SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 21
Descargar para leer sin conexión
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 1 
Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 
2.3.1 - Limite de uma fun¸c˜ao de uma vari´avel 2.3.3 - Limite de uma fun¸c˜ao de n vari´aveis 
2.3.2 - Limite de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis 
Este cap´ıtulo ´e dedicado `a formaliza¸c˜ao do conceito de limite, tanto daquele visto para fun¸c˜oes de uma 
vari´avel real quanto para fun¸c˜oes de duas ou mais vari´aveis reais. ´E 
um cap´ıtulo de aprofundamento, com 
conceitos um pouco mais complexos do que normalmente ´e ensinado em alguns cursos de C´alculo. 
2.3.1 - Limite de uma fun¸c˜ao de uma vari´avel 
Para definir de forma mais rigorosa o que ´e um limite de fun¸c˜oes de duas ou mais vari´aveis ´e necess´ario 
aprofundar o conceito de limite visto at´e ent˜ao. Antes de mostrar a defini¸c˜ao formal do limite de uma fun¸c˜ao 
f = f(x) quando x → x0, ´e bom lembrar que, embora o C´alculo Diferencial e Integral tenha surgido com Isaac 
Newton (1643-1727) e Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1717) no s´eculo XVII, foi somente no s´eculo XIX 
que essa defini¸c˜ao foi formalizada pelo francˆes Augustin-Louis Cauchy (1789-1857) e pelo alem˜ao Karl Theodor 
Wilhelm Weierstrass (1815-1897). 
Dado um limite lim 
x!x0 
f(x) = L, a defini¸c˜ao formal baseia-se em construir dois intervalos abertos: um em 
torno do limite L e outro em torno do ponto x0, como mostra a primeira figura a seguir. O intervalo em torno 
de x0 tem que ser pequeno o suficiente para que a sua imagem esteja contida no intervalo em torno do limite 
L (segunda figura a seguir). 
x 
y 
x0 
L 
bc 
bc 
y 
bc 
bcbc x 
x0 
L 
bc 
bcbc 
Prova-se que o limite ´e verdadeiro se, para qualquer intervalo em torno de L, n˜ao importa o qu˜ao pequeno 
ele seja, for sempre poss´ıvel encontrar um intervalo em torno de x0 de modo que a imagem desse intervalo esteja 
contida no intervalo em torno de L. A figura a seguir mostra um caso em que isto n˜ao ´e poss´ıvel, mostrando 
que o limite ´e falso. 
bc 
Lb 
bc 
bc 
bcbc x 
x 
g(x) 
bc 
Lb 
bc 
bc 
0 x0 
g(x) 
bcbc 
0 x0 
Determinando que o intervalo em torno de L ´e dado por (L − ǫ,L + ǫ) e o intervalo em torno de x0 ´e dado 
por (x0 − δ, x0 + δ), onde ǫ (´epsilon) e δ (delta) s˜ao ambos maiores que zero, podemos dizer que o limite est´a
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 2 
correto se, para y ∈ (L−ǫ,L+ǫ), existir sempre um δ > 0 tal que x ∈ (x0−δ, x0 +δ). Isto tem que ser verdade 
para qualquer valor de ǫ que escolhermos. Um exemplo mais espec´ıfico ´e dado a seguir. 
Isaac Newton (1642-1727): Newton foi um dos maiores gˆenios da humanidade. Nasceu na pequena cidade 
de Woolsthorpe, na Inglaterra, e estudou na Universidade de Cambridge, tornando-se depois professor nessa 
mesma universidade. Ele era f´ısico, matem´atico, astrˆonomo e alquimista, tendo contribu´ıdo significativamente 
para todos esses campos. Ele foi o criador da mecˆanica racional e da lei da gravita¸c˜ao universal. Foi um dos 
criadores do C´alculo Diferencial e Integral, juntamente com Leibniz. Desenvolveu v´arios trabalhos em ´optica, 
tendo revolucionado essa ´area da F´ısica. Tamb´em foi dele a inven¸c˜ao do telesc´opio refletor, que ´e usado em 
observat´orios do mundo inteiro e no espa¸co. Newton tamb´em exerceu importantes cargos p´ublicos e foi sagrado sir 
(cavalheiro) pela rainha da Inglaterra na ´epoca. Morreu como uma celebridade em seu pa´ıs, embora j´a mostrasse 
v´arios sinais de demˆencia senil. 
Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1717): matem´atico, fil´osofo, f´ısico e estudioso das leis alem˜ao. Nasceu 
em Leipzig e estudou na prestigiosa universidade de mesmo nome. Junto com Newton, foi o criador do C´alculo 
Diferencial e Integral. Tamb´em foi respons´avel por boa parte da nota¸c˜ao matem´atica usada at´e hoje. Al´em disso, 
foi um grande fil´osofo, tendo tecido uma vis˜ao de um universo baseado em princ´ıpios fundamentais e racionais, sem 
rejeitar as concep¸c˜oes crist˜as. Sua convic¸c˜ao de que tudo podia ser demonstrado racionalmente quando utilizada 
uma nota¸c˜ao coveniente levou-o a organizar v´arias express˜oes matem´aticas em termos de s´ımbolos. Leibniz sofreu 
revezes com a rivalidade entre ele e Newton devida `a controv´ersia sobre quem teria sido o criador do C´alculo 
Diferencial e Integral. 
Exemplo 1: tentaremos mostrar que limx → 1x2 = 1 usando o novo crit´erio que acaba de ser descrito. Tomando 
um 
intervalo que inclui todos os n´umeros que est˜ao a distˆancias menores que ǫ = 1 do ponto y = 1, temos que esse intervalo 
vai de y = 0 at´e y = 2. Este intervalo tem comprimento 2ǫ = 2 e pode ser escrito como (0, 2). Se considerarmos 
agora um intervalo centrado em x = 1 de comprimento 2δ = 0, 4, isto ´e, o intervalo (1 − 0, 2 , 1 + 0, 2) = (0, 8 , 1, 2), 
este produzir´a a seguinte imagem em y: para x = 0, 8 temos f(0, 8) = 0, 64; para x = 1, 2, f(1, 4) = 1, 44. Portanto, 
a imagem produzida pelo intervalo em x centrado em x = 1 e de comprimento 2δ = 0, 4 produz uma imagem em y 
dada pelo intervalo (0, 64 , 1, 44), que est´a contido no intervalo (0, 2). 
x 
y 
−2 −1 0 
1 2 
4 
3 
2 
1 
bc 
bc 
2ǫ = 2 
x 
y 
−2 −1 0 
1 2 
4 
3 
2 
1 
bc 
bc 
bcbc 
2ǫ = 2 
2δ = 0, 4 
Do mesmo modo como escolhemos 2δ = 0, 4 ⇒ δ = 0, 2, poder´ıamos ter escolhido δ = 0, 1 ou δ = 0, 4, que a 
imagem produzida pelo intervalo (1−δ, 1+δ) ainda estaria contida no intervalo (0, 2). Na verdade, contanto que δ 
seja menor ou igual a √2 − 1 ≈ 0, 414, o intervalo produzido em x leva a uma imagem que est´a contida em (0, 2). 
Vamos mostar que tamb´em para valores menores de ǫ conseguimos encontrar valores de δ satisfazendo essas 
condi¸c˜oes. Escolhendo ǫ = 0, 5, temos o intervalo (1 − 0, 5 , 1 + 0, 5) = (0, 5 , 1, 5) em y. O que temos que fazer 
agora ´e encontrar um valor de δ para o qual o intervalo (1−δ, 1+δ) em x produza uma imagem que esteja contida 
no intervalo em y. Tomando δ = 0, 2, teremos o intervalo (1 − 0, 2 , 1 + 0, 2) = (0, 8 , 1, 2) em x que, como j´a 
vimos, produz a imagem (0, 64 , 1, 44), que est´a contida no intervalo (0, 5 , 1, 5).
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 3 
x 
y 
−2 −1 0 
1 2 
4 
3 
2 
1 
bc 
bc 
2ǫ = 1 
x 
y 
−2 −1 0 
1 2 
4 
3 
2 
1 
bc 
bc 
bcbc 
2ǫ = 1 
2δ = 0, 4 
Tomemos agora um valor ainda menor para ǫ: 0,25. Para este valor, temos o intervalo (1 − 0, 25 , 1 + 0, 25) = 
= (0, 75 , 1, 25) em y. Escolhendo δ = 0, 1, temos o intervalo (1−0, 1 , 1+0, 1) = (0, 9 , 1, 1) em x, que tem como 
imagem o intervalo (0, 81 , 1, 21), que est´a contido no intervalo (0, 75 , 1, 25). 
x 
y 
−2 −1 0 
1 2 
4 
3 
2 
1 
bc 
bc 
2ǫ = 0, 5 
x 
y 
−2 −1 0 
1 2 
4 
3 
2 
1 
bc 
bc 
bcbc 
2ǫ = 0, 5 
2δ = 0, 2 
Assim, podemos intuir que, para qualquer valor de ǫ que escolhermos, ser´a sempre poss´ıvel escolher um valor de 
δ tal que o intervalo (1 − δ, 1 + δ) em x produzir´a uma imagem em y que estar´a contida no intervalo (1 − ǫ, 1 + ǫ). 
Diremos que o limite existe e est´a correto quando isto puder ser provado. 
Voltemos, agora, `a defini¸c˜ao formal de um limite. Podemos dizer que o limite de uma fun¸c˜ao f(x) quando 
x tende a x0 ´e L, lim 
x!x0 
f(x) = L se, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que x ∈ (x0 −δ, x0 +δ) ⇒ 
⇒ f(x) ∈ (L − ǫ,L + ǫ). 
Agora, podemos escrever |x − x0| < δ no lugar de x ∈ (x0 − δ, x0 + δ). Isto porque 
|x − x0| < δ ⇔ −δ < x − x0 < δ ⇔ x0 − δ < x < x0 + δ . 
De modo semelhante, podemos escrever |f(x) − L| < ǫ no lugar de f(x) ∈ (L − ǫ,L + ǫ). Isto porque 
|f(x) − L| < ǫ ⇔ −ǫ < f(x) − L < ǫ ⇔ L − ǫ < f(x) < L + ǫ . 
Portanto, a defini¸c˜ao de limite fica dada a seguir. lim 
x!x0 
f(x) = L se, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um 
δ > 0 tal que |x − x0| < δ ⇒ |f(x) − L| < ǫ. 
Defini¸c˜ao 1 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R e um ponto x0 de I, dizemos que 
o limite de f(x) quando x tende a x0 existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim 
x!x0 
f(x) = L, 
quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que |x − x0| < δ ⇒ |f(x) − L| < ǫ.
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 4 
Observa¸c˜ao: uma defini¸c˜ao mais formal de limite ´e feita na Leitura Complementar 2.3.3 e necessita do conceito 
de ponto de acumula¸c˜ao, que ´e visto na Leitura Complementar 2.3.2. 
A defini¸c˜ao 2 ´e usada a seguir para provar dois limites. 
Exemplo 2: mostre que lim 
(x + 2) = 5. 
x!3 
Solu¸c˜ao: temos que mostrar que existem valores de δ > 0 tais que |x−a| < δ ⇒ |f(x)−L| < ǫ para qualquer valor 
de ǫ > 0. Temos a = 3, f(x) = x + 2 e L = 5, de modo que a express˜ao fica 
|x − 3| < δ ⇒ |x + 2 − 5| < ǫ ⇔ |x − 3| < δ ⇒ |x − 3| < ǫ ⇔ . 
Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ, essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 3| < δ e 
δ ≤ ǫ, ent˜ao |x − 3| < ǫ. Portanto, o limite est´a provado. 
Exemplo 3: mostre que lim 
(2x − 1) = 1. 
x!1 
Soluc¸ao: ˜temos que mostrar que existem valores de δ > 0 tais que |x−a| < δ ⇒ |f(x)−L| < ǫ para qualquer valor 
de ǫ > 0. Temos a = 1, f(x) = 2x − 1 e L = 1, de modo que a express˜ao fica 
ǫ 
|x−1| < δ ⇒ |2x−1−1| < ǫ ⇔ |x−1| < δ ⇒ |2x−2| < ǫ ⇔ |x−1| < δ ⇒ 2|x−1| < ǫ ⇔ |x−1| < δ ⇒ |x−1| < 
. 
2 
Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ 
2 , essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 1| < δ e 
δ ≤ ǫ 
2 , ent˜ao |x − 1| < ǫ. Portanto, o limite est´a provado. 
A defini¸c˜ao de limites que acabamos de desenvolver n˜ao ´e v´alida para limites infinitos ou limites envolvendo 
o infinito. Para esses limites e outros s˜ao necess´arias novas defini¸c˜oes. Na verdade, s˜ao necess´arias nove delas 
(isto ´e feito na Leitura Complementar 2.3.3). 
Augustin-Louis Cauchy (1789-1857): matem´atico francˆes respons´avel pela formula¸c˜ao mais precisa do conceito 
de limites e por v´arias contribui¸c˜oes de fundamental importˆancia na teoria de fun¸c˜oes de vari´aveis complexas e 
em equa¸c˜oes diferenciais. Cauchy teve uma infˆancia atribulada, tendo vivido na ´epoca da Revolu¸c˜ao Francesa. 
Trabalhou como engenheiro para a marinha de Napole˜ao e teve v´arias tentativas de obter posi¸c˜oes em universidades 
recusadas, muitas vezes por motivos pol´ıticos. Cat´olico devoto, teve atritos com seus colegas partid´arios do ate´ısmo. 
Quando o rei da Fran¸ca voltou ao poder, recusou-se a jurar lealdade e perdeu seu emprego, retornando ao seu 
trabalho ap´os o rei ter sido novamente deposto. 
Karl Theodor Wilhelm Weierstrass (1789-1857): matem´atico nascido na Pr´ussia (atual Alemanha). Embora 
fosse apaixonado pela matem´atica, estudou finan¸cas por desejo de seu pai. Desinteressado do assunto, levou uma 
vida despreocupada de estudante at´e que resolveu, contrariando seu pai, estudar matem´atica. Tendo abandonado 
a universidde, formou-se professor do segundo grau. Exerceu essa profiss˜ao at´e publicar um artigo sobre invers˜ao 
de fun¸c˜oes hiperel´ıpticas, o que lhe valeu uma posi¸c˜ao na universidade. ´E 
considerado o pai da an´alise matem´atica 
por ter introduzido o rigor atual no C´alculo e na teoria de fun¸c˜oes de vari´aveis complexas. Fez muitas contribui¸c˜oes 
`a matem´atica, sobretudo nesses dois ´ultimos campos. Suas aulas eram muito apreciadas e ele tinha estudantes 
vindos de v´arias partes do mundo. 
2.3.2 - Limite de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis 
Podemos, agora, expandir o conceito de limite para o caso de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis reais. Relem-brando, 
uma fun¸c˜ao f = f(x, y) leva elementos de R2 a elementos de R (primeira figura a seguir).
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 5 
b 
x 
y 
x0 
y0 
z 
f(x0, y0) 
f 
R2 R 
Para definirmos um limite lim 
(x0,y0) 
f(x, y) = L, precisamo primeiro determinar uma regi˜ao em torno do ponto 
(x0, y0) e um outro intervalo aberto em torno do limite L. Podemos, por exemplo, desenhar um quadrado 
ou uma circunferˆencia em torno de (x0, y0) (duas figuras a seguir) e dizer que (x, y) tem que estar dentro do 
subconjunto de R2 constitu´ıdo pela regi˜ao interna a esse quadrado ou a essa circunferˆencia, excluindo as suas 
bordas (isto ´e representado pelas linhas pontilhadas nas figuras a seguir). 
b 
x 
y 
x0 
y0 
z 
L 
f 
bc 
bc 
b 
x 
y 
x0 
y0 
z 
L 
f 
bc 
bc 
Como ´e mais f´acil determinar a equa¸c˜ao da regi˜ao circular em torno do ponto (x0, y0), escolheremos esse 
tipo de regi˜ao, que chamaremos de bola aberta em torno do ponto, pois ela n˜ao inclui a superf´ıcie do c´ırculo. 
Podemos, ent˜ao, dizer que a regi˜ao limitada pela bola aberta ´e dada pelo c´ırculo 
(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ2 = p(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ , 
onde δ ´e o raio da bola aberta. 
Lembrando agora que p(x − x0)2 + (y − y0)2 = ||(x − x0, y − y0)||, podemos dizer que a bola aberta ´e 
definida por ||(x − x0, y − y0)|| < δ. Podemos, ent˜ao, utilizar a seguinte defini¸c˜ao de limite. 
Defini¸c˜ao 2 - Dada uma fun¸c˜ao f(x, y) definida em um intervalo I ⊂ R2 e um ponto (x0, y0) ∈ I, 
dizemos que o limite de f(x, y) quando (x, y) tende a (x0, y0) existe e ´e igual a L, o que pode ser 
escrito como lim 
(x,y)!(x0,y0) 
f(x, y) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que 
||x − x0, y − y0|| < δ ⇒ |f(x, y) − L| < ǫ. 
Vamos usar esta defini¸c˜ao para provar um limite bem simples, a seguir. 
Exemplo 1: prove que lim 
(x,y)!(x0,y0) 
x = x0. 
Solu¸c˜ao: temos que mostrar que, para qualquer ǫ > 0, existe um δ > 0 tal que 
||x − x0, y − y0|| < δ ⇒ |f(x, y) − L| < ǫ ⇔ p(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ ⇒ |x − x0| < ǫ . 
Sabemos que p(x − x0)2 ≤ p(x − x0)2 + (y − y0)2 ⇔ |x−x0| ≤ p(x − x0)2 + (y − y0)2. Portanto, escolhendo 
qualquer δ ≤ ǫ, temos que p(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ ⇒ |x − x0| < ǫ, o que prova o limite. 
Em geral, ´e muito dif´ıcil provar limites envolvendo fun¸c˜oes de duas vari´aveis. Podemos, no entanto, calcular 
alguns limites utilizando nossos conhecimentos de limites de fun¸c˜oes de uma vari´avel, como mostra o exemplo 
a seguir.
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 6 
Exemplo 2: calcule lim 
(x,y)!(0,0) 
sen (x2 + y2) 
x2 + y2 . 
Solu¸c˜ao: usando a simetria do problema, podemos fazer a mudan¸ca de vari´avel x2+y2 = r2. Quando (x, y) → (0, 0), 
teremos r → 0, tamb´em, de modo que podemos escrever 
lim 
(x,y)!(0,0) 
sen (x2 + y2) 
x2 + y2 = lim 
r!0 
sen r2 
r2 . 
Se aplicarmos r = 0, este limite fica da forma 0 
0 , de modo que podemos aplicar a ele a regra de L’Hˆopital: 
lim 
(x,y)!(0,0) 
sen (x2 + y2) 
x2 + y2 = lim 
r!0 
sen r2 
r2 = lim 
r!0 
2r cos r2 
2r 
= lim 
r!0 
cos r2 = cos 0 = 1 . 
Vamos, agora, provar que um limite n˜ao existe. 
Exemplo 3: calcule lim 
(x,y)!(0,0) 
x2 − y2 
x2 + y2 . 
Solu¸c˜ao: o procedimento que adotaremos ´e fazer o limite de uma das vari´aveis e depois o limite da outra. Come¸cando 
pelo limite x → 0, temos 
lim 
(x,y)!(0,0) 
x2 − y2 
x2 + y2 = lim 
y!0 
−y2 
y2 = lim 
(−1) = −1 . 
y!0 
Se fizermos primeiro o limite em y e depois o limite em x, obtemos 
lim 
(x,y)!(0,0) 
sen (x2 + y2) 
x2 + y2 = lim 
x!0 
x2 
x2 = lim 
x!0 
1 = 1 . 
Note que os dois limites n˜ao s˜ao iguais. Isto j´a basta para provar que n˜ao existe esse limite. 
Na verdade, os exemplos 2 e 3 n˜ao est˜ao formalizados da maneira correta. A Leitura Complementar 2.3.4 
mostra como fazˆe-lo. 
2.3.3 - Limite de uma fun¸c˜ao de n vari´aveis 
Vamos, agora, definir limites para o caso de uma fun¸c˜ao de trˆes vari´aveis reais. A generaliza¸c˜ao para fun¸c˜oes 
de n vari´aveis reais poder´a ser feita facilmente a partir da´ı. Uma fun¸c˜ao f = f(x, y, z) leva elementos de R3 a 
elementos de R (figura a seguir). Podemos considerar uma bola aberta em trono de R3 dada por uma esfera 
de raio menor que δ levando a um interavalo |f(x, y, z) − L| < ǫ na imagem (segunda figura a seguir). 
b 
z 
z0 
x0 y0 
x y 
w 
f(x0, y0, z0) 
f 
R3 R 
b 
z 
z0 
x0 y0 
x y 
w 
L 
f 
bc 
bc 
R3 R 
Podemos escrever a regi˜ao dentro dessa bola aberta pela equa¸c˜ao p(x − x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 < δ, 
que ´e a equa¸c˜ao de uma esfera de raio δ com exce¸c˜ao de sua superf´ıcie. Novamente, podemos trocar a raiz por 
uma norma: ||(x − x0, y − y0, z − z0)|| < δ. A defini¸c˜ao de limite fica, ent˜ao, como a dada a seguir.
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 7 
Defini¸c˜ao 3 - Dada uma fun¸c˜ao f(x, y, z) definida em um intervalo I ⊂ R3 e um ponto (x0, y0, z0) ∈ I, 
dizemos que o limite de f(x, y, z) quando (x, y, z) tende a (x0, y0, z0) existe e ´e igual a L, o que pode 
ser escrito como lim 
(x,y,z)!(x0,y0,z0) 
f(x, y, z) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 
tal que ||(x − x0, y − y0, z − z0)|| < δ ⇒ |f(x, y, z) − L| < ǫ. 
A generaliza¸c˜ao para o limite de uma fun¸c˜ao de n vari´aveis reais ´e direta. 
Defini¸c˜ao 4 - Dada uma fun¸c˜ao f(x1, · · · , xn) definida em um intervalo I ⊂ Rn e um ponto 
(x10, · · · , xn0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x1, · · · , xn) quando (x1, · · · , xn) tende a (x01, · · · , x0n) ex-iste 
e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim 
(x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) 
f(x1, · · · , xn) = L, quando, para qual-quer 
ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||(x1−x10, · · · , xn−xn0)|| < δ ⇒ ⇒ |f(x1, · · · , xn)−L| < ǫ. 
Resumo 
• Limite de uma fun¸c˜ao f : R → R. Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R 
e um ponto x0 de I, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a x0 existe e ´e igual a L, o que 
pode ser escrito como lim 
x!x0 
f(x) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que 
|x − x0| < δ ⇒ |f(x) − L| < ǫ. 
• Limite de uma fun¸c˜ao f : R2 → R. Dada uma fun¸c˜ao f(x, y) definida em um intervalo I ⊂ R2 e 
um ponto (x0, y0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x, y) quando (x, y) tende a (x0, y0) existe e ´e igual 
a L, o que pode ser escrito como lim 
(x,y)!(x0,y0) 
f(x, y) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre 
um δ > 0 tal que ||x − x0, y − y0|| < δ ⇒ |f(x, y) − L| < ǫ. 
• Limite de uma fun¸c˜ao f : R3 → R. Dada uma fun¸c˜ao f(x, y, z) definida em um intervalo I ⊂ R3 
e um ponto (x0, y0, z0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x, y, z) quando (x, y, z) tende a (x0, y0, z0) existe 
e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim 
(x,y,z)!(x0,y0,z0) 
f(x, y, z) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, 
existir sempre um δ > 0 tal que ||(x − x0, y − y0, z − z0)|| < δ ⇒ |f(x, y, z) − L| < ǫ. 
• Limite de uma func¸˜ao f : Rn → R. Dada uma func¸ao ˜f(x1, · · · , xn) definida em um intervalo 
I ⊂ Rn e um ponto (x10, · · · , xn0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x1, · · · , xn) quando (x1, · · · , xn) tende 
a (x01, · · · , x0n) existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim 
f(x1, · · · , xn) = L, 
(x1,··· ,x)!(x10,··· ,xn0) 
nquando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||(x1 − x10, · · · , xn − xn0)|| < δ ⇒ 
⇒ |f(x1, · · · , xn) − L| < ǫ.
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 8 
Leitura Complementar 2.3.1 - Desigualdades 
e m´odulo 
Os s´ımblos < (menor), > (maior), ≤ (menor ou igual) e ≥ (maior ou igual) estabelecem rela¸c˜oes de ordem 
no conjunto dos n´umeros reais. Isto tamb´em vale para os subconjuntos N, Z e Q. Uma rela¸c˜ao de ordem entre 
dois n´umeros reais tamb´em ´e chamada de desigualdade. 
2 ≥ √2 . 
Exemplos: 2 < 7 , −4 > −8 , 3, 4 ≤ 5 , 3 
Existem certas regras quando se opera com desigualdades. Para quaisquer n´umeros reais a e b, valem as 
seguintes propriedades: 
P1) a < b ⇔ a + c < b + c , c ∈ R; 
P2) a < b e c < d ⇔ a + c < b + d , c ∈ R e d ∈ R; 
P3) a < b ⇔ ac < bc , c ∈ R e c > 0; 
P4) a < b ⇔ ac > bc , c ∈ R e c < 0; 
P5) a < b ⇔ 1 
a > 1 
b , a6= 0 e b6= 0. 
Exemplos dessas regras s˜ao dados a seguir. 
Exemplo 1: 2 < 3 ⇔ 2 + 4 < 3 + 4 ⇔ 6 < 7 (por P1). 
Exemplo 2: 1 < 4 ⇔ 1 + 3 < 4 + 6 ⇔ 4 < 10 (por P2). 
Exemplo 3: 2 < 3 ⇔ 2 · 3 < 3 · 3 ⇔ 6 < 9 (por P3). 
Exemplo 4: 2 < 3 ⇔ 2 · (−1) < 3 · (−1) ⇔ −2 > −3 (por P4). 
Exemplo 5: 2 < 4 ⇔ 1 
2 > 1 
4 (por P5). 
a) M´odulo de um n´umero real 
O m´odulo ou valor absoluto de um n´umero real a, escrito |a|, ´e definido como 
|a| = a se a ≥ 0 ; |a| = −a se a < 0 . 
Outra defini¸c˜ao ´e dada em termos da raiz quadrada de um n´umero ao quadrado: 
|a| = √a2 . 
Exemplos: |2| = 2 , | − 4| = 4 , | − 3| = p(−3)2 = √9 = 3 . 
O m´odulo de um n´umero representa a distˆancia deste ao ponto 0 no eixo dos n´umeros reais.
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 9 
0 a 
|a| 
b 0 
|b| 
Usamos esta interpreta¸c˜ao para estabelecer algumas rela¸c˜oes para um n´umero x ∈ R com rela¸c˜ao a um 
n´umero a > 0. Primeiro, 
|x| = a ⇔ x = ±a . 
Exemplo 1: calcule x quando |x| = 2. 
Solu¸c˜ao: |x| = 2 ⇔ x = ±2, ou seja, x = 2 ou x = −2. 
A segunda rela¸c˜ao ´e a seguinte: 
|x| < a ⇔ −a < x < a . 
Isto pode ser visto da figura abaixo. O m´odulo de x ser´a menor que a quando x estiver dentro do intervalo 
aberto (−a, a) (outra nota¸c˜ao usada para o intervalo aberto ´e ] − a, a[ ). 
x 
−a 0 a 
bcbc 
|x| 
Exemplo 2: calcule x quando |x| < 4. 
Solu¸c˜ao: |x| < 2 ⇔ −2 < x < 2, ou seja, x ∈ (−2, 2). 
A terceira rela¸c˜ao ´e: 
|x| > a ⇔ x < −a ou x > a . 
Isto pode ser visto da figura abaixo. O m´odulo de x ser´a maior que a quando x estiver dentro do intervalo 
aberto (−∞, a) ou no intervalo aberto (a,∞). 
−a 0 a 
bcbc 
x 
|x| 
−a 0 a 
bcbc 
x 
|x| 
Exemplo 3: calcule x quando |x| > 3. 
Solu¸c˜ao: |x| > 3 ⇔ x < −3 ou x > 3, ou seja, x ∈ (−∞,−3) ∪ (3,∞). 
De modo semelhante, podemos escrever 
|x| ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a , |x| ≥ a ⇔ x ≤ −a ou x ≥ a . 
Exemplo 4: calcule x quando |x| ≤ 3. 
Solu¸c˜ao: |x| ≤ 3 ⇔ −3 ≤ x ≤ 3, ou seja, x ∈ [−3, 3]. 
O m´odulo de um n´umero real apresenta as seguintes propriedades:
P1) |
ab| = |a| · |b|; 
P2) a 
= |a| 
b|b| , b6= 0; 
P3) |a + b| ≤ |a| + |b| (desiguladade triangular).
C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 10 
Demonstra¸c˜ao: 
P1) podemos escrever |ab| = p(ab)2 = √a2b2 = √a2√b2 = |a| · |b|. 
P2) temos
a 
b
= qa 
b 2 
= qa2 
b2 = 
pa2 
pb2 = |a| 
|b| 
. 
P3) dados dois n´umeros reais, sabemos que −|a| ≤ a ≤ |a| e −|b| ≤ b ≤ |b|. Portanto, temos 
−|a| − |b| ≤ a + b ≤ |a| + |b| ⇔ −(|a| + |b|) ≤ a + b ≤ |a| + |b| ⇔ |a + b|  |a| + |b| . 
Exemplo 5: |3 · (−2)| = | − 6| = 6 = |3| · |2|. 
Exemplo 6:
−1 
2

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (17)

[Alexandre] 8. Não Linear Restrita
[Alexandre] 8. Não Linear Restrita[Alexandre] 8. Não Linear Restrita
[Alexandre] 8. Não Linear Restrita
 
Estabilidade
EstabilidadeEstabilidade
Estabilidade
 
Aula quatro jornadas12_handout
Aula quatro jornadas12_handoutAula quatro jornadas12_handout
Aula quatro jornadas12_handout
 
Efeitos De TurbulêNcia
Efeitos De TurbulêNciaEfeitos De TurbulêNcia
Efeitos De TurbulêNcia
 
Eletromag2
Eletromag2Eletromag2
Eletromag2
 
[Alexandre] 2. Geometria
[Alexandre] 2. Geometria[Alexandre] 2. Geometria
[Alexandre] 2. Geometria
 
[Robson] 1. Programação Linear
[Robson] 1. Programação Linear[Robson] 1. Programação Linear
[Robson] 1. Programação Linear
 
Intro teoria dos numerros cap6
Intro teoria dos numerros cap6Intro teoria dos numerros cap6
Intro teoria dos numerros cap6
 
Seqe
SeqeSeqe
Seqe
 
Kalman Filter - Video tracking Talk at IME-USP
Kalman Filter - Video tracking Talk at IME-USPKalman Filter - Video tracking Talk at IME-USP
Kalman Filter - Video tracking Talk at IME-USP
 
Teorema Chinês Dos Restos
Teorema Chinês Dos RestosTeorema Chinês Dos Restos
Teorema Chinês Dos Restos
 
Apostila de cálculo_i_2010_i
Apostila de cálculo_i_2010_iApostila de cálculo_i_2010_i
Apostila de cálculo_i_2010_i
 
Ma22 unidade 22
Ma22 unidade 22Ma22 unidade 22
Ma22 unidade 22
 
4 dualidade
4 dualidade4 dualidade
4 dualidade
 
euclides primos
euclides primoseuclides primos
euclides primos
 
Limites2
Limites2Limites2
Limites2
 
Calculo1 aula04
Calculo1 aula04Calculo1 aula04
Calculo1 aula04
 

Similar a Limite funcoes melhor texto

Ficha 9 -_limites e continuidade
Ficha 9 -_limites e continuidadeFicha 9 -_limites e continuidade
Ficha 9 -_limites e continuidadeMaria Joao Sargento
 
Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...
Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...
Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...Cleverson Neves
 
unidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.ppt
unidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.pptunidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.ppt
unidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.pptThaysonDourado1
 
Aula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrau
Aula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrauAula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrau
Aula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrauAdriano Silva
 
625639 a-teoria-dos-limites-calculo
625639 a-teoria-dos-limites-calculo625639 a-teoria-dos-limites-calculo
625639 a-teoria-dos-limites-calculoMarcos Lira
 
Lista de exercícios 3 - Cálculo
Lista de exercícios 3 - CálculoLista de exercícios 3 - Cálculo
Lista de exercícios 3 - CálculoCarlos Campani
 
ApostilaCalcIII.pdf
ApostilaCalcIII.pdfApostilaCalcIII.pdf
ApostilaCalcIII.pdfdaniel167907
 
trabalho2 (Logica Computacao).ppt
trabalho2 (Logica Computacao).ppttrabalho2 (Logica Computacao).ppt
trabalho2 (Logica Computacao).pptmsc6272
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função QuadráticaAab2507
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função QuadráticaAab2507
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função QuadráticaAab2507
 
Lista de exercícios 8
Lista de exercícios 8Lista de exercícios 8
Lista de exercícios 8Carlos Campani
 

Similar a Limite funcoes melhor texto (20)

Ficha 9 -_limites e continuidade
Ficha 9 -_limites e continuidadeFicha 9 -_limites e continuidade
Ficha 9 -_limites e continuidade
 
Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...
Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...
Cap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinearidade.pptCap.10 Multicolinea...
 
unidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.ppt
unidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.pptunidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.ppt
unidade-1.1-noção intuitiva de limite-limites laterais.ppt
 
Aula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrau
Aula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrauAula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrau
Aula 8: O degrau de potencial. Caso I: Energia menor que o degrau
 
625639 a-teoria-dos-limites-calculo
625639 a-teoria-dos-limites-calculo625639 a-teoria-dos-limites-calculo
625639 a-teoria-dos-limites-calculo
 
Lista de exercícios 3 - Cálculo
Lista de exercícios 3 - CálculoLista de exercícios 3 - Cálculo
Lista de exercícios 3 - Cálculo
 
CUSC.pptx
CUSC.pptxCUSC.pptx
CUSC.pptx
 
ApostilaCalcIII.pdf
ApostilaCalcIII.pdfApostilaCalcIII.pdf
ApostilaCalcIII.pdf
 
Apostila calciii
Apostila calciiiApostila calciii
Apostila calciii
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função Quadrática
 
trabalho2 (Logica Computacao).ppt
trabalho2 (Logica Computacao).ppttrabalho2 (Logica Computacao).ppt
trabalho2 (Logica Computacao).ppt
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função Quadrática
 
Apostila calculo
Apostila calculoApostila calculo
Apostila calculo
 
Limites e derivadas
Limites e derivadasLimites e derivadas
Limites e derivadas
 
Apostila de limites
Apostila de limitesApostila de limites
Apostila de limites
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função Quadrática
 
Calculo1 aula04
Calculo1 aula04Calculo1 aula04
Calculo1 aula04
 
Limites
LimitesLimites
Limites
 
Função Quadrática
Função QuadráticaFunção Quadrática
Função Quadrática
 
Lista de exercícios 8
Lista de exercícios 8Lista de exercícios 8
Lista de exercícios 8
 

Más de joeljuniorunivesp (20)

Descrição completa do conteúdo do 22 DVD's
Descrição completa do conteúdo do 22 DVD'sDescrição completa do conteúdo do 22 DVD's
Descrição completa do conteúdo do 22 DVD's
 
Semana 1 Álgebra Linear
Semana 1 Álgebra LinearSemana 1 Álgebra Linear
Semana 1 Álgebra Linear
 
Movimento harmonico simples mhs texto
Movimento harmonico simples mhs textoMovimento harmonico simples mhs texto
Movimento harmonico simples mhs texto
 
Projeto Integrador - Aproveitamento de água de chuva
Projeto Integrador - Aproveitamento de água de chuvaProjeto Integrador - Aproveitamento de água de chuva
Projeto Integrador - Aproveitamento de água de chuva
 
Aula3
Aula3Aula3
Aula3
 
Aula4
Aula4Aula4
Aula4
 
Aula3
Aula3Aula3
Aula3
 
Aula2
Aula2Aula2
Aula2
 
Aula1
Aula1Aula1
Aula1
 
Aula4
Aula4Aula4
Aula4
 
Aula3
Aula3Aula3
Aula3
 
Aula2
Aula2Aula2
Aula2
 
Aula1
Aula1Aula1
Aula1
 
Aula13a16
Aula13a16Aula13a16
Aula13a16
 
Aula9a12
Aula9a12Aula9a12
Aula9a12
 
Aula5a8
Aula5a8Aula5a8
Aula5a8
 
Aula1a4
Aula1a4Aula1a4
Aula1a4
 
Energia e sustentabilidade: segurança e diversificação da matriz energética d...
Energia e sustentabilidade: segurança e diversificação da matriz energética d...Energia e sustentabilidade: segurança e diversificação da matriz energética d...
Energia e sustentabilidade: segurança e diversificação da matriz energética d...
 
Funcões de uma variável
Funcões de uma variávelFuncões de uma variável
Funcões de uma variável
 
Aula27e28
Aula27e28Aula27e28
Aula27e28
 

Último

Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxacaciocarmo1
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕESPRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕESpatriciasofiacunha18
 
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfHABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfdio7ff
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
v19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb
v19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbv19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb
v19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbyasminlarissa371
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamentalgeone480617
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASEdinardo Aguiar
 
Mesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecas
Mesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecasMesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecas
Mesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecasRicardo Diniz campos
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaFernanda Ledesma
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundonialb
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfAnaGonalves804156
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileirosMary Alvarenga
 
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parteDança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira partecoletivoddois
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfErasmo Portavoz
 
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
Geometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdfGeometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdf
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdfDemetrio Ccesa Rayme
 
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdfMapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdfangelicass1
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxBiancaNogueira42
 

Último (20)

Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕESPRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
 
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdfHABILIDADES ESSENCIAIS  - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
HABILIDADES ESSENCIAIS - MATEMÁTICA 4º ANO.pdf
 
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptxSlides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
Slides Lição 2, Central Gospel, A Volta Do Senhor Jesus , 1Tr24.pptx
 
v19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb
v19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbv19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb
v19n2s3a25.pdfgcbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
 
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNASQUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
QUIZ DE MATEMATICA SHOW DO MILHÃO PREPARAÇÃO ÇPARA AVALIAÇÕES EXTERNAS
 
Mesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecas
Mesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecasMesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecas
Mesoamérica.Astecas,inca,maias , olmecas
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
19 de abril - Dia dos povos indigenas brasileiros
 
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parteDança Contemporânea na arte da dança primeira parte
Dança Contemporânea na arte da dança primeira parte
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
 
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
Geometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdfGeometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdf
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
 
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdfMapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
Mapas Mentais - Português - Principais Tópicos.pdf
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
 

Limite funcoes melhor texto

  • 1. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 1 Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 2.3.1 - Limite de uma fun¸c˜ao de uma vari´avel 2.3.3 - Limite de uma fun¸c˜ao de n vari´aveis 2.3.2 - Limite de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis Este cap´ıtulo ´e dedicado `a formaliza¸c˜ao do conceito de limite, tanto daquele visto para fun¸c˜oes de uma vari´avel real quanto para fun¸c˜oes de duas ou mais vari´aveis reais. ´E um cap´ıtulo de aprofundamento, com conceitos um pouco mais complexos do que normalmente ´e ensinado em alguns cursos de C´alculo. 2.3.1 - Limite de uma fun¸c˜ao de uma vari´avel Para definir de forma mais rigorosa o que ´e um limite de fun¸c˜oes de duas ou mais vari´aveis ´e necess´ario aprofundar o conceito de limite visto at´e ent˜ao. Antes de mostrar a defini¸c˜ao formal do limite de uma fun¸c˜ao f = f(x) quando x → x0, ´e bom lembrar que, embora o C´alculo Diferencial e Integral tenha surgido com Isaac Newton (1643-1727) e Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1717) no s´eculo XVII, foi somente no s´eculo XIX que essa defini¸c˜ao foi formalizada pelo francˆes Augustin-Louis Cauchy (1789-1857) e pelo alem˜ao Karl Theodor Wilhelm Weierstrass (1815-1897). Dado um limite lim x!x0 f(x) = L, a defini¸c˜ao formal baseia-se em construir dois intervalos abertos: um em torno do limite L e outro em torno do ponto x0, como mostra a primeira figura a seguir. O intervalo em torno de x0 tem que ser pequeno o suficiente para que a sua imagem esteja contida no intervalo em torno do limite L (segunda figura a seguir). x y x0 L bc bc y bc bcbc x x0 L bc bcbc Prova-se que o limite ´e verdadeiro se, para qualquer intervalo em torno de L, n˜ao importa o qu˜ao pequeno ele seja, for sempre poss´ıvel encontrar um intervalo em torno de x0 de modo que a imagem desse intervalo esteja contida no intervalo em torno de L. A figura a seguir mostra um caso em que isto n˜ao ´e poss´ıvel, mostrando que o limite ´e falso. bc Lb bc bc bcbc x x g(x) bc Lb bc bc 0 x0 g(x) bcbc 0 x0 Determinando que o intervalo em torno de L ´e dado por (L − ǫ,L + ǫ) e o intervalo em torno de x0 ´e dado por (x0 − δ, x0 + δ), onde ǫ (´epsilon) e δ (delta) s˜ao ambos maiores que zero, podemos dizer que o limite est´a
  • 2. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 2 correto se, para y ∈ (L−ǫ,L+ǫ), existir sempre um δ > 0 tal que x ∈ (x0−δ, x0 +δ). Isto tem que ser verdade para qualquer valor de ǫ que escolhermos. Um exemplo mais espec´ıfico ´e dado a seguir. Isaac Newton (1642-1727): Newton foi um dos maiores gˆenios da humanidade. Nasceu na pequena cidade de Woolsthorpe, na Inglaterra, e estudou na Universidade de Cambridge, tornando-se depois professor nessa mesma universidade. Ele era f´ısico, matem´atico, astrˆonomo e alquimista, tendo contribu´ıdo significativamente para todos esses campos. Ele foi o criador da mecˆanica racional e da lei da gravita¸c˜ao universal. Foi um dos criadores do C´alculo Diferencial e Integral, juntamente com Leibniz. Desenvolveu v´arios trabalhos em ´optica, tendo revolucionado essa ´area da F´ısica. Tamb´em foi dele a inven¸c˜ao do telesc´opio refletor, que ´e usado em observat´orios do mundo inteiro e no espa¸co. Newton tamb´em exerceu importantes cargos p´ublicos e foi sagrado sir (cavalheiro) pela rainha da Inglaterra na ´epoca. Morreu como uma celebridade em seu pa´ıs, embora j´a mostrasse v´arios sinais de demˆencia senil. Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1717): matem´atico, fil´osofo, f´ısico e estudioso das leis alem˜ao. Nasceu em Leipzig e estudou na prestigiosa universidade de mesmo nome. Junto com Newton, foi o criador do C´alculo Diferencial e Integral. Tamb´em foi respons´avel por boa parte da nota¸c˜ao matem´atica usada at´e hoje. Al´em disso, foi um grande fil´osofo, tendo tecido uma vis˜ao de um universo baseado em princ´ıpios fundamentais e racionais, sem rejeitar as concep¸c˜oes crist˜as. Sua convic¸c˜ao de que tudo podia ser demonstrado racionalmente quando utilizada uma nota¸c˜ao coveniente levou-o a organizar v´arias express˜oes matem´aticas em termos de s´ımbolos. Leibniz sofreu revezes com a rivalidade entre ele e Newton devida `a controv´ersia sobre quem teria sido o criador do C´alculo Diferencial e Integral. Exemplo 1: tentaremos mostrar que limx → 1x2 = 1 usando o novo crit´erio que acaba de ser descrito. Tomando um intervalo que inclui todos os n´umeros que est˜ao a distˆancias menores que ǫ = 1 do ponto y = 1, temos que esse intervalo vai de y = 0 at´e y = 2. Este intervalo tem comprimento 2ǫ = 2 e pode ser escrito como (0, 2). Se considerarmos agora um intervalo centrado em x = 1 de comprimento 2δ = 0, 4, isto ´e, o intervalo (1 − 0, 2 , 1 + 0, 2) = (0, 8 , 1, 2), este produzir´a a seguinte imagem em y: para x = 0, 8 temos f(0, 8) = 0, 64; para x = 1, 2, f(1, 4) = 1, 44. Portanto, a imagem produzida pelo intervalo em x centrado em x = 1 e de comprimento 2δ = 0, 4 produz uma imagem em y dada pelo intervalo (0, 64 , 1, 44), que est´a contido no intervalo (0, 2). x y −2 −1 0 1 2 4 3 2 1 bc bc 2ǫ = 2 x y −2 −1 0 1 2 4 3 2 1 bc bc bcbc 2ǫ = 2 2δ = 0, 4 Do mesmo modo como escolhemos 2δ = 0, 4 ⇒ δ = 0, 2, poder´ıamos ter escolhido δ = 0, 1 ou δ = 0, 4, que a imagem produzida pelo intervalo (1−δ, 1+δ) ainda estaria contida no intervalo (0, 2). Na verdade, contanto que δ seja menor ou igual a √2 − 1 ≈ 0, 414, o intervalo produzido em x leva a uma imagem que est´a contida em (0, 2). Vamos mostar que tamb´em para valores menores de ǫ conseguimos encontrar valores de δ satisfazendo essas condi¸c˜oes. Escolhendo ǫ = 0, 5, temos o intervalo (1 − 0, 5 , 1 + 0, 5) = (0, 5 , 1, 5) em y. O que temos que fazer agora ´e encontrar um valor de δ para o qual o intervalo (1−δ, 1+δ) em x produza uma imagem que esteja contida no intervalo em y. Tomando δ = 0, 2, teremos o intervalo (1 − 0, 2 , 1 + 0, 2) = (0, 8 , 1, 2) em x que, como j´a vimos, produz a imagem (0, 64 , 1, 44), que est´a contida no intervalo (0, 5 , 1, 5).
  • 3. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 3 x y −2 −1 0 1 2 4 3 2 1 bc bc 2ǫ = 1 x y −2 −1 0 1 2 4 3 2 1 bc bc bcbc 2ǫ = 1 2δ = 0, 4 Tomemos agora um valor ainda menor para ǫ: 0,25. Para este valor, temos o intervalo (1 − 0, 25 , 1 + 0, 25) = = (0, 75 , 1, 25) em y. Escolhendo δ = 0, 1, temos o intervalo (1−0, 1 , 1+0, 1) = (0, 9 , 1, 1) em x, que tem como imagem o intervalo (0, 81 , 1, 21), que est´a contido no intervalo (0, 75 , 1, 25). x y −2 −1 0 1 2 4 3 2 1 bc bc 2ǫ = 0, 5 x y −2 −1 0 1 2 4 3 2 1 bc bc bcbc 2ǫ = 0, 5 2δ = 0, 2 Assim, podemos intuir que, para qualquer valor de ǫ que escolhermos, ser´a sempre poss´ıvel escolher um valor de δ tal que o intervalo (1 − δ, 1 + δ) em x produzir´a uma imagem em y que estar´a contida no intervalo (1 − ǫ, 1 + ǫ). Diremos que o limite existe e est´a correto quando isto puder ser provado. Voltemos, agora, `a defini¸c˜ao formal de um limite. Podemos dizer que o limite de uma fun¸c˜ao f(x) quando x tende a x0 ´e L, lim x!x0 f(x) = L se, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que x ∈ (x0 −δ, x0 +δ) ⇒ ⇒ f(x) ∈ (L − ǫ,L + ǫ). Agora, podemos escrever |x − x0| < δ no lugar de x ∈ (x0 − δ, x0 + δ). Isto porque |x − x0| < δ ⇔ −δ < x − x0 < δ ⇔ x0 − δ < x < x0 + δ . De modo semelhante, podemos escrever |f(x) − L| < ǫ no lugar de f(x) ∈ (L − ǫ,L + ǫ). Isto porque |f(x) − L| < ǫ ⇔ −ǫ < f(x) − L < ǫ ⇔ L − ǫ < f(x) < L + ǫ . Portanto, a defini¸c˜ao de limite fica dada a seguir. lim x!x0 f(x) = L se, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que |x − x0| < δ ⇒ |f(x) − L| < ǫ. Defini¸c˜ao 1 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R e um ponto x0 de I, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a x0 existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim x!x0 f(x) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que |x − x0| < δ ⇒ |f(x) − L| < ǫ.
  • 4. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 4 Observa¸c˜ao: uma defini¸c˜ao mais formal de limite ´e feita na Leitura Complementar 2.3.3 e necessita do conceito de ponto de acumula¸c˜ao, que ´e visto na Leitura Complementar 2.3.2. A defini¸c˜ao 2 ´e usada a seguir para provar dois limites. Exemplo 2: mostre que lim (x + 2) = 5. x!3 Solu¸c˜ao: temos que mostrar que existem valores de δ > 0 tais que |x−a| < δ ⇒ |f(x)−L| < ǫ para qualquer valor de ǫ > 0. Temos a = 3, f(x) = x + 2 e L = 5, de modo que a express˜ao fica |x − 3| < δ ⇒ |x + 2 − 5| < ǫ ⇔ |x − 3| < δ ⇒ |x − 3| < ǫ ⇔ . Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ, essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 3| < δ e δ ≤ ǫ, ent˜ao |x − 3| < ǫ. Portanto, o limite est´a provado. Exemplo 3: mostre que lim (2x − 1) = 1. x!1 Soluc¸ao: ˜temos que mostrar que existem valores de δ > 0 tais que |x−a| < δ ⇒ |f(x)−L| < ǫ para qualquer valor de ǫ > 0. Temos a = 1, f(x) = 2x − 1 e L = 1, de modo que a express˜ao fica ǫ |x−1| < δ ⇒ |2x−1−1| < ǫ ⇔ |x−1| < δ ⇒ |2x−2| < ǫ ⇔ |x−1| < δ ⇒ 2|x−1| < ǫ ⇔ |x−1| < δ ⇒ |x−1| < . 2 Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ 2 , essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 1| < δ e δ ≤ ǫ 2 , ent˜ao |x − 1| < ǫ. Portanto, o limite est´a provado. A defini¸c˜ao de limites que acabamos de desenvolver n˜ao ´e v´alida para limites infinitos ou limites envolvendo o infinito. Para esses limites e outros s˜ao necess´arias novas defini¸c˜oes. Na verdade, s˜ao necess´arias nove delas (isto ´e feito na Leitura Complementar 2.3.3). Augustin-Louis Cauchy (1789-1857): matem´atico francˆes respons´avel pela formula¸c˜ao mais precisa do conceito de limites e por v´arias contribui¸c˜oes de fundamental importˆancia na teoria de fun¸c˜oes de vari´aveis complexas e em equa¸c˜oes diferenciais. Cauchy teve uma infˆancia atribulada, tendo vivido na ´epoca da Revolu¸c˜ao Francesa. Trabalhou como engenheiro para a marinha de Napole˜ao e teve v´arias tentativas de obter posi¸c˜oes em universidades recusadas, muitas vezes por motivos pol´ıticos. Cat´olico devoto, teve atritos com seus colegas partid´arios do ate´ısmo. Quando o rei da Fran¸ca voltou ao poder, recusou-se a jurar lealdade e perdeu seu emprego, retornando ao seu trabalho ap´os o rei ter sido novamente deposto. Karl Theodor Wilhelm Weierstrass (1789-1857): matem´atico nascido na Pr´ussia (atual Alemanha). Embora fosse apaixonado pela matem´atica, estudou finan¸cas por desejo de seu pai. Desinteressado do assunto, levou uma vida despreocupada de estudante at´e que resolveu, contrariando seu pai, estudar matem´atica. Tendo abandonado a universidde, formou-se professor do segundo grau. Exerceu essa profiss˜ao at´e publicar um artigo sobre invers˜ao de fun¸c˜oes hiperel´ıpticas, o que lhe valeu uma posi¸c˜ao na universidade. ´E considerado o pai da an´alise matem´atica por ter introduzido o rigor atual no C´alculo e na teoria de fun¸c˜oes de vari´aveis complexas. Fez muitas contribui¸c˜oes `a matem´atica, sobretudo nesses dois ´ultimos campos. Suas aulas eram muito apreciadas e ele tinha estudantes vindos de v´arias partes do mundo. 2.3.2 - Limite de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis Podemos, agora, expandir o conceito de limite para o caso de uma fun¸c˜ao de duas vari´aveis reais. Relem-brando, uma fun¸c˜ao f = f(x, y) leva elementos de R2 a elementos de R (primeira figura a seguir).
  • 5. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 5 b x y x0 y0 z f(x0, y0) f R2 R Para definirmos um limite lim (x0,y0) f(x, y) = L, precisamo primeiro determinar uma regi˜ao em torno do ponto (x0, y0) e um outro intervalo aberto em torno do limite L. Podemos, por exemplo, desenhar um quadrado ou uma circunferˆencia em torno de (x0, y0) (duas figuras a seguir) e dizer que (x, y) tem que estar dentro do subconjunto de R2 constitu´ıdo pela regi˜ao interna a esse quadrado ou a essa circunferˆencia, excluindo as suas bordas (isto ´e representado pelas linhas pontilhadas nas figuras a seguir). b x y x0 y0 z L f bc bc b x y x0 y0 z L f bc bc Como ´e mais f´acil determinar a equa¸c˜ao da regi˜ao circular em torno do ponto (x0, y0), escolheremos esse tipo de regi˜ao, que chamaremos de bola aberta em torno do ponto, pois ela n˜ao inclui a superf´ıcie do c´ırculo. Podemos, ent˜ao, dizer que a regi˜ao limitada pela bola aberta ´e dada pelo c´ırculo (x − x0)2 + (y − y0)2 < δ2 = p(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ , onde δ ´e o raio da bola aberta. Lembrando agora que p(x − x0)2 + (y − y0)2 = ||(x − x0, y − y0)||, podemos dizer que a bola aberta ´e definida por ||(x − x0, y − y0)|| < δ. Podemos, ent˜ao, utilizar a seguinte defini¸c˜ao de limite. Defini¸c˜ao 2 - Dada uma fun¸c˜ao f(x, y) definida em um intervalo I ⊂ R2 e um ponto (x0, y0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x, y) quando (x, y) tende a (x0, y0) existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim (x,y)!(x0,y0) f(x, y) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||x − x0, y − y0|| < δ ⇒ |f(x, y) − L| < ǫ. Vamos usar esta defini¸c˜ao para provar um limite bem simples, a seguir. Exemplo 1: prove que lim (x,y)!(x0,y0) x = x0. Solu¸c˜ao: temos que mostrar que, para qualquer ǫ > 0, existe um δ > 0 tal que ||x − x0, y − y0|| < δ ⇒ |f(x, y) − L| < ǫ ⇔ p(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ ⇒ |x − x0| < ǫ . Sabemos que p(x − x0)2 ≤ p(x − x0)2 + (y − y0)2 ⇔ |x−x0| ≤ p(x − x0)2 + (y − y0)2. Portanto, escolhendo qualquer δ ≤ ǫ, temos que p(x − x0)2 + (y − y0)2 < δ ⇒ |x − x0| < ǫ, o que prova o limite. Em geral, ´e muito dif´ıcil provar limites envolvendo fun¸c˜oes de duas vari´aveis. Podemos, no entanto, calcular alguns limites utilizando nossos conhecimentos de limites de fun¸c˜oes de uma vari´avel, como mostra o exemplo a seguir.
  • 6. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 6 Exemplo 2: calcule lim (x,y)!(0,0) sen (x2 + y2) x2 + y2 . Solu¸c˜ao: usando a simetria do problema, podemos fazer a mudan¸ca de vari´avel x2+y2 = r2. Quando (x, y) → (0, 0), teremos r → 0, tamb´em, de modo que podemos escrever lim (x,y)!(0,0) sen (x2 + y2) x2 + y2 = lim r!0 sen r2 r2 . Se aplicarmos r = 0, este limite fica da forma 0 0 , de modo que podemos aplicar a ele a regra de L’Hˆopital: lim (x,y)!(0,0) sen (x2 + y2) x2 + y2 = lim r!0 sen r2 r2 = lim r!0 2r cos r2 2r = lim r!0 cos r2 = cos 0 = 1 . Vamos, agora, provar que um limite n˜ao existe. Exemplo 3: calcule lim (x,y)!(0,0) x2 − y2 x2 + y2 . Solu¸c˜ao: o procedimento que adotaremos ´e fazer o limite de uma das vari´aveis e depois o limite da outra. Come¸cando pelo limite x → 0, temos lim (x,y)!(0,0) x2 − y2 x2 + y2 = lim y!0 −y2 y2 = lim (−1) = −1 . y!0 Se fizermos primeiro o limite em y e depois o limite em x, obtemos lim (x,y)!(0,0) sen (x2 + y2) x2 + y2 = lim x!0 x2 x2 = lim x!0 1 = 1 . Note que os dois limites n˜ao s˜ao iguais. Isto j´a basta para provar que n˜ao existe esse limite. Na verdade, os exemplos 2 e 3 n˜ao est˜ao formalizados da maneira correta. A Leitura Complementar 2.3.4 mostra como fazˆe-lo. 2.3.3 - Limite de uma fun¸c˜ao de n vari´aveis Vamos, agora, definir limites para o caso de uma fun¸c˜ao de trˆes vari´aveis reais. A generaliza¸c˜ao para fun¸c˜oes de n vari´aveis reais poder´a ser feita facilmente a partir da´ı. Uma fun¸c˜ao f = f(x, y, z) leva elementos de R3 a elementos de R (figura a seguir). Podemos considerar uma bola aberta em trono de R3 dada por uma esfera de raio menor que δ levando a um interavalo |f(x, y, z) − L| < ǫ na imagem (segunda figura a seguir). b z z0 x0 y0 x y w f(x0, y0, z0) f R3 R b z z0 x0 y0 x y w L f bc bc R3 R Podemos escrever a regi˜ao dentro dessa bola aberta pela equa¸c˜ao p(x − x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 < δ, que ´e a equa¸c˜ao de uma esfera de raio δ com exce¸c˜ao de sua superf´ıcie. Novamente, podemos trocar a raiz por uma norma: ||(x − x0, y − y0, z − z0)|| < δ. A defini¸c˜ao de limite fica, ent˜ao, como a dada a seguir.
  • 7. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 7 Defini¸c˜ao 3 - Dada uma fun¸c˜ao f(x, y, z) definida em um intervalo I ⊂ R3 e um ponto (x0, y0, z0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x, y, z) quando (x, y, z) tende a (x0, y0, z0) existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim (x,y,z)!(x0,y0,z0) f(x, y, z) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||(x − x0, y − y0, z − z0)|| < δ ⇒ |f(x, y, z) − L| < ǫ. A generaliza¸c˜ao para o limite de uma fun¸c˜ao de n vari´aveis reais ´e direta. Defini¸c˜ao 4 - Dada uma fun¸c˜ao f(x1, · · · , xn) definida em um intervalo I ⊂ Rn e um ponto (x10, · · · , xn0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x1, · · · , xn) quando (x1, · · · , xn) tende a (x01, · · · , x0n) ex-iste e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim (x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) f(x1, · · · , xn) = L, quando, para qual-quer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||(x1−x10, · · · , xn−xn0)|| < δ ⇒ ⇒ |f(x1, · · · , xn)−L| < ǫ. Resumo • Limite de uma fun¸c˜ao f : R → R. Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R e um ponto x0 de I, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a x0 existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim x!x0 f(x) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que |x − x0| < δ ⇒ |f(x) − L| < ǫ. • Limite de uma fun¸c˜ao f : R2 → R. Dada uma fun¸c˜ao f(x, y) definida em um intervalo I ⊂ R2 e um ponto (x0, y0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x, y) quando (x, y) tende a (x0, y0) existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim (x,y)!(x0,y0) f(x, y) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||x − x0, y − y0|| < δ ⇒ |f(x, y) − L| < ǫ. • Limite de uma fun¸c˜ao f : R3 → R. Dada uma fun¸c˜ao f(x, y, z) definida em um intervalo I ⊂ R3 e um ponto (x0, y0, z0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x, y, z) quando (x, y, z) tende a (x0, y0, z0) existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim (x,y,z)!(x0,y0,z0) f(x, y, z) = L, quando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||(x − x0, y − y0, z − z0)|| < δ ⇒ |f(x, y, z) − L| < ǫ. • Limite de uma func¸˜ao f : Rn → R. Dada uma func¸ao ˜f(x1, · · · , xn) definida em um intervalo I ⊂ Rn e um ponto (x10, · · · , xn0) ∈ I, dizemos que o limite de f(x1, · · · , xn) quando (x1, · · · , xn) tende a (x01, · · · , x0n) existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim f(x1, · · · , xn) = L, (x1,··· ,x)!(x10,··· ,xn0) nquando, para qualquer ǫ > 0, existir sempre um δ > 0 tal que ||(x1 − x10, · · · , xn − xn0)|| < δ ⇒ ⇒ |f(x1, · · · , xn) − L| < ǫ.
  • 8. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 8 Leitura Complementar 2.3.1 - Desigualdades e m´odulo Os s´ımblos < (menor), > (maior), ≤ (menor ou igual) e ≥ (maior ou igual) estabelecem rela¸c˜oes de ordem no conjunto dos n´umeros reais. Isto tamb´em vale para os subconjuntos N, Z e Q. Uma rela¸c˜ao de ordem entre dois n´umeros reais tamb´em ´e chamada de desigualdade. 2 ≥ √2 . Exemplos: 2 < 7 , −4 > −8 , 3, 4 ≤ 5 , 3 Existem certas regras quando se opera com desigualdades. Para quaisquer n´umeros reais a e b, valem as seguintes propriedades: P1) a < b ⇔ a + c < b + c , c ∈ R; P2) a < b e c < d ⇔ a + c < b + d , c ∈ R e d ∈ R; P3) a < b ⇔ ac < bc , c ∈ R e c > 0; P4) a < b ⇔ ac > bc , c ∈ R e c < 0; P5) a < b ⇔ 1 a > 1 b , a6= 0 e b6= 0. Exemplos dessas regras s˜ao dados a seguir. Exemplo 1: 2 < 3 ⇔ 2 + 4 < 3 + 4 ⇔ 6 < 7 (por P1). Exemplo 2: 1 < 4 ⇔ 1 + 3 < 4 + 6 ⇔ 4 < 10 (por P2). Exemplo 3: 2 < 3 ⇔ 2 · 3 < 3 · 3 ⇔ 6 < 9 (por P3). Exemplo 4: 2 < 3 ⇔ 2 · (−1) < 3 · (−1) ⇔ −2 > −3 (por P4). Exemplo 5: 2 < 4 ⇔ 1 2 > 1 4 (por P5). a) M´odulo de um n´umero real O m´odulo ou valor absoluto de um n´umero real a, escrito |a|, ´e definido como |a| = a se a ≥ 0 ; |a| = −a se a < 0 . Outra defini¸c˜ao ´e dada em termos da raiz quadrada de um n´umero ao quadrado: |a| = √a2 . Exemplos: |2| = 2 , | − 4| = 4 , | − 3| = p(−3)2 = √9 = 3 . O m´odulo de um n´umero representa a distˆancia deste ao ponto 0 no eixo dos n´umeros reais.
  • 9. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 9 0 a |a| b 0 |b| Usamos esta interpreta¸c˜ao para estabelecer algumas rela¸c˜oes para um n´umero x ∈ R com rela¸c˜ao a um n´umero a > 0. Primeiro, |x| = a ⇔ x = ±a . Exemplo 1: calcule x quando |x| = 2. Solu¸c˜ao: |x| = 2 ⇔ x = ±2, ou seja, x = 2 ou x = −2. A segunda rela¸c˜ao ´e a seguinte: |x| < a ⇔ −a < x < a . Isto pode ser visto da figura abaixo. O m´odulo de x ser´a menor que a quando x estiver dentro do intervalo aberto (−a, a) (outra nota¸c˜ao usada para o intervalo aberto ´e ] − a, a[ ). x −a 0 a bcbc |x| Exemplo 2: calcule x quando |x| < 4. Solu¸c˜ao: |x| < 2 ⇔ −2 < x < 2, ou seja, x ∈ (−2, 2). A terceira rela¸c˜ao ´e: |x| > a ⇔ x < −a ou x > a . Isto pode ser visto da figura abaixo. O m´odulo de x ser´a maior que a quando x estiver dentro do intervalo aberto (−∞, a) ou no intervalo aberto (a,∞). −a 0 a bcbc x |x| −a 0 a bcbc x |x| Exemplo 3: calcule x quando |x| > 3. Solu¸c˜ao: |x| > 3 ⇔ x < −3 ou x > 3, ou seja, x ∈ (−∞,−3) ∪ (3,∞). De modo semelhante, podemos escrever |x| ≤ a ⇔ −a ≤ x ≤ a , |x| ≥ a ⇔ x ≤ −a ou x ≥ a . Exemplo 4: calcule x quando |x| ≤ 3. Solu¸c˜ao: |x| ≤ 3 ⇔ −3 ≤ x ≤ 3, ou seja, x ∈ [−3, 3]. O m´odulo de um n´umero real apresenta as seguintes propriedades:
  • 10.
  • 11. P1) |
  • 12.
  • 13. ab| = |a| · |b|; P2) a = |a| b|b| , b6= 0; P3) |a + b| ≤ |a| + |b| (desiguladade triangular).
  • 14. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 10 Demonstra¸c˜ao: P1) podemos escrever |ab| = p(ab)2 = √a2b2 = √a2√b2 = |a| · |b|. P2) temos
  • 15.
  • 16. a b
  • 17.
  • 18. = qa b 2 = qa2 b2 = pa2 pb2 = |a| |b| . P3) dados dois n´umeros reais, sabemos que −|a| ≤ a ≤ |a| e −|b| ≤ b ≤ |b|. Portanto, temos −|a| − |b| ≤ a + b ≤ |a| + |b| ⇔ −(|a| + |b|) ≤ a + b ≤ |a| + |b| ⇔ |a + b| |a| + |b| . Exemplo 5: |3 · (−2)| = | − 6| = 6 = |3| · |2|. Exemplo 6:
  • 19.
  • 21.
  • 22. =
  • 23.
  • 25.
  • 26. 2 = |−1| = 1 |2| . Exemplo 7: |3 + (−2)| = |3 − 2| = |1| = 1 e |3| + | − 2| = 3 + 2 = 5. Portanto, |3 + (−2)| ≤ |3| + | − 2|.
  • 27. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 11 Leitura Complementar 2.3.2 - Vizinhan¸ca e ponto de acumula¸c˜ao Nesta se¸c˜ao, veremos dois t´opicos da topologia dos n´umeros reais: os conceitos de vizinhan¸ca e de ponto de acumula¸c˜ao. Dado um n´umero real a qualquer pertencente a um subintervalo I ⊂ R, definimos uma vizinhan¸ca desse ponto como sendo um conjunto de pontos pertencentes a I que estejam a uma distˆancia menor que um n´umero ǫ 0 de a, isto ´e, uma vizinhan¸ca de a ´e o intervalo {x ∈ I | a − ǫ x a + ǫ} = {x ∈ I | |x − a| ǫ} . a − ǫ a a + ǫ bcbc Exemplo 1: dado o intervalo I = (0, 6) da reta dos reais, uma vizinhan¸ca do ponto x = 2 pode ser dada por todos os pontos pertencentes ao intervalo (2 − 1, 2 + 1) = (1, 3), ou seja, pelo conjunto {x ∈ I | 1 x 3} = {x ∈ R | |x − 2| 1} . 0 1 2 3 6 bcbcbcbc Exemplo 2: dado o intervalo I = (0, 6) da reta dos reais, uma outra vizinhan¸ca do ponto x = 2 pode ser dada por todos os pontos pertencentes ao intervalo (2−0, 4 , 2+0, 4) = (1, 6 , 2, 4), ou seja, pelo conjunto {x ∈ I | 1, 6 x 2, 4} = {x ∈ R | |x − 2| 0, 4} . 0 1,6 2 2,4 6 bcbcbcbc Exemplo 3: dado o intervalo I = {x ∈ R | x 2 ou x ≥ 4} da reta dos reais, uma vizinhan¸ca do ponto x = 5 pode ser dada por todos os pontos pertencentes ao intervalo (5−0, 5 , 5+0, 5) = (4, 5 , 5, 5), ou seja, pelo conjunto {x ∈ I | 4, 5 x 5, 5} = {x ∈ R | |x − 5| 0, 5} . 0 2 4 4,5 5 5,5 bcbbcbc Exemplo 4: dado o intervalo I = {x ∈ R | x 2 ou x ≥ 4} da reta dos reais, uma outra vizinhan¸ca do pon-to x = 5 pode ser dada escolhendo ǫ = 4, de modo que a vizinhan¸ca ser´a composta por todos os pontos pertencentes ao intervalo {x ∈ I | 1 x 9} = (1, 2) ∪ [4, 9) . 0 1 2 4 5 9 bcbcbcbbc
  • 28. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 12 Exemplo 5: dado o intervalo I = {2} da reta dos reais, o ponto x = 2 tem {2} como sua ´unica vizinhan- ¸ca. 2 b Dado um intervalo I ⊂ R e um ponto a ∈ R, dizemos que a ´e um ponto de acumula¸c˜ao do conjunto I quando todo intervalo aberto (a − ǫ, a + ǫ), de centro a, cont´em algum ponto x ∈ I diferente de a. Em termos de simbologia matem´atica, a ´e um ponto de acumula¸c˜ao de um conjunto I ⊂ R quando, para qualquer ǫ 0, existir um x ∈ I tal que 0 |x − a| ǫ. a − ǫ a a + ǫ bcbbc Exemplo 6: dado um intervalo I = (1, 5), o ponto x = 3 ´e um ponto de acumula¸c˜ao desse intervalo, pois para qualquer ǫ 0 existem pontos x ∈ (3−ǫ, 3+ǫ)∪(1, 5) que pertencem a I e que n˜ao s˜ao o ponto x = 3. 1 3 − ǫ 3 3 + ǫ 5 bcbcbcbc Exemplo 7: dado um intervalo I = (1, 5), o ponto x = 1 ´e um ponto de acumula¸c˜ao desse intervalo, pois para qualquer ǫ 0 existem pontos x ∈ (3−ǫ, 3+ǫ)∪(1, 5) que pertencem a I e que n˜ao s˜ao o ponto x = 1. 1 1 + ǫ 4 5 bcbcbc Exemplo 8: dado um intervalo I = (1, 5), o ponto x = 0 n˜ao ´e um ponto de acumula¸c˜ao desse intervalo, pois podemos escolher ǫ = 0, 5 tal que no intervalo (0 − 0, 5 , 0 + 0, 5) = (−0, 5 , 0, 5) centrado em 0 n˜ao existem pontos x ∈ I. 0 1 5 -0.5 0.5 bcbcbcbc Exemplo 9: dado um intervalo I = {3}, o ponto x = 3 n˜ao ´e um ponto de acumula¸c˜ao desse intervalo, pois podemos escolher ǫ = 0, 5 tal que no intervalo (3−0, 5 , 3+0, 5) = (−2, 5 , 3, 5) centrado em 3 n˜ao existem pontos x ∈ I diferentes de 3. 2.5 3 3.5 bcbbc Exemplo 10: dado um intervalo I = {x ∈ R | x6= 3}, o ponto x = 3 ´e um ponto de acumula¸c˜ao desse intervalo, pois para qualquer ǫ 0 existem pontos x ∈ (3 − ǫ, 3 + ǫ) que pertencem a I e que n˜ao s˜ao o ponto x = 3. 3 − ǫ 3 3 + ǫ bcbcbc Portanto, se x = a ´e um ponto de acumula¸c˜ao de um intervalo I, ent˜ao ´e poss´ıvel escolher uma seq¨uˆencia de n´umeros pertencentes a esse intervalo que se aproximem cada vez mais desse ponto sem nunca alcan¸c´a-lo. De posse desses conceitos, podemos agora partir para a defini¸c˜ao formal de limite, dada na pr´oxima leitura complementar.
  • 29. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 13 Leitura Complementar 2.3.3 - Defini¸c˜ao formal de limite A defini¸c˜ao formal de limite ´e dada logo a seguir. ´E uma das defini¸c˜oes mais dif´ıceis do C´alculo e pesadelo da maioria dos estudantes, mas fica mais f´acil depois do que vimos nas leituras complementares anteriores. Defini¸c˜ao 5 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R e um ponto de acumula¸c˜ao a de I, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a a existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim f(x) = L, quando, para qualquer n´umero ǫ 0, existir sempre um n´umero δ 0 tal que, se x!a |x − a| δ, ent˜ao |f(x) − L| ǫ. Usando os exemplos da Leitura Complementar 2.3.1, pudemos mostrar o porque da necessidade de uma definic¸ao ˜tao ˜precisa, por ela ter que funcionar para diversos casos de limites. Note que na definic¸ao ˜´e explicitado o fato de o numero ´a do limite lim f(x) nao ˜estar necessariamente dentro do intervalo em que se analisa o limite. x!a Este ´e o caso do limite da fun¸c˜ao f(x) = x0 quando x → 0, pois x = 0 n˜ao pertence ao dom´ınio desta fun¸c˜ao (isto levando em conta a conven¸c˜ao por n´os adotada). Podemos usar essa defini¸c˜ao na demonstra¸c˜ao de diversos limites, o que ser´a feito a seguir. Exemplo 1: mostre que lim x = 1. x!1 Solu¸c˜ao: temos que mostrar que existem valores de δ 0 tais que |x−a| δ ⇒ |f(x)−L| ǫ para qualquer valor de ǫ 0. No nosso caso, temos a = 1, f(x) = x e L = 1, de modo que a express˜ao fica |x − 1| δ ⇒ |x − 1| ǫ . Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ, essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 1| δ e δ ≤ ǫ, ent˜ao |x − 1| ǫ. A figura ao lado ajuda a ilustrar esta situa¸c˜ao. bcbc x 1 − δ 1 1 + δ bcbc y 1 − ǫ 1 1 + ǫ Ent˜ao, se tomarmos, por exemplo, ǫ = 1, podemos escolher qualquer 0 δ 1 que a rela¸c˜ao ser´a satisfeita. Se escolhermos ǫ = 0, 1, qualquer 0 δ 0, 1 tornar´a a rela¸c˜ao verdadeira. Portanto, para qualquer valor de ǫ 0, podemos encontrar valores de δ 0 para os quais a rela¸c˜ao ´e verdadeira. Assim, o limite est´a provado. Exemplo 2: mostre que lim (x + 3) = 5. x!2 Soluc¸ao: ˜temos que mostrar que existem valores de δ 0 tais que |x−a| δ ⇒ |f(x)−L| ǫ para qualquer valor de ǫ 0. Temos a = 2, f(x) = x + 3 e L = 5, de modo que a express˜ao fica bcbc x |x − 2| δ ⇒ |x + 3 − 5| ǫ ⇔ |x − 2| δ ⇒ |x − 2| ǫ . 2 − δ 2 2 + δ Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ, bcbc y essa relac¸ao ˜ser´a v´alida, pois se |x−2| δ e δ ≤ ǫ, entao ˜|x−2| ǫ. 2 − ǫ 2 2 + ǫ Portanto, o limite esta ´provado. Os dois pr´oximos exemplos ilustram limites de fun¸c˜oes do tipo f(x) = ax + b, onde a6= 1.
  • 30. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 14 Exemplo 3: mostre que lim (2x − 1) = 1. x!1 Soluc¸ao: ˜temos que mostrar que existem valores de δ 0 tais que |x−a| δ ⇒ |f(x)−L| ǫ para qualquer valor de ǫ 0. Temos a = 1, f(x) = 2x − 1 e L = 1, de modo que a express˜ao fica |x − 1| δ ⇒ |2x − 1 − 1| ǫ ⇔ |x − 1| δ ⇒ |2x − 2| ǫ ⇔ ǫ ⇔ |x − 1| δ ⇒ 2|x − 1| ǫ ⇔ |x − 1| δ ⇒ |x − 1| . 2 Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ 2 , essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 1| δ e δ ≤ ǫ 2 , ent˜ao |x − 1| ǫ. Portanto, o limite est´a provado. bcbc x 1 − δ 1 1 + δ bcbc y 1 − ǫ/2 1 1 + ǫ/2 Exemplo 4: mostre que lim (5x − 4) = 6. x!2 Soluc¸ao: ˜temos que mostrar que existem valores de δ 0 tais que |x−a| δ ⇒ |f(x)−L| ǫ para qualquer valor de ǫ 0. Temos a = 2, f(x) = 5x − 4 e L = 6, de modo que a express˜ao fica |x − 2| δ ⇒ |5x − 4 − 6| ǫ ⇔ |x − 2| δ ⇒ |5x − 10| ǫ ⇔ ǫ ⇔ |x − 2| δ ⇒ 5|x − 2| ǫ ⇔ |x − 2| δ ⇒ |x − 2| . 5 Podemos ver da express˜ao acima que sempre que tivermos δ ≤ ǫ 5 , essa rela¸c˜ao ser´a v´alida, pois se |x − 2| δ e δ ≤ ǫ 5 , ent˜ao |x − 1| ǫ. Portanto, o limite est´a provado. bcbc x 2 − δ 2 2 + δ bcbc y 2 − ǫ/5 2 2 + ǫ/5 Exemplo 5: mostre que lim (2x − 1) = 4. x!1 Solu¸c˜ao: para tentarmos provar esse resultado (que est´a errado), temos que mostrar que existem valores de δ 0 tais que |x − a| δ ⇒ |f(x) − L| ǫ para qualquer valor de ǫ 0. Temos a = 1, f(x) = 2x − 1 e L = 4, de modo que a express˜ao fica |x − 1| δ ⇒ |2x − 1 − 4| ǫ ⇔ |x − 1| δ ⇒ |2x − 3| ǫ ⇔ |x − 1| δ ⇒ 2|x − 1, 5| ǫ ⇔ ǫ ⇔ |x − 1| δ ⇒ |x − 1, 5| . 2 Isto significa que para qualquer valor de ǫ 0, existe sempre um δ 0 tal que, se x estiver dentro do intervalo aberto no eixo x dado por (1 − δ, 1 + δ), entao ˜f(x) estara ´sempre dentro do intervalo aberto 1, 5 − ǫ , 1, 5 + ǫ no eixo y. Para mostrar que 2 2 isto n˜ao est´a correto, basta achar um contra-exemplo. A figura ao lado facilita isto. 1 bcbc x 1 − δ 1 + δ 1, 5 bcbc y 1, 5 − ǫ/2 1, 5 + ǫ/2 Da figura, podemos ver que escolhendo ǫ/2 0, 5, isto ´e, ǫ 1, n˜ao h´a forma de escolher um intervalo (1−δ, 1+δ) de modo a garantir que, se x est´a dentro desse intervalo, ent˜ao f(x) estar´a dentro do intervalo (1, 5−ǫ/2 , 1, 5+ǫ/2). Portanto, o limite est´a incorreto. H´a ainda a possibilidade de demonstrar alguns limites mais complicados, como os que envolvem fun¸c˜oes quadr´atica,s mas isso foge da inten¸c˜ao desta leitura complementar. A defini¸c˜ao de limite feita aqui ´e apenas aquela que ´e adequada a limites finitos quando se tende a n´umeros finitos. A seguir, veremos algumas defini¸c˜oes de limites envolvendo o infinito. a) Limites no infinito Quando tomamos os limites x → ∞, a defini¸c˜ao 5 de limite torna-se inapropriada, pois n˜ao podemos tomar um intervalo |x − a| δ quando a → ±∞. Substituindo a por ∞ nessa desigualdade, temos |x − a| δ ⇒ |x −∞| δ ⇒ | −∞| δ ⇒ ∞ δ ,
  • 31. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 15 pois x −∞ = −∞ para qualquer x ∈ R. De forma semelhante, substituindo a por −∞, temos |x − a| δ ⇒ |x − (−∞)| δ ⇒ |x +∞| δ ⇒ |∞| δ ⇒ ∞ δ , pois x+∞ = ∞ para qualquer x ∈ R. Como n˜ao existe um n´umero real δ tal que δ ∞, temos que usar uma outra defini¸c˜ao para esse tipo de limite. Pensemos o seguinte: o limite lim f(x) = L existe quando, fazendo x tender a infinito, o intervalo |f(x)−ǫ| x!1 tender a zero. Isto pode ser escrito da seguinte forma: para qualquer ǫ 0, existe um n´umero N tal que, toda vez que x N, automaticamente, |f(x) − L| ǫ. Esta id´eia ´e formalizada na defini¸c˜ao a seguir. Defini¸c˜ao 6 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R aberto no ∞, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a ∞ existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim f(x) = L, x!1 quando, para qualquer n´umero ǫ 0, existir sempre um n´umero N 0 tal que, se x N, ent˜ao |f(x) − L| ǫ. De modo semelhante, podemos dizer que o limite lim f(x) = L existe quando, fazendo x tender a menos x!−1 infinito, o intervalo |f(x) − ǫ| tender a zero, isto ´e, que dado um ǫ 0, existe um n´umero N 0 tal que x N ⇒ |f(x) − L| ǫ. A defini¸c˜ao seguinte formaliza esta id´eia. Defini¸c˜ao 7 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R aberto em −∞, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a −∞ existe e ´e igual a L, o que pode ser escrito como lim f(x) = L, x!−1 quando, para qualquer n´umero ǫ 0, existir sempre um n´umero N 0 tal que, se x N, ent˜ao |f(x) − L| ǫ. b) Limites infinitos Primeiro, veremos os caso de limites que v˜ao para infinito ou menos infinito quando x tende a um valor finito: lim x!a f(x) = ∞ ou lim x!a f(x) = −∞ . O motivo de n˜ao termos definido esses limites no texto principal foi porque ainda n˜ao vimos fun¸c˜oes que apresentam esse comportamento. No entanto, para que as defini¸c˜oes fiquem completas, faremos aqui as duas que restam. Defini¸c˜ao 8 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R e um ponto de acumula¸c˜ao a de I, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a a ´e igual a ∞, o que pode ser escrito como lim x!a f(x) = ∞, quando, para qualquer M 0, existir sempre um δ 0 tal que, se |x − a| δ, ent˜ao f(x) M. Defini¸c˜ao 9 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R e um ponto de acumula¸c˜ao a de I, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a a ´e igual a −∞, o que pode ser escrito como lim x!a f(x) = −∞, quando, para qualquer M 0, existir sempre um δ 0 tal que, se |x − a| δ, ent˜ao f(x) M. c) Limites infinitos no infinito Resta agora definir os limites no infinito das fun¸c˜oes de potˆencias naturais f(x) = xn com n 0. Esses limites s˜ao infinitos, de modo que as defini¸c˜oes 2 e 3 n˜ao s˜ao mais apropriadas, pois quando o limite for ∞, teremos |f(x) − L| ǫ ⇒ |f(x) −∞| ǫ ⇒ | −∞| ǫ ⇒ ∞ ǫ
  • 32. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 16 e, quando o limite for −∞, |f(x) − L| ǫ ⇒ |f(x) − (−∞)| ǫ ⇒ |∞| ǫ ⇒ ∞ ǫ . Como n˜ao existe ǫ real tal que ǫ ∞, n˜ao podemos aplicar essas defini¸c˜oes aos casos em que o limite tende a infinito. Podemos dizer, no entanto, que o limite quando x → ∞ de uma fun¸c˜ao tende a ∞ quando, quanto maior for o valor de x, maior ser´a o valor de f(x). Podemos tamb´em dizer isto da seguinte forma: para todo valor M 0, existe sempre um valor N 0 tal que x N ⇒ f(x) M. Como existem diversas situa¸c˜oes dependendo do limite que tomamos, ´e necess´ario fazer as quatro defini¸c˜oes a seguir. Defini¸c˜ao 10 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R aberto em ∞, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a ∞ ´e igual a ∞, o que pode ser escrito como lim f(x) = ∞, quando, x!1 para qualquer n´umero M 0, existir sempre um n´umero N 0 tal que, se x N, ent˜ao f(x) M. Defini¸c˜ao 11 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R aberto em ∞, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a ∞´e igual a −∞, o que pode ser escrito como lim f(x) = −∞, quando, x!1 para qualquer n´umero M 0, existir sempre um n´umero N 0 tal que, se x N, ent˜ao f(x) M. Defini¸c˜ao 12 - Dada uma fun¸c˜ao f(x) definida em um intervalo I ⊂ R aberto em ∞, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a −∞ ´e igual a ∞, o que pode ser escrito como lim f(x) = ∞, quando, x!−1 para qualquer n´umero M 0, existir sempre um n´umero N 0 tal que, se x N, ent˜ao f(x) M. Definic¸˜ao 13 - Dada uma func¸ao ˜f(x) definida em um intervalo I ⊂ R aberto em −∞, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a −∞ ´e igual a −∞, o que pode ser escrito como lim f(x) = x!−1 −∞, quando, para qualquer n´umero M 0, existir sempre um n´umero N 0 tal que, se x N, ent˜ao f(x) M. Essas s˜ao, na verdade, todas as defini¸c˜oes de limites para fun¸c˜oes de uma vari´avel real a valores reais.
  • 33. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 17 Leitura Complementar 2.3.4 - Alguns teoremas para limites A presentaremos nesta leitura complementar dois teoremas que facilitam o c´alculo de alguns limites impor-tante envolvendo fun¸c˜oes de duas ou mais vari´aveis. Esse teoremas s˜ao seguidos de exemplos que os utilizam, entre eles formas mais corretas dos exemplos 2 e 3 da se¸c˜ao 2.3.2 deste cap´ıtulo. O primeiro teorema, enunciado a seguir, diz que um limite existe se, seguindo qualquer caminho poss´ıvel at´e ele, o resultado for sempre o mesmo. Tais caminhos podem ser parametrizados por curvas que s˜ao imagens de fun¸c˜oes vetoriais de um parˆametro real. Teorema 1 - Considere que lim (x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) f(x1, · · · , xn) = L. Dada uma fun¸c˜ao vetorial F(t) de R em Rn, cont´ınua em t = t0 e tal que F(t0) = (x10, · · · , xn0) e F(t)= 6(x10, · · · , xn0) se t= 6t0, e tal que F(t) ∈ D(f), entao, ˜lim f (F(t)) = L. t!t0 Exemplo 1: mostre que lim (x,y)!(0,0) sen (x2 + y2) x2 + y2 = 1. Solu¸c˜ao: este ´e o mesmo exemplo 3 da se¸c˜ao 2.3.2 deste cap´ıtulo, s´o que formulado de maneira mais rigorosa usando o teorema 1. Consideremos uma curva que ´e a imagem da fun¸c˜ao vetorial F(t) = (t cos θ, t sen θ), onde t ´e um parˆametro real positivo e θ ´e um ˆangulo qualquer. Tal curva parametriza caminhos radiais em dire¸c˜ao `a origem vindos de ˆangulos θ distintos e ´e tal que F(0) = (0, 0) para todo o valor de θ e tal que F(t)6= (0, 0) para t6= 0. Portanto, pelo teorema 1, podemos considerar x(t) = t cos θ e y(t) = t sen t, que nada mais s˜ao que coordenadas polares (Leitura Complementar 1.1.4). Como x2 + y2 = t2 cos2 t + t2 sen 2t = t2(cos2 t + sen 2t) = t2, podemos escrever o limite da seguinte forma: lim (x,y)!(0,0) f(x, y) = lim t!0 sen t2 t2 . Tal limite pode ser resolvido usando L’Hˆopital: lim (x,y)!(0,0) f(x, y) = lim t!0 cos t2 · 2t 2t = lim t!0 cos t2 = cos 02 = 1 . Como esse resultado ´e v´alido para qualquer ˆangulo θ, ent˜ao por qualquer caminho que possamos usar, o limite ´e o mesmo, o que prova que o limite est´a correto. Este mesmo racioc´ınio pode ser utilizado para outros problemas que exibam simetria radial, como o do exemplo a seguir. Exemplo 2: mostre que lim (x,y)!(1,−2) e−x2−y2+2x−4y−5 = 1. Solu¸c˜ao: completando quadrados, podemos escrever −x2 − y2 + 2x − 4y − 5 = −(x2 − 2x) − (y2 + 4y) − 5 = −(x − 1)2 − 1 − (y + 2)2 − 4 − 5 = = −(x − 1)2 + 1 − (y + 2)2 + 4 − 5 = −(x − 1)2 − (y + 2)2 . Escolhendo a fun¸c˜ao F(t) = (1 + t cos θ,−2 + t sen θ) para qualquer valor de θ, teremos (x − 1)2 + (y + 2)2 = (1+t cos theta−1)2+(−2+tsent+2)2 = t2, um resultado que independe de θ. Essa fun¸c˜ao ´e tal que F(0) = (1,−2) e F(t)6= (1,−2) para t6= 0. Do teorema 1, lim (x,y)!(1,−2) e−x2−y2+2x−4y−5 = lim (x,y)!(1,−2) e−(x−1)2−(y+2)2 = lim t!0 e−t2 = e0 = 1 . Esse resultado ´e v´alido para qualquer ˆangulo θ, o que prova que o limite est´a correto.
  • 34. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 18 A seguir, utilizamos o teorema 1 para provar que um dado limite n˜ao existe. Exemplo 3: mostre que lim (x,y)!(0,0) x2 − y2 x2 + y2 n˜ao existe. Solu¸c˜ao: nossa estrat´egia ser´a mostrar que podemos obter resultados diferentes atrav´es de duas curvas distintas. Come¸camos pela curva associada `a fun¸c˜ao vetorial F(t) = (t, 0), que ´e tal que F(0) = (0, 0) e F(t)6= (0, 0) para t6= 0. Ent˜ao, o limite pode ser escrito trocando x = t e y = 0, de modo que lim (x,y)!(0,0) x2 − y2 x2 + y2 = lim t!0 t2 − 0 t2 + 0 = lim t!0 1 = 1 . Considerando agora uma curva associada `a fun¸c˜ao vetorial F(t) = (0, t), que ´e tal que F(0) = (0, 0) e F(t)6= 6= (0, 0) para t6= 0, ent˜ao o limite pode ser escrito trocando x = 0 e y = t, de modo que lim (x,y)!(0,0) x2 − y2 x2 + y2 = lim t!0 0 − t2 0 + t2 = lim t!0 (−1) = −1 . Como os dois limites n˜ao coincidem, podemos afirmar que o limite dado n˜ao existe. O teorema a seguir afirma que, quando podemos quebrar uma fun¸c˜ao em duas outras, onde o limite da primeira ´e zero e a segunda fun¸c˜ao ´e limitada, ent˜ao o limite da fun¸c˜ao original ´e zero. Teorema 2 - Dado um limite tal que lim (x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) f(x1, · · · , xn) = lim (x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) g(x1, · · · , xn)h(x1, · · · , xn) , onde lim (x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) g(x1, · · · , xn) = 0 e |h(x1, · · · , xn)| ≤ M, M ∈ R eM 0, dentro do intervalo ||(x1, · · · , xn) − (x10, · · · , xn0)|| r, r ∈ R e r 0, ent˜ao lim (x1,··· ,xn)!(x10,··· ,xn0) f(x1, · · · , xn) = 0. Exemplo 4: prove que lim (x,y)!(0,0) x3 x2 + y2 = 0. Solu¸c˜ao: podemos escrever lim (x,y)!(0,0) x3 x2 + y2 = lim (x,y)!(0,0) x · x2 x2 + y2 . Temos que lim (x,y)!(0,0) x = 0 e
  • 35.
  • 36.
  • 37.
  • 38. x2 x2 + y2
  • 39.
  • 40.
  • 41.
  • 42. ≤ 1, pois um n´umero positivo (quadrado) dividido por ele mais outro n´umero positivo sempre ser´a menor ou igual a 1. Ent˜ao, pelo teorema 2, lim (x,y)!(0,0) x3 x2 + y2 = 0. Exemplo 5: prove que lim (x,y)!(1,1) sen (x2 + y2) x2 + y2 = 0. Solu¸c˜ao: podemos escrever lim (x,y)!(1,1) sen (x2 + y2) x2 + y2 = lim (x,y)!(1,1) 1 x2 + y2 · sen (x2 + y2) . Uma vez que lim (x,y)!(1,1) 1 x2 + y2 = 0 e
  • 43.
  • 44. sen (x2 + y2)
  • 45.
  • 46. ≤ 1, ent˜ao, pelo teorema 2, lim (x,y)!(1,1) sen (x2 + y2) x2 + y2 = 0.
  • 47. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 19 Exerc´ıcios - Cap´ıtulo 2.3 N´ıvel 1 Limites de fun¸c˜oes de uma vari´avel Exemplo 1: escreva o dom´ınio e a imagem da fun¸c˜ao f(x, y) = e−x2−y2 . Solu¸c˜ao: o dom´ınio dessa fun¸c˜ao ´e D(f) = R2, enquanto sua imagem ´e Im(f) = [0, 1], pois a fun¸c˜ao exponencial s´o pode assumir valores positivos ou nulos e a fun¸c˜ao chega a um valor m´aximo em f(0, 0) = 1. E1) Escreva os dom´ınios e as imagens das fun¸c˜oes dadas a seguir. a) f(x, y) = 4x2 + 4y2, b) f(x, y) = 2x2 + 3y2, c) f(x, y) = p9 − x2 − y2, d) f(x, y) = 1 √1−x2−y2 , e) f(x, y) = 3x2 − 2y2, f) f(x, y) = x4 + y4, g) f(x, y) = ln(x2 + y2), h) f(x, y) = ln(x2 − y3). Limites Exemplo 2: calcule lim (x,y)!(1,0) (3xy − y3). Solu¸c˜ao: lim (3xy − y3) = 3 · 1 · 0 − 03 = 0. (x,y)!(1,0) E2) Calcule os seguintes limites: a) lim (x,y)!(2,1) (2xy − x2), b) lim (x,y)!(1,0) sen xy y , c) lim (x,y,z)!(1,0,0) (yz2 + ln x), d) lim (x,y,z)!(0,0,0) ln(x2 + y2 + z2). N´ıvel 2 E1) Verifique se f(x, y) = sen (x2 + y2) x2 + y2 ´e cont´ınua em (0, 0). E2) Verifique se f(x, y) = sen (x2 + y2) x2 + y2 , (x, y)6= (0, 0) 1 , (x, y) = (0, 0) , ´e cont´ınua em (0, 0). N´ıvel 3 E1) Prove que lim (4x − 2) = 2. x!1 E2) Prove que lim (x,y)!(0,0) (x2 + y2) = 0. E3) Prove que lim (x,y)!(x0,y0) k = k para quaisquer (x0, y0) ∈ R2 e k ∈ R.
  • 48. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 20 E4) Considere a fun¸c˜ao CES (Constant Elasticity of Substitution - Elasticidade de Substitui¸c˜ao Constante) P(K,L) = A[αK + (1 − α)L]1/. a) Calcule o limite de z = ln P quando ρ → 0. (Dica: use a regra de L’Hˆopital.) b) Mostre que o limite da fun¸c˜ao CES quando ρ → 0 ´e a fun¸c˜ao de Cobb-Douglas. E5) (Leitura Complementar 2.3.4) Prove que lim (x,y)!(1,1) 1 x2 + y2 = 0. E6) (Leitura Complementar 2.3.4) Prove que lim (x,y)!(0,0) sen (x2 − y2) x2 − y2 = 1. E7) (Leitura Complementar 2.3.4) Prove que lim (x,y)!(0,0) xy x2 + y2 = 0. E8) (Leitura Complementar 2.3.4) Prove que lim (x,y)!(0,0) x px2 + y2 = 0. E9) (Leitura Complementar 2.3.4) Prove que lim (x,y)!(0,0) x + y x − y n˜ao existe. Respostas N´ıvel 1 E1) a) D(f) = R2, Im(f) = R+ = {x ∈ R | x ≥ 0}. b) D(f) = R2, Im(f) = R+. c) D(f) = (x, y) ∈ R2 | x2 + y2 ≤ 9 , Im(f) = [0, 3]. d) D(f) = (x, y) ∈ R2 | x2 + y2 1 , Im(f) = R+ = {x ∈ R | x 0}. e) D(f) = R2, Im(f) = R. f) D(f) = R2, Im(f) = R+. g) D(f) = (x, y) ∈ R2 | (x, y)6= (0, 0) , Im(f) = R. h) D(f) = (x, y) ∈ R2 | x2 − y3 0 , Im(f) = R. E2) a) 0, b) 1, c) 0, d) −∞. N´ıvel 2 E1) N˜ao ´e cont´ınua em (0, 0), pois f(0, 0) n˜ao existe. E2) ´E cont´ınua em (0, 0), pois lim (x,y)!(0,0) f(x, y) = f(0, 0) = 1. N´ıvel 3 E1) Como |f(x) − L| ǫ ⇔ |4x − 2 − 2| ǫ ⇔ |4x − 4| ǫ ⇔ |x − 1| ǫ 4 , ent˜ao para qualquer ǫ 0, sempre existe um 0 δ ≤ ǫ 4 tal que |x − 1| δ ⇒ |f(x) − 2| ǫ. E2) Como |f(x, y) − L| ǫ ⇔ |x2 + y2 − 0| ǫ e ||(x − x0), (y − y0)|| = p(x − x0)2 + (y − y0)2 = px2 + y2, ent˜ao para qualquer 0 δ ≤ ǫ teremos px2 + y2 δ ⇒ |x2 + y2| ǫ ⇔ −ǫ x2 + y2 ǫ. Como 0 px2 + y2 δ, ent˜ao x2 + y2 δ2. Com isto, podemos dizer que px2 + y2 δ ⇒ −ǫ x2 + y2 ǫ ⇔ δ2 ≤ ǫ e δ 0, de modo que devemos ter δ √ǫ. Portanto, sempre que δ √ǫ, teremos ||x − x0, y − y0|| δ ⇒ |f(x) − L| ǫ, o que prova o limite. E3) Temos que mostrar que, para qualquer ǫ 0, existe um δ 0 tal que ||x − x0, y − y0|| δ ⇒ |f(x, y) − L| ǫ ⇔ p(x − x0)2 + (y − y0)2 δ ⇒ |k − k| ǫ ⇔ 0 ǫ . Como, por hip´otese, ǫ 0 sempre, ent˜ao para qualquer δ 0 a afirma¸c˜ao acima ´e verdadeira, o que prova o limite. E4) a) lim ρ!0 z = ln AKαL1−α b) lim ρ!0 P = lim ρ!0 exp(ln P) = exp lnlim ρ!0 P = exp ln AKαL1−α = AKαL1−α. O limite pode ser deslocado para dentro das fun¸c˜oes exponencial e logaritmo natural porque elas s˜ao cont´ınuas.
  • 49. C´alculo 2 - Cap´ıtulo 2.3 - Formaliza¸c˜ao do conceito de limite 21 E5) Escolhendo F(t) = (t cos θ, t sen θ), temos lim (x,y)!(1,1) 1 x2 + y2 = lim t!1 1 t2 = 0 para qualquer valor de θ, o que prova o limite. E6) Escolhendo F(t) = (t cosh θ, t senh θ), temos lim (x,y)!(0,0) sen (x2 − y2) x2 − y2 = lim t!0 sen t2 t2 = lim t!0 cos t2 · 2t 2t = cos 0 = 1 para qualquer valor de θ, o que prova o limite. E7) lim (x,y)!(0,0) x = 0 e
  • 50.
  • 51.
  • 52.
  • 54.
  • 55.
  • 56.
  • 57. y 1, de modo que lim (x,y)!(0,0) xy x2 + y2 = 0. E8) lim (x,y)!(0,0) x = 0 e
  • 58.
  • 59.
  • 60.
  • 61.
  • 62. 1 px2 + y2
  • 63.
  • 64.
  • 65.
  • 66.
  • 67. 1, de modo que lim (x,y)!(0,0) x px2 + y2 = 0. E9) Escolhendo F(t) = (t, 0), ent˜ao lim (x,y)!(0,0) x + y x − y = lim t!0 t + 0 t − 0 = 1. Escolhendo F(t) = (0, t), ent˜ao lim (x,y)!(0,0) x + y x − y = lim t!0 0 + t 0 − t = −1. Portanto, o limite n˜ao existe.