Este artigo discute como empresas devem aplicar tecnologia de forma estratégica e alinhada aos seus objetivos de negócio, e não de forma excessiva, como ilustrado pelo caso de uma multinacional que tentou transformar sua área de TI em centro de receitas, mas falhou ao não considerar o contexto organizacional.
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O veneno e o remédio. Saiba a dosagem certa
1. Mario Faria - Professor do MBA das disciplinas de Marketing e Estratégia da Business School São
Paulo (mario.faria@prof.bsp.edu.br)
O Veneno e o Remédio. Saiba a dosagem certa
04/03/2011
http://computerworld.uol.com.br/blog/opiniao/2011/03/04/o-veneno-e-o-remedio-sabe-a-
dosagem-correta-de-tecnologia-para-sua-empresa/
“Não há nada na natureza que não seja venenoso. A diferença entre
remédio e veneno está na dose de prescrição” – Paracelso, médico
renascentista, 1493- 1541, considerado o pai da toxicologia.
Da mesma forma, tecnologia de menos é ruim. E tecnologia demais pode prejudicar
muito seu negócio.
Tenho um amigo, o Luis, que durante anos ocupou um cargo estratégico como diretor de
tecnologia de uma multinacional de bens de consumo com atuação no Brasil. Apesar de
ser uma líder global em seu segmento, bastante respeitada por seus produtos, reputação,
ações de marketing e posicionamento no mercado, a TI ainda era encarada como despesa,
e nunca teve muita importância perante outras áreas da organização.
Em uma das reuniões do conselho na matriz, alguém teve uma grande idéia: fazer com
que a TI deixasse de ser um centro de custos, e passasse a ser também responsável por
geração de receitas e influindo diretamente no resultado da empresa. Desta forma,
poderiam viabilizar mais tecnologia para as áreas de negócio e ainda ganhar dinheiro com
isto.
A proposta foi aprovada e resolveram levar o projeto adiante, imediatamente. Como parte
da iniciativa, o conselho resolveu oxigenar a TI, e foi ao mercado buscar um executivo
para liderar as mudanças exigidas. Ao chegar, John, profissional contratado para esta
empreitada, começou a realizar mudanças drásticas na organização e anunciou parcerias
estratégicas com as principais empresas de tecnologia do mundo. Criou novos
departamentos, novas funções, desenvolveu produtos para serem levados ao mercado, e
até mesmo constituiu novas empresas. Tudo isto como um meio de gerar a tão esperada
receita. Ao mesmo tempo, racionalizaram algumas áreas, buscando sinergias e eficiência.
2. A partir daí, Luis, sua equipe e seus pares passaram por momentos de altos e baixos.
Receberam uma quantidade enorme de treinamentos de reciclagem e qualificação.
Passaram a ter responsabilidade maior nos projetos, para estarem sempre de olho em
oportunidades de como levar o que estava sendo feito internamente para o mercado. E
passavam grande parte do tempo em reuniões de planejamento com os fornecedores de
tecnologia. Além é claro, de várias viagens, dentro e fora do Brasil. A cobrança aumentou
mais e mais, e os gestores de TI começaram a ser avaliados por resultados financeiros.
Em dois anos, a área de TI estava completamente diferente em termos de serviços
prestados e modelo de governança. Só que, infelizmente, tudo que foi criado e
construído, não refletiu em geração de receitas. Apesar da empresa agora estar utilizando
tecnologia de ponta para toda e qualquer iniciativa, infelizmente a TI não conseguiu ser
um centro de receitas. Resumindo, dos planos mirabolantes iniciais, quase nada se
concretizou conforme o desejado.
Sempre fui a favor de investimentos em tecnologia, com o objetivo claro que eles
pudessem trazer retornos onde fossem feitos. Tecnologia ajuda muito, porém não é
suficiente. É necessário que sua aplicação esteja alinhada com os objetivos estratégicos
do negócio, que seja aplicada em um contexto administrativo, econômico e cultural onde
os benefícios desejados possam ser estabelecidos antes mesmo que se faça qualquer ação.
Final da história: como parte do processo de mudanças pelo qual a empresa passou, o
Luis foi despedido, e resolveu sair de vez do mercado corporativo, abrindo um negócio
próprio em um segmento totalmente diferente de onde sempre atuou. Está feliz com a
nova vida. O próprio John, executivo contratado para implementar as mudanças, também
foi desligado um tempo depois, por não ter conseguido realizá-las e atingido os resultados
esperados pelo conselho.
Moral da história: Você sabe qual é a dosagem correta de tecnologia para sua
empresa?