Em entrevista à Folha, Eduardo Giannetti afirma que, se for eleita, Marina procurará pessoas do PT e do PSDB para formar sua equipe de governo e garantir apoio a seus projetos no Congresso. Para Giannetti, até os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso poderiam colaborar. A estratégia de atrair o PSDB e o PT para comporem o futuro governo Marina Silva ao lado do PSB, Rede Sustentabilidade e partidos aliados seria possível de se realizar porque todos eles rezam no mesmo credo neoliberal.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Marina Silva planeja manter status quo neoliberal
1. EM MARCHA O CONLUIO PARA MANTER O “STATUS QUO”
NEOLIBERAL NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
As pesquisas eleitorais realizadas após a morte de Eduardo Campos apontam a vitória
de Marina Silva, sua substituta como candidata do PSB à presidência da República, no
segundo turno das eleições presidenciais. A estratégia de Marina Silva para vencer as
eleições e assegurar a governabilidade pós-eleitoral já está delineada. Para vencer as
eleições, Marina Silva precisa granjear o apoio de amplos setores da população
acenando com a perspectiva de mudanças visando a superação das fragilidades
econômicas e sociais do Brasil que se agravaram no governo Dilma Roussef e o apoio
também dos detentores do capital especialmente do sistema financeiro com a
manutenção do credo neoliberal baseado na política do câmbio flutuante, da meta de
inflação e da disciplina fiscal estabelecida pelo governo Fernando Henrique Cardoso
(FHC) e mantida pelos governos Lula e Dilma Roussef.
Os governos FHC, Lula e Dilma Roussef estabeleceram como estratégia para alcançar a
governabilidade do país a troca de favores com os partidos aliados no Congresso
Nacional, especialmente com o PMDB. A troca de favores vem se traduzindo no
loteamento de cargos ministeriais e comissionados na estrutura do governo para
acomodar integrantes dos partidos aliados. Esta situação fez com que no governo Dilma
Roussef o número de ministérios chegasse a 39 e o de cargos comissionados a 22,6 mil.
A conquista de apoios por parte do governo FHC se fez também com a compra de votos
parlamentares para assegurar sua reeleição e pelo governo Lula da compra de votos
parlamentares para aprovarem os projetos do governo no Congresso Nacional como
ficou comprovado no processo do mensalão.
Para evitar a adoção desta prática espúria considerada como “velha política” por Marina
Silva, ela se propõe a tornar como aliados Lula e FHC conforme afirmou um dos seus
principais conselheiros o economista Eduardo Giannetti em entrevista à Folha de S.
Paulo (Ver a matéria Queremos Lula e FHC como aliados, diz conselheiro econômico
de Marina publicado no website
<http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1505301-queremos-lula-e-fhc-como-aliados-
diz-conselheiro-economico-de-marina.shtml> no dia 25/08/2014). Em entrevista
à Folha, Eduardo Giannetti afirma que, se for eleita, Marina procurará pessoas do PT e
do PSDB para formar sua equipe de governo e garantir apoio a seus projetos no
Congresso. Para Giannetti, até os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando
Henrique Cardoso poderiam colaborar.
Eduardo Giannetti afirmou que tentaria levar para o governo membros de siglas rivais.
Segundo Giannetti, o PSDB é um partido de muitos técnicos e pouca liderança e o PT
também tem técnicos de excelente qualidade, que trabalharam no primeiro mandato de
Lula, e que adoraria levá-los para integrar o futuro governo Marina Silva. Eduardo
Giannetti afirmou que a ideia é a de governar com os melhores na política e na gestão
de políticas públicas. Além de assegurar a governabilidade do futuro governo Marina
Silva com a constituição de um amplo governo, esta estratégia viria suprir uma das
deficiências do PSB e da Rede Sustentabilidade que é a de não dispor de quadros
técnicos competentes para assumir os encargos de governar o país.
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2. A estratégia de atrair o PSDB e o PT para comporem o futuro governo Marina Silva ao lado
do PSB, Rede Sustentabilidade e partidos aliados seria possível de se realizar porque todos
eles rezam no mesmo credo neoliberal baseado no conjunto de medidas preconizado pelo
FMI e pelo Banco Mundial — o Consenso de Washington — que estabeleceu três passos a
serem dados pelos governos no mundo na seguinte ordem: 1) estabilização da economia
(combate à inflação); 2) realização de reformas estruturais (privatizações,
desregulamentação de mercados, liberalização financeira e comercial); 3) retomada dos
investimentos estrangeiros para alavancar o desenvolvimento. Eduardo Giannetti deixa bem
claro em sua entrevista que o governo Marina Silva pretende restabelecer o tripé
macroeconômico (câmbio flutuante, meta de inflação e disciplina fiscal) que tinha sido
construído no segundo mandato de FHC e foi confirmado e reforçado por Lula em seu
primeiro governo.
Segundo Giannetti, durante o governo Dilma Roussef o Brasil deixou de cumprir por
incompetência o Consenso de Washington passando a enfrentar inflação alta,
artificialmente controlada e a lidar com o câmbio supervalorizado que prejudica a indústria
brasileira. Além disso, afirma que estamos com um déficit em conta corrente nas trocas com
o exterior de 3,2% do PIB, o que nos coloca de volta na vulnerabilidade externa do primeiro
mandato de FHC. E isso com o menor crescimento da era republicana, excetuando os
governos de Floriano Peixoto e Collor. O propósito do governo Marina Silva é o de fazer
com que o credo neoliberal volte a ser competentemente executado no Brasil assegurando a
independência do Banco Central cujos presidentes e diretores teriam mandatos fixos e não
estariam sujeitos a ordens do presidente da República.
Tornar o Banco Central independente significa, na prática, fazer com que sejam
assegurados os interesses do sistema financeiro nacional e internacional que foram
mantidos pelos governos FHC, Lula e Dilma Roussef, haja vista que os Bancos Centrais se
constituem em todo o mundo no quartel general do capital financeiro em todos os países.
Não é por acaso que uma das principais conselheiras de Marina Silva é Neca Setúbal
vinculada ao grupo Itaú. Embora Marina Silva se apresente como uma alternativa ao PT e
PSDB na política brasileira, muito do que ela defende na economia representa uma volta à
rota proposta pelo PSDB e mantida pelo PT. Não há contradição de Marina Silva com o PT
no que concerne à manutenção de programas como o Bolsa Família que, segundo,
Giannetti, são intocáveis.
Segundo Giannetti, o gasto com o Bolsa Família não é problemático. Em sua opinião, o
gasto público aumentou porque o governo deu isenções de impostos em torno de R$ 250
bilhões para setores escolhidos. O incentivo do BNDES para um grupo seleto de empresas é
maior do que o gasto com o Bolsa Família. Giannetti defende a tese de que é impensável
aumentar impostos e de que é necessário ser muito criterioso nos gastos públicos
identificando onde eles vêm crescendo. A regra de ouro é que os gastos correntes não
podem crescer mais do que o PIB. Significa também rever isenções tributárias. Giannetti
afirma que o governo mexeu discricionariamente em impostos com base na pressão de
setores empresariais para obter benefícios, não só de impostos como o IPI, mas também nas
tarifas de importação. Com a economia retomando o crescimento e com os gastos públicos
crescendo menos do que o PIB, no tempo, seria possível corrigir esta distorção. Este seria o
caminho proposto por Eduardo Giannetti para superar os problemas econômicos do Brasil.
Percebe-se, pelo exposto, que o Brasil manterá lamentavelmente o “status quo” qualquer
que seja o vencedor das eleições presidenciais. Isto é, o modelo neoliberal inaugurado por
FHC e mantido pelos governos Lula e Dilma Roussef seria revigorado. Isto significa dizer
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3. que as taxas de juros Selic continuarão a crescer da mesma forma que a dívida pública
interna em benefício do sistema financeiro e em detrimento do povo brasileiro que ficará
carente dos serviços públicos de educação, saúde, infraestrutura, entre outros, porquanto
grande parte das receitas do governo federal continuará a ser destinada ao pagamento do
serviço da dívida pública. Em 2013 quase metade do orçamento do governo federal foi
destinado ao pagamento dos encargos com a dívida pública. Trata-se de uma situação
insustentável que nenhum dos candidatos presidenciais se propôs a solucionar para não se
atritar com os detentores do sistema financeiro nacional e internacional. Diante deste fato,
tudo leva a crer que o Brasil será levado à bancarrota pelo fato de manter em operação o
falido modelo econômico neoliberal.
Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.
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