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E S P O R T E S
CADERNO DE
ZERO HORASEGUNDA | 28| NOVEMBRO| 2005
Aí vem o
Grêmio
ARIVALDOCHAVES
DAVID COIMBRA
Mas o que foi isso? O que foi que aconteceu
sábado passado nesse estádio de nome tão
apropriado, o dos Aflitos, no Recife? Isso que o
Grêmio fez, isso não é normal. Não porque
venceu o Náutico por 1 a 0, conquistou o título da
Série B e retornou à primeira divisão. Não. Foi a
forma como isso aconteceu. O que o Grêmio fez
não foi apenas improvável. Foi impossível. A
façanha do Grêmio em Pernambuco é única,
nunca aconteceu antes, certamente jamais se
repetirá.
Foi uma seqüência de milagres. O primeiro, aos
31 minutos, quando o árbitro Djalma Beltrami
assinalou pênalti contra o Grêmio: o lateral Bruno
Carvalho bateu e acertou na trave. Até então,
tudo vinha dando certo: a três quilômetros de
distância, no Estádio do Arruda, o Santa Cruz
perdia para a Portuguesa por 1 a 0, resultado que
por si classificava o Grêmio.
A partir daí, as coisas começaram a desandar.
O Santa virou o jogo e passou a desperdiçar gols.
E, nos Aflitos, o Grêmio perdeu um de seus
melhores jogadores, Ricardinho, por lesão
muscular. O volante Lucas entrou em seu lugar,
no intervalo.
O Náutico pressionava, rondava a área do
Grêmio. Aos 30 minutos, Escalona colocou a mão
na bola, levou o segundo cartão amarelo e foi
expulso. Quatro minutos depois, a bola tocou no
cotovelo de Nunes, que estava com o braço junto
ao corpo. O árbitro assinalou pênalti. E os
jogadores do Grêmio foram tomados por fúria e
loucura. Cercaram o árbitro. Agrediram-no. E mais
três foram expulsos: Domingos, Nunes e Patrício.
O jogo ficou parado por 23 minutos. Quando
Ademar tomou distância para bater o pênalti, a
situação estava assim posta: o Grêmio com sete
em campo, o Náutico com um pênalti a favor e
pelo menos mais 11 minutos de partida. Só que
Galatto defendeu o pênalti. Ademar cobrou no
meio do gol e Galatto tirou com os pés, pela linha
de fundo. O empate servia ao Grêmio, mas ainda
havia mais 10 minutos de partida de 11
jogadores contra sete. Pela lógica, o Náutico
marcaria o gol. Mas não era um jogo lógico,
aquele.
Depois da cobrança do escanteio, a bola sobrou
para Anderson, que driblou Batata e foi
derrubado. O árbitro expulsou o zagueiro. Os
jogadores do Náutico pareciam perplexos e
Anderson se aproveitou dessa perplexidade.
Recebeu a bola, entrou na área, passou por dois
adversários e tocou para o gol: 1 a 0. O Grêmio
venceu. O Náutico teve dois pênaltis a seu favor,
o Grêmio teve quatro jogadores expulsos, e ainda
assim o Grêmio venceu. O Grêmio é campeão da
Série B. Campeão da segunda divisão. Campeão
da Segundona. Um título que o Grêmio não queria
ter acabou se transformando na sua conquista
mais espetacular, na vitória mais extraordinária,
incompreensível e inacreditável de seus 102 anos
de história.
➧ david.coimbra@zerohora.com.br

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O inacreditável título do Grêmio na Série B

  • 1. E S P O R T E S CADERNO DE ZERO HORASEGUNDA | 28| NOVEMBRO| 2005 Aí vem o Grêmio ARIVALDOCHAVES DAVID COIMBRA Mas o que foi isso? O que foi que aconteceu sábado passado nesse estádio de nome tão apropriado, o dos Aflitos, no Recife? Isso que o Grêmio fez, isso não é normal. Não porque venceu o Náutico por 1 a 0, conquistou o título da Série B e retornou à primeira divisão. Não. Foi a forma como isso aconteceu. O que o Grêmio fez não foi apenas improvável. Foi impossível. A façanha do Grêmio em Pernambuco é única, nunca aconteceu antes, certamente jamais se repetirá. Foi uma seqüência de milagres. O primeiro, aos 31 minutos, quando o árbitro Djalma Beltrami assinalou pênalti contra o Grêmio: o lateral Bruno Carvalho bateu e acertou na trave. Até então, tudo vinha dando certo: a três quilômetros de distância, no Estádio do Arruda, o Santa Cruz perdia para a Portuguesa por 1 a 0, resultado que por si classificava o Grêmio. A partir daí, as coisas começaram a desandar. O Santa virou o jogo e passou a desperdiçar gols. E, nos Aflitos, o Grêmio perdeu um de seus melhores jogadores, Ricardinho, por lesão muscular. O volante Lucas entrou em seu lugar, no intervalo. O Náutico pressionava, rondava a área do Grêmio. Aos 30 minutos, Escalona colocou a mão na bola, levou o segundo cartão amarelo e foi expulso. Quatro minutos depois, a bola tocou no cotovelo de Nunes, que estava com o braço junto ao corpo. O árbitro assinalou pênalti. E os jogadores do Grêmio foram tomados por fúria e loucura. Cercaram o árbitro. Agrediram-no. E mais três foram expulsos: Domingos, Nunes e Patrício. O jogo ficou parado por 23 minutos. Quando Ademar tomou distância para bater o pênalti, a situação estava assim posta: o Grêmio com sete em campo, o Náutico com um pênalti a favor e pelo menos mais 11 minutos de partida. Só que Galatto defendeu o pênalti. Ademar cobrou no meio do gol e Galatto tirou com os pés, pela linha de fundo. O empate servia ao Grêmio, mas ainda havia mais 10 minutos de partida de 11 jogadores contra sete. Pela lógica, o Náutico marcaria o gol. Mas não era um jogo lógico, aquele. Depois da cobrança do escanteio, a bola sobrou para Anderson, que driblou Batata e foi derrubado. O árbitro expulsou o zagueiro. Os jogadores do Náutico pareciam perplexos e Anderson se aproveitou dessa perplexidade. Recebeu a bola, entrou na área, passou por dois adversários e tocou para o gol: 1 a 0. O Grêmio venceu. O Náutico teve dois pênaltis a seu favor, o Grêmio teve quatro jogadores expulsos, e ainda assim o Grêmio venceu. O Grêmio é campeão da Série B. Campeão da segunda divisão. Campeão da Segundona. Um título que o Grêmio não queria ter acabou se transformando na sua conquista mais espetacular, na vitória mais extraordinária, incompreensível e inacreditável de seus 102 anos de história. ➧ david.coimbra@zerohora.com.br