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 CRÍTICA AO INATISMO DE JONH LOCKE: POR QUE A MENTE
   HUMANA É INCAPAZ DE POSSUIR PRINCÍPIOS INATOS

                                                                               Faustino dos Santos*

RESUMO
Esse artigo tem a finalidade de discorrer a cerca do pensamento humano, mais
precisamente sobre a sua capacidade de entender. Detêm-se, portanto, a partir do
pensamento de John Locke, na crítica ao inatismo, ou seja, discordando da linha
racionalista que prega que a mente humana nasce dotada de princípios e ideias
inatas. John Locke comparando a mente como uma tábula rasa apresenta
argumentos contrários e prováveis que a mente não possui qualquer conhecimento
desde o seu nascimento.

Palavras-chave: Entendimento. Mente Humana. Inatismo. John Locke. Empirismo.


1 O ENTENDIMENTO HUMANO
             John Locke, considerado um dos precursores do empirismo inglês se
interessa sobre como se dá o processo de produção do conhecimento humano,
elabora, portanto um estudo sobre o entendimento humano. Ressalta desde o inicio
de sua obra que é essa capacidade de conhecer que permite ao homem grande
vantagem sobre os outros seres e é por isso que tamanha capacidade merece
trabalho de investigação. Mas diante mão, ele estabelece alguns possíveis
empecilhos para tal feito investigador, diz que, assim como o olho, que embora
possa ver todas as coisas, ele não consegue ver-se a si mesmo. O entendimento
humano não se vê a si, para tornar-se seu próprio objeto o entendimento precisa
distanciar-se, e mesmo que não consiga muita coisa nessa investigação mesmo o
pouco adquirido será bem vindo.

* Redator em ciência e tecnologia formado pelo departamento de extensão da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL), graduando trancado do curso de Turismo da UFAL e graduando em Licenciatura Plena em Filosofia
pelo Instituto Salesiano de Filosofia (INSAF).
Email: faustinosantos17@yahoo.com.br
É nesse desenrolar que John Locke começa seu ensaio a cerca do
entendimento humano, e sua intenção com isso é “considerar as faculdades
discernentes do homem, e como elas são empregas sobre os objetos que lhe dizem
respeito”, e isso é tão claro para ele que talvez como justificativa ele afirma:

                      Sendo meu propósito investigar a origem, certeza e extensão do
                      conhecimento humano, juntamente com as bases e graus de crença,
                      opinião e assentimento, não me ocuparei agora com o exame físico
                      da mente; nem me inquietarei em examinar no que consiste sua
                      essência; nem por quais movimentos de nossos espíritos, ou
                      alterações de nossos corpos, chegamos a ter alguma sensação
                      mediante nossos órgãos, ou quaisquer ideias em nossos
                      entendimentos; e se, em sua formação, algumas daquelas ideias, ou
                      todas dependem ou não da matéria. Embora tais especulações
                      sejam curiosas e divertidas, rejeitá-las-ei por estarem fora do
                      caminho no qual estou agora empenhado.(LOCKE, 1999 p. 29)


           Locke    considera   importante    desenvolver     um   estudo    acerca   do
entendimento humano e por isso diz que será gratificante se ao menos esse método
puder dar alguma contribuição sobre como o nosso entendimento alcança as noções
das coisas, e ainda se puder estabelecer alguma certeza e conhecimento, essa
certeza é dada justamente pela própria verdade, único lugar capaz de produzir
conhecimentos certos.
           Para desenvolver tal ensaio Locke se utiliza de um método que possui
três passos que em linhas gerais tem a finalidade de pesquisar os limites entre a
opinião e o conhecimento e examinar e moderar nosso assentimento e persuasão a
cerca das coisas que não temos certeza. Ainda afirma a importância de saber a
extensão do nosso entendimento, pois sabendo qual a sua natureza, até onde vai,
quais as coisas para os quais estão suas destinações, suas deficiências, isso será
importante para:
                      Persuadir a ocupada mente do homem e usar mais cautela quando
                      se envolve com coisas que excedem sua compreensão, parar
                      quando o assunto é muito extenso para suas forças e permanecer
                      em silenciosa ignorância acerca dessas coisas que o exame revelou
                      estarem fora do alcance de nossas capacidades. (LOCKE, 1999 p.
                      30)


           Afirma que sabendo sobre a extensão do entendimento, até onde suas
faculdades podem atingir a certeza e em quais casos pode apenas adivinhar e
julgar, será mais simples se contentar com o atingível em cada situação.
Locke sob a influência de John Owen aprendeu as leis da tolerância
religiosa além de ter possuído uma educação religiosa do puritanismo anglicano.
Esse dado é pertinente uma vez que ele deixa no seu Ensaio a cercado
entendimento humano vestígios da sua influência religiosa quando, fazendo um
paralelo a incapacidade do entendimento apreender todas as coisas, escreve que
mesmo assim devemos glorificar o Autor da vida por nos ter dado tal porção e grau
de conhecimento que é superior a qualquer outro ser vivente.

                     Os homens têm razão para estar satisfeitos com o que Deus pensou
                     que lhes era adequado, pois ele lhes deu, como diz São Paulo
                     pántapròszoènKaìeusébeian, tudo o que é necessário para as
                     conveniências da vida e informação da virtude, e colocou ao alcance
                     de sua descoberta provisão suficiente para esta vida e o meio que
                     leva para uma melhor. (LOCKE, 1999 p. 31)

             Locke trata dessa questão justificando que o homem não pode ter
conhecimento de todas as coisas, mas apenas o suficiente para saber sobre o
conhecimento do seu Criador (Deus) e a observação das suas obrigações. Essa
justificativa é importante, dirá ele, por que sabendo até onde vai nossa capacidade
de entender saberemos conduzir essa nossa faculdade sem criar expectativas que
lhe são superiores à compreensão.
          Essa sua preocupação com o que possibilitava e no constituía o processo
de produção de conhecimento parece que estava vinculada também as ideias
políticas e à consequente tentativa de desvendar objetivamente os processos
envolvidos na vida pública, uma vez que era um político liberalista influenciador de
muitas revoluções surgidas em seu tempo, e ainda na posteridade.
          Enfim, o propósito do empirista é “investigar os nossos próprios
entendimentos, examinar nossos próprios poderes e ver para que coisas eles estão
adaptados” (Idem, p. 32).
          Antes de adentrar na profundidade da sua crítica e a sua exposição
contrária a ideia de que há princípios e ideias inatas, é preciso entendermos o que
significa ideia para Locke. Ele dirá que ideia é “(...) qualquer coisa que consiste no
objeto do entendimento quando o homem pensa, (...) qualquer coisa que pode ser
entendida como fantasma, noção, espécie, ou tudo o que pode ser empregado pela
mente pensante”. (LOCKE 1999, p. 32-33)
Em termos simples a ideia é a forma que imprimimos em nossa mente
quando entramos em contato sensível com o objeto, embora não seja o próprio
objeto é a imagem que formamos dele em nossa mente.


2A MENTE HUMANA NÃO POSSUI PRINCÍPIOS INATOS
          Sendo assim, Locke não concorda com a afirmação que a mente possui
qualquer conhecimento preestabelecido nela, compara-a com uma “tábula rasa”, ou
um papel em branco onde somente pela experiência sensível são impressos as
ideias. Locke afirmava que tudo o que conhecemos, que todas as ideias que temos,
eram formadas no espírito e que não eram inatas.
          Ele expõe, contrariamente a afirmativa que a mente possui princípios
inatos, algumas objeções. Primeiro criticava que a concordância universal fosse
prova da existência de princípios inatos. Depois criticava que as ideias só se
revelam pelo uso da razão, ou seja, que as ideias inatas estariam impressas na
mente, mas que só se desenvolveriam quando se desenvolvesse a razão.
Refutava,portanto, de que se algumas ideias eram evidentes, claras e distintas para
o homem, então eram inatas.
          O primeiro contra argumento de que a concordância universal fosse prova
da existência de princípios inatos diz que se para demonstrar a ocorrência de ideias
inatas, seria preciso demonstrar a universalidade de tais ideias. Isso pode ser
facilmente negado se olharmos, por exemplo, para as crianças que não possuem
qualquer desses princípios e só os adquire com o tempo, ou ainda se levarmos em
consideração os povos que nunca desenvolveram a ideia de Deus.

                     Não se encontram naturalmente impressas na mente por que não
                     são conhecidas pelas crianças, idiotas, etc. (...) é evidente que não
                     só todas as crianças, como os idiotas, não possuem delas menor
                     apreensão do pensamento. Esta falha é suficiente para destruir o
                     assentimento universal que deve ser necessariamente concomitante
                     com todas as verdades inatas, parecendo-me quase uma
                     contradição afirmar que há verdades impressas na alma que não são
                     percebidas ou entendidas, já que imprimir, se isto significa algo,
                     implica apenas fazer com que certas verdades sejam percebidas.
                     Supor algo impresso na mente sem que ela o perceba, parece-me
                     pouco inteligível. Se, portanto, as crianças e os idiotas possuem
                     almas, possuem mentes dotadas destas impressões, devem
                     inevitavelmente percebê-las, e, necessariamente conhecer e assentir
                     com estas verdades; se, ao contrário, não o fazem, tem-se como
                     evidente que estas impressões não existem. (LOCKE, 1999, p. 38)
Ao argumento que as ideias inatas estariam impressas na mente pode ser
rejeitado, pois diz que há o uso da razão antes mesmo que se reconheçam as ideias
inatas, ademais, se o uso da razão fosse necessário para o reconhecimento de uma
ideia inata não se teria como distinguir as ideias inatas das não inatas, ou seja,
àquelas que são derivadas das inatas. Outra opção seria supor que todas as ideias
são inatas, mas percebemos ser muito fraca tal afirmação.


                     Se essas noções (ideias) não estão impressas naturalmente, como
                     podem ser inatas? E se são noções não estão impressas, como
                     podem ser desconhecidas? Afirmar que uma noção está impressa na
                     mente e, ao mesmo tempo afirmar que a mente a ignora e jamais
                     teve dela conhecimento, implica reduzir estas impressões a nada.
                     Não se pode afirmar que qualquer proposição esta na mente sem ser
                     jamais conhecida e que jamais se tem disso consciência. (LOCKE,
                     1999, p. 38)

          Aprofundando a questão criticada por Locke sobre o argumento utilizado
por muitos que diz que o homem só tem conhecimento das ideias que lhe são inatas
pelo uso da razão, ou seja, tal argumento diz que:

                     (...) logo que os homens começam a usar a razão, estas supostas
                     inscrições nativas passam a ser por eles conhecidas e observadas,
                     ou que o uso e exercício da razão dos homens os auxilia na
                     descoberta deste princípio, fazendo com que estes, certamente, se
                     tornem conhecidos para eles. (LOCKE, 1999, p. 39)

          É interessante a crítica de Locke a esse argumento por que ele se usa
dele próprio (do argumento) para provar que é falso, pois, uma vez tendo a
capacidade de raciocinar, ou seja, fazer uso da razão para inferir algo, o sujeito pode
conhecer qualquer coisa, pois, é justamente a racionalidade que permite ao homem
conhecer o desconhecido, e se assim fosse, seria correto afirmar que todas a
inteligibilidade feita pelo sujeito é inata. Locke diz que “por este meio, não haverá
diferença entre as máximas dos matemáticos e os teoremas deduzidos delas,
devendo tudo ser igualmente inato” (LOCKE, 1999, p. 39).
          Concordar com essa questão apresentada, ou seja, que a razão tem a
capacidade de conhecer as ideias inatas é concordar que ela só faz o favor ao
homem de mostrar a ele o que já lhe era conhecido é estranho, pois, estamos
concordando com a afirmação “que os homens, ao mesmo tempo, as conhecem e
não as conhecem”(LOCKE, 1999, p. 40)
Aqui, chega-se num ponto de acordo e prova que o conhecimento mental
de algumas verdades independe de inscrição natural ou do uso da razão. Locke
afirma que isso “consiste numa falsidade porque é evidente que estas máximas não
se encontram na mente tão cedo quanto o uso da razão, e, portanto, a posse do uso
da razão é falsamente assinalada como o instante de sua descoberta”. (Idem p. 40-
41).
          Por fim Locke afirma decididamente a impossibilidade de a mente
humana possuir ideias ou princípios inatos:

                     Concedo que os homens não chegam ao conhecimento destas
                     verdades gerais e mais abstratas, que são tidas como inatas, antes
                     de atingirem o uso da razão, e acrescento, nem então tampouco. Isto
                     é assim porque, mesmo após terem atingido o uso da razão, estas
                     ideias gerais abstratas não estão formadas na mente, sobre as quais
                     são formadas estas máximas gerais, que são equivocadamente
                     consideradas princípios inatos, mas são realmente descobertas feitas
                     e verdades introduzidas e levadas à mente pelo mesmo modo, e
                     descobertas pelos mesmos passos, como várias outras proposições,
                     que ninguém jamais foi tão extravagante para supô-las inatas.
                     (LOCKE, 1999, p. 41)

       Locke com essas palavras objetiva a sua contra argumentação e já dá
margem à reflexão a cerca da sua teoria do conhecimento que é basicamente
empirista. Embora a finalidade desse trabalho não seja tratar sobre isso (a forma
como acreditava que se chegava ao conhecimento das coisas), mas sobre o que já
foi tratado até agora, ou seja, suas refutações a cerca da afirmação que as ideias
são inatas.
       Mas é difícil falar de Locke e não tratar de um dos seus grandes trabalhos
presente na sua obra Ensaio a cerca do entendimento humano, nas considerações
finais, que é o tópico que procede, citarei como sendo a finalidade dessas suas
objeções sobre o inatismo.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
          Toda essa objeção tem no fundo uma intenção que é apresentar a
maneira que Locke acredita que o conhecimento é apreendido pelo entendimento.
Como falado no início Locke é totalmente contra a ideia de que o ser humano já
nasce com ideias pré-estabelecidas. Essa sua crítica se atribui de uma forma ou de
outra aos racionalistas e de modo especial a Descartes, considerado o pai da
modernidade que a creditava que a razão é a responsável pelo conhecimento das
coisas e ainda que ela (a razão) possui estruturas primeiras de compreensão da
realidade.
             Esses pontos apresentados têm por finalidade dizer que a mente humana
é como um papel em branco, ou seja, não possui nada impresso nela e que é
somente pelo contato sensível que se apreende alguma coisa, e assim, por meio
desse empirismo é que esse papel vai sendo preenchido com informações.
             Locke apresenta para explicar esse processo de apreensão alguns
passos nos quais a mente alcança as verdades. De um modo geral ele diz que os
sentidos entram em contato com ideias particulares, a partir daí, do início do
processo de preenchimento mental, a mente seleciona as ideias do seu interesse e
as guarda na sua memória, depois vai assimilando e apreendendo o uso dos seus
nomes, assim, a mente acumula ideias e vai enriquecendo-se com a linguagem, e,
portanto, por meio desses materiais (ideia e linguagem) a razão vai ampliando seu
campo abrangente de uso.
             Locke destaca que há ideias mais simples de serem compreendidas e
outras mais complicadas, mas isso não quer dizer que por ser mais simples ela é a
priori, ou inata. Concorda que existe evidência por si mesmo, ou seja, são
apreensíveis imediatamente quando o sujeito entra em contato, mas isso não
depende das impressões inatas.
             Locke no seu ensaio ainda discorre longamente, e com muitos exemplos
prova que a mente realmente é incapaz de possuir princípios ou ideias inatas, seu
trabalho     é   importante   porque   contribui para   aprofundamentos   na   ciência
especulativa e para os diversos ramos do empirismo moderno emergente no seu
tempo.




ABSTRACT
Thisarticleaims       todiscussabouthuman         thought,     more      preciselyon
itsabilitytounderstand.Have, therefore, from thethought ofJohnLocke, thecritique
ofinnateness, or disagreeing withtherationalistlinethatpreachesthatthe human mindis
bornendowed             withinnateprinciplesandideas,        JohnLockecomparedthe
mindasatabularasahascounterargumentsandprobablethatthe                      mindhas
noknowledgesincebirth.

Keywords:Understanding. HumanMind.Innateness.JohnLocke. Empiricism.
BIBLIOGRAFIA
LOCKE, John. Ensaio a cerca do entendimento humano. 5. Ed. Tradução de
AnoarAiex. São Paulo: Nova Cultura, 1999. (Os Pensadores)

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ARTIGO: Critica de Jonh Locke ao inatismo

  • 1. Av. Abdias de Carvalho, 1855 – Prado – 50830-000 – Recife – PE Tel. 81 2129.4008/2129.4000 Fax 81 2129.4008 – E-mail: secretaria.insaf@salesianosrec.org.br CRÍTICA AO INATISMO DE JONH LOCKE: POR QUE A MENTE HUMANA É INCAPAZ DE POSSUIR PRINCÍPIOS INATOS Faustino dos Santos* RESUMO Esse artigo tem a finalidade de discorrer a cerca do pensamento humano, mais precisamente sobre a sua capacidade de entender. Detêm-se, portanto, a partir do pensamento de John Locke, na crítica ao inatismo, ou seja, discordando da linha racionalista que prega que a mente humana nasce dotada de princípios e ideias inatas. John Locke comparando a mente como uma tábula rasa apresenta argumentos contrários e prováveis que a mente não possui qualquer conhecimento desde o seu nascimento. Palavras-chave: Entendimento. Mente Humana. Inatismo. John Locke. Empirismo. 1 O ENTENDIMENTO HUMANO John Locke, considerado um dos precursores do empirismo inglês se interessa sobre como se dá o processo de produção do conhecimento humano, elabora, portanto um estudo sobre o entendimento humano. Ressalta desde o inicio de sua obra que é essa capacidade de conhecer que permite ao homem grande vantagem sobre os outros seres e é por isso que tamanha capacidade merece trabalho de investigação. Mas diante mão, ele estabelece alguns possíveis empecilhos para tal feito investigador, diz que, assim como o olho, que embora possa ver todas as coisas, ele não consegue ver-se a si mesmo. O entendimento humano não se vê a si, para tornar-se seu próprio objeto o entendimento precisa distanciar-se, e mesmo que não consiga muita coisa nessa investigação mesmo o pouco adquirido será bem vindo. * Redator em ciência e tecnologia formado pelo departamento de extensão da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), graduando trancado do curso de Turismo da UFAL e graduando em Licenciatura Plena em Filosofia pelo Instituto Salesiano de Filosofia (INSAF). Email: faustinosantos17@yahoo.com.br
  • 2. É nesse desenrolar que John Locke começa seu ensaio a cerca do entendimento humano, e sua intenção com isso é “considerar as faculdades discernentes do homem, e como elas são empregas sobre os objetos que lhe dizem respeito”, e isso é tão claro para ele que talvez como justificativa ele afirma: Sendo meu propósito investigar a origem, certeza e extensão do conhecimento humano, juntamente com as bases e graus de crença, opinião e assentimento, não me ocuparei agora com o exame físico da mente; nem me inquietarei em examinar no que consiste sua essência; nem por quais movimentos de nossos espíritos, ou alterações de nossos corpos, chegamos a ter alguma sensação mediante nossos órgãos, ou quaisquer ideias em nossos entendimentos; e se, em sua formação, algumas daquelas ideias, ou todas dependem ou não da matéria. Embora tais especulações sejam curiosas e divertidas, rejeitá-las-ei por estarem fora do caminho no qual estou agora empenhado.(LOCKE, 1999 p. 29) Locke considera importante desenvolver um estudo acerca do entendimento humano e por isso diz que será gratificante se ao menos esse método puder dar alguma contribuição sobre como o nosso entendimento alcança as noções das coisas, e ainda se puder estabelecer alguma certeza e conhecimento, essa certeza é dada justamente pela própria verdade, único lugar capaz de produzir conhecimentos certos. Para desenvolver tal ensaio Locke se utiliza de um método que possui três passos que em linhas gerais tem a finalidade de pesquisar os limites entre a opinião e o conhecimento e examinar e moderar nosso assentimento e persuasão a cerca das coisas que não temos certeza. Ainda afirma a importância de saber a extensão do nosso entendimento, pois sabendo qual a sua natureza, até onde vai, quais as coisas para os quais estão suas destinações, suas deficiências, isso será importante para: Persuadir a ocupada mente do homem e usar mais cautela quando se envolve com coisas que excedem sua compreensão, parar quando o assunto é muito extenso para suas forças e permanecer em silenciosa ignorância acerca dessas coisas que o exame revelou estarem fora do alcance de nossas capacidades. (LOCKE, 1999 p. 30) Afirma que sabendo sobre a extensão do entendimento, até onde suas faculdades podem atingir a certeza e em quais casos pode apenas adivinhar e julgar, será mais simples se contentar com o atingível em cada situação.
  • 3. Locke sob a influência de John Owen aprendeu as leis da tolerância religiosa além de ter possuído uma educação religiosa do puritanismo anglicano. Esse dado é pertinente uma vez que ele deixa no seu Ensaio a cercado entendimento humano vestígios da sua influência religiosa quando, fazendo um paralelo a incapacidade do entendimento apreender todas as coisas, escreve que mesmo assim devemos glorificar o Autor da vida por nos ter dado tal porção e grau de conhecimento que é superior a qualquer outro ser vivente. Os homens têm razão para estar satisfeitos com o que Deus pensou que lhes era adequado, pois ele lhes deu, como diz São Paulo pántapròszoènKaìeusébeian, tudo o que é necessário para as conveniências da vida e informação da virtude, e colocou ao alcance de sua descoberta provisão suficiente para esta vida e o meio que leva para uma melhor. (LOCKE, 1999 p. 31) Locke trata dessa questão justificando que o homem não pode ter conhecimento de todas as coisas, mas apenas o suficiente para saber sobre o conhecimento do seu Criador (Deus) e a observação das suas obrigações. Essa justificativa é importante, dirá ele, por que sabendo até onde vai nossa capacidade de entender saberemos conduzir essa nossa faculdade sem criar expectativas que lhe são superiores à compreensão. Essa sua preocupação com o que possibilitava e no constituía o processo de produção de conhecimento parece que estava vinculada também as ideias políticas e à consequente tentativa de desvendar objetivamente os processos envolvidos na vida pública, uma vez que era um político liberalista influenciador de muitas revoluções surgidas em seu tempo, e ainda na posteridade. Enfim, o propósito do empirista é “investigar os nossos próprios entendimentos, examinar nossos próprios poderes e ver para que coisas eles estão adaptados” (Idem, p. 32). Antes de adentrar na profundidade da sua crítica e a sua exposição contrária a ideia de que há princípios e ideias inatas, é preciso entendermos o que significa ideia para Locke. Ele dirá que ideia é “(...) qualquer coisa que consiste no objeto do entendimento quando o homem pensa, (...) qualquer coisa que pode ser entendida como fantasma, noção, espécie, ou tudo o que pode ser empregado pela mente pensante”. (LOCKE 1999, p. 32-33)
  • 4. Em termos simples a ideia é a forma que imprimimos em nossa mente quando entramos em contato sensível com o objeto, embora não seja o próprio objeto é a imagem que formamos dele em nossa mente. 2A MENTE HUMANA NÃO POSSUI PRINCÍPIOS INATOS Sendo assim, Locke não concorda com a afirmação que a mente possui qualquer conhecimento preestabelecido nela, compara-a com uma “tábula rasa”, ou um papel em branco onde somente pela experiência sensível são impressos as ideias. Locke afirmava que tudo o que conhecemos, que todas as ideias que temos, eram formadas no espírito e que não eram inatas. Ele expõe, contrariamente a afirmativa que a mente possui princípios inatos, algumas objeções. Primeiro criticava que a concordância universal fosse prova da existência de princípios inatos. Depois criticava que as ideias só se revelam pelo uso da razão, ou seja, que as ideias inatas estariam impressas na mente, mas que só se desenvolveriam quando se desenvolvesse a razão. Refutava,portanto, de que se algumas ideias eram evidentes, claras e distintas para o homem, então eram inatas. O primeiro contra argumento de que a concordância universal fosse prova da existência de princípios inatos diz que se para demonstrar a ocorrência de ideias inatas, seria preciso demonstrar a universalidade de tais ideias. Isso pode ser facilmente negado se olharmos, por exemplo, para as crianças que não possuem qualquer desses princípios e só os adquire com o tempo, ou ainda se levarmos em consideração os povos que nunca desenvolveram a ideia de Deus. Não se encontram naturalmente impressas na mente por que não são conhecidas pelas crianças, idiotas, etc. (...) é evidente que não só todas as crianças, como os idiotas, não possuem delas menor apreensão do pensamento. Esta falha é suficiente para destruir o assentimento universal que deve ser necessariamente concomitante com todas as verdades inatas, parecendo-me quase uma contradição afirmar que há verdades impressas na alma que não são percebidas ou entendidas, já que imprimir, se isto significa algo, implica apenas fazer com que certas verdades sejam percebidas. Supor algo impresso na mente sem que ela o perceba, parece-me pouco inteligível. Se, portanto, as crianças e os idiotas possuem almas, possuem mentes dotadas destas impressões, devem inevitavelmente percebê-las, e, necessariamente conhecer e assentir com estas verdades; se, ao contrário, não o fazem, tem-se como evidente que estas impressões não existem. (LOCKE, 1999, p. 38)
  • 5. Ao argumento que as ideias inatas estariam impressas na mente pode ser rejeitado, pois diz que há o uso da razão antes mesmo que se reconheçam as ideias inatas, ademais, se o uso da razão fosse necessário para o reconhecimento de uma ideia inata não se teria como distinguir as ideias inatas das não inatas, ou seja, àquelas que são derivadas das inatas. Outra opção seria supor que todas as ideias são inatas, mas percebemos ser muito fraca tal afirmação. Se essas noções (ideias) não estão impressas naturalmente, como podem ser inatas? E se são noções não estão impressas, como podem ser desconhecidas? Afirmar que uma noção está impressa na mente e, ao mesmo tempo afirmar que a mente a ignora e jamais teve dela conhecimento, implica reduzir estas impressões a nada. Não se pode afirmar que qualquer proposição esta na mente sem ser jamais conhecida e que jamais se tem disso consciência. (LOCKE, 1999, p. 38) Aprofundando a questão criticada por Locke sobre o argumento utilizado por muitos que diz que o homem só tem conhecimento das ideias que lhe são inatas pelo uso da razão, ou seja, tal argumento diz que: (...) logo que os homens começam a usar a razão, estas supostas inscrições nativas passam a ser por eles conhecidas e observadas, ou que o uso e exercício da razão dos homens os auxilia na descoberta deste princípio, fazendo com que estes, certamente, se tornem conhecidos para eles. (LOCKE, 1999, p. 39) É interessante a crítica de Locke a esse argumento por que ele se usa dele próprio (do argumento) para provar que é falso, pois, uma vez tendo a capacidade de raciocinar, ou seja, fazer uso da razão para inferir algo, o sujeito pode conhecer qualquer coisa, pois, é justamente a racionalidade que permite ao homem conhecer o desconhecido, e se assim fosse, seria correto afirmar que todas a inteligibilidade feita pelo sujeito é inata. Locke diz que “por este meio, não haverá diferença entre as máximas dos matemáticos e os teoremas deduzidos delas, devendo tudo ser igualmente inato” (LOCKE, 1999, p. 39). Concordar com essa questão apresentada, ou seja, que a razão tem a capacidade de conhecer as ideias inatas é concordar que ela só faz o favor ao homem de mostrar a ele o que já lhe era conhecido é estranho, pois, estamos concordando com a afirmação “que os homens, ao mesmo tempo, as conhecem e não as conhecem”(LOCKE, 1999, p. 40)
  • 6. Aqui, chega-se num ponto de acordo e prova que o conhecimento mental de algumas verdades independe de inscrição natural ou do uso da razão. Locke afirma que isso “consiste numa falsidade porque é evidente que estas máximas não se encontram na mente tão cedo quanto o uso da razão, e, portanto, a posse do uso da razão é falsamente assinalada como o instante de sua descoberta”. (Idem p. 40- 41). Por fim Locke afirma decididamente a impossibilidade de a mente humana possuir ideias ou princípios inatos: Concedo que os homens não chegam ao conhecimento destas verdades gerais e mais abstratas, que são tidas como inatas, antes de atingirem o uso da razão, e acrescento, nem então tampouco. Isto é assim porque, mesmo após terem atingido o uso da razão, estas ideias gerais abstratas não estão formadas na mente, sobre as quais são formadas estas máximas gerais, que são equivocadamente consideradas princípios inatos, mas são realmente descobertas feitas e verdades introduzidas e levadas à mente pelo mesmo modo, e descobertas pelos mesmos passos, como várias outras proposições, que ninguém jamais foi tão extravagante para supô-las inatas. (LOCKE, 1999, p. 41) Locke com essas palavras objetiva a sua contra argumentação e já dá margem à reflexão a cerca da sua teoria do conhecimento que é basicamente empirista. Embora a finalidade desse trabalho não seja tratar sobre isso (a forma como acreditava que se chegava ao conhecimento das coisas), mas sobre o que já foi tratado até agora, ou seja, suas refutações a cerca da afirmação que as ideias são inatas. Mas é difícil falar de Locke e não tratar de um dos seus grandes trabalhos presente na sua obra Ensaio a cerca do entendimento humano, nas considerações finais, que é o tópico que procede, citarei como sendo a finalidade dessas suas objeções sobre o inatismo. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Toda essa objeção tem no fundo uma intenção que é apresentar a maneira que Locke acredita que o conhecimento é apreendido pelo entendimento. Como falado no início Locke é totalmente contra a ideia de que o ser humano já nasce com ideias pré-estabelecidas. Essa sua crítica se atribui de uma forma ou de outra aos racionalistas e de modo especial a Descartes, considerado o pai da modernidade que a creditava que a razão é a responsável pelo conhecimento das
  • 7. coisas e ainda que ela (a razão) possui estruturas primeiras de compreensão da realidade. Esses pontos apresentados têm por finalidade dizer que a mente humana é como um papel em branco, ou seja, não possui nada impresso nela e que é somente pelo contato sensível que se apreende alguma coisa, e assim, por meio desse empirismo é que esse papel vai sendo preenchido com informações. Locke apresenta para explicar esse processo de apreensão alguns passos nos quais a mente alcança as verdades. De um modo geral ele diz que os sentidos entram em contato com ideias particulares, a partir daí, do início do processo de preenchimento mental, a mente seleciona as ideias do seu interesse e as guarda na sua memória, depois vai assimilando e apreendendo o uso dos seus nomes, assim, a mente acumula ideias e vai enriquecendo-se com a linguagem, e, portanto, por meio desses materiais (ideia e linguagem) a razão vai ampliando seu campo abrangente de uso. Locke destaca que há ideias mais simples de serem compreendidas e outras mais complicadas, mas isso não quer dizer que por ser mais simples ela é a priori, ou inata. Concorda que existe evidência por si mesmo, ou seja, são apreensíveis imediatamente quando o sujeito entra em contato, mas isso não depende das impressões inatas. Locke no seu ensaio ainda discorre longamente, e com muitos exemplos prova que a mente realmente é incapaz de possuir princípios ou ideias inatas, seu trabalho é importante porque contribui para aprofundamentos na ciência especulativa e para os diversos ramos do empirismo moderno emergente no seu tempo. ABSTRACT Thisarticleaims todiscussabouthuman thought, more preciselyon itsabilitytounderstand.Have, therefore, from thethought ofJohnLocke, thecritique ofinnateness, or disagreeing withtherationalistlinethatpreachesthatthe human mindis bornendowed withinnateprinciplesandideas, JohnLockecomparedthe mindasatabularasahascounterargumentsandprobablethatthe mindhas noknowledgesincebirth. Keywords:Understanding. HumanMind.Innateness.JohnLocke. Empiricism.
  • 8. BIBLIOGRAFIA LOCKE, John. Ensaio a cerca do entendimento humano. 5. Ed. Tradução de AnoarAiex. São Paulo: Nova Cultura, 1999. (Os Pensadores)