2. Externalidades – o que é isso mesmo?
• Efeitos indiretos, negativos ou positivos, da produção de bens ou serviços, e que são
transferidos a indivíduos e ou entidades não envolvidas no processo produtivo. A
poluição ambiental é um exemplo de externalidade negativa. CFA Institute
• Custos do business as usual imputado a terceiros. Pavan Sukhdev – Corporation 2020
• Efeitos das atividades de produção e consumo que não se apresentam diretamente no
mercado.
• Tudo aquilo que produz algum impacto negativo ou positivo sobre alguém e que não
entra no sistema de preços. Ricardo Abramovay – FEA/USP
• Custo socializado, pago por outros. “Significa que, em vez de todo mundo pagar o pato,
que pague o pato quem é responsável por ele”. Carlos Eduardo Frickmann Young – UFRJ
3. Quantificações – tem de tudo!
• O valor de tudo que a natureza oferece sem cobrar ao ser humano, é estimada em US$
124,8 trilhões por ano, o que corresponde, aproximadamente, ao dobro do PIB mundial.
Robert Costanza -Australian National University
• A superexploração dos recursos naturais no mundo já causou uma perda nos serviços
ambientais de US$ 20,2 trilhões, entre 1997 e 2011. Robert Costanza -Australian National University
• 40% das mortes no mundo são resultantes de fatores ambientais, incluindo efeitos
secundários da degradação ambiental e disseminação de enfermidades. CFA
• Poluição ambiental causa perda de 5 anos de vida por pessoa no norte da China. CFA
4.
5. Onde estão?
• “Estão embutidas no valor dos imóveis, no valor de aluguéis de áreas
como a Zona Sul do Rio. A presença da externalidade deprecia os
espaços sociais. Um imóvel localizado próximo a um lixão custará bem
menos que outro idêntico, mas localizado longe do lixão. A sociedade,
de um jeito ou de outro, já precificou isso”. C. Young
6. Quem paga a conta?
• “...eu estabeleço uma cobrança sobre o dano que foi gerado, ou seja,
cobro o responsável por isso. O que percebo é que, sob o argumento
falacioso de que internalizar a externalidade penaliza o pobre, acabo
criando uma justificativa para manutenção do status quo, em que a
perda para o mais pobre é mais alta pela externalidade gerada que a
eventual perda privada que ele terá, pelo preço mais alto daquilo que
vai consumir”. C. Young
7. Quem paga a conta?
• A tragédia dos comuns: indivíduos não consideram externalidades em
suas atividades. Não consideram que o recurso que retiram da
natureza pertence ao conjunto da vizinhança e não só a ele,
envolvendo interesses individuais e o bem comum.
• Uma gestão mista, parte pública e parte privada, com regras formais e
informais, seria mais a forma mais eficiente de lidar com o problema.
O preço internaliza uma parte da externalidade, e a gestão pública
impede que a exploração econômica desvinculada dos outros valores
não incorporados no preço se legitime. Elinor Ostrom
8. Quem paga a conta?
• Externalidades ocorrem geralmente quando direitos de propriedade não são claramente
definidos. Quem é dono do recurso tende a gerenciá-lo melhor, pois são diretamente
afetados no valor de seu recurso.
• Quando poluidores não são obrigados a compensar a sociedade pela poluição causada,
não tem incentivos para reduzir a poluição e produzirão de forma a maximizar seus lucros.
• Na falta de preços de externalidades (compensação para os donos dos recursos), os níveis
e formas de produção são usualmente acima do nível ótimo.
• Poluindo, produtores impõem custos à Sociedade, na forma de degradação ambiental,
custos com saúde, etc.
9. Custos Verdadeiros
• Carta da Terra, (ECO 92): “incluir totalmente os custos ambientais e
sociais de bens e serviços no preço de venda” e “adotar estilos de vida
que acentuem a qualidade de vida e a subsistência material num
mundo finito”.
10. Custos Verdadeiros
“The true cost of a burger”
• Para o preço de um hambúrguer ser mais realista precisaria embutir os
gastos com tratamentos de obesidade e doenças crônicas provocadas
pela carne vermelha, os custos da destinação dos resíduos gerados, o
valor da água usada na produção desde a irrigação dos grãos que
alimentaram o gado até a produção das embalagens, a perda de
biodiversidade com a derrubada de florestas para implantação de
pastagens, a contaminação por agrotóxicos etc.
• Contando-se apenas as externalidades negativas mais fáceis de calcular,
o preço de um hambúrguer, que nos Estados Unidos está custando em
média US$ 4,49, deveria subir entre 68 centavos de dólar e US$ 2,90. Mark
Bittman, colunista do jornal The New York Times
11. Custos Verdadeiros
• Mesmo que dobre de preço, os mais ricos continuarão comendo
hambúrguer e permanecerão ricos. Aos mais pobres, porém, o lanche
parecerá mais “indigesto”. A tendência, portanto, é a procura por fast
food diminuir, o que, em última análise, pode ser muito bom para a
saúde dos ex-consumidores e do planeta. Para recuperar a
competitividade, toda a cadeia ligada ao negócio – desde agropecuária,
indústrias de alimentação, varejo, fornecedores –, em tese, teria de fazer
valer os princípios da sustentabilidade. Sem tantas externalidades
negativas, o preço do hambúrguer aos poucos se aproximaria novamente
dos US$ 4,49. Se essa lógica funcionar de fato, significa que o sistema
econômico, tido como o grande vilão do meio ambiente, é capaz de gerar
externalidade positiva por meio da monetização de itens intangíveis.
12. Custos Verdadeiros
• “A mudança climática ainda trará prejuízos gigantescos, em dinheiro,
sofrimento, perda de vidas. Esse custo se abaterá principalmente
sobre as populações pobres do planeta. Aproveitar toda a
engrenagem do mercado para enfrentar a mudança climática parece
bem mais complicado do que calcular as externalidades negativas não
computadas no preço de um hambúrguer”. Sergio Besserman
13.
14. Preços Verdadeiros
• “se eu considerar a internalização das externalidades, a estrutura de
preços seria diferente... O problema são os preços relativos, os preços
de um produto em relação ao outro”. C. Young
• “Quando elevo o preço do combustível, eu penalizo o consumidor do
combustível do automóvel – e também quem produz o automóvel.
Mas, se essa medida é eficaz para reduzir o uso do transporte que
não de massa, eu terei um benefício de ganho de mobilidade. ... o
benefício coletivo torna-se superior à perda individual”. C. Young
15. Mensuração
• “Not all that counts can be counted and not all that can be counted
counts”. Einstein (*)
• A mensuração da externalidade é uma tentativa de estabelecer um grau
de relevância dessa perda com outros valores econômicos.
(*) Nem tudo o que importa pode ser medido e nem tudo o que pode ser medido importa.
16. Vários níveis de valoração: qualitativa, quantitativa e
monetária
17. Valores de distintas
naturezas:
Valores de uso: direto,
indireto, opcionais
(futuro)
Valores de não uso:
legados futuros,
existência
(independente do uso),
altruístas
18. Valoração do Capital Natural (!?)
• Se o ar, os rios, os nutrientes da terra e o subsolo são insumos de toda produção
e a condição da vida, então o planeta pode ser encarado como um gigantesco
estoque de capital.
• “Podemos pensar na atmosfera como um ativo comum, que seria mantido em
trust para a atual geração e as futuras ... Com um trust atmosférico, aqueles que
gastam o ativo são cobrados por esse gasto, por exemplo, com impostos sobre o
carbono, mas aqueles que melhoram o ativo são pagos, por exemplo, com
créditos de carbono.” Robert Costanza, da Australian National University
• “Calculating the economic value is not the same as putting a price tag on
nature”. Jutta Kill
19. • A falta de propriedade das commodities ambientais é a causa do problema.
O modelo de maximização de lucros leva em conta apenas custos diretos,
não os indiretos associados a efeitos negativos de poluição de ar e água.
Assim, mais produtos e serviços são produzidos do que seriam se poluição
fosse controlada ou precificada. CFA
• Tendência? Tributação fundamentada em externalidades. Incentivo para
positivas (ex. reciclagem) e punição às negativas (carbon tax).
Valoração do Capital Natural (!?)
20. • “the economic invisibility of nature must end” . “Usamos a natureza porque
ela tem valor, mas perdemos a natureza porque ela não tem preço.
Atualmente ninguem paga pelos serviços ecossistemicos. … Falta um
incentive aos que fazem as coisas direito … É preciso criar um Mercado”. Pavan
Sukhdev
X
• “Se a nossa preocupação é conservar os serviços ecossistemicos, a
valoração é amplamente irrelevante … Valoração não é nem necessária
nem suficiente para conservação. Nos conservamos muito do que não
valorizamos, e não conservamos o que valorizamos” Geoffrey Heal
Valoração do Capital Natural (!?)
21. Financeirização da natureza (?!)
• “If this is your land, where are your stories?… how stories give meaning
and value to the places we call home”. Gitskan elder, Canadá
• A “nova economia da natureza” está perigosamente concentrada numa
definição estrita de que natureza significa “áreas selvagens sem
interferência humana, ricas de biodiversidade”. Jutta Kill
22. Precificação
• A precificação já está acontecendo e prejudicando os mais pobres? ...
Pergunte a quem gasta 4 a 5 horas por dia no transporte, ou vive
próximo a um lixão, ou perto do barulho dos aviões. C. Young
23. Monetização
“What is a cynic? A man who knows the price of everything and the value of
nothing.” Oscar Wilde
• “Empurrar o mundo natural ainda mais para o fundo do sistema que o está
devorando vivo”. George Monbiot
• “Pagamentos muitas vezes legitimam a exploração econômica do recurso”.
Guilherme Lichand
• “Não há dados suficientes para a monetização da natureza e, diante da
urgência socioambiental, não podemos aguardá-los para só depois agir”.
CEBDS
24. Transações
• “Não queremos transacionar, vender ou privatizar esses ativos, mas
temos de reconhecer seu valor e começar a tomar medidas urgentes
para protegê-los e restaurá-los.” Robert Costanza -Australian National University
• “Títulos verdes”, emitidos por empresas como GDF-Suez e Unilever.
Em 2013 foram lançados US$ 11 bilhões nesses títulos e, no primeiro
semestre de 2014, US$ 18,3 bilhões. Um mercado que tem crescido
60% ao ano. HSBC
25. Iniciativas de Valoração e Transação
• Millennium Ecosystem Assessment, Natural Capital accounting,
The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) e outros
• PES - Payment for Environmental Services – 4 categorias:
I. PES para implementação de politicas públicas voltadas para proteção de áreas naturais
II. Doações privadas e programas governamentais não ligadas a políticas públicas de
conservação
III. Pagamentos voluntários para compensação de poluição ou destruição percebidas como
excessivas
IV. Pagamentos para permissão para destruir ou poluir acima de limites legais
• Qual a diferença?
• Esquemas III e IV são fundamentados no pagamento de permissão para produção de
externalidades negativas
• Mudam a forma como as leis tratam de poluição e outras formas de danos ambientais.
Passam a ser permitidas desde que um valor “apropriado” seja pago. Significa que aqueles
que podem pagar a conta, podem adquirir o direito de causar externalidades ilegais,
transformando o que era certo ou errado em preços. Jutta Kill
26. Cap-and-trade
• Permissões transferíveis do direito de poluir. Um preço pelo direito de
poluir.
• Se o preço for maior que a o custo tecnológico requerido para
eliminar a poluição, a inovação será promovida.
28. Contabilização
• CEBEDS desenvolve ferramenta, voltada para a tomada de decisão.
Métrica que caracteriza passivos ambientais, e os recursos financeiros
para remediação de problemas ambientais são expressos nos
demonstrativos contábeis. Participação de Petrobras, Basf, Votorantim e Vale
• “O mundo da contabilidade já entende a valoração socioambiental
como uma necessidade, mas é preciso padronizar a régua”. Carlos Rossin, PwC
Brasil
29.
30.
31. | 31
REPORTING PLAYERS
IASC International Accounting Standards Committee
IASB International Accounting Standards Board
International Financial Reporting Standards
32. PWC medindo impacto total:
limites dos impactos diretos
ampliados para a cadeia de
valor inteira
33. EP&L Puma: Externalidades medidas
e valoradas em 4 níveis da cadeia da
valor
Exemplo: do gado, origem do couro,
e desmatamento, a emissões GHG
na distribuição dos produtos finais
34. EP&L Puma
Impacto por categoria: uso
da terra, GHG, água,
resíduos e poluição do ar
Impacto por supridores:
matérias primas,
impressores, manufatura,
logística
36. Empresas causam problemas sociais e ambientais
Prosperam às custas da sociedade
Visão estreita de criação de valor
Foco em resultados financeiros de curto prazo
Ignoram determinantes de sucesso de longo prazo
38. | 38
INCORPORAÇÃO ESG NO VALOR
ValorEstratégiaOperação
Materialidade
(o que realmente
importa!)
Externalidades
Transparencia
Reporting
ESG
Risco/Benefício
(Sustentabilidade)
39. | 39
INCORPORAÇÃO ESG NO VALOR
ValorEstratégiaOperação
Externalidades
Transparencia
Report
ESG
Risco/Benefício
(Sustentabilidade)
Integrated
Report
Balanços
e
Valuations
Produtos e
receitas
Custos
Riscos
Materialidade
(o que realmente
importa!)
42. • Quem acha que questões sócio ambientais não são importantes e não tem
valor?
• Quem acha que quem causa impactos sócio ambientais não precisa pagar
por esses impactos?
• Quem acha que a natureza tem valor?
• Quem acha que este valor tem que ser quantificado?
• Quem acha que este valor deve ser monetizado?
• Quem acha que este valor pode que ser negociado?
Se precisa pagar pelos danos e não se pode precificar e negociar, qual a
solução? Afetar o valor das organizações?
Pra pensar em público...