2. “ Feio, o gato ” trata-se de um pequeno texto sobre um gato vadio que, em consequência da vida bastante desgarrada, sofrera danos que marcaram seu corpo definitivamente (tinha apenas um olho, uma só orelha, um toco de cauda, o pé esquerdo quebrado), tornando-o um gato de aparência bastante feia aos olhos de todos que o conheciam.
3. . Devido aos danos em seu corpo, Feio era constantemente enxotado e maltratado pelas pessoas, apesar de suas atitudes dóceis e afáveis em busca de amor e carinho.
4. Certo dia Feio, o gato, é atacado e gravemente ferido por cães e, embora sendo socorrido e tratado com carinho uma única vez, não resiste aos ferimentos e morre resignadamente em braços amorosos.
5. Análise da narração x argumentação Através da análise do texto Feio, o gato, percebe-se distintamente o uso de duas tipologias textuais. Inicialmente, o autor utiliza-se da narração para contar a história do felino, utilizando-se para tanto de sequências cronológicas que marcam as mudanças temporais através de tempos verbais, advérbios e conjunções (“ Feio havia perdido a cauda há muito tempo, e restava apenas um toco de cauda grosso...”), assim como a caracterização de um personagem inserido em um ambiente físico.
6. Outra característica da narrativa é a relação anterioridade ̸ posterioridade e causa ̸consequência , como pode ser observado no trecho: “Um dia, Feio quis dividir seu amor com os huskies do vizinho. Eles não eram amistosos e Feio foi ferido gravemente. Do meu apartamento, ouvi seus gritos e corri para tentar ajudá-lo”.
7. Apesar de sabermos que há um teor argumentativo inserido em todo o texto, na primeira parte dele observa-se uma argumentação por exemplo , ou seja, é contado um caso específico para que se possa chegar a uma conclusão ou moral.
8. Já na segunda parte do texto, após a morte de Feio, a autora tenta, de uma forma mais explícita, convencer o leitor a aceitar o seu posicionamento acerca das relações de afetividade que devem ser vivenciadas entre os seres humanos incondicionalmente, conforme nos mostra a passagem: “Se vocês pudessem avaliar ou sentir como é quente e gostoso o abraço de alguém feio e antipático… Se vocês se permitissem essa sensação, talvez entenderiam e veriam os tantos “gatos feios” que a vida lhes coloca diante dos seus olhos todos os dias e vocês se negam a enxergá-los…”.
9. Assim, toda a segunda parte do texto é constituída de argumentação, com o objetivo claro de convencimento a respeito da importância do carinho, amor e solidariedade entre os seres, indistintamente.
10. Análise da intergenericidade x intertextualidade Além do texto apresentar um misto de narração e argumentação, também podemos observar que há alusão a diferentes gêneros textuais, no que diz respeito à forma composicional, ao assunto abordado e ao recurso estilístico. Tal construção marca o emprego da intertextualidade , que consiste em um texto fazer referência a outro texto quer pelo assunto abordado, quer pelo uso similar de personagens etc, e da intergenericidade , caracterizada por um gênero textual vestir a “roupa”, a forma de outro gênero no alcance de um objetivo sociocomunicativo.
11. No que diz respeito ao texto Feio, o gato , a intertextualidad e é marcada com a referência ao texto clássico de Andersen, O patinho feio , que, assim como Feio, também era desprezado e carente de afeto em virtude de sua aparência “anormal” com reação aos demais. Contudo, o texto em estudo difere do referido clássico ao final, pois em O patinho feio , o personagem consegue ser feliz junto aos seus semelhantes, os cisnes. Já no caso de Feio, contamos com um final trágico, no qual o gato morre sem conquistar o afeto, amor e carinho tão almejado por ele em vida.
12. Conforme visto anteriormente, a autora, através do seu propósito comunicativo, faz um misto de narrativa em forma de conto, na primeira parte do texto, assim como uma exposição de posicionamento com o objetivo claro de convencer o leitor, o que caracteriza os gêneros que se apóiam em sequências tipológicas argumentativas. É nessa leitura que se percebe também o emprego da intergenericidade no texto em estudo. Micheline Guelry Silva Albuquerque