O documento discute as teorias epistemológicas de Descartes, Hume e Kant. Segundo Descartes, a razão pode conhecer a realidade independentemente da experiência através da dúvida hiperbólica. Hume defende que todo o conhecimento vem da experiência sensível. Kant propõe o racionalismo crítico, onde a razão só conhece os fenômenos e não os númenos.
18. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Vejamos: i) Duvidar é um acto que tem de ser exercido por alguém. ii) Para duvidar, seja do que for e mesmo que seja de tudo, é necessário que exista o sujeito que dúvida iii) A dúvida é um acto do pensamento que só é possível se existir um sujeito que a realiza. Logo, a existência do sujeito que duvida é uma verdade indubitável.
19. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Assim, a célebre afirmação «Penso, logo existo» pode ser traduzida, neste momento, nos seguintes termos: ● Eu duvido de tudo, mas não posso duvidar da minha existência como sujeito que, neste momento, duvida de tudo. Duvido, logo, existo
20. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável Vejamos algumas características desta primeira verdade: 1. Será o alicerce de todo o conjunto de conhecimentos que a partir dela descobriremos. Será o primeiro princípio do sistema do saber. 2. É uma verdade puramente racional. 3. É uma verdade descoberta por intuição. 4. O «cogito» vai funcionar como um modelo de verdade: serão verdadeiros todos os conhecimentos que forem tão claros e distintos como este primeiro conhecimento.
21. A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável 5. Ao mesmo tempo que revela a existência de quem de tudo duvida menos da sua existência, a primeira verdade tem implícita outra: a essência do sujeito que duvida é ser uma substância meramente pensante. 6. Ao mesmo tempo que descubro a minha existência como sujeito pensante, descubro que a alma é distinta do corpo. 7. O Cogito corresponde ao “grau zero” do conhecimento no que respeita aos objectos físicos e inteligíveis. 8. A primeira verdade é a afirmação da existência de um ser que é imperfeito.
22. À descoberta da existência de algo que exista independentemente do sujeito pensante Sei que sou imperfeito porque duvido. Mas qual a condição necessária para considerar que duvidar é uma imperfeição? É a de que eu saiba em que consiste a perfeição. Só comparando as qualidades que eu possuo com a perfeição é que posso dizer que eu, que duvido e não conheço tudo, sou imperfeito. A ideia de um ser perfeito existe no meu pensamento. Corresponde à ideia de um ser que possui todas as perfeições em grau infinito. Mas, se esta ideia existe, será que existe um ser perfeito?
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24. A fundamentação metafísica do saber Deus é omnipotente e perfeito, e como tal, não engana.Por isso é a garantia da objectividade das verdades racionais. O papel da veracidade divina (o facto de Deus não enganar e de ser a fonte de todo o saber) é duplo: a) É a garantia da validade das evidências actuais, isto é, das que estão actualmente presentes na minha consciência. b) É a garantia das minhas evidências passadas, isto é, não actualmente presentes na minha consciência.
25. A recuperação das existência das realidades físicas «Concebo clara e distintamente que sou uma substância pensante, que Deus existe e não me engana e que posso confiar na validade do meu entendimento quando concebe que as coisas sensíveis são extensas.» ● Para mostrar a existência das coisas temos de garantir que a consciência do sujeito pensante não pode por si só explicar determinadas representações que temos das coisas corpóreas, isto é, que aquelas supõem a existência efectiva de corpos exteriores.
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32. O racionalismo de Descartes CONCLUSÃO Podemos conhecer a realidade em si mesma mediante a razão, sem qualquer apoio da experiência. É possível um conhecimento puramente racional – com a crença na veracidade divina – dos princípios gerais que nos permitem compreender toda a realidade.
33. O empirismo de David Hume Para David Hume, todo o conhecimento começa com a experiência . Os dados ou impressões sensíveis são as unidades básicas do conhecimento . Este, divide o conteúdo do conhecimento em duas espécies de consciência ou percepções, são elas: impressões ideias David Hume 1711-1776
34. Impressões e ideias são o conteúdo do conhecimento Impressões: são os actos originários do nosso conhecimento e correspondem aos dados da experiência presente ou actual . As sensações são um exemplo de impressões. Ideias: são as representações ou imagens debilitadas , enfraquecidas , das impressões no pensamento . As deias são uma impressão menos viva, cópia enfraquecida da impressão original. Distinção entre impressões e ideias: As impressões propriamente ditas são todas as nossas sensações. As ideias são imagens enfraquecidas dessas impressões
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40. Os conhecimentos de facto e a relação de causalidade Mas o que significa dizer que A é a causa de B? Significa dizer: Sempre que, em certas condições, acontece A, acontece ou sucede necessariamente B. Mas será que temos experiência desta ideia de conexão necessária? Quando dizemos que, acontecendo A, sempre acontecerá B, estamos a falar de um facto futuro, que ainda não aconteceu. É aqui que Hume diz que ultrapassamos o que a experiência nos permite. Não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiência do que ainda não aconteceu.
41. Os conhecimentos de facto e a relação de causalidade Como nasce então a ideia de uma conexão ou ligação necessária entre causa e efeito? De tantas vezes observarmos que um corpo dilata após um determinado aumento de temperatura acontece isto: sempre que vemos acontecer um dado aumento de temperatura, concluímos, devido ao hábito, que certos corpos vão dilatar. A constante conjunção e sucessão de A e B levam a razão a inventar uma conexão que ela julga necessária, mas da qual nunca teve experiência. A necessidade aqui é meramente psicológica.
42. Os conhecimentos de facto e a relação de causalidade ● Contudo, o cepticismo de Hume não é radical . Hume pensa que não podemos deixar de acreditar na ideia de regularidade constante dos fenómenos porque, sem essa crença , a vida seria impraticável . ● É importante notar que Hume nunca pretendeu com a sua crítica afirmar que não há relações causais no mundo . Não negou o princípio Não há efeito sem causa. Unicamente afirmou que não podemos racionalmente justificar uma tal crença .
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44. Conclusão b) A razão dá-nos conhecimentos acerca da realidade independentemente da experiência? Não. Todo o conhecimento do que existe e acontece no mundo deriva da experiência, embora esta não possa garantir objectividade aos nossos conhecimentos.
45. Conclusão c) Qual a extensão do nosso conhecimento? Até onde pode ir o nosso conhecimento? Podemos conhecer a realidade tal como é em si mesma? O nosso conhecimento não pode estender-se para lá do que é dado na experiência. Se a uma ideia não corresponde uma impressão sensível, não podemos falar de conhecimento objectivo. É o caso da ideia de causa que usamos nas ciências e no dia-a-dia. Julgamos que um fenómeno é a causa de outro, mas da relação causal ou conexão necessária entre dois acontecimentos não temos qualquer impressão sensível. Só desses acontecimentos temos percepção sensível, mas não da relação causal que supostamente os liga.
46. Conclusão d) Como é justificado o conhecimento? O conhecimento de facto seria, em princípio, justificado pela experiência, dadas as bases empiristas da filosofia de Hume. Contudo, ele é, em geral, um conjunto de expectativas que mais tarde ou mais cedo podem ser desmentidas, não podendo ser desmentidas, não podendo ser justificado nem dedutiva nem indutivamente.
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61. Conclusão b) A razão dá-nos conhecimentos acerca da realidade independentemente da experiência? Esclarecido o âmbito legítimo de aplicação do conhecimento, como ele começa e de onde deriva, podemos criticar a razão que pretende, no que respeita ao conhecimento, ser pura. O conhecimento exige o contributo da sensibilidade. Ao contrário de Descartes, Kant não admite a possibilidade de um conhecimento puramente racional. A razão pura – desligada da experiência – nada conhece porque nada encontra para conhecer. Só ligada à sensibilidade – e nesse caso tem o nome de entendimento – a razão pode conhecer objectos. Nenhuma faculdade pode conhecer seja o que for sozinha, por si só.
62. Conclusão c) Qual a extensão do nosso conhecimento? Até onde pode ir o nosso conhecimento? Podemos conhecer a realidade tal como é em si mesma? Se só por meio da sensibilidade o entendimento pode referir-se às coisas e encontrar a matéria do seu conhecimento devemos concluir que conhecer realidades que ultrapassem o plano espácio-temporal, que estão fora do alcance da nossa sensibilidade, é impossível. Essas realidades metafísicas, não sendo objectos da nossa intuição, não poderão ser também objectos de conhecimento científico. O conhecimento científico, embora não derive da experiência, começa com ela e por isso só pode ser conhecimento de realidades empíricas ou sensíveis.
63. Conclusão d) Como é justificado o conhecimento? Uma crença verdadeira será conhecimento e não uma mera opinião se aos nossos conceitos corresponder a intuição empírica adequada. Não se pode justificar a proposição «Deus existe» porque não lhe corresponde qualquer intuição empírica. Estamos equipados com estruturas que nos permitem o conhecimento – as formas do espaço e do tempo, que dão objectos e as formas do entendimento, que conhecem objectos -, desde que essa actividade não pretenda transcender o plano dos objectos naturais.