O documento discute como o verbo é ensinado nas escolas brasileiras. Analisa um estudo que mostra que o ensino se concentra principalmente nas formas verbais ao invés da significação. Também lista tópicos sobre o verbo que poderiam ser abordados em atividades de ensino/aprendizagem, como tipos de verbos, tempos, modalidades, voz e aspectos.
2. NÚMERO PESSOA TEMPOS MODALIDADE VOZ ASPECTOS
CONCORDÂNCIA VERBAL REGÊNCIA VERBAL
EXEMPLOS DE ATIVIDADES PARA O ENSINO DO VERBO
Tipos de atividades
3. Agora iremos visitar o Campo de Marte onde vivem
acampados os VERBOS, uma espécie muito curiosa de
palavras. Depois dos Substantivos são os Verbos as
palavras mais importantes da língua. Só com um
Nome e um Verbo já podem os homens exprimir uma
ideia.
Monteiro Lobato, Emília no País da Gramática.
4. O que a escola tem trabalhado nas atividades de ensino de verbo?
Para responder esta pergunta vamos nos valer dos estudos feitos por
Nunes, G. (2001)
“Partindo do pressuposto de que os professores ensinam
basicamente o que está proposto pelo livro didático [...] Nunes,
G. (2001) fez um levantamento do que tem sido ensinado sobre
verbo nas escolas de ensino fundamental (5ª a 8ª séries)
Para fazer seu levantamento Nunes usou quinze coleções de livros didáticos
num total de sessenta volumes (quinze de cada série). Dez dessas coleções
eram classificadas pelo MEC com três, duas ou uma estrela como forma de
orientação do professor na adoção ou não dos livros didáticos e cinco não
contavam da relação de coleções analisadas pelo MEC. Segundo Nunes, G.
(2001) não há diferença notável entre as primeiras e as segundas no que dizem
respeito ao ensino do verbo.
5. “O estudo é predominantemente teórico e voltado quase
exclusivamente para as formas (flexão, identificação e denominação),
pois o trabalho com a significação é raro.
Na verdade, a preocupação com a significação parece ocorrer só
com uma coleção em atividades de gramática reflexiva em que o
autor busca incorporar sugestões feitas por Travaglia 1996), todavia
sem maior amplitude de aplicação [...] suas possibilidades
significativas e sua adequação à produção de efeitos de sentido e às
situações de uso, nem mesmo ao que diz respeito ao já registrado
nas Gramáticas tradicionais e nos estudos de Estilísticas.
MAGNO
7. Nos itens anteriores ficaram sugeridos alguns tópicos sobre o verbo
que pensamos poderia ser objetos das atividades de ensino /
aprendizagem no Ensino Fundamental e Médio.
“Vamos, a seguir, elencar de forma mais explícita e organizada uma
série de itens que podem ser objeto de atividades de ensino /
aprendizagem do tópico “verbo” dentro do ensino de gramática.[...]
1) Trabalhar os itens, elencados nos diferentes planos da
língua, quando este for o caso e se isto for possível ou, pelo
menos, com consciência sobre a qual plano determinado o
fato se refere:
8. a) fonológico: por exemplo, a flexão do verbo e a alternância
vocálica: eu durmo, tu dormes, ele / você dorme;
b) “morfológico: por exemplo, a flexão do verbo e os
morfemas flexionais.
c) “sintático: por exemplo, a flexão do verbo e a concordância
com o sujeito e outras formas de concordância.
d) “semântico: por exemplo, a flexão verbal e a categoria que
expressa ( tempo, modalidade, número, pessoa).
9. 2) Mostrar o funcionamento dos verbos nos níveis lexical, frasal e
textual .
a) lexical: itens como classe de palavras, significado de itens lexicais (
por exemplo, distinção de verbos sinônimos)
b) frasal: itens como regência, concordância, predicado com seus
argumentos, transitividade, etc.;
c) ”textual, em que os fatos como: a) coesão ( continuidades de tempo e
aspecto ); b) relações entre categorias e tipologia de textos e estruturas
d) verbos usados como marcadores conversacionais e ordenadores de
elementos no texto;
e) formas e categorias verbais estabelecendo relevo etc.
10. 3) Na organização da atividade, como proposto
no capítulo 4, usar duas formas básica:
a) organizar pelo tipo de recurso;
b) organizar pela instrução de sentido.
11. “Em nenhum momento queremos sugerir que a listagem abaixo contém um levantamento
de tudo o que se pode trabalhar a respeito do verbo [...] Considerando apenas o básico
sobre o verbo e que não pode ser esquecido no ensino / aprendizagem sobre o mesmo.”
1) Tipos de verbo
Há diversas classificações, como a de Borba (1990), a tradicional usando o critério de
transitividade, a de Travaglia (1981 e 1991).
A) verbos lexicais: “expressam situações identificáveis no mundo biopsicofísicossocial,
funcionando como lexemas: 1) de situação dinâmica: de ação ( comprar, escrever, andar etc.);
b) de acontecer
B) verbos gramaticais: “não expressam situações, mas exercem outras funções tais como:
1) marcar categorias verbais ( tempo, modalidade, aspecto e voz)
2) se simplesmente um “carregador” ou “suporte de categorias
3) indicar noções gerais e abstratas em relação a uma situação apresentada por outro verbo
4) exercer funções ou papeis textuais-discursivos determinados tais como:
a) marcar relevância ( Foi Maria que limpou a casa / / Importa ou É
importante/fundamental/crucial fazer justiça); indicar tempo ( Faz duas horas que ele chegou)
12. SOCORRINHA
Ao trabalhar com o verbo é preciso:
a) “distinguir coisas como: tempos flexionais do verbo [...] tempo
verbal [...] modalidade [...]”
b) no que respeita às formas verbais, trabalhar as flexões dentro
dos grupos de conjunção, tanto dos chamados verbos regulares,
quanto irregulares, anômalos, defectivos e abundantes.
c) confrontar flexões de variedade culta , como flexões das
variedade não-cultas da língua tais como: seja/seje, tesse/tivesse,
ponhá/pôr etc.
13. Neste tópico, não só mostrar a flexão de número em singular e
plural, que na verdade é uma flexão de nome que se “reflete” no
verbo pelo processo da concordância, mas também fazer com que o
aluno:
a) saiba usar automaticamente as desinências.
b) ao estudar a concordância, possa discutir as diferenças de efeitos
de sentido nos textos.
c) distinga certos efeitos do uso no plural pelo singular e vice-versa
em termos de determinados usos.
NÚMERO
14. “No trabalho com a pessoa mostrar que:
a) as pessoas estão relacionadas como o discurso em termos de
sujeitos envolvidos [...]
a) b) como o número, a pessoa é mais uma categoria dos
nomes (substantivos) e dos pronomes que “passa” para o
verbo no processo da concordância;
a) c) algumas pessoas (segunda do singular e plural) tem pouca
produtividade no Português do Brasil, ficando mais restritas a
alguns dialetos regionais.
PESSOA
15. Trabalhar com o tempo enquanto categoria verbal mostrando:
a) ”o que é uma categoria dêitica de tempo.
b) “que o Português faz ( 6 ) seis marcações temporais distintas.
c) as noções temporais que cada forma verbal pode exprimir;
d) “as perífrases que podem expressar a categoria de tempo.
e) “usos textuais dos tempos,
TEMPOS
16. Trabalhar as modalidades mostrando:
a) que são indicações de atitudes do falante em relação
ao que diz;
b) “os recursos para expressão da modalidade.
c) os usos argumentativos da modalidade;
d) “um quadro sempre o mais completo possível de
modalidade.
MODALIDADE
17. Trabalhar a voz mostrando basicamente:
a) “que é a categoria verbal através da qual se marca a relação
entre o verbo e seu sujeito.
b) pode considerar a existência de até quatro vozes
c) “os recursos de expressão da voz do Português contemporâneo
do Brasil.
d) a existência da passividade do sujeito sem haver voz passiva;
e)“as diferenças significativas de dizer a “mesma coisa”, usando
uma voz ou outra.
VOZ
18. Trabalhar o aspecto mostrando basicamente:
a) “que é uma categoria de tempo, não-dêitica, que marca a
duração da situação.
b) “as noções aspectuais e os aspectos correspondentes.
c) as principais formas de expressão do aspecto.
d) os papéis textuais do aspecto na coesão textual e na
caracterização de tipos de textos.
e) os papéis textuais do aspecto na ordenação de situações.
ASPECTOS
19. CONCORDÂNCIA VERBAL
Trabalhar a concordância verbal mostrando basicamente:
a) as regras de concordância entre sujeito e verbo da
norma culta.
b) que nestas regras de concordância entre sujeito e
verbo, o que se observa é quase sempre a possibilidade
de opção entre duas ou mais possibilidades de
concordância.
c) a variação da concordância entre verbo e sujeito de
acordo com a variedade linguística.
20. REGÊNCIA VERBAL
Trabalhar a regência verbal, atendendo a critérios de
frequência, sempre dentro dos seguintes parâmetros:
a) “observar a regência pela norma culta, confrontando
com as regências autorizadas em outras variedades da
língua.
b) “trabalhar sempre com a regência, tendo em vista uma
variedade linguística contemporânea.
c) no caso de regências alternativas, trabalhar a diferença
de significação, quando ocorre.
21. EXEMPLOS DE ATIVIDADES PARA O ENSINO DO VERBO
“Os exemplos de atividades que aqui são
apresentados, visam, tão somente,
mostrar de modo mais concreto como
poderiam ser abordados alguns itens do
tópico “verbo”.
22. Tipos de atividades
“Como foi sugerido, pode-se fazer
uma abordagem teórica ou uma
abordagem não teórica dos fatos
da língua.
23. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, enfatiza-se a
necessidade de dar ao aluno condições de ampliar o domínio da
língua e da linguagem, de desenvolver seus conhecimentos
discursivos e linguísticos e de prepará-lo, dessa forma, para o
exercício da
cidadania.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais −
Ensino Médio, publicados dois anos depois
dos PCNs do Ensino Fundamental,
evidência de que as falhas se perpetuam
no ensino da gramática.
MAGNO
24. Nas gramáticas e nos materiais didáticos (livros, apostilas,
manuais de orientação ao professor etc.), o tratamento dado
ao verbo, em geral, limita-se à exposição de modelos de
conjugação, com todas as formas temporais e modais, sem
que se explique, por exemplo, por que alguns verbos
permitem certas construções e outros não.
Infelizmente, não se discute o essencial, isto ., as
marcas que o sujeito enunciador deixa de si mesmo ao
utilizar as formas verbais para expressar-se, oralmente
ou por escrito, e, ainda, o que pretende dizer ao
ouvinte/leitor e como quer que este interprete o que
foi dito.
MAGNO
25. MAGNO
A expressão se constrói no interior da mente , sendo sua
exteriorização apenas uma tradução. A enunciação é um ato
monológico , individual, que não é afetado pelo outro nem pelas
circunstâncias que constituem a situação social em que a
enunciação acontece. [...] Presume-se que há regras a serem
seguidas para a organização lógica do pensamento e,
consequentemente, da linguagem, são elas que se constituem
nas normas gramaticais do falar e Escrever bem. (TRAVAGLIA,
1996, p. 21).