica ampliada pela metalurgia do cobre, pela indústria de celulose e, mais
recentemente, pela indústria automobilística.
Entre 1970 e 1980, com financiamentos a juros subsidiados, isenção de impostos e
incentivos fiscais com o aporte de consideráveis recursos públicos a fundo perdido
oriundos dos organismos de fomento ao desenvolvimento do país, foram implantados os
distritos industriais do interior e da RMS (o Centro Industrial de Aratu e o Complexo
Petroquímico de Camaçari) e montado o parque produtor de bens intermediários
concentrados nos segmentos da química/petroquímica e dos minerais não metálicos. De
1980 até o momento atual, concretizou-se efetivamente a implantação do Complexo
Petroquímico de Camaçari em consequência da evolução do setor petrolífero e químico
do Brasil.
A partir da década de 1980, Rômulo Almeida se empenhou ao máximo na luta pela
redemocratização do Brasil, inicialmente no MDB e, posteriormente, no PMDB, quando
exerceu a presidência deste partido político na Bahia, inclusive com prejuízos pessoais,
na época em que Ulisses Guimarães presidia o partido no Brasil. Rômulo se empenhou
ao máximo na luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, pelas Diretas Já para a
presidência da República e, na Bahia, se empenhou também na luta pelo fim da
dominação da oligarquia comandada por Antonio Carlos Magalhães.
Ao se afastar da presidência do PMDB da Bahia, Rômulo Almeida assumiu a
presidência da Fundação João Mangabeira, a instituição de estudos econômicos, sociais
e políticos do PMDB quando tive a oportunidade de colaborar com sua gestão ocupando
uma de suas diretorias. No Instituto João Mangabeira, Rômulo Almeida criou em 1986
o que batizou de Projeto Bahia para, através de comissões temáticas, contando com a
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3. militância do PMDB, técnicos de reconhecida competência - professores e estudantes
universitários, etc., analisar aprofundadamente os diversos setores econômicos da
Bahia, avaliá-los criticamente e propor ideias para mudança, quebrando velhos
paradigmas e criando novos.
A Fundação João Mangabeira tornou-se uma usina de ideias sob o comando de Rômulo
Almeida e gerou o programa do candidato a governador Waldir Pires eleito em 1986.
Durante o governo José Sarney, Rômulo Almeida foi guindado ao posto de diretor
industrial do BNDES, cargo mais importante da instituição depois da presidência. Como
diretor industrial ele proporcionou ao Nordeste e à Bahia importantes projetos, em
especial nas áreas de celulose e siderurgia. No Ceará, por exemplo, ele sugeriu a criação
do Polo Industrial de Confecções, em Alagoas, da indústria petroquímica, em
Pernambuco, do Complexo Industrial de Suape, na área do Porto de Recife e, em
Sergipe e Rio Grande do Norte, o avanço do turismo.
Com a ascensão de Rômulo Almeida ao cargo de Diretor do BNDES, as comissões do
Projeto Bahia, da Fundação João Mangabeira, ganharam um novo coordenador, Jairo
Simões, economista e parceiro da caminhada de Rômulo Almeida desde a criação da
Comissão de Planejamento Econômico (CPE), na década de 1950, durante o Governo
Antonio Balbino. Mesmo depois de empossado na diretoria do BNDES Rômulo
Almeida não esqueceu os compromissos com a Bahia, com o PMDB, com a Fundação
João Mangabeira e com o Projeto Bahia.
Muito provavelmente, se estivesse entre nós, Rômulo Almeida se tornaria um crítico da
política econômica neoliberal posta em prática pelo governo brasileiro desde 1990 até o
momento atual. Ele sempre foi partidário da ação intervencionista do Estado na
economia no sentido de promover o desenvolvimento econômico e social em benefício
da maioria da população. Pela sua trajetória de vida, constata-se, portanto, que a
contribuição de Rômulo Almeida não se restringiu à área de desenvolvimento
econômico da Bahia e do Brasil. Ele foi também um grande batalhador pela
redemocratização da Bahia e do Brasil.
A implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari se constituiu na sua maior obra
porque ela contribuiu para remover a Bahia do marasmo econômico de meio século que
era denominado de “enigma baiano”. No seu início este empreendimento era voltado
para a produção petroquímica que se diversificou mais tarde abrigando inclusive
montadoras de automóveis ao ponto de ter hoje a denominação de Polo Industrial de
Camaçari. Este empreendimento econômico que impactou extraordinariamente sobre a
economia da Bahia foi realizado por vários governos, mas seu grande mentor foi
Rômulo Almeida. A maior homenagem que a Bahia poderia prestar a um dos seus filhos
mais ilustres seria denominar o Polo Industrial de Camaçari como Polo Industrial
Rômulo Almeida. Esta é a reivindicação do IRAE e, provavelmente, dos meios
intelectuais da Bahia para perpetuar o nome deste grande baiano e brasileiro para a
posteridade.
*Fernando Alcoforado, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi o primeiro
presidente do IRAE- Instituto Rômulo Almeida de Altos Estudos e é autor dos livros Globalização
(Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes
do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
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4. http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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