O artigo discute portais corporativos e como eles podem ser usados para gestão do conhecimento. O autor define portais corporativos, lista seus requisitos e benefícios, e explica como eles podem centralizar informações e facilitar a comunicação entre funcionários de uma empresa.
Case do Grêmio publicado na revista Case Studies nº96 em 2013 - case de mark...
Gestão de conhecimento, portais corporativos e avaliação de ativos
1. ISSN 1981-5751
A Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. nº 07. agosto de 2008
A Revista da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. nº 07. agosto de 2008
PORTAIS CORPORATIVOS E A GESTÃO DO CONHECIMENTO
A CULTURA ORIENTADA À APRENDIZAGEM
O COMÉRCIO INTERNACIONAL DO CONHECIMENTO
2. SUMÁRIO
Editorial
Por Elisabeth Gomes.
04
Artigo 01
Portais corporativos e a Gestão do Conhecimento.
06
Por Eduardo Oliveira Spínola.
Artigo 02
A educação e a interação como “retardo” a extinção.
16
Por Paloma Maria Santos.
Artigo 03
A Cultura Orientada à Aprendizagem.
24
Por Saulo Figueiredo.
Artigo 04
O comércio internacional do conhecimento.
30
Por Marcelo Ribeiro Goraieb.
Artigo 05
Avaliação de ativos intangíveis.
36
Por Márcio Lago Couto.
Artigo 06
Biblioteca Multimídia da ENSP,
41
2ª versão permite que usuários incluam documentos.
Por Ana Paula Bernardo Mandonça, Ana Cristina da Matta Furniel,
Maria Elisa Andries dos Reis e Rosane Mendes.
Resenha do livro
Gestão de conteúdo como apoio à Gestão de Conhecimento.
43
Por Eduardo Lapa
Agenda
Eventos Internacionais
45
Direto das SBGCs e Núcleos Regionais 46
Palavra da SBGC
Por Heitor Pereira
48
3. Expediente
EXPEDIENTE
Uma publicação da: Rivadávia Correa Drummond de
SBGC – Sociedade Brasileira de Alvarenga Neto
Gestão do Conhecimento Roberto Pacheco
www.sbgc.org.br Rodrigo Baroni
Serafim Firmo de Souza Ferraz
Silvio Aparecido dos Santos
03
Integrantes Permanentes do Sonisley Machado
Conselho Científico da SBGC Walter Félix Cardoso Jr.
Presidente:
Maria Terezinha Angeloni REVISTA GC BRASIL
Editora-Chefe:
Alberto Sulaiman Sade Júnior
Elisabeth Gomes
Aline França de Abreu
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Eduardo Moresi
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Raquel Balceiro
Resilda Rodrigues Tecle conosco:
Ricardo Roberto Behr gcbrasil@sbgc.org.br
4. Editorial
04
EDITORIAL
Prezados leitores,
Já são 22hs de uma terça feira chuvosa, aqui na cidade do Rio de Janeiro onde resido. Mais
precisamente no bairro da Urca, perto do Pão de Açúcar. Com uma vista privilegiada para
o Bondinho e para a Praia Vermelha, com certeza não me deveria faltar inspiração para
escrever o editorial deste número. Mas, pasmem... está faltando sim. Já reli os artigos, as
notícias, a resenha, milhões de vezes e, são tão bons, que não sei por onde começar a dizer
a vocês qual o primeiro a ser lido. Sendo assim vou começar aleatoriamente......
Neste número temos um artigo sobre Portais Corporativos e a Gestão do Conhecimento
de Eduardo Oliveira Spínola, onde o autor apresenta o que é um Portal Corporativo, seus
tipos, como desenhar uma arquitetura de informação e como usar esta ferramenta poderosa
de comunicação e estratégia para uma empresa. Em seguida temos um texto de Paloma
Maria Santos, que aborda a educação e a interação como “retardo” a extinção, objetivando
apresentar as ferramentas para tentarmos evitar, ou ao menos retardar a extinção da raça
humana na face da Terra, que vem sendo constantemente alimentada e estimulada pelo
bicho homem, através do seu inadequado comportamento para com o seu semelhante. Vale
conferir a leitura e se perguntar, se realmente isto está acontecendo. É um artigo denso, e
que merece toda a atenção.
Prosseguindo na nossa revista, vamos encontrar o artigo de Saulo Figueiredo sobre Cultura
Orientada a Aprendizagem. Sem comentários, porque gostaria de ouvir os comentários de
vocês, após a leitura. Artigo fácil de ler e com muito conteúdo para compartilhar, usar e
disseminar na sua empresa. Marcelo Ribeiro Goraieb, autor do próximo texto, fala sobre
o Comércio Internacional do Conhecimento, onde ele apresenta seu estudo através de
pesquisas bibliográficas e pelo método descritivo o comércio internacional do conhecimento,
o fluxo de serviços entre os países e suas barreiras. Ele afirma que se verifica um crescimento
5. Editorial
significativo da presença de certos países em desenvolvimento na economia do conhecimento,
o que mostra uma tendência de mudança no fluxo tradicional em que os países desenvolvidos
são os principais atores. As barreiras estão cada vez menores e o comércio internacional em
pleno crescimento.
05
Nesta época de bolsas de valores caindo, dólar subindo e crise americana, o artigo de
Márcio Couto, do IBRE, cai como uma luva. Trata de avaliação de ativos intangíveis. Será
que sabemos mensurar ativos na Era do Conhecimento? Será que os tradicionais métodos
de avaliação ainda valem? Afirmo a vocês que após a leitura do artigo do Márcio Couto
estas respostas serão claras para vocês. E por último, mas não menos importante, temos uma
matéria sobre a Biblioteca Multimídia da ENSP, que em sua 2ª versão permite que usuários
incluam documentos.
Mas não acabou. Ainda temos a resenha do livro de Eduardo Lapa sobre Gestão de Conteúdo
como apoio a Gestão de Conhecimento. Não é novidade para ninguém que, hoje, mais do
que nunca, saber gerenciar conteúdo é fator estratégico para empresas, de qualquer porte
ou segmento, ganhar vantagem competitiva. Portanto vamos ler o livro! E, como de costume, a
revista traz a agenda de eventos sobre Gestão do Conhecimento, a seção Direto das SBGCs
e Núcleos Regionais, que é um espaço para que os Pólos e Núcleos da SBGC divulguem suas
realizações e, por fim, as Palavras do Presidente da SBGC – Heitor Pereira.
Heitor apresenta, ou melhor, explica as siglas que são usadas no dia a dia da gestão da
SBGC e sua importância para a Associação.
Bem, amigos, é isso. Até o próximo número e não deixem de contribuir com a GC BRASIL
enviando suas críticas, comentários, elogios e artigos para gcbrasil@sbgc.org.br.
Elisabeth Gomes
Editora-Chefe da GC Brasil
Coordenadora de Conteúdo e
Publicações da SBGC
6. PORTAIS
CORPORATIVOS
E A GESTÃO DO
CONHECIMENTO
Eduardo Oliveira Spínola
Pesquisador, colaborador das revistas SQL Magazine e
WebMobile
Editor dos sites Java e .Net do Portal DevMedia.
eduspinola@gmail.com
7. 1. INTRODUÇÃO encontradas em um só lugar. Assim como
Artigo 01
A partir do momento em que a tecnologia a comunicação entre os funcionários,
passou a ser utilizada para o auxílio da facilitada por ferramentas de bate-
comunicação e do armazenamento de dados, papo, permitindo aos usuários a troca
muitas empresas passaram a sofrer com o de conhecimento e, consequentemente,
excesso de informação. Para solucionar este gerando e atualizando o conhecimento,
problema, notou-se a importância da aplicação obtendo como resultado final de todo o
da Gestão de Conhecimento com o objetivo de processo, um aumento na produtivida-
obter um maior controle sobre os conhecimentos de da empresa.
gerados [Dias 2001]. Atualmente, um dos grandes desafios
07
Para sobreviver com sucesso em um mercado das pequenas e grandes organizações
cada vez mais exigente e globalizado, as é transformar suas intranets em Portais
empresas passaram a buscar uma melhora Corporativos, e é neste contexto que
crescente em sua competitividade, e um ponto este trabalho se encaixa, apresentando
muito importante para isso, é saber utilizar o o que são os Portais Corporativos,
conhecimento organizacional existente dentro listando alguns dos seus requisitos,
dela. Infelizmente, para que uma empresa e pontos positivos, analisando este
possa utilizar o seu conhecimento de forma aplicativo como um novo instrumento
organizada e positiva, é preciso que se faça de gestão de conhecimento. Feito isto,
um grande investimento em Tecnologia de será discutido sobre a aplicação dos
Informação, mais precisamente, na Gestão do Portais Corporativos à Gestão do
Conhecimento [Leme & Carvalho 2004]. Conhecimento.
Diversos são os tipos de aplicações existentes 2. PORTAIS CORPORATIVOS
nas empresas e, consequentemente, diversos Há alguns anos, o que hoje conhecemos
são os formatos de arquivo gerados por estas como portais, eram apenas máquinas
aplicações. Como não há um mecanismo que de busca. Os sites apresentavam uma
possibilite a padronização e organização destas interface simples (por exemplo, a versão
informações, é muito difícil para os funcionários simples do Google) que permitisse
reunir todas as informações necessárias para aos usuários apenas digitar a string
que sejam tomadas boas decisões. de busca sobre a informação que ele
Como não existe um ponto único de acesso às gostaria de encontrar. Esse mecanismo
informações, e que permita aos funcionários de busca permite aos usuários localizar
trabalhar de forma cooperativa, é bastante as informações espalhadas pela
comum existir informações duplicadas na internet. Porém, devido às regras de
empresa. Também é comum a revelação de gramática e a características de cada
ilhas de conhecimento, supondo que não exista linguagem, nem sempre o resultado
uma comunicação eficiente entre os diversos obtido na busca é o que o usuário
setores da empresa. Não é de se admirar realmente deseja [Terra & Bax 2005].
que o conhecimento gerado fique atrelado A partir deste momento, para facilitar
apenas àquele pequeno grupo da organização ainda mais o acesso às informações,
[Parreiras e Bax 2005]. e apresentá-las como resultado
Pensando nestas características e em muitas mais próximo das informações que
outras que serão apresentadas no decorrer o usuário realmente precisa, foram
deste artigo, foi observada a importância de um criadas as categorias. Explicando de
aplicativo capaz de centralizar as informações forma simples, categoria nada mais
de uma empresa e que permita a comunicação é do que o agrupamento de diversas
e cooperação entre funcionários. Com este informações sobre uma área especí-
aplicativo, conhecido como Portal Corporativo, fica, por exemplo: acessando o Portal
o acesso à informação será facilitado, já que do Yahoo!, e do Terra, você encontrará
todas as informações necessárias podem ser categorias como: Tecnologia, Esportes,
8. Empregos. Além da inserção de usuários de negócios, uma única interface web
Artigo 01
categorias, que também permite que às informações corporativas espalhadas pela
os usuários menos experientes acessem empresa”.
informações de forma mais rápida e Para [Eckerson 1999], “Portal de negócios
fácil, os portais passaram a permitir é um aplicativo capaz de proporcionar aos
a personalização da sua área para
usuários um único ponto de acesso a qualquer
cada usuário, e foram adicionados
informação necessária aos negócios, esteja ela
mecanismos que possibilitassem a
dentro ou fora da corporação”. Como exemplo,
comunicação entre as pessoas, por
ele cita um Shopping Center como preferência
exemplo: chats, e o correio eletrônico
das pessoas, pois, estas sabem que podem
[Terra & Bax 2005].
08
encontrar tudo que precisam em um só lugar.
Observando a evolução dos Portais
Observando as definições acima, é possível
Web, a comunidade corporativa,
notar a importância de se conseguir centralizar
sabendo da dificuldade de concentra-
as informações em um ponto único de acesso
ção e dispersão de informação por
para que a busca e a inserção de novas
toda a empresa pensou: Por que não
informações seja facilitado. Porém, conforme
utilizar os portais web como mecanismo
abordado na introdução, outra característica
para organizar e facilitar o acesso às
é muito importante para um bom Portal
informações e também aprimorar a
Corporativo: a possibilidade de comunicação
comunicação entre as pessoas e setores
entre os usuários, e é pensando nisso que [Murray
dentro da empresa? [Dias 2001] A
1999] faz a sua definição, concluindo que “Os
partir deste momento, teve início à
idéia do Portal Corporativo. portais corporativos devem nos conectar não
apenas a tudo de que necessitamos, mas a
Por ser um conceito recente, vários são todos que necessitamos, e proporcionar todas
os termos que podem ser encontrados as ferramentas que precisamos para que
na literatura sobre os Portais possamos trabalhar juntos”.
Corporativos, entre eles pode-se citar:
Portal de Informações Empresariais [Murray 1999] ainda divide o EIP em quatro
(EIP), Portal de Negócios, Portal de classificações:
Informações Corporativas, Portal do • Portais de Informações – provêem acesso à
Conhecimento, Portal de Negócios, informação;
Portal Colaborativo.
• Portais Cooperativos – fornecem ferramentas
2.1. O qUE é UM PORTAl de processamento cooperativo;
CORPORATIVO
• Portais de Especialistas – conectam pessoas,
Além de muitos nomes, também é possí- com base em suas experiências e interesses;
vel encontrar várias definições sobre
• Portais do Conhecimento – combinam todas as
esta tecnologia. Serão apresentadas
características anteriores.
agora algumas destas definições.
A partir das definições, podemos afirmar que,
Segundo [Shilakes & Tylman 1998],
o Portal Corporativo é uma ferramenta capaz
“Portais de informações empresariais
de aliar o conhecimento explícito contido em
são aplicativos que permitem às
arquivos, bases de dados, correspondências,
empresas libertar informações
páginas web, e aplicativos empresariais
armazenadas interna e externamente,
(dados estruturados e não estruturados) ao
provendo aos usuários uma única via
conhecimento tácito dos participantes do portal,
de acesso à informação personalizada
facilitando a troca de informações e a tomada
necessária para a tomada de decisões
de decisões na empresa. Um ponto positivo e
de negócios”.
que serve como incentivo para utilização do EIP
De acordo com [White 1999], “O nas empresas é o resultado de alguns estudos
EIP é uma ferramenta que provê, aos realizados. Estes resultados afirmam que uma
9. empresa pode economizar até uma hora de deve permitir o acesso dinâmico
Artigo 01
trabalho por dia para cada funcionário [Terra às informações nele armazenadas,
& Bax 2005]. fazendo com que os usuários sempre
2.2. REqUISITOS DE UM PORTAl recebam informações atualizadas.
CORPORATIVO • Roteamento inteligente: O portal
Como toda solução de TI exige custo para seu deve ser capaz de direcionar
estudo, implementação e implantação, será automaticamente relatórios e
apresentado agora alguns requisitos listados documentos a usuários selecionados.
por Eckerson. Seguindo estes requisitos, será • Ferramenta de inteligência de
possível desenvolver um eficiente Portal negócios integrada: Para atender
09
Corporativo. às necessidades de informações dos
usuários, o portal deve integrar os
De acordo com Eckerson, os Portais Corporativos
aspectos de pesquisa, relatório e
têm que apresentar as seguintes características
análise dos sistemas de inteligência de
[Eckerson 2000]:
negócios.
• Fácil para usuários eventuais: Os usuários
• Arquitetura baseada em servidor:
devem conseguir localizar e acessar facilmente
Para suportar um grande número
a informação correta, com o mínimo de
de usuários e grandes volumes de
treinamento, não importando o local de
informações, serviços e sessões
armazenamento dessa informação. Encontrar
concorrentes, o portal deve basear-se
informações de negócios no portal deve ser tão
em uma arquitetura cliente-servidor.
simples quanto usar um navegador web.
• Serviços distribuídos: Para um
• Classificação e pesquisa intuitiva: O portal
melhor balanceamento da carga de
deve ser capaz de indexar e organizar as
processamento, o portal deve distribuir
informações da empresa. Sua máquina de busca
os serviços por vários computadores ou
deve refinar e filtrar as informações, suportar
servidores.
palavras-chave e operadores booleanos,
e apresentar o resultado da pesquisa em • Definição flexível das permissões de
categorias de fácil compreensão. acesso: O administrador do portal
deve ser capaz de definir permissões
• Compartilhamento cooperativo: O portal
de acesso para usuários e grupos
deve permitir ao usuário publicar, compartilhar
da empresa, por meio dos perfis de
e receber informações de outros usuários.
usuário.
O portal deve prover um meio de interação
entre pessoas e grupos na organização. Na • Interfaces externas: O portal deve
publicação, o usuário deve poder especificar ser capaz de se comunicar com outros
quais usuários e grupos terão acesso a seus aplicativos e sistemas.
documentos/objetos. • Interfaces programáveis: O portal
• Conectividade universal aos recursos deve ser capaz de ser “chamado” por
informacionais: O portal deve prover amplo outros aplicativos, tornando pública
acesso a todo e qualquer recurso informacional, sua interface programável (API –
suportando conexão com sistemas heterogêneos, Aplication-Programming Interface).
tais como correio eletrônico, banco de dados, • Segurança para salvaguardar as
sistemas de gestão de documentos, servidores informações corporativas e prevenir
web, groupwares, sistemas de áudio, vídeo, acessos não autorizados: O portal
etc. Para isso, deve ser capaz de gerenciar deve suportar serviços de segurança,
vários formatos de dados estruturados e não como criptografia, autenticação,
estruturados. firewalls, etc. Deve também possibilitar
• Acesso dinâmico aos recursos informacionais: auditoria dos acessos a informações,
Por meio de sistemas inteligentes, o portal das alterações de configuração, etc.
10. prover um meio de gerenciar todas as desempenho de alguma tarefa;
Artigo 01
informações corporativas e monitorar • Possibilidade de troca de informações com
o funcionamento do portal de forma
clientes, fornecedores, revendedores, etc.,
centralizada e dinâmica. Deve ser
fornecendo uma infra-estrutura informacional
de fácil instalação, configuração e
adequada também para o comércio
manutenção, e aproveitar, na medida
eletrônico.
do possível, a base instalada de
hardware e software adquirida / 2.3. ARqUITETURA BÁSICA DE UM
contratada anteriormente pela orga- PORTAl CORPORATIVO
nização. Apesar das diversas classificações e formas
10
• Customização e personalização: de implementação dos Portais Corporativos,
O administrador do portal deve ser de forma geral, todos seguem a estrutura
capaz de customizá-lo de acordo apresentada na figura 1.
com as políticas e expectativas da
Como pode ser visto, e como citado
organização, assim como os próprios
anteriormente, esta arquitetura é baseada no
usuários devem ser capazes de
modelo Cliente (Navegador web) – Servidor
personalizar sua interface para facili-
(Servidor Web). Observando o lado servidor,
tar e agilizar o acesso às informações
pode-se observar o Diretório de informações
consideradas relevantes.
de negócios, local onde estão definidos os perfis
Além destes requisitos ainda pode-se dos usuários, e que possibilita personalizar
citar [Dias 2001]: a área de trabalho de cada usuário. Pode-
• Habilidade de gerenciar o ciclo de se notar também a existência da máquina
vida das informações estabelecendo de busca, responsável por facilitar o acesso
níveis hierárquicos de armazenamento às informações. Outro ponto interessante é a
e descartando as informações ferramenta de assinatura.
ou documentos quando não mais Além dessas características citadas, existem
necessários; três que valem à pena dar uma atenção
• Habilidade de localizar especialistas maior: ferramenta de publicação, analisador
na organização de acordo com o de metadados, e interface export/import de
grau de conhecimento exigido para o dados.
Figura 1. Arquitetura básica do Portal Corporativo [Dias 2001]
11. As ferramentas de publicação
Artigo 01
ajudam os colaboradores do
portal a adicionar informações
de forma estruturada. Note que
existe uma relação entre estas
ferramentas e o processamento de
decisões. Este nada mais é do que
programas (por exemplo: data
warehouse, inteligência de negócios,
mineração de dados) que através
das informações armazenadas em Figura 2. Representação de um Portal Corporativo (www.microsoft.com)
11
bancos de dados, auxiliam a tomada
de decisões na empresa.
O analisador de metadados por sua vez, da criação de workflows e atividades
possibilita que os dados não estruturados na empresa. Finalmente o calendário,
(por exemplo: e-mails, documentos, arquivos facilitando o gerenciamento das
de áudio e vídeo) possam ter uma estrutura atividades.
que defina esses dados e permita que estes 3. APlICAÇÃO DOS PORTAIS
possam ser encontrados. Neste caso, a relação CORPORATIVOS À GESTÃO DO
acontece com as ferramentas de processamento CONHECIMENTO
colaborativo, como automação de escritório
e groupware. Segundo [Tucker 1999], 10% Para avaliar a aplicação dos
das informações existentes nas empresas se portais corporativos à Gestão
encontram de forma estruturada, enquanto 90% do Conhecimento, inicialmente
são não estruturadas. Porém, apesar deste alto será apresentado o conceito de
índice, as informações não estruturadas ainda conhecimento organizacional, além de
são desprezadas por muitas instituições. fazer a classificação do conhecimento.
Ainda neste ponto, serão esclarecidas
Por último, as interfaces de exportação e as diferenças entre dados, informação,
importação de dados, que interage diretamente conhecimento e ação (tomada de
com a intranet e os sistemas externos da empre- decisão). No próximo ponto, o enfoque
sa, tornando possível a troca de informações com será a conversão do conhecimento
o meio externo, e com os diversos programas nas organizações. E, por fim, serão
existentes na empresa. apresentadas as dificuldades
Considerando todas as relações entre os encontradas nas instituições para
mecanismos internos do servidor e suas empregar a GC.
possibilidades de extensão, fica bastante clara 3.1. O CONHECIMENTO
a estrutura básica do EIP. ORGANIZACIONAl
A figura 2 demonstra a representação de um Para que se possa compreender ainda
Portal Corporativo. Sendo este, identificado mais a definição do conhecimento
pelo círculo central. À sua volta, temos imagens
que representam as características deste portal.
Os membros, que se apresentam com desenhos
diferentes representando a possibilidade
de personalização. Debates, que permite a
comunicação entre os membros. Inquéritos,
relacionados com processamento de decisões.
Contatos, possibilitando encontrar as pessoas
certas para cada necessidade. Documentos,
apresentando a possibilidade de o portal aceitar
vários tipos de arquivo. Tarefas, possibilidade Figura 5. Escala de valor [Santos e Cerante 2000]
12. organizacional e tentar amenizar informação contextual e insight experimen-
Artigo 01
a dificuldade de diferenciação e tado, a qual proporciona uma estrutura para a
identificação destes conceitos nas avaliação e incorporação de novas experiências
corporações, é importante saber a e informações. Ele tem origem e é aplicado na
diferença entre dados, informação, mente dos colaboradores. Nas organizações, ele
conhecimento e ação. Observe a escala costuma estar embutido não só em documentos e
de valor ascendente da figura 5. repositórios, mas também em rotinas, processos,
12
Figura 6. Conversão do conhecimento [Santos e Cerante 2000]
Segundo [Davenport e Prusak 1998], práticas e normas organizacionais”.
“dados são um conjunto de fatos Com a definição de conhecimento organizacio-
distintos e objetivos, relativos a nal, é preciso agora classificá-lo para
eventos que constituem a base para assim poder gerenciá-lo. Segundo Polanyi,
a informação”. Os dados podem o conhecimento assume duas categorias:
ser obtidos através de registros, tácito e explícito. De acordo com [Nonaka
não possuindo nenhum significado se e Takeuchi 1998], “o conhecimento tácito
analisados separadamente e não é pessoal, específico ao contexto e assim
permitindo a tomada de decisões. difícil de ser formulado e comunicado. Já o
De acordo com [Davenport e Prusak conhecimento explícito ou codificado refere-se
1998], informações são “dados dotados ao conhecimento transmissível em linguagem
de relevância e propósito”. Isso permite formal e sistemática”.
que os fatos possam ser julgados, Observando a definição sobre Conhecimento
e assim o receptor das informações Organizacional, será apresentada agora uma
possa alterar o seu comportamento a definição da gestão do conhecimento. [Meta
depender das informações analisadas Data Coalition 1999] cita que: “Gestão do
[Santos e Cerante 2000]. Conhecimento é uma disciplina que promove
O conhecimento, “está presente no uma abordagem integrada para identificar,
indivíduo, nos grupos ou nas rotinas gerenciar e compartilhar todos os recursos de
organizacionais sendo desenvolvido informação de uma empresa, incluindo bancos
através da experiência e possibilitando de dados, documentos, políticas e procedimentos
assim, uma definição de um histórico que assim como especialidades não articuladas
permite o reconhecimento de padrões e experiências residentes na mente de cada
para uma tomada de ação mais indivíduo dentro da organização” [Meta Data
rápida” [Santos e Cerante 2000]. Coalition 1999].
Concluindo, a ação, que pode ser 3.2. CONVERSÃO DO CONHECIMENTO
considerada como “algo que se faz
Definido conhecimento organizacional, e
com o conhecimento” [Davenport e
gestão do conhecimento, será analisado agora
Prusak 1998].
o processo de conversão do conhecimento.
[Davenport e Prusak 1998] afirmam Este processo possui grande importância na
que o conhecimento pode ser definido Teoria da Criação do Conhecimento. Através
como: “... uma mistura fluida de da conversão, por exemplo: “o conhecimento
experiência condensada, valores, tácito pode ser captado e sintetizado, a
13. fim de que novos conhecimentos possam ser Partindo do pressuposto que todas as
Artigo 01
gerados e explorados, enriquecendo a base de empresas enfrentam esses problemas,
conhecimentos” [Santos e Cerante 2000]. é notável que a aplicação dos Portais
A conversão acontece pela interação entre o Corporativos passe a ser uma excelen-
conhecimento tácito e o explícito, e como pode te opção para sanar seus problemas,
ser visto na figura 6, isto pode ser feito de e permitir que a empresa esteja
quatro formas. De tácito para tácito, a conversão sempre mantendo seus funcionários
assume a característica de Socialização bem informados e gerando novos
(Conteúdo Compartilhado). Quando a conversão conhecimentos para a organização.
é feita de tácito para explícito, recebe o nome 4. CONClUSÃO
13
de Externalização (Conteúdo Conceitual). De Este trabalho teve como objetivo
explícito para explícito, ocorre a Combinação, e o estudo dos Portais Corporativos,
o conteúdo gerado neste momento é o sistêmico. relacionando com a Gestão do
Finalmente, quando a conversão ocorre do Conhecimento.
conhecimento explícito para o tácito, dá-se o
nome de Internalização (Conteúdo Operacional) Utilizando esta tecnologia, é possível
[Santos e Cerante 2000]. centralizar todo o conhecimento
(explícito) existente na empresa em
3.3. DIFICUlDADES NA UTIlIZAÇÃO DA um ponto único de acesso. Com esta
GESTÃO DO CONHECIMENTO característica, o acesso às informações
Muitos são os fatores que dificultam a Gestão torna-se mais fácil, o que permite
de Conhecimento nas empresas, por exemplo: a também a tomada de decisões.
presença de sistemas não integrados e formatos Além disso, é oferecido ao usuário
de arquivos proprietários e incompatíveis. É mecanismos de conversação que
muito difícil encontrar uma empresa que possua permitem a troca de conhecimento
apenas um software, e isso faz com que seja (tácito) entre eles.
necessário desenvolver um ou mais programas Com a possibilidade de socialização,
que permitam a utilização destes diferentes tipos externalização, internalização e
de arquivo para facilitar a busca de informação combinação do conhecimento, além
e o processo de tomada de decisão. de todas as características citadas no
Abaixo estão listadas algumas dificuldades: decorrer no artigo, ficam evidenciadas
• Arquiteturas diferentes e caras que dificultam a a capacidade dos Portais Corporativos
integração de diferentes tipos de informação; em ser uma ferramenta que possibilita
a Gestão de Conhecimento dentro das
• A dificuldade de acesso ágil à informação; e, organizações.
ao mesmo tempo, sobrecarga de informação;
• Redundância e duplicação de informações;
5. BIBlIOGRAFIA
• Informações e documentos publicados de
modo desorganizado, sem controle de fluxo de DAVENPORT, T. H. ; PRUSAK, L.
aprovação; Conhecimento Empresarial: Como as
organizações gerenciam o seu capital
• Diversidade de caminhos, métodos e técnicas intelectual. Rio de Janeiro: Campus,
diferentes para buscar e acessar informações; 1998.
• Dificuldade para as pessoas publicarem DIAS, Cláudio A. Portal Corporativo:
informações acessíveis à empresa como um conceitos e características. Brasília:
todo; 2001, v. 30, n. 1, p. 50-60.
• Dificuldade de definição ou ausência de
ECKERSON, Wayne. Business Portals:
políticas de segurança;
Drivers, Definitions, and Rules. The Data
• Usuários dependentes do departamento de TI Warehousing Institute, Gaithersburg,
para gerar, divulgar e obter informação. MD, 1999.
14. ECKERSON, Wayne. 15 rules for Conhecimento no Processo de Desenvolvimento
Artigo 01
enterprise portals. Oracle Magazine, de Software. Minas Gerais: Belo Horizonte,
2000 v. 13, n. 4, p. 13-14. 2005.
LEME, Murilo O. ; CARVALHO Hélio SANTOS, Elisa G. ; CERANTE Lívia L. Gestão
G. Requisitos mínimos para um portal do conhecimento: um estudo para facilitar sua
corporativo de gestão do conhecimento. implantação nas empresas. Rio de Janeiro:
Paraná: Ponta Grossa, 2004. 2000.
META DATA COALITION. Open SHILAKES, Cristopher C. & Tylman, Julie.
Information Model -Knowledge “Enterprise information portals”. New York:
Management Model-Knowledge Merril Lynch, 1998.
14
Descriptions”. 1999. TERRA, José C. C. ; BAX, Marcelo P. Portais
MURRAY, Gerry. The portal is the corporativos: instrumento de gestão de
desktop. Instraspect, 1999. informação e de conhecimento. Minas Gerais:
NONAKA, I. ; TAKEUCHI, H. Criação Belo Horizonte, 2005.
de Conhecimento na Empresa: Como as TUCKER, M. Dark Matter of Decision Making.
empresas japonesas geram a dinâmica Intelligent Enterprise: 1999), v.2, n. 13, p. 20-26.
da inovação. Rio de Janeiro; Campus, WHITE, Colin. The enterprise information portal
1998. marketplace. Decision processing brief, DP-
PARREIRAS, Fernando S. ; BAX, Marcelo 99-02. Morgan Hill, CA: Database Associates
P. KMUp: Um Portal para Gestão do International, 1999.
15.
16. A EDUCAÇÃO E A
INTERAÇÃO COMO
“RETARDO” A ExTINÇÃO
Paloma Maria Santos
Programa de Pós-Graduação de Engenharia
e Gestão do Conhecimento, UFSC
paloma@iscc.com.br
17. 1. Introdução viveram e terminaram por inviabilizar
Artigo 02
O objetivo deste documento é apresentar as sua própria existência. Punir essas
ferramentas para tentarmos evitar, ou ao me- espécies com a sua própria extinção
nos retardar a extinção da raça humana na faz parte do processo de seleção
face da Terra, que vem sendo constantemente natural.
alimentada e estimulada pelo bicho homem, Foi a seleção natural que “criou” o
através do seu inadequado comportamento homem. Esse animal, com todo o seu
para com o seu semelhante. egocentrismo e arrogância, acredita
que pode controlar esse processo de
2. Histórico das espécies
seleção, ditando as regras para a
De acordo com o biólogo Fernando de Castro
humanidade e para o meio ambiente.
17
Reinach (2006), 99,99% de todas as espécies
Para quem não acredita que nosso
de plantas e animais que já habitaram nosso
destino depende de um determinismo
planeta estão extintas. De cada 10 mil espécies
divino, interferir no processo de nossa
que viveram na Terra, somente uma ainda está
própria seleção natural talvez seja
entre nós. Segundo ele, a biodiversidade entre
a atividade humana que mais se
as espécies extintas é milhares de vezes maior
assemelha ao que classificamos como
que a biodiversidade atual. Em linhas gerais,
“brincar de Deus” (REINACH, 2006).
significa dizer que inevitavelmente todas as
espécies irão se extinguir e que, apesar de
assustador, aceitar esse fato permite uma
melhor compreensão do nosso lugar na história
da humanidade.
Para o ecologista Les Knight, entrevistado por
Vladimir Cunha, a extinção humana pode ser
vista como a melhor saída para a humanidade.
A partir do momento que pararmos de procriar,
as brigas por territórios e recursos naturais irão
cessar. Poderemos, inclusive, experimentar um
período de saúde, felicidade e abundância de
recursos a partir do momento em que formos
desaparecendo da face da Terra. Ele diz FIGURA 1: Árvore do conhecimento do bem e do mal
que essa é a sociedade utópica com a qual FONTE: http://todahelohim.blogspot.com/2007/10/
rvore-do-conhecimento-do-bem-e-do-mal.html
temos sonhado desde que o homem passou a
dominar este planeta. Diz ainda que quando E o SENHOR Deus ordenou ao homem:
nós desaparecermos, as plantas e os animais “Coma livremente de qualquer árvore
se encarregarão de restaurar o equilíbrio do do jardim, mas não coma da árvore do
ecossistema. Nossas cidades irão sumir aos conhecimento do bem e do mal, porque
poucos até se tornarem apenas traços de uma no dia em que dela comer, certamente
civilização que um dia habitou este planeta. você morrerá” (ELOHIM, 2007, citan-
Apesar do fato de o fim da humanidade parecer do a Bíblia Sagrada em Gn 2.16-17
ser um tanto quanto radical demais, talvez seja NVI).
esta a condição necessária para freiarmos as
atrocidades que o bicho homem vem cometendo, 3. Enfermidades do ser humano
tanto com relação a “destruição” do seu Infelizmente as condições atuais de
semelhante, quanto com relação à destruição nossas sociedades estão atentando
da natureza e de seus recursos naturais. contra a plena realização do
A nossa extinção pode ser apresentada como altruísmo. A força de coesão para
uma forma de punição por estarmos agindo com com os outros seres humanos nunca foi
tamanha desumanidade nos dias de hoje. Isso já tão inadequadamente empregada,
aconteceu com outras espécies anteriores a nós, eliminando qualquer possibilidade de
que causaram estragos no ambiente em que vida social que possa existir.
18. Não existe mais educação, paciência, do outro só será perceptível quando a raça
Artigo 02
respeito e sequer interesse em ouvir humana já estiver se extinguido. Nossas atitu-
o próximo. Achamos que somos donos des de hoje, se forem persistentes e inertes a
da verdade, senhores da razão, e qualquer mudança, nos levarão a extinção. Esse
não estamos dispostos a “baixar a histórico que teremos criado através da nossa
guarda” e ver que o ser humano só é passagem pela Terra servirá como base de
capaz de crescer através da interação conhecimento para as novas espécies.
com os outros seres humanos e que isso Os novos “seres” terão a possibilidade de
pode ser muito positivo, interessante e começar tudo de novo, não cometendo os
gratificante. mesmos erros que hoje estamos cometendo,
Estamos certos de que a nossa opinião, tomando por base o que aconteceria se eles
18
de que o nosso posicionamento e a seguissem nossos passos.
nossa maneira de agir com relação ao Essa nova espécie de “ser vivo” terá a chance
que acontece diariamente em nossas de criar suas próprias formas de conhecimento
vidas, são inquestionáveis. Acreditamos e convivência. “Pessoas” sendo criadas com
que as nossas verdades são as únicas base no amor, no respeito, na confiança mútua.
absolutas, reais e aceitáveis e diante Uma nova “sociedade” surgindo e batalhando,
disso negamos nosso semelhante. desde o início, pelo bem comum.
José Moran cita Darcy Ribeiro, quando Em “A árvore do conhecimento”, Maturana
ele diz que sempre há o que aprender, (1995) fala dos acoplamentos de terceira
ouvindo, vivendo e sobretudo, traba- ordem e diz que foi o surgimento de organismos
lhando, mas só aprende quem se dispõe com sistema nervoso e sua participação em
a rever as suas certezas. Rogers (1983) interações recorrentes que ocasionou tais
salienta que se as pessoas são aceitas acoplamentos. Diz que as unidades resultantes
e consideradas, tendem a desenvolver geram uma fenomenologia interna particular,
uma atitude de mais consideração em em que os organismos participantes satisfazem
relação a si mesmas. suas ontogenias individuais, fundamentalmente,
Verdades absolutas criam barreiras a segundo seus acoplamentos mútuos na rede de
interações recíprocos que formam ao constituir
compreensão social mútua e a negação
as unidades de terceira ordem.
do outro nos desvia desse caminho de
entendimento mútuo.
Se fôssemos traçar uma linha do tempo
com a representação das conseqüências
de nossas atitudes de hoje refletidas
nos dias de amanhã, chegaríamos a
conclusão de que o próprio homem seria
o responsável pela extinção da raça
humana. Como não existe cooperação
com o próximo, não há realização de
fenômeno social. Se não há fenômeno
social, não há socialização. Se não há
socialização, não há interação. Se não
há interação, não há comunicação e
entendimento. Se não há entendimento,
não há relacionamento. Não havendo
relacionamento, não há reprodução. Se FIGURA 2: A árvore do conhecimento
FONTE: http://www.humanecologyforum.org/blogs/wp-content/up-
não há reprodução, não há continuação loads/2007/09/fundamental-laws-of-human-ecology.jpg
da linhagem. Não havendo continuação
da linhagem, teremos, então, o fim da Esse acoplamento estrutural se dá quando duas
raça humana. ou mais unidades autopoiéticas podem ter suas
O conhecimento existente na negação ontogenias acopladas no momento em que suas
19. interações adquirem um caráter recorrente ou gera. Foi isso que, em 1968, Maturana
Artigo 02
muito estável. chamou de autopoiese.
Para exemplificar, Maturana cita o caso do Podemos dizer que nossos órgãos
acoplamento social dos antílopes. Ele explica internos “se respeitam” e que se
que o rebanho se desloca numa formação que “relacionam” com o restante do nosso
tem o macho dominante à frente, seguido pelas organismo de forma cooperativa, ten-
fêmeas e filhotes. Por último seguem os outros do como objetivo final o perfeito funcio-
machos do rebanho, um dos quais fica para trás, namento do nosso sistema nervoso.
sobre o topo mais próximo, vigiando o intruso Mas por que nós, externamente, como
enquanto os demais descem. Tão logo alcancem seres humanos, não conseguimos agir
a nova elevação, junta-se a eles. sempre de forma cooperativa para
19
A conduta do antílope ao se retardar está com nossos semelhantes?
relacionada a conservação do grupo e expressa A relação que existe para com o
características próprias dos antílopes em seu outro é de poder e não de amor, de
acoplamento grupal, uma vez que o grupo existe bem comum. Não cria-se vínculo de
como unidade. Ao mesmo tempo, todavia, essa amizade, de respeito, de cooperação.
conduta altruísta para com a unidade grupal Parece mais uma corrida contra o
se realiza no antílope individual como resultado tempo, para ver quem pode mais,
do seu acoplamento estrutural no meio que quem manda mais, numa furiosa e
envolve o grupo, e expressa a conservação da severa competição. Competição pelo
sua adaptação como indivíduo (MATURANA, ser, pelo ter.
1995). Nós vivemos hoje como se não existisse
Maturana salienta ainda que os organismos, o amanhã. Passamos por cima de tudo
ao acoplarem-se estruturalmente em unidades e de todos para satisfazer nossos
de ordem superior (com seu próprio domínio desejos, alcançar nossos objetivos,
de existência), incluem a manutenção dessas como se nada pudesse nos atingir.
estruturas na dinâmica de sua própria Não nos permitimos alcançar uma
manutenção, estabelecendo um equilíbrio entre convivência criativa, pois diante da
individual e o coletivo. diferença com o outro geralmente
O ser humano infelizmente não permite que reagimos de forma intolerante,
tais acoplamentos ocorram na sua espécie, pois impaciente e até mesmo cruel, impon-
para que isso acontecesse, seria necessário do, muitas vezes de maneira agressiva,
interagir com os outros, agregar o conhecimento nossa posição a respeito de tudo.
dessa experiência ao seu próprio conhecimento Preferimos fomentar o rancor e perder
e, a partir de então, apresentar novas condutas a oportunidade de trocar experiências
perante aos semelhantes e a sociedade. cotidianas e aprender com o outro.
Numa entrevista concedida ao programa “Roda O ser humano parece ter medo
Viva” da TV Cultura de São Paulo, Edgar Morin de compartilhar o seu saber, os
diz que devemos aprender a conviver com seus conhecimentos com os outros
as diferenças, integrando as demais culturas seres humanos. Ele acredita que ao
e opiniões. Isso não significa que precisamos compartilhar suas idéias e opiniões,
desintegrar a nossa própria cultura. estará abrindo a possibilidade de
Sabemos que o ser humano é um ser complexo, tornar o outro tão “bom” quanto ele
tanto interna quanto externamente. Suas rela- acredita que ele é. O ser humano não
ções assim também o são. Em condições normais quer ter que se relacionar com alguém
de saúde, o ser humano é capaz de produzir superior. Ele prefere se fechar num
todas as substâncias e componentes necessários mundo que só existe em sua própria
para que, biologicamente, sua organização cabeça e continuar sendo o “rei”, o
interna como ser vivo funcione. Essa organização dono da verdade, sem nunca perder
é vista como um operar circular fechado de a majestade.
produção de componentes que produzem a Parecemos estar cegos aos “desastres”
própria rede de relações e componentes que os que estão ocorrendo em nossa soci-
20. edade e infelizmente ainda não nos
Artigo 02
demos conta de que somos nós mesmos
que estamos ocasionando tudo isso.
Cada um de nós contribui, a sua manei-
ra, para que o nosso mundo seja o que
é, um mundo pelo qual cada vez é mais
difícil sentir admiração e respeito pelo
outro, numa condição que, como bem FIGURA 3: Proposta da epistemologia
sabemos, torna tudo ainda mais difícil. FONTE: http://www.wikipedia.org/
Essa tragédia não está ocorrendo
de reconhecimento da verdade (WIKIPÉDIA,
20
apenas entre o ser humano e seu
2008).
semelhante. O desrespeito ocorre
Para que sejamos capazes de desenvolver uma
também entre o ser humano e a
identidade pessoal e ecológica, precisamos fo-
natureza. Volpi salienta que não
car nossos esforços na educação e no processo de
podemos restaurar a saúde mental
educar. É preciso promover uma transformação
humana e o nosso bem estar, se não
interna a vivência da humanidade, começando
restaurarmos a saúde do planeta e
pela reflexão aplicada a própria transformação
para entendermos as enfermidades
individual.
da “alma”, talvez tenhamos que, antes
de tudo, entender as enfermidades do 4. O processo de educar
mundo. Ele acredita que seja preciso José Volpi (2007) ao citar Reich, diz que
reintegrar a mente humana à natureza só as crianças valem à pena e é somente na
de forma a reconectar nosso eu mais criança que temos a possibilidade de encontrar
profundo às raízes de onde surgimos, o cerne saudável da humanidade. Ele afirma
de forma a reavivar a energia e o que o destino da raça humana dependerá das
afeto que existe em cada ser humano estruturas de caráter das crianças do futuro.
no intuito de cuidar e de preservar, no “Em suas mãos e em seus corações repousarão
lugar de abandonar ou destruir. as grandes decisões”.
Precisamos mais do que nunca conhecer As crianças constroem boa parte de sua
o ser humano, descobrir por que os identidade já na gestação e, com o passar dos
sentimentos que mais afloram nele anos, elas vão moldando essa característica
são o rancor, a raiva e o ódio, a através do temperamento, do caráter e da
ponto de querer destruir seu próprio personalidade de cada uma. Psicologicamente
semelhante e a natureza. Com base falando, a identidade representa a indivi-
nessa discussão, José Volpi apresenta dualização de uma pessoa. Ela contém aspectos
em sua tese a ecopsicologia, que é um biológicos (temperamentais) que são adquiridos
dos fundamentos epistemológicos que geneticamente, bem como sociais e psicológicos,
sugere o encontro entre a ecologia e que são moldados durante as etapas do
a psicologia e que tem como objetivo desenvolvimento.
despertar a consciência ecológica a Para que essas crianças tenham maiores chances
partir da sensibilização do ser humano de se tornarem seres humanos conscientes, elas
para amar a si mesmo, a seu semelhante precisam ser criadas em ambientes de muito
e a natureza, da qual ele é parte, e amor, carinho, afeto e respeito.
não proprietário. Volpi acredita que a criança deveria ser livre
A epistemologia ou teoria do conhe- para expressar seus desejos, sem receber para
cimento (do grego “episteme”, “co- isso as punições provindas de uma educação
nhecimento”; “logos”, “discurso”), é severa que pune uma pequena travessura com
um ramo da filosofia que trata dos castigos extremistas. Essas punições geram
problemas filosóficos relacionados um comprometimento emocional de tal ordem
à crença e ao conhecimento. A epis- que a criança, sem medir as conseqüências de
temologia também estuda os critérios seus atos, irá buscar os mais fracos para “se
21. vingar”. para a edificação da vida humana
Artigo 02
Elas aprendem desde cedo a dominar os mais sobre a base da reflexão e do saber.
fracos, sejam seus irmãos menores, seus animais Para eles a filosofia aparece como
e até mesmo seus brinquedos. Além de algumas auto-reflexão do espírito a respeito
vezes não receberem o afeto que tanto desejam de seus mais altos valores teóricos e
e necessitam, muitas vezes essas crianças são práticos, os valores do verdadeiro, do
estimuladas pelos próprios pais a competir, bom e do belo.
serem as melhores e passarem para trás todos Reflexão, segundo o dicionário da
que estiverem à sua frente, custe o que custar. língua portuguesa, é o retorno do
Agindo dessa maneira, as crianças acreditam pensamento sobre si mesmo, com vista
que serão valorizadas e que conseguirão a examinar mais profundamente uma
21
ganhar a atenção e o “afeto” tão sonhados. idéia, uma situação ou um problema.
Essa atitude de domínio e tortura para com Para a educação feita na escola,
membros da mesma espécie sem motivo José Manuel Moran enfatiza que essa
explícito, com o objetivo único de alcançar o educação precisa incorporar mais as
próprio prazer, é uma característica exclusiva dinâmicas participativas como as de
do ser humano. auto-conhecimento (trazer assuntos
A educação, tanto nossa quanto das nossas próximos à vida dos alunos), as de
crianças, deve se basear na aventura do conhe- cooperação (trabalhos de grupo, de
cimento como culminância de um esforço bem criação grupal) e as de comunicação
dirigido, “conhecido por criar” num entendimento (como o teatro ou a produção de um
social que ainda não existe. A criação é sempre vídeo).
uma nova etapa, construída com materiais De acordo com Maurício Bastos, o auto-
velhos. Para Maturana e Varela, criar o conhe- conhecimento nos propicia a retirada
cimento, o entendimento que possibilita a dos véus (personagens, máscaras) que
convivência humana, é o maior, mais urgente, criamos no cotidiano de nossas vidas,
mais grandioso e mais difícil desafio com que se possibilitando o encontro real com a
depara a humanidade atualmente. nossa verdadeira essência.
Para Paulo Freire (2000), ensinar não é transferir Ele diz que quanto maior o auto-
conhecimento, mas criar as possibilidades para a conhecimento, maior a possibilidade
sua produção ou sua construção. Ensinar também de escolhas, de livre-arbítrio. Saímos
é um caminho de aprendizagem. “Quem ensina da condição de vítima da vida e
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao passamos a ter total autoria do viver.
aprender”. Quando temos a possibilidade da
Na mesma linha está o Piaget, citado por Macedo escolha, podemos chegar ao caminho
(2006), que acredita que o conhecimento não da realização através do amor,
se transmite, repassa, adquire ou ensina, mas alegria, compreensão e do perdão.
se constrói. Edgar Morin (2000) complementa,
dizendo que o conhecimento não pode ser
baseado em cálculos, mas sim no sentimento,
no amor. Nem mesmo o racional existe sem
emoção.
A construção desse conhecimento se dá não a
partir de uma atitude passiva e sim através da
interação. Para que haja interação, é preciso
que haja confiança mútua recíproca. Maturana
acredita que este é o fundamento do viver social.
O ser humano só pára para refletir quando uma
interação se apresenta de maneira diferente,
não óbvia.
Pensadores como Sócrates e Platão apresen-
FIGURA 4: Auto-conhecimento
taram seus pensamentos e energias voltados FONTE: http://www.espacointegracao.com.br
22. Através do auto-conhecimento pode- para que eles tenham respeito por si mesmos
Artigo 02
mos ampliar a nossa percepção sobre e acreditem em si; que percebam, sintam e
a vida, melhorando a qualidade as aceitem o seu valor pessoal e o dos outros.
nossas relações e nos possibilitando Assim será mais fácil aprender e comunicar-se
viver de uma forma mais autêntica e com os demais. Sem essa base de auto-estima,
saudável. alunos e professores não estarão inteiros, plenos
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o para interagir e se digladiarão como opostos,
Universo” (oráculo de Delfos, da Grécia quando deveriam ver-se como parceiros.
Antiga, citado por BASTOS). Quanto mais ricas forem as redes de interação
construídas através da educação comunicativa,
mais nos realizaremos como pessoas e mais úteis
22
nos tornaremos para os grupos e organizações
aos quais nos vinculamos.
5. Considerações finais
A situação que se apresenta aqui se não fosse
trágica, seria cômica: o homem precisa reduzir
a destruição que ele mesmo vem causando no
planeta.
Se a extinção da raça humana, como diz
FIGURA 5: Ruínas do Templo de Apolo em Delfos
FONTE: http://historia7-penedono.blogspot.com/2007/02/ Reinach, é inevitável, precisamos ao menos tentar
orculo-de-delfos.html
retardar esse processo o maior tempo possível. É
Precisamos ajudar as crianças a de- com foco na educação e na interação para com
senvolverem o potencial que elas têm, nossos semelhantes que conseguiremos iniciar o
respeitando suas possibilidades e limi- processo de recuperação do ser humano.
tações. Moran diz que precisamos Precisamos trabalhar de forma ativa na
praticar a pedagogia da compreensão construção da identidade de nossas crianças,
contra a pedagogia da intolerância, dando todo o suporte para que elas possam
da rigidez, a do pensamento único, da dar seqüência a essas mudanças que estamos
desvalorização dos menos inteligentes, propondo hoje.
dos fracos, problemáticos ou “per- Não podemos esquecer também de nossos
dedores”. Praticar a pedagogia da mestres, que são peças fundamentais na
inclusão, partindo do princípio de que construção desses “novos seres humanos”. É
a inclusão não se faz somente com os necessário trabalhar o auto-conhecimento e
que ficam fora da escola. Muitos alunos a auto-estima desses professores, para que
são excluídos pelos professores e eles aprendam a ter respeito por si mesmos
colegas dentro da própria escola. São e acreditem em seu potencial, que perce-
excluídos quando nunca falamos deles, bam, sintam e aceitem seu valor perante a
quando não os valorizamos, quando sociedade.
os ignoramos continuamente. São ex- Eles precisam incorporar em suas metodologias
cluídos quando supervalorizamos as dinâmicas participativas de auto-conheci-
alguns, colocando-os como exemplos mento, de cooperação e de comunicação, para
em detrimento de outros. São ex- despertar nos seus alunos o interesse pela
cluídos quando exigimos de alunos construção do conhecimento, que, como vimos, é
com dificuldades de aceitação e de dado através da interação com o outro.
rela-cionamento, resultados imediatos, Cassandra Ribeiro (1998) cita Margulies (1996),
metas difíceis para eles no campo quando ele diz que enquanto o professor (e o
emocional (MORAN). projetista) não puder aprender antes de ensinar,
Ninguém dá o que não tem. Baseado enquanto não possuir os meios de procurar
nisso, Moran salienta que é necessário antes de apresentar, ele será apenas uma peça
trabalhar também o auto-conhecimento enferrujada na máquina da educação.
e a auto-estima dos professores, Essa educação só poderá cumprir a sua função
23. fundamental, se for capaz de promover uma necessários à prática educativa. 15.
Artigo 02
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23
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24. A Cultura Orientada à
Artigo 03
Aprendizagem
“Aprender me alegra porque me capacita a ensinar.”
Sêneca
24
Saulo Figueiredo
Diretor da Soft Consultoria,
Professor de Pós Graduação e MBA da FASP.
sfigueiredo@soft.com.br
25. Com a rápida obsoles- resulta em algum tipo de capacitação
Artigo 03
cência do conhecimento e ou iniciativa de aprendizagem, qua-
as fortes pressões compe- se sempre identificada a começar
titivas o aprendizado na pela avaliação dos desafios de
medida e no tempo certo se negócios, problemas, expectativas
tornou fundamental ao sucesso dos clientes e interesses alvos da
no mundo dos negócios. As pessoas empresa. Embora grande parte do
conscientizam-se dia-a-dia que para se esforço de aprendizagem nas em-
manterem úteis e com oportunidades de traba- presas exista pela capacitação
lho, necessitam aprender durante toda a vida. interna dos talentos, dependendo da
estratégia, oportunidades de apren-
25
Por não existir conhecimento sem aprendizagem
dizagem devem ser oferecidas à
a relação entre gestão do conhecimento e
parceiros de negócios, distribuidores e
aprendizagem é bastante simples de explicar.
fornecedores.
Entretanto não é a maioria das empresas que
compreende o quanto a gestão do conhecimento O levantamento da realidade e dos
pode ajudá-las a direcionar estrategicamente desafios corporativos permite planejar
o foco do desenvolvimento dos colaboradores, iniciativas de gestão do conhecimento
a consolidar uma Cultura Orientada à Apren- eficazes, sendo necessário diversificar
dizagem e assim, superar os desafios da as formas de obtenção e entrega do
capacitação contínua e estratégica. saber em função de peculiaridades
tais como: estratégia alvo, aplicação
E neste contexto, todo gerente deve se empenhar
do conhecimento, diferentes hábitos
e estimular os processos de aprendizagem, quer
de consumo de informação e
sejam formais ou informais, prover os meios e os aprendizagem, diferentes culturas,
recursos necessários para desenvolvimento das localização e distribuição dos apren-
pessoas, criar ambientes favoráveis, permanecer dizes, processos de transferência de
atento para empreender oportunidades de conhecimento requeridos, as diferentes
ampliação do conhecimento, aprendizagem necessidades de uso do conhecimento,
individual e coletiva, compartilhamento de canais e audiências existentes.
conhecimentos, e se sentir responsável pela
criação de interfaces e encontros que resultem A superação dos desafios de sobre-
em aprendizado útil aos negócios, assumindo o vivência no mundo dos negócios exige
compromisso e a responsabilidade pela apren- não só a criação e a manutenção de
dizagem organizacional. programas de aprendizado arrojados
com foco nas Competências Essenciais,
Sua atenção perene deve considerar e com- mas principalmente o fortalecimento
preender como as pessoas aprendem na de uma Cultura Organizacional Orien-
empresa, seus hábitos de aprendizagem e os tada para o Aprendizado e aplicação
meios disponíveis para promover o ensino e efetiva do saber.
a aprendizagem organizacional. Espera-se
Acompanhando a mesma velocidade
como resultado desta compreensão e atuação,
das mudanças de nossos dias, a
a construção de uma cultura que valoriza o
correção de posturas e a incorporação
aprendizado em todos os aspectos. Fazem
de conhecimentos e competências pre-
parte desta escolha inteligente, uma infra-
cisam ocorrer na empresa. Circuns-
estrutura física e tecnológica adequada,
tancialmente, muitas vezes não é
procedimentos e posturas gerenciais coerentes
possível tirar as pessoas da empresa,
e cultura comportamental dos funcionários,
confiná-las em uma sala de aula
favoráveis em todos os aspectos, ao aprendizado
e promover o aprendizado formal
estratégico.
necessário. Isso não significa que os
Grande parte da demanda relevante e com treinamentos convencionais deixam de
propósito real para a Gestão do Conhecimento ser importantes e realizados, mas que
26. também ocorram diaria- o aprimoramento dos conhecimentos, lapidando
mente no próprio ambiente o futuro de todos. Não por acaso, com razoável
de trabalho. freqüência constato que as empresas de maior
sucesso são exatamente aquelas cujos ambientes
Apontar anualmente o número
são propícios à aprendizagem tanto formal
horas consumidas em treinamento
quanto informal. A cultura orientada para
pelos funcionários e publicá-
aprendizagem também favorece o surgimento
las em relatórios financeiros não
dos questionamentos feitos pelos colaboradores
significa muita coisa aos acionistas,
e consequentemente as melhores reflexões e
aos funcionários e nem mesmo ao
respostas como fruto, as parcerias e alianças
sucesso da empresa. O que garante
estratégicas em torno do saber e a revisão
26
que aprenderam? O que garante
dos processos (os tornando mais “inteligentes”),
que aprenderam a coisa certa? O
das linhas de negócios, produtos e serviços,
que garante que aprenderam na
ao contrário de simplesmente obedecer e
hora certa? Além das iniciativas
reproduzir velhas práticas.
de capacitação tradicionais, será
preciso desenvolver ambientes cuja Nesse ambiente ideal, as iniciativas de
aprendizagem ocorra informalmente, treinamento são vinculadas aos desafios e
livre entre as pessoas. Em outras objetivos estratégicos e as pessoas entendem
palavras, em alguns casos, será preciso a razão pela qual são submetidas a novos
criar uma empresa essencialmente no- desafios de aprendizagem, tendem a ir
va, onde todos aprendam com todos, espontaneamente atrás dos conhecimentos e a
o tempo todo, sem ter que agendar criar iniciativas próprias de aprendizagem, a
um dia para aprender. E este deve gerir suas próprias experiências de modo que
ser o ambiente alvo alavancado pela produzam conhecimentos nos colegas e sabem
Gestão do Conhecimento e toda sua contextualizar o resultado da aprendizagem
coerência gerencial. à aplicação prática, tendo um aproveitamento
muito maior. Além disso, as iniciativas são
Nossas instituições necessitam de clima moldadas e planejadas não só para prover o
favorável, pessoas abertas a ensinar conhecimento às pessoas, mas também, para
e ansiosas por aprender, ferramentas, identificar novos talentos, competências e
estímulos e reconhecimento. Esta cultura líderes.
orientada para a aprendizagem
valoriza os colaboradores que com Por meio de arranjos espontâneos e mutantes,
freqüência e espontaneamente exer- o ambiente de cultura favorável é capaz não
cem ora o papel de “mestre”, ora o só de informalmente disseminar e multiplicar
de aprendiz, que oferecem e pedem o conhecimento, mas manter a empresa em
ajuda, que dizem eu não sei, que pro constante estado de alerta, pronta e preparada
- ativamente aprendem e que exer- para a inovação e para reconfigurações de si
mesma se necessário.
citam em benefício dos stakeholders
o pensamento, a reflexão, os ques- Com reflexo bastante positivo, a cultura
tionamentos, a participação, a curio- orientada para aprendizagem alavanca
sidade, o interesse e a aplicação efe- a espontaneidade e estimula os processos
tiva dos conhecimentos. informais de ensino respondendo a desafios
pontuais da empresa. Podemos definir a
A aprendizagem definitivamente é
aprendizagem informal na empresa como
fruto do ambiente.
o processo pelo qual as pessoas aprendem
A cultura orientada para aprendiza- e ensinam mutuamente, trabalhando em
gem cria condições para que as pessoas grupo, compartilhando o que sabem de modo
aprendam e construam efetivamente o presencial, ou à distância pela rede, por e-mail
conhecimento a partir das experiências. ou telefone, trocando seus conhecimentos umas
Estimula e valoriza a pesquisa, a busca, com as outras, através das diversas relações
27. seja para solucionar um • processos de comunicação eficazes;
Artigo 03
problema, prestar um ser- • Empowerment;
viço ou melhorar um pro-
cesso. • infra-estrutura tecnológica favorável:
Intranet (Portal Corporativo), Extranet,
A aprendizagem informal tem Internet, iniciativas de groupware, e-mail,
forte influência e reflexo na bases de informações, ferramentas de
competitividade de uma empresa, comunicação, chat, ensino à distância,
daí a sua grande importância. As empresas sistemas para colaboração e de
tendem a ser mais competitivas a medida que informação em geral, etc...;
mais rapidamente aprendem coisas relevantes
27
e quanto melhor criam arranjos, embalam e • competências de grupo (comunicação,
fornecem (entregam) esses conhecimentos, ou liderança, confiança);
melhor, o resultante destes ao mercado. O sucesso • processos de cooperação bem
da aprendizagem informal, dependendo da definidos para trabalho coletivo,
empresa, exige o desenvolvimento não só de desenvolvimento de projetos e de
infra-estrutura tecnológica adequada, mas forças-tarefas;
também do desenvolvimento nas pessoas de
• ambiente favorável;
hábitos e comportamentos de cooperação,
ensino, aprendizagem, interesse, trabalho em • competências gerenciais;
grupo, comunicação eficaz e etc, todos muito • definição de desafios, metas e ob-
dependentes da cultura organizacional. jetivos mobilizadores;
Nesse sentido, cada vez com maior freqüência, • espírito de corpo, e
as empresas adotarão instrumentos e soluções
tecnológicas para motivarem e viabilizarem • encontros e oportunidades de traba-
aprendizagem informal. Além disso, em número lho em grupo.
também cada vez maior, as empresas adotarão Aprender é um processo. Ensinar
iniciativas e indicadores para medição da também pode ser.
performance de aprendizagem e ensino
Um outro desafio da gestão da apren-
informal, dedicados a medir e avaliar o interes-
dizagem é oferecer oportunidades
se, a participação e os índices de agregação para que os próprios funcionários
de valor em relação a criação, transferência possam oferecer e entregar formal-
e utilização do conhecimento relevante. Estes mente suas competências a outros
indicadores revelarão o quanto cada pessoa funcionários da empresa. Nesse caso
colabora para criação do conhecimento é preciso organizar e gerir cada
organizacional, o quanto cada um colabora com oportunidade de encontro e treina-
os trabalhos em grupo, prontidão de respostas, mento. A maioria dos funcionários,
resolução de problemas, aprendizado ou no normalmente aprecia a possibilidade
ensino em grupo, revelando o quanto cada de “dar aulas” e ensinar seus colegas.
um reutiliza do conhecimento armazenado, Na Soft Consultoria, empresa para
economiza de tempo e dinheiro, o quanto cada qual eu trabalho, os funcionários
um é produtivo no uso das informações e etc... são constantemente incentivados a
A aprendizagem informal e expontânea são ser instrutores de seus colegas nos
intrínsecas ao ser humano, porém funcionam programas de treinamento.
melhor a partir da criação de facilitadores. Na Para algumas empresas transformar
empresa, os facilitadores mais comuns são: a prática de ensino em rotina é mais
• Cultura organizacional favorável; urgente. Em empresas de consultoria,
por exemplo, onde há acentuada
• Motivação, reconhecimento e estímulo;
urgência na obtenção e aplicação do
• valorização das interfaces e relações sociais; conhecimento, a adoção deste modelo
28. em que todos assumem para ensinar. Como diz o ditado, ninguém é
e alternam constante- tão grande que não possa aprender e nem tão
mente os papeis de pequeno que não possa ensinar.
aluno e professor para “Nós temos que aprender a fazer, e o
transferência e dissemina- aprendemos fazendo.” Aristóteles
ção rápida do conheci-
mento, é de vital importância à Outro aspecto da aprendizagem relacionada
sobrevivência. Um modelo tradicional a gestão do conhecimento, é que as pessoas
de desenvolvimento de pessoas, não aprendem muito mais facilmente praticando e
garantiria a velocidade e o aprendi- aprendem muito mais com outras pessoas do que
28
zado necessário para este tipo de sozinhos. Tanto as interações e relações entre as
empresa, reduzindo suas chances pessoas, quanto a relação das pessoas e o meio
de sucesso. A partir deste modelo de em que vivem, envolvendo tudo aquilo que as
cultura orientada à aprendizagem, as cercam e as estimulam, têm muito a oferecer em
empresas conseguem o mais eficiente termos de potencial de aprendizado e criação
aprendizado interativo, fazendo com de conhecimento.
que as trocas de experiências entre O aprender fazendo é muito eficaz, e pela
seus colaboradores sejam efetivadas facilidade de contexto, faz da empresa um
dinâmica e rapidamente, gerando os ambiente ideal à aprendizagem conjugada com
conhecimentos necessários à manutenção a aplicação efetiva do saber. As organizações
e criação dos diferenciais competitivos. oferecem favoráveis condições para o “apren-
Ensinar é o melhor estilo de aprender. der fazendo” com inúmeras vantagens, pois
permitem que seus aprendizes testem e
Você deve estar se perguntando: E
apliquem o aprendizado, pondo em prática os
aqueles que não possuem habilidades
conhecimentos obtidos.
e não “levam jeito” para ensinar? Na
empresa hoje em dia, quem não souber O método mestre-aprendiz (imagine um músico
ensinar deve procurar aprender isso ensinando um garoto a tocar violino), surgindo
muito rapidamente. As empresas que como iniciativa formal ou informal dentro
já apreciam, passarão a valorizar da gestão do conhecimento, pode também
ainda mais aqueles que sabem ensinar superar as necessidades de produção de
e sabem transferir seus conhecimentos. conhecimentos nas instituições. Na empresa, em
Certamente com a mesma intensidade muitas circunstâncias diferentes, quase sempre
desprezarão aqueles que se dizem encontramos a figura de um “mestre” e de pelo
e se mostram incapazes de ensinar menos um aprendiz, que aprende fazendo,
e colaborar com seus amigos de copiando, imitando e interagindo com este
trabalho. primeiro. O que a Gestão do Conhecimento faz
é replicar e reproduzir este processo onde quer
Não são todos que reúnem condições
que o esforço se justifique pelo saber.
satisfatórias e facilidades para
ensinar. Nem todos se transformarão Este método, muito dependente da experi-
nos melhores instrutores da noite para mentação, a partir do orientar e fazer, oferece
dia. Mas ensinar é o melhor estilo de facilidades para a produção e assimilação
aprender. Saber ensinar na empresa, dos conhecimentos alvos. Não considerar na
passa a ser um atributo bastante empresa o potencial das transferências de
apreciado, valioso e um precioso conhecimentos pelo método mestre aprendiz,
diferencial a ser apresentado pelos pode resultar na extinção de conhecimentos
talentos. Felizmente, não existe nada relevantes complexos, que não poderiam ser
que impeça uma pessoa normal de facilmente documentados e transferidos por
desenvolver habilidades e técnicas meio da codificação.