O documento discute os desafios e potencialidades do HTML5, comparando-o com o Flash e aplicações nativas. O HTML5 trouxe novas funcionalidades como áudio, vídeo e geolocalização que permitem conteúdos mais ricos na web. Embora as aplicações nativas ainda sejam populares, o HTML5 pode gradualmente substituí-las à medida que os navegadores móveis o suportam melhor.
1. mobile HTML5
Os desafios e as potencialidades do HTML5
HTML5 “killed” the
Flash-Vídeo Star?
O HTML5 traz uma nova série de desafios e potencialidades ao velho HTML.
Actualmente a discussão centra-se na análise de saber até que ponto o HTML5 irá
ou não, gradualmente, substituir o modelo actual de download e instalação de
aplicações nativas.
Por: Justino Lourenço* Fotos: Ingimage
O
HTML5 foi considerado uma das WWW) em 1989. Em 1990 a sua equipa artificialmente os seus limites recorrendo
tecnologias mais promissoras em conseguiu com sucesso a primeira comuni- a plugins que permitem aos browsers a vi-
2010, depois do suporte integral cação “http” com um servidor via Internet. sualização de conteúdos de formatos espe-
do Google e duma série de “startups”, co- De referir que o primeiro servidor web foi cíficos e a execução de conteúdos lúdicos.
mo foi o exemplo da Clicker. A Microsoft criado num NeXTCUBE (criação de Ste- A estratégia dos plugins fez parecer que o
decidiu igualmente centrar o seu focus ve Jobs) e esteve pela primeira vez online HTML não apresentava limites, mas tinha
no HTML5 à custa duma forte integra- no CERN em 1991. O HTML, nas suas e tem as suas desvantagens. Os plugins
ção no seu navegador Internet Explorer e primeiras versões, apresentava uma sintaxe obrigam à utilização de mais recursos e o
Windows OS. A Apple também é uma das flexível com o intuito de atrair um número HTML5 veio quebrar esse constrangimen-
impulsionadoras, tendo igualmente ficado crescente de utilizadores. to. O HTML5 é, portanto, a quinta versão
célebre a frase na comunidade "write once, A nossa actual experiência de navegação da linguagem HTML. As suas novas po-
run anywhere". na Internet não seria a mesma coisa sem tencialidades vão alterar profundamente
O HTML (HyperText Markup Langua- o aparecimento duma série de protocolos a sua aplicação com uma nova semântica
ge) definitivamente marcou e modificou a de comunicação (tais como o TCP, UDP e acessibilidade, permitindo a integração
forma como hoje encaramos a Internet. É e IP) e o aparecimento do HTML. Este de novas funcionalidades e tecnologias até
necessário recuar uns anos para chegar até foi o primeiro esforço para a criação dum aqui inviáveis de serem suportadas pelas
à criação da primeira versão de HTML. formato inteligível pelos navegadores (bro- versões anteriores do HTML. A sua cres-
A ideia e concepção foram da autoria de wsers), permitindo embutir na visualização cente vulgarização nos mais variados tipos
Tim Berners-Lee, físico britânico, cien- texto, imagens e, posteriormente, conteú- de browsers permite uma visão e aplicação
tista na área da computação e professor do dos mais ricos como os de multimédia. mais universal.
MIT, responsável pela criação da World O HTML passou por várias versões, sem- O impacto do HTML5 é já bem notório:
Wide Web (simplesmente conhecida por pre com novas funcionalidades, e estendeu uma das tecnologias que começou a ser "ul-
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2. um pouco forçada pelo browser Mobile
Safari, que fez com que a direcção tenha
sido no sentido do HTML5, para não pri-
var os utilizadores do iPad, iPhone ou iPod
Touch de conteúdos. O papel da Apple foi
fundamental como catalisador da adopção
do HTML5. Segundo o director da área
tecnológica da Razorfish, Michael Scafi-
di, o crescimento de quota de mercado dos
dispositivos móveis da Apple, associado à
estratégia do Mobile Safari, foi o impul-
so necessário que o HTML5 necessitava.
Apenas sectores específicos, como o da pu-
blicidade, poderão resistir à migração para
o HTML5. Contudo o Swiffy (já descrito
neste artigo) poderá ajudar a ultrapassar
essa barreira.
O universo das aplicações nativas
Actualmente, o modelo existente no mer-
cado contempla a criação duma aplicação
nativa que, por sua vez, é distribuída numa
App Store e, posteriormente, instalada na
memória do dispositivo móvel. As aplica-
ções nativas têm sido o modelo utilizado pa-
ra adicionar novas funcionalidades e serviços
nos dispositivos móveis. Vários dados apon-
tam para que as vendas de aplicações móveis
atingirão o seu pico em 2013, prevendo-se
alguma desaceleração a partir dai.
As aplicações nativas têm permitido uma
melhor interacção e consequentemente
uma melhor experiência e performance
no dispositivo móvel, em parte porque a
trapassada" foi o Flash. Contudo, existia a chegamos a uma lista que nos ajuda a com- interacção dos utilizadores com os brow-
preocupação das aplicações que já estavam preender as suas "armas": potencialidade sers nos telemóveis nem sempre têm tido
desenvolvidas nesta tecnologia. O Google de esboços 2D e transformações 3D; leitu- a melhor experiência, em especial quando
resolveu o problema com o Swiffy, um novo ra de áudio e vídeo embebida; optimização é necessária a introdução de dados. Como
serviço que permite uma reconversão sem da entrada de dados em formulários; offli- estas aplicações são customizadas para um
a necessidade de escrever uma única linha ne caching, armazenamento local e acesso determinado sistema operativo e correm
de código. O Swiffy ainda não permite o client-side a uma BD SQL; user-defined em memória, são menos sujeitas à impre-
suporte da totalidade dos conteúdos Flash, data; e permite utilizar as API Geoloca- visibilidade do resultado quando visualiza-
estando ainda limitado ao SWF 8 e ao Ac- tion, Web Storage, Web Messaging, Web dos em múltiplas soluções de navegação.
tionScript 2.0. Sockets e Web Workers. Outra questão pertinente tem a ver com a
Os grupos de discussão e eventos têm-se Todas estas capacidades permitem ao rede. Apesar do esforço duma cobertura
igualmente multiplicado. No passado dia 7 de HTML5 subir uns patamares em termos consistente das redes 3.5G (e do roaming
Julho realizou-se o primeiro evento organiza- de capacidades. Vai competir e até mesmo em redes Wi-Fi), a verdade é que a perfor-
do pela comunidade em Portugal – HTML5 substituir as soluções Flash/AIR como mance destas continua a resultar em más
PT. O evento permitiu a troca de experiências uma plataforma adequada para o desenvol- experiências de browsing. Ao recorrer ao
e teve o seu focus em dois temas: aplicações vimento de conteúdos ricos para a Internet, conteúdo residente em memória, a solução
offline e novas APIs no HTML5. substituindo o modelo actual de suporte de da aplicação nativa apresenta performances
serviços e entretenimento via instalação de mais estáveis.
E o que o HTML5 aplicações. A título de exemplo, o website Por último, os programadores têm manti-
realmente tem de novo? do New York Times utiliza HTML5 para do uma estratégia de procurar desenvolver
Se procurarmos enumerar as principais incorporar conteúdos multimédia sem o em plataformas específicas: Android ou
particularidades que o HTML5 fornece, apoio do habitual Flash. A estratégia foi iOS, que permitem que as suas aplicações
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3. mobile HTML5
sejam distribuídas por um número elevado de suporte móvel. Passa, sim, a assumir-se
de utilizadores. como o melhor para a visualização de con-
Mas esta estratégia também tem os seus teúdos em dispositivos móveis. Ao abrir
inconvenientes. Uma aplicação nativa dis- a porta para a concepção de websites que
tribuída numa App Store pode ficar perdi- funcionam em tablets ou smartphones, o
da no meio de muitas outras, no meio de HTML5 permite fornecer conteúdos de
aplicações nativas sem qualquer utilidade forma eficiente à, cada vez maior e hete-
e interesse por parte dos utilizadores. O rogénea, nuvem de dispositivos móveis que
fenómeno de multiplicação do número de usamos no nosso dia-a-dia.
aplicações disponíveis criou algum caos na
maior parte das App Stores. Segundo o vi- Até que ponto o HTML5 pode
ce-presidente Matt Shea, da WildTangent, efectivamente destronar o
a dificuldade das lojas de aplicações em ca- crescimento de aplicações
tegorizar e organizar as aplicações tem si- nativas?
do uma barreira relevante na disseminação É uma questão que no curto-prazo será es-
destas. É frequente um utilizador, perdido clarecida, mas é evidente que há uma ten-
no meio duma oferta dispersa, não sentir dência para a deslocalização de parte do
qualquer tipo de impulso para descarregar processamento e armazenamento para uma
a aplicação nativa adequada. Refere ainda nuvem. É a solução que no curto-prazo irá
que é essa a razão do aparecimento destas permitir minimizar o esforço do hardware
lojas especializadas, de jogos por exemplo. local e levará ao aparecimento de disposi-
tivos móveis com autonomias no funciona-
HTML5 é um Killer-Application? mento impressionantes.
O HTML5 é um forte candidato para des-
tronar a solução de aplicações nativas em Conclusões
múltiplos cenários. A este propósito a Ado- O HTML5 é a solução que tem gerado
be já reagiu e apresentou a solução Edge. A mais consenso na comunidade, em parti-
empresa anunciou que o Edge é, e passo a cular depois do empurrão de Steve Jobs,
citar "uma ferramenta de design que permite que milita activamente contra a tecnolo-
aos web designers a criação de animações de gia Flash. Basta tomar em consideração o
forma similar às em Flash, para websites que facto da Apple voltar a exceder as expecta-
estejam suportados por HTML, JavaScript tivas, com o terceiro trimestre fiscal, con-
e CSS". A preocupação da Adobe foi clara- cluído a 25 de Junho, voltando as vendas
mente no sentido de não perder o mercado a surpreender com um aumento de 82%
que detinha com a tecnologia Flash, depois relativamente ao período homólogo, com
da chegada do HTLM5. o iPhone e iPad em destaque. Focando a
A preocupação pertinente é o desenvolvi- análise nos números, entre Março e Junho,
mento de um conteúdo que garanta uma a Apple vendeu 20,3 milhões de iPhones
visualização universal (incluindo nos mo- e 9,3 milhões de iPads. O facto do iPhone
bile browsers). usar o Safari e este ter suporte HTML5 é
O HTML5, definitivamente, tem do seu um forte ataque. A condicionar ainda mais
lado o facto de permitir a visualização cor- a balança, temos o facto dos actuais smar-
recta independentemente do navegador tphones terem suporte HTML5. Estes são alguns exemplos de sites e
utilizado. Assim, a questão já não pode ser É o fim definitivo das aplicações nativas e repositórios onde podemos visualizar sites
posta na forma: o HTML5 tem um gran- do conceito das App Stores? Não, apesar "desenhados" em HTML5.
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4. das potencialidades do HTML5 que, por de coberturas. Actualmente, uma viagem Mas algo é óbvio: se os dispositivos móveis
exemplo, permite invocar funções como a de pelo país mostra que estaremos registados suportam HTML5 este certamente come-
geolocalização. Explicando de outra forma, em GPRS, EDGE e em 3.5G. Este factor çará a massificar-se. E, como procurei ex-
uma aplicação nativa que realmente explore condiciona a opção de usar um browser em plorar ao longo deste artigo, penso que
ao máximo o hardware do terminal móvel detrimento duma aplicação que usa os re- continuará a haver espaço para aplicações
terá mais funcionalidades e potencialidades cursos de rede de forma descontínua. Por móveis e para o recurso ao HTML5, tudo
que uma desenvolvida em HTML5. último, e como já foi referido, a experiência dependendo do tipo de experiência e das
E a rede móvel está do lado de quem? Ape- dos utilizadores nos browsers móveis nem potencialidades que se pretendam fazer
sar das constantes evoluções que desde o sempre tem sido a melhor: velocidades de chegar ao utilizador final, tenha este um
1G nos aproximam agora do 4G, a verdade acesso flutuantes e dificuldade na interac- acesso móvel ou fixo. Mas que o "write on-
é que ainda existe uma heterogeneidade ção com o browser. ce, run anywhere" é tentador, lá isso é!
*Professor e investigador do Instituto Superior
Politécnico Gaya. Consultor na área das
Telecomunicações.
Contacto: jml@ispgaya.pt
www.zoomit.pt 49