O documento discute os conceitos de polifonia, dialogismo e marcadores polifônicos segundo Bakhtin e Ducrot. Apresenta que, para esses autores, a linguagem é social e plurivalente, constituída por diferentes vozes. Também explica pressupostos, subentendidos e ironia como marcadores que indicam a presença de outras vozes em um texto.
2. POLIFONIA E/OU DIALOGISMO
Bakhtin lançou a idéia de polifonia;
Esse autor partiu de uma crítica ao objetivismo abstrato que via a língua
como um sistema monológico;
Para ele, a palavra não é monológica e sim plurivalente e o dialogismo
uma condição constitutiva do sujeito;
Bakhtin afirma que o ser humano não pode ser concebido fora de suas
relações sociais, portanto a linguagem é social;
Ainda segundo Bakhtin, qualquer manifestação de comunicação
(enunciação) será definida pelas reais condições de enunciação, ou seja,
a situação social do momento;
3. POLIFONIA E/OU DIALOGISMO
Concluindo, a polifonia é parte integrante e essencial de qualquer
enunciação;
A polifonia analisa o fato de que ocorrem em um mesmo texto diferente
vozes que se expressam;
Todo discurso é formado por diversos discursos.
4. POLIFONIA E PROPAGANDA
Fundamental em propaganda é entender o momento sócio-
histórico da enunciação;
Em propaganda, como em qualquer enunciado, a palavra é
orientada para o interlocutor e em função do interlocutor;
O produtor do texto publicitário procura antecipar as
representações feitas pelo interlocutor e através disso, estabelece
estratégias de formulação da mensagem (BRANDÃO, 1991);
A mensagem (a enunciação) é, portanto, sempre resultado da
interação entre locutor e interlocutor;
5. O QUE É ENUNCIAÇÃO
Para Bakhtin:
– É uma alocução, ela sempre instaura o outro (esteja ele presente ou
não), seja de maneira implícita ou explícita, é o produto da interação
entre dois indivíduos socialmente definidos;
– É formada tanto por elementos lingüísticos (verbais) como por
elementos não-verbais;
– A enunciação individual é um fenômeno puramente sociológico.
6. O QUE É ENUNCIAÇÃO
Para Ducrot:
– é “o acontecimento constituído pelo aparecimento
de um enunciado” (p.168). A realização de um
enunciado é um acontecimento único, dá-se
existência a algo que não existia antes e que
deixará de existir depois. É uma aparição
momentânea;
7. POLIFONIA SEGUNDO DUCROT
A tese de Ducrot (1987) contempla duas idéias básicas. A primeira é a que atribui
para a enunciação um ou mais sujeitos que seriam sua origem. A segunda é
aquela que vê a necessidade de diferenciar entre os diversos sujeitos ao menos
duas modalidades de personagens: os locutores e os enunciadores.
Os locutores são aqueles que são apresentados no enunciado como seus
responsáveis. Diferem do chamado ser empírico ou ator empírico do enunciado,
que é aquele que efetivamente produz o enunciado. No nosso caso seria o
produtor do texto publicitário.
8. POLIFONIA SEGUNDO DUCROT
Já os enunciadores são os seres cujas vozes estão presentes na enunciação, mas
que não são responsáveis pela ocorrência de palavras, ou seja, não é atribuída ao
enunciador (ou enunciadores) nenhuma palavra, usando aqui o sentido material
do termo. Ducrot (1987, p.193) afirma então que “o locutor, responsável pelo
enunciado, dá existência, através deste, a enunciadores de quem ele organiza os
pontos de vista e as atitudes”.
A diferenciação entre locutor e ser empírico de imediato nos remete à polifonia.
Em propaganda normalmente temos o apagamento total do ser empírico, do autor
ou produtor efetivo do texto publicitário, em prol do locutor que conversará com o
interlocutor dentro de um repertório adequado a esse.
9. EXEMPLO
Analisemos este texto:
– Relógio do Shopping Iguatemi. Ele se pergunta por que nunca tinha tempo para ficar
com o filho. Pai, como funciona este relógio? Ta vendo a água lá em cima daquela
bola...Ele ia explicando e o garoto maravilhado com o relógio. Mas para que serve o
tempo, pai? Como é que as crianças conseguem fazer este tipo de pergunta? Tempo
serve para medir as coisas que a gente faz. A hora que você tem que ir pra escola. A
hora de acordar, de dormir. Daqui a pouco, por exemplo, eu tenho que deixar você na
casa da sua mãe. Ele esperava o tradicional por quê? Mas o garoto não fez a pergunta.
Devia estar se acostumando. Devia estar crescendo. Engraçado como as crianças
crescem rápido. Do telefone celular, ligou primeiro para a ex-mulher, depois para a
empresa. Comprou dois sorvetes e ficaram horas sentados, sem pressa, olhando o
relógio de água do Shopping Iguatemi.
Shopping Iguatemi. Onde a vida acontece.
10. Análise do exemplo
Vejamos como as vozes se manifestam:
– No início, do trecho que vai de “Relógio do Shopping...”.até “tempo para ficar com o
filho”, temos a presença do locutor (daqui para frente L). Em seguida entra a voz do
filho (daqui para frente E1), um dos enunciadores, no trecho “Pai como funciona esse
relógio?” Logo em seguida vem a voz do pai (daqui para frente E2), o outro enunciador,
respondendo: “Tá vendo a água lá em cima daquela bola...”. Em seguida temos
novamente a presença de L em “Ele ia explicando e o garoto maravilhado com o
relógio”. Novamente o E1 perguntando: Mas para que serve o tempo pai?”. Retorna L
no trecho” Como é que as crianças conseguem fazer esse tipo de pergunta?”. Na
seqüência temos E2, no trecho que vai de” Tempo serve para medir...”até tenho que
te deixar na casa da sua mãe”. No trecho seguinte temos o retorno de L: desde “Ele
esperava o tradicional por quê? Mas...” até o final do texto.
11. MARCADORES OU ÍNDICES POLIFÔNICOS
São determinadas formas lingüísticas que funcionam como
marcadores, como indicativos da presença de outras vozes
compondo o discurso Há diversos marcadores ou índices
polifônicos. Vamos nos concentrar em:
– Pressuposto - o conceito de pressuposto implica idéias não expressas de
maneira explícita e que são conseqüência do sentido de certas palavras ou
expressões contidas na frase. É enunciado pelo locutor, mas é partilhado com
outras vozes e até mesmo com toda a comunidade em que se insere (Ducrot,
1987) ;
12. MARCADORES OU ÍNDICES POLIFÔNICOS
Subentendido - pode ser definido como insinuações presentes numa
frase ou num conjunto de frases e que não são marcadas
lingüisticamente;
Ironia - ocorre quando o enunciador subverte sua própria enunciação,
podendo ocorrer tal subversão sem que exista contestação de um
determinado gênero ou mesmo de um texto anteriormente existente. Brait
(1996) afirma que o “ironista” busca encontrar maneiras de chamar a
atenção do interlocutor para o discurso e através de tal procedimento,
conquistar sua adesão. Sem essa adesão do interlocutor, a ironia não se
concretiza.