SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 51
Descargar para leer sin conexión
ISSN 1981-5751




                                                                                        A Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. nº 07. agosto de 2008
A Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. nº 07. agosto de 2008




                                                                                     PORTAIS CORPORATIVOS E A GESTÃO DO CONHECIMENTO
                                                                                     A CULTURA ORIENTADA À APRENDIZAGEM
                                                                                     O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO CONHECIMENTO
SUMÁRIO

                                                      Editorial
                                                 Por Elisabeth Gomes.
                                                                         04
                                                   Artigo 01
                   Portais corporativos e a Gestão do Conhecimento.
                                                                         06
                                        Por Eduardo Oliveira Spínola.

                                                   Artigo 02
                A educação e a interação como “retardo” a extinção.
                                                                         16
                                          Por Paloma Maria Santos.

                                                   Artigo 03
                               A Cultura Orientada à Aprendizagem.
                                                                         24
                                                Por Saulo Figueiredo.

                                                   Artigo 04
                           O comércio internacional do conhecimento.
                                                                         30
                                       Por Marcelo Ribeiro Goraieb.

                                                   Artigo 05
                                      Avaliação de ativos intangíveis.
                                                                         36
                                             Por Márcio Lago Couto.

                                                   Artigo 06
                                        Biblioteca Multimídia da ENSP,
                                                                         41
                 2ª versão permite que usuários incluam documentos.
   Por Ana Paula Bernardo Mandonça, Ana Cristina da Matta Furniel,
                      Maria Elisa Andries dos Reis e Rosane Mendes.

                                      Resenha do livro
        Gestão de conteúdo como apoio à Gestão de Conhecimento.
                                                                         43
                                              Por Eduardo Lapa

                                                      Agenda
                                                Eventos Internacionais
                                                                         45
Direto das SBGCs e Núcleos Regionais                                     46
                                   Palavra da SBGC
                                                    Por Heitor Pereira
                                                                         48
Expediente
   EXPEDIENTE

           Uma publicação da:      Rivadávia Correa Drummond de
SBGC – Sociedade Brasileira de     Alvarenga Neto
      Gestão do Conhecimento       Roberto Pacheco
              www.sbgc.org.br      Rodrigo Baroni
                                   Serafim Firmo de Souza Ferraz
                                   Silvio Aparecido dos Santos




                                                                   03
    Integrantes Permanentes do     Sonisley Machado
   Conselho Científico da SBGC     Walter Félix Cardoso Jr.

                    Presidente:
      Maria Terezinha Angeloni     REVISTA GC BRASIL

                                   Editora-Chefe:
   Alberto Sulaiman Sade Júnior
                                   Elisabeth Gomes
          Aline França de Abreu
           Carlos Olavo Quandt     Produção Executiva:
                  Chu Shao Yong    Maria de Lourdes Martins
                 Eduardo Moresi
                                   Supervisor Editorial:
       Faimara do Rocio Strauhs
                                   Maurício Gomes
 Fernando Antônio Ribeiro Serra
      Hélio Gomes de Carvalho      Jornalista Responsável:
                 Gilson Schwartz   Cristiano Pio MG 09315 JP
          Guilherme Ary Plonski
                                   Revisão:
        Helena Pereira da Silva
                                   Isabella Braz
                    Helena Tonet
               João Amato Neto     Diagramação:
   Jorge Tadeu de Ramos Neves      Ana Mambrini
           José Ângelo Gregolin
                                   Edição de Imagens:
                  José Rodrigues   Maria de Lourdes Martins e
                 Kira Tarapanoff   Ana Mambrini
     Marília M.R. Damiani Costa
          Moacir de M. Oliveria
  Mônica Erichsen Nassif Borges
                 Raquel Balceiro
               Resilda Rodrigues   Tecle conosco:
           Ricardo Roberto Behr    gcbrasil@sbgc.org.br
Editorial
04




            EDITORIAL


            Prezados leitores,


            Já são 22hs de uma terça feira chuvosa, aqui na cidade do Rio de Janeiro onde resido. Mais
            precisamente no bairro da Urca, perto do Pão de Açúcar. Com uma vista privilegiada para
            o Bondinho e para a Praia Vermelha, com certeza não me deveria faltar inspiração para
            escrever o editorial deste número. Mas, pasmem... está faltando sim. Já reli os artigos, as
            notícias, a resenha, milhões de vezes e, são tão bons, que não sei por onde começar a dizer
            a vocês qual o primeiro a ser lido. Sendo assim vou começar aleatoriamente......


            Neste número temos um artigo sobre Portais Corporativos e a Gestão do Conhecimento
            de Eduardo Oliveira Spínola, onde o autor apresenta o que é um Portal Corporativo, seus
            tipos, como desenhar uma arquitetura de informação e como usar esta ferramenta poderosa
            de comunicação e estratégia para uma empresa. Em seguida temos um texto de Paloma
            Maria Santos, que aborda a educação e a interação como “retardo” a extinção, objetivando
            apresentar as ferramentas para tentarmos evitar, ou ao menos retardar a extinção da raça
            humana na face da Terra, que vem sendo constantemente alimentada e estimulada pelo
            bicho homem, através do seu inadequado comportamento para com o seu semelhante. Vale
            conferir a leitura e se perguntar, se realmente isto está acontecendo. É um artigo denso, e
            que merece toda a atenção.


            Prosseguindo na nossa revista, vamos encontrar o artigo de Saulo Figueiredo sobre Cultura
            Orientada a Aprendizagem. Sem comentários, porque gostaria de ouvir os comentários de
            vocês, após a leitura. Artigo fácil de ler e com muito conteúdo para compartilhar, usar e
            disseminar na sua empresa. Marcelo Ribeiro Goraieb, autor do próximo texto, fala sobre
            o Comércio Internacional do Conhecimento, onde ele apresenta seu estudo através de
            pesquisas bibliográficas e pelo método descritivo o comércio internacional do conhecimento,
            o fluxo de serviços entre os países e suas barreiras. Ele afirma que se verifica um crescimento
Editorial
significativo da presença de certos países em desenvolvimento na economia do conhecimento,
o que mostra uma tendência de mudança no fluxo tradicional em que os países desenvolvidos
são os principais atores. As barreiras estão cada vez menores e o comércio internacional em
pleno crescimento.




                                                                                              05
Nesta época de bolsas de valores caindo, dólar subindo e crise americana, o artigo de
Márcio Couto, do IBRE, cai como uma luva. Trata de avaliação de ativos intangíveis. Será
que sabemos mensurar ativos na Era do Conhecimento? Será que os tradicionais métodos
de avaliação ainda valem? Afirmo a vocês que após a leitura do artigo do Márcio Couto
estas respostas serão claras para vocês. E por último, mas não menos importante, temos uma
matéria sobre a Biblioteca Multimídia da ENSP, que em sua 2ª versão permite que usuários
incluam documentos.


Mas não acabou. Ainda temos a resenha do livro de Eduardo Lapa sobre Gestão de Conteúdo
como apoio a Gestão de Conhecimento. Não é novidade para ninguém que, hoje, mais do
que nunca, saber gerenciar conteúdo é fator estratégico para empresas, de qualquer porte
ou segmento, ganhar vantagem competitiva. Portanto vamos ler o livro! E, como de costume, a
revista traz a agenda de eventos sobre Gestão do Conhecimento, a seção Direto das SBGCs
e Núcleos Regionais, que é um espaço para que os Pólos e Núcleos da SBGC divulguem suas
realizações e, por fim, as Palavras do Presidente da SBGC – Heitor Pereira.


Heitor apresenta, ou melhor, explica as siglas que são usadas no dia a dia da gestão da
SBGC e sua importância para a Associação.


Bem, amigos, é isso. Até o próximo número e não deixem de contribuir com a GC BRASIL
enviando suas críticas, comentários, elogios e artigos para gcbrasil@sbgc.org.br.




                                                     Elisabeth Gomes
                                              Editora-Chefe da GC Brasil
                                            Coordenadora de Conteúdo e
                                                    Publicações da SBGC
PORTAIS
CORPORATIVOS
E A GESTÃO DO
CONHECIMENTO

Eduardo Oliveira Spínola
Pesquisador, colaborador das revistas SQL Magazine e
WebMobile
Editor dos sites Java e .Net do Portal DevMedia.
eduspinola@gmail.com
1. INTRODUÇÃO                                       encontradas em um só lugar. Assim como




                                                                                               Artigo 01
A partir do momento em que a tecnologia             a comunicação entre os funcionários,
passou a ser utilizada para o auxílio da            facilitada por ferramentas de bate-
comunicação e do armazenamento de dados,            papo, permitindo aos usuários a troca
muitas empresas passaram a sofrer com o             de conhecimento e, consequentemente,
excesso de informação. Para solucionar este         gerando e atualizando o conhecimento,
problema, notou-se a importância da aplicação       obtendo como resultado final de todo o
da Gestão de Conhecimento com o objetivo de         processo, um aumento na produtivida-
obter um maior controle sobre os conhecimentos      de da empresa.
gerados [Dias 2001].                                Atualmente, um dos grandes desafios




                                                                                               07
Para sobreviver com sucesso em um mercado           das pequenas e grandes organizações
cada vez mais exigente e globalizado, as            é transformar suas intranets em Portais
empresas passaram a buscar uma melhora              Corporativos, e é neste contexto que
crescente em sua competitividade, e um ponto        este trabalho se encaixa, apresentando
muito importante para isso, é saber utilizar o      o que são os Portais Corporativos,
conhecimento organizacional existente dentro        listando alguns dos seus requisitos,
dela. Infelizmente, para que uma empresa            e pontos positivos, analisando este
possa utilizar o seu conhecimento de forma          aplicativo como um novo instrumento
organizada e positiva, é preciso que se faça        de gestão de conhecimento. Feito isto,
um grande investimento em Tecnologia de             será discutido sobre a aplicação dos
Informação, mais precisamente, na Gestão do         Portais Corporativos à Gestão do
Conhecimento [Leme & Carvalho 2004].                Conhecimento.

Diversos são os tipos de aplicações existentes      2. PORTAIS CORPORATIVOS
nas empresas e, consequentemente, diversos          Há alguns anos, o que hoje conhecemos
são os formatos de arquivo gerados por estas        como portais, eram apenas máquinas
aplicações. Como não há um mecanismo que            de busca. Os sites apresentavam uma
possibilite a padronização e organização destas     interface simples (por exemplo, a versão
informações, é muito difícil para os funcionários   simples do Google) que permitisse
reunir todas as informações necessárias para        aos usuários apenas digitar a string
que sejam tomadas boas decisões.                    de busca sobre a informação que ele
Como não existe um ponto único de acesso às         gostaria de encontrar. Esse mecanismo
informações, e que permita aos funcionários         de busca permite aos usuários localizar
trabalhar de forma cooperativa, é bastante          as informações espalhadas pela
comum existir informações duplicadas na             internet. Porém, devido às regras de
empresa. Também é comum a revelação de              gramática e a características de cada
ilhas de conhecimento, supondo que não exista       linguagem, nem sempre o resultado
uma comunicação eficiente entre os diversos         obtido na busca é o que o usuário
setores da empresa. Não é de se admirar             realmente deseja [Terra & Bax 2005].
que o conhecimento gerado fique atrelado            A partir deste momento, para facilitar
apenas àquele pequeno grupo da organização          ainda mais o acesso às informações,
[Parreiras e Bax 2005].                             e apresentá-las como resultado
Pensando nestas características e em muitas         mais próximo das informações que
outras que serão apresentadas no decorrer           o usuário realmente precisa, foram
deste artigo, foi observada a importância de um     criadas as categorias. Explicando de
aplicativo capaz de centralizar as informações      forma simples, categoria nada mais
de uma empresa e que permita a comunicação          é do que o agrupamento de diversas
e cooperação entre funcionários. Com este           informações sobre uma área especí-
aplicativo, conhecido como Portal Corporativo,      fica, por exemplo: acessando o Portal
o acesso à informação será facilitado, já que       do Yahoo!, e do Terra, você encontrará
todas as informações necessárias podem ser          categorias como: Tecnologia, Esportes,
Empregos. Além da inserção de             usuários de negócios, uma única interface web
Artigo 01



            categorias, que também permite que        às informações corporativas espalhadas pela
            os usuários menos experientes acessem     empresa”.
            informações de forma mais rápida e        Para [Eckerson 1999], “Portal de negócios
            fácil, os portais passaram a permitir     é um aplicativo capaz de proporcionar aos
            a personalização da sua área para
                                                      usuários um único ponto de acesso a qualquer
            cada usuário, e foram adicionados
                                                      informação necessária aos negócios, esteja ela
            mecanismos que possibilitassem a
                                                      dentro ou fora da corporação”. Como exemplo,
            comunicação entre as pessoas, por
                                                      ele cita um Shopping Center como preferência
            exemplo: chats, e o correio eletrônico
                                                      das pessoas, pois, estas sabem que podem
            [Terra & Bax 2005].
08




                                                      encontrar tudo que precisam em um só lugar.
            Observando a evolução dos Portais
                                                      Observando as definições acima, é possível
            Web, a comunidade corporativa,
                                                      notar a importância de se conseguir centralizar
            sabendo da dificuldade de concentra-
                                                      as informações em um ponto único de acesso
            ção e dispersão de informação por
                                                      para que a busca e a inserção de novas
            toda a empresa pensou: Por que não
                                                      informações seja facilitado. Porém, conforme
            utilizar os portais web como mecanismo
                                                      abordado na introdução, outra característica
            para organizar e facilitar o acesso às
                                                      é muito importante para um bom Portal
            informações e também aprimorar a
                                                      Corporativo: a possibilidade de comunicação
            comunicação entre as pessoas e setores
                                                      entre os usuários, e é pensando nisso que [Murray
            dentro da empresa? [Dias 2001] A
                                                      1999] faz a sua definição, concluindo que “Os
            partir deste momento, teve início à
            idéia do Portal Corporativo.              portais corporativos devem nos conectar não
                                                      apenas a tudo de que necessitamos, mas a
            Por ser um conceito recente, vários são   todos que necessitamos, e proporcionar todas
            os termos que podem ser encontrados       as ferramentas que precisamos para que
            na literatura sobre os Portais            possamos trabalhar juntos”.
            Corporativos, entre eles pode-se citar:
            Portal de Informações Empresariais        [Murray 1999] ainda divide o EIP em quatro
            (EIP), Portal de Negócios, Portal de      classificações:
            Informações Corporativas, Portal do       • Portais de Informações – provêem acesso à
            Conhecimento, Portal de Negócios,         informação;
            Portal Colaborativo.
                                                      • Portais Cooperativos – fornecem ferramentas
            2.1. O qUE é UM PORTAl                    de processamento cooperativo;
            CORPORATIVO
                                                      • Portais de Especialistas – conectam pessoas,
            Além de muitos nomes, também é possí-     com base em suas experiências e interesses;
            vel encontrar várias definições sobre
                                                      • Portais do Conhecimento – combinam todas as
            esta tecnologia. Serão apresentadas
                                                      características anteriores.
            agora algumas destas definições.
                                                      A partir das definições, podemos afirmar que,
            Segundo [Shilakes & Tylman 1998],
                                                      o Portal Corporativo é uma ferramenta capaz
            “Portais de informações empresariais
                                                      de aliar o conhecimento explícito contido em
            são aplicativos que permitem às
                                                      arquivos, bases de dados, correspondências,
            empresas      libertar   informações
                                                      páginas web, e aplicativos empresariais
            armazenadas interna e externamente,
                                                      (dados estruturados e não estruturados) ao
            provendo aos usuários uma única via
                                                      conhecimento tácito dos participantes do portal,
            de acesso à informação personalizada
                                                      facilitando a troca de informações e a tomada
            necessária para a tomada de decisões
                                                      de decisões na empresa. Um ponto positivo e
            de negócios”.
                                                      que serve como incentivo para utilização do EIP
            De acordo com [White 1999], “O            nas empresas é o resultado de alguns estudos
            EIP é uma ferramenta que provê, aos       realizados. Estes resultados afirmam que uma
empresa pode economizar até uma hora de           deve permitir o acesso dinâmico




                                                                                             Artigo 01
trabalho por dia para cada funcionário [Terra     às informações nele armazenadas,
& Bax 2005].                                      fazendo com que os usuários sempre
2.2. REqUISITOS DE UM PORTAl                      recebam informações atualizadas.
CORPORATIVO                                       • Roteamento inteligente: O portal
Como toda solução de TI exige custo para seu      deve ser capaz de direcionar
estudo, implementação e implantação, será         automaticamente      relatórios     e
apresentado agora alguns requisitos listados      documentos a usuários selecionados.
por Eckerson. Seguindo estes requisitos, será     • Ferramenta de inteligência de
possível desenvolver um eficiente Portal          negócios integrada: Para atender




                                                                                             09
Corporativo.                                      às necessidades de informações dos
                                                  usuários, o portal deve integrar os
De acordo com Eckerson, os Portais Corporativos
                                                  aspectos de pesquisa, relatório e
têm que apresentar as seguintes características
                                                  análise dos sistemas de inteligência de
[Eckerson 2000]:
                                                  negócios.
• Fácil para usuários eventuais: Os usuários
                                                  • Arquitetura baseada em servidor:
devem conseguir localizar e acessar facilmente
                                                  Para suportar um grande número
a informação correta, com o mínimo de
                                                  de usuários e grandes volumes de
treinamento, não importando o local de
                                                  informações, serviços e sessões
armazenamento dessa informação. Encontrar
                                                  concorrentes, o portal deve basear-se
informações de negócios no portal deve ser tão
                                                  em uma arquitetura cliente-servidor.
simples quanto usar um navegador web.
                                                  • Serviços distribuídos: Para um
• Classificação e pesquisa intuitiva: O portal
                                                  melhor balanceamento da carga de
deve ser capaz de indexar e organizar as
                                                  processamento, o portal deve distribuir
informações da empresa. Sua máquina de busca
                                                  os serviços por vários computadores ou
deve refinar e filtrar as informações, suportar
                                                  servidores.
palavras-chave e operadores booleanos,
e apresentar o resultado da pesquisa em           • Definição flexível das permissões de
categorias de fácil compreensão.                  acesso: O administrador do portal
                                                  deve ser capaz de definir permissões
• Compartilhamento cooperativo: O portal
                                                  de acesso para usuários e grupos
deve permitir ao usuário publicar, compartilhar
                                                  da empresa, por meio dos perfis de
e receber informações de outros usuários.
                                                  usuário.
O portal deve prover um meio de interação
entre pessoas e grupos na organização. Na         • Interfaces externas: O portal deve
publicação, o usuário deve poder especificar      ser capaz de se comunicar com outros
quais usuários e grupos terão acesso a seus       aplicativos e sistemas.
documentos/objetos.                               • Interfaces programáveis: O portal
• Conectividade universal aos recursos            deve ser capaz de ser “chamado” por
informacionais: O portal deve prover amplo        outros aplicativos, tornando pública
acesso a todo e qualquer recurso informacional,   sua interface programável (API –
suportando conexão com sistemas heterogêneos,     Aplication-Programming Interface).
tais como correio eletrônico, banco de dados,     • Segurança para salvaguardar as
sistemas de gestão de documentos, servidores      informações corporativas e prevenir
web, groupwares, sistemas de áudio, vídeo,        acessos não autorizados: O portal
etc. Para isso, deve ser capaz de gerenciar       deve suportar serviços de segurança,
vários formatos de dados estruturados e não       como      criptografia,   autenticação,
estruturados.                                     firewalls, etc. Deve também possibilitar
• Acesso dinâmico aos recursos informacionais:    auditoria dos acessos a informações,
Por meio de sistemas inteligentes, o portal       das alterações de configuração, etc.
prover um meio de gerenciar todas as                           desempenho de alguma tarefa;
Artigo 01



            informações corporativas e monitorar                           • Possibilidade de troca de informações com
            o funcionamento do portal de forma
                                                                           clientes, fornecedores, revendedores, etc.,
            centralizada e dinâmica. Deve ser
                                                                           fornecendo uma infra-estrutura informacional
            de fácil instalação, configuração e
                                                                           adequada também para o comércio
            manutenção, e aproveitar, na medida
                                                                           eletrônico.
            do possível, a base instalada de
            hardware e software adquirida /                                2.3. ARqUITETURA BÁSICA DE UM
            contratada anteriormente pela orga-                            PORTAl CORPORATIVO
            nização.                                                       Apesar das diversas classificações e formas
10




            • Customização e personalização:                               de implementação dos Portais Corporativos,
            O administrador do portal deve ser                             de forma geral, todos seguem a estrutura
            capaz de customizá-lo de acordo                                apresentada na figura 1.
            com as políticas e expectativas da
                                                                           Como pode ser visto, e como citado
            organização, assim como os próprios
                                                                           anteriormente, esta arquitetura é baseada no
            usuários devem ser capazes de
                                                                           modelo Cliente (Navegador web) – Servidor
            personalizar sua interface para facili-
                                                                           (Servidor Web). Observando o lado servidor,
            tar e agilizar o acesso às informações
                                                                           pode-se observar o Diretório de informações
            consideradas relevantes.
                                                                           de negócios, local onde estão definidos os perfis
            Além destes requisitos ainda pode-se                           dos usuários, e que possibilita personalizar
            citar [Dias 2001]:                                             a área de trabalho de cada usuário. Pode-
            • Habilidade de gerenciar o ciclo de                           se notar também a existência da máquina
            vida das informações estabelecendo                             de busca, responsável por facilitar o acesso
            níveis hierárquicos de armazenamento                           às informações. Outro ponto interessante é a
            e descartando as informações                                   ferramenta de assinatura.
            ou documentos quando não mais                                  Além dessas características citadas, existem
            necessários;                                                   três que valem à pena dar uma atenção
            • Habilidade de localizar especialistas                        maior: ferramenta de publicação, analisador
            na organização de acordo com o                                 de metadados, e interface export/import de
            grau de conhecimento exigido para o                            dados.




               Figura 1. Arquitetura básica do Portal Corporativo [Dias 2001]
As ferramentas de publicação




                                                                                                                 Artigo 01
ajudam os colaboradores do
portal a adicionar informações
de forma estruturada. Note que
existe uma relação entre estas
ferramentas e o processamento de
decisões. Este nada mais é do que
programas (por exemplo: data
warehouse, inteligência de negócios,
mineração de dados) que através
das informações armazenadas em         Figura 2. Representação de um Portal Corporativo (www.microsoft.com)




                                                                                                                 11
bancos de dados, auxiliam a tomada
de decisões na empresa.
O analisador de metadados por sua vez,                       da criação de workflows e atividades
possibilita que os dados não estruturados                    na empresa. Finalmente o calendário,
(por exemplo: e-mails, documentos, arquivos                  facilitando o gerenciamento das
de áudio e vídeo) possam ter uma estrutura                   atividades.
que defina esses dados e permita que estes                   3. APlICAÇÃO DOS PORTAIS
possam ser encontrados. Neste caso, a relação                CORPORATIVOS À GESTÃO DO
acontece com as ferramentas de processamento                 CONHECIMENTO
colaborativo, como automação de escritório
e groupware. Segundo [Tucker 1999], 10%                      Para avaliar a aplicação dos
das informações existentes nas empresas se                   portais corporativos à Gestão
encontram de forma estruturada, enquanto 90%                 do      Conhecimento,      inicialmente
são não estruturadas. Porém, apesar deste alto               será apresentado o conceito de
índice, as informações não estruturadas ainda                conhecimento organizacional, além de
são desprezadas por muitas instituições.                     fazer a classificação do conhecimento.
                                                             Ainda neste ponto, serão esclarecidas
Por último, as interfaces de exportação e                    as diferenças entre dados, informação,
importação de dados, que interage diretamente                conhecimento e ação (tomada de
com a intranet e os sistemas externos da empre-              decisão). No próximo ponto, o enfoque
sa, tornando possível a troca de informações com             será a conversão do conhecimento
o meio externo, e com os diversos programas                  nas organizações. E, por fim, serão
existentes na empresa.                                       apresentadas        as     dificuldades
Considerando todas as relações entre os                      encontradas nas instituições para
mecanismos internos do servidor e suas                       empregar a GC.
possibilidades de extensão, fica bastante clara              3.1. O CONHECIMENTO
a estrutura básica do EIP.                                   ORGANIZACIONAl
A figura 2 demonstra a representação de um                   Para que se possa compreender ainda
Portal Corporativo. Sendo este, identificado                 mais a definição do conhecimento
pelo círculo central. À sua volta, temos imagens
que representam as características deste portal.
Os membros, que se apresentam com desenhos
diferentes representando a possibilidade
de personalização. Debates, que permite a
comunicação entre os membros. Inquéritos,
relacionados com processamento de decisões.
Contatos, possibilitando encontrar as pessoas
certas para cada necessidade. Documentos,
apresentando a possibilidade de o portal aceitar
vários tipos de arquivo. Tarefas, possibilidade              Figura 5. Escala de valor [Santos e Cerante 2000]
organizacional e tentar amenizar                              informação contextual e insight experimen-
Artigo 01



            a dificuldade de diferenciação e                              tado, a qual proporciona uma estrutura para a
            identificação destes conceitos nas                            avaliação e incorporação de novas experiências
            corporações, é importante saber a                             e informações. Ele tem origem e é aplicado na
            diferença entre dados, informação,                            mente dos colaboradores. Nas organizações, ele
            conhecimento e ação. Observe a escala                         costuma estar embutido não só em documentos e
            de valor ascendente da figura 5.                              repositórios, mas também em rotinas, processos,
12




            Figura 6. Conversão do conhecimento [Santos e Cerante 2000]

            Segundo [Davenport e Prusak 1998],                            práticas e normas organizacionais”.
            “dados são um conjunto de fatos                               Com a definição de conhecimento organizacio-
            distintos e objetivos, relativos a                            nal, é preciso agora classificá-lo para
            eventos que constituem a base para                            assim poder gerenciá-lo. Segundo Polanyi,
            a informação”. Os dados podem                                 o conhecimento assume duas categorias:
            ser obtidos através de registros,                             tácito e explícito. De acordo com [Nonaka
            não possuindo nenhum significado se                           e Takeuchi 1998], “o conhecimento tácito
            analisados separadamente e não                                é pessoal, específico ao contexto e assim
            permitindo a tomada de decisões.                              difícil de ser formulado e comunicado. Já o
            De acordo com [Davenport e Prusak                             conhecimento explícito ou codificado refere-se
            1998], informações são “dados dotados                         ao conhecimento transmissível em linguagem
            de relevância e propósito”. Isso permite                      formal e sistemática”.
            que os fatos possam ser julgados,                             Observando a definição sobre Conhecimento
            e assim o receptor das informações                            Organizacional, será apresentada agora uma
            possa alterar o seu comportamento a                           definição da gestão do conhecimento. [Meta
            depender das informações analisadas                           Data Coalition 1999] cita que: “Gestão do
            [Santos e Cerante 2000].                                      Conhecimento é uma disciplina que promove
            O conhecimento, “está presente no                             uma abordagem integrada para identificar,
            indivíduo, nos grupos ou nas rotinas                          gerenciar e compartilhar todos os recursos de
            organizacionais sendo desenvolvido                            informação de uma empresa, incluindo bancos
            através da experiência e possibilitando                       de dados, documentos, políticas e procedimentos
            assim, uma definição de um histórico que                      assim como especialidades não articuladas
            permite o reconhecimento de padrões                           e experiências residentes na mente de cada
            para uma tomada de ação mais                                  indivíduo dentro da organização” [Meta Data
            rápida” [Santos e Cerante 2000].                              Coalition 1999].
            Concluindo, a ação, que pode ser                              3.2. CONVERSÃO DO CONHECIMENTO
            considerada como “algo que se faz
                                                                          Definido conhecimento organizacional, e
            com o conhecimento” [Davenport e
                                                                          gestão do conhecimento, será analisado agora
            Prusak 1998].
                                                                          o processo de conversão do conhecimento.
            [Davenport e Prusak 1998] afirmam                             Este processo possui grande importância na
            que o conhecimento pode ser definido                          Teoria da Criação do Conhecimento. Através
            como: “... uma mistura fluida de                              da conversão, por exemplo: “o conhecimento
            experiência condensada, valores,                              tácito pode ser captado e sintetizado, a
fim de que novos conhecimentos possam ser            Partindo do pressuposto que todas as




                                                                                                 Artigo 01
gerados e explorados, enriquecendo a base de         empresas enfrentam esses problemas,
conhecimentos” [Santos e Cerante 2000].              é notável que a aplicação dos Portais
A conversão acontece pela interação entre o          Corporativos passe a ser uma excelen-
conhecimento tácito e o explícito, e como pode       te opção para sanar seus problemas,
ser visto na figura 6, isto pode ser feito de        e permitir que a empresa esteja
quatro formas. De tácito para tácito, a conversão    sempre mantendo seus funcionários
assume a característica de Socialização              bem informados e gerando novos
(Conteúdo Compartilhado). Quando a conversão         conhecimentos para a organização.
é feita de tácito para explícito, recebe o nome      4. CONClUSÃO




                                                                                                 13
de Externalização (Conteúdo Conceitual). De          Este trabalho teve como objetivo
explícito para explícito, ocorre a Combinação, e     o estudo dos Portais Corporativos,
o conteúdo gerado neste momento é o sistêmico.       relacionando com a Gestão do
Finalmente, quando a conversão ocorre do             Conhecimento.
conhecimento explícito para o tácito, dá-se o
nome de Internalização (Conteúdo Operacional)        Utilizando esta tecnologia, é possível
[Santos e Cerante 2000].                             centralizar todo o conhecimento
                                                     (explícito) existente na empresa em
3.3. DIFICUlDADES NA UTIlIZAÇÃO DA                   um ponto único de acesso. Com esta
GESTÃO DO CONHECIMENTO                               característica, o acesso às informações
Muitos são os fatores que dificultam a Gestão        torna-se mais fácil, o que permite
de Conhecimento nas empresas, por exemplo: a         também a tomada de decisões.
presença de sistemas não integrados e formatos       Além disso, é oferecido ao usuário
de arquivos proprietários e incompatíveis. É         mecanismos de conversação que
muito difícil encontrar uma empresa que possua       permitem a troca de conhecimento
apenas um software, e isso faz com que seja          (tácito) entre eles.
necessário desenvolver um ou mais programas          Com a possibilidade de socialização,
que permitam a utilização destes diferentes tipos    externalização,     internalização   e
de arquivo para facilitar a busca de informação      combinação do conhecimento, além
e o processo de tomada de decisão.                   de todas as características citadas no
Abaixo estão listadas algumas dificuldades:          decorrer no artigo, ficam evidenciadas
• Arquiteturas diferentes e caras que dificultam a   a capacidade dos Portais Corporativos
integração de diferentes tipos de informação;        em ser uma ferramenta que possibilita
                                                     a Gestão de Conhecimento dentro das
• A dificuldade de acesso ágil à informação; e,      organizações.
ao mesmo tempo, sobrecarga de informação;
• Redundância e duplicação de informações;
                                                     5. BIBlIOGRAFIA
• Informações e documentos publicados de
modo desorganizado, sem controle de fluxo de         DAVENPORT, T. H. ; PRUSAK, L.
aprovação;                                           Conhecimento Empresarial: Como as
                                                     organizações gerenciam o seu capital
• Diversidade de caminhos, métodos e técnicas        intelectual. Rio de Janeiro: Campus,
diferentes para buscar e acessar informações;        1998.
• Dificuldade para as pessoas publicarem             DIAS, Cláudio A. Portal Corporativo:
informações acessíveis à empresa como um             conceitos e características. Brasília:
todo;                                                2001, v. 30, n. 1, p. 50-60.
• Dificuldade de definição ou ausência de
                                                     ECKERSON, Wayne. Business Portals:
políticas de segurança;
                                                     Drivers, Definitions, and Rules. The Data
• Usuários dependentes do departamento de TI         Warehousing Institute, Gaithersburg,
para gerar, divulgar e obter informação.             MD, 1999.
ECKERSON, Wayne. 15 rules for            Conhecimento no Processo de Desenvolvimento
Artigo 01



            enterprise portals. Oracle Magazine,     de Software. Minas Gerais: Belo Horizonte,
            2000 v. 13, n. 4, p. 13-14.              2005.
            LEME, Murilo O. ; CARVALHO Hélio         SANTOS, Elisa G. ; CERANTE Lívia L. Gestão
            G. Requisitos mínimos para um portal     do conhecimento: um estudo para facilitar sua
            corporativo de gestão do conhecimento.   implantação nas empresas. Rio de Janeiro:
            Paraná: Ponta Grossa, 2004.              2000.
            META DATA COALITION. Open                SHILAKES, Cristopher C. & Tylman, Julie.
            Information     Model     -Knowledge     “Enterprise information portals”. New York:
            Management           Model-Knowledge     Merril Lynch, 1998.
14




            Descriptions”. 1999.                     TERRA, José C. C. ; BAX, Marcelo P. Portais
            MURRAY, Gerry. The portal is the         corporativos: instrumento de gestão de
            desktop. Instraspect, 1999.              informação e de conhecimento. Minas Gerais:
            NONAKA, I. ; TAKEUCHI, H. Criação        Belo Horizonte, 2005.
            de Conhecimento na Empresa: Como as      TUCKER, M. Dark Matter of Decision Making.
            empresas japonesas geram a dinâmica      Intelligent Enterprise: 1999), v.2, n. 13, p. 20-26.
            da inovação. Rio de Janeiro; Campus,     WHITE, Colin. The enterprise information portal
            1998.                                    marketplace. Decision processing brief, DP-
            PARREIRAS, Fernando S. ; BAX, Marcelo    99-02. Morgan Hill, CA: Database Associates
            P. KMUp: Um Portal para Gestão do        International, 1999.
A EDUCAÇÃO E A
  INTERAÇÃO COMO
“RETARDO” A ExTINÇÃO




Paloma Maria Santos
Programa de Pós-Graduação de Engenharia
e Gestão do Conhecimento, UFSC
paloma@iscc.com.br
1. Introdução                                        viveram e terminaram por inviabilizar




                                                                                                         Artigo 02
O objetivo deste documento é apresentar as           sua própria existência. Punir essas
ferramentas para tentarmos evitar, ou ao me-         espécies com a sua própria extinção
nos retardar a extinção da raça humana na            faz parte do processo de seleção
face da Terra, que vem sendo constantemente          natural.
alimentada e estimulada pelo bicho homem,            Foi a seleção natural que “criou” o
através do seu inadequado comportamento              homem. Esse animal, com todo o seu
para com o seu semelhante.                           egocentrismo e arrogância, acredita
                                                     que pode controlar esse processo de
2. Histórico das espécies
                                                     seleção, ditando as regras para a
De acordo com o biólogo Fernando de Castro
                                                     humanidade e para o meio ambiente.




                                                                                                         17
Reinach (2006), 99,99% de todas as espécies
                                                     Para quem não acredita que nosso
de plantas e animais que já habitaram nosso
                                                     destino depende de um determinismo
planeta estão extintas. De cada 10 mil espécies
                                                     divino, interferir no processo de nossa
que viveram na Terra, somente uma ainda está
                                                     própria seleção natural talvez seja
entre nós. Segundo ele, a biodiversidade entre
                                                     a atividade humana que mais se
as espécies extintas é milhares de vezes maior
                                                     assemelha ao que classificamos como
que a biodiversidade atual. Em linhas gerais,
                                                     “brincar de Deus” (REINACH, 2006).
significa dizer que inevitavelmente todas as
espécies irão se extinguir e que, apesar de
assustador, aceitar esse fato permite uma
melhor compreensão do nosso lugar na história
da humanidade.
Para o ecologista Les Knight, entrevistado por
Vladimir Cunha, a extinção humana pode ser
vista como a melhor saída para a humanidade.
A partir do momento que pararmos de procriar,
as brigas por territórios e recursos naturais irão
cessar. Poderemos, inclusive, experimentar um
período de saúde, felicidade e abundância de
recursos a partir do momento em que formos
desaparecendo da face da Terra. Ele diz               FIGURA 1: Árvore do conhecimento do bem e do mal
que essa é a sociedade utópica com a qual             FONTE: http://todahelohim.blogspot.com/2007/10/
                                                         rvore-do-conhecimento-do-bem-e-do-mal.html
temos sonhado desde que o homem passou a
dominar este planeta. Diz ainda que quando           E o SENHOR Deus ordenou ao homem:
nós desaparecermos, as plantas e os animais          “Coma livremente de qualquer árvore
se encarregarão de restaurar o equilíbrio do         do jardim, mas não coma da árvore do
ecossistema. Nossas cidades irão sumir aos           conhecimento do bem e do mal, porque
poucos até se tornarem apenas traços de uma          no dia em que dela comer, certamente
civilização que um dia habitou este planeta.         você morrerá” (ELOHIM, 2007, citan-
Apesar do fato de o fim da humanidade parecer        do a Bíblia Sagrada em Gn 2.16-17
ser um tanto quanto radical demais, talvez seja      NVI).
esta a condição necessária para freiarmos as
atrocidades que o bicho homem vem cometendo,         3. Enfermidades do ser humano
tanto com relação a “destruição” do seu              Infelizmente as condições atuais de
semelhante, quanto com relação à destruição          nossas sociedades estão atentando
da natureza e de seus recursos naturais.             contra a plena realização do
A nossa extinção pode ser apresentada como           altruísmo. A força de coesão para
uma forma de punição por estarmos agindo com         com os outros seres humanos nunca foi
tamanha desumanidade nos dias de hoje. Isso já       tão inadequadamente empregada,
aconteceu com outras espécies anteriores a nós,      eliminando qualquer possibilidade de
que causaram estragos no ambiente em que             vida social que possa existir.
Não existe mais educação, paciência,      do outro só será perceptível quando a raça
Artigo 02



            respeito e sequer interesse em ouvir      humana já estiver se extinguido. Nossas atitu-
            o próximo. Achamos que somos donos        des de hoje, se forem persistentes e inertes a
            da verdade, senhores da razão, e          qualquer mudança, nos levarão a extinção. Esse
            não estamos dispostos a “baixar a         histórico que teremos criado através da nossa
            guarda” e ver que o ser humano só é       passagem pela Terra servirá como base de
            capaz de crescer através da interação     conhecimento para as novas espécies.
            com os outros seres humanos e que isso    Os novos “seres” terão a possibilidade de
            pode ser muito positivo, interessante e   começar tudo de novo, não cometendo os
            gratificante.                             mesmos erros que hoje estamos cometendo,
            Estamos certos de que a nossa opinião,    tomando por base o que aconteceria se eles
18




            de que o nosso posicionamento e a         seguissem nossos passos.
            nossa maneira de agir com relação ao      Essa nova espécie de “ser vivo” terá a chance
            que acontece diariamente em nossas        de criar suas próprias formas de conhecimento
            vidas, são inquestionáveis. Acreditamos   e convivência. “Pessoas” sendo criadas com
            que as nossas verdades são as únicas      base no amor, no respeito, na confiança mútua.
            absolutas, reais e aceitáveis e diante    Uma nova “sociedade” surgindo e batalhando,
            disso negamos nosso semelhante.           desde o início, pelo bem comum.
            José Moran cita Darcy Ribeiro, quando     Em “A árvore do conhecimento”, Maturana
            ele diz que sempre há o que aprender,     (1995) fala dos acoplamentos de terceira
            ouvindo, vivendo e sobretudo, traba-      ordem e diz que foi o surgimento de organismos
            lhando, mas só aprende quem se dispõe     com sistema nervoso e sua participação em
            a rever as suas certezas. Rogers (1983)   interações recorrentes que ocasionou tais
            salienta que se as pessoas são aceitas    acoplamentos. Diz que as unidades resultantes
            e consideradas, tendem a desenvolver      geram uma fenomenologia interna particular,
            uma atitude de mais consideração em       em que os organismos participantes satisfazem
            relação a si mesmas.                      suas ontogenias individuais, fundamentalmente,
            Verdades absolutas criam barreiras a      segundo seus acoplamentos mútuos na rede de
                                                      interações recíprocos que formam ao constituir
            compreensão social mútua e a negação
                                                      as unidades de terceira ordem.
            do outro nos desvia desse caminho de
            entendimento mútuo.
            Se fôssemos traçar uma linha do tempo
            com a representação das conseqüências
            de nossas atitudes de hoje refletidas
            nos dias de amanhã, chegaríamos a
            conclusão de que o próprio homem seria
            o responsável pela extinção da raça
            humana. Como não existe cooperação
            com o próximo, não há realização de
            fenômeno social. Se não há fenômeno
            social, não há socialização. Se não há
            socialização, não há interação. Se não
            há interação, não há comunicação e
            entendimento. Se não há entendimento,
            não há relacionamento. Não havendo
            relacionamento, não há reprodução. Se                   FIGURA 2: A árvore do conhecimento
                                                      FONTE: http://www.humanecologyforum.org/blogs/wp-content/up-
            não há reprodução, não há continuação        loads/2007/09/fundamental-laws-of-human-ecology.jpg
            da linhagem. Não havendo continuação
            da linhagem, teremos, então, o fim da     Esse acoplamento estrutural se dá quando duas
            raça humana.                              ou mais unidades autopoiéticas podem ter suas
            O conhecimento existente na negação       ontogenias acopladas no momento em que suas
interações adquirem um caráter recorrente ou       gera. Foi isso que, em 1968, Maturana




                                                                                               Artigo 02
muito estável.                                     chamou de autopoiese.
Para exemplificar, Maturana cita o caso do         Podemos dizer que nossos órgãos
acoplamento social dos antílopes. Ele explica      internos “se respeitam” e que se
que o rebanho se desloca numa formação que         “relacionam” com o restante do nosso
tem o macho dominante à frente, seguido pelas      organismo de forma cooperativa, ten-
fêmeas e filhotes. Por último seguem os outros     do como objetivo final o perfeito funcio-
machos do rebanho, um dos quais fica para trás,    namento do nosso sistema nervoso.
sobre o topo mais próximo, vigiando o intruso      Mas por que nós, externamente, como
enquanto os demais descem. Tão logo alcancem       seres humanos, não conseguimos agir
a nova elevação, junta-se a eles.                  sempre de forma cooperativa para




                                                                                               19
A conduta do antílope ao se retardar está          com nossos semelhantes?
relacionada a conservação do grupo e expressa      A relação que existe para com o
características próprias dos antílopes em seu      outro é de poder e não de amor, de
acoplamento grupal, uma vez que o grupo existe     bem comum. Não cria-se vínculo de
como unidade. Ao mesmo tempo, todavia, essa        amizade, de respeito, de cooperação.
conduta altruísta para com a unidade grupal        Parece mais uma corrida contra o
se realiza no antílope individual como resultado   tempo, para ver quem pode mais,
do seu acoplamento estrutural no meio que          quem manda mais, numa furiosa e
envolve o grupo, e expressa a conservação da       severa competição. Competição pelo
sua adaptação como indivíduo (MATURANA,            ser, pelo ter.
1995).                                             Nós vivemos hoje como se não existisse
Maturana salienta ainda que os organismos,         o amanhã. Passamos por cima de tudo
ao acoplarem-se estruturalmente em unidades        e de todos para satisfazer nossos
de ordem superior (com seu próprio domínio         desejos, alcançar nossos objetivos,
de existência), incluem a manutenção dessas        como se nada pudesse nos atingir.
estruturas na dinâmica de sua própria              Não nos permitimos alcançar uma
manutenção, estabelecendo um equilíbrio entre      convivência criativa, pois diante da
individual e o coletivo.                           diferença com o outro geralmente
O ser humano infelizmente não permite que          reagimos de forma intolerante,
tais acoplamentos ocorram na sua espécie, pois     impaciente e até mesmo cruel, impon-
para que isso acontecesse, seria necessário        do, muitas vezes de maneira agressiva,
interagir com os outros, agregar o conhecimento    nossa posição a respeito de tudo.
dessa experiência ao seu próprio conhecimento      Preferimos fomentar o rancor e perder
e, a partir de então, apresentar novas condutas    a oportunidade de trocar experiências
perante aos semelhantes e a sociedade.             cotidianas e aprender com o outro.
Numa entrevista concedida ao programa “Roda        O ser humano parece ter medo
Viva” da TV Cultura de São Paulo, Edgar Morin      de compartilhar o seu saber, os
diz que devemos aprender a conviver com            seus conhecimentos com os outros
as diferenças, integrando as demais culturas       seres humanos. Ele acredita que ao
e opiniões. Isso não significa que precisamos      compartilhar suas idéias e opiniões,
desintegrar a nossa própria cultura.               estará abrindo a possibilidade de
Sabemos que o ser humano é um ser complexo,        tornar o outro tão “bom” quanto ele
tanto interna quanto externamente. Suas rela-      acredita que ele é. O ser humano não
ções assim também o são. Em condições normais      quer ter que se relacionar com alguém
de saúde, o ser humano é capaz de produzir         superior. Ele prefere se fechar num
todas as substâncias e componentes necessários     mundo que só existe em sua própria
para que, biologicamente, sua organização          cabeça e continuar sendo o “rei”, o
interna como ser vivo funcione. Essa organização   dono da verdade, sem nunca perder
é vista como um operar circular fechado de         a majestade.
produção de componentes que produzem a             Parecemos estar cegos aos “desastres”
própria rede de relações e componentes que os      que estão ocorrendo em nossa soci-
edade e infelizmente ainda não nos
Artigo 02



            demos conta de que somos nós mesmos
            que estamos ocasionando tudo isso.
            Cada um de nós contribui, a sua manei-
            ra, para que o nosso mundo seja o que
            é, um mundo pelo qual cada vez é mais
            difícil sentir admiração e respeito pelo
            outro, numa condição que, como bem                   FIGURA 3: Proposta da epistemologia
            sabemos, torna tudo ainda mais difícil.               FONTE: http://www.wikipedia.org/

            Essa tragédia não está ocorrendo
                                                       de reconhecimento da verdade (WIKIPÉDIA,
20




            apenas entre o ser humano e seu
                                                       2008).
            semelhante. O desrespeito ocorre
                                                       Para que sejamos capazes de desenvolver uma
            também entre o ser humano e a
                                                       identidade pessoal e ecológica, precisamos fo-
            natureza. Volpi salienta que não
                                                       car nossos esforços na educação e no processo de
            podemos restaurar a saúde mental
                                                       educar. É preciso promover uma transformação
            humana e o nosso bem estar, se não
                                                       interna a vivência da humanidade, começando
            restaurarmos a saúde do planeta e
                                                       pela reflexão aplicada a própria transformação
            para entendermos as enfermidades
                                                       individual.
            da “alma”, talvez tenhamos que, antes
            de tudo, entender as enfermidades do       4. O processo de educar
            mundo. Ele acredita que seja preciso       José Volpi (2007) ao citar Reich, diz que
            reintegrar a mente humana à natureza       só as crianças valem à pena e é somente na
            de forma a reconectar nosso eu mais        criança que temos a possibilidade de encontrar
            profundo às raízes de onde surgimos,       o cerne saudável da humanidade. Ele afirma
            de forma a reavivar a energia e o          que o destino da raça humana dependerá das
            afeto que existe em cada ser humano        estruturas de caráter das crianças do futuro.
            no intuito de cuidar e de preservar, no    “Em suas mãos e em seus corações repousarão
            lugar de abandonar ou destruir.            as grandes decisões”.
            Precisamos mais do que nunca conhecer      As crianças constroem boa parte de sua
            o ser humano, descobrir por que os         identidade já na gestação e, com o passar dos
            sentimentos que mais afloram nele          anos, elas vão moldando essa característica
            são o rancor, a raiva e o ódio, a          através do temperamento, do caráter e da
            ponto de querer destruir seu próprio       personalidade de cada uma. Psicologicamente
            semelhante e a natureza. Com base          falando, a identidade representa a indivi-
            nessa discussão, José Volpi apresenta      dualização de uma pessoa. Ela contém aspectos
            em sua tese a ecopsicologia, que é um      biológicos (temperamentais) que são adquiridos
            dos fundamentos epistemológicos que        geneticamente, bem como sociais e psicológicos,
            sugere o encontro entre a ecologia e       que são moldados durante as etapas do
            a psicologia e que tem como objetivo       desenvolvimento.
            despertar a consciência ecológica a        Para que essas crianças tenham maiores chances
            partir da sensibilização do ser humano     de se tornarem seres humanos conscientes, elas
            para amar a si mesmo, a seu semelhante     precisam ser criadas em ambientes de muito
            e a natureza, da qual ele é parte, e       amor, carinho, afeto e respeito.
            não proprietário.                          Volpi acredita que a criança deveria ser livre
            A epistemologia ou teoria do conhe-        para expressar seus desejos, sem receber para
            cimento (do grego “episteme”, “co-         isso as punições provindas de uma educação
            nhecimento”; “logos”, “discurso”), é       severa que pune uma pequena travessura com
            um ramo da filosofia que trata dos         castigos extremistas. Essas punições geram
            problemas filosóficos relacionados         um comprometimento emocional de tal ordem
            à crença e ao conhecimento. A epis-        que a criança, sem medir as conseqüências de
            temologia também estuda os critérios       seus atos, irá buscar os mais fracos para “se
vingar”.                                             para a edificação da vida humana




                                                                                                    Artigo 02
Elas aprendem desde cedo a dominar os mais           sobre a base da reflexão e do saber.
fracos, sejam seus irmãos menores, seus animais      Para eles a filosofia aparece como
e até mesmo seus brinquedos. Além de algumas         auto-reflexão do espírito a respeito
vezes não receberem o afeto que tanto desejam        de seus mais altos valores teóricos e
e necessitam, muitas vezes essas crianças são        práticos, os valores do verdadeiro, do
estimuladas pelos próprios pais a competir,          bom e do belo.
serem as melhores e passarem para trás todos         Reflexão, segundo o dicionário da
que estiverem à sua frente, custe o que custar.      língua portuguesa, é o retorno do
Agindo dessa maneira, as crianças acreditam          pensamento sobre si mesmo, com vista
que serão valorizadas e que conseguirão              a examinar mais profundamente uma




                                                                                                    21
ganhar a atenção e o “afeto” tão sonhados.           idéia, uma situação ou um problema.
Essa atitude de domínio e tortura para com           Para a educação feita na escola,
membros da mesma espécie sem motivo                  José Manuel Moran enfatiza que essa
explícito, com o objetivo único de alcançar o        educação precisa incorporar mais as
próprio prazer, é uma característica exclusiva       dinâmicas participativas como as de
do ser humano.                                       auto-conhecimento (trazer assuntos
A educação, tanto nossa quanto das nossas            próximos à vida dos alunos), as de
crianças, deve se basear na aventura do conhe-       cooperação (trabalhos de grupo, de
cimento como culminância de um esforço bem           criação grupal) e as de comunicação
dirigido, “conhecido por criar” num entendimento     (como o teatro ou a produção de um
social que ainda não existe. A criação é sempre      vídeo).
uma nova etapa, construída com materiais             De acordo com Maurício Bastos, o auto-
velhos. Para Maturana e Varela, criar o conhe-       conhecimento nos propicia a retirada
cimento, o entendimento que possibilita a            dos véus (personagens, máscaras) que
convivência humana, é o maior, mais urgente,         criamos no cotidiano de nossas vidas,
mais grandioso e mais difícil desafio com que se     possibilitando o encontro real com a
depara a humanidade atualmente.                      nossa verdadeira essência.
Para Paulo Freire (2000), ensinar não é transferir   Ele diz que quanto maior o auto-
conhecimento, mas criar as possibilidades para a     conhecimento, maior a possibilidade
sua produção ou sua construção. Ensinar também       de escolhas, de livre-arbítrio. Saímos
é um caminho de aprendizagem. “Quem ensina           da condição de vítima da vida e
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao          passamos a ter total autoria do viver.
aprender”.                                           Quando temos a possibilidade da
Na mesma linha está o Piaget, citado por Macedo      escolha, podemos chegar ao caminho
(2006), que acredita que o conhecimento não          da realização através do amor,
se transmite, repassa, adquire ou ensina, mas        alegria, compreensão e do perdão.
se constrói. Edgar Morin (2000) complementa,
dizendo que o conhecimento não pode ser
baseado em cálculos, mas sim no sentimento,
no amor. Nem mesmo o racional existe sem
emoção.
A construção desse conhecimento se dá não a
partir de uma atitude passiva e sim através da
interação. Para que haja interação, é preciso
que haja confiança mútua recíproca. Maturana
acredita que este é o fundamento do viver social.
O ser humano só pára para refletir quando uma
interação se apresenta de maneira diferente,
não óbvia.
Pensadores como Sócrates e Platão apresen-
                                                               FIGURA 4: Auto-conhecimento
taram seus pensamentos e energias voltados              FONTE: http://www.espacointegracao.com.br
Através do auto-conhecimento pode-                        para que eles tenham respeito por si mesmos
Artigo 02



            mos ampliar a nossa percepção sobre                       e acreditem em si; que percebam, sintam e
            a vida, melhorando a qualidade as                         aceitem o seu valor pessoal e o dos outros.
            nossas relações e nos possibilitando                      Assim será mais fácil aprender e comunicar-se
            viver de uma forma mais autêntica e                       com os demais. Sem essa base de auto-estima,
            saudável.                                                 alunos e professores não estarão inteiros, plenos
            “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o                     para interagir e se digladiarão como opostos,
            Universo” (oráculo de Delfos, da Grécia                   quando deveriam ver-se como parceiros.
            Antiga, citado por BASTOS).                               Quanto mais ricas forem as redes de interação
                                                                      construídas através da educação comunicativa,
                                                                      mais nos realizaremos como pessoas e mais úteis
22




                                                                      nos tornaremos para os grupos e organizações
                                                                      aos quais nos vinculamos.
                                                                      5. Considerações finais
                                                                      A situação que se apresenta aqui se não fosse
                                                                      trágica, seria cômica: o homem precisa reduzir
                                                                      a destruição que ele mesmo vem causando no
                                                                      planeta.
                                                                      Se a extinção da raça humana, como diz
               FIGURA 5: Ruínas do Templo de Apolo em Delfos
             FONTE: http://historia7-penedono.blogspot.com/2007/02/   Reinach, é inevitável, precisamos ao menos tentar
                                orculo-de-delfos.html
                                                                      retardar esse processo o maior tempo possível. É
            Precisamos ajudar as crianças a de-                       com foco na educação e na interação para com
            senvolverem o potencial que elas têm,                     nossos semelhantes que conseguiremos iniciar o
            respeitando suas possibilidades e limi-                   processo de recuperação do ser humano.
            tações. Moran diz que precisamos                          Precisamos trabalhar de forma ativa na
            praticar a pedagogia da compreensão                       construção da identidade de nossas crianças,
            contra a pedagogia da intolerância,                       dando todo o suporte para que elas possam
            da rigidez, a do pensamento único, da                     dar seqüência a essas mudanças que estamos
            desvalorização dos menos inteligentes,                    propondo hoje.
            dos fracos, problemáticos ou “per-                        Não podemos esquecer também de nossos
            dedores”. Praticar a pedagogia da                         mestres, que são peças fundamentais na
            inclusão, partindo do princípio de que                    construção desses “novos seres humanos”. É
            a inclusão não se faz somente com os                      necessário trabalhar o auto-conhecimento e
            que ficam fora da escola. Muitos alunos                   a auto-estima desses professores, para que
            são excluídos pelos professores e                         eles aprendam a ter respeito por si mesmos
            colegas dentro da própria escola. São                     e acreditem em seu potencial, que perce-
            excluídos quando nunca falamos deles,                     bam, sintam e aceitem seu valor perante a
            quando não os valorizamos, quando                         sociedade.
            os ignoramos continuamente. São ex-                       Eles precisam incorporar em suas metodologias
            cluídos quando supervalorizamos                           as dinâmicas participativas de auto-conheci-
            alguns, colocando-os como exemplos                        mento, de cooperação e de comunicação, para
            em detrimento de outros. São ex-                          despertar nos seus alunos o interesse pela
            cluídos quando exigimos de alunos                         construção do conhecimento, que, como vimos, é
            com dificuldades de aceitação e de                        dado através da interação com o outro.
            rela-cionamento, resultados imediatos,                    Cassandra Ribeiro (1998) cita Margulies (1996),
            metas difíceis para eles no campo                         quando ele diz que enquanto o professor (e o
            emocional (MORAN).                                        projetista) não puder aprender antes de ensinar,
            Ninguém dá o que não tem. Baseado                         enquanto não possuir os meios de procurar
            nisso, Moran salienta que é necessário                    antes de apresentar, ele será apenas uma peça
            trabalhar também o auto-conhecimento                      enferrujada na máquina da educação.
            e a auto-estima dos professores,                          Essa educação só poderá cumprir a sua função
fundamental, se for capaz de promover uma           necessários à prática educativa. 15.




                                                                                              Artigo 02
mudança social, levando em conta que a              ed. São Paulo : Paz e Terra, 2000.
educação não possui o poder de transformar o        LIMA, S. Disponível em: <http://www.
mundo, mas pode transformar as pessoas para         pensador.info/autor/Samuel_Lima/>.
se engajarem nessa tarefa (VOLPI, citando           Acesso em: 28/05/2008.
Paulo Freire).                                      MACEDO. L. de. O ancestral humano
Aquele que for capaz de se adaptar a essas          e o futuro da humanidade. Disponível
mudanças que necessariamente precisam               em: <http://www.aejhp.org.br/main.
ocorrer na nossa humanidade, vai sobreviver.        asp?cat=artigos&id_artigo=57>.
Trata-se da questão de sobrevivência não do         Acesso em: 31/05/08.
mais capaz, mas sim da sobrevivência daquele        MATURANA R., Humberto; VARELA G.,




                                                                                              23
que for capaz.                                      Francisco. A árvore do conhecimento:
A libertação do ser humano está no encontro         as bases biológicas do entendimento
profundo de sua natureza consciente consigo         humano. Campinas: Psy II, 1995.
mesma.                                              281p.
O caminho da liberdade é a criação de circuns-      MORAN. J. M. Bases para uma educação
tâncias que libertem no ser social seus profundos   inovadora. Disponível em: <http://
impulsos de solidariedade para com qualquer         www.eca.usp.br/prof/moran/bases.
ser humano.                                         htm>. Acesso em: 30/05/08.
A educação gera o conhecimento e o conhe-           Programa Roda Vida. São Paulo: TV
cimento gera a sabedoria. Só um povo sábio é        Cultura, 18/12/2000.
capaz de mudar seu destino (LIMA).                  REINACH, F. Brincando de Deus.
                                                    Disponível em: <http://www.reinach.
Referências bibliográficas                          com/Estado/Colunas/108--15-nov-
BASTOS, M. Auto-conhecimento. Disponível em:        2006.doc>. Acesso em: 22/05/08.
<http://www.espacointegracao.com.br/auto_           ROGERS, Carl Ransom (1983) Um Jeito
conhecimento.htm>. Acesso em: 01/06/08.             de Ser. São Paulo: EPU
CUNHA, V. O Homem vale menos do que uma             SILVA, C. R. de O. e. Bases Pedagógicas
bactéria. Disponível em: <http://www.rizoma.        e ergonômicas para a concepção e
net/interna.php?id=159&secao=conspirologia          avaliação de produtos educacionais
>. Acesso em 22/05/08.                              informatizados. Florianópolis, 1998.
Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível         Disponível em: <http://www.eps.ufsc.
em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_           br/disserta98/ribeiro/cap2.html>.
resultados.aspx>. Acesso em: 28/05/2008.            Acesso em: 30/05/08.
ELOHIM, T. A árvore do conhecimento do bem          VOLPI,       J.     H.      Fundamentos
e do mal. Disponível em: <http://todahelohim.       epistemológicos em direção a uma
blogspot.com/2007/10/r vore-do-                     ecopsicologia. Curitiba, 2007.
conhecimento-do-bem-e-do-mal.html>. Acesso          WIKIPÉDIA – Enciclopédia livre.
em: 30/05/08.                                       Disponível em: http://www.wikipedia.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes      org/>. Acesso em: 02/06/08.
A Cultura Orientada à
Artigo 03




            Aprendizagem
              “Aprender me alegra porque me capacita a ensinar.”
                                                        Sêneca
24




                                                             Saulo Figueiredo
                                                    Diretor da Soft Consultoria,
                                   Professor de Pós Graduação e MBA da FASP.
                                                       sfigueiredo@soft.com.br
Com a rápida obsoles-     resulta em algum tipo de capacitação




                                                                                             Artigo 03
                        cência do conhecimento e   ou iniciativa de aprendizagem, qua-
                      as fortes pressões compe-    se sempre identificada a começar
                    titivas o aprendizado na       pela avaliação dos desafios de
                  medida e no tempo certo se       negócios, problemas, expectativas
                 tornou fundamental ao sucesso     dos clientes e interesses alvos da
            no mundo dos negócios. As pessoas      empresa. Embora grande parte do
     conscientizam-se dia-a-dia que para se        esforço de aprendizagem nas em-
manterem úteis e com oportunidades de traba-       presas exista pela capacitação
lho, necessitam aprender durante toda a vida.      interna dos talentos, dependendo da
                                                   estratégia, oportunidades de apren-




                                                                                             25
Por não existir conhecimento sem aprendizagem
                                                   dizagem devem ser oferecidas à
a relação entre gestão do conhecimento e
                                                   parceiros de negócios, distribuidores e
aprendizagem é bastante simples de explicar.
                                                   fornecedores.
Entretanto não é a maioria das empresas que
compreende o quanto a gestão do conhecimento       O levantamento da realidade e dos
pode ajudá-las a direcionar estrategicamente       desafios corporativos permite planejar
o foco do desenvolvimento dos colaboradores,       iniciativas de gestão do conhecimento
a consolidar uma Cultura Orientada à Apren-        eficazes, sendo necessário diversificar
dizagem e assim, superar os desafios da            as formas de obtenção e entrega do
capacitação contínua e estratégica.                saber em função de peculiaridades
                                                   tais como: estratégia alvo, aplicação
E neste contexto, todo gerente deve se empenhar
                                                   do conhecimento, diferentes hábitos
e estimular os processos de aprendizagem, quer
                                                   de consumo de informação e
sejam formais ou informais, prover os meios e os   aprendizagem, diferentes culturas,
recursos necessários para desenvolvimento das      localização e distribuição dos apren-
pessoas, criar ambientes favoráveis, permanecer    dizes, processos de transferência de
atento para empreender oportunidades de            conhecimento requeridos, as diferentes
ampliação do conhecimento, aprendizagem            necessidades de uso do conhecimento,
individual e coletiva, compartilhamento de         canais e audiências existentes.
conhecimentos, e se sentir responsável pela
criação de interfaces e encontros que resultem     A superação dos desafios de sobre-
em aprendizado útil aos negócios, assumindo o      vivência no mundo dos negócios exige
compromisso e a responsabilidade pela apren-       não só a criação e a manutenção de
dizagem organizacional.                            programas de aprendizado arrojados
                                                   com foco nas Competências Essenciais,
Sua atenção perene deve considerar e com-          mas principalmente o fortalecimento
preender como as pessoas aprendem na               de uma Cultura Organizacional Orien-
empresa, seus hábitos de aprendizagem e os         tada para o Aprendizado e aplicação
meios disponíveis para promover o ensino e         efetiva do saber.
a aprendizagem organizacional. Espera-se
                                                   Acompanhando a mesma velocidade
como resultado desta compreensão e atuação,
                                                   das mudanças de nossos dias, a
a construção de uma cultura que valoriza o
                                                   correção de posturas e a incorporação
aprendizado em todos os aspectos. Fazem
                                                   de conhecimentos e competências pre-
parte desta escolha inteligente, uma infra-
                                                   cisam ocorrer na empresa. Circuns-
estrutura física e tecnológica adequada,
                                                   tancialmente, muitas vezes não é
procedimentos e posturas gerenciais coerentes
                                                   possível tirar as pessoas da empresa,
e cultura comportamental dos funcionários,
                                                   confiná-las em uma sala de aula
favoráveis em todos os aspectos, ao aprendizado
                                                   e promover o aprendizado formal
estratégico.
                                                   necessário. Isso não significa que os
Grande parte da demanda relevante e com            treinamentos convencionais deixam de
propósito real para a Gestão do Conhecimento       ser importantes e realizados, mas que
também ocorram diaria-         o aprimoramento dos conhecimentos, lapidando
               mente no próprio ambiente        o futuro de todos. Não por acaso, com razoável
              de trabalho.                      freqüência constato que as empresas de maior
                                                sucesso são exatamente aquelas cujos ambientes
            Apontar anualmente o número
                                                são propícios à aprendizagem tanto formal
          horas consumidas em treinamento
                                                quanto informal. A cultura orientada para
        pelos funcionários e publicá-
                                                aprendizagem também favorece o surgimento
     las em relatórios financeiros não
                                                dos questionamentos feitos pelos colaboradores
     significa muita coisa aos acionistas,
                                                e consequentemente as melhores reflexões e
     aos funcionários e nem mesmo ao
                                                respostas como fruto, as parcerias e alianças
     sucesso da empresa. O que garante
                                                estratégicas em torno do saber e a revisão
26




     que aprenderam? O que garante
                                                dos processos (os tornando mais “inteligentes”),
     que aprenderam a coisa certa? O
                                                das linhas de negócios, produtos e serviços,
     que garante que aprenderam na
                                                ao contrário de simplesmente obedecer e
     hora certa? Além das iniciativas
                                                reproduzir velhas práticas.
     de capacitação tradicionais, será
     preciso desenvolver ambientes cuja         Nesse ambiente ideal, as iniciativas de
     aprendizagem ocorra informalmente,         treinamento são vinculadas aos desafios e
     livre entre as pessoas. Em outras          objetivos estratégicos e as pessoas entendem
     palavras, em alguns casos, será preciso    a razão pela qual são submetidas a novos
     criar uma empresa essencialmente no-       desafios de aprendizagem, tendem a ir
     va, onde todos aprendam com todos,         espontaneamente atrás dos conhecimentos e a
     o tempo todo, sem ter que agendar          criar iniciativas próprias de aprendizagem, a
     um dia para aprender. E este deve          gerir suas próprias experiências de modo que
     ser o ambiente alvo alavancado pela        produzam conhecimentos nos colegas e sabem
     Gestão do Conhecimento e toda sua          contextualizar o resultado da aprendizagem
     coerência gerencial.                       à aplicação prática, tendo um aproveitamento
                                                muito maior. Além disso, as iniciativas são
     Nossas instituições necessitam de clima    moldadas e planejadas não só para prover o
     favorável, pessoas abertas a ensinar       conhecimento às pessoas, mas também, para
     e ansiosas por aprender, ferramentas,      identificar novos talentos, competências e
     estímulos e reconhecimento. Esta cultura   líderes.
     orientada para a aprendizagem
     valoriza os colaboradores que com          Por meio de arranjos espontâneos e mutantes,
     freqüência e espontaneamente exer-         o ambiente de cultura favorável é capaz não
     cem ora o papel de “mestre”, ora o         só de informalmente disseminar e multiplicar
     de aprendiz, que oferecem e pedem          o conhecimento, mas manter a empresa em
     ajuda, que dizem eu não sei, que pro       constante estado de alerta, pronta e preparada
     - ativamente aprendem e que exer-          para a inovação e para reconfigurações de si
                                                mesma se necessário.
     citam em benefício dos stakeholders
     o pensamento, a reflexão, os ques-         Com reflexo bastante positivo, a cultura
     tionamentos, a participação, a curio-      orientada para aprendizagem alavanca
     sidade, o interesse e a aplicação efe-     a espontaneidade e estimula os processos
     tiva dos conhecimentos.                    informais de ensino respondendo a desafios
                                                pontuais da empresa. Podemos definir a
     A aprendizagem definitivamente é
                                                aprendizagem informal na empresa como
     fruto do ambiente.
                                                o processo pelo qual as pessoas aprendem
     A cultura orientada para aprendiza-        e ensinam mutuamente, trabalhando em
     gem cria condições para que as pessoas     grupo, compartilhando o que sabem de modo
     aprendam e construam efetivamente o        presencial, ou à distância pela rede, por e-mail
     conhecimento a partir das experiências.    ou telefone, trocando seus conhecimentos umas
     Estimula e valoriza a pesquisa, a busca,   com as outras, através das diversas relações
seja para solucionar um        • processos de comunicação eficazes;




                                                                                                  Artigo 03
                    problema, prestar um ser-       • Empowerment;
                   viço ou melhorar um pro-
                  cesso.                            • infra-estrutura tecnológica favorável:
                                                    Intranet (Portal Corporativo), Extranet,
                  A aprendizagem informal tem       Internet, iniciativas de groupware, e-mail,
                forte influência e reflexo na       bases de informações, ferramentas de
         competitividade de uma empresa,            comunicação, chat, ensino à distância,
 daí a sua grande importância. As empresas          sistemas para colaboração e de
tendem a ser mais competitivas a medida que         informação em geral, etc...;
mais rapidamente aprendem coisas relevantes




                                                                                                  27
e quanto melhor criam arranjos, embalam e           • competências de grupo (comunicação,
fornecem (entregam) esses conhecimentos, ou         liderança, confiança);
melhor, o resultante destes ao mercado. O sucesso   • processos de cooperação bem
da aprendizagem informal, dependendo da             definidos para trabalho coletivo,
empresa, exige o desenvolvimento não só de          desenvolvimento de projetos e de
infra-estrutura tecnológica adequada, mas           forças-tarefas;
também do desenvolvimento nas pessoas de
                                                    • ambiente favorável;
hábitos e comportamentos de cooperação,
ensino, aprendizagem, interesse, trabalho em        • competências gerenciais;
grupo, comunicação eficaz e etc, todos muito        • definição de desafios, metas e ob-
dependentes da cultura organizacional.              jetivos mobilizadores;
Nesse sentido, cada vez com maior freqüência,       • espírito de corpo, e
as empresas adotarão instrumentos e soluções
tecnológicas para motivarem e viabilizarem          • encontros e oportunidades de traba-
aprendizagem informal. Além disso, em número        lho em grupo.
também cada vez maior, as empresas adotarão         Aprender é um processo. Ensinar
iniciativas e indicadores para medição da           também pode ser.
performance de aprendizagem e ensino
                                                    Um outro desafio da gestão da apren-
informal, dedicados a medir e avaliar o interes-
                                                    dizagem é oferecer oportunidades
se, a participação e os índices de agregação        para que os próprios funcionários
de valor em relação a criação, transferência        possam oferecer e entregar formal-
e utilização do conhecimento relevante. Estes       mente suas competências a outros
indicadores revelarão o quanto cada pessoa          funcionários da empresa. Nesse caso
colabora para criação do conhecimento               é preciso organizar e gerir cada
organizacional, o quanto cada um colabora com       oportunidade de encontro e treina-
os trabalhos em grupo, prontidão de respostas,      mento. A maioria dos funcionários,
resolução de problemas, aprendizado ou no           normalmente aprecia a possibilidade
ensino em grupo, revelando o quanto cada            de “dar aulas” e ensinar seus colegas.
um reutiliza do conhecimento armazenado,            Na Soft Consultoria, empresa para
economiza de tempo e dinheiro, o quanto cada        qual eu trabalho, os funcionários
um é produtivo no uso das informações e etc...      são constantemente incentivados a
A aprendizagem informal e expontânea são            ser instrutores de seus colegas nos
intrínsecas ao ser humano, porém funcionam          programas de treinamento.
melhor a partir da criação de facilitadores. Na     Para algumas empresas transformar
empresa, os facilitadores mais comuns são:          a prática de ensino em rotina é mais
• Cultura organizacional favorável;                 urgente. Em empresas de consultoria,
                                                    por exemplo, onde há acentuada
• Motivação, reconhecimento e estímulo;
                                                    urgência na obtenção e aplicação do
• valorização das interfaces e relações sociais;    conhecimento, a adoção deste modelo
em que todos assumem        para ensinar. Como diz o ditado, ninguém é
                    e alternam constante-       tão grande que não possa aprender e nem tão
                   mente os papeis de           pequeno que não possa ensinar.
                   aluno e professor para       “Nós temos que aprender a fazer, e o
                  transferência e dissemina-    aprendemos fazendo.” Aristóteles
               ção rápida do conheci-
          mento, é de vital importância à       Outro aspecto da aprendizagem relacionada
     sobrevivência. Um modelo tradicional       a gestão do conhecimento, é que as pessoas
     de desenvolvimento de pessoas, não         aprendem muito mais facilmente praticando e
     garantiria a velocidade e o aprendi-       aprendem muito mais com outras pessoas do que
28




     zado necessário para este tipo de          sozinhos. Tanto as interações e relações entre as
     empresa, reduzindo suas chances            pessoas, quanto a relação das pessoas e o meio
     de sucesso. A partir deste modelo de       em que vivem, envolvendo tudo aquilo que as
     cultura orientada à aprendizagem, as       cercam e as estimulam, têm muito a oferecer em
     empresas conseguem o mais eficiente        termos de potencial de aprendizado e criação
     aprendizado interativo, fazendo com        de conhecimento.
     que as trocas de experiências entre        O aprender fazendo é muito eficaz, e pela
     seus colaboradores sejam efetivadas        facilidade de contexto, faz da empresa um
     dinâmica e rapidamente, gerando os         ambiente ideal à aprendizagem conjugada com
     conhecimentos necessários à manutenção     a aplicação efetiva do saber. As organizações
     e criação dos diferenciais competitivos.   oferecem favoráveis condições para o “apren-
     Ensinar é o melhor estilo de aprender.     der fazendo” com inúmeras vantagens, pois
                                                permitem que seus aprendizes testem e
     Você deve estar se perguntando: E
                                                apliquem o aprendizado, pondo em prática os
     aqueles que não possuem habilidades
                                                conhecimentos obtidos.
     e não “levam jeito” para ensinar? Na
     empresa hoje em dia, quem não souber       O método mestre-aprendiz (imagine um músico
     ensinar deve procurar aprender isso        ensinando um garoto a tocar violino), surgindo
     muito rapidamente. As empresas que         como iniciativa formal ou informal dentro
     já apreciam, passarão a valorizar          da gestão do conhecimento, pode também
     ainda mais aqueles que sabem ensinar       superar as necessidades de produção de
     e sabem transferir seus conhecimentos.     conhecimentos nas instituições. Na empresa, em
     Certamente com a mesma intensidade         muitas circunstâncias diferentes, quase sempre
     desprezarão aqueles que se dizem           encontramos a figura de um “mestre” e de pelo
     e se mostram incapazes de ensinar          menos um aprendiz, que aprende fazendo,
     e colaborar com seus amigos de             copiando, imitando e interagindo com este
     trabalho.                                  primeiro. O que a Gestão do Conhecimento faz
                                                é replicar e reproduzir este processo onde quer
     Não são todos que reúnem condições
                                                que o esforço se justifique pelo saber.
     satisfatórias e facilidades para
     ensinar. Nem todos se transformarão        Este método, muito dependente da experi-
     nos melhores instrutores da noite para     mentação, a partir do orientar e fazer, oferece
     dia. Mas ensinar é o melhor estilo de      facilidades para a produção e assimilação
     aprender. Saber ensinar na empresa,        dos conhecimentos alvos. Não considerar na
     passa a ser um atributo bastante           empresa o potencial das transferências de
     apreciado, valioso e um precioso           conhecimentos pelo método mestre aprendiz,
     diferencial a ser apresentado pelos        pode resultar na extinção de conhecimentos
     talentos. Felizmente, não existe nada      relevantes complexos, que não poderiam ser
     que impeça uma pessoa normal de            facilmente documentados e transferidos por
     desenvolver habilidades e técnicas         meio da codificação.
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos

Más contenido relacionado

Destacado

Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0
Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0
Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0Fing
 
The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015
The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015
The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015ScribbleLive
 
La ingeniería industrial y las tecnologías de información
La ingeniería industrial y las tecnologías de informaciónLa ingeniería industrial y las tecnologías de información
La ingeniería industrial y las tecnologías de informaciónDiana Gimena
 
(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius necronomicon
(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius   necronomicon(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius   necronomicon
(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius necronomiconBlair Crash
 
Apresentação BORALÁ - Vila Madalena
Apresentação   BORALÁ - Vila MadalenaApresentação   BORALÁ - Vila Madalena
Apresentação BORALÁ - Vila MadalenaCadu Mendonça
 
Concepto de un carretillero
Concepto de un carretilleroConcepto de un carretillero
Concepto de un carretilleroLasArenas
 
Programas de Seguridad e Higiene
Programas de Seguridad e HigieneProgramas de Seguridad e Higiene
Programas de Seguridad e HigieneNayeli Pérez
 

Destacado (20)

Monografia Roselita Pedagogia 2010
Monografia Roselita Pedagogia 2010Monografia Roselita Pedagogia 2010
Monografia Roselita Pedagogia 2010
 
Enfermedad por úlceras pépticas
Enfermedad por úlceras pépticasEnfermedad por úlceras pépticas
Enfermedad por úlceras pépticas
 
Book news vf
Book news vfBook news vf
Book news vf
 
Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0
Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0
Lift12Fr-Thomas Landrain-biologie 2.0
 
Lookbook_FS15
Lookbook_FS15Lookbook_FS15
Lookbook_FS15
 
Memoria_2009
Memoria_2009Memoria_2009
Memoria_2009
 
Biogás e biodisel
Biogás e biodiselBiogás e biodisel
Biogás e biodisel
 
The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015
The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015
The World’s 50 Most Influential CMOs Study 2015
 
G.U.E. Ricardo Bentin - Promoción 1979 - 5to I
G.U.E. Ricardo Bentin - Promoción 1979 - 5to IG.U.E. Ricardo Bentin - Promoción 1979 - 5to I
G.U.E. Ricardo Bentin - Promoción 1979 - 5to I
 
Re fiesta iii
Re fiesta iiiRe fiesta iii
Re fiesta iii
 
La ingeniería industrial y las tecnologías de información
La ingeniería industrial y las tecnologías de informaciónLa ingeniería industrial y las tecnologías de información
La ingeniería industrial y las tecnologías de información
 
Riquelme pablo inupiat
Riquelme pablo inupiatRiquelme pablo inupiat
Riquelme pablo inupiat
 
Hizkuntza Trataera Zubizarreta Sagasta
Hizkuntza Trataera Zubizarreta SagastaHizkuntza Trataera Zubizarreta Sagasta
Hizkuntza Trataera Zubizarreta Sagasta
 
(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius necronomicon
(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius   necronomicon(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius   necronomicon
(Ger) n.a.v. gregor a. gregorius necronomicon
 
Opération Madrassati
Opération Madrassati Opération Madrassati
Opération Madrassati
 
Apresentação BORALÁ - Vila Madalena
Apresentação   BORALÁ - Vila MadalenaApresentação   BORALÁ - Vila Madalena
Apresentação BORALÁ - Vila Madalena
 
Presentation on dgr
Presentation on dgr Presentation on dgr
Presentation on dgr
 
Concepto de un carretillero
Concepto de un carretilleroConcepto de un carretillero
Concepto de un carretillero
 
Programas de Seguridad e Higiene
Programas de Seguridad e HigieneProgramas de Seguridad e Higiene
Programas de Seguridad e Higiene
 
Consola 2
Consola 2Consola 2
Consola 2
 

Similar a Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos

REVISTA GC BRASIL N°. 06
REVISTA GC BRASIL N°. 06REVISTA GC BRASIL N°. 06
REVISTA GC BRASIL N°. 06Lourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL N°. 05
REVISTA GC BRASIL N°. 05REVISTA GC BRASIL N°. 05
REVISTA GC BRASIL N°. 05Lourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL N°. 02
REVISTA GC BRASIL N°. 02REVISTA GC BRASIL N°. 02
REVISTA GC BRASIL N°. 02Lourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASIL
REVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASILREVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASIL
REVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASILLourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL N°. 10
REVISTA GC BRASIL N°. 10REVISTA GC BRASIL N°. 10
REVISTA GC BRASIL N°. 10Lourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL N°. 01
REVISTA GC BRASIL N°. 01REVISTA GC BRASIL N°. 01
REVISTA GC BRASIL N°. 01Lourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL N°. 08
REVISTA GC BRASIL N°. 08REVISTA GC BRASIL N°. 08
REVISTA GC BRASIL N°. 08Lourdes Martins
 
REVISTA GC BRASIL N°. 09
REVISTA GC BRASIL N°. 09REVISTA GC BRASIL N°. 09
REVISTA GC BRASIL N°. 09Lourdes Martins
 
Revista anefac
Revista anefacRevista anefac
Revista anefacdbritto11
 
BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012
BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012
BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012Beto Lima Branding
 
Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)
Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)
Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)Juventude Socialista Brasileira
 
Revista Boa Vontade, edição 236
Revista Boa Vontade, edição 236Revista Boa Vontade, edição 236
Revista Boa Vontade, edição 236Boa Vontade
 
7197 -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...
7197  -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...7197  -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...
7197 -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...Juci Santos
 
eBook Consumo: imaginário, estratégia e experiência
eBook Consumo: imaginário, estratégia e experiênciaeBook Consumo: imaginário, estratégia e experiência
eBook Consumo: imaginário, estratégia e experiênciaPimenta Cultural
 
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96 em 2013 - case de mark...
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96  em 2013 - case de mark...Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96  em 2013 - case de mark...
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96 em 2013 - case de mark...Paulo Ratinecas
 

Similar a Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos (20)

REVISTA GC BRASIL N°. 06
REVISTA GC BRASIL N°. 06REVISTA GC BRASIL N°. 06
REVISTA GC BRASIL N°. 06
 
REVISTA GC BRASIL N°. 05
REVISTA GC BRASIL N°. 05REVISTA GC BRASIL N°. 05
REVISTA GC BRASIL N°. 05
 
REVISTA GC BRASIL N°. 02
REVISTA GC BRASIL N°. 02REVISTA GC BRASIL N°. 02
REVISTA GC BRASIL N°. 02
 
REVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASIL
REVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASILREVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASIL
REVISTA GC BRASIL_04_ESPECIAL_KMBRASIL
 
REVISTA GC BRASIL N°. 10
REVISTA GC BRASIL N°. 10REVISTA GC BRASIL N°. 10
REVISTA GC BRASIL N°. 10
 
REVISTA GC BRASIL N°. 01
REVISTA GC BRASIL N°. 01REVISTA GC BRASIL N°. 01
REVISTA GC BRASIL N°. 01
 
REVISTA GC BRASIL N°. 08
REVISTA GC BRASIL N°. 08REVISTA GC BRASIL N°. 08
REVISTA GC BRASIL N°. 08
 
REVISTA GC BRASIL N°. 09
REVISTA GC BRASIL N°. 09REVISTA GC BRASIL N°. 09
REVISTA GC BRASIL N°. 09
 
Revista anefac
Revista anefacRevista anefac
Revista anefac
 
Livro capacite(2)
Livro capacite(2)Livro capacite(2)
Livro capacite(2)
 
BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012
BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012
BrandTrends Journal Vol 3 / Ano 3 / Out 2012
 
Insight360
Insight360Insight360
Insight360
 
Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)
Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)
Curso de Políticas Públicas de Juventude - Fundação João Mangabeira (PSB)
 
Humangext Magazine - Julho 2015
Humangext Magazine - Julho 2015Humangext Magazine - Julho 2015
Humangext Magazine - Julho 2015
 
Revista Boa Vontade, edição 236
Revista Boa Vontade, edição 236Revista Boa Vontade, edição 236
Revista Boa Vontade, edição 236
 
7197 -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...
7197  -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...7197  -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...
7197 -nova_ldb_-_lei_de_diretrizes_e_bases_-_trajetória_para_a_cidadania_-_c...
 
Carta mensal Distrito 4310 - Agosto 2015
Carta mensal Distrito 4310 - Agosto 2015Carta mensal Distrito 4310 - Agosto 2015
Carta mensal Distrito 4310 - Agosto 2015
 
eBook Consumo: imaginário, estratégia e experiência
eBook Consumo: imaginário, estratégia e experiênciaeBook Consumo: imaginário, estratégia e experiência
eBook Consumo: imaginário, estratégia e experiência
 
Escolhas sustentaveis
Escolhas sustentaveisEscolhas sustentaveis
Escolhas sustentaveis
 
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96 em 2013 - case de mark...
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96  em 2013 - case de mark...Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96  em 2013 - case de mark...
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96 em 2013 - case de mark...
 

Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos

  • 1. ISSN 1981-5751 A Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. nº 07. agosto de 2008 A Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. nº 07. agosto de 2008 PORTAIS CORPORATIVOS E A GESTÃO DO CONHECIMENTO A CULTURA ORIENTADA À APRENDIZAGEM O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO CONHECIMENTO
  • 2. SUMÁRIO Editorial Por Elisabeth Gomes. 04 Artigo 01 Portais corporativos e a Gestão do Conhecimento. 06 Por Eduardo Oliveira Spínola. Artigo 02 A educação e a interação como “retardo” a extinção. 16 Por Paloma Maria Santos. Artigo 03 A Cultura Orientada à Aprendizagem. 24 Por Saulo Figueiredo. Artigo 04 O comércio internacional do conhecimento. 30 Por Marcelo Ribeiro Goraieb. Artigo 05 Avaliação de ativos intangíveis. 36 Por Márcio Lago Couto. Artigo 06 Biblioteca Multimídia da ENSP, 41 2ª versão permite que usuários incluam documentos. Por Ana Paula Bernardo Mandonça, Ana Cristina da Matta Furniel, Maria Elisa Andries dos Reis e Rosane Mendes. Resenha do livro Gestão de conteúdo como apoio à Gestão de Conhecimento. 43 Por Eduardo Lapa Agenda Eventos Internacionais 45 Direto das SBGCs e Núcleos Regionais 46 Palavra da SBGC Por Heitor Pereira 48
  • 3. Expediente EXPEDIENTE Uma publicação da: Rivadávia Correa Drummond de SBGC – Sociedade Brasileira de Alvarenga Neto Gestão do Conhecimento Roberto Pacheco www.sbgc.org.br Rodrigo Baroni Serafim Firmo de Souza Ferraz Silvio Aparecido dos Santos 03 Integrantes Permanentes do Sonisley Machado Conselho Científico da SBGC Walter Félix Cardoso Jr. Presidente: Maria Terezinha Angeloni REVISTA GC BRASIL Editora-Chefe: Alberto Sulaiman Sade Júnior Elisabeth Gomes Aline França de Abreu Carlos Olavo Quandt Produção Executiva: Chu Shao Yong Maria de Lourdes Martins Eduardo Moresi Supervisor Editorial: Faimara do Rocio Strauhs Maurício Gomes Fernando Antônio Ribeiro Serra Hélio Gomes de Carvalho Jornalista Responsável: Gilson Schwartz Cristiano Pio MG 09315 JP Guilherme Ary Plonski Revisão: Helena Pereira da Silva Isabella Braz Helena Tonet João Amato Neto Diagramação: Jorge Tadeu de Ramos Neves Ana Mambrini José Ângelo Gregolin Edição de Imagens: José Rodrigues Maria de Lourdes Martins e Kira Tarapanoff Ana Mambrini Marília M.R. Damiani Costa Moacir de M. Oliveria Mônica Erichsen Nassif Borges Raquel Balceiro Resilda Rodrigues Tecle conosco: Ricardo Roberto Behr gcbrasil@sbgc.org.br
  • 4. Editorial 04 EDITORIAL Prezados leitores, Já são 22hs de uma terça feira chuvosa, aqui na cidade do Rio de Janeiro onde resido. Mais precisamente no bairro da Urca, perto do Pão de Açúcar. Com uma vista privilegiada para o Bondinho e para a Praia Vermelha, com certeza não me deveria faltar inspiração para escrever o editorial deste número. Mas, pasmem... está faltando sim. Já reli os artigos, as notícias, a resenha, milhões de vezes e, são tão bons, que não sei por onde começar a dizer a vocês qual o primeiro a ser lido. Sendo assim vou começar aleatoriamente...... Neste número temos um artigo sobre Portais Corporativos e a Gestão do Conhecimento de Eduardo Oliveira Spínola, onde o autor apresenta o que é um Portal Corporativo, seus tipos, como desenhar uma arquitetura de informação e como usar esta ferramenta poderosa de comunicação e estratégia para uma empresa. Em seguida temos um texto de Paloma Maria Santos, que aborda a educação e a interação como “retardo” a extinção, objetivando apresentar as ferramentas para tentarmos evitar, ou ao menos retardar a extinção da raça humana na face da Terra, que vem sendo constantemente alimentada e estimulada pelo bicho homem, através do seu inadequado comportamento para com o seu semelhante. Vale conferir a leitura e se perguntar, se realmente isto está acontecendo. É um artigo denso, e que merece toda a atenção. Prosseguindo na nossa revista, vamos encontrar o artigo de Saulo Figueiredo sobre Cultura Orientada a Aprendizagem. Sem comentários, porque gostaria de ouvir os comentários de vocês, após a leitura. Artigo fácil de ler e com muito conteúdo para compartilhar, usar e disseminar na sua empresa. Marcelo Ribeiro Goraieb, autor do próximo texto, fala sobre o Comércio Internacional do Conhecimento, onde ele apresenta seu estudo através de pesquisas bibliográficas e pelo método descritivo o comércio internacional do conhecimento, o fluxo de serviços entre os países e suas barreiras. Ele afirma que se verifica um crescimento
  • 5. Editorial significativo da presença de certos países em desenvolvimento na economia do conhecimento, o que mostra uma tendência de mudança no fluxo tradicional em que os países desenvolvidos são os principais atores. As barreiras estão cada vez menores e o comércio internacional em pleno crescimento. 05 Nesta época de bolsas de valores caindo, dólar subindo e crise americana, o artigo de Márcio Couto, do IBRE, cai como uma luva. Trata de avaliação de ativos intangíveis. Será que sabemos mensurar ativos na Era do Conhecimento? Será que os tradicionais métodos de avaliação ainda valem? Afirmo a vocês que após a leitura do artigo do Márcio Couto estas respostas serão claras para vocês. E por último, mas não menos importante, temos uma matéria sobre a Biblioteca Multimídia da ENSP, que em sua 2ª versão permite que usuários incluam documentos. Mas não acabou. Ainda temos a resenha do livro de Eduardo Lapa sobre Gestão de Conteúdo como apoio a Gestão de Conhecimento. Não é novidade para ninguém que, hoje, mais do que nunca, saber gerenciar conteúdo é fator estratégico para empresas, de qualquer porte ou segmento, ganhar vantagem competitiva. Portanto vamos ler o livro! E, como de costume, a revista traz a agenda de eventos sobre Gestão do Conhecimento, a seção Direto das SBGCs e Núcleos Regionais, que é um espaço para que os Pólos e Núcleos da SBGC divulguem suas realizações e, por fim, as Palavras do Presidente da SBGC – Heitor Pereira. Heitor apresenta, ou melhor, explica as siglas que são usadas no dia a dia da gestão da SBGC e sua importância para a Associação. Bem, amigos, é isso. Até o próximo número e não deixem de contribuir com a GC BRASIL enviando suas críticas, comentários, elogios e artigos para gcbrasil@sbgc.org.br. Elisabeth Gomes Editora-Chefe da GC Brasil Coordenadora de Conteúdo e Publicações da SBGC
  • 6. PORTAIS CORPORATIVOS E A GESTÃO DO CONHECIMENTO Eduardo Oliveira Spínola Pesquisador, colaborador das revistas SQL Magazine e WebMobile Editor dos sites Java e .Net do Portal DevMedia. eduspinola@gmail.com
  • 7. 1. INTRODUÇÃO encontradas em um só lugar. Assim como Artigo 01 A partir do momento em que a tecnologia a comunicação entre os funcionários, passou a ser utilizada para o auxílio da facilitada por ferramentas de bate- comunicação e do armazenamento de dados, papo, permitindo aos usuários a troca muitas empresas passaram a sofrer com o de conhecimento e, consequentemente, excesso de informação. Para solucionar este gerando e atualizando o conhecimento, problema, notou-se a importância da aplicação obtendo como resultado final de todo o da Gestão de Conhecimento com o objetivo de processo, um aumento na produtivida- obter um maior controle sobre os conhecimentos de da empresa. gerados [Dias 2001]. Atualmente, um dos grandes desafios 07 Para sobreviver com sucesso em um mercado das pequenas e grandes organizações cada vez mais exigente e globalizado, as é transformar suas intranets em Portais empresas passaram a buscar uma melhora Corporativos, e é neste contexto que crescente em sua competitividade, e um ponto este trabalho se encaixa, apresentando muito importante para isso, é saber utilizar o o que são os Portais Corporativos, conhecimento organizacional existente dentro listando alguns dos seus requisitos, dela. Infelizmente, para que uma empresa e pontos positivos, analisando este possa utilizar o seu conhecimento de forma aplicativo como um novo instrumento organizada e positiva, é preciso que se faça de gestão de conhecimento. Feito isto, um grande investimento em Tecnologia de será discutido sobre a aplicação dos Informação, mais precisamente, na Gestão do Portais Corporativos à Gestão do Conhecimento [Leme & Carvalho 2004]. Conhecimento. Diversos são os tipos de aplicações existentes 2. PORTAIS CORPORATIVOS nas empresas e, consequentemente, diversos Há alguns anos, o que hoje conhecemos são os formatos de arquivo gerados por estas como portais, eram apenas máquinas aplicações. Como não há um mecanismo que de busca. Os sites apresentavam uma possibilite a padronização e organização destas interface simples (por exemplo, a versão informações, é muito difícil para os funcionários simples do Google) que permitisse reunir todas as informações necessárias para aos usuários apenas digitar a string que sejam tomadas boas decisões. de busca sobre a informação que ele Como não existe um ponto único de acesso às gostaria de encontrar. Esse mecanismo informações, e que permita aos funcionários de busca permite aos usuários localizar trabalhar de forma cooperativa, é bastante as informações espalhadas pela comum existir informações duplicadas na internet. Porém, devido às regras de empresa. Também é comum a revelação de gramática e a características de cada ilhas de conhecimento, supondo que não exista linguagem, nem sempre o resultado uma comunicação eficiente entre os diversos obtido na busca é o que o usuário setores da empresa. Não é de se admirar realmente deseja [Terra & Bax 2005]. que o conhecimento gerado fique atrelado A partir deste momento, para facilitar apenas àquele pequeno grupo da organização ainda mais o acesso às informações, [Parreiras e Bax 2005]. e apresentá-las como resultado Pensando nestas características e em muitas mais próximo das informações que outras que serão apresentadas no decorrer o usuário realmente precisa, foram deste artigo, foi observada a importância de um criadas as categorias. Explicando de aplicativo capaz de centralizar as informações forma simples, categoria nada mais de uma empresa e que permita a comunicação é do que o agrupamento de diversas e cooperação entre funcionários. Com este informações sobre uma área especí- aplicativo, conhecido como Portal Corporativo, fica, por exemplo: acessando o Portal o acesso à informação será facilitado, já que do Yahoo!, e do Terra, você encontrará todas as informações necessárias podem ser categorias como: Tecnologia, Esportes,
  • 8. Empregos. Além da inserção de usuários de negócios, uma única interface web Artigo 01 categorias, que também permite que às informações corporativas espalhadas pela os usuários menos experientes acessem empresa”. informações de forma mais rápida e Para [Eckerson 1999], “Portal de negócios fácil, os portais passaram a permitir é um aplicativo capaz de proporcionar aos a personalização da sua área para usuários um único ponto de acesso a qualquer cada usuário, e foram adicionados informação necessária aos negócios, esteja ela mecanismos que possibilitassem a dentro ou fora da corporação”. Como exemplo, comunicação entre as pessoas, por ele cita um Shopping Center como preferência exemplo: chats, e o correio eletrônico das pessoas, pois, estas sabem que podem [Terra & Bax 2005]. 08 encontrar tudo que precisam em um só lugar. Observando a evolução dos Portais Observando as definições acima, é possível Web, a comunidade corporativa, notar a importância de se conseguir centralizar sabendo da dificuldade de concentra- as informações em um ponto único de acesso ção e dispersão de informação por para que a busca e a inserção de novas toda a empresa pensou: Por que não informações seja facilitado. Porém, conforme utilizar os portais web como mecanismo abordado na introdução, outra característica para organizar e facilitar o acesso às é muito importante para um bom Portal informações e também aprimorar a Corporativo: a possibilidade de comunicação comunicação entre as pessoas e setores entre os usuários, e é pensando nisso que [Murray dentro da empresa? [Dias 2001] A 1999] faz a sua definição, concluindo que “Os partir deste momento, teve início à idéia do Portal Corporativo. portais corporativos devem nos conectar não apenas a tudo de que necessitamos, mas a Por ser um conceito recente, vários são todos que necessitamos, e proporcionar todas os termos que podem ser encontrados as ferramentas que precisamos para que na literatura sobre os Portais possamos trabalhar juntos”. Corporativos, entre eles pode-se citar: Portal de Informações Empresariais [Murray 1999] ainda divide o EIP em quatro (EIP), Portal de Negócios, Portal de classificações: Informações Corporativas, Portal do • Portais de Informações – provêem acesso à Conhecimento, Portal de Negócios, informação; Portal Colaborativo. • Portais Cooperativos – fornecem ferramentas 2.1. O qUE é UM PORTAl de processamento cooperativo; CORPORATIVO • Portais de Especialistas – conectam pessoas, Além de muitos nomes, também é possí- com base em suas experiências e interesses; vel encontrar várias definições sobre • Portais do Conhecimento – combinam todas as esta tecnologia. Serão apresentadas características anteriores. agora algumas destas definições. A partir das definições, podemos afirmar que, Segundo [Shilakes & Tylman 1998], o Portal Corporativo é uma ferramenta capaz “Portais de informações empresariais de aliar o conhecimento explícito contido em são aplicativos que permitem às arquivos, bases de dados, correspondências, empresas libertar informações páginas web, e aplicativos empresariais armazenadas interna e externamente, (dados estruturados e não estruturados) ao provendo aos usuários uma única via conhecimento tácito dos participantes do portal, de acesso à informação personalizada facilitando a troca de informações e a tomada necessária para a tomada de decisões de decisões na empresa. Um ponto positivo e de negócios”. que serve como incentivo para utilização do EIP De acordo com [White 1999], “O nas empresas é o resultado de alguns estudos EIP é uma ferramenta que provê, aos realizados. Estes resultados afirmam que uma
  • 9. empresa pode economizar até uma hora de deve permitir o acesso dinâmico Artigo 01 trabalho por dia para cada funcionário [Terra às informações nele armazenadas, & Bax 2005]. fazendo com que os usuários sempre 2.2. REqUISITOS DE UM PORTAl recebam informações atualizadas. CORPORATIVO • Roteamento inteligente: O portal Como toda solução de TI exige custo para seu deve ser capaz de direcionar estudo, implementação e implantação, será automaticamente relatórios e apresentado agora alguns requisitos listados documentos a usuários selecionados. por Eckerson. Seguindo estes requisitos, será • Ferramenta de inteligência de possível desenvolver um eficiente Portal negócios integrada: Para atender 09 Corporativo. às necessidades de informações dos usuários, o portal deve integrar os De acordo com Eckerson, os Portais Corporativos aspectos de pesquisa, relatório e têm que apresentar as seguintes características análise dos sistemas de inteligência de [Eckerson 2000]: negócios. • Fácil para usuários eventuais: Os usuários • Arquitetura baseada em servidor: devem conseguir localizar e acessar facilmente Para suportar um grande número a informação correta, com o mínimo de de usuários e grandes volumes de treinamento, não importando o local de informações, serviços e sessões armazenamento dessa informação. Encontrar concorrentes, o portal deve basear-se informações de negócios no portal deve ser tão em uma arquitetura cliente-servidor. simples quanto usar um navegador web. • Serviços distribuídos: Para um • Classificação e pesquisa intuitiva: O portal melhor balanceamento da carga de deve ser capaz de indexar e organizar as processamento, o portal deve distribuir informações da empresa. Sua máquina de busca os serviços por vários computadores ou deve refinar e filtrar as informações, suportar servidores. palavras-chave e operadores booleanos, e apresentar o resultado da pesquisa em • Definição flexível das permissões de categorias de fácil compreensão. acesso: O administrador do portal deve ser capaz de definir permissões • Compartilhamento cooperativo: O portal de acesso para usuários e grupos deve permitir ao usuário publicar, compartilhar da empresa, por meio dos perfis de e receber informações de outros usuários. usuário. O portal deve prover um meio de interação entre pessoas e grupos na organização. Na • Interfaces externas: O portal deve publicação, o usuário deve poder especificar ser capaz de se comunicar com outros quais usuários e grupos terão acesso a seus aplicativos e sistemas. documentos/objetos. • Interfaces programáveis: O portal • Conectividade universal aos recursos deve ser capaz de ser “chamado” por informacionais: O portal deve prover amplo outros aplicativos, tornando pública acesso a todo e qualquer recurso informacional, sua interface programável (API – suportando conexão com sistemas heterogêneos, Aplication-Programming Interface). tais como correio eletrônico, banco de dados, • Segurança para salvaguardar as sistemas de gestão de documentos, servidores informações corporativas e prevenir web, groupwares, sistemas de áudio, vídeo, acessos não autorizados: O portal etc. Para isso, deve ser capaz de gerenciar deve suportar serviços de segurança, vários formatos de dados estruturados e não como criptografia, autenticação, estruturados. firewalls, etc. Deve também possibilitar • Acesso dinâmico aos recursos informacionais: auditoria dos acessos a informações, Por meio de sistemas inteligentes, o portal das alterações de configuração, etc.
  • 10. prover um meio de gerenciar todas as desempenho de alguma tarefa; Artigo 01 informações corporativas e monitorar • Possibilidade de troca de informações com o funcionamento do portal de forma clientes, fornecedores, revendedores, etc., centralizada e dinâmica. Deve ser fornecendo uma infra-estrutura informacional de fácil instalação, configuração e adequada também para o comércio manutenção, e aproveitar, na medida eletrônico. do possível, a base instalada de hardware e software adquirida / 2.3. ARqUITETURA BÁSICA DE UM contratada anteriormente pela orga- PORTAl CORPORATIVO nização. Apesar das diversas classificações e formas 10 • Customização e personalização: de implementação dos Portais Corporativos, O administrador do portal deve ser de forma geral, todos seguem a estrutura capaz de customizá-lo de acordo apresentada na figura 1. com as políticas e expectativas da Como pode ser visto, e como citado organização, assim como os próprios anteriormente, esta arquitetura é baseada no usuários devem ser capazes de modelo Cliente (Navegador web) – Servidor personalizar sua interface para facili- (Servidor Web). Observando o lado servidor, tar e agilizar o acesso às informações pode-se observar o Diretório de informações consideradas relevantes. de negócios, local onde estão definidos os perfis Além destes requisitos ainda pode-se dos usuários, e que possibilita personalizar citar [Dias 2001]: a área de trabalho de cada usuário. Pode- • Habilidade de gerenciar o ciclo de se notar também a existência da máquina vida das informações estabelecendo de busca, responsável por facilitar o acesso níveis hierárquicos de armazenamento às informações. Outro ponto interessante é a e descartando as informações ferramenta de assinatura. ou documentos quando não mais Além dessas características citadas, existem necessários; três que valem à pena dar uma atenção • Habilidade de localizar especialistas maior: ferramenta de publicação, analisador na organização de acordo com o de metadados, e interface export/import de grau de conhecimento exigido para o dados. Figura 1. Arquitetura básica do Portal Corporativo [Dias 2001]
  • 11. As ferramentas de publicação Artigo 01 ajudam os colaboradores do portal a adicionar informações de forma estruturada. Note que existe uma relação entre estas ferramentas e o processamento de decisões. Este nada mais é do que programas (por exemplo: data warehouse, inteligência de negócios, mineração de dados) que através das informações armazenadas em Figura 2. Representação de um Portal Corporativo (www.microsoft.com) 11 bancos de dados, auxiliam a tomada de decisões na empresa. O analisador de metadados por sua vez, da criação de workflows e atividades possibilita que os dados não estruturados na empresa. Finalmente o calendário, (por exemplo: e-mails, documentos, arquivos facilitando o gerenciamento das de áudio e vídeo) possam ter uma estrutura atividades. que defina esses dados e permita que estes 3. APlICAÇÃO DOS PORTAIS possam ser encontrados. Neste caso, a relação CORPORATIVOS À GESTÃO DO acontece com as ferramentas de processamento CONHECIMENTO colaborativo, como automação de escritório e groupware. Segundo [Tucker 1999], 10% Para avaliar a aplicação dos das informações existentes nas empresas se portais corporativos à Gestão encontram de forma estruturada, enquanto 90% do Conhecimento, inicialmente são não estruturadas. Porém, apesar deste alto será apresentado o conceito de índice, as informações não estruturadas ainda conhecimento organizacional, além de são desprezadas por muitas instituições. fazer a classificação do conhecimento. Ainda neste ponto, serão esclarecidas Por último, as interfaces de exportação e as diferenças entre dados, informação, importação de dados, que interage diretamente conhecimento e ação (tomada de com a intranet e os sistemas externos da empre- decisão). No próximo ponto, o enfoque sa, tornando possível a troca de informações com será a conversão do conhecimento o meio externo, e com os diversos programas nas organizações. E, por fim, serão existentes na empresa. apresentadas as dificuldades Considerando todas as relações entre os encontradas nas instituições para mecanismos internos do servidor e suas empregar a GC. possibilidades de extensão, fica bastante clara 3.1. O CONHECIMENTO a estrutura básica do EIP. ORGANIZACIONAl A figura 2 demonstra a representação de um Para que se possa compreender ainda Portal Corporativo. Sendo este, identificado mais a definição do conhecimento pelo círculo central. À sua volta, temos imagens que representam as características deste portal. Os membros, que se apresentam com desenhos diferentes representando a possibilidade de personalização. Debates, que permite a comunicação entre os membros. Inquéritos, relacionados com processamento de decisões. Contatos, possibilitando encontrar as pessoas certas para cada necessidade. Documentos, apresentando a possibilidade de o portal aceitar vários tipos de arquivo. Tarefas, possibilidade Figura 5. Escala de valor [Santos e Cerante 2000]
  • 12. organizacional e tentar amenizar informação contextual e insight experimen- Artigo 01 a dificuldade de diferenciação e tado, a qual proporciona uma estrutura para a identificação destes conceitos nas avaliação e incorporação de novas experiências corporações, é importante saber a e informações. Ele tem origem e é aplicado na diferença entre dados, informação, mente dos colaboradores. Nas organizações, ele conhecimento e ação. Observe a escala costuma estar embutido não só em documentos e de valor ascendente da figura 5. repositórios, mas também em rotinas, processos, 12 Figura 6. Conversão do conhecimento [Santos e Cerante 2000] Segundo [Davenport e Prusak 1998], práticas e normas organizacionais”. “dados são um conjunto de fatos Com a definição de conhecimento organizacio- distintos e objetivos, relativos a nal, é preciso agora classificá-lo para eventos que constituem a base para assim poder gerenciá-lo. Segundo Polanyi, a informação”. Os dados podem o conhecimento assume duas categorias: ser obtidos através de registros, tácito e explícito. De acordo com [Nonaka não possuindo nenhum significado se e Takeuchi 1998], “o conhecimento tácito analisados separadamente e não é pessoal, específico ao contexto e assim permitindo a tomada de decisões. difícil de ser formulado e comunicado. Já o De acordo com [Davenport e Prusak conhecimento explícito ou codificado refere-se 1998], informações são “dados dotados ao conhecimento transmissível em linguagem de relevância e propósito”. Isso permite formal e sistemática”. que os fatos possam ser julgados, Observando a definição sobre Conhecimento e assim o receptor das informações Organizacional, será apresentada agora uma possa alterar o seu comportamento a definição da gestão do conhecimento. [Meta depender das informações analisadas Data Coalition 1999] cita que: “Gestão do [Santos e Cerante 2000]. Conhecimento é uma disciplina que promove O conhecimento, “está presente no uma abordagem integrada para identificar, indivíduo, nos grupos ou nas rotinas gerenciar e compartilhar todos os recursos de organizacionais sendo desenvolvido informação de uma empresa, incluindo bancos através da experiência e possibilitando de dados, documentos, políticas e procedimentos assim, uma definição de um histórico que assim como especialidades não articuladas permite o reconhecimento de padrões e experiências residentes na mente de cada para uma tomada de ação mais indivíduo dentro da organização” [Meta Data rápida” [Santos e Cerante 2000]. Coalition 1999]. Concluindo, a ação, que pode ser 3.2. CONVERSÃO DO CONHECIMENTO considerada como “algo que se faz Definido conhecimento organizacional, e com o conhecimento” [Davenport e gestão do conhecimento, será analisado agora Prusak 1998]. o processo de conversão do conhecimento. [Davenport e Prusak 1998] afirmam Este processo possui grande importância na que o conhecimento pode ser definido Teoria da Criação do Conhecimento. Através como: “... uma mistura fluida de da conversão, por exemplo: “o conhecimento experiência condensada, valores, tácito pode ser captado e sintetizado, a
  • 13. fim de que novos conhecimentos possam ser Partindo do pressuposto que todas as Artigo 01 gerados e explorados, enriquecendo a base de empresas enfrentam esses problemas, conhecimentos” [Santos e Cerante 2000]. é notável que a aplicação dos Portais A conversão acontece pela interação entre o Corporativos passe a ser uma excelen- conhecimento tácito e o explícito, e como pode te opção para sanar seus problemas, ser visto na figura 6, isto pode ser feito de e permitir que a empresa esteja quatro formas. De tácito para tácito, a conversão sempre mantendo seus funcionários assume a característica de Socialização bem informados e gerando novos (Conteúdo Compartilhado). Quando a conversão conhecimentos para a organização. é feita de tácito para explícito, recebe o nome 4. CONClUSÃO 13 de Externalização (Conteúdo Conceitual). De Este trabalho teve como objetivo explícito para explícito, ocorre a Combinação, e o estudo dos Portais Corporativos, o conteúdo gerado neste momento é o sistêmico. relacionando com a Gestão do Finalmente, quando a conversão ocorre do Conhecimento. conhecimento explícito para o tácito, dá-se o nome de Internalização (Conteúdo Operacional) Utilizando esta tecnologia, é possível [Santos e Cerante 2000]. centralizar todo o conhecimento (explícito) existente na empresa em 3.3. DIFICUlDADES NA UTIlIZAÇÃO DA um ponto único de acesso. Com esta GESTÃO DO CONHECIMENTO característica, o acesso às informações Muitos são os fatores que dificultam a Gestão torna-se mais fácil, o que permite de Conhecimento nas empresas, por exemplo: a também a tomada de decisões. presença de sistemas não integrados e formatos Além disso, é oferecido ao usuário de arquivos proprietários e incompatíveis. É mecanismos de conversação que muito difícil encontrar uma empresa que possua permitem a troca de conhecimento apenas um software, e isso faz com que seja (tácito) entre eles. necessário desenvolver um ou mais programas Com a possibilidade de socialização, que permitam a utilização destes diferentes tipos externalização, internalização e de arquivo para facilitar a busca de informação combinação do conhecimento, além e o processo de tomada de decisão. de todas as características citadas no Abaixo estão listadas algumas dificuldades: decorrer no artigo, ficam evidenciadas • Arquiteturas diferentes e caras que dificultam a a capacidade dos Portais Corporativos integração de diferentes tipos de informação; em ser uma ferramenta que possibilita a Gestão de Conhecimento dentro das • A dificuldade de acesso ágil à informação; e, organizações. ao mesmo tempo, sobrecarga de informação; • Redundância e duplicação de informações; 5. BIBlIOGRAFIA • Informações e documentos publicados de modo desorganizado, sem controle de fluxo de DAVENPORT, T. H. ; PRUSAK, L. aprovação; Conhecimento Empresarial: Como as organizações gerenciam o seu capital • Diversidade de caminhos, métodos e técnicas intelectual. Rio de Janeiro: Campus, diferentes para buscar e acessar informações; 1998. • Dificuldade para as pessoas publicarem DIAS, Cláudio A. Portal Corporativo: informações acessíveis à empresa como um conceitos e características. Brasília: todo; 2001, v. 30, n. 1, p. 50-60. • Dificuldade de definição ou ausência de ECKERSON, Wayne. Business Portals: políticas de segurança; Drivers, Definitions, and Rules. The Data • Usuários dependentes do departamento de TI Warehousing Institute, Gaithersburg, para gerar, divulgar e obter informação. MD, 1999.
  • 14. ECKERSON, Wayne. 15 rules for Conhecimento no Processo de Desenvolvimento Artigo 01 enterprise portals. Oracle Magazine, de Software. Minas Gerais: Belo Horizonte, 2000 v. 13, n. 4, p. 13-14. 2005. LEME, Murilo O. ; CARVALHO Hélio SANTOS, Elisa G. ; CERANTE Lívia L. Gestão G. Requisitos mínimos para um portal do conhecimento: um estudo para facilitar sua corporativo de gestão do conhecimento. implantação nas empresas. Rio de Janeiro: Paraná: Ponta Grossa, 2004. 2000. META DATA COALITION. Open SHILAKES, Cristopher C. & Tylman, Julie. Information Model -Knowledge “Enterprise information portals”. New York: Management Model-Knowledge Merril Lynch, 1998. 14 Descriptions”. 1999. TERRA, José C. C. ; BAX, Marcelo P. Portais MURRAY, Gerry. The portal is the corporativos: instrumento de gestão de desktop. Instraspect, 1999. informação e de conhecimento. Minas Gerais: NONAKA, I. ; TAKEUCHI, H. Criação Belo Horizonte, 2005. de Conhecimento na Empresa: Como as TUCKER, M. Dark Matter of Decision Making. empresas japonesas geram a dinâmica Intelligent Enterprise: 1999), v.2, n. 13, p. 20-26. da inovação. Rio de Janeiro; Campus, WHITE, Colin. The enterprise information portal 1998. marketplace. Decision processing brief, DP- PARREIRAS, Fernando S. ; BAX, Marcelo 99-02. Morgan Hill, CA: Database Associates P. KMUp: Um Portal para Gestão do International, 1999.
  • 15.
  • 16. A EDUCAÇÃO E A INTERAÇÃO COMO “RETARDO” A ExTINÇÃO Paloma Maria Santos Programa de Pós-Graduação de Engenharia e Gestão do Conhecimento, UFSC paloma@iscc.com.br
  • 17. 1. Introdução viveram e terminaram por inviabilizar Artigo 02 O objetivo deste documento é apresentar as sua própria existência. Punir essas ferramentas para tentarmos evitar, ou ao me- espécies com a sua própria extinção nos retardar a extinção da raça humana na faz parte do processo de seleção face da Terra, que vem sendo constantemente natural. alimentada e estimulada pelo bicho homem, Foi a seleção natural que “criou” o através do seu inadequado comportamento homem. Esse animal, com todo o seu para com o seu semelhante. egocentrismo e arrogância, acredita que pode controlar esse processo de 2. Histórico das espécies seleção, ditando as regras para a De acordo com o biólogo Fernando de Castro humanidade e para o meio ambiente. 17 Reinach (2006), 99,99% de todas as espécies Para quem não acredita que nosso de plantas e animais que já habitaram nosso destino depende de um determinismo planeta estão extintas. De cada 10 mil espécies divino, interferir no processo de nossa que viveram na Terra, somente uma ainda está própria seleção natural talvez seja entre nós. Segundo ele, a biodiversidade entre a atividade humana que mais se as espécies extintas é milhares de vezes maior assemelha ao que classificamos como que a biodiversidade atual. Em linhas gerais, “brincar de Deus” (REINACH, 2006). significa dizer que inevitavelmente todas as espécies irão se extinguir e que, apesar de assustador, aceitar esse fato permite uma melhor compreensão do nosso lugar na história da humanidade. Para o ecologista Les Knight, entrevistado por Vladimir Cunha, a extinção humana pode ser vista como a melhor saída para a humanidade. A partir do momento que pararmos de procriar, as brigas por territórios e recursos naturais irão cessar. Poderemos, inclusive, experimentar um período de saúde, felicidade e abundância de recursos a partir do momento em que formos desaparecendo da face da Terra. Ele diz FIGURA 1: Árvore do conhecimento do bem e do mal que essa é a sociedade utópica com a qual FONTE: http://todahelohim.blogspot.com/2007/10/ rvore-do-conhecimento-do-bem-e-do-mal.html temos sonhado desde que o homem passou a dominar este planeta. Diz ainda que quando E o SENHOR Deus ordenou ao homem: nós desaparecermos, as plantas e os animais “Coma livremente de qualquer árvore se encarregarão de restaurar o equilíbrio do do jardim, mas não coma da árvore do ecossistema. Nossas cidades irão sumir aos conhecimento do bem e do mal, porque poucos até se tornarem apenas traços de uma no dia em que dela comer, certamente civilização que um dia habitou este planeta. você morrerá” (ELOHIM, 2007, citan- Apesar do fato de o fim da humanidade parecer do a Bíblia Sagrada em Gn 2.16-17 ser um tanto quanto radical demais, talvez seja NVI). esta a condição necessária para freiarmos as atrocidades que o bicho homem vem cometendo, 3. Enfermidades do ser humano tanto com relação a “destruição” do seu Infelizmente as condições atuais de semelhante, quanto com relação à destruição nossas sociedades estão atentando da natureza e de seus recursos naturais. contra a plena realização do A nossa extinção pode ser apresentada como altruísmo. A força de coesão para uma forma de punição por estarmos agindo com com os outros seres humanos nunca foi tamanha desumanidade nos dias de hoje. Isso já tão inadequadamente empregada, aconteceu com outras espécies anteriores a nós, eliminando qualquer possibilidade de que causaram estragos no ambiente em que vida social que possa existir.
  • 18. Não existe mais educação, paciência, do outro só será perceptível quando a raça Artigo 02 respeito e sequer interesse em ouvir humana já estiver se extinguido. Nossas atitu- o próximo. Achamos que somos donos des de hoje, se forem persistentes e inertes a da verdade, senhores da razão, e qualquer mudança, nos levarão a extinção. Esse não estamos dispostos a “baixar a histórico que teremos criado através da nossa guarda” e ver que o ser humano só é passagem pela Terra servirá como base de capaz de crescer através da interação conhecimento para as novas espécies. com os outros seres humanos e que isso Os novos “seres” terão a possibilidade de pode ser muito positivo, interessante e começar tudo de novo, não cometendo os gratificante. mesmos erros que hoje estamos cometendo, Estamos certos de que a nossa opinião, tomando por base o que aconteceria se eles 18 de que o nosso posicionamento e a seguissem nossos passos. nossa maneira de agir com relação ao Essa nova espécie de “ser vivo” terá a chance que acontece diariamente em nossas de criar suas próprias formas de conhecimento vidas, são inquestionáveis. Acreditamos e convivência. “Pessoas” sendo criadas com que as nossas verdades são as únicas base no amor, no respeito, na confiança mútua. absolutas, reais e aceitáveis e diante Uma nova “sociedade” surgindo e batalhando, disso negamos nosso semelhante. desde o início, pelo bem comum. José Moran cita Darcy Ribeiro, quando Em “A árvore do conhecimento”, Maturana ele diz que sempre há o que aprender, (1995) fala dos acoplamentos de terceira ouvindo, vivendo e sobretudo, traba- ordem e diz que foi o surgimento de organismos lhando, mas só aprende quem se dispõe com sistema nervoso e sua participação em a rever as suas certezas. Rogers (1983) interações recorrentes que ocasionou tais salienta que se as pessoas são aceitas acoplamentos. Diz que as unidades resultantes e consideradas, tendem a desenvolver geram uma fenomenologia interna particular, uma atitude de mais consideração em em que os organismos participantes satisfazem relação a si mesmas. suas ontogenias individuais, fundamentalmente, Verdades absolutas criam barreiras a segundo seus acoplamentos mútuos na rede de interações recíprocos que formam ao constituir compreensão social mútua e a negação as unidades de terceira ordem. do outro nos desvia desse caminho de entendimento mútuo. Se fôssemos traçar uma linha do tempo com a representação das conseqüências de nossas atitudes de hoje refletidas nos dias de amanhã, chegaríamos a conclusão de que o próprio homem seria o responsável pela extinção da raça humana. Como não existe cooperação com o próximo, não há realização de fenômeno social. Se não há fenômeno social, não há socialização. Se não há socialização, não há interação. Se não há interação, não há comunicação e entendimento. Se não há entendimento, não há relacionamento. Não havendo relacionamento, não há reprodução. Se FIGURA 2: A árvore do conhecimento FONTE: http://www.humanecologyforum.org/blogs/wp-content/up- não há reprodução, não há continuação loads/2007/09/fundamental-laws-of-human-ecology.jpg da linhagem. Não havendo continuação da linhagem, teremos, então, o fim da Esse acoplamento estrutural se dá quando duas raça humana. ou mais unidades autopoiéticas podem ter suas O conhecimento existente na negação ontogenias acopladas no momento em que suas
  • 19. interações adquirem um caráter recorrente ou gera. Foi isso que, em 1968, Maturana Artigo 02 muito estável. chamou de autopoiese. Para exemplificar, Maturana cita o caso do Podemos dizer que nossos órgãos acoplamento social dos antílopes. Ele explica internos “se respeitam” e que se que o rebanho se desloca numa formação que “relacionam” com o restante do nosso tem o macho dominante à frente, seguido pelas organismo de forma cooperativa, ten- fêmeas e filhotes. Por último seguem os outros do como objetivo final o perfeito funcio- machos do rebanho, um dos quais fica para trás, namento do nosso sistema nervoso. sobre o topo mais próximo, vigiando o intruso Mas por que nós, externamente, como enquanto os demais descem. Tão logo alcancem seres humanos, não conseguimos agir a nova elevação, junta-se a eles. sempre de forma cooperativa para 19 A conduta do antílope ao se retardar está com nossos semelhantes? relacionada a conservação do grupo e expressa A relação que existe para com o características próprias dos antílopes em seu outro é de poder e não de amor, de acoplamento grupal, uma vez que o grupo existe bem comum. Não cria-se vínculo de como unidade. Ao mesmo tempo, todavia, essa amizade, de respeito, de cooperação. conduta altruísta para com a unidade grupal Parece mais uma corrida contra o se realiza no antílope individual como resultado tempo, para ver quem pode mais, do seu acoplamento estrutural no meio que quem manda mais, numa furiosa e envolve o grupo, e expressa a conservação da severa competição. Competição pelo sua adaptação como indivíduo (MATURANA, ser, pelo ter. 1995). Nós vivemos hoje como se não existisse Maturana salienta ainda que os organismos, o amanhã. Passamos por cima de tudo ao acoplarem-se estruturalmente em unidades e de todos para satisfazer nossos de ordem superior (com seu próprio domínio desejos, alcançar nossos objetivos, de existência), incluem a manutenção dessas como se nada pudesse nos atingir. estruturas na dinâmica de sua própria Não nos permitimos alcançar uma manutenção, estabelecendo um equilíbrio entre convivência criativa, pois diante da individual e o coletivo. diferença com o outro geralmente O ser humano infelizmente não permite que reagimos de forma intolerante, tais acoplamentos ocorram na sua espécie, pois impaciente e até mesmo cruel, impon- para que isso acontecesse, seria necessário do, muitas vezes de maneira agressiva, interagir com os outros, agregar o conhecimento nossa posição a respeito de tudo. dessa experiência ao seu próprio conhecimento Preferimos fomentar o rancor e perder e, a partir de então, apresentar novas condutas a oportunidade de trocar experiências perante aos semelhantes e a sociedade. cotidianas e aprender com o outro. Numa entrevista concedida ao programa “Roda O ser humano parece ter medo Viva” da TV Cultura de São Paulo, Edgar Morin de compartilhar o seu saber, os diz que devemos aprender a conviver com seus conhecimentos com os outros as diferenças, integrando as demais culturas seres humanos. Ele acredita que ao e opiniões. Isso não significa que precisamos compartilhar suas idéias e opiniões, desintegrar a nossa própria cultura. estará abrindo a possibilidade de Sabemos que o ser humano é um ser complexo, tornar o outro tão “bom” quanto ele tanto interna quanto externamente. Suas rela- acredita que ele é. O ser humano não ções assim também o são. Em condições normais quer ter que se relacionar com alguém de saúde, o ser humano é capaz de produzir superior. Ele prefere se fechar num todas as substâncias e componentes necessários mundo que só existe em sua própria para que, biologicamente, sua organização cabeça e continuar sendo o “rei”, o interna como ser vivo funcione. Essa organização dono da verdade, sem nunca perder é vista como um operar circular fechado de a majestade. produção de componentes que produzem a Parecemos estar cegos aos “desastres” própria rede de relações e componentes que os que estão ocorrendo em nossa soci-
  • 20. edade e infelizmente ainda não nos Artigo 02 demos conta de que somos nós mesmos que estamos ocasionando tudo isso. Cada um de nós contribui, a sua manei- ra, para que o nosso mundo seja o que é, um mundo pelo qual cada vez é mais difícil sentir admiração e respeito pelo outro, numa condição que, como bem FIGURA 3: Proposta da epistemologia sabemos, torna tudo ainda mais difícil. FONTE: http://www.wikipedia.org/ Essa tragédia não está ocorrendo de reconhecimento da verdade (WIKIPÉDIA, 20 apenas entre o ser humano e seu 2008). semelhante. O desrespeito ocorre Para que sejamos capazes de desenvolver uma também entre o ser humano e a identidade pessoal e ecológica, precisamos fo- natureza. Volpi salienta que não car nossos esforços na educação e no processo de podemos restaurar a saúde mental educar. É preciso promover uma transformação humana e o nosso bem estar, se não interna a vivência da humanidade, começando restaurarmos a saúde do planeta e pela reflexão aplicada a própria transformação para entendermos as enfermidades individual. da “alma”, talvez tenhamos que, antes de tudo, entender as enfermidades do 4. O processo de educar mundo. Ele acredita que seja preciso José Volpi (2007) ao citar Reich, diz que reintegrar a mente humana à natureza só as crianças valem à pena e é somente na de forma a reconectar nosso eu mais criança que temos a possibilidade de encontrar profundo às raízes de onde surgimos, o cerne saudável da humanidade. Ele afirma de forma a reavivar a energia e o que o destino da raça humana dependerá das afeto que existe em cada ser humano estruturas de caráter das crianças do futuro. no intuito de cuidar e de preservar, no “Em suas mãos e em seus corações repousarão lugar de abandonar ou destruir. as grandes decisões”. Precisamos mais do que nunca conhecer As crianças constroem boa parte de sua o ser humano, descobrir por que os identidade já na gestação e, com o passar dos sentimentos que mais afloram nele anos, elas vão moldando essa característica são o rancor, a raiva e o ódio, a através do temperamento, do caráter e da ponto de querer destruir seu próprio personalidade de cada uma. Psicologicamente semelhante e a natureza. Com base falando, a identidade representa a indivi- nessa discussão, José Volpi apresenta dualização de uma pessoa. Ela contém aspectos em sua tese a ecopsicologia, que é um biológicos (temperamentais) que são adquiridos dos fundamentos epistemológicos que geneticamente, bem como sociais e psicológicos, sugere o encontro entre a ecologia e que são moldados durante as etapas do a psicologia e que tem como objetivo desenvolvimento. despertar a consciência ecológica a Para que essas crianças tenham maiores chances partir da sensibilização do ser humano de se tornarem seres humanos conscientes, elas para amar a si mesmo, a seu semelhante precisam ser criadas em ambientes de muito e a natureza, da qual ele é parte, e amor, carinho, afeto e respeito. não proprietário. Volpi acredita que a criança deveria ser livre A epistemologia ou teoria do conhe- para expressar seus desejos, sem receber para cimento (do grego “episteme”, “co- isso as punições provindas de uma educação nhecimento”; “logos”, “discurso”), é severa que pune uma pequena travessura com um ramo da filosofia que trata dos castigos extremistas. Essas punições geram problemas filosóficos relacionados um comprometimento emocional de tal ordem à crença e ao conhecimento. A epis- que a criança, sem medir as conseqüências de temologia também estuda os critérios seus atos, irá buscar os mais fracos para “se
  • 21. vingar”. para a edificação da vida humana Artigo 02 Elas aprendem desde cedo a dominar os mais sobre a base da reflexão e do saber. fracos, sejam seus irmãos menores, seus animais Para eles a filosofia aparece como e até mesmo seus brinquedos. Além de algumas auto-reflexão do espírito a respeito vezes não receberem o afeto que tanto desejam de seus mais altos valores teóricos e e necessitam, muitas vezes essas crianças são práticos, os valores do verdadeiro, do estimuladas pelos próprios pais a competir, bom e do belo. serem as melhores e passarem para trás todos Reflexão, segundo o dicionário da que estiverem à sua frente, custe o que custar. língua portuguesa, é o retorno do Agindo dessa maneira, as crianças acreditam pensamento sobre si mesmo, com vista que serão valorizadas e que conseguirão a examinar mais profundamente uma 21 ganhar a atenção e o “afeto” tão sonhados. idéia, uma situação ou um problema. Essa atitude de domínio e tortura para com Para a educação feita na escola, membros da mesma espécie sem motivo José Manuel Moran enfatiza que essa explícito, com o objetivo único de alcançar o educação precisa incorporar mais as próprio prazer, é uma característica exclusiva dinâmicas participativas como as de do ser humano. auto-conhecimento (trazer assuntos A educação, tanto nossa quanto das nossas próximos à vida dos alunos), as de crianças, deve se basear na aventura do conhe- cooperação (trabalhos de grupo, de cimento como culminância de um esforço bem criação grupal) e as de comunicação dirigido, “conhecido por criar” num entendimento (como o teatro ou a produção de um social que ainda não existe. A criação é sempre vídeo). uma nova etapa, construída com materiais De acordo com Maurício Bastos, o auto- velhos. Para Maturana e Varela, criar o conhe- conhecimento nos propicia a retirada cimento, o entendimento que possibilita a dos véus (personagens, máscaras) que convivência humana, é o maior, mais urgente, criamos no cotidiano de nossas vidas, mais grandioso e mais difícil desafio com que se possibilitando o encontro real com a depara a humanidade atualmente. nossa verdadeira essência. Para Paulo Freire (2000), ensinar não é transferir Ele diz que quanto maior o auto- conhecimento, mas criar as possibilidades para a conhecimento, maior a possibilidade sua produção ou sua construção. Ensinar também de escolhas, de livre-arbítrio. Saímos é um caminho de aprendizagem. “Quem ensina da condição de vítima da vida e aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao passamos a ter total autoria do viver. aprender”. Quando temos a possibilidade da Na mesma linha está o Piaget, citado por Macedo escolha, podemos chegar ao caminho (2006), que acredita que o conhecimento não da realização através do amor, se transmite, repassa, adquire ou ensina, mas alegria, compreensão e do perdão. se constrói. Edgar Morin (2000) complementa, dizendo que o conhecimento não pode ser baseado em cálculos, mas sim no sentimento, no amor. Nem mesmo o racional existe sem emoção. A construção desse conhecimento se dá não a partir de uma atitude passiva e sim através da interação. Para que haja interação, é preciso que haja confiança mútua recíproca. Maturana acredita que este é o fundamento do viver social. O ser humano só pára para refletir quando uma interação se apresenta de maneira diferente, não óbvia. Pensadores como Sócrates e Platão apresen- FIGURA 4: Auto-conhecimento taram seus pensamentos e energias voltados FONTE: http://www.espacointegracao.com.br
  • 22. Através do auto-conhecimento pode- para que eles tenham respeito por si mesmos Artigo 02 mos ampliar a nossa percepção sobre e acreditem em si; que percebam, sintam e a vida, melhorando a qualidade as aceitem o seu valor pessoal e o dos outros. nossas relações e nos possibilitando Assim será mais fácil aprender e comunicar-se viver de uma forma mais autêntica e com os demais. Sem essa base de auto-estima, saudável. alunos e professores não estarão inteiros, plenos “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o para interagir e se digladiarão como opostos, Universo” (oráculo de Delfos, da Grécia quando deveriam ver-se como parceiros. Antiga, citado por BASTOS). Quanto mais ricas forem as redes de interação construídas através da educação comunicativa, mais nos realizaremos como pessoas e mais úteis 22 nos tornaremos para os grupos e organizações aos quais nos vinculamos. 5. Considerações finais A situação que se apresenta aqui se não fosse trágica, seria cômica: o homem precisa reduzir a destruição que ele mesmo vem causando no planeta. Se a extinção da raça humana, como diz FIGURA 5: Ruínas do Templo de Apolo em Delfos FONTE: http://historia7-penedono.blogspot.com/2007/02/ Reinach, é inevitável, precisamos ao menos tentar orculo-de-delfos.html retardar esse processo o maior tempo possível. É Precisamos ajudar as crianças a de- com foco na educação e na interação para com senvolverem o potencial que elas têm, nossos semelhantes que conseguiremos iniciar o respeitando suas possibilidades e limi- processo de recuperação do ser humano. tações. Moran diz que precisamos Precisamos trabalhar de forma ativa na praticar a pedagogia da compreensão construção da identidade de nossas crianças, contra a pedagogia da intolerância, dando todo o suporte para que elas possam da rigidez, a do pensamento único, da dar seqüência a essas mudanças que estamos desvalorização dos menos inteligentes, propondo hoje. dos fracos, problemáticos ou “per- Não podemos esquecer também de nossos dedores”. Praticar a pedagogia da mestres, que são peças fundamentais na inclusão, partindo do princípio de que construção desses “novos seres humanos”. É a inclusão não se faz somente com os necessário trabalhar o auto-conhecimento e que ficam fora da escola. Muitos alunos a auto-estima desses professores, para que são excluídos pelos professores e eles aprendam a ter respeito por si mesmos colegas dentro da própria escola. São e acreditem em seu potencial, que perce- excluídos quando nunca falamos deles, bam, sintam e aceitem seu valor perante a quando não os valorizamos, quando sociedade. os ignoramos continuamente. São ex- Eles precisam incorporar em suas metodologias cluídos quando supervalorizamos as dinâmicas participativas de auto-conheci- alguns, colocando-os como exemplos mento, de cooperação e de comunicação, para em detrimento de outros. São ex- despertar nos seus alunos o interesse pela cluídos quando exigimos de alunos construção do conhecimento, que, como vimos, é com dificuldades de aceitação e de dado através da interação com o outro. rela-cionamento, resultados imediatos, Cassandra Ribeiro (1998) cita Margulies (1996), metas difíceis para eles no campo quando ele diz que enquanto o professor (e o emocional (MORAN). projetista) não puder aprender antes de ensinar, Ninguém dá o que não tem. Baseado enquanto não possuir os meios de procurar nisso, Moran salienta que é necessário antes de apresentar, ele será apenas uma peça trabalhar também o auto-conhecimento enferrujada na máquina da educação. e a auto-estima dos professores, Essa educação só poderá cumprir a sua função
  • 23. fundamental, se for capaz de promover uma necessários à prática educativa. 15. Artigo 02 mudança social, levando em conta que a ed. São Paulo : Paz e Terra, 2000. educação não possui o poder de transformar o LIMA, S. Disponível em: <http://www. mundo, mas pode transformar as pessoas para pensador.info/autor/Samuel_Lima/>. se engajarem nessa tarefa (VOLPI, citando Acesso em: 28/05/2008. Paulo Freire). MACEDO. L. de. O ancestral humano Aquele que for capaz de se adaptar a essas e o futuro da humanidade. Disponível mudanças que necessariamente precisam em: <http://www.aejhp.org.br/main. ocorrer na nossa humanidade, vai sobreviver. asp?cat=artigos&id_artigo=57>. Trata-se da questão de sobrevivência não do Acesso em: 31/05/08. mais capaz, mas sim da sobrevivência daquele MATURANA R., Humberto; VARELA G., 23 que for capaz. Francisco. A árvore do conhecimento: A libertação do ser humano está no encontro as bases biológicas do entendimento profundo de sua natureza consciente consigo humano. Campinas: Psy II, 1995. mesma. 281p. O caminho da liberdade é a criação de circuns- MORAN. J. M. Bases para uma educação tâncias que libertem no ser social seus profundos inovadora. Disponível em: <http:// impulsos de solidariedade para com qualquer www.eca.usp.br/prof/moran/bases. ser humano. htm>. Acesso em: 30/05/08. A educação gera o conhecimento e o conhe- Programa Roda Vida. São Paulo: TV cimento gera a sabedoria. Só um povo sábio é Cultura, 18/12/2000. capaz de mudar seu destino (LIMA). REINACH, F. Brincando de Deus. Disponível em: <http://www.reinach. Referências bibliográficas com/Estado/Colunas/108--15-nov- BASTOS, M. Auto-conhecimento. Disponível em: 2006.doc>. Acesso em: 22/05/08. <http://www.espacointegracao.com.br/auto_ ROGERS, Carl Ransom (1983) Um Jeito conhecimento.htm>. Acesso em: 01/06/08. de Ser. São Paulo: EPU CUNHA, V. O Homem vale menos do que uma SILVA, C. R. de O. e. Bases Pedagógicas bactéria. Disponível em: <http://www.rizoma. e ergonômicas para a concepção e net/interna.php?id=159&secao=conspirologia avaliação de produtos educacionais >. Acesso em 22/05/08. informatizados. Florianópolis, 1998. Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível Disponível em: <http://www.eps.ufsc. em: <http://www.priberam.pt/dlpo/definir_ br/disserta98/ribeiro/cap2.html>. resultados.aspx>. Acesso em: 28/05/2008. Acesso em: 30/05/08. ELOHIM, T. A árvore do conhecimento do bem VOLPI, J. H. Fundamentos e do mal. Disponível em: <http://todahelohim. epistemológicos em direção a uma blogspot.com/2007/10/r vore-do- ecopsicologia. Curitiba, 2007. conhecimento-do-bem-e-do-mal.html>. Acesso WIKIPÉDIA – Enciclopédia livre. em: 30/05/08. Disponível em: http://www.wikipedia. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes org/>. Acesso em: 02/06/08.
  • 24. A Cultura Orientada à Artigo 03 Aprendizagem “Aprender me alegra porque me capacita a ensinar.” Sêneca 24 Saulo Figueiredo Diretor da Soft Consultoria, Professor de Pós Graduação e MBA da FASP. sfigueiredo@soft.com.br
  • 25. Com a rápida obsoles- resulta em algum tipo de capacitação Artigo 03 cência do conhecimento e ou iniciativa de aprendizagem, qua- as fortes pressões compe- se sempre identificada a começar titivas o aprendizado na pela avaliação dos desafios de medida e no tempo certo se negócios, problemas, expectativas tornou fundamental ao sucesso dos clientes e interesses alvos da no mundo dos negócios. As pessoas empresa. Embora grande parte do conscientizam-se dia-a-dia que para se esforço de aprendizagem nas em- manterem úteis e com oportunidades de traba- presas exista pela capacitação lho, necessitam aprender durante toda a vida. interna dos talentos, dependendo da estratégia, oportunidades de apren- 25 Por não existir conhecimento sem aprendizagem dizagem devem ser oferecidas à a relação entre gestão do conhecimento e parceiros de negócios, distribuidores e aprendizagem é bastante simples de explicar. fornecedores. Entretanto não é a maioria das empresas que compreende o quanto a gestão do conhecimento O levantamento da realidade e dos pode ajudá-las a direcionar estrategicamente desafios corporativos permite planejar o foco do desenvolvimento dos colaboradores, iniciativas de gestão do conhecimento a consolidar uma Cultura Orientada à Apren- eficazes, sendo necessário diversificar dizagem e assim, superar os desafios da as formas de obtenção e entrega do capacitação contínua e estratégica. saber em função de peculiaridades tais como: estratégia alvo, aplicação E neste contexto, todo gerente deve se empenhar do conhecimento, diferentes hábitos e estimular os processos de aprendizagem, quer de consumo de informação e sejam formais ou informais, prover os meios e os aprendizagem, diferentes culturas, recursos necessários para desenvolvimento das localização e distribuição dos apren- pessoas, criar ambientes favoráveis, permanecer dizes, processos de transferência de atento para empreender oportunidades de conhecimento requeridos, as diferentes ampliação do conhecimento, aprendizagem necessidades de uso do conhecimento, individual e coletiva, compartilhamento de canais e audiências existentes. conhecimentos, e se sentir responsável pela criação de interfaces e encontros que resultem A superação dos desafios de sobre- em aprendizado útil aos negócios, assumindo o vivência no mundo dos negócios exige compromisso e a responsabilidade pela apren- não só a criação e a manutenção de dizagem organizacional. programas de aprendizado arrojados com foco nas Competências Essenciais, Sua atenção perene deve considerar e com- mas principalmente o fortalecimento preender como as pessoas aprendem na de uma Cultura Organizacional Orien- empresa, seus hábitos de aprendizagem e os tada para o Aprendizado e aplicação meios disponíveis para promover o ensino e efetiva do saber. a aprendizagem organizacional. Espera-se Acompanhando a mesma velocidade como resultado desta compreensão e atuação, das mudanças de nossos dias, a a construção de uma cultura que valoriza o correção de posturas e a incorporação aprendizado em todos os aspectos. Fazem de conhecimentos e competências pre- parte desta escolha inteligente, uma infra- cisam ocorrer na empresa. Circuns- estrutura física e tecnológica adequada, tancialmente, muitas vezes não é procedimentos e posturas gerenciais coerentes possível tirar as pessoas da empresa, e cultura comportamental dos funcionários, confiná-las em uma sala de aula favoráveis em todos os aspectos, ao aprendizado e promover o aprendizado formal estratégico. necessário. Isso não significa que os Grande parte da demanda relevante e com treinamentos convencionais deixam de propósito real para a Gestão do Conhecimento ser importantes e realizados, mas que
  • 26. também ocorram diaria- o aprimoramento dos conhecimentos, lapidando mente no próprio ambiente o futuro de todos. Não por acaso, com razoável de trabalho. freqüência constato que as empresas de maior sucesso são exatamente aquelas cujos ambientes Apontar anualmente o número são propícios à aprendizagem tanto formal horas consumidas em treinamento quanto informal. A cultura orientada para pelos funcionários e publicá- aprendizagem também favorece o surgimento las em relatórios financeiros não dos questionamentos feitos pelos colaboradores significa muita coisa aos acionistas, e consequentemente as melhores reflexões e aos funcionários e nem mesmo ao respostas como fruto, as parcerias e alianças sucesso da empresa. O que garante estratégicas em torno do saber e a revisão 26 que aprenderam? O que garante dos processos (os tornando mais “inteligentes”), que aprenderam a coisa certa? O das linhas de negócios, produtos e serviços, que garante que aprenderam na ao contrário de simplesmente obedecer e hora certa? Além das iniciativas reproduzir velhas práticas. de capacitação tradicionais, será preciso desenvolver ambientes cuja Nesse ambiente ideal, as iniciativas de aprendizagem ocorra informalmente, treinamento são vinculadas aos desafios e livre entre as pessoas. Em outras objetivos estratégicos e as pessoas entendem palavras, em alguns casos, será preciso a razão pela qual são submetidas a novos criar uma empresa essencialmente no- desafios de aprendizagem, tendem a ir va, onde todos aprendam com todos, espontaneamente atrás dos conhecimentos e a o tempo todo, sem ter que agendar criar iniciativas próprias de aprendizagem, a um dia para aprender. E este deve gerir suas próprias experiências de modo que ser o ambiente alvo alavancado pela produzam conhecimentos nos colegas e sabem Gestão do Conhecimento e toda sua contextualizar o resultado da aprendizagem coerência gerencial. à aplicação prática, tendo um aproveitamento muito maior. Além disso, as iniciativas são Nossas instituições necessitam de clima moldadas e planejadas não só para prover o favorável, pessoas abertas a ensinar conhecimento às pessoas, mas também, para e ansiosas por aprender, ferramentas, identificar novos talentos, competências e estímulos e reconhecimento. Esta cultura líderes. orientada para a aprendizagem valoriza os colaboradores que com Por meio de arranjos espontâneos e mutantes, freqüência e espontaneamente exer- o ambiente de cultura favorável é capaz não cem ora o papel de “mestre”, ora o só de informalmente disseminar e multiplicar de aprendiz, que oferecem e pedem o conhecimento, mas manter a empresa em ajuda, que dizem eu não sei, que pro constante estado de alerta, pronta e preparada - ativamente aprendem e que exer- para a inovação e para reconfigurações de si mesma se necessário. citam em benefício dos stakeholders o pensamento, a reflexão, os ques- Com reflexo bastante positivo, a cultura tionamentos, a participação, a curio- orientada para aprendizagem alavanca sidade, o interesse e a aplicação efe- a espontaneidade e estimula os processos tiva dos conhecimentos. informais de ensino respondendo a desafios pontuais da empresa. Podemos definir a A aprendizagem definitivamente é aprendizagem informal na empresa como fruto do ambiente. o processo pelo qual as pessoas aprendem A cultura orientada para aprendiza- e ensinam mutuamente, trabalhando em gem cria condições para que as pessoas grupo, compartilhando o que sabem de modo aprendam e construam efetivamente o presencial, ou à distância pela rede, por e-mail conhecimento a partir das experiências. ou telefone, trocando seus conhecimentos umas Estimula e valoriza a pesquisa, a busca, com as outras, através das diversas relações
  • 27. seja para solucionar um • processos de comunicação eficazes; Artigo 03 problema, prestar um ser- • Empowerment; viço ou melhorar um pro- cesso. • infra-estrutura tecnológica favorável: Intranet (Portal Corporativo), Extranet, A aprendizagem informal tem Internet, iniciativas de groupware, e-mail, forte influência e reflexo na bases de informações, ferramentas de competitividade de uma empresa, comunicação, chat, ensino à distância, daí a sua grande importância. As empresas sistemas para colaboração e de tendem a ser mais competitivas a medida que informação em geral, etc...; mais rapidamente aprendem coisas relevantes 27 e quanto melhor criam arranjos, embalam e • competências de grupo (comunicação, fornecem (entregam) esses conhecimentos, ou liderança, confiança); melhor, o resultante destes ao mercado. O sucesso • processos de cooperação bem da aprendizagem informal, dependendo da definidos para trabalho coletivo, empresa, exige o desenvolvimento não só de desenvolvimento de projetos e de infra-estrutura tecnológica adequada, mas forças-tarefas; também do desenvolvimento nas pessoas de • ambiente favorável; hábitos e comportamentos de cooperação, ensino, aprendizagem, interesse, trabalho em • competências gerenciais; grupo, comunicação eficaz e etc, todos muito • definição de desafios, metas e ob- dependentes da cultura organizacional. jetivos mobilizadores; Nesse sentido, cada vez com maior freqüência, • espírito de corpo, e as empresas adotarão instrumentos e soluções tecnológicas para motivarem e viabilizarem • encontros e oportunidades de traba- aprendizagem informal. Além disso, em número lho em grupo. também cada vez maior, as empresas adotarão Aprender é um processo. Ensinar iniciativas e indicadores para medição da também pode ser. performance de aprendizagem e ensino Um outro desafio da gestão da apren- informal, dedicados a medir e avaliar o interes- dizagem é oferecer oportunidades se, a participação e os índices de agregação para que os próprios funcionários de valor em relação a criação, transferência possam oferecer e entregar formal- e utilização do conhecimento relevante. Estes mente suas competências a outros indicadores revelarão o quanto cada pessoa funcionários da empresa. Nesse caso colabora para criação do conhecimento é preciso organizar e gerir cada organizacional, o quanto cada um colabora com oportunidade de encontro e treina- os trabalhos em grupo, prontidão de respostas, mento. A maioria dos funcionários, resolução de problemas, aprendizado ou no normalmente aprecia a possibilidade ensino em grupo, revelando o quanto cada de “dar aulas” e ensinar seus colegas. um reutiliza do conhecimento armazenado, Na Soft Consultoria, empresa para economiza de tempo e dinheiro, o quanto cada qual eu trabalho, os funcionários um é produtivo no uso das informações e etc... são constantemente incentivados a A aprendizagem informal e expontânea são ser instrutores de seus colegas nos intrínsecas ao ser humano, porém funcionam programas de treinamento. melhor a partir da criação de facilitadores. Na Para algumas empresas transformar empresa, os facilitadores mais comuns são: a prática de ensino em rotina é mais • Cultura organizacional favorável; urgente. Em empresas de consultoria, por exemplo, onde há acentuada • Motivação, reconhecimento e estímulo; urgência na obtenção e aplicação do • valorização das interfaces e relações sociais; conhecimento, a adoção deste modelo
  • 28. em que todos assumem para ensinar. Como diz o ditado, ninguém é e alternam constante- tão grande que não possa aprender e nem tão mente os papeis de pequeno que não possa ensinar. aluno e professor para “Nós temos que aprender a fazer, e o transferência e dissemina- aprendemos fazendo.” Aristóteles ção rápida do conheci- mento, é de vital importância à Outro aspecto da aprendizagem relacionada sobrevivência. Um modelo tradicional a gestão do conhecimento, é que as pessoas de desenvolvimento de pessoas, não aprendem muito mais facilmente praticando e garantiria a velocidade e o aprendi- aprendem muito mais com outras pessoas do que 28 zado necessário para este tipo de sozinhos. Tanto as interações e relações entre as empresa, reduzindo suas chances pessoas, quanto a relação das pessoas e o meio de sucesso. A partir deste modelo de em que vivem, envolvendo tudo aquilo que as cultura orientada à aprendizagem, as cercam e as estimulam, têm muito a oferecer em empresas conseguem o mais eficiente termos de potencial de aprendizado e criação aprendizado interativo, fazendo com de conhecimento. que as trocas de experiências entre O aprender fazendo é muito eficaz, e pela seus colaboradores sejam efetivadas facilidade de contexto, faz da empresa um dinâmica e rapidamente, gerando os ambiente ideal à aprendizagem conjugada com conhecimentos necessários à manutenção a aplicação efetiva do saber. As organizações e criação dos diferenciais competitivos. oferecem favoráveis condições para o “apren- Ensinar é o melhor estilo de aprender. der fazendo” com inúmeras vantagens, pois permitem que seus aprendizes testem e Você deve estar se perguntando: E apliquem o aprendizado, pondo em prática os aqueles que não possuem habilidades conhecimentos obtidos. e não “levam jeito” para ensinar? Na empresa hoje em dia, quem não souber O método mestre-aprendiz (imagine um músico ensinar deve procurar aprender isso ensinando um garoto a tocar violino), surgindo muito rapidamente. As empresas que como iniciativa formal ou informal dentro já apreciam, passarão a valorizar da gestão do conhecimento, pode também ainda mais aqueles que sabem ensinar superar as necessidades de produção de e sabem transferir seus conhecimentos. conhecimentos nas instituições. Na empresa, em Certamente com a mesma intensidade muitas circunstâncias diferentes, quase sempre desprezarão aqueles que se dizem encontramos a figura de um “mestre” e de pelo e se mostram incapazes de ensinar menos um aprendiz, que aprende fazendo, e colaborar com seus amigos de copiando, imitando e interagindo com este trabalho. primeiro. O que a Gestão do Conhecimento faz é replicar e reproduzir este processo onde quer Não são todos que reúnem condições que o esforço se justifique pelo saber. satisfatórias e facilidades para ensinar. Nem todos se transformarão Este método, muito dependente da experi- nos melhores instrutores da noite para mentação, a partir do orientar e fazer, oferece dia. Mas ensinar é o melhor estilo de facilidades para a produção e assimilação aprender. Saber ensinar na empresa, dos conhecimentos alvos. Não considerar na passa a ser um atributo bastante empresa o potencial das transferências de apreciado, valioso e um precioso conhecimentos pelo método mestre aprendiz, diferencial a ser apresentado pelos pode resultar na extinção de conhecimentos talentos. Felizmente, não existe nada relevantes complexos, que não poderiam ser que impeça uma pessoa normal de facilmente documentados e transferidos por desenvolver habilidades e técnicas meio da codificação.