SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 11
Baixar para ler offline
1 INTRODUÇÃO
Não há dúvidas quanto a importância da Internet nos dias atuais e também não há
dúvidas de que ela marcou o mundo após sua popularização. Ainda hoje, a Internet tem a
capacidade de alterar a forma com que empresas fecham negócios ou seu modo de
operação e também tem ainda a capacidade de alterar o cotidiano das pessoas.
Um dos grandes desafios na Internet é a recuperação da informação. Mesmo com
todo o avanço tecnológico e anos de estudos, ainda hoje é impossível ter somente
resultados plausíveis em um site de busca. Algumas vezes esses sites de busca informam
como resultado páginas Web que já foram apagadas.
Nesse contexto vislumbra-se como novo e significativo avanço, em termos de
tecnologia para Internet, a Web Semântica. O projeto está em desenvolvimento na
empresa W3C, cujo diretor é Tim Berners-Lee, o inventor da Web. De acordo com
Wilson (2007), com a Web Semântica em funcionamento, os computadores poderão
entender o conteúdo de um site.
A seguir trataremos dos ferramentas que sustentam a Web Semântica e permitem
seu funcionamento e os desafios a serem superados para implementação dessa poderosa
ferramenta.
2 O QUE SERÁ POSSÍVEL COM A WEB SEMÂNTICA
Um consumidor visita um site de uma loja virtual na Internet em busca de um
DVD. Este consumidor sabe o título que procura e as características do DVD como sua
preferência por DVD simples ou duplo, se prefere tela widescreen ou fullscreen, tem
preferência a respeito de o título ser dublado ou legendado, dentre outros. Para concluir
sua tarefa ele necessita visitar várias páginas web para verificar se as condições
especificadas estão sendo correspondidas.
Este é um exemplo introdutório de Wilson (2007) e o próprio autor mostra a
alternativa da Web Semântica: o consumidor teria em seu computador um programa
intitulado agente. Este agente faria a busca na Web e devolveria ao consumidor a(s)
melhor(es) resposta(s); daí ele carregaria o programa de finanças pessoais do consumidor
e registraria o valor gasto; também, em seu programa de agenda, registraria a data da
entrega. Este programa agente ainda teria a informação se o resultado da compra foi
satisfatória ou não, visando compras futuras na loja virtual em que o consumidor fechou
negócio.
Wilson (2007) conclui que isto é possível porque o agente busca na Web
metadados correspondentes às preferências do consumidor. Metadados são dados que são
utilizados no intuito de interpretar outros dados. De acordo com Berners-Lee apud
Wilson (2007), “estas ferramentas deixarão a Web, atualmente semelhante a um grande
livro, como um gigante banco de dados”.
3 MARCAÇÃO VIA XML E RDF
O computador, ou a linguagem da máquina, necessita de programações
específicas para que possa fazer conclusões lógicas, relata Wilson (2007). Por exemplo,
se o usuário informa no computador que José é pai de Maria, ao computador somente
será possível interpretar que Maria é filha de José se houver uma programação específica
para isso.
Nesse contexto se apresenta duas ferramentas primordiais para a Web Semântica:
as linguagens de marcação XML e RDF. Conforme Holzner (2001), uma linguagem de
marcação é uma linguagem de programação para computadores na qual existe uma
marcação referente à descrição da forma do documento. Um exemplo de linguagem de
marcação é a Hypertext Markup Language – HTML, amplamente utilizada na Web.
A Extensible Markup Language – XML, tem como vantagem sobre a HTML o
fato de ser customisável, conforme Wilson (2007), isto quer dizer que a XML não é
rígida e com padrões limitados como a HTML, via XML é possível criar uma linguagem
de marcação própria do desnvolvedor, além de permitir a troca de dados. Mas a XML não
substitui a HTML, ela a complementa, acrescenta Wilson (2007), via tags1
que
descrevem dados. Holzner (2001) completa que os documentos XML são compostos de
marcação e dados de caracteres, a marcação em um documento revela sua estrutura e esta
marcação inclui tags de início, tags de fim, tags de elemento vazio, dentre outras.
A Resource Description Framework – RDF é uma aplicação da XML, define
Wilson (2007), especializada em metadados. Via RDF é possível criar vocabulários com
o intuito de descrever recursos, como exemplo tem-se o Dublin Core, que será tratado
mais adiante. Wilson (2007) acrescenta que a RDF trabalha como se tudo fosse um
recurso, como um item específico ou um local na Web, dessa forma, o computador sabe
exatamente o que o recurso é. Além disso, quando bem definidos os recursos, o
computador identificará a informação exatamente como ela é, evitando interpretar que
José é irmão de Maria, citando o exemplo anterior.
Holzner (2001) completa que a RDF é um pilar para o processamento de
metadados; oferecendo interoperabilidade entre aplicações na Web que trocam
1
Tags são dados de caracteres (linguagem de programação). (Wilson 2007).
informações inteligíveis às máquinas. A RDF vale-se de da XML para trocar descrições
de recursos da Web, mas os recursos que estão sendo descritos podem ser de qualquer
tipo, XML e não XML.
Para cumprir este objetivo, a RDF usa um trio escrito como tags XML para
expressar informação como um gráfico. Em analogia a gramática portuguesa, esse trio
funcionaria exatamente como sujeito, o predicado e o objeto em uma frase, e sua
denominação, exatamente na ordem, seria sujeito, propriedade e objeto. O exemplo
apresentado acima, seria esquematizado via RDF, conforme a figura 1 abaixo. Um
exemplo de RDF hoje na internet são os campos de RSS.
Figura 1: O trio RDF
Fonte: Wilson (2007)
Até este ponto o computador entende que há dois objetos na sentença e um
relacionamento entre eles. Mas ele não sabe o que os objetos são e como se relacionam.
As ferramentas para adicionar essa interpretação serão vistas a seguir.
3.1 O DUBLIN CORE
Conforme Holzner (2001), a RDF é genérica o suficiente para dar suporte a todos
os tipos de descricoes de recursos, essa generalidade, para ser útil, deverá usar termos
combinados. Várias linguagens utilizam a RDF e definem elementos específicos da XML
para descrever recursos, neste contexto que aparece o Dublin Core.
Para Holzner (2001), o Dublin Core se autodenomina iniciativa de metadados e
oferece um modelo de conteúdo RDF muito utilizado para descrever recursos da Web.
4 URI
Mesmo com a estrutura da XML e da RDF, o computador ainda precisa de uma
referência específica para que possa entender quem ou o que os recursos são, informa
Wilson (2007). Para cumprir este objetivo, os computadores se valem dos identificadores
de recursos uniformes, em inglês Uniform Resource Identifier – URI. O URI tem a
habilidade de apontar para qualquer coisa na Web e fora dela, como aplicativos
domésticos do usuários. Na figura 2 abaixo, a URI dá ao computador um ponto específico
de referência para cada item do trio, não há possibilidade de mal entendido ou
necessidade de interpretação.
Figura 2: RDF utilizando URI para direcionar o computador
Fonte: Wilson (2007)
Wilson (2007) observa que um ponto importante a ser analisado na figura 2 é que
a URI da propriedade aponta para um local diferente da URI Recuso e da URI Valor, na
verdade, ela aponta para um documento que está de um servidor denominado
planofamiliar. Se esta página realmente existisse, ela seria o namespace XML.
Namespace XML são, segundo Holner (2001), documentos constituídos para evitar
conflitos de linguagem. Como informado acima, a XML pode ser customizada, assim, há
várias versões da XML que podem se sobrepor, criando conflito.
Diferente do HTML, que utiliza padrões tags como <b> para negrito e <u> para
sublinhado, XML não tem padrões tags, informa Holzner (2001). Isto é útil porque,
conforme Wilson (2007), permite a desenvolvedores criarem tags únicos para propósitos
específicos. Mas isto significa que o browser não sabe automaticamente o que os tags
significam.
Um namespace XML é basicamente é um aplicativo-documento que diz o
significado de todos os tags em outros documentos. O criador de um documento XML
declara o namespace no início do documento com uma linha de código. No exemplo
acima, a declaração namespace seria:
<rdf:RDF xmlns:plf=http://www.planofamiliar.com.br/example/RDF/relacionamento#>
Segundo Wilson (2007), esta linha de código é interpretada pelo computador: em
qualquer tag que inicie com plf utilize o vocabulário encontrado neste documento, aqui
pode-se encontrar qualquer tag iniciando com plf. Deste modo, as pessoas podem criar
um tag XML que precisam para encontrar um documento, sem conflito com outro
documento XML na Web.
XML e RDF são as linguagens oficiais da Web Semântica, porém, sozinhas não
seriam suficientes para fazer todo acesso da Web ao computador. Assim há necessidade
de analisar outras camadas, descritas a seguir.
5 LINGUAGENS E VOCABULÁRIOS: RDFS, OWL E SKOS
De acordo com Wilson (2007), outro obstáculo a ser superado pela Web
Semântica é a questão do vocabulário. Fazendo um paralelo com o cotidiano de uma
pessoa e com o computador, percebe-se que para a pessoa é fácil entender associações e
conexões entre conceitos, já para o computador esta não é uma tarefa rotineira. Para que
os computadores possam cumprir esta tarefa, eles são providos de documentos que
descrevem todas as palavras e lógicas para fazer as conexões necessárias.
Na Web Semântica, conforme Wilson (2007), isto é possível com através de duas
ferramentas: esquema e ontologia. Uma ontologia é um vocabulário que descreve objetos
e como se relacionam uns com outros. Já um esquema é um método para organizar
informação. O acesso à ontologia e ao esquema se dá através de documentos como
metadados. O desenvolvedor, quando da criação da página web, deverá declarar quais
ontologias estão referenciadas no início do documento.
De acordo com Holzner (2001), um documento XML, cuja sintaxe foi verificada
com sucesso, é denominado documento válido; um documento XML para ser
considerado válido deverá conter Definição de Tipo de Documento – DTD ou esquema
XML associado a ele e se o documento estiver de acordo com a DTD ou com o esquema.
Ainda segundo Holzner (2001), as DTD’s referem-se todas às especificações da
estrutura e sintaxe dos documentos XML, não seu conteúdo. Várias organizações podem
compartilhar uma DTD para colocar uma aplicação XML em prática.
Como mencionado há pouco, o esquema XML tem o poder de validar um
documento XML. O esquema XML, de acordo com Holner (2001) é uma evolução da
DTD, ou seja, sua função não é de apenas validar documento XML, mas também:
especificar os tipos de dados reais do conteúdo de cada elemento, herdar a sintaxe de
outros esquemas, dentre outros.
Para Wilson (2007), os esquemas e ontologias usadas na Web Semântica incluem:
 Esquema para Linguagem de Descrição de Vocabulário RDF (RDFS) –
RDFS adiciona classes, subclasses e propriedade aos recursos, criando estrutura
básica de linguagem. Por exemplo, o recurso PAI é uma subclasse da classe
HOMEM. Uma propriedade de PAI poderia ser CARINHOSO.
 Sistema de Organização de Conhecimento Simples (SKOS) – SKOS
classifica recursos em termos de amplo ou curto, permite designação de
preferência e rótulos alternativos e pode levar rapidamente porto tesauro e
glossários da Web. Por exemplo, num glossário FISIOLOGIA, um termo curto
para HOMEM poderia ser JOSÉ e um termo amplo seria BONDADE.
 Linguagem de Ontologia Web (OWL) – OWL, a camada mais complexa,
formaliza ontologias, descreve relacionamentos entre classes e usa lógica para
fazer deduções. Ele pode também construir novas classes baseado em informações
existentes. OWL está disponível em três níveis de complexidade: leve, Linguagem
Descrição e Total.
Wilson (2007) relata que o problema das ontologias é que elas são difíceis de
criar, de implementar e de manter. As ontologias podem ser muito grandes, definindo
grande variedade de conceitos e relacionamentos. Este aspecto cria um conflito entre os
desenvolvedores: alguns preferem focar na lógica e não nas ontologias. Tal fato, conclui
Wilson (2007), pode culminar com a Web Semântica.
No exemplo do capítulo 2, foi tratado sobre a compra de um DVD. Aqui está
como a Web Semântica poderia fazer todo o processo mais simples, em conformidade
com Wilson (2007):
 cada site teria texto e figuras (para as pessoas) e metadados (para os
computadores lerem) descrevendo os DVD’s disponíveis para compra naquele
site;
 os metadados, valendo-se de trios RDF e tags XML, fariam todos os atributos dos
DVD’s (como configuração e preço) legíveis pela máquina;
 quando necessário, negócios usariam ontologias para dar o vocabulário necessário
ao computador para descrever todos os objetos e seus atributos; os sites de
compras poderiam usar as mesmas ontologias, também todos os metadados
seriam uma linguagem comum;
 cada site vendendo DVD’s usaria também segurança apropriada e meios de
encriptação para proteger a informação dos clientes;
 aplicações computadorizadas ou agentes leriam todos os metadados e
encontrariam diferentes sites; as aplicações poderiam ainda comparar
informações, verificando aquelas que as origens eram acuradas e confiáveis.
Evidentemente, esclarece Wilson (2007), a Web é enorme e adicionar todos estes
metadados às páginas existentes é uma tarefa gigante. Esse e outros obstáculos para a
Web Semântica serão vistos a seguir.
6 UM OLHAR FUTURO À WEB SEMÂNTICA
De acordo com Wilson (2007), muito da Web Semântica ainda está em
desenvolvimento. Tal como a World Wide Web, a Web Semântica não está subordinada a
nenhuma empresa ou governo. Todavia, algumas pessoas e organizações têm tomado as
rédias de sua estruturação, como a W3C (World Wide Web Consortium).
Essa liberdade, ainda segundo Wilson (2007), permite aos desenvolvedores
criarem as tags e ontologias de que precisam, porém, pode ocorrer que desenvolvedores
que não estejam trabalhando em conjunto, criem tags e ontologias para descrever a
mesma coisa de forma diferentes.
Outra crítica apontada por Wilson (2007) é referente a questão do problema da
identidade: um URI representa uma website ou os objetos descritos nela? Como dito
acima, há alguns desenvolvedores que preferem focar em lógica e outros em ontologias.
Qualquer caminho que se siga, o projeto é enorme.
REFERÊNCIAS
HOLZNER, Steven. Desvendendo XML. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
WILSON, Tracy V.. How The Semantic Web Works. 2007. Disponível em
<http://computer.howstuffworks.com/semantic-web.htm>. Acesso em: 06/06/2007.
Nossa tradução.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a A Web Semântica e suas ferramentas

Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30
Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30
Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30UEPA
 
Arquitetura: XML + RDF ate WebSemantica
Arquitetura: XML + RDF ate WebSemanticaArquitetura: XML + RDF ate WebSemantica
Arquitetura: XML + RDF ate WebSemanticaSergio Crespo
 
Apresentação Final de Banco de Dados
Apresentação Final de Banco de DadosApresentação Final de Banco de Dados
Apresentação Final de Banco de Dadossamlobo
 
Síntese Web Semântica U F P E Maio 2009
Síntese  Web  Semântica    U F P E Maio 2009Síntese  Web  Semântica    U F P E Maio 2009
Síntese Web Semântica U F P E Maio 2009gestao
 
Workshop do Bem: O mundo das APIs
Workshop do Bem: O mundo das APIsWorkshop do Bem: O mundo das APIs
Workshop do Bem: O mundo das APIsHeider Lopes
 
O MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
O MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMASO MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
O MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMASHeider Lopes
 
Web 3.0 - A Semântica na Rede
Web 3.0 - A Semântica na RedeWeb 3.0 - A Semântica na Rede
Web 3.0 - A Semântica na RedeElvis Fusco
 
GT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEB
GT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEBGT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEB
GT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEBJhonatas Bruno
 
Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...
Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...
Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...Leandro Borges
 
Javascript - Aplicações Interativas para a Web
Javascript - Aplicações Interativas para a WebJavascript - Aplicações Interativas para a Web
Javascript - Aplicações Interativas para a WebAdriano Lima
 

Semelhante a A Web Semântica e suas ferramentas (20)

Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30
Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30
Palestra Dia da Liberdade dos Documentos - 2011-03-30
 
eXtensible Markup Language (XML)
eXtensible Markup Language (XML)eXtensible Markup Language (XML)
eXtensible Markup Language (XML)
 
Tópico 3 - RDF
Tópico 3 - RDFTópico 3 - RDF
Tópico 3 - RDF
 
Web Semântica
Web SemânticaWeb Semântica
Web Semântica
 
Arquitetura: XML + RDF ate WebSemantica
Arquitetura: XML + RDF ate WebSemanticaArquitetura: XML + RDF ate WebSemantica
Arquitetura: XML + RDF ate WebSemantica
 
Web 3 - A Web de Dados
Web 3 - A Web de DadosWeb 3 - A Web de Dados
Web 3 - A Web de Dados
 
Linked Data
Linked DataLinked Data
Linked Data
 
WEB 3.0
WEB 3.0WEB 3.0
WEB 3.0
 
WebServices-XML
WebServices-XMLWebServices-XML
WebServices-XML
 
Apresentação Final de Banco de Dados
Apresentação Final de Banco de DadosApresentação Final de Banco de Dados
Apresentação Final de Banco de Dados
 
Síntese Web Semântica U F P E Maio 2009
Síntese  Web  Semântica    U F P E Maio 2009Síntese  Web  Semântica    U F P E Maio 2009
Síntese Web Semântica U F P E Maio 2009
 
Java e XML
Java e XMLJava e XML
Java e XML
 
Workshop do Bem: O mundo das APIs
Workshop do Bem: O mundo das APIsWorkshop do Bem: O mundo das APIs
Workshop do Bem: O mundo das APIs
 
O MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
O MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMASO MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
O MUNDO DAS APIS OTIMIZANDO A INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
 
Web 3.0 - A Semântica na Rede
Web 3.0 - A Semântica na RedeWeb 3.0 - A Semântica na Rede
Web 3.0 - A Semântica na Rede
 
Banco de dados_orientado_a_objetos
Banco de dados_orientado_a_objetosBanco de dados_orientado_a_objetos
Banco de dados_orientado_a_objetos
 
GT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEB
GT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEBGT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEB
GT4 - Tópicos de Programação e Evolução WEB
 
Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...
Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...
Do Gopher, Web Crawler, Google, pagerank, sitemaps, ontologia, ao Big Data, W...
 
Javascript - Aplicações Interativas para a Web
Javascript - Aplicações Interativas para a WebJavascript - Aplicações Interativas para a Web
Javascript - Aplicações Interativas para a Web
 
Modelagem de dados
Modelagem de dadosModelagem de dados
Modelagem de dados
 

A Web Semântica e suas ferramentas

  • 1. 1 INTRODUÇÃO Não há dúvidas quanto a importância da Internet nos dias atuais e também não há dúvidas de que ela marcou o mundo após sua popularização. Ainda hoje, a Internet tem a capacidade de alterar a forma com que empresas fecham negócios ou seu modo de operação e também tem ainda a capacidade de alterar o cotidiano das pessoas. Um dos grandes desafios na Internet é a recuperação da informação. Mesmo com todo o avanço tecnológico e anos de estudos, ainda hoje é impossível ter somente resultados plausíveis em um site de busca. Algumas vezes esses sites de busca informam como resultado páginas Web que já foram apagadas. Nesse contexto vislumbra-se como novo e significativo avanço, em termos de tecnologia para Internet, a Web Semântica. O projeto está em desenvolvimento na empresa W3C, cujo diretor é Tim Berners-Lee, o inventor da Web. De acordo com Wilson (2007), com a Web Semântica em funcionamento, os computadores poderão entender o conteúdo de um site. A seguir trataremos dos ferramentas que sustentam a Web Semântica e permitem seu funcionamento e os desafios a serem superados para implementação dessa poderosa ferramenta.
  • 2. 2 O QUE SERÁ POSSÍVEL COM A WEB SEMÂNTICA Um consumidor visita um site de uma loja virtual na Internet em busca de um DVD. Este consumidor sabe o título que procura e as características do DVD como sua preferência por DVD simples ou duplo, se prefere tela widescreen ou fullscreen, tem preferência a respeito de o título ser dublado ou legendado, dentre outros. Para concluir sua tarefa ele necessita visitar várias páginas web para verificar se as condições especificadas estão sendo correspondidas. Este é um exemplo introdutório de Wilson (2007) e o próprio autor mostra a alternativa da Web Semântica: o consumidor teria em seu computador um programa intitulado agente. Este agente faria a busca na Web e devolveria ao consumidor a(s) melhor(es) resposta(s); daí ele carregaria o programa de finanças pessoais do consumidor e registraria o valor gasto; também, em seu programa de agenda, registraria a data da entrega. Este programa agente ainda teria a informação se o resultado da compra foi satisfatória ou não, visando compras futuras na loja virtual em que o consumidor fechou negócio. Wilson (2007) conclui que isto é possível porque o agente busca na Web metadados correspondentes às preferências do consumidor. Metadados são dados que são utilizados no intuito de interpretar outros dados. De acordo com Berners-Lee apud Wilson (2007), “estas ferramentas deixarão a Web, atualmente semelhante a um grande livro, como um gigante banco de dados”.
  • 3. 3 MARCAÇÃO VIA XML E RDF O computador, ou a linguagem da máquina, necessita de programações específicas para que possa fazer conclusões lógicas, relata Wilson (2007). Por exemplo, se o usuário informa no computador que José é pai de Maria, ao computador somente será possível interpretar que Maria é filha de José se houver uma programação específica para isso. Nesse contexto se apresenta duas ferramentas primordiais para a Web Semântica: as linguagens de marcação XML e RDF. Conforme Holzner (2001), uma linguagem de marcação é uma linguagem de programação para computadores na qual existe uma marcação referente à descrição da forma do documento. Um exemplo de linguagem de marcação é a Hypertext Markup Language – HTML, amplamente utilizada na Web. A Extensible Markup Language – XML, tem como vantagem sobre a HTML o fato de ser customisável, conforme Wilson (2007), isto quer dizer que a XML não é rígida e com padrões limitados como a HTML, via XML é possível criar uma linguagem de marcação própria do desnvolvedor, além de permitir a troca de dados. Mas a XML não substitui a HTML, ela a complementa, acrescenta Wilson (2007), via tags1 que descrevem dados. Holzner (2001) completa que os documentos XML são compostos de marcação e dados de caracteres, a marcação em um documento revela sua estrutura e esta marcação inclui tags de início, tags de fim, tags de elemento vazio, dentre outras. A Resource Description Framework – RDF é uma aplicação da XML, define Wilson (2007), especializada em metadados. Via RDF é possível criar vocabulários com o intuito de descrever recursos, como exemplo tem-se o Dublin Core, que será tratado mais adiante. Wilson (2007) acrescenta que a RDF trabalha como se tudo fosse um recurso, como um item específico ou um local na Web, dessa forma, o computador sabe exatamente o que o recurso é. Além disso, quando bem definidos os recursos, o computador identificará a informação exatamente como ela é, evitando interpretar que José é irmão de Maria, citando o exemplo anterior. Holzner (2001) completa que a RDF é um pilar para o processamento de metadados; oferecendo interoperabilidade entre aplicações na Web que trocam 1 Tags são dados de caracteres (linguagem de programação). (Wilson 2007).
  • 4. informações inteligíveis às máquinas. A RDF vale-se de da XML para trocar descrições de recursos da Web, mas os recursos que estão sendo descritos podem ser de qualquer tipo, XML e não XML. Para cumprir este objetivo, a RDF usa um trio escrito como tags XML para expressar informação como um gráfico. Em analogia a gramática portuguesa, esse trio funcionaria exatamente como sujeito, o predicado e o objeto em uma frase, e sua denominação, exatamente na ordem, seria sujeito, propriedade e objeto. O exemplo apresentado acima, seria esquematizado via RDF, conforme a figura 1 abaixo. Um exemplo de RDF hoje na internet são os campos de RSS. Figura 1: O trio RDF Fonte: Wilson (2007) Até este ponto o computador entende que há dois objetos na sentença e um relacionamento entre eles. Mas ele não sabe o que os objetos são e como se relacionam. As ferramentas para adicionar essa interpretação serão vistas a seguir. 3.1 O DUBLIN CORE Conforme Holzner (2001), a RDF é genérica o suficiente para dar suporte a todos os tipos de descricoes de recursos, essa generalidade, para ser útil, deverá usar termos combinados. Várias linguagens utilizam a RDF e definem elementos específicos da XML para descrever recursos, neste contexto que aparece o Dublin Core. Para Holzner (2001), o Dublin Core se autodenomina iniciativa de metadados e oferece um modelo de conteúdo RDF muito utilizado para descrever recursos da Web.
  • 5. 4 URI Mesmo com a estrutura da XML e da RDF, o computador ainda precisa de uma referência específica para que possa entender quem ou o que os recursos são, informa Wilson (2007). Para cumprir este objetivo, os computadores se valem dos identificadores de recursos uniformes, em inglês Uniform Resource Identifier – URI. O URI tem a habilidade de apontar para qualquer coisa na Web e fora dela, como aplicativos domésticos do usuários. Na figura 2 abaixo, a URI dá ao computador um ponto específico de referência para cada item do trio, não há possibilidade de mal entendido ou necessidade de interpretação. Figura 2: RDF utilizando URI para direcionar o computador Fonte: Wilson (2007) Wilson (2007) observa que um ponto importante a ser analisado na figura 2 é que a URI da propriedade aponta para um local diferente da URI Recuso e da URI Valor, na verdade, ela aponta para um documento que está de um servidor denominado planofamiliar. Se esta página realmente existisse, ela seria o namespace XML. Namespace XML são, segundo Holner (2001), documentos constituídos para evitar conflitos de linguagem. Como informado acima, a XML pode ser customizada, assim, há várias versões da XML que podem se sobrepor, criando conflito. Diferente do HTML, que utiliza padrões tags como <b> para negrito e <u> para sublinhado, XML não tem padrões tags, informa Holzner (2001). Isto é útil porque, conforme Wilson (2007), permite a desenvolvedores criarem tags únicos para propósitos
  • 6. específicos. Mas isto significa que o browser não sabe automaticamente o que os tags significam. Um namespace XML é basicamente é um aplicativo-documento que diz o significado de todos os tags em outros documentos. O criador de um documento XML declara o namespace no início do documento com uma linha de código. No exemplo acima, a declaração namespace seria: <rdf:RDF xmlns:plf=http://www.planofamiliar.com.br/example/RDF/relacionamento#> Segundo Wilson (2007), esta linha de código é interpretada pelo computador: em qualquer tag que inicie com plf utilize o vocabulário encontrado neste documento, aqui pode-se encontrar qualquer tag iniciando com plf. Deste modo, as pessoas podem criar um tag XML que precisam para encontrar um documento, sem conflito com outro documento XML na Web. XML e RDF são as linguagens oficiais da Web Semântica, porém, sozinhas não seriam suficientes para fazer todo acesso da Web ao computador. Assim há necessidade de analisar outras camadas, descritas a seguir.
  • 7. 5 LINGUAGENS E VOCABULÁRIOS: RDFS, OWL E SKOS De acordo com Wilson (2007), outro obstáculo a ser superado pela Web Semântica é a questão do vocabulário. Fazendo um paralelo com o cotidiano de uma pessoa e com o computador, percebe-se que para a pessoa é fácil entender associações e conexões entre conceitos, já para o computador esta não é uma tarefa rotineira. Para que os computadores possam cumprir esta tarefa, eles são providos de documentos que descrevem todas as palavras e lógicas para fazer as conexões necessárias. Na Web Semântica, conforme Wilson (2007), isto é possível com através de duas ferramentas: esquema e ontologia. Uma ontologia é um vocabulário que descreve objetos e como se relacionam uns com outros. Já um esquema é um método para organizar informação. O acesso à ontologia e ao esquema se dá através de documentos como metadados. O desenvolvedor, quando da criação da página web, deverá declarar quais ontologias estão referenciadas no início do documento. De acordo com Holzner (2001), um documento XML, cuja sintaxe foi verificada com sucesso, é denominado documento válido; um documento XML para ser considerado válido deverá conter Definição de Tipo de Documento – DTD ou esquema XML associado a ele e se o documento estiver de acordo com a DTD ou com o esquema. Ainda segundo Holzner (2001), as DTD’s referem-se todas às especificações da estrutura e sintaxe dos documentos XML, não seu conteúdo. Várias organizações podem compartilhar uma DTD para colocar uma aplicação XML em prática. Como mencionado há pouco, o esquema XML tem o poder de validar um documento XML. O esquema XML, de acordo com Holner (2001) é uma evolução da DTD, ou seja, sua função não é de apenas validar documento XML, mas também: especificar os tipos de dados reais do conteúdo de cada elemento, herdar a sintaxe de outros esquemas, dentre outros. Para Wilson (2007), os esquemas e ontologias usadas na Web Semântica incluem:  Esquema para Linguagem de Descrição de Vocabulário RDF (RDFS) – RDFS adiciona classes, subclasses e propriedade aos recursos, criando estrutura básica de linguagem. Por exemplo, o recurso PAI é uma subclasse da classe HOMEM. Uma propriedade de PAI poderia ser CARINHOSO.
  • 8.  Sistema de Organização de Conhecimento Simples (SKOS) – SKOS classifica recursos em termos de amplo ou curto, permite designação de preferência e rótulos alternativos e pode levar rapidamente porto tesauro e glossários da Web. Por exemplo, num glossário FISIOLOGIA, um termo curto para HOMEM poderia ser JOSÉ e um termo amplo seria BONDADE.  Linguagem de Ontologia Web (OWL) – OWL, a camada mais complexa, formaliza ontologias, descreve relacionamentos entre classes e usa lógica para fazer deduções. Ele pode também construir novas classes baseado em informações existentes. OWL está disponível em três níveis de complexidade: leve, Linguagem Descrição e Total. Wilson (2007) relata que o problema das ontologias é que elas são difíceis de criar, de implementar e de manter. As ontologias podem ser muito grandes, definindo grande variedade de conceitos e relacionamentos. Este aspecto cria um conflito entre os desenvolvedores: alguns preferem focar na lógica e não nas ontologias. Tal fato, conclui Wilson (2007), pode culminar com a Web Semântica. No exemplo do capítulo 2, foi tratado sobre a compra de um DVD. Aqui está como a Web Semântica poderia fazer todo o processo mais simples, em conformidade com Wilson (2007):  cada site teria texto e figuras (para as pessoas) e metadados (para os computadores lerem) descrevendo os DVD’s disponíveis para compra naquele site;  os metadados, valendo-se de trios RDF e tags XML, fariam todos os atributos dos DVD’s (como configuração e preço) legíveis pela máquina;  quando necessário, negócios usariam ontologias para dar o vocabulário necessário ao computador para descrever todos os objetos e seus atributos; os sites de compras poderiam usar as mesmas ontologias, também todos os metadados seriam uma linguagem comum;  cada site vendendo DVD’s usaria também segurança apropriada e meios de encriptação para proteger a informação dos clientes;
  • 9.  aplicações computadorizadas ou agentes leriam todos os metadados e encontrariam diferentes sites; as aplicações poderiam ainda comparar informações, verificando aquelas que as origens eram acuradas e confiáveis. Evidentemente, esclarece Wilson (2007), a Web é enorme e adicionar todos estes metadados às páginas existentes é uma tarefa gigante. Esse e outros obstáculos para a Web Semântica serão vistos a seguir.
  • 10. 6 UM OLHAR FUTURO À WEB SEMÂNTICA De acordo com Wilson (2007), muito da Web Semântica ainda está em desenvolvimento. Tal como a World Wide Web, a Web Semântica não está subordinada a nenhuma empresa ou governo. Todavia, algumas pessoas e organizações têm tomado as rédias de sua estruturação, como a W3C (World Wide Web Consortium). Essa liberdade, ainda segundo Wilson (2007), permite aos desenvolvedores criarem as tags e ontologias de que precisam, porém, pode ocorrer que desenvolvedores que não estejam trabalhando em conjunto, criem tags e ontologias para descrever a mesma coisa de forma diferentes. Outra crítica apontada por Wilson (2007) é referente a questão do problema da identidade: um URI representa uma website ou os objetos descritos nela? Como dito acima, há alguns desenvolvedores que preferem focar em lógica e outros em ontologias. Qualquer caminho que se siga, o projeto é enorme.
  • 11. REFERÊNCIAS HOLZNER, Steven. Desvendendo XML. Rio de Janeiro: Campus, 2001. WILSON, Tracy V.. How The Semantic Web Works. 2007. Disponível em <http://computer.howstuffworks.com/semantic-web.htm>. Acesso em: 06/06/2007. Nossa tradução.