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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
Stents na Circulação Pulmonar
Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
Marcelo Sabedotti1
, Janaína Huber1
, Nívea Maria Oliveira Guimarães1
, Raul I. Rossi Filho1
1
Serviço de Cardiologia Intervencionista em Cardiopatias Congênitas
do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, RS.
Correspondência: Raul I. Rossi Filho. Av. Dr. Nilo Peçanha, 396/1003
- Porto Alegre, RS - CEP 90470-000
E-mail: rrossi.voy@terra.com.br
Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 03/03/2006
RESUMO
O tratamento das estenoses da árvore pulmonar ganhou
impulso com o desenvolvimento da técnica de angioplastia
com balão sustentada por stent, já no início da década de
noventa. As indicações foram sendo ampliadas com o ganho
de experiência dos serviços envolvidos com o tratamento
destes pacientes, bem como se tornou mais fácil sua utilização
com a melhoria de qualidade dos materiais utilizados. O
propósito deste artigo é fazer breve revisão sobre os tipos
de lesões vasculares pulmonares passíveis de tratamento
intervencionista, bem como discutir indicações e aspectos
técnicos do uso de stents em crianças com estenoses de
ramos pulmonares. Os dados de literatura serão cotejados
com nossa experiência com esta técnica em pacientes
tratados no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.
DESCRITORES: Artéria pulmonar, patologia. Estenose da
valva pulmonar, terapia. Contenedores.
Artigo Original
Quanto à localização, a EAPR pode ser dividida
em quatro tipos7
(Figura 1):
• Tipo I: constrição simples com variado compri-
mento, confinada ao tronco e ramos pulmonares
direito e esquerdo;
• Tipo II: estenose na bifurcação da artéria pulmo-
nar, com envolvimento da parte distal do tronco
da artéria pulmonar e origem dos ramos direito
e esquerdo, podendo ser localizada ou de um
longo segmento;
• Tipo III: estenose de múltiplas artérias pulmona-
res segmentares no seu óstio, com dilatação pós-
estenótica proeminente e tronco e ramos pulmo-
nares proximais normais;
• Tipo IV: múltiplas estenoses envolvendo segmen-
tos periféricos e artérias pulmonares centrais.
O tratamento de estenose ou hipoplasia de artéria
pulmonar com balão tem resultados variados na litera-
tura, com a média de sucesso entre 50% e 60%1-5
.
As indicações de angioplastia são sumarizadas no
Quadro 1.
A falha na angioplastia isolada, assim como aconte-
ce na circulação coronariana, se deve principalmente
SUMMARY
Stents in Pulmonary Circulation
The treatment for pulmonary artery stenosis was boosted
with the introduction of stent-supported balloon angioplasty
in the early nineties. Indications have been expanded with
the experience gained from services involved while using
the technique. Improved materials made available also
made its use easier. The purpose of this article is to review
the types of pulmonary vascular lesions that can be treated
interventionally, as well as discuss indications and technical
aspects for use in children with pulmonary branch stenosis.
The experience gained from the technique used in patients
at the Cardiology Institute in Rio Grande do Sul State will
be compared with literature data.
DESCRIPTORS: Pulmonary artery, pathology. Pulmonary
valve stenosis, therapy. Stents.
A
estenose de artéria pulmonar e ramos (EAPR)
ocorre em 2 a 3% dos pacientes com cardiopatias
congênitas, podendo ser isolada, em associação
com outras doenças ou mesmo adquirida1-5
. As doenças
cardíacas congênitas associadas incluem estenose de
valva pulmonar, comunicação interatrial, comunicação
interventricular, persistência do ducto arterial e tetralogia
de Fallot, entre outras. Além disso, a estenose da arté-
ria pulmonar esquerda pode se desenvolver pelo fecha-
mento do ducto arterioso, com ou sem outras má
formações associadas, sugerindo que a invasão por
tecido ductal, similarmente à coarctação de aorta, seja
o mecanismo responsável6
. Lesões adquiridas ocorrem
com certa freqüência seguindo intervenções cirúrgicas
reparativas ou paliativas, entre elas shunts sistêmico-
pulmonares, bandagem pulmonar, cirurgias para unifo-
calização da suplência pulmonar na presença de atresia
pulmonar com septo aberto, correção de transposição
de grandes vasos e paliações em pacientes com ven-
trículo único.
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
de escolha para estenose ou hipoplasia de artéria e
ramos pulmonares6-30
. Vale a pena comentar que o
tratamento cirúrgico para estenose de artéria pulmonar
tem resultados desanimadores, principalmente pelas
dificuldades técnicas da cirurgia em ramos pequenos
e em pacientes de baixo peso, bem como pela alta
prevalência de reestenose cicatricial.
Entretanto, existem certas lesões, como a estenose
pulmonar supravalvar e da bifurcação da artéria pulmo-
nar, nas quais, levando-se em conta as características
do paciente (tamanho ou doença associada), pode-se
dar preferência ao tratamento cirúrgico. Em situações
de alto risco para o desenvolvimento de estenose de
artéria pulmonar pós-operatória, tais como recém-nasci-
dos de baixo peso com ramos pulmonares hipoplásicos
após procedimento conotruncal, após ligação ductal e
arteriotomia pulmonar em qualquer sítio, o tratamento
combinado de cirurgia e stents parece ser a melhor
escolha29,30
.
O objetivo deste trabalho é descrever, sumariamen-
te, a técnica para implante de stents na circulação
pulmonar, mostrar a nossa experiência com a angioplas-
tia nesta doença arterial e revisar os principais artigos
publicados sobre o assunto.
MÉTODO
A via de acesso mais utilizada para intervenção
nas artérias pulmonares são as veias femorais, mas
pode também ser realizada pelas veias subclávia e
jugular interna ou, ainda, pelas artérias femorais, em
pacientes com shunts sistêmico-pulmonares. Após obten-
ção de acesso venoso, um cateter pigtail é posicionado
na aorta para monitorizar a pressão arterial. As medi-
das hemodinâmicas do lado direito são realizadas e a
magnitude e localização dos gradientes nas artérias
pulmonares são determinadas, idealmente com cateter
de furo terminal. Arteriografias pulmonares são obtidas
seletivamente em projeções ântero-posterior e lateral,
com a obliqüidade necessária para perfilar adequada-
mente a lesão a ser tratada.
A intervenção, em nossa opinião, deve ser sempre
realizada sob anestesia geral, sendo o paciente antico-
agulado com 100u/kg de heparina, mantendo um TCA
de 200s a 250s. Cefazolina profilática é administrada
antes da intervenção e mantida por 24 horas. Todos
pacientes recebem ácido acetilsalicílico antes do proce-
dimento e após por, pelo menos, 12 meses.
Em alguns pacientes, a lesão é pré-dilatada com
balão antes do implante do stent. Isso permite a deter-
minação da expansibilidade do balão e previsão da
eventual eficácia do método. Também serve para deter-
minar o melhor diâmetro, comprimento e localização
do stent.
Em estenoses não críticas, a dilatação primária é
aconselhável, pois o local de menor diâmetro serve
para “ancorar” o stent, durante a inflação do balão.
QUADRO 1
Indicações de angioplastia de artéria pulmonar
1) Estenose central discreta ou subsegmentar da artéria
pulmonar com:
• Hipertensão do ventrículo direito
• Assimetria do fluxo pulmonar
2) Hipoplasia generalizada das artérias pulmonares com:
• Hipertensão do ventrículo direito
• Assimetria do fluxo pulmonar
3) Estenose, hipoplasia ou distorção da artéria pulmo-
nar em pacientes com paliação para ventrículo único
Adaptado de Trivedi et al.29
.
Figura 1 - Tipos de estenose pulmonar. Compilado de Gay et al.7
.
ao recuo elástico após a dilatação1-5
. Desta hipótese
surgiu a idéia de que o tratamento com stents seria
uma opção melhor, fato comprovado por estudos rea-
lizados em vários centros e que documentaram a efe-
tividade desta prática na circulação pulmonar. A angio-
plastia pulmonar suportada por stents é hoje o tratamento
RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28147
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
O stent é manualmente de diâmetro montado sobre
um balão de diâmetro apropriado. Uma bainha longa
(Mullins) é utilizada para proteger o stent enquanto se
ultrapassa a lesão. Duas técnicas podem ser utilizadas.
Na primeira, a bainha longa é posicionada através da
lesão e o stent montado sobre o balão é avançado
através da bainha. Na segunda técnica, o stent monta-
do é avançado até a parte distal da bainha, fora do
paciente, e o sistema é avançado sobre a guia. A
última técnica tem duas vantagens; ela elimina o proble-
ma de avançar o stent sobre os kinks que podem se
desenvolver no caminho e permite o uso de bainhas
menores, vital em lactentes pequenos. O tamanho da
bainha pode variar de 7F a 12F, dependendo do stent
utilizado, sendo que para sua escolha, deve-se tomar
a medida do shaft do balão e adicionar-se 2F. Quando
o stent está adequadamente posicionado, o que é
visualizado através de injeções manuais de contraste,
a bainha é tracionada e o balão expandido. As medidas
hemodinâmicas e as angiografias são repetidas após a
liberação do stent.
RESULTADOS
Entre junho de 1996 e novembro de 2002, 75
stents foram implantados em 66 pacientes, no Instituto
de Cardiologia do Rio Grande do Sul. A idade média
foi de 7 anos (0,1 a 20 anos). A grande maioria dos
pacientes (93,9%) havia sido submetida a cirurgia prévia,
sendo que em 63,6% a cirurgia fora realizada no local
da lesão. As características do procedimento e das doen-
ças associadas estão sumarizadas nas Tabelas 1 e 2.
Estão incluídos, neste grupo de pacientes, stents
isolados para os ramos (Figura 2), stents telescopados,
implantes bilaterais seqüenciais e tratamento da bifurca-
ção pela técnica de kissing stents. A grande maioria
dos pacientes recebeu stents passíveis de redilatação
futura até tamanho compatível com a idade adulta
(Figura 3), embora vários lactentes pequenos, em situa-
ção de urgência ou pelo seu pequeno tamanho e com
risco de perda de leito vascular pulmonar, tenham
sido submetidos ao implante de stents pré-montados,
que terão que ser retirados cirurgicamente no futuro.
Um grupo interessante desta população é a dos
seis pacientes em pós-operatório imediato de cirurgia
de Fontan, acompanhada de estenose grave pós-amplia-
ção de ramo pulmonar. Essas crianças, pelas caracterís-
ticas deste tipo de circulação, encontravam-se critica-
mente doentes e foram tratadas com reperfusão pulmonar
com stent, horas após a operação (Figuras 4 e 5).
Se observarmos a complexidade anatômica da cir-
culação pulmonar do grupo estudado e o estado clíni-
co de muitos dos pacientes, chega a ser surpreendente
o pequeno número de complicações ocorridas.
Ocorreram dois casos de embolização do stent
para artérias pulmonares mais distais, sendo que em
um deles foi realizada cirurgia para retirada do stent
e realização de plastia no ramo pulmonar. No outro
paciente, o stent foi deixado na artéria do lobo inferior
esquerdo, sem complicações tardias. Houve uma fratura
de stent em lactente com estenose de ramo esquerdo
e em pós-operatório de cirurgia de Glenn, sendo ne-
cessário implante de um novo stent através dele. Houve
um caso de edema agudo de pulmão ipsilateral ao
ramo em que foi implantado o stent, provavelmente
por lesão tipo reperfusão, que melhorou com 48 horas
de ventilação mecânica.
TABELA 1
Características do procedimento,
casuística do Instituto de Cardiologia do RS
Ramo pulmonar esquerdo 43 (56,9%)
Ramo pulmonar direito 11 (13,8%)
Dois ramos pulmonares 7 (8,6%)
Kissing stents 6 (6,9%)
Dois stents no ramo pulmonar esquerdo 2 (3,4%)
Dois stents no ramo pulmonar direito 1 (1,7%)
Anastomose entre AD e AP 2 (3,4%)
Tubo entre VD e AP 1 (1,7%)
Via saída VD 2 (3,4%)
Stent sobre stent fraturado 1 (1,7%)
Cirurgia prévia 62 (93,9%)
Cirurgia prévia no local da lesão 47 (63,6%)
AD: Átrio direito; AP: Artéria pulmonar; VD: Ventrículo direito.
TABELA 2
Doenças associadas, casuística do
Instituto de Cardiologia do RS
Tetralogia de Fallot 24 (36,3%)
Atresia pulmonar com CIV 9 (13,6%)
Transposição de grandes vasos 8 (12,1%)
Estenose de ramos pulmonares isolada 5 (7,6%)
Atresia tricúspide 4 (6,0%)
Dupla via de entrada para VE 4 (6,0%)
Atresia pulmonar com septo íntegro 3 (4,5%)
Truncus arteriosus 2 (3,0%)
Dupla via de saída VD 2 (3,0%)
Estenose supravalvar aórtica 1 (1,5%)
Dupla via de entrada para VE com 1 (1,5%)
valva AV comum
CIV 2 (3,0%)
CIV e coarctação de aorta 1 (1,5%)
CIV: Comunicação interventricular; VE: Ventrículo esquer-
do; VD: Ventrículo direito; AV: atrioventricular.
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
Figura 2 - Seqüência de imagens do implante de stent de 30 mm em lesão ostial do ramo direito.
Figura 3 - Resultado imediato de dilatação suportada por stent do ramo esquerdo. A paciente pesava 8 kg e já havia sido submetida à ampliação
cirúrgica do local, bem como à dilatação com balão.
O tempo médio de seguimento deste grupo de
pacientes foi de 45 meses (4 a 156 meses), sendo que
neste período 54,5% dos pacientes permaneceram assin-
tomáticos ou pouco sintomáticos, 6% foram a óbito e
4,6% estão aguardando implante de stent no outro
ramo pulmonar. Houve perda de seguimento de 24,2%
dos pacientes. Quanto aos quatro óbitos, 2 ocorreram
no período imediato após o implante do stent devido
à urgência do caso e instabilidade hemodinâmica antes
do procedimento (ambos pacientes em pós-operatório
imediato de Fontan, com oclusão subtotal do ramo
esquerdo), um após cirurgia de Fontan (18 meses após
o implante do stent) e um durante cirurgia de unifo-
calização de colaterais sistêmico-pulmonares.
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
Figura 4 - Paciente em período pós-operatório imediato de cirurgia de Fontan, com oclusão aguda do ramo esquerdo. A seqüência mostra que,
após perfuração da estenose, a lesão foi pré-dilatada com balão de ACTP. Imediatamente após, balão de alta pressão com stent refaz a perfusão
do pulmão esquerdo.
Figura 5 - Suboclusão do ramo pulmonar direito, excluindo hemodinamicamente o pulmão esquerdo em paciente submetida à cirugia de Glenn.
O implante de stent curto permitiu adequada reperfusão, sem ocasionar distorção do ramo.
DISCUSSÃO
Angioplastia de artéria pulmonar e ramos com
stent foi primeiramente estudada em animais8,9
. Em
1988, Mullins et al.8
descreveram os resultados imediatos
e a curto prazo de 13 tentativas de implante de stents
expandidos com balão na circulação pulmonar normal
de cães. Onze stents foram implantados com sucesso,
enquanto que os outros embolizaram para o leito distal.
O seguimento angiográfico foi realizado entre 2 e 9
meses, mostrando a patência dos stents. A avaliação
histológica de 4 artérias pulmonares deste estudo docu-
mentou a cobertura neointimal total dos stents, não
havendo relato de trombose pulmonar. Mais recente-
mente, stents expandidos com balão foram testados
em modelos animais de estenose de artéria pulmo-
nar10,11
. Em 1991, Benson et al.10
utilizaram stents expan-
didos com balão (Palmaz P-308; Johnson & Johnson,
Warren, NJ) na artéria pulmonar esquerda de 9 porcos
com estenose de artéria pulmonar criada cirurgicamente.
O seguimento angiográfico foi realizado entre 3 sema-
nas e 4 meses e não foi observado reestenose, trombose,
formação aneurismática ou oclusão de ramos pulmo-
RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28150
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152.
nares laterais. A avaliação histológica, realizada em
média 3 meses após o implante, mostrou uma cober-
tura total da malha do stent pela neoíntima.
Uma situação que deve ser considerada em crianças,
quando pensamos em utilizar stents na circulação pul-
monar, é o crescimento corporal. Em 1996, Mendelshon
et al.12
estudaram a exeqüibilidade e a efetividade da
redilatação dos stents em um modelo experimental de
estenose da artéria pulmonar esquerda. Seis cães entre
3 e 4 meses foram submetidos ao implante de stent
(Palmaz P-308), utilizando um balão de 8 a 10mm de
diâmetro, no sítio de uma estenose de artéria pulmonar
cirurgicamente criada. Após 4 meses do implante dos
stents, quando o peso dos animais aumentou em média
54%, os stents foram redilatados com balão 12mm.
Novo estudo angiográfico realizado 1 mês após a re-
dilatação dos 4 animais mostrou uma camada neoíntima
preservada sem reestenose, formação aneurismática
ou trombose.
A maioria dos estudos clínicos também utilizou
os stents Palmaz P-308 ou P-20413-20
. Em 1991, O’Lau-
ghlin et al.13
descreveram os resultados imediatos e a
curto prazo de 31 implantes de stent, em 23 pacientes
com estenose de artéria pulmonar. O diâmetro da
artéria tratada aumentou de 4,6 para 10,9mm, em
média e o gradiente translesão caiu, em média, de 51
para 16mmHg. Cintilografia de perfusão pulmonar foi
realizada, antes e após o procedimento, em 11 pacientes,
evidenciando um aumento médio da perfusão do pulmão
ipsilateral de 26% para 48%. O seguimento angiográfico
foi realizado em 6 pacientes, entre 3 e 9 meses após
o procedimento, demonstrando nenhuma trombose,
reestenose ou formação aneurismática. Em 1993, o
mesmo autor coordenou um estudo multicêntrico de
implante de stents na população pediátrica16
. Em 85
pacientes, foram implantados 121 stents Palmaz, sendo
80 na circulação pulmonar. Os pacientes tinham idade
entre 1,2 e 36 anos e o diagnóstico mais comum foi
reparo no pós-operatório de tetralogia de Fallot. O
estudo demonstrou uma substancial melhora dos resul-
tados em relação a estudos similares que utilizaram
somente balão. Nesta série, os stents resultaram em
um aumento no diâmetro da artéria pulmonar de 4,6
a 11,3mm em média, com imediata melhora hemodi-
nâmica e queda na pressão sistólica do ventrículo
direito. O seguimento angiográfico foi realizado em 25
pacientes em 8 meses. Reestenose foi diagnosticada
em 1 paciente e ocorreu em um pequeno segmento
da artéria pulmonar direita entre dois stents. Em 2001,
McMahon et al.21
publicaram um estudo sobre a inci-
dência e fatores de risco para reestenose intra-stent
em doenças cardíacas congênitas. Entre os 220 pacientes
com seguimento angiográfico médio de 3,8 anos, 67
foram redilatados por crescimento da criança e somente
9 por reestenose. Não foi relatada nenhuma compli-
cação por ocasião da reintervenção. Em 2002, Zahn
et al.30
estudaram a segurança e eficácia da angioplastia
no pós-operatório imediato de correção de cardiopatias
congênitas. Neste estudo, 62 pacientes com idade entre
2 e 11 anos foram submetidos a 66 cateterismos, entre
0 e 42 dias do pós-operatório (média de 9 dias),
sendo que em 35 casos foram realizados 50 procedimen-
tos intervencionistas. O sucesso de colocação de stent
foi de 87%, sendo que angioplastia com envolvimento
do sítio de sutura cirúrgica foi realizada em 26 pacien-
tes, sem qualquer relato de complicação.
CONCLUSÃO
Estudos experimentais e clínicos de vários centros,
bem como nossa experiência institucional, demons-
tram que o implante de stents na circulação pulmonar
é o tratamento mais efetivo para estenose ou hipoplasia
de artéria e ramos pulmonares.
Cuidado especial deve ser tomado frente à decisão
de implantar stents em pacientes pequenos, pois será
necessária redilatação futura, procedimento habitualmente
associado a alto grau de dificuldade técnica. Por outro
lado, é melhor termos que lidar com um caso difícil no
futuro, mas que tenha artéria aberta para ser tratada.
O desenvolvimento de novos materiais, como os
stents biodegradáveis x dilatáveis de 4 a 18 mm, pode
aumentar a indicação e a margem de segurança para
este grupo de pacientes.
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Catheter Cardiovasc Intervent 2002;56:246-53.
29. Trivedi KR, Azakie A, Benson LN. Collaborative interventio-
nal and surgical strategies in the management of congenital
heart lesions. Semin Thorac Cardiovasc Surg Pediatr Card
Surg Annu 2001;4:185-207.
30. Zahn EM, Dobrolet NC, Nykanen DG, Ojito J, Hannan RL,
Burke RP. Interventional catheterization performed in the
early postoperative period after congenital heart surgery in
children. Catheter Cardiovasc Interv 2002;56:254-61.
RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28152

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Stents na circulação pulmonar

  • 1. 146 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. Stents na Circulação Pulmonar Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. Marcelo Sabedotti1 , Janaína Huber1 , Nívea Maria Oliveira Guimarães1 , Raul I. Rossi Filho1 1 Serviço de Cardiologia Intervencionista em Cardiopatias Congênitas do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, RS. Correspondência: Raul I. Rossi Filho. Av. Dr. Nilo Peçanha, 396/1003 - Porto Alegre, RS - CEP 90470-000 E-mail: rrossi.voy@terra.com.br Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 03/03/2006 RESUMO O tratamento das estenoses da árvore pulmonar ganhou impulso com o desenvolvimento da técnica de angioplastia com balão sustentada por stent, já no início da década de noventa. As indicações foram sendo ampliadas com o ganho de experiência dos serviços envolvidos com o tratamento destes pacientes, bem como se tornou mais fácil sua utilização com a melhoria de qualidade dos materiais utilizados. O propósito deste artigo é fazer breve revisão sobre os tipos de lesões vasculares pulmonares passíveis de tratamento intervencionista, bem como discutir indicações e aspectos técnicos do uso de stents em crianças com estenoses de ramos pulmonares. Os dados de literatura serão cotejados com nossa experiência com esta técnica em pacientes tratados no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. DESCRITORES: Artéria pulmonar, patologia. Estenose da valva pulmonar, terapia. Contenedores. Artigo Original Quanto à localização, a EAPR pode ser dividida em quatro tipos7 (Figura 1): • Tipo I: constrição simples com variado compri- mento, confinada ao tronco e ramos pulmonares direito e esquerdo; • Tipo II: estenose na bifurcação da artéria pulmo- nar, com envolvimento da parte distal do tronco da artéria pulmonar e origem dos ramos direito e esquerdo, podendo ser localizada ou de um longo segmento; • Tipo III: estenose de múltiplas artérias pulmona- res segmentares no seu óstio, com dilatação pós- estenótica proeminente e tronco e ramos pulmo- nares proximais normais; • Tipo IV: múltiplas estenoses envolvendo segmen- tos periféricos e artérias pulmonares centrais. O tratamento de estenose ou hipoplasia de artéria pulmonar com balão tem resultados variados na litera- tura, com a média de sucesso entre 50% e 60%1-5 . As indicações de angioplastia são sumarizadas no Quadro 1. A falha na angioplastia isolada, assim como aconte- ce na circulação coronariana, se deve principalmente SUMMARY Stents in Pulmonary Circulation The treatment for pulmonary artery stenosis was boosted with the introduction of stent-supported balloon angioplasty in the early nineties. Indications have been expanded with the experience gained from services involved while using the technique. Improved materials made available also made its use easier. The purpose of this article is to review the types of pulmonary vascular lesions that can be treated interventionally, as well as discuss indications and technical aspects for use in children with pulmonary branch stenosis. The experience gained from the technique used in patients at the Cardiology Institute in Rio Grande do Sul State will be compared with literature data. DESCRIPTORS: Pulmonary artery, pathology. Pulmonary valve stenosis, therapy. Stents. A estenose de artéria pulmonar e ramos (EAPR) ocorre em 2 a 3% dos pacientes com cardiopatias congênitas, podendo ser isolada, em associação com outras doenças ou mesmo adquirida1-5 . As doenças cardíacas congênitas associadas incluem estenose de valva pulmonar, comunicação interatrial, comunicação interventricular, persistência do ducto arterial e tetralogia de Fallot, entre outras. Além disso, a estenose da arté- ria pulmonar esquerda pode se desenvolver pelo fecha- mento do ducto arterioso, com ou sem outras má formações associadas, sugerindo que a invasão por tecido ductal, similarmente à coarctação de aorta, seja o mecanismo responsável6 . Lesões adquiridas ocorrem com certa freqüência seguindo intervenções cirúrgicas reparativas ou paliativas, entre elas shunts sistêmico- pulmonares, bandagem pulmonar, cirurgias para unifo- calização da suplência pulmonar na presença de atresia pulmonar com septo aberto, correção de transposição de grandes vasos e paliações em pacientes com ven- trículo único. RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28146
  • 2. 147 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. de escolha para estenose ou hipoplasia de artéria e ramos pulmonares6-30 . Vale a pena comentar que o tratamento cirúrgico para estenose de artéria pulmonar tem resultados desanimadores, principalmente pelas dificuldades técnicas da cirurgia em ramos pequenos e em pacientes de baixo peso, bem como pela alta prevalência de reestenose cicatricial. Entretanto, existem certas lesões, como a estenose pulmonar supravalvar e da bifurcação da artéria pulmo- nar, nas quais, levando-se em conta as características do paciente (tamanho ou doença associada), pode-se dar preferência ao tratamento cirúrgico. Em situações de alto risco para o desenvolvimento de estenose de artéria pulmonar pós-operatória, tais como recém-nasci- dos de baixo peso com ramos pulmonares hipoplásicos após procedimento conotruncal, após ligação ductal e arteriotomia pulmonar em qualquer sítio, o tratamento combinado de cirurgia e stents parece ser a melhor escolha29,30 . O objetivo deste trabalho é descrever, sumariamen- te, a técnica para implante de stents na circulação pulmonar, mostrar a nossa experiência com a angioplas- tia nesta doença arterial e revisar os principais artigos publicados sobre o assunto. MÉTODO A via de acesso mais utilizada para intervenção nas artérias pulmonares são as veias femorais, mas pode também ser realizada pelas veias subclávia e jugular interna ou, ainda, pelas artérias femorais, em pacientes com shunts sistêmico-pulmonares. Após obten- ção de acesso venoso, um cateter pigtail é posicionado na aorta para monitorizar a pressão arterial. As medi- das hemodinâmicas do lado direito são realizadas e a magnitude e localização dos gradientes nas artérias pulmonares são determinadas, idealmente com cateter de furo terminal. Arteriografias pulmonares são obtidas seletivamente em projeções ântero-posterior e lateral, com a obliqüidade necessária para perfilar adequada- mente a lesão a ser tratada. A intervenção, em nossa opinião, deve ser sempre realizada sob anestesia geral, sendo o paciente antico- agulado com 100u/kg de heparina, mantendo um TCA de 200s a 250s. Cefazolina profilática é administrada antes da intervenção e mantida por 24 horas. Todos pacientes recebem ácido acetilsalicílico antes do proce- dimento e após por, pelo menos, 12 meses. Em alguns pacientes, a lesão é pré-dilatada com balão antes do implante do stent. Isso permite a deter- minação da expansibilidade do balão e previsão da eventual eficácia do método. Também serve para deter- minar o melhor diâmetro, comprimento e localização do stent. Em estenoses não críticas, a dilatação primária é aconselhável, pois o local de menor diâmetro serve para “ancorar” o stent, durante a inflação do balão. QUADRO 1 Indicações de angioplastia de artéria pulmonar 1) Estenose central discreta ou subsegmentar da artéria pulmonar com: • Hipertensão do ventrículo direito • Assimetria do fluxo pulmonar 2) Hipoplasia generalizada das artérias pulmonares com: • Hipertensão do ventrículo direito • Assimetria do fluxo pulmonar 3) Estenose, hipoplasia ou distorção da artéria pulmo- nar em pacientes com paliação para ventrículo único Adaptado de Trivedi et al.29 . Figura 1 - Tipos de estenose pulmonar. Compilado de Gay et al.7 . ao recuo elástico após a dilatação1-5 . Desta hipótese surgiu a idéia de que o tratamento com stents seria uma opção melhor, fato comprovado por estudos rea- lizados em vários centros e que documentaram a efe- tividade desta prática na circulação pulmonar. A angio- plastia pulmonar suportada por stents é hoje o tratamento RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28147
  • 3. 148 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. O stent é manualmente de diâmetro montado sobre um balão de diâmetro apropriado. Uma bainha longa (Mullins) é utilizada para proteger o stent enquanto se ultrapassa a lesão. Duas técnicas podem ser utilizadas. Na primeira, a bainha longa é posicionada através da lesão e o stent montado sobre o balão é avançado através da bainha. Na segunda técnica, o stent monta- do é avançado até a parte distal da bainha, fora do paciente, e o sistema é avançado sobre a guia. A última técnica tem duas vantagens; ela elimina o proble- ma de avançar o stent sobre os kinks que podem se desenvolver no caminho e permite o uso de bainhas menores, vital em lactentes pequenos. O tamanho da bainha pode variar de 7F a 12F, dependendo do stent utilizado, sendo que para sua escolha, deve-se tomar a medida do shaft do balão e adicionar-se 2F. Quando o stent está adequadamente posicionado, o que é visualizado através de injeções manuais de contraste, a bainha é tracionada e o balão expandido. As medidas hemodinâmicas e as angiografias são repetidas após a liberação do stent. RESULTADOS Entre junho de 1996 e novembro de 2002, 75 stents foram implantados em 66 pacientes, no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. A idade média foi de 7 anos (0,1 a 20 anos). A grande maioria dos pacientes (93,9%) havia sido submetida a cirurgia prévia, sendo que em 63,6% a cirurgia fora realizada no local da lesão. As características do procedimento e das doen- ças associadas estão sumarizadas nas Tabelas 1 e 2. Estão incluídos, neste grupo de pacientes, stents isolados para os ramos (Figura 2), stents telescopados, implantes bilaterais seqüenciais e tratamento da bifurca- ção pela técnica de kissing stents. A grande maioria dos pacientes recebeu stents passíveis de redilatação futura até tamanho compatível com a idade adulta (Figura 3), embora vários lactentes pequenos, em situa- ção de urgência ou pelo seu pequeno tamanho e com risco de perda de leito vascular pulmonar, tenham sido submetidos ao implante de stents pré-montados, que terão que ser retirados cirurgicamente no futuro. Um grupo interessante desta população é a dos seis pacientes em pós-operatório imediato de cirurgia de Fontan, acompanhada de estenose grave pós-amplia- ção de ramo pulmonar. Essas crianças, pelas caracterís- ticas deste tipo de circulação, encontravam-se critica- mente doentes e foram tratadas com reperfusão pulmonar com stent, horas após a operação (Figuras 4 e 5). Se observarmos a complexidade anatômica da cir- culação pulmonar do grupo estudado e o estado clíni- co de muitos dos pacientes, chega a ser surpreendente o pequeno número de complicações ocorridas. Ocorreram dois casos de embolização do stent para artérias pulmonares mais distais, sendo que em um deles foi realizada cirurgia para retirada do stent e realização de plastia no ramo pulmonar. No outro paciente, o stent foi deixado na artéria do lobo inferior esquerdo, sem complicações tardias. Houve uma fratura de stent em lactente com estenose de ramo esquerdo e em pós-operatório de cirurgia de Glenn, sendo ne- cessário implante de um novo stent através dele. Houve um caso de edema agudo de pulmão ipsilateral ao ramo em que foi implantado o stent, provavelmente por lesão tipo reperfusão, que melhorou com 48 horas de ventilação mecânica. TABELA 1 Características do procedimento, casuística do Instituto de Cardiologia do RS Ramo pulmonar esquerdo 43 (56,9%) Ramo pulmonar direito 11 (13,8%) Dois ramos pulmonares 7 (8,6%) Kissing stents 6 (6,9%) Dois stents no ramo pulmonar esquerdo 2 (3,4%) Dois stents no ramo pulmonar direito 1 (1,7%) Anastomose entre AD e AP 2 (3,4%) Tubo entre VD e AP 1 (1,7%) Via saída VD 2 (3,4%) Stent sobre stent fraturado 1 (1,7%) Cirurgia prévia 62 (93,9%) Cirurgia prévia no local da lesão 47 (63,6%) AD: Átrio direito; AP: Artéria pulmonar; VD: Ventrículo direito. TABELA 2 Doenças associadas, casuística do Instituto de Cardiologia do RS Tetralogia de Fallot 24 (36,3%) Atresia pulmonar com CIV 9 (13,6%) Transposição de grandes vasos 8 (12,1%) Estenose de ramos pulmonares isolada 5 (7,6%) Atresia tricúspide 4 (6,0%) Dupla via de entrada para VE 4 (6,0%) Atresia pulmonar com septo íntegro 3 (4,5%) Truncus arteriosus 2 (3,0%) Dupla via de saída VD 2 (3,0%) Estenose supravalvar aórtica 1 (1,5%) Dupla via de entrada para VE com 1 (1,5%) valva AV comum CIV 2 (3,0%) CIV e coarctação de aorta 1 (1,5%) CIV: Comunicação interventricular; VE: Ventrículo esquer- do; VD: Ventrículo direito; AV: atrioventricular. RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28148
  • 4. 149 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. Figura 2 - Seqüência de imagens do implante de stent de 30 mm em lesão ostial do ramo direito. Figura 3 - Resultado imediato de dilatação suportada por stent do ramo esquerdo. A paciente pesava 8 kg e já havia sido submetida à ampliação cirúrgica do local, bem como à dilatação com balão. O tempo médio de seguimento deste grupo de pacientes foi de 45 meses (4 a 156 meses), sendo que neste período 54,5% dos pacientes permaneceram assin- tomáticos ou pouco sintomáticos, 6% foram a óbito e 4,6% estão aguardando implante de stent no outro ramo pulmonar. Houve perda de seguimento de 24,2% dos pacientes. Quanto aos quatro óbitos, 2 ocorreram no período imediato após o implante do stent devido à urgência do caso e instabilidade hemodinâmica antes do procedimento (ambos pacientes em pós-operatório imediato de Fontan, com oclusão subtotal do ramo esquerdo), um após cirurgia de Fontan (18 meses após o implante do stent) e um durante cirurgia de unifo- calização de colaterais sistêmico-pulmonares. RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28149
  • 5. 150 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. Figura 4 - Paciente em período pós-operatório imediato de cirurgia de Fontan, com oclusão aguda do ramo esquerdo. A seqüência mostra que, após perfuração da estenose, a lesão foi pré-dilatada com balão de ACTP. Imediatamente após, balão de alta pressão com stent refaz a perfusão do pulmão esquerdo. Figura 5 - Suboclusão do ramo pulmonar direito, excluindo hemodinamicamente o pulmão esquerdo em paciente submetida à cirugia de Glenn. O implante de stent curto permitiu adequada reperfusão, sem ocasionar distorção do ramo. DISCUSSÃO Angioplastia de artéria pulmonar e ramos com stent foi primeiramente estudada em animais8,9 . Em 1988, Mullins et al.8 descreveram os resultados imediatos e a curto prazo de 13 tentativas de implante de stents expandidos com balão na circulação pulmonar normal de cães. Onze stents foram implantados com sucesso, enquanto que os outros embolizaram para o leito distal. O seguimento angiográfico foi realizado entre 2 e 9 meses, mostrando a patência dos stents. A avaliação histológica de 4 artérias pulmonares deste estudo docu- mentou a cobertura neointimal total dos stents, não havendo relato de trombose pulmonar. Mais recente- mente, stents expandidos com balão foram testados em modelos animais de estenose de artéria pulmo- nar10,11 . Em 1991, Benson et al.10 utilizaram stents expan- didos com balão (Palmaz P-308; Johnson & Johnson, Warren, NJ) na artéria pulmonar esquerda de 9 porcos com estenose de artéria pulmonar criada cirurgicamente. O seguimento angiográfico foi realizado entre 3 sema- nas e 4 meses e não foi observado reestenose, trombose, formação aneurismática ou oclusão de ramos pulmo- RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28150
  • 6. 151 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. nares laterais. A avaliação histológica, realizada em média 3 meses após o implante, mostrou uma cober- tura total da malha do stent pela neoíntima. Uma situação que deve ser considerada em crianças, quando pensamos em utilizar stents na circulação pul- monar, é o crescimento corporal. Em 1996, Mendelshon et al.12 estudaram a exeqüibilidade e a efetividade da redilatação dos stents em um modelo experimental de estenose da artéria pulmonar esquerda. Seis cães entre 3 e 4 meses foram submetidos ao implante de stent (Palmaz P-308), utilizando um balão de 8 a 10mm de diâmetro, no sítio de uma estenose de artéria pulmonar cirurgicamente criada. Após 4 meses do implante dos stents, quando o peso dos animais aumentou em média 54%, os stents foram redilatados com balão 12mm. Novo estudo angiográfico realizado 1 mês após a re- dilatação dos 4 animais mostrou uma camada neoíntima preservada sem reestenose, formação aneurismática ou trombose. A maioria dos estudos clínicos também utilizou os stents Palmaz P-308 ou P-20413-20 . Em 1991, O’Lau- ghlin et al.13 descreveram os resultados imediatos e a curto prazo de 31 implantes de stent, em 23 pacientes com estenose de artéria pulmonar. O diâmetro da artéria tratada aumentou de 4,6 para 10,9mm, em média e o gradiente translesão caiu, em média, de 51 para 16mmHg. Cintilografia de perfusão pulmonar foi realizada, antes e após o procedimento, em 11 pacientes, evidenciando um aumento médio da perfusão do pulmão ipsilateral de 26% para 48%. O seguimento angiográfico foi realizado em 6 pacientes, entre 3 e 9 meses após o procedimento, demonstrando nenhuma trombose, reestenose ou formação aneurismática. Em 1993, o mesmo autor coordenou um estudo multicêntrico de implante de stents na população pediátrica16 . Em 85 pacientes, foram implantados 121 stents Palmaz, sendo 80 na circulação pulmonar. Os pacientes tinham idade entre 1,2 e 36 anos e o diagnóstico mais comum foi reparo no pós-operatório de tetralogia de Fallot. O estudo demonstrou uma substancial melhora dos resul- tados em relação a estudos similares que utilizaram somente balão. Nesta série, os stents resultaram em um aumento no diâmetro da artéria pulmonar de 4,6 a 11,3mm em média, com imediata melhora hemodi- nâmica e queda na pressão sistólica do ventrículo direito. O seguimento angiográfico foi realizado em 25 pacientes em 8 meses. Reestenose foi diagnosticada em 1 paciente e ocorreu em um pequeno segmento da artéria pulmonar direita entre dois stents. Em 2001, McMahon et al.21 publicaram um estudo sobre a inci- dência e fatores de risco para reestenose intra-stent em doenças cardíacas congênitas. Entre os 220 pacientes com seguimento angiográfico médio de 3,8 anos, 67 foram redilatados por crescimento da criança e somente 9 por reestenose. Não foi relatada nenhuma compli- cação por ocasião da reintervenção. Em 2002, Zahn et al.30 estudaram a segurança e eficácia da angioplastia no pós-operatório imediato de correção de cardiopatias congênitas. Neste estudo, 62 pacientes com idade entre 2 e 11 anos foram submetidos a 66 cateterismos, entre 0 e 42 dias do pós-operatório (média de 9 dias), sendo que em 35 casos foram realizados 50 procedimen- tos intervencionistas. O sucesso de colocação de stent foi de 87%, sendo que angioplastia com envolvimento do sítio de sutura cirúrgica foi realizada em 26 pacien- tes, sem qualquer relato de complicação. CONCLUSÃO Estudos experimentais e clínicos de vários centros, bem como nossa experiência institucional, demons- tram que o implante de stents na circulação pulmonar é o tratamento mais efetivo para estenose ou hipoplasia de artéria e ramos pulmonares. Cuidado especial deve ser tomado frente à decisão de implantar stents em pacientes pequenos, pois será necessária redilatação futura, procedimento habitualmente associado a alto grau de dificuldade técnica. Por outro lado, é melhor termos que lidar com um caso difícil no futuro, mas que tenha artéria aberta para ser tratada. O desenvolvimento de novos materiais, como os stents biodegradáveis x dilatáveis de 4 a 18 mm, pode aumentar a indicação e a margem de segurança para este grupo de pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Kan JS, Marvin WJ Jr, Bass JL, Muster AJ, Murphy J. Balloon angioplasty for branch pulmonary artery stenosis: results from the Valvuloplasty and Angioplasty of Congenital Anoma- lies Registry. 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  • 7. 152 Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(3): 146-152. 10. Benson LN, Hamilton F, Dasmahapatra HK, Coles JG. Per- cutaneous implantation of a balloon-expandable endopros- thesis for pulmonary artery stenosis: an experimental study. J Am Coll Cardiol 1991;18:1303-8. 11. Rocchini AP, Meliones JN, Beekman RH, Moorehead C, Lando M. Use of balloon-expandable stents to treat experi- mental pulmonary artery and superior vena cava stenosis: preliminary experience. Pediatr Cardiol 1992;13:92-6. 12. Mendelsohn AM, Dorostkar PC, Moorehead CP, Lupinetti FM, Reynolds PI, Ludomirsky A. Stent redilation in canine models of congenital heart disease: pulmonary artery stenosis and coarctation of the aorta. Cathet Cardiovasc Diagn 1996;38:430-40. 13. O’Laughlin MP, Perry SB, Lock JE, Mullins CE. Use of endovascular stents in congenital heart disease. Circulation 1991;83:1923-39. 14. Hosking MC, Benson LN, Nakanishi T, Burrows PE, Williams WG, Freedom RM. Intravascular stent prosthesis for right ventricular outflow obstruction. J Am Coll Cardiol 1992;20: 373-80. 15. Mendelsohn AM, Bove EL, Lupinetti FM, Crowley DC, Lloyd TR, Fedderly RT. Intraoperative and percutaneous stenting of congenital pulmonary artery and vein stenosis. Circulation 1993;88:210-7. 16. O’Laughlin MP, Slack MC, Grifka RG, Perry SB, Lock JE, Mullins CE. Implantation and intermediate term follow-up of stents in congenital heart disease. Circulation 1993;88:605-14. 17. Fogelman R, Nykanen D, Smallhorn JF, McCrindle BW, Freedom RM, Benson LN. Endovascular stents in the pulmo- nary circulation: clinical impact on management and medium- term follow-up. Circulation 1995;92:881-5. 18. Benson LN, Nykanen D, Freedom RM. Endovascular stents in pediatric cardiovascular medicine. J Inter Cardiol 1995;8: 767-75. 19. O’Laughlin MP. Balloon-expandable stenting in pediatric cardiology. J Interv Cardiol 1995;8:463-75. 20. Ing FF, Grifka RG, Nihill MR, Mullins CE. Repeat dilation of intravascular stents in congenital heart defects. Circulation 1995;92:893-7. 21. McMahon CJ, EL-Said HG, Grifka RG, Fraley JK, Nihill MR, Mullins CE. Redilation of endovascular stents in congenital heart disease: factors implicated in the development of restenosis and neointimal proliferation. J Am Coll Cardiol 2001;38:521-6. 22. Perry BP, Keane JF, Lock JE. Pediatric interventions. In: Baim DS, Grossman W, eds. Grossman´s cardiac catheteriza- tion, angiography, and intervention. 6rd ed. London:Lippincott Williams & Wilkins;2000. p.735-58. 23. Beekman RH, Lloyd TR. Balloon valvuloplasty and stenting for congenital heart disease. In: Topol E, ed. Textbook of interventional cardiology.3rd ed. Philadelphia:W.B. Saunders; 1999. p.850-68. 24. Trivedi KR, Benson LN. Interventional strategies in the management of peripheral pulmonary artery stenosis. J Interv Cardiol 2003;16:171-88. 25. Tomita H, Kimura K, Ono Y, Yamada O, Yagihara T, Echigo S. Life-threatening pulmonary edema following unilateral stent implantation for bilateral branch pulmonary stenosis recovery after contralateral stent implantation. Jpn Circ J 2001;65:688-90. 26. Allen HD, Beekman RH, Garson A Jr, Hijazi ZM, Mullins C, O’Laughlin MP et al. Pediatric therapeutic cardiac cathete- rization: a statement for healthcare professionals from de Council on Cardiovascular Disease in the Young, American Heart Association. Circulation 1998;97:609-25. 27. Duke C, Rosenthal E, Qureshi SA. The efficacy and safety of stent redilation in congenital heart disease. Heart 2003; 89:905-12. 28. Tomita H, Yazaki S, Kimura K, Ono Y, Yamada O, Ohuchi H et al. Potential goals for the dimensions of the pulmona- ry arteries and aorta with stenting after the Fontan operation. Catheter Cardiovasc Intervent 2002;56:246-53. 29. Trivedi KR, Azakie A, Benson LN. Collaborative interventio- nal and surgical strategies in the management of congenital heart lesions. Semin Thorac Cardiovasc Surg Pediatr Card Surg Annu 2001;4:185-207. 30. Zahn EM, Dobrolet NC, Nykanen DG, Ojito J, Hannan RL, Burke RP. Interventional catheterization performed in the early postoperative period after congenital heart surgery in children. Catheter Cardiovasc Interv 2002;56:254-61. RaulRossi.p65 9/6/2006, 09:28152