O conto narra a história de um rapaz que encontra uma menina do mar e se tornam amigos. Quando a Raia do Mar proíbe a menina de ir à terra, o rapaz bebe um filtro mágico para poder viver no mar com ela. No final, eles vivem felizes juntos no reino do Rei do Mar.
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
A Menina do Mar: A história da bailarina do fundo do mar
1. A MENINA DO MAR
de
SOPHIA DE MELLO
BREYNER ANDERSEN
Música Ficha Técnica Biografia Início
2. Era uma vez uma casa branca nas
dunas, voltada para o mar. Em roda da
casa havia um jardim de areia onde
cresciam lírios brancos e uma planta que
dava flores brancas, amarelas e roxas.
Nessa casa vivia um rapazito que
passava os dias a brincar na praia, muito
grande e quase deserta. Durante a maré
alta só se viam as ondas quebrarem na
areia com um barulho de palmas. Mas na
maré vazia as rochas apareciam cobertas
de limos, búzios, anémonas, lapas, algas
e ouriços. O rapazinho tinha imensa pena
de não ser um peixe para poder ir ao
fundo do mar sem se afogar.
3. Em Setembro veio o equinócio: marés
vivas, ventanias, nevoeiros temporais.
Certa noite, as ondas gritaram tanto,
uivaram tanto, que o rapazinho esteve
até altas horas sem dormir. Por fim,
cansado de escutar, adormeceu
embalado pelo temporal.
De manhã, quando acordou, estava tudo
calmo.
Então, foi brincar para as rochas e nadou
muito tempo nas poças de água. Depois,
deitou-se numa rocha a secar. De
repente, ouviu ....
- Oh! Oh! Oh! – ria o polvo.
- Que! Que! Que! - ria o caranguejo.
4. - Glu! Glu! Glu! – ria o peixe.
- Ah! Ah! Ah! – ria a Menina. - Agora
quero dançar.
E principiou a dançar. Escondido atrás do
rochedo, imóvel e calado, o rapaz olhava.
- Vem aí a maré alta, são horas de irmos
embora – disse o caranguejo.
- Vamos – disse o polvo.
Chamaram o peixe e foram até uma gruta
para onde entraram os quatro. O rapaz
quis ir atrás deles, mas não cabia na
entrada da gruta. Na manhã seguinte, foi
a correr para a praia, pelo caminho da
véspera e tornou a esconder-se.
5. A menina, o caranguejo, o polvo e o
peixe estavam a fazer uma roda dentro
de água, divertidíssimos. O rapaz deu um
salto e agarrou a menina.
- Ai, ai, ai! Ó polvo, ó caranguejo, ó peixe,
acudam-me, salvem-me! – gritava a
Menina do Mar.
- Não grites, não chores, não te
assustes...
- Vais-me fritar... ó polvo, ó caranguejo, ó
peixe!
- Eu, fritar-te? Para quê ???!!
- Os peixes dizem que os homens fritam
tudo quanto apanham.
6. - Isso são os pescadores. Eu não sou
pescador e tu não és um peixe. Não te
quero fazer mal, só quero que me contes
quem és.
Ela parou de gritar, limpou as lágrimas e
disse:
- Vamos sentar-nos naquele rochedo e
eu conto-te tudo.
Sentaram-se um em frente do outro e a
menina contou:
- Chamo-me Menina do Mar. Não sei
onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-
-me no bico para esta praia, pôs-me
numa rocha na maré vaza e o polvo, o
caranguejo e o peixe tomaram conta de
mim.
7. Vivemos numa gruta muito bonita. O
polvo arruma a casa, alisa a areia, vai
buscar comida; o cozinheiro é o
caranguejo, que faz também os meus
vestidos e os colares de búzios, corais e
pérolas. O peixe não faz nada porque
não tem mãos, mas é o meu melhor
amigo... Eu posso respirar dentro de
água como os peixes e fora de água
como os homens. Ninguém me faz mal
porque eu sou a bailarina da Grande
Raia, a dona destes mares. Quando ela
dá uma festa, eu danço até de
madrugada. E quando a Raia está triste
ou mal disposta, eu tenho que dançar
para a distrair.
8. Sou a bailarina do mar e todos gostam de
mim. Mas eu tenho medo da raia, até as
baleias têm medo dela...! Agora, leva-me
para o pé dos meus amigos!
O polvo, o caranguejo e o peixe estavam
a chorar abraçados.
- Estou aqui. Ele é meu amigo e não me
vai fritar.
O rapaz pôs a Menina na água, ao pé
dos amigos, que davam saltos de alegria
e muitas gargalhadas.
- Tenho tanta curiosidade da Terra –
disse a Menina, - amanhã, quando
vieres, traz-me uma coisa da terra.
No dia seguinte...
9. - Bom-dia, bom-dia, bom-dia!
- Bom-dia – disse o rapaz. -Trago-te
uma flor da terra, chama-se rosa.
- É linda! Tem um perfume
maravilhoso. Mas estou um bocadinho
triste… No mar há monstros e perigos,
mas as coisas bonitas são alegres. Na
terra, há tristeza dentro das coisas
bonitas.
- Isso é por causa da saudade.
- O que é a saudade?
10. - Saudade é a tristeza que fica em nós
quando as coisas de que gostamos se
vão embora.
- Ai! - suspirou a Menina, olhando para a
Terra. - Porque é que me mostraste a
rosa? Agora estou com vontade de
chorar.
- Esquece-te da rosa e vamos brincar.
E lá foram os 5, rindo e brincando. Até
que a maré subiu e o rapaz teve que se ir
embora.
No dia seguinte...
- Bom–dia - disse a Menina. - O que é
que me trouxeste hoje?
11. - Trouxe-te uma caixa de fósforos
- Não é muito bonito...
- Não; mas tem lá dentro uma coisa linda
e alegre: fogo!
O rapaz acendeu um fósforo. A menina
pediu para tocar no fogo.
- Isso é impossível. O fogo é alegre mas
queima.
- É um sol pequenino.
- Sim, mas não se lhe pode tocar.
O rapaz soprou o fósforo e o fogo
apagou-se.
- Tu és bruxo! Sopras e as coisas
desaparecem.
12. - Não sou bruxo, o fogo enquanto é
pequeno, qualquer sopro o apaga. Mas
depois de crescido pode devorar florestas
e cidades.
- Então o fogo é pior que a raia?
- É conforme. Enquanto é pequeno, é o
maior amigo do Homem: aquece-o,
cozinha-lhe a comida, alumia-o... Mas
quando cresce de mais, fica mais cruel e
mais perigoso que todos os animais
ferozes.
- As coisas da Terra são esquisitas e
diferentes. Conta-me mais coisas da
Terra.
13. Sentaram-se os dois dentro de água e o
rapaz contou-lhe como era a sua casa, o
seu jardim, as cidades e os campos, as
florestas e as estradas.
- Como eu gostava de ver isso tudo...!
- Vem comigo, eu mostro-te coisas
lindas.
- Não posso, se for para a terra seco e ao
fim de umas horas ficaria igual a um
farrapo velho...
- Que pena!
No dia seguinte...
- Hoje trago-te vinho. Quem o bebe fica
cheio de alegria.
14. Pousou na areia um copo cheio de vinho. A
Menina segurou o copo e olhou o vinho,
cheia de curiosidade.
- É muito encarnado e perfumado. O que é
o vinho?
- É o sumo dos frutos da videira. Bebe se
queres saber como é.
- É bom e é alegre! Eu quero ir ver a
Terra...! Há tantas coisas que eu não sei...
- Tenho uma ideia: amanhã encho um
balde com água do mar e algas. Tu pões-te
lá dentro para não secares e eu levo-te a
ver a terra.
- Está bem, amanhã vou contigo ver
gente e carros, os animais da terra e
todas as coisas que me contaste.
15. E passaram o resto da manhã a fazer
planos...
No outro dia...
- Bom-dia! Trago aqui o balde. Vamos
embora depressa.
- Eu não posso ir.
E a Menina desatou a chorar como uma
fonte.
- Mas porquê ?
- Os búzios, os ouvidos do mar, foram
contar as nossas conversas à Raia. Ela
ficou furiosa e agora já não posso ir
contigo.
- Mas ela não está aqui, vamos embora
depressa.
16. - Impossível, as rochas estão cheias de
polvos que não nos deixam passar.
Amanhã já não volto aqui. A Raia decidiu
que esta noite, ao nascer da Lua, eu serei
levada pelos polvos para uma praia
distante. E nunca mais nos poderemos
encontrar.
- Vamos experimentar fugir.
Pôs a Menina no balde e pôs-se a correr.
- Larga-me, larga-me, senão eles matam-
te.
Os polvos envolviam-lhe a cintura,
apertavam-lhe o pescoço. O rapaz viu o
céu ficar preto, deixou de ouvir o barulho
das ondas e desmaiou.
17. Acordou com a água a bater-lhe na cara.
Tinha o corpo coberto de marcas deixadas
pelas ventosas dos polvos. Foi para casa
devagar.
Passaram dias e dias. O rapaz voltou
muitas vezes às rochas mas nunca mais
viu a Menina nem os seus 3 amigos. Até
que chegou o Inverno e numa manhã de
nevoeiro o rapaz sentou-se na praia a
pensar na Menina do Mar.
Enquanto assim estava, uma gaivota
chegou junto dele e deixou cair um frasco
cheio de água muito clara e luminosa.
18. - Bom-dia – disse a gaivota.
- Bom-dia - respondeu o rapaz. - Donde
vens e porque me dás este frasco?
- Venho da parte da Menina do Mar. Ela
manda-te dizer que já sabe o que é a
saudade e pediu-me para te perguntar
se queres ir ter com ela ao fundo do mar.
- Quero, quero. Mas como hei-de ir ao
fundo do mar sem me afogar?
- O frasco que te dei tem dentro suco de
anémonas e plantas mágicas. Se
beberes, passarás a ser como a Menina
do Mar. Poderás viver dentro de água
como os peixes e fora da água como
os homens.
19. - Vou beber já!
Então viu tudo mais vivo e mais brilhante.
Sentiu-se alegre, feliz, como se tivesse
ficado mais livre, mais forte, mais fresco e
mais leve.
- Ali no mar está um golfinho à tua espera
para te ensinar o caminho.
- Adeus, adeus, Gaivota. Obrigado,
obrigado.
E correu para as ondas e nadou até ao
golfinho.
- Agarra-te à minha cauda - disse o
golfinho.
E foram os dois pelo mar fora, durante 60
dias e 60 noites.
20. Chegaram por fim a uma ilha.O golfinho
parou em frente duma gruta.
- É aqui: entra e encontrarás a Menina
do Mar.
- Obrigado, obrigado. Adeus, golfinho.
O rapaz entrou na gruta e espreitou. A
menina, o polvo, o caranguejo e o peixe
estavam quietos, tristes e calados, a
brincar com conchinhas. De vez em
quando, a Menina suspirava.
- Ai...!
- Estou aqui! cheguei! sou eu! - gritou o
rapaz.
21. Todos se voltaram para ele. Abraçaram-
se, riam e gritavam.
- Estou tão feliz, tão feliz, tão feliz! Sem
ti, o mar parecia triste e vazio e eu não
sabia o que fazer. Até que um dia o Rei
do Mar deu uma grande festa e mandou-
-me ir ao palácio para eu dançar. Eu
entrei na gruta onde estava o Rei do Mar
com os seus convidados e os búzios
começaram a cantar uma canção
antiquíssima. Mas eu estava muito triste,
por isso dancei muito mal.
22. - Porque é que estás a dançar tão mal? -
perguntou o Rei do Mar.
- Porque estou cheia de saudades.
- Saudades? Que história é essa?
- E perguntou ao polvo, ao caranguejo e
ao peixe o que tinha acontecido. Eles
contaram-lhe tudo. O Rei do Mar teve
pena de ver uma bailarina que já não
sabia dançar.
- Amanhã de manhã vem ao meu palácio!
- No dia seguinte o Rei do Mar subiu
comigo à tona das águas. Chamou uma
gaivota, deu-lhe o frasco com o filtro das
anémonas e mandou-a ir à tua procura.
Foi assim que eu consegui
que tu voltasses.
23. - Agora nunca mais nos separamos.
- Agora vais ser forte como um polvo –
disse o polvo.
- Agora vais ser sábio como um
caranguejo – disse o caranguejo.
- Agora vais ser feliz como um peixe -
disse o peixe.
- Agora a tua terra é o Mar - disse a
Menina do Mar.
E foram os cinco através de florestas,
areais e grutas.
24. No dia seguinte, houve outra festa no
palácio do Rei. A Menina do Mar dançou
toda a noite e as baleias, os tubarões, as
tartarugas e todos os peixes diziam:
- Nunca vimos dançar tão bem...
E o Rei do Mar estava sentado no seu
trono de nácar, rodeado de cavalos-
-marinhos, e o seu manto de púrpura
flutuava nas águas.
FIM
26. 1919 – Nasce a 6 de Novembro no Porto. Aos 3 anos, tem o
primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita
A Nau Catrineta, que aprenderia de cor.
Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou-a a recitar
Camões e Antero
1926 – Frequenta o Colégio do Sagrado Coração de Maria,
no Porto, até aos 17 anos
1936 – Estuda Filologia Clássica, na Faculdade de Letras
Lisboa. Casa com Francisco de Sousa Tavares, de quem cinco
filhos
1944 – Publica o primeiro livro, Poesia. É o início de um
fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também
ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente,
Dante e Shakespeare
27. 1947 – O Dia do Mar, Ática
1950 – Coral, Livraria Simões Lopes
1954 – No Tempo Dividido, Guimarães
1956 – O Rapaz de Bronze (literatura infantil), Minotauro
1958 – Mar Novo, Guimarães; A Menina do Mar (infantil),
Figueirinhas; A Fada Oriana (infantil), Figueirinhas.
Escreve um ensaio sobre Cecília Meireles na «Cidade Nova»
1960 – Noite de Natal (infantil), Ática. Publica o ensaio
Poesia e Realidade, na «Colóquio 8»
1961 – O Cristo Cigano, Minotauro
1962 – Livro Sexto, Salamandra, distinguido com o Grande
Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de
Escritores, em 1964; Contos Exemplares (ficção),
Figueirinhas
28. 1964 – O Cavaleiro da Dinamarca (infantil), Figueirinhas
1967 – Geografia, Ática
1968 – A Floresta (infantil), Figueirinhas; Antologia,
Portugália, cuja 5ª edição (1985 – Figueirinhas)
é prefaciada por Eduardo Lourenço
1970 – Grades, D. Quixote
1972 – Dual, Moraes
1975 – Publica o ensaio O Nu na Antiguidade Clássica,
integrado em O Nu e a Arte, uma edição
dos Estúdios Cor.
29. Deputada pelo Partido Socialista à Assembleia Constituinte.
A sua actividade político-partidária, não foi longa, mas
ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada
pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril,
pertence mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos
Políticos
«A poesia é das raras actividades humanas que, no
tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade.
A poesia não é uma espécie de religião, mas não há
poeta, crente ou descrente, que não escreva para a
salvação dasua alma – quer a essa alma se chame amor,
liberdade, dignidade ou beleza»
(JL 709, de 17/12/97)
30. 1977 – O Nome das Coisas, Moraes, distinguido com o Prémio
Teixeira de Pascoaes
1983 – Navegações (IN-CM), recebe o Prémio da Crítica do
Centro Português da Associação de Críticos Literários
1984 – Histórias da Terra e do Mar (ficção), Salamandra
1985 – Árvore (infantil), Figueirinhas
1989 – Ilhas, Texto, distinguido com os Prémios D. Dinis,
da Fundação Casa de Mateus e Inasset-INAPA (1990)
1990 – Reúne toda a sua obra em três Volumes, Obra Poética,
com a chancela da Editorial Caminho; é distinguida
com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube
1992 – Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura
para Crianças
31. 1994 – Musa, Caminho. Recebe Prémio Vida Literária da
Associação Portuguesa de Escritores. Publica Signo,
um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra, uma
edição Presença/Casa Fernando Pessoa
1995 – Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália
1996 – Homenageada do Carrefour des Littératures, na IV
Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia
1998 – O Búzio de Cós, Caminho, distinguido com o Prémio
da Fundação Luís Míguel Nava
1999 – Prémio Camões
2003 – Prémio Literário Rainha Sofia
34. Ficha técnica
Escola E. B. 2, 3 Dr. Francisco Cabrita
Rua da Correeira . Montechoro
8200-112 Albufeira Tel 289 58 84 71 Fax 289 58 66 63
E-mail: eb23n2@mail.telepac.pt
Trabalho realizado no ano lectivo 2002/2003
Projecto Sócrates . Comenius . Acção 1
Coordenadora: Lurdes Pelarigo
35. Desenhos realizados pelos alunos da turma do 5º Ano A
Dramatização a cargo dos alunos:
Ana Rita Pereira
André R. dos Santos
Bruno Penisga
Helena Chainho
Inês Almeida
Marlene Barreira
Nadine Silva Sara Lopes
Vanessa Branco
36. Sinopse: Lurdes Pelarigo
Disciplinas envolvidas: Língua Portuguesa
Educação Visual e
Tecnológica
Cenários: Leopoldina Figueiras
Fotografia: Fátima Santos e Teresa Quirino
Apresentação em Powerpoint :
Teresa Quirino e Lurdes Pelarigo
Apoio Técnico: Miguel Quaresma
Coordenação do Projecto: Lurdes Pelarigo
37. Música
Extractos de música clássica, portuguesa e
de sons da natureza:
- Beethoven
- Vivaldi
- Madre Deus
- Carlos Paredes
- Canções de Roda
- Maria João Pires
- Dulce Pontes