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PESCADO

1.     Conceito de Pescado

        O conceito de pescado assume-se como
     variável e relativo pois está diretamente
     dependente da localização geográfica, da
     cultura, dos hábitos pessoais, da época do
     ano, entre muitos outros fatores. Pode
     definir-se pescado como "todos os seres
     vivos aquáticos que são utilizados para
     alimentação        humana       direta      ou
     indiretamente". O conceito pescado engloba
     também    todas     as  partes,    porções   e
     produtos dele derivados, desde que os
     mesmos sejam utilizados como alimento. No
     caso     de    existir  transformação       ou
     processamento       do  pescado     é  também
     comum encontrar-se a expressão produtos
     da   pesca,   especialmente    na   legislação
     europeia, ainda que a mesma não substitua
     nem se sobreponha à designação pescado.
         No pódio mundial dos consumidores de
     pescado     estão    os   islandeses    e   os
     japoneses, seguindo-se os portugueses
     com uma média anual de 57kg, per capita, mais
     do que o dobro da média europeia (que se
     fica pelos 21,5 kg).
2. Tecnologia do Pescado em
 Portugal

   São diversas as instituições que debruçam
 as suas atividades sobre esta temática. De
 entre elas pode-se referir, para fins de
 consulta, o INIAP (Instituto Nacional de
 Investigação Agrária e Pescas, ex-IPIMAR), a
 DGPA    (Direção   Geral   das   Pescas    e
 Aquicultura), a ESB/UCP (Escola Superior de
 Biotecnologia    da  Universidade   Católica
 Portuguesa), o Centro FORPESCAS (Centro
 de Formação Profissional para o Sector
 das Pescas), entre muitos outras.




 3.   Caracterização da Matriz
     A     composição      do
 pescado        é       muito
 divergente,         variando
 consoante, por exemplo, a
 espécie,    o  indivíduo,   a
 idade, o sexo, o ambiente e
 a época do ano. Sendo os oceanos um meio
 muito    diferenciado    (desde os    mares
 gelados dos pólos às zonas tropicais),
 não surpreende que os organismos nele
 encontrados sejam também muito distintos.
 O    pescado     é   composto   basicamente
 por água (variando entre 60-70 % nos
peixes mais gordos e entre 80- 85 % nos
 mais magros), lípidos (entre 0.1 e 25 %)
 e proteínas (cerca de 10 % nos moluscos,
 entre 15 a 23 % no pescado em geral,
 incluindo o azoto não proteico). Torna-se
 relevante mencionar que a percentagem de
 água + lípidos é bastante constante no
 pescado, rondando os 80 %. Existem ainda,
 na      sua     constituição, hidratos       de
 carbono (0.01                 a              0.7
 %), vitaminas (essencialmente                as
 lipossolúveis A, D, E e K e as vitaminas B1, B12
 e C) e sais minerais (entre 0.9 a 2 %,
 principalmente Na, K, Ca, Fe, e P).




4. Degradação                    do
 Pescado

     Existem    alguns    factores    que
 influenciam a perecibilidade do pescado,
 e que, para se chegar a um produto
 de qualidade, devem ser controlados,
 sendo os principais:
    Factores microbiológicos, enzimáticos
     e químicos;
    Rápida instalação do rigor mórtis;
    Libertação de muco pelas glândulas da
     pele;
    Grande quantidade de água nos tecidos;
    Tecido rico em proteínas, fosfolípidos e
     ácidos gordos polinsaturados.
Factores estes que levam a alterações
significativas no pescado, a maioria das
vezes perceptíveis através de sinais como
os apresentados na tabela 1.


 Itens em         Pescado              Pescado
  análise          Fresco              Alterado

  Aspecto      Pigmentação viva e   Pigmentação baça,
   Geral         brilhante; sem     sem brilho e muco
                descoloração.             opaco

    Cor        Típica da espécie;   Tons variáveis; com
                 sem manchas.            manchas.

  Cheiro       Leve e agradável;          Muito
                 cheiro a “mar”       desagradável;
                                    ácido ou amoníacal

   Corpo       Rígido, arqueado            Mole

Consistência    Firme e elástica.    Mole; marcas de
                                    pressão persistem.

  Rigidez           Elevada.        Reduzida ou nula.

   Carne       Firme, branca ou       Opaca; pouco
               da cor da espécie;      consistente;
                  corte liso.          elasticidade
                                        diminuída.

   Muco        Pouco abundante;     Abundante; viscoso
                 transparente.           e opaco.

 Escamas       Bem aderentes à         Levantadas,
                pele; brilhantes       retirando-se
                                        facilmente

   Pele         Bem estendida,           Rugosa,
                   colorida           descolorada
Olhos          Transparentes,      Vidrado, opaco,
                     salientes          afundados
                (convexos); pupila   (côncavo); pupila
                      negra.             embaciada.

 Brânquias         Cor vermelha        Cor castanha,
                  brilhante, sem       amarelada ou
                  descoloração;      esverdeada; muco
                       muco          opaco e viscoso.
                   transparente.
Tabela 1 – Comparação dos parâmetros sensoriais
entre o pescado fresco e alterado.




   Debruçando-nos essencialmente sobre
os factores microbiológicos, as bactérias
patogénicas,   tipicamente,  existentes   no
pescado    podem     agrupar-se    em   duas
grandes categorias: bactérias indígenas e
bactérias não indígenas (FAO, 1997).




   Estes microrganismos encontram-se em
todas as superficies externas (pele e
branquias) e nos intestinos dos peixes. O
número total de microrganismos varia
consideravelmente,     apesar    de    ser
estabelecido como normal 102 - 107 ufc/cm2
de pele e 103 - 109 ufc/cm2 de branquias e
intestinos.


5. Métodos de Conservação
    Com o objectivo de retardar esta
degradação do pescado e desta forma
aumentar o seu tempo de vida útil é
essencial aplicar métodos de conservação.
Existe   uma   ampla   gama    de  métodos
aplicáveis, actuando de diferentes formas,
desde a diminuição do aw, da temperatura,
até à redução do pH. A maioria dos métodos
aplicados ao pescado está apresentada na
tabela 2.
Tabela 2 – Principais métodos de conservação do




pescado.

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  • 1. PESCADO 1. Conceito de Pescado O conceito de pescado assume-se como variável e relativo pois está diretamente dependente da localização geográfica, da cultura, dos hábitos pessoais, da época do ano, entre muitos outros fatores. Pode definir-se pescado como "todos os seres vivos aquáticos que são utilizados para alimentação humana direta ou indiretamente". O conceito pescado engloba também todas as partes, porções e produtos dele derivados, desde que os mesmos sejam utilizados como alimento. No caso de existir transformação ou processamento do pescado é também comum encontrar-se a expressão produtos da pesca, especialmente na legislação europeia, ainda que a mesma não substitua nem se sobreponha à designação pescado. No pódio mundial dos consumidores de pescado estão os islandeses e os japoneses, seguindo-se os portugueses com uma média anual de 57kg, per capita, mais do que o dobro da média europeia (que se fica pelos 21,5 kg).
  • 2. 2. Tecnologia do Pescado em Portugal São diversas as instituições que debruçam as suas atividades sobre esta temática. De entre elas pode-se referir, para fins de consulta, o INIAP (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas, ex-IPIMAR), a DGPA (Direção Geral das Pescas e Aquicultura), a ESB/UCP (Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa), o Centro FORPESCAS (Centro de Formação Profissional para o Sector das Pescas), entre muitos outras. 3. Caracterização da Matriz A composição do pescado é muito divergente, variando consoante, por exemplo, a espécie, o indivíduo, a idade, o sexo, o ambiente e a época do ano. Sendo os oceanos um meio muito diferenciado (desde os mares gelados dos pólos às zonas tropicais), não surpreende que os organismos nele encontrados sejam também muito distintos. O pescado é composto basicamente por água (variando entre 60-70 % nos
  • 3. peixes mais gordos e entre 80- 85 % nos mais magros), lípidos (entre 0.1 e 25 %) e proteínas (cerca de 10 % nos moluscos, entre 15 a 23 % no pescado em geral, incluindo o azoto não proteico). Torna-se relevante mencionar que a percentagem de água + lípidos é bastante constante no pescado, rondando os 80 %. Existem ainda, na sua constituição, hidratos de carbono (0.01 a 0.7 %), vitaminas (essencialmente as lipossolúveis A, D, E e K e as vitaminas B1, B12 e C) e sais minerais (entre 0.9 a 2 %, principalmente Na, K, Ca, Fe, e P). 4. Degradação do Pescado Existem alguns factores que influenciam a perecibilidade do pescado, e que, para se chegar a um produto de qualidade, devem ser controlados, sendo os principais:  Factores microbiológicos, enzimáticos e químicos;  Rápida instalação do rigor mórtis;  Libertação de muco pelas glândulas da pele;  Grande quantidade de água nos tecidos;  Tecido rico em proteínas, fosfolípidos e ácidos gordos polinsaturados.
  • 4. Factores estes que levam a alterações significativas no pescado, a maioria das vezes perceptíveis através de sinais como os apresentados na tabela 1. Itens em Pescado Pescado análise Fresco Alterado Aspecto Pigmentação viva e Pigmentação baça, Geral brilhante; sem sem brilho e muco descoloração. opaco Cor Típica da espécie; Tons variáveis; com sem manchas. manchas. Cheiro Leve e agradável; Muito cheiro a “mar” desagradável; ácido ou amoníacal Corpo Rígido, arqueado Mole Consistência Firme e elástica. Mole; marcas de pressão persistem. Rigidez Elevada. Reduzida ou nula. Carne Firme, branca ou Opaca; pouco da cor da espécie; consistente; corte liso. elasticidade diminuída. Muco Pouco abundante; Abundante; viscoso transparente. e opaco. Escamas Bem aderentes à Levantadas, pele; brilhantes retirando-se facilmente Pele Bem estendida, Rugosa, colorida descolorada
  • 5. Olhos Transparentes, Vidrado, opaco, salientes afundados (convexos); pupila (côncavo); pupila negra. embaciada. Brânquias Cor vermelha Cor castanha, brilhante, sem amarelada ou descoloração; esverdeada; muco muco opaco e viscoso. transparente. Tabela 1 – Comparação dos parâmetros sensoriais entre o pescado fresco e alterado. Debruçando-nos essencialmente sobre os factores microbiológicos, as bactérias patogénicas, tipicamente, existentes no pescado podem agrupar-se em duas grandes categorias: bactérias indígenas e bactérias não indígenas (FAO, 1997). Estes microrganismos encontram-se em todas as superficies externas (pele e
  • 6. branquias) e nos intestinos dos peixes. O número total de microrganismos varia consideravelmente, apesar de ser estabelecido como normal 102 - 107 ufc/cm2 de pele e 103 - 109 ufc/cm2 de branquias e intestinos. 5. Métodos de Conservação Com o objectivo de retardar esta degradação do pescado e desta forma aumentar o seu tempo de vida útil é essencial aplicar métodos de conservação. Existe uma ampla gama de métodos aplicáveis, actuando de diferentes formas, desde a diminuição do aw, da temperatura, até à redução do pH. A maioria dos métodos aplicados ao pescado está apresentada na tabela 2. Tabela 2 – Principais métodos de conservação do pescado.