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Frontispício
______________________
Memória cineclubista de Pernambuco
______________________
Gê Carvalho entrevista
Alex | Alexandre Figueirôa | Celso Marconi | Cláudio Assis
Fernando Spencer Flávio Rodrigues | Fredi Maia | Geneton Moraes Neto
Geraldo Pinho |Hugo Caldas | João Junior | João Valença
Jomard Muniz de Brito | Katia Mesel | Kleber Mendonça Filho
Lauro e Marilda | Leo Sette
Lírio Ferreira | Luciana Araújo | Luiz Joaquim | Marcelo Gomes
Marcelo Pedroso | Nilton Pereira | Osman Godoy | Osmar Barbalho
Paulo Caldas | Paulo Cunha | Sérgio Dantas
Isabela Cribari (org.)
Onde se planta e se brota
______________________
Gê Carvalho
Foi no Espaço Laboratório, no Pátio de São Pedro, em 2003, que realizei minha
primeira sessão pública com espírito cineclubista. A exibição foi em formato Super 8 só
com filmes de realizadores da época mais fervente desta bitola em Pernambuco.
Depois, fui morar em Niterói e criei o Cine Sesc Digital. Este foi o primeiro cineclube
que me envolvi de fato, com sessões regulares e responsável por todo o processo da
atividade cineclubista. Neste período me aproximei de outros cineclubistas do Estado do
Rio de Janeiro e percebi ali a importância política que esta atividade englobava.
Quando retornei para Pernambuco criei, junto com Sérgio Leão, Daniel Bauboa e
Juliana Pinheiro, o cineclube Amoeda Digital, que iniciou no Bar Novo Pina, na rua da
Moeda, Recife Antigo e, nitidamente, percebi que havia aqui uma produção
cinematográfica que se destacava já fazia algum tempo, no entanto, os cineclubes
estavam desarticulados, não havia diálogo, as ações eram isoladas, sem a força e sem a
importância e visibilidade merecidas.
Nós, do Amoeda Digital, convocamos reuniões a fim de unir os cineclubes buscando
fortalecer e integrar suas ações na formação de público, mas foi só com a presença e uma
articulação com a Coordenadora de Cinema e Vídeo do Estado, Carla Francine, que
vimos possível nosso desejo de organização contemplado.
Juntos, realizamos, em 2008, o I Encontro de Cineclubes Pernambucanos com
incentivo da Fundação do Patrimônio Histórico e Artísticos de Pernambuco – Fundarpe.
Na ocasião contamos com a presença de diversas figuras do cineclubismo nacional bem
como João Baptista Pimentel Neto, Frederico Cardoso, Zonda Bez e outros recém-
descobertos cineclubista de Pernambuco, totalizando 12 cineclubes no encontro.
Este momento culminou na criação da Federação Pernambucana de Cineclubes –
Fepec, da qual fui sugerido e eleito presidente no primeiro ano da entidade e desde então
mantive a dedicação ao movimento cineclubista presidindo-a, iniciando em 2012, a
terceira gestão.
Observando os rumos que o movimento cineclubista nacional se desdobrava com
ações particulares e principalmente em programas de governo, como o Cine Mais
Cultura que, em parceria com o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros — CNC,
criaram cerca de 1.200 novas salas de exibição cineclubista por todo país.
Em Pernambuco não foi diferente: o surgimento da Fepec, em 2008, como falei há
pouco, contava com 12 cineclubes e, em menos de um ano, tínhamos o dobro desse
número. Até fevereiro de 2012 a Federação Pernambucana de Cineclubes conta com 60
cineclubes filiados.
Este crescimento no número de cineclubes e, logicamente, no interesse pela atividade
cineclubista, me fizeram refletir acerca da necessidade de guardar uma memória desta
atividade.
Os novos cineclubistas precisavam entender a importância histórica de sua prática,
saber de onde vem, quais rumos tomaram desde a primeira exibição aqui em
Pernambuco, o que as sessões influenciaram nos experienciados, quais resultados
tiveram? Todas essas perguntas pareciam urgentes e necessárias.
Então fiz ligações para amigos cineclubistas de diferentes décadas, e iniciei uma
pesquisa simples e exploratória a fim de obter informações que tornassem visível a
necessidade deste projeto para o momento singular do cineclubismo. Nesta pesquisa
inicial descobri que em todo país, não havia uma memória das ações cineclubistas. Cada
estado tem sua história e suas especificidades e é o conjunto da memória de cada estado
que será capaz de traçar um panorama da história do cineclubismo brasileiro, este livro
em formato e-book é o primeiro projeto nesta plataforma e, hoje, de fácil acesso.
O início do projeto previa a realização de 12 ou 15 entrevistas, no máximo, para que
desse universo pudesse tirar um conteúdo histórico para compor o livro.
No entanto, enquanto fazia a pesquisa e as entrevistas, este universo saltou para 28
entrevistados e um conteúdo foi se desvendando ainda mais rico e reflexivo. Cada
entrevista tinha um clima diferente, uma energia diferente e um ritmo diferente. Foi uma
verdadeira viagem saltando décadas e entendendo o que unia cada momento desta
história: o amor e o sonho de viver um cinema próprio, um cinema revolucionário e
transformador. Havia também os que só queriam se divertir, os que se interessavam
apenas pela tecnologia, mas o que predominava nas mentes e nos corações de todos os
cineclubistas era de fato a vontade e o sonho de mudar o mundo, começando pelo seu
mundo.
Mesmo que com o dobro de entrevistas realizadas, identifiquei que há outras figuras
importantes, outros momentos importantes, outras ações importantes, outras
participações importantes na história do cineclubismo em Pernambuco e que, espero ter
a oportunidade de mergulhar ainda mais nessa história que esclarece e desvenda um
fértil terreno na formação de um senso crítico regional e universal bem como na
formação e revelação de possibilidades de mundo.
Fiquei ainda mais convencido de que cineclube é um lugar onde se planta e brota
semente e que o cineclubismo é a agricultura da mente. Desejo a todos os leitores do livro
Memória Cineclubista de Pernambuco um fértil encontro ou, para os cineclubistas já
iniciados, uma confirmação.
Com exceção do cineasta Geneton Moraes Neto, Sr. Lauro e Sra. Marilda, onde
realizamos as entrevistas em suas respectivas residências, todas as demais foram
realizadas em cinemas e teatros do Recife e uma em um teatro de Salvador.
As entrevistas compõem a principal parte do processo desta pesquisa que antecede o
publicação do livro. Tudo foi filmado e esse material compõe o vídeo do livro, contendo
trechos das entrevistas, ou seja, o vídeo é parte do livro. O que está no vídeo, está no
livro, mas é aqui, no livro, onde você encontra mais informações.
Muitas pessoas contribuíram para este projeto, não só pessoas, mas também órgãos e
entidades. Por este feito, agradeço à Fepec pela colaboração nas transcrições das
entrevistas; à Aurora Filmes pelo apoio em ilha de edição, à Prefeitura de Salvador e ao
Teatro Municipal e a Igor Souto, pela filmagem em Salvador; à Comissão Deliberativa
do Funcultura por acreditar no projeto, ao Governo de Estado de Pernambuco, à
Secretaria de Cultura e à Fundarpe pelo patrocínio.
Recentemente, em 2008, foi realizada em Belo Horizonte, entre os dias 17 e 21 de
novembro, a 27ª. Jornada Nacional de Cineclubes. Dentre os vários GTs (grupos de
trabalhos) criados, o de Memória e o de Comunicação atentam para a falta de uma
cultura de memória e registros das atividades cineclubistas. E isso se aplica ainda para o
presente.
Em outro trecho do documento do GT de Memória informa-se que em todo país há
uma “restrita existência de uma memória documentada e sistematizada do movimento
cineclubista e dos cineclubes brasileiros, verificando- se apenas a existência de acervos e
documentos esparsos, além da memória pessoal de cineclubistas que atuaram em
diversas fases do movimento”.
Em Pernambuco, o movimento cineclubista teve seu início ainda na década de 1940,
quando Pedro Salgado Filho promovia em sua casa, exibições de filmes nacionais e
estrangeiros. Esta iniciativa era conhecida como “Cine Siri”.
Em 1943, Jota Soares entra para diretoria e propõe uma mudança no nome, que
passou a se chamar “Museu-Cinema”. Esta atividade tornou possível a preservação de
filmes ícones para Pernambuco, tais quais: A filha do advogado, Retribuição e Jurando
vingar.
Desde aquela década, onde na verdade não havia ainda a consciência de que se fazia
o cineclubismo, muita coisa aconteceu na história desta atividade.
Após 65 anos da criação do “Museu-Cinema”, foi criada a Fepec – Federação
Pernambucana de Cineclubes. Pela primeira vez na história da atividade cineclubista no
Estado, há um movimento oficial e organizado.
Antes disso, desde a década de 1950 até os anos 1990, a atividade cineclubista em
Pernambuco vive diversas fases, no entanto, ao que parece, nunca ficou parada.
No final da década de 1950, o casal Lauro Oliveira e Marilda Vasconcelos, criaram o
Cineclube “Vigilanti Cura”, na rua do Riachuelo, no bairro da Boa Vista, que teve também
a participação de Jomard Muniz de Brito em sua organização. Seria esta, talvez, a
primeira vez que se utilizava a expressão Cineclube no Estado de Pernambuco.
No início dos anos 1960, ainda antes do golpe militar, surge o “Cineclube Projeção
16”, no centro do Recife, no prédio da Assessoria de Imprensa de Pernambuco, que viria
se tornar o Cinema — AIP.
Com a chegada do golpe militar e do AI5, tantos foram os momentos inusitados e
arriscados, como por exemplo, os cineclubistas que tinham que fugir da censura, ou
muitas vezes, driblá-la para conseguir exibir o filme. Neste tempo, muito se viveu, mas
pouco se guardou, salvo as experiências e consequentes lembranças daqueles que
viveram este tempo.
Resgatar, rememorizar e registrar a maior parte dessa história contada por quem a
viveu é uma forma de prestar um agradecimento aqueles que contribuíram para o
cineclubismo em Pernambuco, bem como para um amadurecimento a respeito da
própria linguagem do cinema. Entre os poucos documentos ainda existentes, muitos
estão se perdendo devido à ação do tempo e à falta de um arquivamento adequado.
Proporcionar o acesso democrático em um espaço que possa reunir esse material para
pesquisa e estudo da nossa história é um dos objetivos deste projeto. Além disso, parte
dessa trajetória vivia apenas nas lembranças de seus atores, e definitivamente, não
iremos mais perdê-las.
A ordem da memória
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Isabela Cribari
O cinema nacional vive hoje um dos seus mais ricos e intensos períodos. De produção.
De visibilidade. Mas a cadeia produtiva do cinema no Brasil ainda tem muitos entraves a
resolver. Muitos elos enfraquecidos. A exibição e a memória são os mais frágeis. Com o
fechamento dos cinemas de bairro e nos interiores houve uma elitização do público, que
passou a pagar quase cinco vezes mais para assistir a um filme, na maioria das vezes
americano, em shopping centers das capitais.
E quanto mais restrita e alienante a exibição cinematográfica no país, mais necessária
é a atividade cineclubista, geralmente formada por jovens idealistas que enxergam no
cinema um grande potencial transformador das pessoas e da sociedade, sendo mais do
que uma atividade de exibição, mas principalmente de formação. De pessoas. De
gerações. De cineastas.
Pernambuco, um estado de vanguarda na arte e que contribuiu significativamente
para a cinematografia nacional, levou o cinema mundial a vários locais através de seus
cineclubes. E este livro pretende contar a história destas iniciativas desde a década de
1940, com reminiscências ainda no Ciclo de 20, no Ciclo do Recife, através da memória
de quem participou das experiências cineclubistas no Estado. Uma memória social que,
como toda memória, é a realidade que, por si, é também percepção e emoção.
Assim foi idealizado este trabalho por Gê Carvalho, que vem organizando o
cineclubismo em Pernambuco, desde a estrutura física, passando pela disponibilização
de acervo, pela formação do pessoal até esta grande iniciativa de resgatar a história do
movimento cineclubista no estado e compartilhá-la com todos.
Não se pode ficar alheio ao excelente esforço e resultado dos quais este Memória do
cineclubismo de Pernambuco se urde: Gê Carvalho conseguiu, sem academicismos, sem
o ramerrão dos especialistas, trazer a público uma história que atravessa gerações, para
questionar o futuro questionando também o passado. Mas de qual passado a memória
também se urde? De qual futuro se urdirá a memória nesse tempo gilbertiano, tríbio?
É só o tempo. Um único tempo e a memória certamente está no futuro que é 1920 e no
passado que será 2020. Gê Carvalho aponta nessa direção.
Quando ele me convidou para organizar este livro, fiquei tão contagiada com as
histórias que vi no material bruto das entrevistas que criei um cineclube também. Dentro
de um grande hospital público do Estado, o Barão de Lucena. Com os mesmos ideais: o
cinema como elemento de formação e transformação, como intermediação da
subjetividade. Da equipe e dos pacientes.
Organizar a memória de um tempo é como criar e manter um cineclube: uma tarefa
ética e ideológica. E ao finalizar este trabalho percebo que o órgão da memória é o
coração.
Então, saúde à memória. A memória vence o tempo, sabiam os gregos.
Décadas de 1940 /1950
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ALEX
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Alex é mesmo o seu nome?
O nome mesmo é José de Souza Alencar. Eu comecei a escrever no Jornal do
Commercio há 62 anos e não tinha uma coluna de cinema. Quem tinha era o Diario de
Pernambuco. E eu aos domingos escrevia uma página no Diario de Pernambuco dando
cotações aos filmes. E fui me habituando com isso e tal e o Jornal do Commercio resolveu
botar uma coluna de cinema para que eu escrevesse todo dia. Todo dia. Eu comentava
filmes todos os dias e naquela época não tinha televisão, era tudo cinema.
Mas vamos falar sobre cineclube, cineclubismo.
Ah! Cineclube! Cineclubismo! Bom, esse eu conheço bem.
Esse livro se chama Memória cineclubista de Pernambuco.
Você acha que o cineclube aqui teve tanta significação mesmo assim?
A questão é essa porque hoje aqui em Pernambuco a gente tem um
momento histórico da atividade cineclubista, montamos até a Federação
Pernambucana de Cineclubes.
Ninguém ouve mais falar.
Para você ter ideia, hoje em Pernambuco são 39 salas de cineclubes que
existem pelo estado inteiro.
Eu posso contar a história como é que foi que começou.
O objetivo desse livro é esse. Como existe um momento de erupção dessa
atividade, a nossa preocupação é que essa atividade não fique como se tivesse
começando agora. Mostrar que existiram pessoas que tinham o espírito
cineclubista e que existiram, de fato, cineclubistas desde 1943, com Pedro
Salgado Filho e Jota Soares no “Cine Siri”, que depois se transformou no
“Museu de Cinema” e que hoje os filmes Aitaré da praia, Jurando vingar, A
filha do Advogado, só existem preservados por conta da atitude de Jota Soares
quando criou o “Museu de Cinema”...
Muito meu amigo ele foi!
Quando criou o “Museu de Cinema” ele se preocupou cineclubisticamente
na questão de preservação dos filmes. Então estavam vendendo filmes a dois
contos de rés o quilo, foi quando Jota Soares foi com Pedro Salgado e
comprou esses filmes e até hoje esses filmes existem por conta dessa atividade
de exibição.
Tinha Jota Soares. Tinha outro alto que era... ele ainda tá vivo esse outro. Lembro
assim, mas esqueci o nome dele. Mas Jota Soares realmente era um homem que tinha até
dinheiro. E ele pode mesmo ter feito isso. Mas Jota Soares só se restringiu a cinema e a
importância dele vem disso. É que ele fez muitos filmes, ele e outros que estavam em
companhia dele no cinema mudo ainda. O cinema falado foi inaugurado em 1927 com Al
Jolson cantando naquele filme O Cantor de jazz. Antes era o cinema mudo, quando ele
fez Aitaré da praia e quando ele fez outros. Ele realmente foi a figura mais expressiva
daqui...
Assim não digo de cineclubes que não se falava nisso na época não. Tinham as pessoas
que gostavam de cinema e lutavam para fazer filmes e queriam fazer filmes. Jota Soares
foi a principal figura. Teve outros que minha memória não dá mais pra lembrar. Porque é
muita coisa que foi acumulando. E ainda faço uma coluna por dia, menos na segunda-
feira. Agora então ele era um homem assim, que gostava de falar sobre cinema, mas
infelizmente, aqui em Pernambuco nunca se valorizou muito o trabalho de Jota Soares. Se
falava muito nos filmes que ele fez, como Aitaré da praia.
Voltando para a questão da exibição... porque Jota Soares teve essa
carreira, mas como um produtor. Ele realizava filmes.
Ele não, ele realizava, ele conseguia tudinho até da produção. Ele tinha dinheiro. Ele
tinha um bom emprego, mais ou menos. É. Ele cuidava da projeção dos filmes, é, ele
enfim, ele cuidava da exibição, dos atores, ele fazia tudo a respeito dos filmes. Tudo que o
filme diz pra ser feito Jota Soares fez, e fez sozinho.
Como é que eram as exibições que ele organizava?
Ele que fazia o filme. As outras pessoas, digamos, não são fundamentais. O
fundamental, o único, é ele. Porque ele tinha ideia e ele mesmo não era bonitão não, ele
se julgava bonito já no fim, já meio velhote. Mas, nunca foi.
Eu não conheci ele no começo, fazendo filmes. Ele era muito mais velho que eu. Mas
então... tínhamos um cinema na Rua Nova. É rua da Imperatriz, rua Nova. Ali tinha um
cinema. Eu não estou me lembrando muito do nome do cinema, acho que era Cine Royal.
Eu estudava direito, era acadêmico de direito, em 1952. Eu, estudante, me interessei por
cinema, morava numa cidade, numa rua de Maceió. Minha mãe morava ali, eu já ia atrás
de ver filmes. O exibidor conhecia minha mãe...
Isso é em que época isso, Alex?
Eu estudava direito e me formei em 1952. Então isso vem de 1940. Isto foi antes,
porque eu como estudante de direito já comecei a me interessar muito por cinema, mas
sempre me interessei por cinema. Porque eu morava numa rua de Maceió que não era rua
de gente rica e tudo mais, mas minha mãe morava ali, e só tinha um cinema em Maceió e
eu já ia atrás de ver filmes. Então o operador, o exibidor dos filmes, que conhecia minha
mãe, me disse, quando eu tinha oito anos: “Olhe só tem uma sessão toda noite que é as
seis e meia no Cinema Ideal”, o cinema que tem lá em Maceió. “Peça a sua mãe, porque
ela gosta muita da minha mulher também, e se ela deixar eu lhe levo pra você ver os
filmes”. Aí eu falei e mamãe deixou. Então todo dia, ele quando ia para o cinema,
chamava. Eu ficava muito alegre, fiquei muito comportado, estudei até mais... E comecei
assim a ver os filmes que eram famosos na época. Eu vi quase todos de Greta Garbo,
Charles Boyer, Mae West, Olivia de Havilland. É. Glória Swanson, que era famosa, era
vamp, e era amante do Kennedy.
E as questões de cineclube?
O cineclube é o seguinte. Ele nunca pensou... Esqueça Jota Soares como um homem
cineclubista especificamente falando. Ele gostava de fazer filmes, ele dava, valorizava
muito os filmes dele, divulgava muito os filmes dele. Fazia tudo isso... o que você
perguntou? Se ele fazia cineclube?
Não só Jota Soares... Você fazia cineclube?
Jota Soares se interessava na divulgação dos filmes feitos aqui. A partir do dele como
precursor, que foi o principal, outro qualquer que diga que foi não foi, não é verdade. Não
acredite. Foi Jota Soares. Depois vieram outros que eu não estou lembrado do nome. Eu
me lembro dele porque eu conversava muito com ele. Era o principal. Tinham os
coadjuvantes dele, os auxiliares e tudo mais. Então ele conseguia exibir esses filmes no
Cinema Royal da rua Imperatriz e Boa Vista, né? Qual é?
Imperatriz e Rua Nova.
Imperatriz e Rua Nova, ali na metade junto daquela igreja que tem dos militares tinha
uma casa lá que era um cinema...
Tinha debate nas sessões?
Não.
Era só a exibição dos filmes?
Era uma sessão só. As pessoas iam, mas não havia essa facilidade de transporte, se
bem que hoje em dia o transporte é um caos. Naquele tempo era a falta. Então Nelson
Ferreira, que foi um dos maiores compositores de frevo e de tudo isso, um dos maiores
pianistas aqui de Pernambuco, era famosíssimo em toda parte. Nelson Ferreira foi um
mito e infelizmente, não é reconhecido aqui no Recife. As pessoas que fazem alguma coisa
parece que não se reconhece muito.
Mas Nelson Ferreira era colossal, eu digo porque nos filmes que eu ia assistir...
digamos... A cena do bandido correndo atrás do cowboy ou coisa dessa se fosse um
faroeste ele tocava no piano a música adequada. Absolutamente adequada. Se fosse num
momento assim ainda com legenda eu digo, legenda apagada, sem se falar, era cinema
mudo. Aí então ele dava o tom, é como se diz, o tom...
De tranquilidade...
Moderno, emocionado, é na verdade amoroso. De emoção, de tudo isso...
Agora eu lhe digo como toda sinceridade que é nessa época que Jota Soares...
Ele fez os filmes dele aqui com ajuda de outras pessoas, mas que ele era a cabeça
principal, se ele não fosse um homem corajoso e não tivesse dinheiro pra bancar os
filmes, nada teria sido feito. Aí então ele queria falar só dos filmes dele.
E no “Cineclube do Recife” tinha que ser sócio?
Você não precisava ser sócio, a gente botava o nome clube porque não tinha outro
nome pra botar. No “Cineclube do Recife” você chegava, pagava e pegava o ingresso.
Existia o “Vigilanti Cura” também, você já ouviu falar desse cineclube?
Vigilanti Cura era uma coisa de católico, que não tinha significação nenhuma. Nada.
Existia. Falava-se em “Vigilanti Cura” que era dominado pela Igreja. Apesar que tinham
filhos das putas como José Sarney que proibiram Je vous Salue Marie, do Chabrol. Do
Chabrol, não. É de outro francês.
É de Godard.
É dele, que é famosíssimo.
Você conheceu o “Cine Siri”? Chegou a ouvir falar desse “Cine Siri”?
Não.
Nem do “Museu de Cinema”?
Não. Mas, deixa eu dizer só um pouquinho mais do Jota Soares... Enquanto ele fez
filme mudo ele foi absolutamente igual a qualquer cineasta dos Estados Unidos. Toda
aquela merda dos Estados Unidos, ele foi igual. É preciso destacar isso, que o Jota Soares
foi quem deu o começo do gosto pra gente ir ao cinema. Então quando ele estava lá, ficava
na porta e ia conversando... O cineclube era ele que fazia. Apenas não tinha esse nome. As
pessoas que gostavam de cinema ficavam conversando com ele.
Ele discutia filme comigo: “Gostou? Não gostou? Nelson Ferreira chegava... “E aí, a
música hoje estava boa?” Outra pessoa que era muito interessada nisso era um filósofo.
Ele foi da Academia Pernambucana de Letras...foi...ai meu Deus do céu...não estou
lembrado do nome dele... Evaldo Coutinho. Era um intelectual do maior nível... Ele era
um cineasta completo... Assistia a todos os filmes...
O Jota Soares era a mesma coisa. Ele começou a falar mais em cinema no sentido de
dizer: “Olhe, o primeiro filme foi aquele. O segundo foi aquele outro” e as pessoas
começaram a se formar. Mas pra dizer a verdade, o cineclube mesmo, assim dentro desse
esquema que você quer, da pessoa ser sócio, só começou com... Foi um secretário de
cultura da Prefeitura, eu vou me lembrar o nome dele, ele era muito bom, um sujeito
fantástico, então ele deu ajuda pra que se pudessem ter salas pra fazer os cineclubes. Foi
José Césio Regueira Costa, Secretário de Cultura da Prefeitura.
Então Césio Regueira Costa conseguiu apoio, ou melhor, esse grande romancista,
como é o nome dele que morreu, não é possível, eu estou ficando velho mesmo... O que
foi marido de, foi romancista foi estudioso, um dos maiores daqui. É... ele foi casado com
a diretora da Cepe, vocês conhecem ela, Lêda. É Hermilo Borba Filho... Bota esse nome ai!
Então o “Cineclube do Recife” começou com Hermilo Borba Filho e comigo. Eu era
funcionário da prefeitura, estudava direito e escrevia sobre cinema. Era conhecido por
tudo isso. Falou em cinema as pessoas ligavam a mim.
Então Hermilo Borba, que era um homem superinteligente, pegou meu entusiasmo
pelo cinema e disse: “Vamos fundar o Cineclube aqui no Recife”. Aí então fomos para o
José Césio Regueira Costa, que era secretário municipal, para ele dar ajuda e fazer
pedidos. Então nós começamos a fazer reuniões assim, exibições de cineclube no caráter
experimental. E os filmes eram exibidos e nós não tínhamos outro cinema aqui. Tinha
esse da Glória, o Art Palácio, acho que... Nem me lembro mais nessa época. De começo
mesmo não existia, ou tinha? Mas se tinha o Art Palácio, era o cinema do Sorrentino, era
o Art Palácio e o Trianon. Eram cinemas comerciais demais pra que eles pudessem ceder
uma manhã de sábado ou uma manhã de domingo, eles não cediam de jeito nenhum.
Eram esses miseráveis que podiam realmente dar forças e nunca deram. Eu e Hermilo
falávamos e não conseguíamos nada. Então conseguimos com o comandante da Polícia
Militar de Pernambuco. A Polícia Militar de Pernambuco eu não sei se vocês já foram lá.
Faz 20 anos que eu não vou lá! Não entro lá! Mas não tem aqueles... Não tem o quartel da
Polícia Militar? Lá no fim, no finzinho, depois que tem o hospital... No fim eles tinham
um cinema que tinha aproximadamente umas três vezes mais de cadeiras assim... pra
todo mundo assistir... E as famílias dos soldados iam lá e assistiam tudo isso. E era um
local de cinema. Vinham os oficiais, os oficiais, outras pessoas iam e todos iam para
aquele cinema. Tanto que Di Cavalcanti numa das vezes que veio aqui, foi chamado pra
fazer uma palestra lá. E gostou da coisa, nos falamos também no início de tudo isso e Di
Cavalcanti desenhou numa das paredes, numa das vezes que ele foi lá. Disse: “Eu venho
amanhã desenhar, fazer um mural na parede desse cinema lá da Polícia Militar.” Foi e fez
o painel.
Aquelas exibições que Jota Soares fazia com os filmes dele, eram em que
década? Década de 1940?
Eu entrei na faculdade de direito em 1946... Então foi um pouco antes disso.
Você organizava o cineclube junto com Hermilo Borba Filho?
Ainda não. Eu ainda não cheguei no cinema. Estou dizendo como as coisas foram se
conduzindo para que surgisse um clube de cinema, entende? Só começou mesmo com
Hermilo Borba Filho e comigo porque nós conseguimos autorização do governo, e
sobretudo com a boa vontade do comandante da Polícia Militar, para todas as terças-feiras
à noite, porque eles só passavam filmes para os soldados nos finais de semana, nós
pudéssemos fazer a exibição de filmes do “Cineclube do Recife” lá.
Então nós passamos um tempão. Eu não posso dizer o tempo todo que passamos lá
mas aproximadamente uns três, quatro... seis anos exibindo filmes lá.
Isso em que ano? Qual era a época?
A época? Eu já estava estudando... foi na época de 1950...eu me formei em 1952...foi da
época de 1947 pra 1952/1953. Foi nessa época. Porque eu já escrevia muito também sobre
cinema e a coisa vinha daí.
O nome do cineclube era “Cineclube do Recife” mesmo?
Isso, “Cineclube do Recife”.
Como é que eram essas sessões?
As sessões eram boas porque tinha um funcionário da Secretaria de Educação e
Cultura da Prefeitura que era muito interessado em cinema e o Césio Regueira Costa
permitiu que ele trabalhasse menos no trabalho dele da Prefeitura e se dedicasse a ser o
Secretário do clube de cinema do Recife.
Então nós passamos a cobrar um tipo de ingresso como se diz, simbólico, digamos
assim... Dois centavos, um centavo, sei lá, não me lembro mais, pra assistir aos filmes.
Eu divulgava muito nas minhas colunas os filmes que iam sendo exibidos. Hermilo
Borba Filho era um homem de prestígio imenso aqui no Recife. Foi secretário da
prefeitura do Recife durante muito tempo, mandava divulgação pelos canais da Prefeitura
e o cinema foi se desenvolvendo. Então tínhamos aproximadamente umas 150 pessoas
que eram fiéis e pagavam sempre, e se não pagassem nos arranjávamos os filmes. Hoje os
cinemas todos em shopping center... Se você quiser saber quem é o responsável pelos
filmes, não sabe... Tem um rapaz aí que é toma conta da parte que era do Severiano
Ribeiro, que passa filmes no Shopping Tacaruna, passa no Boa Vista, passa em outros...
Mas, voltando, vou dizer a você que as pessoas que se interessavam mais, que tinham um
pouco de cultura, todos esses iam ao “Cineclube do Recife”. Eles podiam até nem ser
sócios...
Mas existia um quadro de associados?
Existia um quadro de associados!
E como é que era feito isso?
Era, por exemplo, eu... Foi Hermilo Borba Filho, que era a figura central, que conhecia
muita gente e que foi pegando os amigos todinhos e foi botando numa lista no caderno.
No caderno.
Mas aí essas pessoas pagavam uma mensalidade ou pagava na entrada do
cinema?
Pagavam, alguns diziam: “Eu prefiro pagar uma mensalidade, uma coisa assim pra
vocês poderem comprar/alugar os filmes...”.
Outros pagavam na hora: “Não, eu posso não estar aqui, eu posso não me interessar
pelo filme.” E chegava lá e pagava cada sessão.
Mas as sessões eram muito concorridas. Hoje em dia você pergunta quem são esses
representantes dos filmes? Só temos o Multiplex que é o menino que está aí... Pedro...
Pedro Ribeiro, ele me manda notícias... Então eles ficavam fazendo isso. Mas, nós
mandávamos os convites e todas as pessoas iam, no geral.
Vocês mandavam convites é? Como é que era? Vocês mandavam pelos
correios?
Não. Nós dizíamos... Eu botava no jornal... Eu tenho uma coluna... Se lembre que eu
tinha uma coluna de cinema e Hermilo também mandava pros jornais todos que
tínhamos aqui...
Qual a média de público? Quantidade de pessoas?
A quantidade de pessoas?! Umas 200, às vezes 150, às vezes um pouco mais...
O local era no quartel da Polícia?
No Teatro do Quartel da Polícia Militar de Pernambuco, que ainda deve existir esse
quartel...
Mas onde é que ele era? No Derby?
É no Derby... é pegado no quartel do Derby, só que o quartel do Derby pertence aqui ao
Conselho Estadual de Cultura.
Então essa questão de fazer tombamento de prédios antigos e prédios importantes e o
conselho que faz e o quartel do Derby foi tombado porque queriam modificar. Então
acabaria aquela parte final que não era tão muito assim, era ligada ao quartel, então ali
tinha um cinema enorme que muita gente pedia até pra fazer representação de pecinhas
de colégio e tudo isso e nós tínhamos todas as nossas terças-feiras reservadas para
exibição dos filmes lá nesse anexo no quartel da polícia de Pernambuco.
Isso é preciso não ser esquecido, o cinema funcionou porque nós tínhamos o quartel...
O cinema do quartel da Polícia Militar, que foi dada a Hermilo Borba Filho e a mim e
ao restante dos outros que tem muita gente que tinha influência e queria ver filme e
defendia o cineclube, porque podia ver filmes que não passavam em todo canto. Eu não
me lembro mais todos os filmes importantes que eu vi naquela época...
E como é que vocês conseguiam os filmes?
Nós conseguíamos da seguinte maneira que hoje em dia eu estava dizendo... Eu só sei
que existe um representante de exibidores de filmes aqui no Recife que é Pedro Ribeiro
pela Kinoplex e Severiano Ribeiro Jr., mas nessa época que estou lhe falando exatamente
no bairro do Recife... ali tem a praça. E tem aquela avenida que desce. A Marquês de
Olinda. Então era puteiro durante à noite no térreo, mas tinham incontáveis prédios que
eram prédios comerciais antigos e com preço barato em que todas as companhias de
cinema tinham representações oficiais, comerciais aqui para ceder os filmes.
Eles mesmos recebiam as cópias, vinham pra eles, eles repassavam para o Art Palácio
ou para o Trianon ou para o São Luiz ou para os cinemas Severiano Ribeiro. Mas, por
exemplo, a Warner tinha seu escritório lá, a Paramount, Fox, todas as companhias. Todos
eles tinham realmente um representante que tinham duas, três, quatro salas com
material à vontade. Eu queria, por exemplo, material de um filme, chegava lá eles me
davam fotos, me davam explanações sobre os filmes e cuidavam da projeção para que
exibissem os filmes deles.
Vocês alugavam os filmes a eles diretamente?
Eles tinham que alugar porque aqui no centro era o São Luiz, o Moderno e qual é o
outro que tinha? Não eram muitos cinemas não. E os cinemas de subúrbio, eu moro na
Av. Conde da Boa Vista e a esquina da minha casa termina logo depois ali na Praça Chora
Menino. Ali tinha um espaço enorme onde hoje é uma loja que vende material escolar. Ali
era o Cinema Colossal, de Severiano Ribeiro.
Tinham debate após as sessões no “Cineclube do Recife”?
Tinha depois...
Como é que eram esses debates?
Chegava lá uma pessoa e dizia: “Hermilo, você não quer dizer alguma coisa?” Outra
pessoa queria também dizer... Mas não era uma coisa formal, tinha a plateia e tudo aquilo
e às vezes quando era um filme muito importante, muito comentado, a gente ficava lá
ouvindo... Havia um pouco de discussão, mas o importante é dizer que tínhamos cinemas
na Boa Vista, tinha esse que era ali na rua da Praça Chora Menino, ali atrás daquele
hotelzinho perto da praça, perto do começo da Rua da Imperatriz, tinha também um
grande cinema que pertencia a Fernando Ribeiro, não, Severiano Ribeiro. É, tinha um
cinema na Torre, tinha um cinema imenso e muito bom no bairro de São José. No bairro
de São José esse cinema era muito grande e ele pegava a população maior daquele bairro
todo, aquela gente que ia era mais humilde, mas ia, pagava e tudo mais.
Tinha cinema na Torre, tinha cinema em Casa Amarela, tinha um bom cinema em
Olinda. Você poderia na época contar com uns dez cinemas ou nove cinemas, eu não sei a
matemática aí. Mas fica nisso fica entre oito e dez, e em cada subúrbio importante tinha
também. Pelo menos eu tenho certeza que tinha. Então esses filmes circulavam entre
todos, circulavam os filmes bons, mas algumas companhias não queriam ceder filmes
para o cineclube.
Mas vocês não alugavam?
Alugávamos! Mas nós tínhamos que alugar por um preço muito menor do que
cobravam. Outros tinham medo, digamos assim, que se chateasse e não desse mais filmes
pra eles. Eles iam conseguir os filmes com quem? Tinha cinema até defronte do Mercado
de São José.
A polícia impunha alguma censura a vocês? Ou os deixava à vontade?
Nada! Eles não se intrometiam em nada.
Uma coisa: esse cinema que ficava defronte do Mercado de São José, era chamado
Cine Glória, era uma réplica miniatura do Teatro Santa Isabel. A prefeitura foi tão
desleixada, nós lutamos tanto no Conselho de Cultura pra conservar essa casa e o dono
querendo vender... Era um local, arquitetonicamente falando, belíssimo. Era uma
miniatura de teatro, que foi derrubado pela falta de interesse por esses vagabundos aí que
só queriam política, que só queriam ganhar dinheiro...
Esse cinema não era muito frequentado pelo público bom daqui porque havia um
pouco de preconceito. O bairro de São José tinha um cinema enorme, e era um bom
cinema, bem frequentado, mas o Glória não, porque as bichas todas do Recife iam muito
para o Glória pra fazer pegação.
E não tinha debate, não tinha discursão, não era cineclube?!
Não, não, eles iam só pra fazer sacanagem, mas lá passavam filmes normalmente. O
engraçado é que era assim, muitos iam ver filmes no Cine Glória, mas se vissem gente
conhecida por perto diziam que iam para a casa de tia Glória. Já se sabia que ia pra o
Cinema Glória e se sabia também que era facílimo pegar aquele pessoal que vivia em
torno do mercado e saía pra trepar, a bicharada daqui!
Você falou do José Césio que foi um secretário de Cultura do Recife... Ai
você falou que ele abriu portas e ele investiu em salas como cineclubes.
Não, não. O cinema de lá funcionava geralmente só de fim de semana para o pessoal
da Polícia Militar e nós falamos com o projecionista se ele também não poderia ir na
terça-feira fazer a exibição, projetar o filme, e ele foi durante um certo tempo e nos
fazíamos a projeção lá.
Vocês projetavam em que bitola? 16mm?
16? Não! 35mm! Eu não sei, mas eu estou muito fora de cinema ultimamente, 16mm
são esses pequenininhos, não é? Mas nesses cinemas grandes, com essa maquinaria nova,
era 35mm. Era grande!
O “Cineclube do Recife” projetava filmes em 35mm?
Em 35mm. Não eram esses filminhos pequenininhos não. Era em 35mm, eram os
mesmos filmes que Art Palácio, que os cinemas principais daqui.
Mas tinha debate no final?
Nem sempre tinha, entende? Nem sempre tinha. Às vezes o debate era feito depois, ia
pra um café, pra um lugar assim em que se comentava o filme. E se debatia o filme.
Mas o nome cineclube existia? Era “Cineclube do Recife”?
Perfeitamente! Todo mundo dizia: “Eu sou sócio do “Cineclube do Recife”.
Não tínhamos carteirinha porque nós não tínhamos nada. Era um grupo que era
Hermilo e eu e tinha mais uns três ou quatro que eu não estou lembrado o nome.
Como é que era a relação de vocês assim com a polícia?
Ótima! Eles nunca interferiram. A relação era a melhor possível!
Depois morreu o principal assistente de Hermilo Borba Filho, que era um homem que
cuidava muito disso. Ele gostava também muito de cinema. Eu também fui passando, eu
deixei de escrever crítica de cinema pra fazer crônica social.
Já fui me desinteressando pelo cineclube.
De onde veio esse desinteresse?
Hermilo saiu. Hermilo teve uma certa perseguição política e saiu. Foi escrever
romance, depois ele teve um problema cardíaco muito sério, operou-se, e em função dessa
doença ele morreu muito moço. Então, com a morte de Hermilo acabava-se a coisa toda.
Porque ele tinha muito prestigio. Um político assim como o governador; era um homem
pacífico, autor de livros, era um dos homens mais inteligentes daqui e era louco por
cinema.
Então a gente pode dizer que o “Cineclube do Recife” durou enquanto
Hermilo Borba Filho durou?
Pode dizer! Pode dizer! Porque depois, não. Se alguém disser: “Ah, tivemos um
cineclube aqui no Recife”, nada disso! A coisa acabou! Se alguém disser que alguém mais
fez isso além de Hermilo. Não houve. É... teve uma pessoa, o Severiano Ribeiro, é bom
que você saiba disso... Foi quando foram começando a chegar outros filmes, inclusive
nacionais, enfim... o tempo vai mudando o hábito, o gosto. Quer dizer eu que era
estudante, eu comecei lá no segundo ano de Direito, depois apareceram outras coisas, eu
passei a ter outra coluna que não era só de cinema...
Ô Alex, e existia uma vontade de mudar o mundo dentro do cineclube?
Dentro do cineclube?
Existia uma vontade de mudar o mundo? De debater pra querer mudar as
coisas?
Havia vontade de que o Brasil pudesse fazer cinema melhor. Isso era uma coisa que a
gente achava impossível acontecer. Todo mundo que ficava diante da lembrança, remota,
distante de 20, 25 anos do cinema mudo, daquele tempo de Aitaré da praia.
Vamos lá. Se você falar em Severiano Ribeiro... não fez nada! Só fez construir o São
Luiz que foi uma coisa fantástica isso! Depois o cinema se aprofundou muito aqui com a
vinda de Alberto Cavalcanti. Fizeram uma judiação com Alberto Cavalcanti. Ele fez todo o
filme O canto do mar, que é uma beleza de filme. Cavalcanti aqui, esse pessoal de
esquerda, não dava bola pra ele. Quem falava todo dia, quase toda semana contra ele foi
Paulo Fernando Craveiro.
O único cineclube que você se envolveu na vida foi o “Cineclube do Recife”?
Só.
Os filmes eram longas metragens? Ou eram curtas?
Longas metragens!
O senhor lembra do projecionista? Quem era essa pessoa?
Não! Era simplesmente um operário. Um funcionário da polícia. Nós o conhecíamos,
dávamos uma gratificação pra fazer a exibição daqueles filmes. Todo mundo queria ver os
filmes que eram exibidos no cinema, no “Cineclube do Recife”, porque tinha Hermilo
Borba Filho, que era um homem seriamente cultuado, pela inteligência, pelos livros que
escreveu e sobretudo como teatrólogo. Ele também fez muito teatro.
Ele concorria com os outros cinemas comerciais?
Não concorria não.
Mas eles não passavam os mesmos filmes?
Passava, mas não na mesma época que os filmes estavam sendo exibidos...
Era preciso passar um certo tempo, que ele percorresse os cinemas de subúrbio todos,
de Água Fria, de Olinda, que percorressem alguns cinemas que eram do interior de
Pernambuco... depois disso tudo é que os representantes de todas essas companhias
diziam que podiam ceder o filme pra gente.
Mas cediam mediante o pagamento, não era?
Olhe, o pagamento era simbólico. Era coisa lá pros funcionários deles. Nem era levado
em conta isso não.
Nunca precisou trazer filme de outro estado?
Não, nunca houve uma agenda comercial determinando: dia tal passou-se tal filme,
pagou-se tanto, não! Era questão de saber qual o filme, anunciar e o público ia assistir no
cinema lá. Espontâneo, era muito simplificado e não havia problema no clube de cinema
não. Nós dizíamos, nós temos aqui uma relação porque Hermilo tinha uma relação, eu
tinha outra que desapareceu, de nomes de pessoas que nós sabíamos que não perdiam um
filme. Ainda tinha uns que eu até avisava que o filme do dia era realmente importante,
que ele precisava assistir.
Existe a possibilidade desse caderno existir?
Não!
Perdeu mesmo?
Perdi! Não tenho! A minha vida de colunista, todo ano de três meses em três meses
organizo a correspondência que mandam pra mim, os livros idiotas que mandam pra
mim, que todo mundo hoje quer ser escritor, tá escrevendo e manda uns livros bestas,
idiotas, romance que não vale nada. Eu não posso nem ler. Não tenho onde botar.
E existe algum documento, algum texto, existe alguma coisa daquela
época?
Nada! Existiam noticiários nos jornais, que saíam nos jornais.
Você tem isso?
Nada!
O Arquivo Público pode ter?
O Arquivo Público talvez, eu nunca fui lá, não sei.
Eram publicados no Jornal do Commercio, não era?
Era o Jornal do Commercio e o Diario de Pernambuco. Os dois davam a maior
divulgação. Também no Jornal do Comercio funcionava todo dia pela manhã com o
Jornal do Commercio e funcionava à tarde com o Diário da Noite. Eram dois jornais. O
Diário da Noite era mais reflexivo, então a gente botava muita matéria no Diário da Noite
sobre o Clube de Cinema, chamava muita atenção...Então o público todo ficava sabendo...
eu fui me voltando para a coluna social, que foi uma chatice na minha vida... Porque
acontece o seguinte, o pessoal mais festeiro que pode existir no Brasil, talvez seja o
recifense! Porque todos os prefeitos trazem todo tipo de cantor e de televisão que chama a
juventude pra ir lá cantar e dar gritinho e ficarem histéricas e tudo isso mas naquela
época ou havia o cinema ou havia os espetáculos do Santa Isabel e no Parque. No parque
por exemplo foi feita a primeira exibição e eu vi e foi até muito bem feita, do Terceira
dimensão.
Qual foi a importância pra sua formação, a organização do “Cineclube do
Recife”?
Bom eu não diria nem da organização só, porque tinha muitos filmes que chegavam
aqui e eram chamados filmes mas eram muito... Difíceis!
Não eram tão populares que não dariam uma maior bilheteria e eles iam deixando de
lado e esses filmes iam ficando lá e eu sabia, Hermilo não, ele não ia.
Quem ia era eu, porque eu me tornei amigo daqueles donos de representantes dessas
companhias todas, eles me diziam “ó, chegou tal filme... esse acho que nós não vamos
nem exibir, vamos terminar devolvendo para o Rio” Aí eu pedia para deixarem a gente
exibir aqui.
E o que é que isso foi importante pra sua formação?
E o que importante pra minha formação? Olhe o “Cineclube do Recife” eu...você me
comoveu agora! É... O “Cineclube do Recife” foi tudo pra mim. Tudo. Porque eu gostava de
cinema. Adorava...eu fui apaixonado por Doroty L’amour.
Ela não era de filme de clube de cinema, os filmes dela eram mais populares, mas vi
grandes filmes, realmente importantes, com Paul Muni, Charles Boyer, Katharine
Hepburn, Bettie Davis, Gloria Swanson... todos esses os clássicos do cinema e eu não
tinha onde assistir esses filmes. Não havia televisão que exibisse os filmes, no rádio era
impossível, então um caminho que eu tinha pra tomar conhecimento de cinema foi
assistindo esses filmes através do clube de cinema, do “Cineclube do Recife”.
Tanto quando Cavalcanti chegou aqui fui eu que orientei tudo, depois ele pegou
Hermilo Borba Filho, que era meu parceiro e botou Hermilo Borba Filho para escrever os
diálogos do filme O Canto do mar. E nós até lucramos porque apresentávamos alguns
artistas que estavam trabalhando...
Cassilda era a melhor locutora, Hildo Saraiva, Margarida Cardoso, que era uma artista
renegada, porque o teatro de Pernambuco é um teatro reacionário, só entra gente ali se for
Oliveira. Se não tiver Oliveira, vá à merda! Então essa mulher era Margarida Cardoso Era
fantástica! Tinha máscara de tantas artistas importantes. Então através do clube de
cinema eu fiz toda minha cultura cinematográfica. Toda!
E o que motivou você e Hermilo a criar um cineclube?
A gente precisava ver uns filmes melhores porque esses filmes que estavam sendo
passados pelo Severiano Ribeiro estavam muito fraquinhos e então os filmes franceses
não vinham. Mas, acontece que o Art Palácio era dirigido por um alemão.
Do Art Palácio e do Trianon era outra firma, uma importante exibidora no Brasil que
não existe mais hoje em dia.
Agora é só Severiano Ribeiro e esses independentes. Mas, então, nós conseguimos um
apoio muito grande porque eles davam ajuda, apoio.
Através deles quem? Quem eram eles?
Art Palácio, Art filmes... Esses cinemas... Uns eram Severiano Ribeiro, outros eram
Sorrentinos, Art filmes. Eu garantia a eles a exibição dos filmes que eu queria assistir...
Olhe dou a maior divulgação dos filmes, dou pra outros filmes que não sejam grandes
coisas, e eles então traziam esses filmes e nós assistíamos, eu pude assistir a esses filmes
todos que não estou lembrando agora...
Mas você fazia isso pra conseguir o filme pra exibir no cineclube?
Eu fazia isso pra exibir no cineclube, senão eu exibiria onde? Eles não queriam exibir
em outro cinema, que não eram filmes pra chamar público.
Então deixa ver se eu entendi: você falava com Severiano Ribeiro dizendo:
“Ó, traz esse filme...”
Com o pessoal de Severiano Ribeiro, porque Severiano Ribeiro tinha sobre ele a maior
parte dos cinemas... E o Sorrentino só tinha dois que era Art Palácio e o Trianon. E tinha
os outros que eram independentes, mas a gente lidava com os dois principais, sobretudo,
Severiano Ribeiro. Eu me tornei amigo deles e me dava muito bem com todos eles. E eles
ajudavam.
Eles ajudavam como?
Ajudavam como? Eu chegava lá e dizia: “Olhe tem o filme tal... mas, fulano digamos
assim, da Warner não tá querendo exibir, não tá querendo deixar passar esse filme, não
sei porque...”
Passar no cineclube?
Passar no cineclube. Eu dizia: “...e, no entanto, eles não vão exibir, vão exibir no seu
cinema, no Art Palácio, no Trianon e Severiano Ribeiro também não vai.. eles disseram
que não vão, então por que vocês não falam com eles, dizem qualquer coisa pra nós
exibirmos?”, e eles cediam. Mas muitas vezes eles pediam para não divulgarmos muito.
“Divulguem no boca-boca. Não botem muito em jornal que é pra depois não chegar no Rio
de Janeiro que eu estava exibindo tal filme, que era só para os cinemas comerciais”.
Isso se deu muito na questão da amizade, não é Alex?
Da amizade, só. Por exemplo eu estou em casa e o gerente geral dos dois cinemas —
que era do Art Palácio disse: “Alex, estou precisando que você venha aqui e venha bem
vestido”. Quando eu cheguei lá, ele disse: “Olhe aqui, eu quero lhe apresentar ao Dino não
sei o quê”. O nome do marido dela eu não sei, esqueci! Já estou esquecendo os nomes das
coisas! Mas a mulher era Silvana Mangano. Você sabe o que é de repente eu estar com
Silvana Mangano? Aquela mulher lindíssima, alva, que tinha feito Arroz amargo. Aquele
filme que deu fama a ela e ela casou com um produtor de cinema e fez muitos filmes
notáveis...
Eu tive a oportunidade de encontrar aqui com outros atores de cinema, que passavam
pelo aeroporto... a Brigitte Bardot arranjou um amante e levou ele pro Rio! Era um
carioca! E depois ficava por aqui.. e então eu soube, me disseram... “Olhe ela vai chegar
pelo Rio, vai chegar no dia tal... a Brigitte Bardot!”
Mas isso é engraçado, a Brigitte Bardot ia voltar pra Paris com um amante que ela
arranjou no Brasil... Mas me disseram que o avião da Air France chegava aqui meia noite.
O comissário disse que ninguém entra, que ela disse que não deveria entrar ninguém,
que ela está com o amante e tal e tal. Eu disse: “Mas não é possível! É meia noite! Eu vim
aqui ver a Brigitte Bardot...!” Aí o rapaz de lá da Air France, daqueles que eu conhecia,
disse: “Alex, você não faz questão de se vestir daqueles que sobem no avião? Nós temos
uma farda ali limpinha”. “Quero sim!” Me vesti todo de comissário de bordo, quando subi,
cheguei lá, aí ela estava deitada toda assim, olhou pra mim e disse: “Bonsoir”. Depois eu
fiquei andando de lá pra cá... e eu vendo uma cadeira uma coisa assim, pra olhar, mas
estava olhando pra ela. Ela levantou, eu queria saber a altura dela...era pequena...não era
tão bonita como aparecia nos filmes.
No “Cineclube do Recife” existiam discussões políticas?
Existiam sim, existiam filmes que eram políticos e aí se comentava. Foi muito antes da
revolução, não é?
CELSO MARCONI
______________________
Qual o período que você se relacionou com o cineclube, como organizador
ou como público?
O período geral da minha vida. Desde que eu comecei a me interessar por cinema até
hoje ainda sou interessado em cineclube.
Mas quando foi que começou esse interesse mais efetivamente?
Na década de 1950... 1952, 1953.
Até hoje?
É. Até. Enquanto eu fui diretor. Hoje, eu realmente estou aposentado aí só acompanho
o movimento pelos jornais, mas até enquanto eu fui diretor do Museu da Imagem e do
Som, o Mispe, em 2003, eu tinha participação em cineclube. Inclusive eu tinha um
cineclube na época.
Quais foram os nomes desses cineclubes que você se envolveu?
O primeiro cineclube mesmo foi o “Cineclube do Recife”, que funcionava no Derby, no
teatro da Polícia Militar, no Derby, que era orientado por José de Souza Alencar.
Depois, teve o cineclube “Vigilanti Cura”, que eu participava de algumas sessões.
Depois, uma atividade junto com o Jomard [Muniz de Brito]. Nós fizemos curso de
cinema na Associação Franco-Brasileira, uma associação de ensino de língua francesa.
Depois, me envolvi com o cineclube que tinha, não me lembro o nome, na Faculdade de
Arquitetura, na Conde da Boa Vista, a Faculdade de Arquitetura, mas ainda na Conde da
Boa Vista. O nome eu não sei como era. Francisco Chagas era uma das pessoas que
orientava. Era ele e tinha outra pessoa que eu agora me esqueci o nome. Um outro
estudante de arquitetura.
Esse tempo de “Cineclube do Recife” foi no início de 1950?
No meio de 1950, eu acho. Teve o “Vigilanti Cura”, depois teve o Cineclube “Projeção
16”.
Como é que era o “Projeção 16”?
Era uma cineclube que funcionava no cinema da AIP — Associação da Imprensa de
Pernambuco —, havia um cinema na AIP e as sessões eram feitas lá. A AIP era na Dantas
Barreto, 13º andar. E aí a gente criou um cinema lá e o cineclube tinha uma sala no 14º
andar, parece. Aí fazia as sessões, o presidente na época era Francisco Bandeira de Melo,
Bandeirinha, o conhecido poeta Bandeirinha.
Você se lembra de alguma sessão do “Projeção 16”?
Era um grupo mais ou menos de amigos, era Cristina Tavares, que era a política,
depois foi deputada federal, Carlos Garcia e Bandeirinha. Eles três. Eu me lembro que eles
fizeram um grupo profissional de produção. Fizeram alguns filmes, inclusive esses filmes
foram lançados pelo “Projeção 16”. Passavam filmes franceses, filmes brasileiros...
E havia debate após as sessões?
Debate? Sim.. Inclusive eu escrevia no Jornal do Commercio e parece que eu fiz
alguma restrição à forma de atuação do “Projeção 16” e Bandeirinha fez uma resposta pra
mim. Inclusive, tem isso num livro que eu publiquei sobre minhas críticas, as crônicas do
Jornal do Commercio, tem esse debate, tem essa coisa sobre o “Projeção 16” e tem a
reposta de Bandeirinha.
Como eram feitas as divulgações das sessões?
A divulgação era na imprensa. Tanto eu como Spencer, na época, era quem dávamos
cobertura de cinema aqui no Recife. Eu no Jornal do Commercio e Fernando Spencer do
Diario de Pernambuco. E o cineclube utilizava o noticiário da imprensa e também
panfleto e boletim.
Existe algum desses boletins no Recife?
Deve existir. Talvez Bandeirinha tivesse, eu talvez tenha, também porque eu sempre
guardo. Eu tenho um acervo muito grande de programas e coisas ligadas assim a todas às
artes, não só ao cinema. O que eu ia, eu guardava o programa. Então, devo ter, mas não é
organizado o meu acervo. Se um dia eu organizar você pode pegar um bocado de coisa,
deve ter muita coisa sobre cineclube.
Como era feita a curadoria ou o processo de seleção dos filmes no
“Projeção 16”?
A seleção dos filmes era Bandeirinha quem fazia e também havia discussão com o
público participante, que em geral eram pessoas que gostavam de cinema e que
conheciam cinema. Então, podiam dar sugestões pra escolha dos filmes. Agora, é claro
que as limitações eram no sentido do que existia no mercado, no sentido de distribuição...
Que época é essa?
Nos anos 1960 ou 1970, acho que era 1960.
E existiu uma pegada política nas discussões ou elas estavam voltadas mais
para o senso estético e técnicas de linguagem?
Bandeirinha era uma pessoa muito ligada ao estético. Ele foi uma pessoa que
trabalhou com Marco Maciel, o ex-senador Marco Maciel muito tempo, era assessor. Foi
assessor de Manoel de Castro também. Mas não era uma pessoa expressamente política.
Eu era mais político, talvez eu provocasse um pouco, justamente por causa disso. Porque
o cineclube era mais ligado assim à coisa... querendo excluir o político.
Você participou de algumas sessões do “Vigilanti Cura”, não foi? E essa sua
participação era como organizador ou como público?
Participei. Como público. Quer dizer, eu ia acompanhando Jomard [Muniz de Brito],
porque eu era muito amigo de Jomard na época, e sempre a gente ia junto. E aí, era um
cineclube católico, eu era comunista, mas não tinha problema porque eu me interessava
pelo cinema. Via as sessões, via os filmes, debatia, quando tinha os debates eu debatia
também.
Como era visto esse cineclube que funcionava dentro dos preceitos da
Igreja Católica? O que representava isso pra o momento?
Era um cineclube que tinha um público, quer dizer, você sempre tem... o cineclube se
aproxima de um determinado público. E o dele era de muita gente católica. A maioria dos
que estavam lá era católica. Então, as discussões eram em torno de temas católicos,
aquela coisa da moral... eu me esqueci o nome de um radialista que tomava conta, era
administrador do cineclube, e ele então cuidava inclusive da questão da idade, da
permissão para o público. Filmes que não fossem de acordo com a moral católica... Não
exibiam nunca um filme de Pasolini, por exemplo.
Você falou que o “Cineclube do Recife” foi o primeiro que você frequentou,
é isso?
É.
Você atuou como organizador ou como público?
Como público, totalmente como público. Eu nem escrevia ainda no jornal. Escrevia
assim eventualmente, mas era estudante de filosofia na época, nos anos 1950. Fiz o curso
na Faculdade de Filosofia do Recife, que era ligada à Universidade Federal de
Pernambuco.
O “Vigilanti Cura” ele começou em 1953 e durou até mais ou menos 1956?
Só até 1956? O “Cineclube do Recife” foi mais ou menos paralelo. Existia, eu acho, o
“Vigilanti Cura” e aí tinha um outro... não sei, as sessões parecem que eram mensais. O
que eu me lembro bem é uma programação especial que foi feita; [José de Souza] Alencar
é que estava à frente, e com filmes clássicos, O encouraçado Potemkin, o filme de
Murnau, tinha um filme do expressionismo alemão – M: o vampiro de Dusseldorf, eu me
lembro. E, então, tinha também palestras, agora eu não me lembro o nome das pessoas
que faziam palestras. Eu sei bem que Alencar era o coordenador. Então, eu ia lá como
espectador.
O que é que lhe interessava nessas sessões?
Me interessava a cultura cinematográfica. Eu comecei a estudar filosofia e ao mesmo
tempo me interessei por cinema. O livro que na época a gente tinha pra ler era o livro de
Georges Sadoul: Cinema: sua arte, sua técnica, sua economia. Era o livro que era do Brasil
todo, acho que foi um dos primeiros, Georges Sadoul era um marxista e francês, e que
dominou mais a coisa do comentário de cinema. E a gente lia esse livro como uma das
orientações.
E que importância você atribui para sua formação ter participado dessas
atividades cineclubistas nesse tempo?
Fiquei ligado e me profissionalizei como pessoa... fui trabalhar com cinema, quer
dizer, fui ser crítico de cinema.
Eu comecei escrevendo na Folha do Povo alguns artigos sobre cinema, escrevi na
Folha da Manhã também alguns artigos e depois eu fui... comecei como jornalista num
jornal pequeno, depois fui pro Diario de Pernambuco. No DP eu não era cronista, o
cronista era Fernando Spencer. Mas eu escrevi alguns artigos. Aí depois fui pra Última
Hora, que teve uma edição aqui no Recife, acho que em 1963 até 1964, até o golpe. E aí
depois, em 1966, fui contratado pelo Jornal do Commercio, aí fui como copidesque e
crítico de cinema.
O cineclube foi justamente onde eu tive a possibilidade de discutir cinema, de ouvir a
opinião dos outros e dar minha opinião também. Cineclube é uma atividade fundamental
dentro do cinema. Quer dizer, mesmo quando não é expressamente organizado, mas, por
exemplo, muitas reuniões de cineclubismo eu participei lá na Jornada da Bahia, que a
gente participou em 1973 da “Jornada da Bahia”, com muita discussão cineclubista.
Como é que foi o movimento do cineclubismo durante o tempo de
repressão pós 64?
Teve o “Projeção 16”, que foi já no período de ditadura. A gente teve uma atividade...
minha, de Spencer, principalmente, também Ivan Soares, Alencar também participava,
mais como assessor, dando opinião, quem fazia mesmo era eu e Spencer.
Era uma atividade que de certa forma tem uma relação com o cineclubismo que era
cinema de arte. A gente fazia as sessões de cinema e fazia panfletos e às vezes promovia
cursos, debates também. Era quase como um cineclube, sendo que tinha esse aspecto de
ser aberto e com bilheteria. A gente escolhia os filmes, passamos muitos filmes. No São
Luiz, no Trianon, teve uma época.
Começou no Cinema Soledade, ligado à Matriz da Soledade, depois teve o Coliseu e
depois no Teatro do Parque. Eu tive uma atividade enorme que era praticamente um
cineclube, que a gente fazia cinema no Parque, e com preço, esse preço que tem lá agora,
que parece é R$1,00, a gente criou isso.
Sempre eu tinha uma visão cineclubista pra fazer as exibições. Eu não fazia exibição de
um filme assim porque era com tal atriz, ou outra coisa. Eu procurava juntar dois, três
filmes de um diretor, ou mesmo de um ator mais expressivo, intérprete marcante, sempre
pra chamar o público com uma linha de cinema que interessasse pra debate.
Quem é que estava com você durante esse processo no Teatro do Parque?
Fernando Spencer. Eu e Fernando Spencer a gente tinha entrado com a Fundação de
Cultura da Cidade do Recife, na época era o maestro Cussy de Almeida, o presidente da
Fundação. A gente tinha um contrato de exibição no Parque e fazia exibições de segunda a
quarta-feira, como ainda é hoje. A gente que começou essa coisa no Teatro do Parque.
Porque antes era cinema educativo, feito com Enéas Alvarez e Waldemar de Oliveira, que
era o representante no Nordeste da Embrafilme ou do Conselho Nacional de Cinema, uma
coisa assim. Mas quem criou essa coisa, inclusive essa coisa de preço popular, foi a gente.
Eu e Spencer.
E isso foi na década de 1970?
Depois dos anos 1970 também. Eu acho que começou nos anos 1970. A ditadura nunca
me impediu de trabalhar, não. Quer dizer, me impediu um período. Quando teve o golpe,
eu trabalhava na Última Hora e a Última Hora fechou. Aí ficou os jornais daqui do Recife
tinham uma ordem pra não contratar jornalista que tivesse trabalhado no Última Hora.
Mas depois, Vladimir Calheiros parece que conseguiu quebrar essa coisa e contratou. Me
contratou e deve ter contratado outros, Joel Silveira, Abdiel Luna, pra o Jornal do
Commercio. Entrei justamente em 1966, aí esse período eu fiquei sem trabalhar. Mas
depois de 1966, depois que eu entrei no Jornal do Commercio, trabalhava normalmente.
Claro que a forma que eu escrevia na Última Hora era uma, depois eu mudei a forma
de escrever. Mas o conteúdo era mais ou menos o mesmo.
Você não deixou de participar de atividades cineclubistas?
Eu participava sempre, era como jornalista que a gente tinha uma participação. Tanto
eu como Spencer. Spencer fazendo muitos filmes e eu fiz filmes também... quer dizer, não
montava os filmes, montei só uns três na época, mas agora recentemente eu consegui
pela Lei de Incentivo à Cultura e consegui fazer um DVD com todos os meus filmes que
eu fiz nos anos de 1970.
Muita gente falou das sessões do Coliseu, que foi o maior cinema...
Era o maior cinema no tamanho. Parece que tinha 2.000 lugares.
E vocês montaram esse cinema?
A gente teve um tempo que fez lá. Lançamos Godard, os filmes de Pasolini.
O cinema Coliseu não tinha o nome cineclube, não era “Cineclube Coliseu”,
era cinema Coliseu, correto?
É, mas era cinema de arte no Coliseu. A gente chamava cinema de arte, eram só
sessões de cinema de arte. Não era cineclube porque era uma coisa... eu, Spencer e Luci,
no Coliseu tinha Ivan Soares também, e Alex participava dando cobertura. Era Alex, ele
escreveu como Alex, num foi? Como Ralf, parece, que ainda escrevia como Ralf.
E essas sessões, elas não eram sessões cineclubistas, mas existia um
espírito cineclubista, é mais ou menos isso?
Existia. Todas as sessões de cinema de arte o espírito era cineclubismo. Quando a
gente fazia no cinema São Luiz, fazia no sábado pela manhã, as pessoas iam pra se
encontrar. Era a elite cultural da cidade que ia. Enchia. Eram poucas oportunidades que
você tinha de ver coisas melhores. Quer dizer, o que dominava era o mercado, cinema de
mercado.
Então, essas sessões eram sessões que não tinha muita censura também porque eu
acho que o sensores achavam... tinha um sensor que era mais diligente, que a gente podia
conversar. E os filmes eram filmes legais. Quer dizer, filmes distribuídos pelas
distribuidoras comerciais. Mas a gente ia cascavilhar. Ivan Soares eram muito perceptivo,
e sabia nome de filme, lia sempre... eu e Spencer a gente ia nas Companhias, e
começávamos a cascavilhar e descobrir e fazer amizade com os gerentes de distribuidoras.
E aí a gente descobria filmes que não tinham em exibição normal. Às vezes conseguíamos
trazer os filmes só pras sessões de arte. E filmes de, por exemplo, Danton.
No Parque, então, a gente pegava filmes com qualidade e que não entravam na linha
comercial. Não conseguiam entrar na distribuição. Aí o público, já tinha censura no
mercado geral, e quando a gente conseguia um filme mais ou menos diferenciado, a gente
dava cobertura. Eu dava no Jornal do Commércio, o Diario de Pernambuco com
Fernando Spencer e então enchia o cinema.
E havia muito debate, inclusive eu tenho um amigo, Moacy Cirne, morava em Natal,
ele vinha de Natal pra ver filmes aqui. E depois a gente saía pros bares pra discutir. As
discussões eram mais nos bares.
Certo, era isso que eu ia perguntar. Como eram estas sessões?
Havia apresentação, às vezes a gente fazia a apresentação do filmes e tal. E também
imprimia coisas sobre o filme.
E entregava pro público?
Entregava pro público, distribuía panfleto, coisa mimeografada. Na época era
mimeografada. Pegava críticas do Rio de Janeiro e imprimia e distribuía.
Celso, você tem alguma informação, alguma lembrança, alguém lhe contou
se houve alguma atividade semelhante a uma atividade cineclubista do Ciclo
de 20?
No Ciclo de 20? Não. Eu acho que não tinha. Quer dizer, o Jota Soares tinha uma um
grupo que se formava, mas não tinha esse aspecto. Eles tinham a pretensão de fazer
filmes comerciais. O Ciclo do Recife era muito mais ligado assim, querendo fazer filme
hollywoodiano, filme que tivesse atração por público, o principal filme do Jota Soares, A
filha do advogado.
Você vê que tem uma certa coisa de ser comercial. Eles tinham essa pretensão. Muito
mais do que, por exemplo, o pessoal do Super 8 não tinha uma pretensão de querer entrar
no comércio, era uma coisa mais cultural.
E esse pessoal do Super 8, qual o envolvimento com a atividade cineclubista
que eles tinham, você sabe?
A gente criou o “Grupo 8”. Demos um curso no Colégio Marista, realizamos três
festivais nacionais de cinema Super 8... A gente participava da jornada, de festivais em
Aracaju e em Curitiba. E o pessoal de Super 8 era um pessoal totalmente ligado ao cinema
cultural.
Então, a parte cineclubista nesse período do pessoal do Super 8 era
atividade de formação pedagógica, mais do que de formação através da
exibição dos filmes? Ou havia um cineclube onde esse pessoal se encontrava?
Exibições eram esporádicas, não havia cineclubes mesmo com esse aspecto. O que
havia de exibição de filme cultural era justamente o cinema de arte.
Você chegou a ir alguma vez pra Sala Sérgio Porto? Como eram essas
sessões?
Do Hugo Caldas. Uma salinha, eu só fui uma vez, que eu me lembre, eu só fui uma vez
ou duas. Era uma salinha bem bonitinha, organizada, com umas 15 cadeiras de cinema e
faziam exibição lá. Mas lá faziam mostras. Teve uma mostra no interior, parece que foi
Belo Jardim, que fomos todos, o grupo do Super 8. E a prefeitura deu prêmios.
Você ouviu falar alguma vez do “Cine Siri”, que foi criado por Pedro
Salgado Filho?
Siri? Não, Pedro Salgado ele estava fazendo um filme aqui no Recife. Fazendo um
longa-metragem, até tem um neto dele que tá fazendo um documentário sobre ele.
A história é que ele criou aqui o “Cine Siri”, que depois Jota Soares assumiu
e o transformou no “Museu de Cinema”, que foi aí que ele se preocupou com a
questão da preservação e por isso que existe A filha do advogado, Aitaré da
praia, Jurando vingar, esses filmes todos.
Mas, eu acho que esse rapaz, o Pedro Salgado, acho que foi muito depois de Jota
Soares. Ele era um colecionador, ele juntava tudo. Ele era um radialista também, e era um
colecionador.
Isso que eu estou falando era em 1943.
Esse negócio de Pedro Salgado?
Isso, Pedro Salgado.
Então, é outra pessoa e eu estou confundindo com alguém dos anos 1960. É, não sei
dessa história, não.
E participação ou algum envolvimento com os cineclubes “Leila Diniz” ou
“Vagalume”, você teve?
“Leila Diniz”, agora que você falou... teve esse cineclube. Quem era mesmo?
Eram Geraldo Pinho, Nilton Pereira, Fredi Maia...
Não tive muita aproximação, não. Mas eu acho que dei notícia, eu ainda era do jornal e
dei notícia do “Leila Diniz”.
O seu envolvimento com a atividade cineclubista desde 1952, 1953 era como
público?
Era como jornalista. E tem a parte de cinema de arte que eu fiz. E como diretor do
Museu da Imagem e do Som, que eu fui de 1992 até 2003. Eu tinha inclusive um
cineclube, o “Cineclube Godard”, que a gente fazia exibições no Teatro Arraial.
Então você criou um cineclube também?
Eu criei. Era um cineclube meu. Toda mostra que a gente criava a gente fazia
panfletos, e já fazia no computador.
E como eram essas sessões? Quando foi que começou e terminou o
cineclube?
Funcionou até eu sair do Mispe, em 2003. Começou... Eu mantive o cinema de arte
Mispe-Fundarpe, que era na sala do Centro de Convenções, aquelas salas de baixo, a
primeira.
Essas sessões eram chamadas como?
No Centro de Convenções tinha um cinema, que inclusive saía anúncio na Rede Globo,
a gente fazia uns curtazinhos, umas propagandazinhas, passava na televisão. Cineclube
não, cinema de arte Mispe-Fundarpe. Agora, não consigo me lembrar o nome do cinema.
Mas tem esse cinema lá e eu fazia como diretor do Museu. A gente tinha uma atividade, o
Mispe inclusive tinha uma atividade quase cineclubista. Fazia cursos, exibições, debates
com o público, fazia palestras.
Isso em que época, Celso?
1992 e fiquei até 2003; fiquei três governos.
E durante esse período também foi realizado o Cineclube Godard?
O Cineclube Godard eu fazia como cineclube, as sessões no Teatro Arraial, e a gente
fazia tudo à noite.
E os filmes pra essa sessões vinham de onde?
Os filmes eram em vídeo. Em vídeo e em digital depois. E às vezes a gente fazia
mostras.
Mas esses filmes vinham de onde? Eram alugados ou alguém emprestava?
O meu acervo, eu tenho muito acervo e o próprio Mispe tem também. E eu tenho um
grande acervo de filmes, coisas gravadas e pirateadas. E a gente passava e não tinha um
dia que não tivesse notícia do Mispe durante esse período nos jornais.
Você considera a prática cineclubista importante para a formação do
cidadão e de plateia?
O cineclube é uma coisa fundamental porque é uma coisa espontânea, quer dizer, o
cineclube não é uma atividade oficial. É a atividade de pessoas que gostam de cinema e
que trabalham pra divulgar o cinema. Isso pelo menos é o princípio básico em todos os
lugares do mundo de cineclube. Quer dizer, as atividades quando são feitas pelos órgãos
governamentais, elas podem ter o apoio também do público, ter a ligação com o público.
Então, essa é que é a diferenciação de ser cineclube, com esse aspecto. Porque aí é
fundamental porque mesmo que você não vá estudar cinema, você tem que conhecer. O
cinema é uma das artes mais expressivas e mais presentes no mundo moderno, então se
você coloca esse conhecimento, essa arte ao conhecimento das pessoas, dos adolescentes,
dos adultos...
O Partido Comunista sempre utilizou o cineclube como meio de conscientização.
Conscientização política. Você passa o filme, faz o debate, assim você consegue através do
debate, levando o povo a participar do debate, você consegue que as pessoas tomem
consciência política da realidade, conheçam a filosofia através do cinema.
Você já esteve em sessões assim?
Muitas. Minha vida toda foi discutindo cinema. Em sessões, em reuniões... Você disse
que eu participava como público, mas eu participava diretamente. Nós ficávamos
debatendo, sempre que eu estava presente, eu era um elemento de debate, mesmo que eu
não fosse da diretoria do cineclube.
Você teve algum conhecimento de alguma atividade cineclubista de Nelson
Simas?
Nelson Simas participava de cineclubes. Não sei se no “Projeção 16” ele participou. Ele
era mais produtor. Quem pode falar muito bem é Pedro Arão, uma pessoa também ligada
a cineclube. Eu não me lembrei, não falei ainda, em Caruaru. Eu fui muitas vezes a
Caruaru participar de sessões de cineclube lá.
Que sessões eram essas? Lembra do nome desse cineclube?
Não me lembro do nome, não. Fale com Pedro Arão que ele sabe tudo que acontece em
Caruaru. E antes de Pedro Arão eu já conheci o pessoal lá. Tinha Leandro Filho, que era
ator e foi diretor de Cultura lá de Caruaru. Aí ele me chamava pra lá, a gente participava,
fazia sessões e Jomard [Muniz de Brito] foi também. Se eu não me engano é Leandro
Filho. E ele participou muito tempo lá em Caruaru.
A própria mulher do prefeito, um prefeito bem de direita e a mulher dele chamou, a
gente fez palestra lá em Caruaru. Tinha uma Fundação de Cultura Vital Santos que era de
teatro mas também participava de cinema. Muita participação em Caruaru.
Eu lembrei no nome do Coelho que a gente estava tentando lembrar, Valdir
Coelho.
Valdir Coelho, é. Valdir Coelho era o gerente. Cuidava muito da coisa legal. Mas era
uma boa pessoa. Gostava mais da parte dos papéis, da burocracia, de escolher os filmes,
ele escolhia os filmes também, porque ele tinha que ter cuidado com essa coisa da
censura.
A censura da própria Igreja?
Da própria Igreja.
Mas, o que mais causa em mim um estranhamento das sessões do “Vigilanti
Cura” é saber que tinha a participação de um Jomard Muniz de Brito.
Jomard era católico na época. Jomard começou católico, ele usava gravata, paletó com
17 anos, era bem sério. Depois que entrou em filosofia eu acho que aí debandou um
pouco. Mas ele falava, já fazia palestras. A gente fez um curso, tinha uma série de
palestras na Avenida Guararapes, na época a Associação Francesa (Associação Franco-
Brasileira de Cultura) eu sei que hoje ainda tem, é a Aliança Francesa o nome atual, eu
acho. Na época também era. Aí eles deram o espaço e a gente fez um curso com várias
palestras, inclusive aí no fim não tinha quem falasse sobre som e música e eu tive que
falar.
Eu queria saber como você enxerga essa trajetória cineclubista desde onde
você conhece até os dias atuais.
Eu acho que a ditadura prejudicou muito o cineclubismo porque prejudicou a
juventude brasileira toda e colocou a coisa do mercado. Quando coloca mercado, ela leva
as pessoas a ir pra trabalhos que dão lucro.
Então, como o cineclube não é uma coisa que dá lucro, aí diminui, enfraquece através
da censura. Mas eu acho que é uma coisa que persistiu. Eu me lembro de Marcondes, um
cara que era ligado à Federação Nacional de Cineclubes, não sei o que ele veio fazer aqui
no Recife, se hospedou na minha casa. Era um rapaz que quando tirou a bota quase que a
gente morria do chulé. Mas é isso, as pessoas eram... pensavam mais em divulgar a
cultura e divulgar a arte, divulgar o cinema, do que no mercado.
Mas, a ditadura conseguiu botar na cabeça das pessoas e transformar o país todo numa
verdadeira... num centro comercial. E por isso a gente tem a fraqueza de certos
movimentos culturais. Só consegue viver se tiver apoio do governo e antes vivia até contra
o governo. A diferença eu acho que é essa.
Tem alguma informação sobre o “Cineclube São Saruê” e o “Cineclube
Macunaíma”?
Lembro só de nome, assim, mas não sei nenhuma informação.
FERNANDO SPENCER
______________________
Quais eram os nomes dos cineclubes que você participou, organizou?
Olha, eu me lembro do “Cineclube Recife”, me lembro também do “Vigilanti Cura”,
que era católico.
Você pode dizer o período?
De 1957 a 1969, 1970, mais ou menos.
Como foi sua participação?
Eu participei muito pouco, só como espectador. Eu não participei de debate...
No “Cineclube Recife” você ia como público?
Eu fui mais como público. Tinha uns cursos de cinema que me interessavam muito
porque eu lia e me dava muita vontade de fazer cinema e escrever.
Então foram os cineclubes “Recife” e o “Vigilanti Cura”, que você teve mais
contato?
Não, o “Vigilanti Cura” eu não participei efetivamente, mas noticiei bastante.
Onde é que ficava esse “Cineclube Recife”?
Não tinha uma sede própria, eu me lembro que ele funcionava até no fundo do quartel
general, no quartel da polícia, onde tinha um projetor de 16mm. Era muito difícil porque
não tinha como conservar boa projeção, debate depois da sessão não dava, era muito
difícil. Tinha um cidadão aqui que apresentava sempre filmes de curta-metragem e às
vezes até de longa, no Clube Português, eu sei que tinha porque eu noticiei. Ele já deve ter
morrido...
Esse quartel da polícia ficava onde? Era no Recife?
No quartel do Derby, ali funcionava um cinema de 16mm. O cineclube tinha que se
valer dos 16mm, porque estava no apogeu. Quando saía um filme de 35mm, saía um de
16mm. Quase todos os filmes que foram exibidos, foram produzidos pelos Estados
Unidos, Itália, França... Todo mundo fazia cinema. Agora, lá no início do cineclubismo, era
muito difícil porque não tinha como alugar esses filmes, eram muito caros e tinha aquele
problema da projeção que tinha que ser um projetor de 16mm.
Você lembra a hora da sessão e o dia da semana que aconteciam as
exibições do “Cineclube Recife”?
Não tinha certo... No início eu acho que alguns amigos se reuniram e fizeram exibições
satisfatórias, mas era tudo muito difícil... Até pra pessoa operar, um técnico que soubesse
operar um acidente qualquer na fita, porque fita se quebra, era muito difícil encontrar,
teria que ser um especialista e no “Cineclube Recife” a exibição era feita pelos rapazes,
que apesar de serem loucos por cinema, não conseguiam tudo.
O senhor lembra o dia da semana, se era quarta, se era quinta?
Ah, não tenho lembrança nenhuma, faz muitos anos.
Mas quem eram as pessoas que faziam isso?
Me lembro do Paulo Fernando Craveiro, Celso Marconi, Jomard Muniz de Brito... O
que eu mais conheci era esse pessoal mesmo.
Como esses filmes eram pagos?
Parece que tinha uma ajuda pra pagar o filme, porque o filme era alugado. Os cinemas
eram limitados a 35mm, mas saíam para atender o interior do estado, aí tinha que ter
uma programação de 16mm também.
Você frequentava esse “Cineclube Recife”, ia para as sessões?
Mas não assim, com o propósito mesmo de ir ao cineclube. Eu ia influenciado pelo
curso que estava dando: “Hoje é uma história do cinema, hoje é sobre o diretor ‘fulano-de-
tal’... George Méliès..., por exemplo.
Neste caso era mais uma questão de comunicação desse cineclube... você
escrevia matérias sobre essas sessões?
Eu não chegava nem a escrever, porque nessa época eu não tinha um lugar certo, era
colaborador.
Agora, quando eu assumi a página de cinema, em 1961 ou 1962, eu fiz tudo. Aproveitei,
fiz também... Realizei filmes, cheguei a fazer, na fase do Super 8, 44 filmes. E depois, eu
entrei em 16mm, fiz, parece, 16. E fiz, também, em 35, fiz uns cinco ou seis, cuja trajetória
pode ser constatada no acompanhamento do filme brasileiro, como curta-metragem. Isso
foi muito bom para a produção do curta-metragem.
Antigamente, o exibidor tinha ordem de colocar um curta na tela antes da
programação e eles conseguiram – os exibidores – fazer com que o curta-metragem fosse
reduzido no tempo. Então, muita gente diz: “Rapaz, você fez “Trajetória do Frevo” com
dez minutos?” Eu digo: “É”. Era obrigado a isso. Você não podia fazer filme excedendo
dez, 12 minutos. Até isso, eles influenciaram, porque eles tinham medo da gente, um
mundo de cineasta aparecendo, a produção aumentando. Tinha um exibidor no Rio, que
só exibia filmes brasileiros e pernambucanos.
Spencer, quando você passou a tomar conta da página inteira do jornal, da
página de cinema, você chegou a tomar conta também do Coliseu, você
programou o Coliseu?
É, o Coliseu foi o seguinte: Foi uma criação minha, de Alex, de Celso Marconi e de Ivan
Soares. Éramos quatro que selecionavam, davam opinião, fazíamos um catalogozinho
para distribuir no mês. Começamos no Art Palácio, do Art Palácio fomos para o Trianon,
do Trianon para o São Luiz, porque nós, eu e Celso [Marconi] fomos falar com Severiano
Ribeiro pra ver se ele cedia um cinema pra gente fazer um Cinema de Arte... Cinema de
Arte não uma vez por semana, mas durante a semana. Aí, ele disse: “Você faz o seguinte,
você usa o São Luiz e dá pra passar lá”.
O Coliseu estava quebrado, estava no vermelho, então Severiano Ribeiro e o gerente
daqui, Zé Ronaldo Ramos, resolveram entregar essa programação aos colunistas e deu
muitos resultados, passou a ser diariamente.
Aqui teve um exibidor chamado Pereira, o primeiro nome dele eu me esqueço, ele veio
de Manaus com a ideia de distribuir filme japonês.
Nunca foi visto filme japonês aqui, belga, francês... Muito raro. Aqui a gente só via...
(era escravidão!) o cinema americano. Isso aí era, certamente, o “boom” para o cinema
americano, era isso: vender o seu produto, os cowboys, os musicais...
Mas como eram as sessões do Coliseu? Qual era a característica da sessão
do Coliseu?
No Coliseu nós tínhamos total liberdade para escolher os filmes, a gente às vezes
mandava buscar os filmes de Ingmar Bergman em São Paulo, na Bélgica. A gente trazia
dois, três filmes e fazia um festival. Fellini, festival de Fellini. Enfim, todos que a gente
quisesse passar, passava. Agora, a renda era do cinema, mas a gente tinha uma
percentagem pra essas despesas de pintura, de cartaz, de ir buscar e trazer o filme, revisão
de filme, tudo isso... Foi difícil, mas gente conseguiu passar muitos filmes no Coliseu que
nunca foram vistos no Recife.
E as sessões, elas tinham debate?
Não, não tinha não. Era a exibição e pronto.
Não existia o nome “cineclube” na história?
Não, não existia. Era Cinema de Arte Coliseu, Cinema de Arte Art Palácio, onde
começou.
Você assistiu a algum filme lá? Como é que era? Como é que você lembra
dessas sessões?
Toda sexta-feira a gente se reunia e geralmente discutia o filme. Mas o local para
verificar o filme como estava, se tinha condições de entrar em festival foi numa sede que
alugamos na Rua do Hospício, porque o “Grupo 8” era muito forte, a gente conseguiu um
percentual de isenção nos ingressos. Nós fomos de manhã bem cedinho procurar Augusto
Lucena; eu, Celso Marconi e Alex, que era muito amigo de Augusto Lucena.
Isso foi em que época, Spencer?
Começou em 1961 e durou 20 anos. Agora ninguém podia esperar que os cinemas
locais trouxessem os filmes japoneses de Kurosawa, como Os Sete Samurais, por
exemplo. Só através de um cinema de arte ou então um cineclube. A gente não podia fazer
cineclube porque era diferente, o público era quem escolhia os filmes. Quer dizer, quando
ia um filme de Bergman, eles iam, outro mais fraco que Bergman, eles não iam; não é
como cineclube. Cineclube, eu acho da maior importância para o cinema é um cineclube.
Nascido para ensinar, na França, e foi muito importante isso no Brasil e em todo o mundo
porque era através do cineclube que a gente podia conhecer os autores. Naquela época, se
olhava muito os autores, não era como hoje acontece: É uma equipe fazendo um filme,
obedecendo rigores do produtor, naquela época não tinha muito isso, não. Tinha filme de
autor!
E nesse período em que você estava na redação do jornal, os cineclubes
mandavam pra você o release, a programação... Como é que era esse diálogo
com o cineclube que você tinha como um funcionário do jornal e como você se
relacionava com esses cineclubes e como esses cineclubes se relacionavam
com você?
Eu publicava o que eles mandavam. Textos, fotografias... Ou “tal dia é o filme tal...”
“Vem aí esses filmes...” Eu estimulava como estimulava o cinema Super 8. Todo mundo
do Super 8 tinha o apoio jornalístico. E a seleção pra festival... Realizamos aqui no Recife
três festivais de Super 8 : em 1957, 1958 e 1959. Nunca ninguém podia pensar nisso e
graças ao Super 8 isso aconteceu. O nosso grupo de cinema Super 8 tinha, mais ou menos,
umas 60 pessoas inscritas, fazendo cinema. Era mais do que hoje. Agora, era mais barato
também. Você comprava o cartucho, tinha uma câmera, um amigo emprestava, chamava
um ator como Hugo [Caldas]... Ele topou ser meu ator em A eleição do Diabo e a posse de
Lampião no inferno. Quer dizer, tudo isso colaborou para que houvesse até cineclube,
mas não houve não. Havia discussão, por exemplo, eu tenho meu filme, eu vou exibir
sábado, na casa de Hugo, então, quem quiser ir, vai. Tem a cervejinha e tem a discussão:
“Eu fiz isso por isso...” Explicava-se como se fez o filme.
Era uma liberdade total da gente, depois de fazer o filme, juntar as pessoas
interessadas em cinema e conversar. Isso foi muito bom.
Todos os cineclubes mandavam a programação? Você publicava? Consegue
lembrar quais eram eles?
Não lembro, mas eram muito poucos. O “Vigilanti Cura” mandava pra mim, era da
Igreja Católica. Mandava a relação e até explicando o que era o filme, tal... Mas eu não
podia só pensar no cineclube, porque eu tinha que divulgar os filmes que entravam nos
cinemas.
O “Vigilanti Cura” é da década de 1950?
Eu acho que sim. Acho que é de 1953, 1956... Eu sei que em 1957, eu marco bem, foi
quando eu entrei no jornal como revisor. Em 04 de fevereiro de 1958, eu fui registrado na
carteira como revisor. Aí eu passei dois anos como revisor, mas colaborando com o
cinema, numa faixa.
Minhas colaborações saíam porque Augusto Budu, que era o redator principal, me
aceitou. Então eu comecei a fazer. Mas com o tempo, eu não me lembro o ano, acho que
foi setenta e pouco, Budu saiu e então Fernando Chateubriand, que era filho de Assis
Chateaubriand, entrou num sábado quando eu estava fazendo a diagramação da página, aí
ele disse assim: “Cadê Budu?” Eu disse: “Budu saiu. Budu foi para o Rio de Janeiro, fazer
‘não-sei-o-quê.” Ele disse: “Aquele cabra não tem nada o que fazer, eu mandei ele pra fora
nada... Olhe, a partir de segunda-feira você vai assumir a página e a coluna, tá disposto?”
Eu disse: “Tô!”
Aí, pronto, fiquei como o dono da página uns dois ou três anos. Gladstone [Vieira
Belo] me chamou e disse: “Olhe, tem espaço pra você fazer música popular?” Eu disse:
“Tem.” Aí, cedi. E depois veio vídeo-cassete e aí foi uma chuva de material. Então é isso
que eu tenho pra dizer do Diario de Pernambuco, onde eu trabalhei 40 anos.
Você tem esse material impresso guardado?
Algumas coisas eu guardei. As páginas. Porque, aos domingos, eu tinha uma página e
uma coluna diária de um quarto de página, isso era diariamente. Então, eu guardava
numa mala aí o cupim bateu, estragou tudo. Algumas coisas eu guardei... Algumas
colunas que eu pude cortar e colar e guardar. Agora, hoje, esse material já está
dificultando a minha vida porque é muita coisa, sabe? Muitos recortes, muitos filmes,
muitos discos...
Então essa parte do cineclube, você vai doar pra Federação esse material
que você tem guardado de acervo sobre cineclube e a gente vai preservar e vai
deixar de ser um aperreio pra você...
Isso eu não prometo porque eu tenho filhos... Depende do material. Isso aí eu vou
querer, os discos, por exemplo.
O que interessa para a gente são as matérias dos cineclubes.
Você pode contar comigo. Ou alguma revistinha que era... Essa revista era editada em
Minas Gerais, aí deve ter cineclube porque Minas fazia um cineclube muito bom, São
Paulo...
Mas a gente tá aqui centrado em Pernambuco...
Mas não fala do geral, não? Então, o que eu tiver, pode contar.
Quer mais alguma coisa? Eu não sei se eu estou correspondendo a sua expectativa...
Você tá segurando a memória aí que eu estou ligado...
A memória é um negócio danado, né?
Você conheceu Ivan Soares, Nelson Simas?
Ivan Soares é meu grande amigo. Trabalhou muito comigo.
Tem alguma lembrança de cineclube a respeito dele?
Não, porque ele é de Caruaru, eu tenho a impressão que ele fazia cineclube em
Caruaru, eu tenho impressão, não tenho uma certeza. E ele depois, quando chegou no
Recife, entrou no Jornal do Commercio; Diário da Noite ele fazia também... Mas adoeceu.
É um crítico muito bom ele e ele deve ter tido uma participação muito boa no cineclube.
Pelo menos ele veio de Caruaru com essa proposta.
Então você não se envolveu com a atividade cineclubista? Você estava mais
voltado para produzir filme, para trabalhar com Super 8...
Era muita coisa...
E esses filmes que eram feitos em Super 8, eles não passavam nos
cineclubes? Você não ia para essas sessões?
Não, não tinha não, porque eu acho que o Super 8 chegou mesmo em 1969... Aí, não
encontrou o cineclube, assim, vivendo bem. Agora, tinha um, que eu mesmo fui pra casa
de um amigo, parece que era em Casa Amarela, ele tinha um projetor muito bom e
passava 16mm pra gente. Qualquer filme a gente via...
Isso era onde?
Isso era na residência dele.
Como era o nome dele?
O nome dele? Não lembro, não.
Você ia pra sessão na casa dele?
É, eu ia lá pra ver, eu gostava de ver o filme em casa,... E a escolha era da gente.
Isso era em que época?
1980, por aí... Agora, o que tomou muito meu tempo foi... Em 1980 eu fui chamado por
Fernando Freyre, esse que já morreu, pra trabalhar na cinemateca da Fundação Joaquim
Nabuco, organizar, chamar gente pra trabalhar na produção... Era muito empenhado na
filmoteca, mas quando eu cheguei lá, eu não achei que era uma filmoteca. Filmoteca não é
o que ele queria, ele queria apresentação, melhor filme, cuidados técnicos com ele,
arquivamento certo, tudo isso era da cinemateca... Revista, Scena Muda... Tinha coleções
completas de Scena Muda, Cinearte...
Essa cinemateca era aqui?
Não, era lá em Apipucos. Ainda é. Eu fui 20 anos diretor da cinemateca da Fundação
Joaquim Nabuco. Realizei um filme lá: Joaquim Nabuco: o menino de Massangana.
Essa cinemateca, vocês distribuíam filmes para os cineclubes, alguma coisa
assim?
Não, mas se alguém do cineclube fosse lá e solicitasse os filmes, a gente cedia, não
tinha problema, sem pagar nada.
Mas isso aconteceu alguma vez?
Comigo aconteceu, mas foi muito rápido, porque os assuntos não eram muito
interessantes para cineclube, tinha uma sessão de educação... Não interessava pra gente...
Sobre a cana-de-açúcar, documentários especiais... E a gente foi crescendo... Com os 20
anos que eu passei lá, recebemos várias doações. Gente que ia botar fora os filmes, aí
mandava pra gente, a gente mandava fazer uma seleção pra ver o que podia ser
aproveitado. Era slide, era filme, era tudo. Fotografia também. Lá tem uma filmoteca.
No caso, os cineclubes, eles mesmos não acessavam, eles não iam lá. Como
se eles não soubessem que existia isso...
Não, não iam lá. Desde que entrei em 1980... Eu entrei no dia 12 de dezembro de 1980.
Depois, chegou o videocassete, já é um cineclube, eu acho.
Ninguém pode negar a qualidade que tem o videocassete. Pra fazer cineclube, você
pega um filme, um disquinho daquele, você passa uma hora e pouco e depois discute, é
outra coisa. E autores da qualidade que existem no mundo, da melhor qualidade: Fellini,
você tem tudo de Fellini. Kurosawa, Antonioni, tudo isso. Cinema brasileiro, tem tudo do
cinema brasileiro, a chanchada, tem tudinho. Pra cineclube é uma delícia.
A gente encontrou dificuldade porque não tinha filme... Tinha filme, mas não tinha
quem operasse. Quando tinha quem operasse, não tinha o projetor... O projetor de 16mm
era muito caro, como o de 35mm. Mas a gente tentava fazer a coisa, mas não era fácil,
não. Agora, hoje em dia, eu acho que essa geração devia cuidar já do cineclubismo através
do videocassete, porque tem coisas maravilhosas, eu estava olhando, eu nunca pensei na
minha vida ter todos os filmes de Chaplin, rapaz! Eu, às vezes, nem acredito. Eu digo:
“Será mesmo?” Tudo otimamente organizado, tratado. São todos os filmes dele. E foram
vendidos nas bancas.
Spencer, você chegou a conhecer Pedro Salgado Filho?
Não, porque eu sou de 1927, o cinema pernambucano do Ciclo de 20 foi de 1922 até
1931.
Que era Jota Soares...
É, com Jota Soares. Agora, depois, Jota aproximou alguns do Ciclo do Recife: Dustan
Maciel, Ary Severo, ele próprio. Então, foi quando eu gostei muito desse assunto pra
estudar, estudei e fiz cinco filmes, de 16mm e 35mm.
E esse estudar que você fala, ele era assistir aos filmes com essas pessoas e
debater ou era assisti-los em casa mesmo?
Não dava pra debater. Era ver o que restava. Só A filha do advogado está completo,
Retribuição... poucos. O resto são fragmentos.
Pra gente encerrar, vou perguntar pra você o seguinte: voltando àquele
assunto de você como colunista, como redator de uma página de jornal sobre
cinema, queria insistir nesse assunto porque me parece que é o assunto onde
você teve mais contato com a atividade cineclubista da época e você recebia
material de todos os cineclubes.
Mas não era muito fácil, não.
Qual era a dificuldade? O que era difícil?
A dificuldade maior era que tivesse uma “redaçãozinha” boa, explicando o que era o
filme, pra poder colocar na página, porque muitos eu não conhecia. Era novato.
Você colocava essas matérias, mas você não conhecia o cineclube?
Não. Eu ia, como eu disse a você, a um curso que estavam dando e me interessava. Era
toda sexta-feira ou todo sábado. Eu acho que era o “Cineclube do Recife” ou então o
“Vigilanti Cura”. O “Vigilanti Cura” deve ter sido da Católica.
Não sei se da Católica, mas da Igreja Católica...
Da Igreja Católica. Até tinha um cara que era muito carola e queria que eu elogiasse e
tal... Eu disse: “Rapaz, não é meu jogo, não. O meu é outra coisa.” Eu quero anunciar o
que o jornal manda eu fazer. Uma vez Antônio Camelo, que era diretor, ele disse: “Você
não precisa se preocupar com detalhes, o que interessa você falar é que o filme é bom ou
não é. Isso sim.” Aí eu ia mais aos filmes apreciáveis.
A gente vai entrar em contato com você novamente pra gente ver esse
material impresso, de jornal, de cartaz, se você tiver cartaz de sessões...
Cartaz serve? De outros filmes? Porque meus filmes, quase todos, têm cartaz, quase
todos...
Mas de filmes de sessões de cineclube, entendeu?
Da época, né?
Isso.
Porque agora não tem mais nada...
Fale um pouco como foram esses festivais que existiram, o que acontecia
nesses festivais? Você falou em palestras, seminários... O que acontecia?
Esses festivais... Eu não me lembro... Em 1958... Foram três festivais, todo ano tinha
um. Patrocínio até da Fundação Joaquim Nabuco, entidades estaduais, federais, todas
ajudavam a gente. A gente tinha o interesse de fazer coisa boa.
Mas você disse que aconteciam seminários, cursos...
Durante o festival, nós tínhamos curso, tínhamos palestras. Nelson Pereira veio aqui.
Outros diretores já consagrados, eu acho. Quem patrocinava tudo era a Fundação.
Tem mais alguma coisa que você quer considerar?
Agora tá com toda a chance porque tem um material que é o filme. Pra discutir e para
aprender é uma beleza, porque é preciso estudar a cultura cinematográfica. Cultura
cinematográfica tem que ter, porque senão só entende aquelas porcarias que saem nos
shoppings, cada filme horrível, cada tiro danado, cada bomba...
Aquilo tudo não pode acontecer. O Recife viveu uma grande época, foi antes e depois
dos militares. Os militares... Houve muita pressão. Até para o cinema de público, uma
chanchada, uma cena de sexo, tudo isso ficou difícil, mas eu espero que o cineclube volte
a atuar como escola, como divertimento, como tudo. Agora, precisa arranjar sala, o
aparelho e a divulgação, sem divulgação não vai, não.
JOMARD MUNIZ DE BRITO
______________________
Qual foi o período em que você esteve envolvido com a atividade
cineclubista, como organizador ou como público?
Eu hoje encontrei nos meus arquivos indevassáveis um texto, uma matéria que eu
fazia sobre o cineclubismo, e a data dessa matéria era 1955.
Eu nasci em 1937, qual era a minha idade? 18 anos. E eu já estava ligado no
cineclubismo, já estava entrevistando para o jornal daqui, porque os bons pesquisadores
deveriam ir às suas fontes. Porque essa coisa de fala é tudo ilusão, menos essa minha que
eu fui lá na fonte. Então, era o Folha da Manhã que era o jornal vespertino, onde eu
escrevia. Então, aparece uma longa matéria minha com o meu nome correto. Eu procurei
ver isso. Eu entrevistando dois senhores que eram cineclubistas e estavam de passagem
por aqui, e depois entrevistando um camarada. Então, em 1955. Então, já havia, vamos
dizer assim, uma ligação minha como uma pessoa interessa.
E eu gostaria de dar um referencial pra vocês, é o livro da Luciana [Araújo], A crônica
de cinema no Recife nos anos de 1950. É interessante que vocês peguem esse livro,
entendeu?
Mas qual foi o ano que você...
1955, eu repito. Eu já estava escrevendo, então eu já participava acho que há um ano,
desde 1953, 1954... foi a minha iniciação ao cinema como estudo de cinema, foi no começo
da década de 1950.
O “Vigilanti Cura”, segundo Marilda e Lauro, começou em 1952 ou 1953...
E eu estava logo no começo. Eu não participei da fundação, já conheci o cineclube
funcionando. “Vigilanti Cura” foi uma encíclica do Papa.
Sabe onde a gente consegue essa encíclica, existe alguma fonte para
conseguir essa encíclica?
Você vá ao Google. Todo jovem tem que ir ao Google. No Google você encontra tudo. É
um palpite meu.
A sua relação com cineclube foi com o “Vigilanti Cura”, mas só com ele?
Foi. A base foi. Porque o cineclube “Vigilanti Cura” tinha uma coisa interessante.
Depois das exibições tinha o cine-fórum, que era um debate do filme. Eles faziam uma
reunião para um grupo pequeno, um grupo menor, que era uma reunião mais de estudo,
onde eles até trocavam livros sobre cinema que estavam lendo.
O “Vigilanti Cura” era um cineclube dentro dos preceitos católicos?
Preceitos e conceitos católicos, porque era num edifício chamado Círculo Católico, que
hoje em dia é só um edifício. Era um casarão. Naquele lugar que tem hoje o edifício
Círculo Católico foi onde tinha o “Vigilanti Cura”.
E como é que era essa relação de um cineclube católico dentro de um
conceito mais subversivo?
Ah, não. Num use essa palavra não. Essa palavra não estava em moda. Essa palavra é
da década de 1960, porque as palavras também são datadas. Não havia essa palavra
circulando na intelectualidade, essa coisa de subversão. Podiam ter ações subversivas,
mas essa palavra que você usou agora não se adapta. Porque se era um cineclube católico,
a dimensão dele era, sobretudo, pedagógica e humanística.
Então, veja bem, a preocupação era em formar uma plateia, em formar espectadores,
dentro de noções sobre teoria de cinema, sobre linguagem cinematográfica e sobre a
história do cinema.
Existia uma reflexão acerca do modo de agir e de viver da sociedade?
Não. Na minha adolescência eu não me preocupava com isso.
Mas o cineclube também não?
Que eu saiba, não. Quer dizer, tinha até um lado aí que se pode criticar, é que dentro
dessa orientação católica, tinha uma coisa chamada cotações de filmes, cotações morais.
Alguns filmes não eram recomendados. Mas isso era [feito por] uma pessoa que não está
mais viva hoje, que era o Valdir Coelho, pai do João Coelho, e que tinha uma mulher
belíssima que ainda hoje está viva, na sua beleza esplendorosa, que se chama Maria. Toda
vez que eu me encontro com ela, ela faz muita festa, mas não sei o telefone dela, não sei
se Lauro e Marilda tem. Ela era do cineclube, e o marido dela tinha essa ligação com,
vamos dizer assim, esse lado mais católico.
Hoje você é uma referência de pessoa com uma trajetória de aforias e de
subversões, de atentados poéticos. Sua participação no cineclube teve alguma
participação pra essa transformação do Jomard Muniz de Brito conhecido
como ele é hoje?
Memória cineclubista de Pernambuco: onde se planta e se brota
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Memória cineclubista de Pernambuco: onde se planta e se brota

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  • 3. Memória cineclubista de Pernambuco ______________________ Gê Carvalho entrevista Alex | Alexandre Figueirôa | Celso Marconi | Cláudio Assis Fernando Spencer Flávio Rodrigues | Fredi Maia | Geneton Moraes Neto Geraldo Pinho |Hugo Caldas | João Junior | João Valença Jomard Muniz de Brito | Katia Mesel | Kleber Mendonça Filho Lauro e Marilda | Leo Sette Lírio Ferreira | Luciana Araújo | Luiz Joaquim | Marcelo Gomes Marcelo Pedroso | Nilton Pereira | Osman Godoy | Osmar Barbalho Paulo Caldas | Paulo Cunha | Sérgio Dantas Isabela Cribari (org.)
  • 4. Onde se planta e se brota ______________________ Gê Carvalho Foi no Espaço Laboratório, no Pátio de São Pedro, em 2003, que realizei minha primeira sessão pública com espírito cineclubista. A exibição foi em formato Super 8 só com filmes de realizadores da época mais fervente desta bitola em Pernambuco. Depois, fui morar em Niterói e criei o Cine Sesc Digital. Este foi o primeiro cineclube que me envolvi de fato, com sessões regulares e responsável por todo o processo da atividade cineclubista. Neste período me aproximei de outros cineclubistas do Estado do Rio de Janeiro e percebi ali a importância política que esta atividade englobava. Quando retornei para Pernambuco criei, junto com Sérgio Leão, Daniel Bauboa e Juliana Pinheiro, o cineclube Amoeda Digital, que iniciou no Bar Novo Pina, na rua da Moeda, Recife Antigo e, nitidamente, percebi que havia aqui uma produção cinematográfica que se destacava já fazia algum tempo, no entanto, os cineclubes estavam desarticulados, não havia diálogo, as ações eram isoladas, sem a força e sem a importância e visibilidade merecidas. Nós, do Amoeda Digital, convocamos reuniões a fim de unir os cineclubes buscando fortalecer e integrar suas ações na formação de público, mas foi só com a presença e uma articulação com a Coordenadora de Cinema e Vídeo do Estado, Carla Francine, que vimos possível nosso desejo de organização contemplado. Juntos, realizamos, em 2008, o I Encontro de Cineclubes Pernambucanos com incentivo da Fundação do Patrimônio Histórico e Artísticos de Pernambuco – Fundarpe. Na ocasião contamos com a presença de diversas figuras do cineclubismo nacional bem como João Baptista Pimentel Neto, Frederico Cardoso, Zonda Bez e outros recém- descobertos cineclubista de Pernambuco, totalizando 12 cineclubes no encontro. Este momento culminou na criação da Federação Pernambucana de Cineclubes – Fepec, da qual fui sugerido e eleito presidente no primeiro ano da entidade e desde então mantive a dedicação ao movimento cineclubista presidindo-a, iniciando em 2012, a terceira gestão. Observando os rumos que o movimento cineclubista nacional se desdobrava com ações particulares e principalmente em programas de governo, como o Cine Mais Cultura que, em parceria com o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros — CNC, criaram cerca de 1.200 novas salas de exibição cineclubista por todo país. Em Pernambuco não foi diferente: o surgimento da Fepec, em 2008, como falei há pouco, contava com 12 cineclubes e, em menos de um ano, tínhamos o dobro desse número. Até fevereiro de 2012 a Federação Pernambucana de Cineclubes conta com 60 cineclubes filiados. Este crescimento no número de cineclubes e, logicamente, no interesse pela atividade
  • 5. cineclubista, me fizeram refletir acerca da necessidade de guardar uma memória desta atividade. Os novos cineclubistas precisavam entender a importância histórica de sua prática, saber de onde vem, quais rumos tomaram desde a primeira exibição aqui em Pernambuco, o que as sessões influenciaram nos experienciados, quais resultados tiveram? Todas essas perguntas pareciam urgentes e necessárias. Então fiz ligações para amigos cineclubistas de diferentes décadas, e iniciei uma pesquisa simples e exploratória a fim de obter informações que tornassem visível a necessidade deste projeto para o momento singular do cineclubismo. Nesta pesquisa inicial descobri que em todo país, não havia uma memória das ações cineclubistas. Cada estado tem sua história e suas especificidades e é o conjunto da memória de cada estado que será capaz de traçar um panorama da história do cineclubismo brasileiro, este livro em formato e-book é o primeiro projeto nesta plataforma e, hoje, de fácil acesso. O início do projeto previa a realização de 12 ou 15 entrevistas, no máximo, para que desse universo pudesse tirar um conteúdo histórico para compor o livro. No entanto, enquanto fazia a pesquisa e as entrevistas, este universo saltou para 28 entrevistados e um conteúdo foi se desvendando ainda mais rico e reflexivo. Cada entrevista tinha um clima diferente, uma energia diferente e um ritmo diferente. Foi uma verdadeira viagem saltando décadas e entendendo o que unia cada momento desta história: o amor e o sonho de viver um cinema próprio, um cinema revolucionário e transformador. Havia também os que só queriam se divertir, os que se interessavam apenas pela tecnologia, mas o que predominava nas mentes e nos corações de todos os cineclubistas era de fato a vontade e o sonho de mudar o mundo, começando pelo seu mundo. Mesmo que com o dobro de entrevistas realizadas, identifiquei que há outras figuras importantes, outros momentos importantes, outras ações importantes, outras participações importantes na história do cineclubismo em Pernambuco e que, espero ter a oportunidade de mergulhar ainda mais nessa história que esclarece e desvenda um fértil terreno na formação de um senso crítico regional e universal bem como na formação e revelação de possibilidades de mundo. Fiquei ainda mais convencido de que cineclube é um lugar onde se planta e brota semente e que o cineclubismo é a agricultura da mente. Desejo a todos os leitores do livro Memória Cineclubista de Pernambuco um fértil encontro ou, para os cineclubistas já iniciados, uma confirmação. Com exceção do cineasta Geneton Moraes Neto, Sr. Lauro e Sra. Marilda, onde realizamos as entrevistas em suas respectivas residências, todas as demais foram realizadas em cinemas e teatros do Recife e uma em um teatro de Salvador. As entrevistas compõem a principal parte do processo desta pesquisa que antecede o publicação do livro. Tudo foi filmado e esse material compõe o vídeo do livro, contendo trechos das entrevistas, ou seja, o vídeo é parte do livro. O que está no vídeo, está no livro, mas é aqui, no livro, onde você encontra mais informações. Muitas pessoas contribuíram para este projeto, não só pessoas, mas também órgãos e entidades. Por este feito, agradeço à Fepec pela colaboração nas transcrições das
  • 6. entrevistas; à Aurora Filmes pelo apoio em ilha de edição, à Prefeitura de Salvador e ao Teatro Municipal e a Igor Souto, pela filmagem em Salvador; à Comissão Deliberativa do Funcultura por acreditar no projeto, ao Governo de Estado de Pernambuco, à Secretaria de Cultura e à Fundarpe pelo patrocínio. Recentemente, em 2008, foi realizada em Belo Horizonte, entre os dias 17 e 21 de novembro, a 27ª. Jornada Nacional de Cineclubes. Dentre os vários GTs (grupos de trabalhos) criados, o de Memória e o de Comunicação atentam para a falta de uma cultura de memória e registros das atividades cineclubistas. E isso se aplica ainda para o presente. Em outro trecho do documento do GT de Memória informa-se que em todo país há uma “restrita existência de uma memória documentada e sistematizada do movimento cineclubista e dos cineclubes brasileiros, verificando- se apenas a existência de acervos e documentos esparsos, além da memória pessoal de cineclubistas que atuaram em diversas fases do movimento”. Em Pernambuco, o movimento cineclubista teve seu início ainda na década de 1940, quando Pedro Salgado Filho promovia em sua casa, exibições de filmes nacionais e estrangeiros. Esta iniciativa era conhecida como “Cine Siri”. Em 1943, Jota Soares entra para diretoria e propõe uma mudança no nome, que passou a se chamar “Museu-Cinema”. Esta atividade tornou possível a preservação de filmes ícones para Pernambuco, tais quais: A filha do advogado, Retribuição e Jurando vingar. Desde aquela década, onde na verdade não havia ainda a consciência de que se fazia o cineclubismo, muita coisa aconteceu na história desta atividade. Após 65 anos da criação do “Museu-Cinema”, foi criada a Fepec – Federação Pernambucana de Cineclubes. Pela primeira vez na história da atividade cineclubista no Estado, há um movimento oficial e organizado. Antes disso, desde a década de 1950 até os anos 1990, a atividade cineclubista em Pernambuco vive diversas fases, no entanto, ao que parece, nunca ficou parada. No final da década de 1950, o casal Lauro Oliveira e Marilda Vasconcelos, criaram o Cineclube “Vigilanti Cura”, na rua do Riachuelo, no bairro da Boa Vista, que teve também a participação de Jomard Muniz de Brito em sua organização. Seria esta, talvez, a primeira vez que se utilizava a expressão Cineclube no Estado de Pernambuco. No início dos anos 1960, ainda antes do golpe militar, surge o “Cineclube Projeção 16”, no centro do Recife, no prédio da Assessoria de Imprensa de Pernambuco, que viria se tornar o Cinema — AIP. Com a chegada do golpe militar e do AI5, tantos foram os momentos inusitados e arriscados, como por exemplo, os cineclubistas que tinham que fugir da censura, ou muitas vezes, driblá-la para conseguir exibir o filme. Neste tempo, muito se viveu, mas pouco se guardou, salvo as experiências e consequentes lembranças daqueles que viveram este tempo. Resgatar, rememorizar e registrar a maior parte dessa história contada por quem a viveu é uma forma de prestar um agradecimento aqueles que contribuíram para o cineclubismo em Pernambuco, bem como para um amadurecimento a respeito da
  • 7. própria linguagem do cinema. Entre os poucos documentos ainda existentes, muitos estão se perdendo devido à ação do tempo e à falta de um arquivamento adequado. Proporcionar o acesso democrático em um espaço que possa reunir esse material para pesquisa e estudo da nossa história é um dos objetivos deste projeto. Além disso, parte dessa trajetória vivia apenas nas lembranças de seus atores, e definitivamente, não iremos mais perdê-las.
  • 8. A ordem da memória ______________________ Isabela Cribari O cinema nacional vive hoje um dos seus mais ricos e intensos períodos. De produção. De visibilidade. Mas a cadeia produtiva do cinema no Brasil ainda tem muitos entraves a resolver. Muitos elos enfraquecidos. A exibição e a memória são os mais frágeis. Com o fechamento dos cinemas de bairro e nos interiores houve uma elitização do público, que passou a pagar quase cinco vezes mais para assistir a um filme, na maioria das vezes americano, em shopping centers das capitais. E quanto mais restrita e alienante a exibição cinematográfica no país, mais necessária é a atividade cineclubista, geralmente formada por jovens idealistas que enxergam no cinema um grande potencial transformador das pessoas e da sociedade, sendo mais do que uma atividade de exibição, mas principalmente de formação. De pessoas. De gerações. De cineastas. Pernambuco, um estado de vanguarda na arte e que contribuiu significativamente para a cinematografia nacional, levou o cinema mundial a vários locais através de seus cineclubes. E este livro pretende contar a história destas iniciativas desde a década de 1940, com reminiscências ainda no Ciclo de 20, no Ciclo do Recife, através da memória de quem participou das experiências cineclubistas no Estado. Uma memória social que, como toda memória, é a realidade que, por si, é também percepção e emoção. Assim foi idealizado este trabalho por Gê Carvalho, que vem organizando o cineclubismo em Pernambuco, desde a estrutura física, passando pela disponibilização de acervo, pela formação do pessoal até esta grande iniciativa de resgatar a história do movimento cineclubista no estado e compartilhá-la com todos. Não se pode ficar alheio ao excelente esforço e resultado dos quais este Memória do cineclubismo de Pernambuco se urde: Gê Carvalho conseguiu, sem academicismos, sem o ramerrão dos especialistas, trazer a público uma história que atravessa gerações, para questionar o futuro questionando também o passado. Mas de qual passado a memória também se urde? De qual futuro se urdirá a memória nesse tempo gilbertiano, tríbio? É só o tempo. Um único tempo e a memória certamente está no futuro que é 1920 e no passado que será 2020. Gê Carvalho aponta nessa direção. Quando ele me convidou para organizar este livro, fiquei tão contagiada com as histórias que vi no material bruto das entrevistas que criei um cineclube também. Dentro de um grande hospital público do Estado, o Barão de Lucena. Com os mesmos ideais: o cinema como elemento de formação e transformação, como intermediação da subjetividade. Da equipe e dos pacientes. Organizar a memória de um tempo é como criar e manter um cineclube: uma tarefa ética e ideológica. E ao finalizar este trabalho percebo que o órgão da memória é o
  • 9. coração. Então, saúde à memória. A memória vence o tempo, sabiam os gregos.
  • 10. Décadas de 1940 /1950 ______________________
  • 11. ALEX ______________________ Alex é mesmo o seu nome? O nome mesmo é José de Souza Alencar. Eu comecei a escrever no Jornal do Commercio há 62 anos e não tinha uma coluna de cinema. Quem tinha era o Diario de Pernambuco. E eu aos domingos escrevia uma página no Diario de Pernambuco dando cotações aos filmes. E fui me habituando com isso e tal e o Jornal do Commercio resolveu botar uma coluna de cinema para que eu escrevesse todo dia. Todo dia. Eu comentava filmes todos os dias e naquela época não tinha televisão, era tudo cinema. Mas vamos falar sobre cineclube, cineclubismo. Ah! Cineclube! Cineclubismo! Bom, esse eu conheço bem. Esse livro se chama Memória cineclubista de Pernambuco. Você acha que o cineclube aqui teve tanta significação mesmo assim? A questão é essa porque hoje aqui em Pernambuco a gente tem um momento histórico da atividade cineclubista, montamos até a Federação Pernambucana de Cineclubes. Ninguém ouve mais falar. Para você ter ideia, hoje em Pernambuco são 39 salas de cineclubes que existem pelo estado inteiro.
  • 12. Eu posso contar a história como é que foi que começou. O objetivo desse livro é esse. Como existe um momento de erupção dessa atividade, a nossa preocupação é que essa atividade não fique como se tivesse começando agora. Mostrar que existiram pessoas que tinham o espírito cineclubista e que existiram, de fato, cineclubistas desde 1943, com Pedro Salgado Filho e Jota Soares no “Cine Siri”, que depois se transformou no “Museu de Cinema” e que hoje os filmes Aitaré da praia, Jurando vingar, A filha do Advogado, só existem preservados por conta da atitude de Jota Soares quando criou o “Museu de Cinema”... Muito meu amigo ele foi! Quando criou o “Museu de Cinema” ele se preocupou cineclubisticamente na questão de preservação dos filmes. Então estavam vendendo filmes a dois contos de rés o quilo, foi quando Jota Soares foi com Pedro Salgado e comprou esses filmes e até hoje esses filmes existem por conta dessa atividade de exibição. Tinha Jota Soares. Tinha outro alto que era... ele ainda tá vivo esse outro. Lembro assim, mas esqueci o nome dele. Mas Jota Soares realmente era um homem que tinha até dinheiro. E ele pode mesmo ter feito isso. Mas Jota Soares só se restringiu a cinema e a importância dele vem disso. É que ele fez muitos filmes, ele e outros que estavam em companhia dele no cinema mudo ainda. O cinema falado foi inaugurado em 1927 com Al Jolson cantando naquele filme O Cantor de jazz. Antes era o cinema mudo, quando ele fez Aitaré da praia e quando ele fez outros. Ele realmente foi a figura mais expressiva daqui... Assim não digo de cineclubes que não se falava nisso na época não. Tinham as pessoas que gostavam de cinema e lutavam para fazer filmes e queriam fazer filmes. Jota Soares foi a principal figura. Teve outros que minha memória não dá mais pra lembrar. Porque é muita coisa que foi acumulando. E ainda faço uma coluna por dia, menos na segunda- feira. Agora então ele era um homem assim, que gostava de falar sobre cinema, mas infelizmente, aqui em Pernambuco nunca se valorizou muito o trabalho de Jota Soares. Se falava muito nos filmes que ele fez, como Aitaré da praia. Voltando para a questão da exibição... porque Jota Soares teve essa carreira, mas como um produtor. Ele realizava filmes. Ele não, ele realizava, ele conseguia tudinho até da produção. Ele tinha dinheiro. Ele tinha um bom emprego, mais ou menos. É. Ele cuidava da projeção dos filmes, é, ele enfim, ele cuidava da exibição, dos atores, ele fazia tudo a respeito dos filmes. Tudo que o filme diz pra ser feito Jota Soares fez, e fez sozinho. Como é que eram as exibições que ele organizava? Ele que fazia o filme. As outras pessoas, digamos, não são fundamentais. O fundamental, o único, é ele. Porque ele tinha ideia e ele mesmo não era bonitão não, ele se julgava bonito já no fim, já meio velhote. Mas, nunca foi. Eu não conheci ele no começo, fazendo filmes. Ele era muito mais velho que eu. Mas então... tínhamos um cinema na Rua Nova. É rua da Imperatriz, rua Nova. Ali tinha um cinema. Eu não estou me lembrando muito do nome do cinema, acho que era Cine Royal.
  • 13. Eu estudava direito, era acadêmico de direito, em 1952. Eu, estudante, me interessei por cinema, morava numa cidade, numa rua de Maceió. Minha mãe morava ali, eu já ia atrás de ver filmes. O exibidor conhecia minha mãe... Isso é em que época isso, Alex? Eu estudava direito e me formei em 1952. Então isso vem de 1940. Isto foi antes, porque eu como estudante de direito já comecei a me interessar muito por cinema, mas sempre me interessei por cinema. Porque eu morava numa rua de Maceió que não era rua de gente rica e tudo mais, mas minha mãe morava ali, e só tinha um cinema em Maceió e eu já ia atrás de ver filmes. Então o operador, o exibidor dos filmes, que conhecia minha mãe, me disse, quando eu tinha oito anos: “Olhe só tem uma sessão toda noite que é as seis e meia no Cinema Ideal”, o cinema que tem lá em Maceió. “Peça a sua mãe, porque ela gosta muita da minha mulher também, e se ela deixar eu lhe levo pra você ver os filmes”. Aí eu falei e mamãe deixou. Então todo dia, ele quando ia para o cinema, chamava. Eu ficava muito alegre, fiquei muito comportado, estudei até mais... E comecei assim a ver os filmes que eram famosos na época. Eu vi quase todos de Greta Garbo, Charles Boyer, Mae West, Olivia de Havilland. É. Glória Swanson, que era famosa, era vamp, e era amante do Kennedy. E as questões de cineclube? O cineclube é o seguinte. Ele nunca pensou... Esqueça Jota Soares como um homem cineclubista especificamente falando. Ele gostava de fazer filmes, ele dava, valorizava muito os filmes dele, divulgava muito os filmes dele. Fazia tudo isso... o que você perguntou? Se ele fazia cineclube? Não só Jota Soares... Você fazia cineclube? Jota Soares se interessava na divulgação dos filmes feitos aqui. A partir do dele como precursor, que foi o principal, outro qualquer que diga que foi não foi, não é verdade. Não acredite. Foi Jota Soares. Depois vieram outros que eu não estou lembrado do nome. Eu me lembro dele porque eu conversava muito com ele. Era o principal. Tinham os coadjuvantes dele, os auxiliares e tudo mais. Então ele conseguia exibir esses filmes no Cinema Royal da rua Imperatriz e Boa Vista, né? Qual é? Imperatriz e Rua Nova. Imperatriz e Rua Nova, ali na metade junto daquela igreja que tem dos militares tinha uma casa lá que era um cinema... Tinha debate nas sessões? Não. Era só a exibição dos filmes? Era uma sessão só. As pessoas iam, mas não havia essa facilidade de transporte, se bem que hoje em dia o transporte é um caos. Naquele tempo era a falta. Então Nelson Ferreira, que foi um dos maiores compositores de frevo e de tudo isso, um dos maiores pianistas aqui de Pernambuco, era famosíssimo em toda parte. Nelson Ferreira foi um mito e infelizmente, não é reconhecido aqui no Recife. As pessoas que fazem alguma coisa parece que não se reconhece muito. Mas Nelson Ferreira era colossal, eu digo porque nos filmes que eu ia assistir... digamos... A cena do bandido correndo atrás do cowboy ou coisa dessa se fosse um
  • 14. faroeste ele tocava no piano a música adequada. Absolutamente adequada. Se fosse num momento assim ainda com legenda eu digo, legenda apagada, sem se falar, era cinema mudo. Aí então ele dava o tom, é como se diz, o tom... De tranquilidade... Moderno, emocionado, é na verdade amoroso. De emoção, de tudo isso... Agora eu lhe digo como toda sinceridade que é nessa época que Jota Soares... Ele fez os filmes dele aqui com ajuda de outras pessoas, mas que ele era a cabeça principal, se ele não fosse um homem corajoso e não tivesse dinheiro pra bancar os filmes, nada teria sido feito. Aí então ele queria falar só dos filmes dele. E no “Cineclube do Recife” tinha que ser sócio? Você não precisava ser sócio, a gente botava o nome clube porque não tinha outro nome pra botar. No “Cineclube do Recife” você chegava, pagava e pegava o ingresso. Existia o “Vigilanti Cura” também, você já ouviu falar desse cineclube? Vigilanti Cura era uma coisa de católico, que não tinha significação nenhuma. Nada. Existia. Falava-se em “Vigilanti Cura” que era dominado pela Igreja. Apesar que tinham filhos das putas como José Sarney que proibiram Je vous Salue Marie, do Chabrol. Do Chabrol, não. É de outro francês. É de Godard. É dele, que é famosíssimo. Você conheceu o “Cine Siri”? Chegou a ouvir falar desse “Cine Siri”? Não. Nem do “Museu de Cinema”? Não. Mas, deixa eu dizer só um pouquinho mais do Jota Soares... Enquanto ele fez filme mudo ele foi absolutamente igual a qualquer cineasta dos Estados Unidos. Toda aquela merda dos Estados Unidos, ele foi igual. É preciso destacar isso, que o Jota Soares foi quem deu o começo do gosto pra gente ir ao cinema. Então quando ele estava lá, ficava na porta e ia conversando... O cineclube era ele que fazia. Apenas não tinha esse nome. As pessoas que gostavam de cinema ficavam conversando com ele. Ele discutia filme comigo: “Gostou? Não gostou? Nelson Ferreira chegava... “E aí, a música hoje estava boa?” Outra pessoa que era muito interessada nisso era um filósofo. Ele foi da Academia Pernambucana de Letras...foi...ai meu Deus do céu...não estou lembrado do nome dele... Evaldo Coutinho. Era um intelectual do maior nível... Ele era um cineasta completo... Assistia a todos os filmes... O Jota Soares era a mesma coisa. Ele começou a falar mais em cinema no sentido de dizer: “Olhe, o primeiro filme foi aquele. O segundo foi aquele outro” e as pessoas começaram a se formar. Mas pra dizer a verdade, o cineclube mesmo, assim dentro desse esquema que você quer, da pessoa ser sócio, só começou com... Foi um secretário de cultura da Prefeitura, eu vou me lembrar o nome dele, ele era muito bom, um sujeito fantástico, então ele deu ajuda pra que se pudessem ter salas pra fazer os cineclubes. Foi José Césio Regueira Costa, Secretário de Cultura da Prefeitura. Então Césio Regueira Costa conseguiu apoio, ou melhor, esse grande romancista, como é o nome dele que morreu, não é possível, eu estou ficando velho mesmo... O que foi marido de, foi romancista foi estudioso, um dos maiores daqui. É... ele foi casado com
  • 15. a diretora da Cepe, vocês conhecem ela, Lêda. É Hermilo Borba Filho... Bota esse nome ai! Então o “Cineclube do Recife” começou com Hermilo Borba Filho e comigo. Eu era funcionário da prefeitura, estudava direito e escrevia sobre cinema. Era conhecido por tudo isso. Falou em cinema as pessoas ligavam a mim. Então Hermilo Borba, que era um homem superinteligente, pegou meu entusiasmo pelo cinema e disse: “Vamos fundar o Cineclube aqui no Recife”. Aí então fomos para o José Césio Regueira Costa, que era secretário municipal, para ele dar ajuda e fazer pedidos. Então nós começamos a fazer reuniões assim, exibições de cineclube no caráter experimental. E os filmes eram exibidos e nós não tínhamos outro cinema aqui. Tinha esse da Glória, o Art Palácio, acho que... Nem me lembro mais nessa época. De começo mesmo não existia, ou tinha? Mas se tinha o Art Palácio, era o cinema do Sorrentino, era o Art Palácio e o Trianon. Eram cinemas comerciais demais pra que eles pudessem ceder uma manhã de sábado ou uma manhã de domingo, eles não cediam de jeito nenhum. Eram esses miseráveis que podiam realmente dar forças e nunca deram. Eu e Hermilo falávamos e não conseguíamos nada. Então conseguimos com o comandante da Polícia Militar de Pernambuco. A Polícia Militar de Pernambuco eu não sei se vocês já foram lá. Faz 20 anos que eu não vou lá! Não entro lá! Mas não tem aqueles... Não tem o quartel da Polícia Militar? Lá no fim, no finzinho, depois que tem o hospital... No fim eles tinham um cinema que tinha aproximadamente umas três vezes mais de cadeiras assim... pra todo mundo assistir... E as famílias dos soldados iam lá e assistiam tudo isso. E era um local de cinema. Vinham os oficiais, os oficiais, outras pessoas iam e todos iam para aquele cinema. Tanto que Di Cavalcanti numa das vezes que veio aqui, foi chamado pra fazer uma palestra lá. E gostou da coisa, nos falamos também no início de tudo isso e Di Cavalcanti desenhou numa das paredes, numa das vezes que ele foi lá. Disse: “Eu venho amanhã desenhar, fazer um mural na parede desse cinema lá da Polícia Militar.” Foi e fez o painel. Aquelas exibições que Jota Soares fazia com os filmes dele, eram em que década? Década de 1940? Eu entrei na faculdade de direito em 1946... Então foi um pouco antes disso. Você organizava o cineclube junto com Hermilo Borba Filho? Ainda não. Eu ainda não cheguei no cinema. Estou dizendo como as coisas foram se conduzindo para que surgisse um clube de cinema, entende? Só começou mesmo com Hermilo Borba Filho e comigo porque nós conseguimos autorização do governo, e sobretudo com a boa vontade do comandante da Polícia Militar, para todas as terças-feiras à noite, porque eles só passavam filmes para os soldados nos finais de semana, nós pudéssemos fazer a exibição de filmes do “Cineclube do Recife” lá. Então nós passamos um tempão. Eu não posso dizer o tempo todo que passamos lá mas aproximadamente uns três, quatro... seis anos exibindo filmes lá. Isso em que ano? Qual era a época? A época? Eu já estava estudando... foi na época de 1950...eu me formei em 1952...foi da época de 1947 pra 1952/1953. Foi nessa época. Porque eu já escrevia muito também sobre cinema e a coisa vinha daí. O nome do cineclube era “Cineclube do Recife” mesmo?
  • 16. Isso, “Cineclube do Recife”. Como é que eram essas sessões? As sessões eram boas porque tinha um funcionário da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura que era muito interessado em cinema e o Césio Regueira Costa permitiu que ele trabalhasse menos no trabalho dele da Prefeitura e se dedicasse a ser o Secretário do clube de cinema do Recife. Então nós passamos a cobrar um tipo de ingresso como se diz, simbólico, digamos assim... Dois centavos, um centavo, sei lá, não me lembro mais, pra assistir aos filmes. Eu divulgava muito nas minhas colunas os filmes que iam sendo exibidos. Hermilo Borba Filho era um homem de prestígio imenso aqui no Recife. Foi secretário da prefeitura do Recife durante muito tempo, mandava divulgação pelos canais da Prefeitura e o cinema foi se desenvolvendo. Então tínhamos aproximadamente umas 150 pessoas que eram fiéis e pagavam sempre, e se não pagassem nos arranjávamos os filmes. Hoje os cinemas todos em shopping center... Se você quiser saber quem é o responsável pelos filmes, não sabe... Tem um rapaz aí que é toma conta da parte que era do Severiano Ribeiro, que passa filmes no Shopping Tacaruna, passa no Boa Vista, passa em outros... Mas, voltando, vou dizer a você que as pessoas que se interessavam mais, que tinham um pouco de cultura, todos esses iam ao “Cineclube do Recife”. Eles podiam até nem ser sócios... Mas existia um quadro de associados? Existia um quadro de associados! E como é que era feito isso? Era, por exemplo, eu... Foi Hermilo Borba Filho, que era a figura central, que conhecia muita gente e que foi pegando os amigos todinhos e foi botando numa lista no caderno. No caderno. Mas aí essas pessoas pagavam uma mensalidade ou pagava na entrada do cinema? Pagavam, alguns diziam: “Eu prefiro pagar uma mensalidade, uma coisa assim pra vocês poderem comprar/alugar os filmes...”. Outros pagavam na hora: “Não, eu posso não estar aqui, eu posso não me interessar pelo filme.” E chegava lá e pagava cada sessão. Mas as sessões eram muito concorridas. Hoje em dia você pergunta quem são esses representantes dos filmes? Só temos o Multiplex que é o menino que está aí... Pedro... Pedro Ribeiro, ele me manda notícias... Então eles ficavam fazendo isso. Mas, nós mandávamos os convites e todas as pessoas iam, no geral. Vocês mandavam convites é? Como é que era? Vocês mandavam pelos correios? Não. Nós dizíamos... Eu botava no jornal... Eu tenho uma coluna... Se lembre que eu tinha uma coluna de cinema e Hermilo também mandava pros jornais todos que tínhamos aqui... Qual a média de público? Quantidade de pessoas? A quantidade de pessoas?! Umas 200, às vezes 150, às vezes um pouco mais... O local era no quartel da Polícia?
  • 17. No Teatro do Quartel da Polícia Militar de Pernambuco, que ainda deve existir esse quartel... Mas onde é que ele era? No Derby? É no Derby... é pegado no quartel do Derby, só que o quartel do Derby pertence aqui ao Conselho Estadual de Cultura. Então essa questão de fazer tombamento de prédios antigos e prédios importantes e o conselho que faz e o quartel do Derby foi tombado porque queriam modificar. Então acabaria aquela parte final que não era tão muito assim, era ligada ao quartel, então ali tinha um cinema enorme que muita gente pedia até pra fazer representação de pecinhas de colégio e tudo isso e nós tínhamos todas as nossas terças-feiras reservadas para exibição dos filmes lá nesse anexo no quartel da polícia de Pernambuco. Isso é preciso não ser esquecido, o cinema funcionou porque nós tínhamos o quartel... O cinema do quartel da Polícia Militar, que foi dada a Hermilo Borba Filho e a mim e ao restante dos outros que tem muita gente que tinha influência e queria ver filme e defendia o cineclube, porque podia ver filmes que não passavam em todo canto. Eu não me lembro mais todos os filmes importantes que eu vi naquela época... E como é que vocês conseguiam os filmes? Nós conseguíamos da seguinte maneira que hoje em dia eu estava dizendo... Eu só sei que existe um representante de exibidores de filmes aqui no Recife que é Pedro Ribeiro pela Kinoplex e Severiano Ribeiro Jr., mas nessa época que estou lhe falando exatamente no bairro do Recife... ali tem a praça. E tem aquela avenida que desce. A Marquês de Olinda. Então era puteiro durante à noite no térreo, mas tinham incontáveis prédios que eram prédios comerciais antigos e com preço barato em que todas as companhias de cinema tinham representações oficiais, comerciais aqui para ceder os filmes. Eles mesmos recebiam as cópias, vinham pra eles, eles repassavam para o Art Palácio ou para o Trianon ou para o São Luiz ou para os cinemas Severiano Ribeiro. Mas, por exemplo, a Warner tinha seu escritório lá, a Paramount, Fox, todas as companhias. Todos eles tinham realmente um representante que tinham duas, três, quatro salas com material à vontade. Eu queria, por exemplo, material de um filme, chegava lá eles me davam fotos, me davam explanações sobre os filmes e cuidavam da projeção para que exibissem os filmes deles. Vocês alugavam os filmes a eles diretamente? Eles tinham que alugar porque aqui no centro era o São Luiz, o Moderno e qual é o outro que tinha? Não eram muitos cinemas não. E os cinemas de subúrbio, eu moro na Av. Conde da Boa Vista e a esquina da minha casa termina logo depois ali na Praça Chora Menino. Ali tinha um espaço enorme onde hoje é uma loja que vende material escolar. Ali era o Cinema Colossal, de Severiano Ribeiro. Tinham debate após as sessões no “Cineclube do Recife”? Tinha depois... Como é que eram esses debates? Chegava lá uma pessoa e dizia: “Hermilo, você não quer dizer alguma coisa?” Outra pessoa queria também dizer... Mas não era uma coisa formal, tinha a plateia e tudo aquilo e às vezes quando era um filme muito importante, muito comentado, a gente ficava lá
  • 18. ouvindo... Havia um pouco de discussão, mas o importante é dizer que tínhamos cinemas na Boa Vista, tinha esse que era ali na rua da Praça Chora Menino, ali atrás daquele hotelzinho perto da praça, perto do começo da Rua da Imperatriz, tinha também um grande cinema que pertencia a Fernando Ribeiro, não, Severiano Ribeiro. É, tinha um cinema na Torre, tinha um cinema imenso e muito bom no bairro de São José. No bairro de São José esse cinema era muito grande e ele pegava a população maior daquele bairro todo, aquela gente que ia era mais humilde, mas ia, pagava e tudo mais. Tinha cinema na Torre, tinha cinema em Casa Amarela, tinha um bom cinema em Olinda. Você poderia na época contar com uns dez cinemas ou nove cinemas, eu não sei a matemática aí. Mas fica nisso fica entre oito e dez, e em cada subúrbio importante tinha também. Pelo menos eu tenho certeza que tinha. Então esses filmes circulavam entre todos, circulavam os filmes bons, mas algumas companhias não queriam ceder filmes para o cineclube. Mas vocês não alugavam? Alugávamos! Mas nós tínhamos que alugar por um preço muito menor do que cobravam. Outros tinham medo, digamos assim, que se chateasse e não desse mais filmes pra eles. Eles iam conseguir os filmes com quem? Tinha cinema até defronte do Mercado de São José. A polícia impunha alguma censura a vocês? Ou os deixava à vontade? Nada! Eles não se intrometiam em nada. Uma coisa: esse cinema que ficava defronte do Mercado de São José, era chamado Cine Glória, era uma réplica miniatura do Teatro Santa Isabel. A prefeitura foi tão desleixada, nós lutamos tanto no Conselho de Cultura pra conservar essa casa e o dono querendo vender... Era um local, arquitetonicamente falando, belíssimo. Era uma miniatura de teatro, que foi derrubado pela falta de interesse por esses vagabundos aí que só queriam política, que só queriam ganhar dinheiro... Esse cinema não era muito frequentado pelo público bom daqui porque havia um pouco de preconceito. O bairro de São José tinha um cinema enorme, e era um bom cinema, bem frequentado, mas o Glória não, porque as bichas todas do Recife iam muito para o Glória pra fazer pegação. E não tinha debate, não tinha discursão, não era cineclube?! Não, não, eles iam só pra fazer sacanagem, mas lá passavam filmes normalmente. O engraçado é que era assim, muitos iam ver filmes no Cine Glória, mas se vissem gente conhecida por perto diziam que iam para a casa de tia Glória. Já se sabia que ia pra o Cinema Glória e se sabia também que era facílimo pegar aquele pessoal que vivia em torno do mercado e saía pra trepar, a bicharada daqui! Você falou do José Césio que foi um secretário de Cultura do Recife... Ai você falou que ele abriu portas e ele investiu em salas como cineclubes. Não, não. O cinema de lá funcionava geralmente só de fim de semana para o pessoal da Polícia Militar e nós falamos com o projecionista se ele também não poderia ir na terça-feira fazer a exibição, projetar o filme, e ele foi durante um certo tempo e nos fazíamos a projeção lá. Vocês projetavam em que bitola? 16mm?
  • 19. 16? Não! 35mm! Eu não sei, mas eu estou muito fora de cinema ultimamente, 16mm são esses pequenininhos, não é? Mas nesses cinemas grandes, com essa maquinaria nova, era 35mm. Era grande! O “Cineclube do Recife” projetava filmes em 35mm? Em 35mm. Não eram esses filminhos pequenininhos não. Era em 35mm, eram os mesmos filmes que Art Palácio, que os cinemas principais daqui. Mas tinha debate no final? Nem sempre tinha, entende? Nem sempre tinha. Às vezes o debate era feito depois, ia pra um café, pra um lugar assim em que se comentava o filme. E se debatia o filme. Mas o nome cineclube existia? Era “Cineclube do Recife”? Perfeitamente! Todo mundo dizia: “Eu sou sócio do “Cineclube do Recife”. Não tínhamos carteirinha porque nós não tínhamos nada. Era um grupo que era Hermilo e eu e tinha mais uns três ou quatro que eu não estou lembrado o nome. Como é que era a relação de vocês assim com a polícia? Ótima! Eles nunca interferiram. A relação era a melhor possível! Depois morreu o principal assistente de Hermilo Borba Filho, que era um homem que cuidava muito disso. Ele gostava também muito de cinema. Eu também fui passando, eu deixei de escrever crítica de cinema pra fazer crônica social. Já fui me desinteressando pelo cineclube. De onde veio esse desinteresse? Hermilo saiu. Hermilo teve uma certa perseguição política e saiu. Foi escrever romance, depois ele teve um problema cardíaco muito sério, operou-se, e em função dessa doença ele morreu muito moço. Então, com a morte de Hermilo acabava-se a coisa toda. Porque ele tinha muito prestigio. Um político assim como o governador; era um homem pacífico, autor de livros, era um dos homens mais inteligentes daqui e era louco por cinema. Então a gente pode dizer que o “Cineclube do Recife” durou enquanto Hermilo Borba Filho durou? Pode dizer! Pode dizer! Porque depois, não. Se alguém disser: “Ah, tivemos um cineclube aqui no Recife”, nada disso! A coisa acabou! Se alguém disser que alguém mais fez isso além de Hermilo. Não houve. É... teve uma pessoa, o Severiano Ribeiro, é bom que você saiba disso... Foi quando foram começando a chegar outros filmes, inclusive nacionais, enfim... o tempo vai mudando o hábito, o gosto. Quer dizer eu que era estudante, eu comecei lá no segundo ano de Direito, depois apareceram outras coisas, eu passei a ter outra coluna que não era só de cinema... Ô Alex, e existia uma vontade de mudar o mundo dentro do cineclube? Dentro do cineclube? Existia uma vontade de mudar o mundo? De debater pra querer mudar as coisas? Havia vontade de que o Brasil pudesse fazer cinema melhor. Isso era uma coisa que a gente achava impossível acontecer. Todo mundo que ficava diante da lembrança, remota, distante de 20, 25 anos do cinema mudo, daquele tempo de Aitaré da praia. Vamos lá. Se você falar em Severiano Ribeiro... não fez nada! Só fez construir o São
  • 20. Luiz que foi uma coisa fantástica isso! Depois o cinema se aprofundou muito aqui com a vinda de Alberto Cavalcanti. Fizeram uma judiação com Alberto Cavalcanti. Ele fez todo o filme O canto do mar, que é uma beleza de filme. Cavalcanti aqui, esse pessoal de esquerda, não dava bola pra ele. Quem falava todo dia, quase toda semana contra ele foi Paulo Fernando Craveiro. O único cineclube que você se envolveu na vida foi o “Cineclube do Recife”? Só. Os filmes eram longas metragens? Ou eram curtas? Longas metragens! O senhor lembra do projecionista? Quem era essa pessoa? Não! Era simplesmente um operário. Um funcionário da polícia. Nós o conhecíamos, dávamos uma gratificação pra fazer a exibição daqueles filmes. Todo mundo queria ver os filmes que eram exibidos no cinema, no “Cineclube do Recife”, porque tinha Hermilo Borba Filho, que era um homem seriamente cultuado, pela inteligência, pelos livros que escreveu e sobretudo como teatrólogo. Ele também fez muito teatro. Ele concorria com os outros cinemas comerciais? Não concorria não. Mas eles não passavam os mesmos filmes? Passava, mas não na mesma época que os filmes estavam sendo exibidos... Era preciso passar um certo tempo, que ele percorresse os cinemas de subúrbio todos, de Água Fria, de Olinda, que percorressem alguns cinemas que eram do interior de Pernambuco... depois disso tudo é que os representantes de todas essas companhias diziam que podiam ceder o filme pra gente. Mas cediam mediante o pagamento, não era? Olhe, o pagamento era simbólico. Era coisa lá pros funcionários deles. Nem era levado em conta isso não. Nunca precisou trazer filme de outro estado? Não, nunca houve uma agenda comercial determinando: dia tal passou-se tal filme, pagou-se tanto, não! Era questão de saber qual o filme, anunciar e o público ia assistir no cinema lá. Espontâneo, era muito simplificado e não havia problema no clube de cinema não. Nós dizíamos, nós temos aqui uma relação porque Hermilo tinha uma relação, eu tinha outra que desapareceu, de nomes de pessoas que nós sabíamos que não perdiam um filme. Ainda tinha uns que eu até avisava que o filme do dia era realmente importante, que ele precisava assistir. Existe a possibilidade desse caderno existir? Não! Perdeu mesmo? Perdi! Não tenho! A minha vida de colunista, todo ano de três meses em três meses organizo a correspondência que mandam pra mim, os livros idiotas que mandam pra mim, que todo mundo hoje quer ser escritor, tá escrevendo e manda uns livros bestas, idiotas, romance que não vale nada. Eu não posso nem ler. Não tenho onde botar. E existe algum documento, algum texto, existe alguma coisa daquela época?
  • 21. Nada! Existiam noticiários nos jornais, que saíam nos jornais. Você tem isso? Nada! O Arquivo Público pode ter? O Arquivo Público talvez, eu nunca fui lá, não sei. Eram publicados no Jornal do Commercio, não era? Era o Jornal do Commercio e o Diario de Pernambuco. Os dois davam a maior divulgação. Também no Jornal do Comercio funcionava todo dia pela manhã com o Jornal do Commercio e funcionava à tarde com o Diário da Noite. Eram dois jornais. O Diário da Noite era mais reflexivo, então a gente botava muita matéria no Diário da Noite sobre o Clube de Cinema, chamava muita atenção...Então o público todo ficava sabendo... eu fui me voltando para a coluna social, que foi uma chatice na minha vida... Porque acontece o seguinte, o pessoal mais festeiro que pode existir no Brasil, talvez seja o recifense! Porque todos os prefeitos trazem todo tipo de cantor e de televisão que chama a juventude pra ir lá cantar e dar gritinho e ficarem histéricas e tudo isso mas naquela época ou havia o cinema ou havia os espetáculos do Santa Isabel e no Parque. No parque por exemplo foi feita a primeira exibição e eu vi e foi até muito bem feita, do Terceira dimensão. Qual foi a importância pra sua formação, a organização do “Cineclube do Recife”? Bom eu não diria nem da organização só, porque tinha muitos filmes que chegavam aqui e eram chamados filmes mas eram muito... Difíceis! Não eram tão populares que não dariam uma maior bilheteria e eles iam deixando de lado e esses filmes iam ficando lá e eu sabia, Hermilo não, ele não ia. Quem ia era eu, porque eu me tornei amigo daqueles donos de representantes dessas companhias todas, eles me diziam “ó, chegou tal filme... esse acho que nós não vamos nem exibir, vamos terminar devolvendo para o Rio” Aí eu pedia para deixarem a gente exibir aqui. E o que é que isso foi importante pra sua formação? E o que importante pra minha formação? Olhe o “Cineclube do Recife” eu...você me comoveu agora! É... O “Cineclube do Recife” foi tudo pra mim. Tudo. Porque eu gostava de cinema. Adorava...eu fui apaixonado por Doroty L’amour. Ela não era de filme de clube de cinema, os filmes dela eram mais populares, mas vi grandes filmes, realmente importantes, com Paul Muni, Charles Boyer, Katharine Hepburn, Bettie Davis, Gloria Swanson... todos esses os clássicos do cinema e eu não tinha onde assistir esses filmes. Não havia televisão que exibisse os filmes, no rádio era impossível, então um caminho que eu tinha pra tomar conhecimento de cinema foi assistindo esses filmes através do clube de cinema, do “Cineclube do Recife”. Tanto quando Cavalcanti chegou aqui fui eu que orientei tudo, depois ele pegou Hermilo Borba Filho, que era meu parceiro e botou Hermilo Borba Filho para escrever os diálogos do filme O Canto do mar. E nós até lucramos porque apresentávamos alguns artistas que estavam trabalhando... Cassilda era a melhor locutora, Hildo Saraiva, Margarida Cardoso, que era uma artista
  • 22. renegada, porque o teatro de Pernambuco é um teatro reacionário, só entra gente ali se for Oliveira. Se não tiver Oliveira, vá à merda! Então essa mulher era Margarida Cardoso Era fantástica! Tinha máscara de tantas artistas importantes. Então através do clube de cinema eu fiz toda minha cultura cinematográfica. Toda! E o que motivou você e Hermilo a criar um cineclube? A gente precisava ver uns filmes melhores porque esses filmes que estavam sendo passados pelo Severiano Ribeiro estavam muito fraquinhos e então os filmes franceses não vinham. Mas, acontece que o Art Palácio era dirigido por um alemão. Do Art Palácio e do Trianon era outra firma, uma importante exibidora no Brasil que não existe mais hoje em dia. Agora é só Severiano Ribeiro e esses independentes. Mas, então, nós conseguimos um apoio muito grande porque eles davam ajuda, apoio. Através deles quem? Quem eram eles? Art Palácio, Art filmes... Esses cinemas... Uns eram Severiano Ribeiro, outros eram Sorrentinos, Art filmes. Eu garantia a eles a exibição dos filmes que eu queria assistir... Olhe dou a maior divulgação dos filmes, dou pra outros filmes que não sejam grandes coisas, e eles então traziam esses filmes e nós assistíamos, eu pude assistir a esses filmes todos que não estou lembrando agora... Mas você fazia isso pra conseguir o filme pra exibir no cineclube? Eu fazia isso pra exibir no cineclube, senão eu exibiria onde? Eles não queriam exibir em outro cinema, que não eram filmes pra chamar público. Então deixa ver se eu entendi: você falava com Severiano Ribeiro dizendo: “Ó, traz esse filme...” Com o pessoal de Severiano Ribeiro, porque Severiano Ribeiro tinha sobre ele a maior parte dos cinemas... E o Sorrentino só tinha dois que era Art Palácio e o Trianon. E tinha os outros que eram independentes, mas a gente lidava com os dois principais, sobretudo, Severiano Ribeiro. Eu me tornei amigo deles e me dava muito bem com todos eles. E eles ajudavam. Eles ajudavam como? Ajudavam como? Eu chegava lá e dizia: “Olhe tem o filme tal... mas, fulano digamos assim, da Warner não tá querendo exibir, não tá querendo deixar passar esse filme, não sei porque...” Passar no cineclube? Passar no cineclube. Eu dizia: “...e, no entanto, eles não vão exibir, vão exibir no seu cinema, no Art Palácio, no Trianon e Severiano Ribeiro também não vai.. eles disseram que não vão, então por que vocês não falam com eles, dizem qualquer coisa pra nós exibirmos?”, e eles cediam. Mas muitas vezes eles pediam para não divulgarmos muito. “Divulguem no boca-boca. Não botem muito em jornal que é pra depois não chegar no Rio de Janeiro que eu estava exibindo tal filme, que era só para os cinemas comerciais”. Isso se deu muito na questão da amizade, não é Alex? Da amizade, só. Por exemplo eu estou em casa e o gerente geral dos dois cinemas — que era do Art Palácio disse: “Alex, estou precisando que você venha aqui e venha bem vestido”. Quando eu cheguei lá, ele disse: “Olhe aqui, eu quero lhe apresentar ao Dino não
  • 23. sei o quê”. O nome do marido dela eu não sei, esqueci! Já estou esquecendo os nomes das coisas! Mas a mulher era Silvana Mangano. Você sabe o que é de repente eu estar com Silvana Mangano? Aquela mulher lindíssima, alva, que tinha feito Arroz amargo. Aquele filme que deu fama a ela e ela casou com um produtor de cinema e fez muitos filmes notáveis... Eu tive a oportunidade de encontrar aqui com outros atores de cinema, que passavam pelo aeroporto... a Brigitte Bardot arranjou um amante e levou ele pro Rio! Era um carioca! E depois ficava por aqui.. e então eu soube, me disseram... “Olhe ela vai chegar pelo Rio, vai chegar no dia tal... a Brigitte Bardot!” Mas isso é engraçado, a Brigitte Bardot ia voltar pra Paris com um amante que ela arranjou no Brasil... Mas me disseram que o avião da Air France chegava aqui meia noite. O comissário disse que ninguém entra, que ela disse que não deveria entrar ninguém, que ela está com o amante e tal e tal. Eu disse: “Mas não é possível! É meia noite! Eu vim aqui ver a Brigitte Bardot...!” Aí o rapaz de lá da Air France, daqueles que eu conhecia, disse: “Alex, você não faz questão de se vestir daqueles que sobem no avião? Nós temos uma farda ali limpinha”. “Quero sim!” Me vesti todo de comissário de bordo, quando subi, cheguei lá, aí ela estava deitada toda assim, olhou pra mim e disse: “Bonsoir”. Depois eu fiquei andando de lá pra cá... e eu vendo uma cadeira uma coisa assim, pra olhar, mas estava olhando pra ela. Ela levantou, eu queria saber a altura dela...era pequena...não era tão bonita como aparecia nos filmes. No “Cineclube do Recife” existiam discussões políticas? Existiam sim, existiam filmes que eram políticos e aí se comentava. Foi muito antes da revolução, não é?
  • 24. CELSO MARCONI ______________________ Qual o período que você se relacionou com o cineclube, como organizador ou como público? O período geral da minha vida. Desde que eu comecei a me interessar por cinema até hoje ainda sou interessado em cineclube. Mas quando foi que começou esse interesse mais efetivamente? Na década de 1950... 1952, 1953. Até hoje? É. Até. Enquanto eu fui diretor. Hoje, eu realmente estou aposentado aí só acompanho o movimento pelos jornais, mas até enquanto eu fui diretor do Museu da Imagem e do Som, o Mispe, em 2003, eu tinha participação em cineclube. Inclusive eu tinha um cineclube na época. Quais foram os nomes desses cineclubes que você se envolveu? O primeiro cineclube mesmo foi o “Cineclube do Recife”, que funcionava no Derby, no teatro da Polícia Militar, no Derby, que era orientado por José de Souza Alencar. Depois, teve o cineclube “Vigilanti Cura”, que eu participava de algumas sessões. Depois, uma atividade junto com o Jomard [Muniz de Brito]. Nós fizemos curso de cinema na Associação Franco-Brasileira, uma associação de ensino de língua francesa.
  • 25. Depois, me envolvi com o cineclube que tinha, não me lembro o nome, na Faculdade de Arquitetura, na Conde da Boa Vista, a Faculdade de Arquitetura, mas ainda na Conde da Boa Vista. O nome eu não sei como era. Francisco Chagas era uma das pessoas que orientava. Era ele e tinha outra pessoa que eu agora me esqueci o nome. Um outro estudante de arquitetura. Esse tempo de “Cineclube do Recife” foi no início de 1950? No meio de 1950, eu acho. Teve o “Vigilanti Cura”, depois teve o Cineclube “Projeção 16”. Como é que era o “Projeção 16”? Era uma cineclube que funcionava no cinema da AIP — Associação da Imprensa de Pernambuco —, havia um cinema na AIP e as sessões eram feitas lá. A AIP era na Dantas Barreto, 13º andar. E aí a gente criou um cinema lá e o cineclube tinha uma sala no 14º andar, parece. Aí fazia as sessões, o presidente na época era Francisco Bandeira de Melo, Bandeirinha, o conhecido poeta Bandeirinha. Você se lembra de alguma sessão do “Projeção 16”? Era um grupo mais ou menos de amigos, era Cristina Tavares, que era a política, depois foi deputada federal, Carlos Garcia e Bandeirinha. Eles três. Eu me lembro que eles fizeram um grupo profissional de produção. Fizeram alguns filmes, inclusive esses filmes foram lançados pelo “Projeção 16”. Passavam filmes franceses, filmes brasileiros... E havia debate após as sessões? Debate? Sim.. Inclusive eu escrevia no Jornal do Commercio e parece que eu fiz alguma restrição à forma de atuação do “Projeção 16” e Bandeirinha fez uma resposta pra mim. Inclusive, tem isso num livro que eu publiquei sobre minhas críticas, as crônicas do Jornal do Commercio, tem esse debate, tem essa coisa sobre o “Projeção 16” e tem a reposta de Bandeirinha. Como eram feitas as divulgações das sessões? A divulgação era na imprensa. Tanto eu como Spencer, na época, era quem dávamos cobertura de cinema aqui no Recife. Eu no Jornal do Commercio e Fernando Spencer do Diario de Pernambuco. E o cineclube utilizava o noticiário da imprensa e também panfleto e boletim. Existe algum desses boletins no Recife? Deve existir. Talvez Bandeirinha tivesse, eu talvez tenha, também porque eu sempre guardo. Eu tenho um acervo muito grande de programas e coisas ligadas assim a todas às artes, não só ao cinema. O que eu ia, eu guardava o programa. Então, devo ter, mas não é organizado o meu acervo. Se um dia eu organizar você pode pegar um bocado de coisa, deve ter muita coisa sobre cineclube. Como era feita a curadoria ou o processo de seleção dos filmes no “Projeção 16”? A seleção dos filmes era Bandeirinha quem fazia e também havia discussão com o público participante, que em geral eram pessoas que gostavam de cinema e que conheciam cinema. Então, podiam dar sugestões pra escolha dos filmes. Agora, é claro que as limitações eram no sentido do que existia no mercado, no sentido de distribuição... Que época é essa?
  • 26. Nos anos 1960 ou 1970, acho que era 1960. E existiu uma pegada política nas discussões ou elas estavam voltadas mais para o senso estético e técnicas de linguagem? Bandeirinha era uma pessoa muito ligada ao estético. Ele foi uma pessoa que trabalhou com Marco Maciel, o ex-senador Marco Maciel muito tempo, era assessor. Foi assessor de Manoel de Castro também. Mas não era uma pessoa expressamente política. Eu era mais político, talvez eu provocasse um pouco, justamente por causa disso. Porque o cineclube era mais ligado assim à coisa... querendo excluir o político. Você participou de algumas sessões do “Vigilanti Cura”, não foi? E essa sua participação era como organizador ou como público? Participei. Como público. Quer dizer, eu ia acompanhando Jomard [Muniz de Brito], porque eu era muito amigo de Jomard na época, e sempre a gente ia junto. E aí, era um cineclube católico, eu era comunista, mas não tinha problema porque eu me interessava pelo cinema. Via as sessões, via os filmes, debatia, quando tinha os debates eu debatia também. Como era visto esse cineclube que funcionava dentro dos preceitos da Igreja Católica? O que representava isso pra o momento? Era um cineclube que tinha um público, quer dizer, você sempre tem... o cineclube se aproxima de um determinado público. E o dele era de muita gente católica. A maioria dos que estavam lá era católica. Então, as discussões eram em torno de temas católicos, aquela coisa da moral... eu me esqueci o nome de um radialista que tomava conta, era administrador do cineclube, e ele então cuidava inclusive da questão da idade, da permissão para o público. Filmes que não fossem de acordo com a moral católica... Não exibiam nunca um filme de Pasolini, por exemplo. Você falou que o “Cineclube do Recife” foi o primeiro que você frequentou, é isso? É. Você atuou como organizador ou como público? Como público, totalmente como público. Eu nem escrevia ainda no jornal. Escrevia assim eventualmente, mas era estudante de filosofia na época, nos anos 1950. Fiz o curso na Faculdade de Filosofia do Recife, que era ligada à Universidade Federal de Pernambuco. O “Vigilanti Cura” ele começou em 1953 e durou até mais ou menos 1956? Só até 1956? O “Cineclube do Recife” foi mais ou menos paralelo. Existia, eu acho, o “Vigilanti Cura” e aí tinha um outro... não sei, as sessões parecem que eram mensais. O que eu me lembro bem é uma programação especial que foi feita; [José de Souza] Alencar é que estava à frente, e com filmes clássicos, O encouraçado Potemkin, o filme de Murnau, tinha um filme do expressionismo alemão – M: o vampiro de Dusseldorf, eu me lembro. E, então, tinha também palestras, agora eu não me lembro o nome das pessoas que faziam palestras. Eu sei bem que Alencar era o coordenador. Então, eu ia lá como espectador. O que é que lhe interessava nessas sessões? Me interessava a cultura cinematográfica. Eu comecei a estudar filosofia e ao mesmo
  • 27. tempo me interessei por cinema. O livro que na época a gente tinha pra ler era o livro de Georges Sadoul: Cinema: sua arte, sua técnica, sua economia. Era o livro que era do Brasil todo, acho que foi um dos primeiros, Georges Sadoul era um marxista e francês, e que dominou mais a coisa do comentário de cinema. E a gente lia esse livro como uma das orientações. E que importância você atribui para sua formação ter participado dessas atividades cineclubistas nesse tempo? Fiquei ligado e me profissionalizei como pessoa... fui trabalhar com cinema, quer dizer, fui ser crítico de cinema. Eu comecei escrevendo na Folha do Povo alguns artigos sobre cinema, escrevi na Folha da Manhã também alguns artigos e depois eu fui... comecei como jornalista num jornal pequeno, depois fui pro Diario de Pernambuco. No DP eu não era cronista, o cronista era Fernando Spencer. Mas eu escrevi alguns artigos. Aí depois fui pra Última Hora, que teve uma edição aqui no Recife, acho que em 1963 até 1964, até o golpe. E aí depois, em 1966, fui contratado pelo Jornal do Commercio, aí fui como copidesque e crítico de cinema. O cineclube foi justamente onde eu tive a possibilidade de discutir cinema, de ouvir a opinião dos outros e dar minha opinião também. Cineclube é uma atividade fundamental dentro do cinema. Quer dizer, mesmo quando não é expressamente organizado, mas, por exemplo, muitas reuniões de cineclubismo eu participei lá na Jornada da Bahia, que a gente participou em 1973 da “Jornada da Bahia”, com muita discussão cineclubista. Como é que foi o movimento do cineclubismo durante o tempo de repressão pós 64? Teve o “Projeção 16”, que foi já no período de ditadura. A gente teve uma atividade... minha, de Spencer, principalmente, também Ivan Soares, Alencar também participava, mais como assessor, dando opinião, quem fazia mesmo era eu e Spencer. Era uma atividade que de certa forma tem uma relação com o cineclubismo que era cinema de arte. A gente fazia as sessões de cinema e fazia panfletos e às vezes promovia cursos, debates também. Era quase como um cineclube, sendo que tinha esse aspecto de ser aberto e com bilheteria. A gente escolhia os filmes, passamos muitos filmes. No São Luiz, no Trianon, teve uma época. Começou no Cinema Soledade, ligado à Matriz da Soledade, depois teve o Coliseu e depois no Teatro do Parque. Eu tive uma atividade enorme que era praticamente um cineclube, que a gente fazia cinema no Parque, e com preço, esse preço que tem lá agora, que parece é R$1,00, a gente criou isso. Sempre eu tinha uma visão cineclubista pra fazer as exibições. Eu não fazia exibição de um filme assim porque era com tal atriz, ou outra coisa. Eu procurava juntar dois, três filmes de um diretor, ou mesmo de um ator mais expressivo, intérprete marcante, sempre pra chamar o público com uma linha de cinema que interessasse pra debate. Quem é que estava com você durante esse processo no Teatro do Parque? Fernando Spencer. Eu e Fernando Spencer a gente tinha entrado com a Fundação de Cultura da Cidade do Recife, na época era o maestro Cussy de Almeida, o presidente da Fundação. A gente tinha um contrato de exibição no Parque e fazia exibições de segunda a
  • 28. quarta-feira, como ainda é hoje. A gente que começou essa coisa no Teatro do Parque. Porque antes era cinema educativo, feito com Enéas Alvarez e Waldemar de Oliveira, que era o representante no Nordeste da Embrafilme ou do Conselho Nacional de Cinema, uma coisa assim. Mas quem criou essa coisa, inclusive essa coisa de preço popular, foi a gente. Eu e Spencer. E isso foi na década de 1970? Depois dos anos 1970 também. Eu acho que começou nos anos 1970. A ditadura nunca me impediu de trabalhar, não. Quer dizer, me impediu um período. Quando teve o golpe, eu trabalhava na Última Hora e a Última Hora fechou. Aí ficou os jornais daqui do Recife tinham uma ordem pra não contratar jornalista que tivesse trabalhado no Última Hora. Mas depois, Vladimir Calheiros parece que conseguiu quebrar essa coisa e contratou. Me contratou e deve ter contratado outros, Joel Silveira, Abdiel Luna, pra o Jornal do Commercio. Entrei justamente em 1966, aí esse período eu fiquei sem trabalhar. Mas depois de 1966, depois que eu entrei no Jornal do Commercio, trabalhava normalmente. Claro que a forma que eu escrevia na Última Hora era uma, depois eu mudei a forma de escrever. Mas o conteúdo era mais ou menos o mesmo. Você não deixou de participar de atividades cineclubistas? Eu participava sempre, era como jornalista que a gente tinha uma participação. Tanto eu como Spencer. Spencer fazendo muitos filmes e eu fiz filmes também... quer dizer, não montava os filmes, montei só uns três na época, mas agora recentemente eu consegui pela Lei de Incentivo à Cultura e consegui fazer um DVD com todos os meus filmes que eu fiz nos anos de 1970. Muita gente falou das sessões do Coliseu, que foi o maior cinema... Era o maior cinema no tamanho. Parece que tinha 2.000 lugares. E vocês montaram esse cinema? A gente teve um tempo que fez lá. Lançamos Godard, os filmes de Pasolini. O cinema Coliseu não tinha o nome cineclube, não era “Cineclube Coliseu”, era cinema Coliseu, correto? É, mas era cinema de arte no Coliseu. A gente chamava cinema de arte, eram só sessões de cinema de arte. Não era cineclube porque era uma coisa... eu, Spencer e Luci, no Coliseu tinha Ivan Soares também, e Alex participava dando cobertura. Era Alex, ele escreveu como Alex, num foi? Como Ralf, parece, que ainda escrevia como Ralf. E essas sessões, elas não eram sessões cineclubistas, mas existia um espírito cineclubista, é mais ou menos isso? Existia. Todas as sessões de cinema de arte o espírito era cineclubismo. Quando a gente fazia no cinema São Luiz, fazia no sábado pela manhã, as pessoas iam pra se encontrar. Era a elite cultural da cidade que ia. Enchia. Eram poucas oportunidades que você tinha de ver coisas melhores. Quer dizer, o que dominava era o mercado, cinema de mercado. Então, essas sessões eram sessões que não tinha muita censura também porque eu acho que o sensores achavam... tinha um sensor que era mais diligente, que a gente podia conversar. E os filmes eram filmes legais. Quer dizer, filmes distribuídos pelas distribuidoras comerciais. Mas a gente ia cascavilhar. Ivan Soares eram muito perceptivo,
  • 29. e sabia nome de filme, lia sempre... eu e Spencer a gente ia nas Companhias, e começávamos a cascavilhar e descobrir e fazer amizade com os gerentes de distribuidoras. E aí a gente descobria filmes que não tinham em exibição normal. Às vezes conseguíamos trazer os filmes só pras sessões de arte. E filmes de, por exemplo, Danton. No Parque, então, a gente pegava filmes com qualidade e que não entravam na linha comercial. Não conseguiam entrar na distribuição. Aí o público, já tinha censura no mercado geral, e quando a gente conseguia um filme mais ou menos diferenciado, a gente dava cobertura. Eu dava no Jornal do Commércio, o Diario de Pernambuco com Fernando Spencer e então enchia o cinema. E havia muito debate, inclusive eu tenho um amigo, Moacy Cirne, morava em Natal, ele vinha de Natal pra ver filmes aqui. E depois a gente saía pros bares pra discutir. As discussões eram mais nos bares. Certo, era isso que eu ia perguntar. Como eram estas sessões? Havia apresentação, às vezes a gente fazia a apresentação do filmes e tal. E também imprimia coisas sobre o filme. E entregava pro público? Entregava pro público, distribuía panfleto, coisa mimeografada. Na época era mimeografada. Pegava críticas do Rio de Janeiro e imprimia e distribuía. Celso, você tem alguma informação, alguma lembrança, alguém lhe contou se houve alguma atividade semelhante a uma atividade cineclubista do Ciclo de 20? No Ciclo de 20? Não. Eu acho que não tinha. Quer dizer, o Jota Soares tinha uma um grupo que se formava, mas não tinha esse aspecto. Eles tinham a pretensão de fazer filmes comerciais. O Ciclo do Recife era muito mais ligado assim, querendo fazer filme hollywoodiano, filme que tivesse atração por público, o principal filme do Jota Soares, A filha do advogado. Você vê que tem uma certa coisa de ser comercial. Eles tinham essa pretensão. Muito mais do que, por exemplo, o pessoal do Super 8 não tinha uma pretensão de querer entrar no comércio, era uma coisa mais cultural. E esse pessoal do Super 8, qual o envolvimento com a atividade cineclubista que eles tinham, você sabe? A gente criou o “Grupo 8”. Demos um curso no Colégio Marista, realizamos três festivais nacionais de cinema Super 8... A gente participava da jornada, de festivais em Aracaju e em Curitiba. E o pessoal de Super 8 era um pessoal totalmente ligado ao cinema cultural. Então, a parte cineclubista nesse período do pessoal do Super 8 era atividade de formação pedagógica, mais do que de formação através da exibição dos filmes? Ou havia um cineclube onde esse pessoal se encontrava? Exibições eram esporádicas, não havia cineclubes mesmo com esse aspecto. O que havia de exibição de filme cultural era justamente o cinema de arte. Você chegou a ir alguma vez pra Sala Sérgio Porto? Como eram essas sessões? Do Hugo Caldas. Uma salinha, eu só fui uma vez, que eu me lembre, eu só fui uma vez
  • 30. ou duas. Era uma salinha bem bonitinha, organizada, com umas 15 cadeiras de cinema e faziam exibição lá. Mas lá faziam mostras. Teve uma mostra no interior, parece que foi Belo Jardim, que fomos todos, o grupo do Super 8. E a prefeitura deu prêmios. Você ouviu falar alguma vez do “Cine Siri”, que foi criado por Pedro Salgado Filho? Siri? Não, Pedro Salgado ele estava fazendo um filme aqui no Recife. Fazendo um longa-metragem, até tem um neto dele que tá fazendo um documentário sobre ele. A história é que ele criou aqui o “Cine Siri”, que depois Jota Soares assumiu e o transformou no “Museu de Cinema”, que foi aí que ele se preocupou com a questão da preservação e por isso que existe A filha do advogado, Aitaré da praia, Jurando vingar, esses filmes todos. Mas, eu acho que esse rapaz, o Pedro Salgado, acho que foi muito depois de Jota Soares. Ele era um colecionador, ele juntava tudo. Ele era um radialista também, e era um colecionador. Isso que eu estou falando era em 1943. Esse negócio de Pedro Salgado? Isso, Pedro Salgado. Então, é outra pessoa e eu estou confundindo com alguém dos anos 1960. É, não sei dessa história, não. E participação ou algum envolvimento com os cineclubes “Leila Diniz” ou “Vagalume”, você teve? “Leila Diniz”, agora que você falou... teve esse cineclube. Quem era mesmo? Eram Geraldo Pinho, Nilton Pereira, Fredi Maia... Não tive muita aproximação, não. Mas eu acho que dei notícia, eu ainda era do jornal e dei notícia do “Leila Diniz”. O seu envolvimento com a atividade cineclubista desde 1952, 1953 era como público? Era como jornalista. E tem a parte de cinema de arte que eu fiz. E como diretor do Museu da Imagem e do Som, que eu fui de 1992 até 2003. Eu tinha inclusive um cineclube, o “Cineclube Godard”, que a gente fazia exibições no Teatro Arraial. Então você criou um cineclube também? Eu criei. Era um cineclube meu. Toda mostra que a gente criava a gente fazia panfletos, e já fazia no computador. E como eram essas sessões? Quando foi que começou e terminou o cineclube? Funcionou até eu sair do Mispe, em 2003. Começou... Eu mantive o cinema de arte Mispe-Fundarpe, que era na sala do Centro de Convenções, aquelas salas de baixo, a primeira. Essas sessões eram chamadas como? No Centro de Convenções tinha um cinema, que inclusive saía anúncio na Rede Globo, a gente fazia uns curtazinhos, umas propagandazinhas, passava na televisão. Cineclube não, cinema de arte Mispe-Fundarpe. Agora, não consigo me lembrar o nome do cinema. Mas tem esse cinema lá e eu fazia como diretor do Museu. A gente tinha uma atividade, o
  • 31. Mispe inclusive tinha uma atividade quase cineclubista. Fazia cursos, exibições, debates com o público, fazia palestras. Isso em que época, Celso? 1992 e fiquei até 2003; fiquei três governos. E durante esse período também foi realizado o Cineclube Godard? O Cineclube Godard eu fazia como cineclube, as sessões no Teatro Arraial, e a gente fazia tudo à noite. E os filmes pra essa sessões vinham de onde? Os filmes eram em vídeo. Em vídeo e em digital depois. E às vezes a gente fazia mostras. Mas esses filmes vinham de onde? Eram alugados ou alguém emprestava? O meu acervo, eu tenho muito acervo e o próprio Mispe tem também. E eu tenho um grande acervo de filmes, coisas gravadas e pirateadas. E a gente passava e não tinha um dia que não tivesse notícia do Mispe durante esse período nos jornais. Você considera a prática cineclubista importante para a formação do cidadão e de plateia? O cineclube é uma coisa fundamental porque é uma coisa espontânea, quer dizer, o cineclube não é uma atividade oficial. É a atividade de pessoas que gostam de cinema e que trabalham pra divulgar o cinema. Isso pelo menos é o princípio básico em todos os lugares do mundo de cineclube. Quer dizer, as atividades quando são feitas pelos órgãos governamentais, elas podem ter o apoio também do público, ter a ligação com o público. Então, essa é que é a diferenciação de ser cineclube, com esse aspecto. Porque aí é fundamental porque mesmo que você não vá estudar cinema, você tem que conhecer. O cinema é uma das artes mais expressivas e mais presentes no mundo moderno, então se você coloca esse conhecimento, essa arte ao conhecimento das pessoas, dos adolescentes, dos adultos... O Partido Comunista sempre utilizou o cineclube como meio de conscientização. Conscientização política. Você passa o filme, faz o debate, assim você consegue através do debate, levando o povo a participar do debate, você consegue que as pessoas tomem consciência política da realidade, conheçam a filosofia através do cinema. Você já esteve em sessões assim? Muitas. Minha vida toda foi discutindo cinema. Em sessões, em reuniões... Você disse que eu participava como público, mas eu participava diretamente. Nós ficávamos debatendo, sempre que eu estava presente, eu era um elemento de debate, mesmo que eu não fosse da diretoria do cineclube. Você teve algum conhecimento de alguma atividade cineclubista de Nelson Simas? Nelson Simas participava de cineclubes. Não sei se no “Projeção 16” ele participou. Ele era mais produtor. Quem pode falar muito bem é Pedro Arão, uma pessoa também ligada a cineclube. Eu não me lembrei, não falei ainda, em Caruaru. Eu fui muitas vezes a Caruaru participar de sessões de cineclube lá. Que sessões eram essas? Lembra do nome desse cineclube? Não me lembro do nome, não. Fale com Pedro Arão que ele sabe tudo que acontece em
  • 32. Caruaru. E antes de Pedro Arão eu já conheci o pessoal lá. Tinha Leandro Filho, que era ator e foi diretor de Cultura lá de Caruaru. Aí ele me chamava pra lá, a gente participava, fazia sessões e Jomard [Muniz de Brito] foi também. Se eu não me engano é Leandro Filho. E ele participou muito tempo lá em Caruaru. A própria mulher do prefeito, um prefeito bem de direita e a mulher dele chamou, a gente fez palestra lá em Caruaru. Tinha uma Fundação de Cultura Vital Santos que era de teatro mas também participava de cinema. Muita participação em Caruaru. Eu lembrei no nome do Coelho que a gente estava tentando lembrar, Valdir Coelho. Valdir Coelho, é. Valdir Coelho era o gerente. Cuidava muito da coisa legal. Mas era uma boa pessoa. Gostava mais da parte dos papéis, da burocracia, de escolher os filmes, ele escolhia os filmes também, porque ele tinha que ter cuidado com essa coisa da censura. A censura da própria Igreja? Da própria Igreja. Mas, o que mais causa em mim um estranhamento das sessões do “Vigilanti Cura” é saber que tinha a participação de um Jomard Muniz de Brito. Jomard era católico na época. Jomard começou católico, ele usava gravata, paletó com 17 anos, era bem sério. Depois que entrou em filosofia eu acho que aí debandou um pouco. Mas ele falava, já fazia palestras. A gente fez um curso, tinha uma série de palestras na Avenida Guararapes, na época a Associação Francesa (Associação Franco- Brasileira de Cultura) eu sei que hoje ainda tem, é a Aliança Francesa o nome atual, eu acho. Na época também era. Aí eles deram o espaço e a gente fez um curso com várias palestras, inclusive aí no fim não tinha quem falasse sobre som e música e eu tive que falar. Eu queria saber como você enxerga essa trajetória cineclubista desde onde você conhece até os dias atuais. Eu acho que a ditadura prejudicou muito o cineclubismo porque prejudicou a juventude brasileira toda e colocou a coisa do mercado. Quando coloca mercado, ela leva as pessoas a ir pra trabalhos que dão lucro. Então, como o cineclube não é uma coisa que dá lucro, aí diminui, enfraquece através da censura. Mas eu acho que é uma coisa que persistiu. Eu me lembro de Marcondes, um cara que era ligado à Federação Nacional de Cineclubes, não sei o que ele veio fazer aqui no Recife, se hospedou na minha casa. Era um rapaz que quando tirou a bota quase que a gente morria do chulé. Mas é isso, as pessoas eram... pensavam mais em divulgar a cultura e divulgar a arte, divulgar o cinema, do que no mercado. Mas, a ditadura conseguiu botar na cabeça das pessoas e transformar o país todo numa verdadeira... num centro comercial. E por isso a gente tem a fraqueza de certos movimentos culturais. Só consegue viver se tiver apoio do governo e antes vivia até contra o governo. A diferença eu acho que é essa. Tem alguma informação sobre o “Cineclube São Saruê” e o “Cineclube Macunaíma”? Lembro só de nome, assim, mas não sei nenhuma informação.
  • 33. FERNANDO SPENCER ______________________ Quais eram os nomes dos cineclubes que você participou, organizou? Olha, eu me lembro do “Cineclube Recife”, me lembro também do “Vigilanti Cura”, que era católico. Você pode dizer o período? De 1957 a 1969, 1970, mais ou menos. Como foi sua participação? Eu participei muito pouco, só como espectador. Eu não participei de debate... No “Cineclube Recife” você ia como público? Eu fui mais como público. Tinha uns cursos de cinema que me interessavam muito porque eu lia e me dava muita vontade de fazer cinema e escrever. Então foram os cineclubes “Recife” e o “Vigilanti Cura”, que você teve mais contato? Não, o “Vigilanti Cura” eu não participei efetivamente, mas noticiei bastante. Onde é que ficava esse “Cineclube Recife”? Não tinha uma sede própria, eu me lembro que ele funcionava até no fundo do quartel general, no quartel da polícia, onde tinha um projetor de 16mm. Era muito difícil porque não tinha como conservar boa projeção, debate depois da sessão não dava, era muito
  • 34. difícil. Tinha um cidadão aqui que apresentava sempre filmes de curta-metragem e às vezes até de longa, no Clube Português, eu sei que tinha porque eu noticiei. Ele já deve ter morrido... Esse quartel da polícia ficava onde? Era no Recife? No quartel do Derby, ali funcionava um cinema de 16mm. O cineclube tinha que se valer dos 16mm, porque estava no apogeu. Quando saía um filme de 35mm, saía um de 16mm. Quase todos os filmes que foram exibidos, foram produzidos pelos Estados Unidos, Itália, França... Todo mundo fazia cinema. Agora, lá no início do cineclubismo, era muito difícil porque não tinha como alugar esses filmes, eram muito caros e tinha aquele problema da projeção que tinha que ser um projetor de 16mm. Você lembra a hora da sessão e o dia da semana que aconteciam as exibições do “Cineclube Recife”? Não tinha certo... No início eu acho que alguns amigos se reuniram e fizeram exibições satisfatórias, mas era tudo muito difícil... Até pra pessoa operar, um técnico que soubesse operar um acidente qualquer na fita, porque fita se quebra, era muito difícil encontrar, teria que ser um especialista e no “Cineclube Recife” a exibição era feita pelos rapazes, que apesar de serem loucos por cinema, não conseguiam tudo. O senhor lembra o dia da semana, se era quarta, se era quinta? Ah, não tenho lembrança nenhuma, faz muitos anos. Mas quem eram as pessoas que faziam isso? Me lembro do Paulo Fernando Craveiro, Celso Marconi, Jomard Muniz de Brito... O que eu mais conheci era esse pessoal mesmo. Como esses filmes eram pagos? Parece que tinha uma ajuda pra pagar o filme, porque o filme era alugado. Os cinemas eram limitados a 35mm, mas saíam para atender o interior do estado, aí tinha que ter uma programação de 16mm também. Você frequentava esse “Cineclube Recife”, ia para as sessões? Mas não assim, com o propósito mesmo de ir ao cineclube. Eu ia influenciado pelo curso que estava dando: “Hoje é uma história do cinema, hoje é sobre o diretor ‘fulano-de- tal’... George Méliès..., por exemplo. Neste caso era mais uma questão de comunicação desse cineclube... você escrevia matérias sobre essas sessões? Eu não chegava nem a escrever, porque nessa época eu não tinha um lugar certo, era colaborador. Agora, quando eu assumi a página de cinema, em 1961 ou 1962, eu fiz tudo. Aproveitei, fiz também... Realizei filmes, cheguei a fazer, na fase do Super 8, 44 filmes. E depois, eu entrei em 16mm, fiz, parece, 16. E fiz, também, em 35, fiz uns cinco ou seis, cuja trajetória pode ser constatada no acompanhamento do filme brasileiro, como curta-metragem. Isso foi muito bom para a produção do curta-metragem. Antigamente, o exibidor tinha ordem de colocar um curta na tela antes da programação e eles conseguiram – os exibidores – fazer com que o curta-metragem fosse reduzido no tempo. Então, muita gente diz: “Rapaz, você fez “Trajetória do Frevo” com dez minutos?” Eu digo: “É”. Era obrigado a isso. Você não podia fazer filme excedendo
  • 35. dez, 12 minutos. Até isso, eles influenciaram, porque eles tinham medo da gente, um mundo de cineasta aparecendo, a produção aumentando. Tinha um exibidor no Rio, que só exibia filmes brasileiros e pernambucanos. Spencer, quando você passou a tomar conta da página inteira do jornal, da página de cinema, você chegou a tomar conta também do Coliseu, você programou o Coliseu? É, o Coliseu foi o seguinte: Foi uma criação minha, de Alex, de Celso Marconi e de Ivan Soares. Éramos quatro que selecionavam, davam opinião, fazíamos um catalogozinho para distribuir no mês. Começamos no Art Palácio, do Art Palácio fomos para o Trianon, do Trianon para o São Luiz, porque nós, eu e Celso [Marconi] fomos falar com Severiano Ribeiro pra ver se ele cedia um cinema pra gente fazer um Cinema de Arte... Cinema de Arte não uma vez por semana, mas durante a semana. Aí, ele disse: “Você faz o seguinte, você usa o São Luiz e dá pra passar lá”. O Coliseu estava quebrado, estava no vermelho, então Severiano Ribeiro e o gerente daqui, Zé Ronaldo Ramos, resolveram entregar essa programação aos colunistas e deu muitos resultados, passou a ser diariamente. Aqui teve um exibidor chamado Pereira, o primeiro nome dele eu me esqueço, ele veio de Manaus com a ideia de distribuir filme japonês. Nunca foi visto filme japonês aqui, belga, francês... Muito raro. Aqui a gente só via... (era escravidão!) o cinema americano. Isso aí era, certamente, o “boom” para o cinema americano, era isso: vender o seu produto, os cowboys, os musicais... Mas como eram as sessões do Coliseu? Qual era a característica da sessão do Coliseu? No Coliseu nós tínhamos total liberdade para escolher os filmes, a gente às vezes mandava buscar os filmes de Ingmar Bergman em São Paulo, na Bélgica. A gente trazia dois, três filmes e fazia um festival. Fellini, festival de Fellini. Enfim, todos que a gente quisesse passar, passava. Agora, a renda era do cinema, mas a gente tinha uma percentagem pra essas despesas de pintura, de cartaz, de ir buscar e trazer o filme, revisão de filme, tudo isso... Foi difícil, mas gente conseguiu passar muitos filmes no Coliseu que nunca foram vistos no Recife. E as sessões, elas tinham debate? Não, não tinha não. Era a exibição e pronto. Não existia o nome “cineclube” na história? Não, não existia. Era Cinema de Arte Coliseu, Cinema de Arte Art Palácio, onde começou. Você assistiu a algum filme lá? Como é que era? Como é que você lembra dessas sessões? Toda sexta-feira a gente se reunia e geralmente discutia o filme. Mas o local para verificar o filme como estava, se tinha condições de entrar em festival foi numa sede que alugamos na Rua do Hospício, porque o “Grupo 8” era muito forte, a gente conseguiu um percentual de isenção nos ingressos. Nós fomos de manhã bem cedinho procurar Augusto Lucena; eu, Celso Marconi e Alex, que era muito amigo de Augusto Lucena. Isso foi em que época, Spencer?
  • 36. Começou em 1961 e durou 20 anos. Agora ninguém podia esperar que os cinemas locais trouxessem os filmes japoneses de Kurosawa, como Os Sete Samurais, por exemplo. Só através de um cinema de arte ou então um cineclube. A gente não podia fazer cineclube porque era diferente, o público era quem escolhia os filmes. Quer dizer, quando ia um filme de Bergman, eles iam, outro mais fraco que Bergman, eles não iam; não é como cineclube. Cineclube, eu acho da maior importância para o cinema é um cineclube. Nascido para ensinar, na França, e foi muito importante isso no Brasil e em todo o mundo porque era através do cineclube que a gente podia conhecer os autores. Naquela época, se olhava muito os autores, não era como hoje acontece: É uma equipe fazendo um filme, obedecendo rigores do produtor, naquela época não tinha muito isso, não. Tinha filme de autor! E nesse período em que você estava na redação do jornal, os cineclubes mandavam pra você o release, a programação... Como é que era esse diálogo com o cineclube que você tinha como um funcionário do jornal e como você se relacionava com esses cineclubes e como esses cineclubes se relacionavam com você? Eu publicava o que eles mandavam. Textos, fotografias... Ou “tal dia é o filme tal...” “Vem aí esses filmes...” Eu estimulava como estimulava o cinema Super 8. Todo mundo do Super 8 tinha o apoio jornalístico. E a seleção pra festival... Realizamos aqui no Recife três festivais de Super 8 : em 1957, 1958 e 1959. Nunca ninguém podia pensar nisso e graças ao Super 8 isso aconteceu. O nosso grupo de cinema Super 8 tinha, mais ou menos, umas 60 pessoas inscritas, fazendo cinema. Era mais do que hoje. Agora, era mais barato também. Você comprava o cartucho, tinha uma câmera, um amigo emprestava, chamava um ator como Hugo [Caldas]... Ele topou ser meu ator em A eleição do Diabo e a posse de Lampião no inferno. Quer dizer, tudo isso colaborou para que houvesse até cineclube, mas não houve não. Havia discussão, por exemplo, eu tenho meu filme, eu vou exibir sábado, na casa de Hugo, então, quem quiser ir, vai. Tem a cervejinha e tem a discussão: “Eu fiz isso por isso...” Explicava-se como se fez o filme. Era uma liberdade total da gente, depois de fazer o filme, juntar as pessoas interessadas em cinema e conversar. Isso foi muito bom. Todos os cineclubes mandavam a programação? Você publicava? Consegue lembrar quais eram eles? Não lembro, mas eram muito poucos. O “Vigilanti Cura” mandava pra mim, era da Igreja Católica. Mandava a relação e até explicando o que era o filme, tal... Mas eu não podia só pensar no cineclube, porque eu tinha que divulgar os filmes que entravam nos cinemas. O “Vigilanti Cura” é da década de 1950? Eu acho que sim. Acho que é de 1953, 1956... Eu sei que em 1957, eu marco bem, foi quando eu entrei no jornal como revisor. Em 04 de fevereiro de 1958, eu fui registrado na carteira como revisor. Aí eu passei dois anos como revisor, mas colaborando com o cinema, numa faixa. Minhas colaborações saíam porque Augusto Budu, que era o redator principal, me aceitou. Então eu comecei a fazer. Mas com o tempo, eu não me lembro o ano, acho que
  • 37. foi setenta e pouco, Budu saiu e então Fernando Chateubriand, que era filho de Assis Chateaubriand, entrou num sábado quando eu estava fazendo a diagramação da página, aí ele disse assim: “Cadê Budu?” Eu disse: “Budu saiu. Budu foi para o Rio de Janeiro, fazer ‘não-sei-o-quê.” Ele disse: “Aquele cabra não tem nada o que fazer, eu mandei ele pra fora nada... Olhe, a partir de segunda-feira você vai assumir a página e a coluna, tá disposto?” Eu disse: “Tô!” Aí, pronto, fiquei como o dono da página uns dois ou três anos. Gladstone [Vieira Belo] me chamou e disse: “Olhe, tem espaço pra você fazer música popular?” Eu disse: “Tem.” Aí, cedi. E depois veio vídeo-cassete e aí foi uma chuva de material. Então é isso que eu tenho pra dizer do Diario de Pernambuco, onde eu trabalhei 40 anos. Você tem esse material impresso guardado? Algumas coisas eu guardei. As páginas. Porque, aos domingos, eu tinha uma página e uma coluna diária de um quarto de página, isso era diariamente. Então, eu guardava numa mala aí o cupim bateu, estragou tudo. Algumas coisas eu guardei... Algumas colunas que eu pude cortar e colar e guardar. Agora, hoje, esse material já está dificultando a minha vida porque é muita coisa, sabe? Muitos recortes, muitos filmes, muitos discos... Então essa parte do cineclube, você vai doar pra Federação esse material que você tem guardado de acervo sobre cineclube e a gente vai preservar e vai deixar de ser um aperreio pra você... Isso eu não prometo porque eu tenho filhos... Depende do material. Isso aí eu vou querer, os discos, por exemplo. O que interessa para a gente são as matérias dos cineclubes. Você pode contar comigo. Ou alguma revistinha que era... Essa revista era editada em Minas Gerais, aí deve ter cineclube porque Minas fazia um cineclube muito bom, São Paulo... Mas a gente tá aqui centrado em Pernambuco... Mas não fala do geral, não? Então, o que eu tiver, pode contar. Quer mais alguma coisa? Eu não sei se eu estou correspondendo a sua expectativa... Você tá segurando a memória aí que eu estou ligado... A memória é um negócio danado, né? Você conheceu Ivan Soares, Nelson Simas? Ivan Soares é meu grande amigo. Trabalhou muito comigo. Tem alguma lembrança de cineclube a respeito dele? Não, porque ele é de Caruaru, eu tenho a impressão que ele fazia cineclube em Caruaru, eu tenho impressão, não tenho uma certeza. E ele depois, quando chegou no Recife, entrou no Jornal do Commercio; Diário da Noite ele fazia também... Mas adoeceu. É um crítico muito bom ele e ele deve ter tido uma participação muito boa no cineclube. Pelo menos ele veio de Caruaru com essa proposta. Então você não se envolveu com a atividade cineclubista? Você estava mais voltado para produzir filme, para trabalhar com Super 8... Era muita coisa... E esses filmes que eram feitos em Super 8, eles não passavam nos
  • 38. cineclubes? Você não ia para essas sessões? Não, não tinha não, porque eu acho que o Super 8 chegou mesmo em 1969... Aí, não encontrou o cineclube, assim, vivendo bem. Agora, tinha um, que eu mesmo fui pra casa de um amigo, parece que era em Casa Amarela, ele tinha um projetor muito bom e passava 16mm pra gente. Qualquer filme a gente via... Isso era onde? Isso era na residência dele. Como era o nome dele? O nome dele? Não lembro, não. Você ia pra sessão na casa dele? É, eu ia lá pra ver, eu gostava de ver o filme em casa,... E a escolha era da gente. Isso era em que época? 1980, por aí... Agora, o que tomou muito meu tempo foi... Em 1980 eu fui chamado por Fernando Freyre, esse que já morreu, pra trabalhar na cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco, organizar, chamar gente pra trabalhar na produção... Era muito empenhado na filmoteca, mas quando eu cheguei lá, eu não achei que era uma filmoteca. Filmoteca não é o que ele queria, ele queria apresentação, melhor filme, cuidados técnicos com ele, arquivamento certo, tudo isso era da cinemateca... Revista, Scena Muda... Tinha coleções completas de Scena Muda, Cinearte... Essa cinemateca era aqui? Não, era lá em Apipucos. Ainda é. Eu fui 20 anos diretor da cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco. Realizei um filme lá: Joaquim Nabuco: o menino de Massangana. Essa cinemateca, vocês distribuíam filmes para os cineclubes, alguma coisa assim? Não, mas se alguém do cineclube fosse lá e solicitasse os filmes, a gente cedia, não tinha problema, sem pagar nada. Mas isso aconteceu alguma vez? Comigo aconteceu, mas foi muito rápido, porque os assuntos não eram muito interessantes para cineclube, tinha uma sessão de educação... Não interessava pra gente... Sobre a cana-de-açúcar, documentários especiais... E a gente foi crescendo... Com os 20 anos que eu passei lá, recebemos várias doações. Gente que ia botar fora os filmes, aí mandava pra gente, a gente mandava fazer uma seleção pra ver o que podia ser aproveitado. Era slide, era filme, era tudo. Fotografia também. Lá tem uma filmoteca. No caso, os cineclubes, eles mesmos não acessavam, eles não iam lá. Como se eles não soubessem que existia isso... Não, não iam lá. Desde que entrei em 1980... Eu entrei no dia 12 de dezembro de 1980. Depois, chegou o videocassete, já é um cineclube, eu acho. Ninguém pode negar a qualidade que tem o videocassete. Pra fazer cineclube, você pega um filme, um disquinho daquele, você passa uma hora e pouco e depois discute, é outra coisa. E autores da qualidade que existem no mundo, da melhor qualidade: Fellini, você tem tudo de Fellini. Kurosawa, Antonioni, tudo isso. Cinema brasileiro, tem tudo do cinema brasileiro, a chanchada, tem tudinho. Pra cineclube é uma delícia. A gente encontrou dificuldade porque não tinha filme... Tinha filme, mas não tinha
  • 39. quem operasse. Quando tinha quem operasse, não tinha o projetor... O projetor de 16mm era muito caro, como o de 35mm. Mas a gente tentava fazer a coisa, mas não era fácil, não. Agora, hoje em dia, eu acho que essa geração devia cuidar já do cineclubismo através do videocassete, porque tem coisas maravilhosas, eu estava olhando, eu nunca pensei na minha vida ter todos os filmes de Chaplin, rapaz! Eu, às vezes, nem acredito. Eu digo: “Será mesmo?” Tudo otimamente organizado, tratado. São todos os filmes dele. E foram vendidos nas bancas. Spencer, você chegou a conhecer Pedro Salgado Filho? Não, porque eu sou de 1927, o cinema pernambucano do Ciclo de 20 foi de 1922 até 1931. Que era Jota Soares... É, com Jota Soares. Agora, depois, Jota aproximou alguns do Ciclo do Recife: Dustan Maciel, Ary Severo, ele próprio. Então, foi quando eu gostei muito desse assunto pra estudar, estudei e fiz cinco filmes, de 16mm e 35mm. E esse estudar que você fala, ele era assistir aos filmes com essas pessoas e debater ou era assisti-los em casa mesmo? Não dava pra debater. Era ver o que restava. Só A filha do advogado está completo, Retribuição... poucos. O resto são fragmentos. Pra gente encerrar, vou perguntar pra você o seguinte: voltando àquele assunto de você como colunista, como redator de uma página de jornal sobre cinema, queria insistir nesse assunto porque me parece que é o assunto onde você teve mais contato com a atividade cineclubista da época e você recebia material de todos os cineclubes. Mas não era muito fácil, não. Qual era a dificuldade? O que era difícil? A dificuldade maior era que tivesse uma “redaçãozinha” boa, explicando o que era o filme, pra poder colocar na página, porque muitos eu não conhecia. Era novato. Você colocava essas matérias, mas você não conhecia o cineclube? Não. Eu ia, como eu disse a você, a um curso que estavam dando e me interessava. Era toda sexta-feira ou todo sábado. Eu acho que era o “Cineclube do Recife” ou então o “Vigilanti Cura”. O “Vigilanti Cura” deve ter sido da Católica. Não sei se da Católica, mas da Igreja Católica... Da Igreja Católica. Até tinha um cara que era muito carola e queria que eu elogiasse e tal... Eu disse: “Rapaz, não é meu jogo, não. O meu é outra coisa.” Eu quero anunciar o que o jornal manda eu fazer. Uma vez Antônio Camelo, que era diretor, ele disse: “Você não precisa se preocupar com detalhes, o que interessa você falar é que o filme é bom ou não é. Isso sim.” Aí eu ia mais aos filmes apreciáveis. A gente vai entrar em contato com você novamente pra gente ver esse material impresso, de jornal, de cartaz, se você tiver cartaz de sessões... Cartaz serve? De outros filmes? Porque meus filmes, quase todos, têm cartaz, quase todos... Mas de filmes de sessões de cineclube, entendeu? Da época, né?
  • 40. Isso. Porque agora não tem mais nada... Fale um pouco como foram esses festivais que existiram, o que acontecia nesses festivais? Você falou em palestras, seminários... O que acontecia? Esses festivais... Eu não me lembro... Em 1958... Foram três festivais, todo ano tinha um. Patrocínio até da Fundação Joaquim Nabuco, entidades estaduais, federais, todas ajudavam a gente. A gente tinha o interesse de fazer coisa boa. Mas você disse que aconteciam seminários, cursos... Durante o festival, nós tínhamos curso, tínhamos palestras. Nelson Pereira veio aqui. Outros diretores já consagrados, eu acho. Quem patrocinava tudo era a Fundação. Tem mais alguma coisa que você quer considerar? Agora tá com toda a chance porque tem um material que é o filme. Pra discutir e para aprender é uma beleza, porque é preciso estudar a cultura cinematográfica. Cultura cinematográfica tem que ter, porque senão só entende aquelas porcarias que saem nos shoppings, cada filme horrível, cada tiro danado, cada bomba... Aquilo tudo não pode acontecer. O Recife viveu uma grande época, foi antes e depois dos militares. Os militares... Houve muita pressão. Até para o cinema de público, uma chanchada, uma cena de sexo, tudo isso ficou difícil, mas eu espero que o cineclube volte a atuar como escola, como divertimento, como tudo. Agora, precisa arranjar sala, o aparelho e a divulgação, sem divulgação não vai, não.
  • 41. JOMARD MUNIZ DE BRITO ______________________ Qual foi o período em que você esteve envolvido com a atividade cineclubista, como organizador ou como público? Eu hoje encontrei nos meus arquivos indevassáveis um texto, uma matéria que eu fazia sobre o cineclubismo, e a data dessa matéria era 1955. Eu nasci em 1937, qual era a minha idade? 18 anos. E eu já estava ligado no cineclubismo, já estava entrevistando para o jornal daqui, porque os bons pesquisadores deveriam ir às suas fontes. Porque essa coisa de fala é tudo ilusão, menos essa minha que eu fui lá na fonte. Então, era o Folha da Manhã que era o jornal vespertino, onde eu escrevia. Então, aparece uma longa matéria minha com o meu nome correto. Eu procurei ver isso. Eu entrevistando dois senhores que eram cineclubistas e estavam de passagem por aqui, e depois entrevistando um camarada. Então, em 1955. Então, já havia, vamos dizer assim, uma ligação minha como uma pessoa interessa. E eu gostaria de dar um referencial pra vocês, é o livro da Luciana [Araújo], A crônica de cinema no Recife nos anos de 1950. É interessante que vocês peguem esse livro, entendeu? Mas qual foi o ano que você... 1955, eu repito. Eu já estava escrevendo, então eu já participava acho que há um ano,
  • 42. desde 1953, 1954... foi a minha iniciação ao cinema como estudo de cinema, foi no começo da década de 1950. O “Vigilanti Cura”, segundo Marilda e Lauro, começou em 1952 ou 1953... E eu estava logo no começo. Eu não participei da fundação, já conheci o cineclube funcionando. “Vigilanti Cura” foi uma encíclica do Papa. Sabe onde a gente consegue essa encíclica, existe alguma fonte para conseguir essa encíclica? Você vá ao Google. Todo jovem tem que ir ao Google. No Google você encontra tudo. É um palpite meu. A sua relação com cineclube foi com o “Vigilanti Cura”, mas só com ele? Foi. A base foi. Porque o cineclube “Vigilanti Cura” tinha uma coisa interessante. Depois das exibições tinha o cine-fórum, que era um debate do filme. Eles faziam uma reunião para um grupo pequeno, um grupo menor, que era uma reunião mais de estudo, onde eles até trocavam livros sobre cinema que estavam lendo. O “Vigilanti Cura” era um cineclube dentro dos preceitos católicos? Preceitos e conceitos católicos, porque era num edifício chamado Círculo Católico, que hoje em dia é só um edifício. Era um casarão. Naquele lugar que tem hoje o edifício Círculo Católico foi onde tinha o “Vigilanti Cura”. E como é que era essa relação de um cineclube católico dentro de um conceito mais subversivo? Ah, não. Num use essa palavra não. Essa palavra não estava em moda. Essa palavra é da década de 1960, porque as palavras também são datadas. Não havia essa palavra circulando na intelectualidade, essa coisa de subversão. Podiam ter ações subversivas, mas essa palavra que você usou agora não se adapta. Porque se era um cineclube católico, a dimensão dele era, sobretudo, pedagógica e humanística. Então, veja bem, a preocupação era em formar uma plateia, em formar espectadores, dentro de noções sobre teoria de cinema, sobre linguagem cinematográfica e sobre a história do cinema. Existia uma reflexão acerca do modo de agir e de viver da sociedade? Não. Na minha adolescência eu não me preocupava com isso. Mas o cineclube também não? Que eu saiba, não. Quer dizer, tinha até um lado aí que se pode criticar, é que dentro dessa orientação católica, tinha uma coisa chamada cotações de filmes, cotações morais. Alguns filmes não eram recomendados. Mas isso era [feito por] uma pessoa que não está mais viva hoje, que era o Valdir Coelho, pai do João Coelho, e que tinha uma mulher belíssima que ainda hoje está viva, na sua beleza esplendorosa, que se chama Maria. Toda vez que eu me encontro com ela, ela faz muita festa, mas não sei o telefone dela, não sei se Lauro e Marilda tem. Ela era do cineclube, e o marido dela tinha essa ligação com, vamos dizer assim, esse lado mais católico. Hoje você é uma referência de pessoa com uma trajetória de aforias e de subversões, de atentados poéticos. Sua participação no cineclube teve alguma participação pra essa transformação do Jomard Muniz de Brito conhecido como ele é hoje?