Este documento discute os benefícios do ensino da capoeira na educação física escolar em Barra do Corda, Maranhão. A capoeira é uma manifestação cultural brasileira que promove o desenvolvimento motor e social das crianças, além de resgatar a história e a resistência do povo negro. O autor argumenta que a capoeira deve fazer parte do currículo escolar por contribuir para a formação cidadã dos alunos e valorizar a cultura nacional.
1. 2011
Meus Estudos de Capoeira em
Barra do Corda/MA
Leonardo Delgado
29/10/2011
2. Sumário
UNIDADE I: CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Problema
Objetivo Geral
Conteúdos de Aprendizagem
Dimensão Conceitual
Dimensão Procedimental
Dimensão Atitudinal
Sugestões Metodológicas
Avaliação
UNIDADE II: HISTÓRIA DA CAPOEIRA
Origem da Capoeira
Capoeira das raízes africanas à origem brasileira
Capoeiristas Históricos
Cronologia
CAPOEIRA NO MARANHÃO
1° Mestre
Mestre Patinho
CAPOEIRA EM BARRA DO CORDA
Mestre Marreta
GABA (Grupo Angoleiros da Barra)
Irapuru Iru Pereira
UNIDADE III: ESTILOS DE CAPOEIRA
Capoeira Angola
Mestre Pastinha
Capoeira Regional
Capoeira Contemporânea
Uniforme dos Angoleiros
Uniforme dos Capoeiras da Regional
Graduação
A ginga e alguns golpes de ataque e defesa
Roda de Capoeira
Curiosidade
UNIDADE IV: INSTRUMENTOS E MÚSICA NA CAPOEIRA
Instrumentos
Berimbau
Pandeiro
Atabaque
Agogô
Confecção dos Instrumentos
Vocabulário Básico da Capoeira
REFERENCIAL
3. UNIDADE I: CAPOEIRA NA EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR
Leonardo Delgado
Este material tem como objetivo analisar e discutir a proposta da utilização do
tema Capoeira na Educação Física Escolar para a disciplina de Educação Física no ensino
fundamental no município de Barra do Corda/MA. A partir de nossa pesquisa bibliográfica,
encontramos alguns pontos importantes a serem tratados nesse trabalho sobre a capoeira.
É importante salientar que a Capoeira inicialmente foi inserida na escola como
uma atividade extracurricular, ganhou seu espaço nos currículos escolares mediantes
publicações como a metodologia do ensino de educação (Coletivos de Autores) e através dos
parâmetros curriculares nacionais da educação física (PCN), como parte dos conteúdos de
lutas presentes na Educação Física Escolar.
Nossa proposta ao trabalhar o conteúdo capoeira na educação física escolar vem
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
da necessidade de estarmos contribuindo para a ampliação dos conhecimentos dos alunos,
partindo do pressuposto de que a capoeira não é apenas um saber que se traduz num saber
fazer, num realizar "corporal", sendo a Educação Física a disciplina que estuda
pedagogicamente a cultura corporal do movimento e suas manifestações, só isso já coloca a
capoeira como conteúdo obrigatório, pois não se pode negar que a capoeira e suas diferentes
modalidades fazem parte da cultura do Brasil.
A capoeira nasceu nas senzalas, como luta de libertação da classe dominada
contra o regime de escravidão existente na época. Foi perseguida, e, no plano de resistência
ideológica, agrediu, por muitos anos, os códigos das culturas dominantes. Hoje, encontra‐se
presente em diversos segmentos sociais do mundo, sendo realidade sua prática no ensino
fundamental, médio e superior. Entretanto, trata‐se de um conteúdo pedagógico pouco
estudado e fundamentado em sua estrutura técnica e cultural para o cotidiano escolar.
Com essa temática de pesquisa, junto ao problema proposto, buscamos legitimar
a importância de sua prática na escola, enquanto conteúdo da educação física e componente
da cultura corporal de movimento, por se tratar de um tema também presente nos PCNs da
educação física.
Soares et al. (1992) argumenta que a Educação Física brasileira precisa
resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja, trabalhar a sua
historicidade, não desencarná‐la do movimento cultural e político que a gerou. Vamos ao
encontro, novamente, das novas metodologias, nas quais solicitam‐se novos conteúdos para a
Educação Física escolar, conteúdos estes que estejam relacionados ao cotidiano do
brasileiro e que possuam significações histórico‐sociais.
Já não há mais dúvidas de que a capoeira difundiu‐se por todas as camadas e
classes sociais e também já não é um jogo exclusivamente de rua, levando milhões de pessoas
a praticá‐la em escolas, academias, ginásios e centros de Educação Física. Isso faz com que os
profissionais que ensinam a capoeira tenham o máximo cuidado em não ensiná‐la apenas
como luta, mostrando também os aspectos positivos que se pode conseguir com a sua prática,
4. e isso só será conseguido com professores especializados e atualizados com os avanços da
sociedade.
A capoeira é um conteúdo que pode ser contemplado na escola pelos seus
múltiplos enfoques, que possibilitam, a luta, a dança e a arte, o folclore, o esporte, a educação,
o lazer e o jogo.
A mesma deve ser ensinada globalizadamente, deixando que o aluno identifique‐
se com os aspectos que mais lhe convier.
A sua prática na escola possibilita o desenvolvimento de conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais, como autonomia, cooperação e participação social, postura não
preconceituosa, entendimento do cotidiano pelo exercício da cidadania, historicidade etc. No
aspecto motor, especificamente, a capoeira deve ser reconhecida como uma alternativa
rica para o desenvolvimento das estruturas da criança, como esquema corporal,
lateralidade, equilíbrio, orientação espaço‐temporal, coordenação motora etc.
Problema
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
Quais os benefícios do ensino do conteúdo capoeira para a comunidade escolas?
‐ A Capoeira resgata o processo de construção da formação do homem
brasileiro;
‐ A Capoeira simboliza a resistência do homem negro, o qual entrincheirado nos
Quilombos resiste bravamente iniciando a fermentação do longo processo de
construção da cidadania no país.
‐ A Capoeira representa um poderoso instrumento pedagógico capaz de
contribuir de forma efetiva para formação de um homem criativo, autônomo,
dotado de perspicácia e espírito de iniciativa;
‐ As aulas de Capoeira estimulam não só a prática corporal, mas também o
gosto pela música e manipulação de instrumentos musicais tipicamente
brasileiros, contribuindo assim para a valorização da cultura brasileira;
‐ Visto a Capoeira estar propagando‐se nacionalmente, ocupando a cada dia
mais e mais a vida de milhares de brasileiros e com isso tendo um lugar tanto
na mídia televisiva, como nas revistas, jornais e outros meios de comunicação.
E gerando com isso a necessidade da prática da Capoeira com profissionais
competentes. Isto para que a essência desta dança guerreira não seja
desvirtuada e não possa comprometer o bem estar dos praticantes e da
sociedade. Para isso deve‐se buscar essa conscientização nas escolas através
da Educação.
‐ A Capoeira como prática desportiva, proporciona uma melhor saúde corporal,
conseqüentemente ocorre uma melhora em termos de qualidade de vida,
agindo inclusive como método profilático.
‐ Estimula o afetivo, principalmente a auto‐estima, além de integrar os seus
participantes, de modo que o indivíduo passa a se sentir aceito nesse grupo e
com isso a respeitar seus semelhantes, fator fundamental para um bom
convívio social.
‐ Como meio de recreação, a capoeira auxilia na catarse, ou seja, na liberação
das tensões diárias. Com isso vem contribuir para diminuir um dos focos da
violência, que são as tensões e o estresse que estão sujeitos não só os adultos,
mas também as crianças.
5. ‐ Finalmente podemos dizer que capoeira contribui para interação do ser e a
formação de um sentimento de amor e respeito a nossa cultura.
Objetivo Geral
Fazer a reflexão teórico‐metodológica sobre a Capoeira enquanto manifestação
da cultura corporal brasileira, seu histórico, desenvolvimento, seus rituais, seus fundamentos
de jogo, dança, luta e ginástica, suas implicações sociais contemporâneas e seus limites e
possibilidades de ensino no contexto escolar.
Conteúdos de Aprendizagem
Coll et. al (2000) definem conteúdos como uma seleção de formas ou saberes
culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças,
sentimentos, atitudes, interesses modelos de conduta etc. cuja assimilação é considerada
essencial para que se produzam um desenvolvimento e uma socialização adequados ao aluno.
Dessa forma, quando nos referimos a conteúdos, estamos englobando conceitos,
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
idéias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras, habilidades cognoscitivas, modos de
atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho de lazer e de
convivência social, valores, convicções e atitudes.
É preciso levar em conta ás seguintes questões: o que se deve saber? (dimensão
conceitual), o que se deve saber fazer? (dimensão procedimental), e como se deve ser?
(dimensão atitudinal), com a finalidade de alcançar os objetivos propostos.
Dimensão Conceitual
- Conhecer as transformações pelas quais passou a capoeira em relação a
sociedade e relacioná‐las com o contexto histórico da época;
- Conhecer as mudanças pelas quais passaram a capoeira em função da
marginalização;
- Conhecer os estilos de capoeira e alguns dos vários fundamentos técnicos,
toques e músicas.
Dimensão Procedimental
- Vivenciar e adquirir alguns fundamentos básicos da capoeira, golpes, musicas e
toques. Por exemplo, praticar a ginga e a roda da capoeira;
- Vivenciar diferentes ritmos e movimentos relacionados a capoeira, como
angola, regional e contemporânea;
- Vivenciar situações de brincadeiras e jogos.
Dimensão Atitudinal
- Valorizar o patrimônio cultural da capoeira em seus diferentes contextos e
estilos,
- Respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas com atitudes de
diálogo e não‐violência.
- Predispor‐se a participar de atividades em grupos, cooperando e interagindo;
6. - Reconhecer e valorizar atitudes não‐preconceituosas relacionadas a
habilidade, sexo, religião e outras.
- Adotar o hábito de praticar atividades físicas visando à inserção em um estilo
de vida ativo.
Com base nisso iremos abordar Na Unidade I: os fatores que justificam a presença
desse conteúdo na escola; Na Unidade II: Os elementos que deram origem a capoeira, no
Brasil, no Maranhão e em Barra do Corda; Na Unidade III: os estilos de capoeira, uniformes,
graduações, fundamentos, rodas e curiosidades; Na Unidade IV: será estudado a musicalidade
da capoeira, com seus instrumentos, toques e musicas
Sugestões Metodológicas
- Projeção de vídeos e filmes;
- Pesquisa e discussão dos resultados.
- O movimento de ginga, no ritmo de Angola.
- Exercícios específicos: aú, cocorinha e negativa (demonstração prática);
- Movimentos de ataque e defesa, executando golpes individualmente ou em
duplas.
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
- Movimentos de golpes de defesa e contra ataque.
- Exercícios em duplas.
Utilização de vídeos
O vídeo ‐ filmes, documentários, reportagens especiais ‐ é um recurso importante
no ensino da educação física, desde que permita estabelecer relações com os temas que estão
sendo abordados em aula.
A utilização desse suporte exige, entretanto, alguns cuidados por parte do
professor:
- Primeiramente, é indispensável que assista ao vídeo com antecedência, para
destacar os aspectos a levantar na discussão do filme com a turma.
- Ao assistir ao programa, será útil que elabore um roteiro de observações e,
inclusive, selecione as passagens mais relevantes, que poderão ser re‐exibidas
durante o debate.
- Antes de iniciar a exibição do vídeo, ele deve conversar com os alunos sobre
as questões a serem observadas, facilitando, pela roteirização, a compreensão
dos objetivos da atividade e sua realização.
Coleta de Informações na Internet e na Mídia Impressa
As práticas da cultura corporal podem constituir‐se em objetos de estudo e
pesquisa sobre o homem e sua produção cultural. Alem de proporcionar fruição corporal, a
aula de educação física pode propiciar reflexão sobre o corpo, a sociedade, a ética, a estética e
as relações inter e intrapessoais. Assim, a vivência das práticas corporais pode ser ampliada
pelo conhecimento sobre o que se pratica, buscando respostas mais complexas para questões
especificas.
7. Avaliação
Os alunos podem ser avaliados:
- De forma sistemática por meio da observarão das situações de vivência, de
perguntas e respostas formuladas durante as aulas.
- De forma específica, em provas, pesquisas, relatórios, apresentações ele. Para
que os alunos com dificuldades em algumas formas de expressão não sejam
prejudicados pelo tipo de avaliação, e muito importante que as formas de
verificação do conhecimento sejam as mais diversificadas possíveis.
O emprego da observação no processo de avaliação apresenta uma série de
vantagens. Ela é, por exemplo, diagnostica, como preconiza Resende (1995); as aulas não
precisam ser interrompidas; o ambiente continua o mesmo; e, finalmente, ela permite a
avaliação do comportamento na sua totalidade.
A avaliação em educação física deve considerar a observação, a analise e a
conceituação de elementos que compõem a totalidade da conduta humana, ou seja, a
avaliação deve estar voltada para a aquisição de competências, habilidades, conhecimentos e
atitudes dos alunos.
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
Ela deve abranger as dimensões cognitiva (competências e conhecimentos),
motora (habilidades motoras e capacidades físicas) e atitudinal (valores), verificando a
capacidade de o aluno expressar sua sistematização dos conhecimentos relativos à cultura
corporal em diferentes linguagens ‐ corporal, escrita e falada. Embora essas três dimensões
apareçam integradas no processo de aprendizagem, nos momentos de formalização a
avaliação pode enfatizar uma ou outra delas, Esse é outro motivo para a diversificação dos
instrumentos, de acordo com as situações e os objetivos do ensino.
Mãos à Obra
Agora que o leitor já conhece um pouco de nossa concepção da educação física
escolar, passamos a apresentar uma proposta de desenvolvimento do conteúdo Capoeira para
o segundo segmento do ensino fundamental. A proposta não teve como preocupação
sistematizar a capoeira de forma hierárquica e gradativa, que distribuiria os conteúdos por
ciclos e/ou séries. Essa tarefa fica a cargo do professor que poderá se pautar em nossas
sugestões e ir além delas. No momento procuraremos oferecer aos professores sugestões
didático‐metodológicas para o tratamento dos conteúdos, por meio de vivências, leituras,
discussões pesquisas e outras estratégias que possibilitem uma re‐significação da cultura da
capoeira nas aulas de educação física.
8. UNIDADE II: HISTÓRIA DA CAPOEIRA
Leonardo Delgado
INTRODUÇÃO
A capoeira é um esporte, uma luta, uma dança,
um jogo. Afinal de contas, o que é a capoeira? Na verdade, é
um pouco de tudo isso. A capoeira é uma manifestação
genuinamente brasileira, criada pelos escravos africanos
trazidos para o país.
A capoeira é uma manifestação da cultura
brasileira e é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e
complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras,
além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas muito peculiares:
trata‐se de um misto de luta‐jogo‐dança praticada ao som de instrumentos musicais
(berimbau, pandeiro e atabaque), palmas e cânticos. Outras expressões culturais, como o
maculelê e o samba de roda, são muito associadas à capoeira, embora tenham origem e
significados diferentes. Por tudo isso a capoeira vem obtendo cada vez mais espaço nas
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
instituições educacionais como escolas de primeiro e segundo graus e universidades e sendo
cada vez mais reconhecida em todas as instâncias da sociedade brasileira.
A palavra capoeira é originária do tupi‐guarani, refere‐se às
áreas de mata rasteira do interior do Brasil. Foi sugerido que a capoeira
tenha obtido o nome a partir dos locais que cercavam as grandes
propriedades rurais de base escravocrata. Capoeiristas fugitivos da
escravidão e desconhecedores do ambiente ao seu redor,
freqüentemente usavam a vegetação rasteira para se esconderem da
perseguição dos capitães‐do‐mato.
Há uma grande controvérsia em torno da história da capoeira, sobretudo no que
se refere ao período compreendido entre o seu surgimento ‐ provavelmente no século XVII e o
século XIX, quando aparecem registros confiáveis, com descrições mais detalhadas desta
manifestação.
ORIGEM DA CAPOEIRA
Uma das discussões que mais envolveram os estudiosos da arte‐luta brasileira
girou em torno da questão: a capoeira surgiu na África ou no Brasil? Atualmente considera‐se
uma questão já resolvida, pois a grande maioria dos autores que escrevem sobre a história da
capoeira concordam com a tese de que ela teria sido criada no Brasil pelos negros africanos
trazidos pelos portugueses a partir do início da colonização para o trabalho escravo na lavoura,
na pecuária, mineração e em atividades urbanas.
Não pretendemos aprofundar aqui o debate sobre o surgimento da capoeira, mas
convém observar que a questão é realmente complexa. Os que defendem que a capoeira
surgiu no Brasil, apoiavam‐se no argumento de não existir atualmente (nem há registros
históricos conhecidos) qualquer forma de luta criada e desenvolvida pelos escravos nas outras
ex‐colônias do continente americano, que também receberam grandes quantidades de negros
9. africanos vindos das mesmas regiões, em alguns casos,
daqueles trazidos para o Brasil. Na realidade, esse não é um
argumento suficiente para provar a origem brasileira da luta,
pois várias manifestações culturais bastante próximas da
capoeira, reunindo características de luta e dança, já foram
identificadas em outros países da América Latina. A idéia de
que a capoeira seria uma luta africana, trazida pelos cativos,
apoiava‐se no fato de que ainda hoje, no continente africano,
existem danças rituais com características de luta (denominadas, entre outras, Cujuinha,
Uianga, Cuissamba e Dança da Zebra)
Para alguns autores, a capoeira praticada em terras brasileiras seria simplesmente
uma variação dessas danças, que teria se tornado extremamente útil em situações de luta
corporal contra o branco colonizador. Assim, de acordo com a organização que as
comunidades negras conseguiam constituir no Brasil nos primórdios da colonização (seja nos
quilombos, ou nas próprias senzalas, preparando os movimentos de rebeldia e as fugas) seriam
recuperados os elementos dessas danças‐lutas ancestrais.
Na verdade, a controvérsia se justifica pela complexidade da questão e pela
dificuldade na obtenção de documentos que relatem a vida dos escravos durante os primeiros
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
séculos de escravidão no Brasil. É sabido que em 15 de dezembro de 1890 o então Ministro
das Finanças Ruy Barbosa mandou incinerar, no âmbito do Ministério da Fazenda, os
documentos que se referiam à escravidão, alegando que se deveria apagar da memória
brasileira essa lamentável instituição. Os historiadores atribuem tal ordem a uma estratégia
que procurava evitar que os ex‐proprietários de escravos buscassem junto ao governo uma
compensação dos prejuízos que tiveram com a abolição da
escravatura, em 1888. Provavelmente esses documentos
nos trariam muitas informações sobre a vida dos escravos,
suas fugas, suas formas de resistência à escravidão. Mas
sua destruição não pode ser tomada, como se faz
habitualmente nos debates sobre a capoeira, como
obstáculo intransponível à reconstituição da história da
resistência à escravidão. A historiografia sobre o tema tem
nos mostrado isso constantemente.
Muito embora seja suficientemente esclarecido que a capoeira, como a
conhecemos hoje, é uma luta surgida no Brasil, é preciso considerá‐la como parte da dinâmica
constante da cultura afro‐brasileira. Assim, a capoeira surgiu de um conjunto de aspectos pré‐
existentes nas culturas das comunidades africanas (rituais, danças, jogos, cultura musical etc.).
O aparecimento da capoeira deve ser pensado, de certa forma, como as próprias artes
marciais tradicionais do Oriente, que são a expressão da filosofia de seus povos criadores e
que estão integradas às outras instâncias da vida social, como a religião e o trabalho. Sabe‐se,
por exemplo, que diversas armas utilizadas nessas artes marciais derivam de instrumentos de
trabalho agrícola, e algumas cerimônias ou simbologias se referem às tradições religiosas dos
orientais.
É assim que devemos compreender a questão: a capoeira surgiu no Brasil como
luta de resistência de uma comunidade que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra
de origem e que precisou desenvolver um conjunto de técnicas de ataque e defesa em virtude
da situação de opressão em que vivia durante a escravidão. Aliás, devemos considerar que a
capoeira faz parte de todo um processo de resistência dos negros no Brasil, que também se
expressou na religião, na arte, na culinária etc. Em outras palavras: era necessário aos negros
10. não só permanecerem vivos e lutarem pela sua liberdade era preciso também preservar
aspectos de sua cultura ancestral.
Dessa forma, o surgimento da capoeira se
confunde com a história da resistência dos negros no
Brasil. Eis porque a maioria dos autores que escreveram
sobre a questão associam o aparecimento da capoeira ao
surgimento dos primeiros quilombos no Brasil. Alguns
chegam a se referir especificamente ao Quilombo dos
Palmares (que foi o que reuniu um número maior de
pessoas, cerca de 25 mil, e foi destruído em 1694) como
sendo o berço da capoeira. Já em 1928, Annibal
Burlamaqui, no livro Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada, destaca a
superioridade do quilombola no combate com os capitães do mato, devido a um "jogo
estranho de braços, pernas, cabeça e tronco" utilizado pelos fugitivos. (Annibal Burlamaqui
não indica a fonte dessa informação, o que a torna duvidosa).
Desta primeira publicação até hoje, muitos têm repetido a afirmação de que a
capoeira surgiu nos quilombos sem, no entanto, apresentar provas mais concretas. Do ponto
de vista científico, apenas se pode sustentar essa idéia como uma hipótese a ser comprovada
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
por estudos futuros. Porém, é verdade inquestionável que os quilombos representavam uma
atmosfera de liberdade, de recuperação dos rituais e danças africanas e de convívio social que,
somadas à situação de opressão podem ter dado origem à capoeira.
Os estudos históricos sobre o Quilombo dos Palmares desenvolvidos por
pesquisadores renomados como Édison Carneiro, Clóvis Moura, Décio Freitas e Joel Rufino dos
Santos, embora não se refiram especificamente à capoeira, descrevem detalhadamente (e
sobre isso há vasta documentação) as violentas guerras travadas ao longo de quase cem anos
na Serra da Barriga (que à época se localizava em território da capitania de Pernambuco, atual
estado de Alagoas) entre os fugitivos e as tropas enviadas para a destruição do quilombo.
Dificilmente terá existido, em toda a história do Brasil, um ambiente mais propício para o
surgimento de uma modalidade de luta como a capoeira.
Um quadro de Johan Moritz Rugendas intitulado
"Jogar Capoeira ou Danse de la Guerre", de 1835, é
considerado o primeiro registro preciso sobre a capoeira.
Neste quadro dois negros se situam em posição de luta
enquanto um outro, sentado, toca um atabaque que segura
com as pernas. Outros negros, homens e mulheres, assistem
à luta (ou jogo) que se realiza.
Ao longo do século XIX a capoeira torna‐se uma nítida expressão da situação
vivida pelo negro no Brasil. As mudanças ocorridas na economia e na política do Império
vinham gerando um intenso processo de desescravização. Lembremo‐nos de que a Lei Eusébio
de Queirós, de 1850, já havia proibido o tráfico negreiro para o Brasil. A lógica do sistema
econômico mundial e brasileiro impunha a substituição do negro pelo trabalhador imigrante, e
isso gerava uma inevitável situação de marginalidade. A capoeira floresceu dessa forma, e são
inúmeros os relatos de jornais do século passado que narram as aventuras dos capoeiras (esse
nome, até meados deste século, era utilizado para designar o lutador; a luta era denominada
capoeiragem).
11. Naquela época, a capoeira reunia não só ex‐escravos e seus filhos, mas também
figuras importantes da sociedade. Aos poucos a capoeira foi se envolvendo com a vida política
e chegou a ser amplamente utilizada como arma na luta entre as facções que se enfrentavam
nos tempos do Império e nos primórdios da República, sobretudo nas cidades do Rio de
Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo. Os capoeiras eram contratados para interferir em
comícios, tumultuar eleições e fazer a segurança de figurões da política. O sociólogo José
Murilo de Carvalho, analisando as ocorrências policiais do Rio de Janeiro do século passado,
calcula em cerca de vinte mil o número de capoeiras cariocas existentes às vésperas da
Proclamação da República (1889), o que nos dá uma idéia da importância desse segmento na
sociedade da época.
Muito tempo se passou até que a capoeira superasse esse estigma de mazela
social. Pode‐se afirmar que a história da capoeira nos últimos cem anos tem sido a trajetória
de sua inserção e institucionalização na sociedade brasileira. Aos poucos foi sendo reconhecida
como expressão do folclore nacional, como técnica eficiente de luta e, mais recentemente,
como instrumento educativo importantíssimo para a consciência de nossa cultura.
Esse processo de desenvolvimento da capoeira teve como figura chave o
capoeirista baiano conhecido como Mestre Bimba, que merecerá nossa atenção especial mais
adiante. Mestre Bimba criou por volta de 1930 a Capoeira Regional, uma variação da capoeira
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
tradicional (conhecida como Capoeira Angola) que incluía uma série de inovações e métodos
de ensino.
O desenvolvimento técnico da capoeira nas últimas décadas foi imenso, e não
pára de ocorrer. O contato com outras modalidades de luta e com os métodos científicos de
treinamento desportivo têm exigido dos capoeiristas um intenso esforço de atualização e
sistematização de seus conhecimentos.
Capoeira das raízes africanas à origem brasileira
Várias sociedades africanas que falavam línguas semelhantes foram chamadas de
banto pelos europeus. Acredita‐se que os bantos eram da atual região de Camarões e, em
cerca de 1000 a.C, começaram a migrar para o sul. Essa migração se estendeu até os séculos III
e IV d.C, levando os bantos a se concentrar no centro‐sul da África, nas atuais regiões de
Angola, Congo, República Democrática do Congo, Uganda, Namíbia, Zâmbia, Moçambique,
Botsuana
Nas novas regiões que ocuparam, os bantos introduziram a metalurgia, a
agricultura e a forma de governo centralizada. Formaram sociedades matrilineares, nas quais
as terras cultivadas eram consideradas dos antepassados, as florestas eram comunitárias e o
trabalho, individual.
Nos primeiros séculos do tráfico de escravos, foram
trazidos para as Américas, escravizados, muitos negros de grupos
bantos. Esses grupos foram maioria na Bahia, em Alagoas,
Pernambuco, no Maranhão, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro e, em
muitos momentos, reproduziram aqui sua organização social
(especialmente nos quilombos), sua arte e sua visão de mundo. A
capoeira, a congada, as danças e cerimônias cateretê, caxambu,
batuque, samba, jongo, lundu, maracatu e coco de zambê são herança
banto.
12. O candomblé de angola, com o qual a capoeira angola mantém ligações, também
é expressão de origem banto.
Capoeira é uma palavra de origem tupi que significa vegetação que nasce após a
derrubada de uma floresta. No Brasil Colônia, esse nome foi também dado ao "jogo de
angola", que apareceu nas fazendas e cidades desde que os primeiros grupos de negros de
origem banto foram escravizados e trazidos para cá.
A capoeira praticada em senzalas, ruas e quilombos foi vista como uma ameaça
pelos governantes, que, em 1821, estabeleceram medidas de repressão à capoeiragem,
incluindo castigos físicos e prisão. Essas medidas policiais contra a capoeira só deixaram de
vigorar a partir da década de 1930, mas isso não significou que passasse a ser plenamente
aceita e que seus praticantes tivessem a simpatia da sociedade brasileira.
O "jogo de angola" não foi aceito como uma forma de expressão corporal de
indivíduos e grupos, em sua maioria negros, organizados, pensantes e vigorosos. Foi
transformado em folclore, com a diminuição de seu significado grupal para os participantes e,
depois, em esporte ou arte marcial. Mas a forma não esportiva da capoeira também
permaneceu, ligada a grupos de capoeira angola.
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
Assim, surgiram dois ramos da capoeira nas décadas de 1930 e 1940, que se
distinguiram mais efetivamente a partir dos anos 70. Ocorreu, por um lado, a mobilização de
grupos de resistência cultural afro‐baiana, que perceberam nos poucos grupos angoleiros a
manutenção dos elementos da capoeira trazidos pelos negros bantos, e, por outro lado, a
organização da capoeira esportiva (capoeira regional) como arte marcial.
Capoeiristas Históricos
‐ Besouro Mangangá: capoeirista baiano do século XIX, imortalizado nas
músicas da capoeira.
‐ Manduca da Praia: temido capoeirista no Rio de Janeiro do século XIX.
‐ Madame Satã: polêmico capoeirista do Rio de Janeiro do século XX, sua vida
foi retratada em filme.
‐ Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha): fundou a primeira escola de
capoeira legalizada pelo governo baiano.
‐ Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado): criador da capoeira regional
Cronologia
‐ 1548 – Iniciam a imigração forçada de escravos africanos para o Brasil.
‐ 1712 ‐ Primeiro registro escrito do termo capoeira, no Vocabulário Português e
Latino, do Padre D. Rafael Bluteau, seu significado, contudo não se refere à
luta.
‐ 25 de Abril de 1789 ‐ Primeira menção da capoeira em registros policias na
prisão de Adão, pardo, escravo, acusado de ser "capoeira",. [Nireu Cavalcanti,
"O Capoeira", Jornal do Brasil, 15/11/1999, citando do códice 24, Tribunal da
Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro]
13. ‐ 1809 – D. João VI criou a Guarda Real de Polícia, para seu chefe foi nomeado o
major Nunes Vidigal. Persegidor notório de capoeristas, o major Vidigal era por
si só um exímio capoerista.
‐ 1813 – Antonio de Moraes Silva acrescenta o termo capoeira no Diccionario da
Lingua Portugueza composto originalmente pelo Padre D. Rafael Bluteau.
‐ 1821 – Carta da Comissão Militar do Rio de Janeiro enviada para Carlos
Frederico de Paula, Ministro da Guerra, requisitando o retorno dos castigos
aos capoeiristas.
‐ 1826 ‐ O artista francês Jean Baptiste Debret retrata um tocador de berimbau
em "Joueur d'Uruncungo".
‐ 1828 – Os capoeiras sempre tidos como marginais e desordeiros ajudando a
conter a Revolta dos Mercenários.
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
‐ 1835 – Pela primeira vez é retratado o jogo de capoeira pelo alemão Johann
Moritz Rugendas no livro Voyage Pittoresque dans le Brésil com as gravuras
"JOGAR CAPOEIRA ou Danse de la guerre" e "SAN SALVADOR".
‐ 13 de Maio de 1888 ‐ A Princesa Isabel decreta a Lei Áurea abolindo a
escravatura no Brasil.
‐ 1890 ‐ Apesar dos capoeristas terem um papel heróico na Revolta dos
Mercenários e na Guerra do Paraguai, o Governo Republicano instaurado em
1889 continuou a política de repressão à Capoeira do período Imperial, e em
1890 editou um decreto criminalizando a prática da Capoeira.
‐ 1932 ‐ Mestre Bimba funda a primeira academia oficial de capoeira.
‐ 1941 ‐ Mestre Pastinha funda a primeira academia oficial de Angola.
‐ 1949 ‐ Mestre Bimba leva alguns alunos à São Paulo para competir com outras
lutas. Na década de 1950, Mestre Bimba viajou vários estados apresentando a
capoeira. Começa a expansão da capoeira baiana pelo território brasileiro.
‐ 1953 ‐ Em Salvador, Mestre Bimba e seu alunos se apresentam no Palácio do
Governo para o governador da Bahia Juracy Magalhães e o presidente da
República Getúlio Vargas. Getúlio teria dito então: "a única colaboração
autenticamente brasileira à educação física, devendo ser considerada a
nossa luta nacional".
‐ 1966 ‐ Mestre Pastinha leva uma comitiva de capoeiristas ao Premier Festival
International des Arts Nègres, em Dakar. A capoeira começa a expandir para o
mundo.
14. CAPOEIRA NO MARANHÃO
O 1º Mestre
O Mestre Firmino Diniz ‐ nascido em 1929 ‐ que é considerado o mestre mais
antigo de São Luís, teve os primeiros contatos com a capoeira na infância, através de seus tios
Zé Baianinho e Mané. Lembra ainda de outro capoeirista da época de sua infância, Caranguejo;
Mestre Diniz teve suas primeiras lições no Rio de Janeiro com "Catumbi", um capoeira
alagoano. Diniz era o organizador das rodas de capoeira e foi um dos maiores incentivadores
dessa manifestação na cidade de São Luís, nos anos 30 e 40.
Segundo o professor Leopoldo Gil Dulcio Vaz1:
"A Capoeira no Maranhão tem seu inicio ‐ segundo os registros mais
antigos encontrados até agora ‐ em 1835! De acordo com
depoimentos dos Mestres atuais, teve um recomeço por volta dos
anos 60, com a vinda de um grupo ‐ do mestre Canjiquinha, Aberrê ‐
no qual veio junto Mestre Sapo; que retorna depois, se fixando em
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
São Luis. Diz a lenda que fora convidado por Sarney, para ser seu
guarda costas. Ganhou emprego público, para ensinar a capoeira,
num período em que houve a revitalização do esporte no Maranhão,
comandado por Cláudio Vaz dos Santos; a capoeira foi incluída entre
os esportes que ganharam escolinha no Ginásio Costa Rodrigues, com
Sapo no comando. Naturalmente que a Capoeira tinha seus adeptos,
sendo citado como o mestre principal, ou mais importante naquela
época ‐ anterior aos anos 60 ‐ Roberval Serejo. No depoimento de
Mestre Patinho são citados alguns dos praticantes, com a fundação
do primeiro grupo, do qual Roberval já participava".
Em 1966 ‐ Mestre Canjiquinha(Washington Bruno da Silva, 1925‐1994), e seu
Grupo Aberrê passaram pelo Maranhão, apresentando‐se na cidade de Bacabal, no teatro de
Arena Municipal.
E em São Luís do Maranhão, no Palácio do Governador, no Jornal Pequeno, TV
Ribamar na Residência do Prefeito da capital e no Ginásio Costa Rodrigues.
Acompanhavam Mestre Canjiquinha, o Sapo (Anselmo Barnabé Rodrigues ainda
com 17 anos), O Mestre Brasília (Antônio Cardoso Andrade), e Vitor Careca, os três, na época,
todos eram menores de idade.
1968 ‐ Mestre Sapo retorna ao Maranhão, diz alguns que fora convidado por
Sarney, para ser seu guarda costas. Ganhou emprego público, para ensinar a capoeira, num
período em que houve a revitalização do esporte no Maranhão, comandado por Cláudio Vaz
dos Santos, a capoeira foi incluída entre os esportes que ganharam escolinha no Ginásio Costa
Rodrigues, com Mestre Sapo no comando.
1
O texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ. Capoeiragem no Maranhão, publicado em 18/04/2005,
disponível online via: http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/capoeiragem+no+maranhao
15. A partir de 1970, Mestre Sapo começou a formar seu grupo de capoeira, passando
a ministrar aulas em uma academia de musculação, localizada na Rua Rio Branco, e no mesmo
ano Roberval Serejo vem a falecer, e alguns de seus alunos, passam a treinar com Mestre
Sapo. Que logo forma um grupo com muitos alunos, e os que não entraram em seu grupo,
treinavam paralelamente, faziam rodas, coisas que o Mestre Sapo não gostava e por muitas
vezes ele mesmo chamava a policia, pois a capoeira do maranhão, ainda vivia em repressão,
acredita‐se que tal atitude era, para ser o centro das atenções, já que era o único que tinha se
organizado, e tido o apoio do governo.
O Mestre Sapo em uma de suas viagens, no final dos anos 70, conheceu o Mestre
Zulú, em Brasília. Foi quem o graduou Mestre. A partir de então, Mestre Sapo implantou em
São Luís o sistema de graduação, através de cordel, seguindo as cores adotadas pelo Mestre
Zulú. Mas quem o iniciou na capoeira foi Natalício Neves da Silva, O Mestre Pelé de Salvador.
Desta forma o Mestre Sapo se tornou a maior referência da capoeira do
Maranhão. Mestre Sapo faleceu no ano de 1982, vítima de acidente de Transito. No Bairro da
Cohab.
Fonte: http://associaogrupokdecapoeira.blogspot.com/2009/07/capoeira‐do‐maranhao.html
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
Mestre Patinho 2
ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS
– Mestre Patinho – nasceu em São Luís, em 14 de
setembro de 1953, no Bairro São Pantaleão; filho de
Djalma Estafanio Ramos e de Alaíde Mendonça Silva
Ramos;
Década de 60 ‐ Babalú, um apaixonado
pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da
marinha de Guerra, também aprendeu com o
mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur
Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber
fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participaram Firmino Diniz e
seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a
capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando.
1966 ‐ esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e
seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido
Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não
foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava
assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul‐americano
de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total
domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como
navalha, faca, etc. Tacinho convidou‐os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois
era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da
apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi
possível porque eram de menor.
2
Mestre Patinho, publicado em 27 de fevereiro de 2009. Disponível on line via: http://sala‐prensa‐
internacional‐fica.blogspot.com/2009/02/antonio‐jose‐da‐conceicao‐ramos‐mestre.html
16. 1968 ‐ Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao
Maranhão.
‐ Está tendo uma roda de capoeira no Olho d´Água com o Mestre Sapo,
coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos
tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas.
‐ Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a
Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do
primeiro e segundo Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no
peso pesado. Me intensifiquei pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São
Paulo, estudar capoeira.
Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio do Rio,Catumbi e Djalma
Bandeira que todos foram alunos de Aberrê.
Fonte: RODRIGUES, Inara. Patinho: vida dedicada à capoeira. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 14
de setembro de 2003, Domingo, p. 6. Caderno de Esportes
CAPOEIRA EM BARRA DO CORDA
Meus estudos sobre capoeira ‐ Leonardo de Arruda Delgado
Mestre Marreta 3
No dia 14 de fevereiro nasce o filho de José Basílio e Maria
Firmina de Jesus. Ele não sabia, mas a vida deste menino reservava um
destino muito especial voltado a uma arte presente nas raízes brasileiras
desde o tempo da escravidão: a Capoeira. Nasce então, Edvaldo Jesus dos
Santos que mais tarde se tornaria Mestre Marreta!!!
Ainda criança, Edvaldo morou no Bairro Periperi na cidade de Salvador – BA,
juntamente com seus pais e seis irmãos. Estudou e conclui o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio na Escola Almirante Barroso. Aos 14 anos trabalhou numa oficina de pintura; três anos
depois, alistou‐se no exército, onde ficou de excesso contingente no período de um ano, tendo
recebido posse da carteira de reservista em 1982.
Ainda com 17 anos de idade, Edvaldo entrou no Grupo de Capoeira Obalafom (seu
primeiro contato com o mundo da capoeira), tendo como professor Djalma Marinho de Sá,
que o treinava na Escola Castelo Branco em Salvador, no Bairro da Urbes às 2ª, 4ª e 6ª feiras.
Aos 18 anos, pôde exercer a função de pintor de auto. No período de 1987 a
1990, trabalhou como coordenador de eventos no Maritim Club Hotel, uma empresa
internacional, possuindo 25 hotéis espalhados em toda a Europa. Lá, ele desenvolvia um
trabalho de Capoeira, uma capoeira show, unicamente para apresentações ao público
turístico; onde havia danças, como Maculelê, Dança dos Cafezais, entre outras muitas danças
do folclórico baiano. No mesmo ano, viajou para Brasília tendo permanecido por três anos,
onde trabalhou no STJ (Supremo Tribunal de Justiça). Em 1993 a 1996 voltou para Salvador
onde trabalhou como segurança de valores da Raimundo Santana S.A.
3
Disponivel On Line: http://www.flogao.com.br/capoeiraflecha/78944277