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ISSN 1982 - 0283




Escola de atenção às diferenças



                   Ano XX boletim 03 - Abril 2010



                 Secretaria   Ministério da
    de Educação a Distância     Educação
Sumário

Escola de atenção às diferenças


Apresentação da série ........................................................................................................... 3
Rosa Helena Mendonça



Proposta da série Escola de atenção às diferenças ................................................................. 5
Rita Vieira de Figueiredo



Texto 1 – Políticas e marcos legais para a educação inclusiva
Construir a escola das diferenças – caminhando nas pistas da inclusão .............................. 14
Maria Teresa Eglér Mantoan


Texto 2 – Atendimento educacional especializado
Salas de Recursos Multifuncionais: espaço para o atendimento educacional especializado
nas redes públicas de ensino ................................................................................................ 23
Rosângela Machado


Texto 3 – Práticas educacionais no contexto das diferenças
Escola atenta às diferenças: gestão de redes e dos processos de ensino . ............................. 28
Maria Terezinha C. Teixeira dos Santos
Escola de atenção às diferenças
								
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE

								                                                                     Rosa Helena Mendonça1	




     Eu desconfiava2

           	    (...)

     	 Todas as guerras do mundo são iguais.
     	 Todas as fomes são iguais.
     	 Todos os amores, iguais iguais iguais.
     	 Iguais todos os rompimentos.
     	 A morte é igualíssima.
     	 Todas as criações da natureza são iguais.
     	 Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.                                      3
     	 Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
     	 coisa.
     	 Não é igual a nada.
     	 Todo ser humano é um estranho
     	 ímpar.


De forma a um tempo sensível e radical, como é pertinente à linguagem poética, Carlos Drum-
mond de Andrade nos fala talvez de solidão e, certamente, de singularidade. Afinal, todo ser
humano é uma individualidade que na convivência cotidiana com outros seres humanos, em
diversas esferas da vida social, vai desenvolvendo seus desejos e suas potencialidades.


E a escola é um dos espaços em que os ‘ímpares’ vão encontrar seus pares. Um lócus privile-
giado de convivência. E, acima de tudo, um espaço de equidade de oportunidades para todos.




1	     Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
2	     Igual – desigual, in ANDRADE, Carlos Drummond de. A paixão medida. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Escola de atenção às diferenças, esse é o tema da série que o programa Salto para o Futuro, da
TV Escola, apresenta, propondo uma reflexão sobre a inclusão, não só para os professores da
Educação Básica, mas para toda a comunidade escolar, assim como para a própria sociedade.


A série, que conta com a consultoria da professora e pesquisadora Rita Vieira de Figueiredo
(UFC), nos três eixos temáticos que são apresentados, tanto nos textos desta publicação, como
nos programas televisivos que com ela dialogam, possibilita um debate que gira em torno de
políticas e marcos legais para a educação inclusiva, de atendimento educacional especializado
e de práticas educacionais no contexto das diferenças.


Esperamos, dessa forma, contribuir para a formação de professores e professoras que são os
profissionais que farão, na prática, as profundas mudanças necessárias para a inclusão escolar
de todos.




                                                                                                 4
PROPOSTA DA SÉRIE

Escola de atenção às diferenças
									                                                                     Rita Vieira de Figueiredo1



A construção de uma escola de atenção às                  mento que permita a cada um desses grupos
diferenças demanda uma política de inclu-                 desenvolver um saber e um saber fazer em
são a ser implementada pelas redes de ensi-               que se valorize a participação de cada um
no, com repercussões no interior da escola.               como membro que contribui com as ações
A escola de atenção às diferenças mobiliza                daquela comunidade educativa. Este mes-
seus profissionais para o desenvolvimento                 mo preceito deve ser observado no interior
de uma cultura de inclusão e uma prática de               da sala de aula, espaço pedagógico em que
inclusão. O primeiro aspecto concebe a ideia              cada aluno se constitui em sujeito de apren-
de que TODO aluno tem lugar assegurado                    dizagem que contribui efetivamente para a
na escola, o segundo reside na previsão e na              elaboração de um saber que só tem sentido
organização de recursos humanos e mate-                   quando compartilhado por todos os mem-
riais que possibilitem a construção de práti-             bros da classe.                                  5
cas pedagógicas que permitam a interação e
a participação dos alunos indistintamente. A              A acessibilidade aos saberes escolares re-
construção dessa escola requer a colabora-                quer uma verdadeira transformação no in-
ção entre os diversos agentes do meio esco-               terior da escola. É dever das redes de ensino
lar, tais como os gestores e a equipe técnica,            e das políticas públicas criar as condições
os professores da sala comum e os profes-                 para que a escola se transforme em espaço
sores do Atendimento Educacional Especia-                 verdadeiro de trocas que favoreçam o ato de
lizado. Esses profissionais devem aprender a              ensinar e de aprender. Neste sentido, nosso
trabalhar juntos e a orquestrar seus esforços             país ainda tem um importante caminho a
em favor do desenvolvimento de uma edu-                   percorrer para assegurar educação a todos
cação sintonizada com as necessidades dos                 os jovens, crianças, adultos e adolescentes
alunos e com as atuais demandas sociais                   que integram o sistema público de ensino.
que permeiam o interior da escola. Faz-se
necessário às redes de ensino conceberem                  De acordo com a nova Política de Educação
um modelo de formação e de acompanha-                     Especial na Perspectiva da Educação Inclusi-



1	     Professora da Universidade Federal do Ceará. Consultora da série.
va os sistemas de ensino devem se organizar    de se construir um ambiente acolhedor en-
para oferecer a TODAS as crianças não so-      tre as crianças, contrapondo-se à punição e
mente o acesso e a permanência na escola,      à repreensão. Em estudo por nós realizado
mas também, os serviços educacionais que       (FIGUEIREDO, 2008) em uma escola pública
forem necessários para garantir a aprendi-     em contexto de inclusão escolar, constata-
zagem escolar. A articulação entre o ensino    mos que o tipo de convivência estabelecida
comum e a educação especial, sobretudo         na classe independe da presença de alunos
através do atendimento educacional espe-       com deficiência, bem como as dificulda-
cializado, visa à aprendizagem dos alunos      des de inserção não estão relacionadas à
que se beneficiam desse serviço. Transfor-     deficiência, mas à forma como a criança é
mar a escola significa criar as condições      educada. No espaço da sala da aula a con-
para que TODOS os alunos possam atuar efe-     vivência se torna mais harmoniosa quando
tivamente nesse espaço educativo, focando      a professora consegue estabelecer com seu
as dificuldades do processo de construção      grupo um ambiente no qual as crianças se
do conhecimento no ambiente escolar e não      sentem seguras, respeitadas, acolhidas e
nas características particulares dos alunos.   percebem o reconhecimento do outro sobre
                                               as suas ações. Para isso, o professor deve ser
                                                                                                6
                                               uma referência de segurança sobre a qual a
Em relação ao ambiente escolar favorável à
                                               criança pode se apoiar, estabelecendo roti-
inclusão, Soodak (2003) sugere que este deve
                                               nas de trabalho cotidiano da sala de aula,
contemplar a organização de um espaço no
                                               assegurando a participação de todos os alu-
qual os alunos se sentem acolhidos, seguros
                                               nos nas atividades da classe. Ainda no con-
e apoiados. A escola deve criar uma comu-
                                               texto da convivência da classe, é importante
nidade inclusiva, promover o sentimento de
                                               reconhecer que a criança é fonte de um sa-
pertença, facilitar a aproximação das crian-
                                               ber e de uma cultura, logo ela participa da
ças, desenvolver a colaboração entre pais
                                               construção de um saber coletivo, de modo
e professores e entre professores e outros
                                               que a participação de cada aluno nas ativi-
membros da escola.
                                               dades da classe é reconhecida pelos demais
                                               colegas. O acolhimento é garantido quando
Bloom e Perlmutter (1999) acrescentam          o professor faz o acompanhamento das es-
que problemas relacionados às dificuldades     tratégias utilizadas pelas crianças em suas
nos comportamentos dos alunos devem ser        aprendizagens, sendo capaz de ouvi-las, ma-
abordados como problemas que dizem res-        nifestando interesse e afetividade por elas,
peito a toda a classe e não apenas ao pro-     pelos seus sucessos, suas dificuldades, suas
fessor. Os autores ressaltam a importância     preocupações. Estes aspectos dizem respei-
to diretamente à gestão da sala de aula, mas    tarefa incontornável por parte do contexto
estão relacionadas também à gestão da es-       escolar. De acordo com o autor, quatro prin-
cola. Esses dois aspectos se constituem ele-    cípios devem fundamentar o trabalho do di-
mentos centrais na mudança de uma escola        retor na perspectiva da construção de uma
que exclui para aquela que inclui.              escola que inclui. O primeiro diz respeito à
                                                manutenção de uma comunicação aberta
                                                com o corpo docente da escola, bem como
A gestão da escola e a
                                                estimular e intermediar a comunicação livre
atenção às diferenças
                                                e honesta. Dentro deste princípio, ele enxer-

Mudanças na gestão da escola se configu-        ga seis atividades que devem ser sugeridas

ram no sentido de torná-la mais democrá-        aos professores: compartilhar experiências

tica e participativa para alunos, professores   bem sucedidas, agendar tempo para plane-

e demais atores desse espaço pedagógico.        jamento conjunto, registrar suas atividades,

Significa compartilhar projetos e decisões e    suas preocupações e o modo como conse-

desenvolver uma política que compreenda o       guiram resolvê-las, visitar outras institui-

espaço da escola como um verdadeiro cam-        ções que tenham experiência no processo de

po de ações pedagógicas e sociais, no qual      inclusão, coletar material de fontes diversas
                                                sobre a temática da inclusão e, finalmente,     7
as pessoas compartilham projetos comuns,
cada um deles representando uma oportuni-       comemorar cada acerto, como forma de va-

dade real de desenvolvimento pessoal e pro-     lorizar as pequenas conquistas.

fissional. A gestão na escola inclusiva tem
                                                O segundo princípio consiste em compar-
um caráter colaborativo que implica o de-
                                                tilhar a liderança e estimular a troca de
senvolvimento de valores que mobilizam as
                                                conhecimento. Empoderar os professores,
pessoas a pensarem, viverem e organizarem
                                                fazendo-os capazes de compartilhar suas ex-
o espaço da escola, incluindo nele todos os
                                                periências como professores especializados,
alunos.
                                                de modo a estimular a união de forças e não
Segundo Hines (2008), a atuação da direção      a concorrência entre eles. O terceiro princí-
é fundamental para o sucesso na transfor-       pio refere-se ao estabelecimento de metas
mação de uma escola para uma perspectiva        viáveis e objetivos comuns. Neste ponto, o
inclusiva. A ação da direção é importante       autor reforça a ideia de trabalho conjunto
no sentido de guiar, estimular e facilitar a    entre os professores do ensino comum e
colaboração entre os professores do ensino      aquele(a) do ensino especial, sugerindo ati-
comum e entre estes e os professores espe-      vidades que podem ser divididas ao mesmo
cializados, tendo o trabalho coletivo como      tempo em sala de aula por todos eles. Por
fim, o autor reforça a importância de traba-    aprendizagem, organizando os espaços, os
lhar mediante uma sistemática de resolução      tempos e os agrupamentos pertinentes às
de conflitos. O diretor deve esforçar-se para   suas propostas didáticas, constituindo-se
explorar de forma aprofundada as estraté-       ele mesmo em mediador entre os conteúdos
gias de resolução dos conflitos que surgirão.   escolares e aqueles trazidos pelos alunos. A
Ouvir cada professor, estimular a comunica-     escola que está atenta à questão das diferen-
ção entre eles, esclarecer pontos de diver-     ças dispensa grande relevância ao ensino e à
gência, deixando claro para cada um a fonte     gestão da sala de aula, uma vez que a grande
do problema e sugerindo que cheguem a um        marca dessa escola é a valorização do papel
ponto em comum que deve ser parte indis-        social do aluno, quaisquer que sejam suas
pensável do trabalho de uma gestão esco-        características, pois tem como referência
lar inclusiva. O aspecto da comunicação e       o princípio da contribuição. Deste modo,
da colaboração também foi identificado por      a classe do ensino regular se constitui em
Penaforte (2009) como fundamental no pro-       um agrupamento no qual cada aluno deve
cesso de construção de uma escola inclusi-      colaborar com o processo de construção do
va. A gestão compartilhada aumenta as pos-      conhecimento dentro de suas possibilida-
sibilidades dos atores escolares assumirem      des. A valorização do papel social do aluno
os projetos da escola como de todos, mini-      só é possível na medida em que ele é reco-       8

mizando as dificuldades do contexto e aque-     nhecido por seus pares como uma pessoa
las enfrentadas pelos alunos, favorecendo as    que traz uma contribuição, mesmo que seja
mudanças necessárias para a gestão da sala      modesta, ao desenvolvimento de saberes, de
de aula e, consequentemente, para as práti-     saber-fazer e do saber ser coletivo. A criança
cas pedagógicas. Isto significa transformar     percebe-se como um indivíduo que contri-
as práticas que temos hoje (na sua maioria      bui para o desenvolvimento de saberes e do
pautadas no conceito de homogeneidade)          saber-fazer coletivo e retira disso múltiplas
em práticas que atentem para as especifici-     vantagens. Entretanto, essa participação
dades dos alunos.                               ativa do aluno com deficiência no contexto
                                                da sala regular só é possível se o professor
                                                perceber esse aluno como sujeito de apren-
A gestão da sala de aula na
                                                dizagem e se conseguir organizar propostas
escola das diferenças                           didáticas que favoreçam essa participação.


A gestão da sala de aula corresponde à ca-      A percepção de professores de classes regu-
pacidade do professor para orquestrar a         lares a respeito de como eles organizam o
interação entre os alunos em situação de        trabalho tendo em vista a presença de um
aluno com deficiência foi investigada por       res consideram que o processo de inclusão
O’Donoghue e Chalmers (2000), que identifi-     modifica a vida escolar e a relação com os
caram três categorias de comportamentos:        demais membros da sua escola. Figueiredo
1) os que realizavam adaptações seletivas       (2008) constatou que os(as) professores(as)
com ênfase na organização da sala de aula,      em contexto de inclusão atribuem transfor-
2) os que realizam o trabalho dando ênfa-       mações não somente na gestão da sala de
se às metodologias (estratégias) de ensino e    aula mas também em sua vida pessoal. Es-
3) aqueles que baseavam suas modificações       sas mudanças não se fazem de modo simi-
tendo como foco os conteúdos curriculares.      lar nem nas crenças dos(as) professores(as)
Tais categorias foram definidas a partir da     quanto às próprias capacidades de efetua-
forma como os professores elaboravam suas       rem a mudança, nem nos aspectos de inves-
estratégias de manejo de sala de aula tendo     timento dessa mudança. Alguns professores
nela um aluno com deficiência. De acordo        aderem rapidamente e demonstram con-
com os autores, a adaptação das estratégias     fiança na possibilidade de desenvolverem
de sala de aula utilizadas pelos professores    uma pedagogia que contemple as diferenças
evoluíram nas seguintes etapas: 1) apresen-     de todos os alunos. Outros, ao contrário,
tando uma certa resistência frente ao in-       resistem a essa ideia. E há aqueles que vão
gresso do aluno; 2) analisando o impacto da     se apropriando paulatinamente dessa con-         9

presença desse aluno na sua prática de sala     cepção e aos poucos vão implementando
de aula e no seu trabalho como um todo e        pequenas mudanças no ensino e na gestão
iniciando uma apreciação     das alterações     da classe. Os aspectos de investimento das
em sua atividade em sala para realização do     mudanças também se diferenciam. Alguns
trabalho; os professores definitivamente en-    atentam rapidamente para a organização da
gajam-se (ou não) no processo de inclusão       classe e para as formas de agrupamento de
de seus alunos e nesta etapa eles definem       seus alunos, outros priorizam o desenvolvi-
um ponto de vista e começam a racionalizar      mento de atividades com diferentes propos-
sua execução; 4) os professores começam a       tas didáticas que favoreçam as diversas pos-
identificar as práticas que deverão ser mo-     sibilidades de aprendizagem por parte dos
dificadas para acomodar o aluno incluído,       alunos e há aqueles que começam a trans-
desenvolvem estas práticas e reorganizam o      formação pelo desenvolvimento da pedago-
trabalho de acordo com os resultados obti-      gia de projetos. A autonomia dos alunos se
dos. E, por último, os professores fazem uma    constitui no aspecto mais difícil a ser imple-
estimativa das mudanças realizadas em suas      mentado pelos(as) professores (as) (FIGUEI-
salas e dos resultados positivos do trabalho.   REDO, 2008b).
A pesquisa revela, ainda, que os professo-
Na escola que organiza as situações de          ocorre quando um ou vários adultos, muitas
aprendizagem considerando as diferenças         vezes um professor especializado, encontra-
dos alunos, o ensino e os apoios ao ensino      se regularmente com o professor de sala de
se integram para orquestrar a aprendiza-        aula para trocar informações sobre o pro-
gem, garantindo a participação efetiva dos      gresso de estudante, avaliar a necessidade
alunos em todas as práticas educativas. Tais    de adaptar ou complementar materiais e de
práticas se embasam na implementação            solucionar problemas em conjunto. Essas
de um ensino que leve em conta as especi-       ações certamente se constituem em estraté-
ficidades de cada sujeito e que faz apelo à     gias eficientes para a gestão da sala de aula
cooperação entre os alunos em situação de       que contempla todos os alunos da turma,
aprendizagem. O professor deve respeitar os     permitindo ao professor seguir a evolução
diferentes ritmos de aprendizagem dos alu-      do desenvolvimento das competências dos
nos, favorecendo a atividade conjunta entre     alunos. Muitas outras formas de colabora-
alunos com e sem deficiência no momento         ção são possíveis de serem implementadas
da realização de projetos comuns. A cola-       no contexto de uma classe que vive o princí-
boração estabelecida entre os professores,      pio da colaboração em detrimento da com-
conforme já descrita anteriormente, é outro     petição e compreende o processo de cons-
aspecto que deve ser ressaltado também na       trução do conhecimento como um processo         10
escola das diferenças.                          cooperativo, com o qual todos podem con-
                                                tribuir, independentemente de limites ou
Thousand e Villa (2006) acrescentam que         dificuldades.
quando os professores trabalham em coope-
ração no seu planejamento e em suas ati-
vidades práticas de ensino, eles tornam-se
                                                Considerações finais
mais capazes de suprirem as necessidades        Para finalizar, podemos concluir que a in-
específicas de seus alunos e podem cumprir      clusão se traduz pela capacidade da esco-
melhor os objetivos propostos. Os autores       la em dar respostas eficazes à diferença de
explicitam os diferentes modos de colaborar     aprendizagem dos alunos, considerando o
e co-ensinar, inclusive tendo os estudantes     desenvolvimento dos mesmos como priori-
como parceiros colaborativos. Esta colabo-      tário. A prática da inclusão implica o reco-
ração pode ser efetivada: 1) pelo suporte na-   nhecimento das diferenças dos alunos e a
tural do colega, como por exemplo quando        concepção de que a aprendizagem é cons-
os colegas podem facilitar a comunicação,       truída em cooperação a partir da atividade
ajudar na locomoção, dentre outras possi-       do sujeito diante das solicitações do meio,
bilidades; 2) pelo suporte consultivo que       tendo o sujeito de conhecimento como um
sujeito autônomo. O professor pode ampliar                  criminação. Neste cenário, a democratiza-
as possibilidades de aprendizagem do aluno                  ção do ensino e a inclusão escolar só serão
a partir de diferentes propostas didáticas,                 concretizadas quando os sistemas de ensino
as quais ele pode organizar no desenvolvi-                  garantirem educação de qualidade. Para que
mento das práticas pedagógicas. Para isso, é                a nova política de inclusão se traduza em
importante refletir sobre os desafios do co-                ações concretas no curso dos próximos anos
tidiano escolar. Este novo olhar e esta nova                se faz necessário que o Brasil adote um con-
forma de atuar ampliam as possibilidades                    junto de ações que fortaleça a escola públi-
de desenvolvimento profissional e pessoal                   ca e, consequentemente, a ação pedagógica
do(a) professor(a).                                         dos professores. A educação de qualidade
                                                            passa pela organização do sistema público
A Política Nacional de Educação Especial na                 de ensino, dos espaços escolares, da gestão
Perspectiva da Educação Inclusiva 01/2008                   da escola e da sala de aula. A escola cumpri-
propõe a mudança de valores, de atitudes e                  rá seu papel de agência de formação quando
das práticas educacionais para atender a to-                for capaz de EDUCAR todos os alunos e não
dos os estudantes, sem nenhum tipo de dis-                  apenas parte deles.


                                                                                                                     11
                                                                                     3
Textos da série ESCOLA DE ATENÇÃO ÀS DIFERENÇAS

A série Escola de atenção às diferenças tem como proposta discutir a inclusão escolar de crian-
ças com necessidades educacionais especiais, a partir de uma perspectiva filosófica e político-
cultural. Filosófica, porque parte do princípio de que o espaço da escola deve ser dado para
todas as crianças, independente de raça, cor, religião, condição social ou de desenvolvimento,
e político-cultural, porque visa à garantia do direito de todos os cidadãos de se beneficiarem
dos bens materiais e culturais da sociedade. A escola que inclui é a escola que acolhe e garante
o espaço de aprendizagem e de crescimento para todos os alunos. Nessa série serão discutidos
as políticas e os marcos legais para a educação inclusiva, o Atendimento Educacional Especia-
lizado e as tecnologias assistivas e, ainda, a formação de professores e práticas educacionais
no contexto das diferenças.




2	       Estes textos são complementares à série Escola de atenção às diferenças, com veiculação no programa Salto
para o Futuro/TV Escola (MEC) de 26 a 30 de abril de 2010.
Texto 1: Políticas e marcos legais para a educação inclusiva

O primeiro texto da série comenta a Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da
Educação Inclusiva. O caráter complementar da Educação Especial, trazido por essa Política,
retraça os projetos que visam à transformação das escolas em busca da qualidade de seu en-
sino. Se antes as escolas comuns se organizavam para atender apenas aos alunos que apren-
diam, excluindo os que não conseguiam aprender, agora elas devem acolher todos os alunos,
nas suas diferenças. Há, então, que ser revista e reinterpretada a sua organização pedagógica,
para que se reconstruam suas propostas e se avance na qualidade e no atendimento à deman-
da de mais vagas para todos os alunos nas suas turmas.



Texto 2: Atendimento educacional especializado

Este texto tem por objetivo subsidiar professores e gestores das redes de ensino no que se refe-
re ao ambiente escolar denominado sala de recursos multifuncionais. Esse ambiente tem como
finalidade desenvolver as atividades do atendimento educacional especializado – AEE. Tendo
por base a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva do          12
Ministério da Educação, o texto apresenta o conceito de sala de recursos multifuncionais, sua
ligação com o AEE e o trabalho do professor dessa sala. As palavras-chaves do texto são: salas
de recursos multifuncionais, atendimento educacional especializado, redes públicas de ensino.



Texto 3: Práticas educacionais no contexto das diferenças

O terceiro texto da série discute a importância de que a escola de atenção às diferenças esteja
em sintonia com as transformações necessárias para atender às demandas do mundo atual.
Esta é uma responsabilidade inerente à cidadania e uma preocupação obrigatória de todos os
sistemas de ensino. Ao se propor a construir escolas inclusivas que se preocupam com todos
os alunos, devem ser feitas inovações nos processos de organização de ensino e aprendizagem,
passando a considerar o ritmo de aprendizagem, a flexibilização dos tempos e dos espaços es-
colares, a implementação de recursos de acessibilidade, o enriquecimento curricular, a opera-
cionalização da oferta do AEE, o uso de metodologias ativas e interativas e o caráter processual
da avaliação.
Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para   mendations for Principals. Intervention in
o quarto programa, com entrevistas que refle-     School and Clinic, v. 43, n. 5, 2008, p. 277-
tem sobre esta temática (Outros olhares sobre     282.
a escola de atenção às diferenças) e para as
                                                  O’DONOGHUE, T. A. and R. CHALMERS. How
discussões do quinto e último programa da
                                                  teachers manage their work in inclusive
série ( Escola de atenção às diferenças em de-
                                                  classrooms. Teaching and Teacher Educa-
bate).
                                                  tion, v. 16, n. 8, nov. 2000, p. 889-904.


Referências bibliográficas                        PENAFORTE, Selene. A gestão para a inclu-
                                                  são: uma pesquisa-ação colaborativa no
BLOOM, L. A.; J. C. PERLMUTTER et al. The         meio escolar. Tese (Doutorado em Educa-
general educator: applying constructivism         ção). Fortaleza: Universidade Federal do Ce-
to inclusive classrooms. Intervention in          ará, 2009.
School and Clinic, v. 34, n. 3, jan. 1999, p.
                                                  SOODAK, L. C. Classroom Management in
132-36.
                                                  Inclusive Settings. Theory into Practice v.
BRASIL. Ministério da Educação. Política de       42, n. 4, Autumn 2003, p. 327-33 (ISSN: 0040-
                                                                                                    13
Nacional de Educação Especial na Perspec-         5841).
tiva de Educação Inclusiva. MEC/SEESP, 2008.
                                                  THOUSAND, J. S.; VILLA, R. A. et al. The Many
FIGUEIREDO, Rita Vieira. (Relatório de pes-       Faces of Collaborative Planning and Tea-
quisa) Gestão da Aprendizagem na Diver-           ching. Theory into Practice, v. 45, n. 3, 2006,
sidade. Fortaleza: Universidade Federal do        p. 239-48.
Ceará, 2008.

                                                  Divulgamos a seguir o link onde podem ser
FIGUEIREDO, Eliene Vieira. Práticas de Lei-
                                                  encontradas diversas sugestões de filmes
tura e de Escrita na Diversidade da Sala de
                                                  com temas relacionados à proposta da série
Aula. Dissertação (Mestrado em Educação
                                                  Escola de atenção às diferenças:
Brasileira). Fortaleza: Universidade Federal
do Ceará, 2008.
                                                  http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/
HINES, J. T. Making Collaboration Work in         sugestoesfilmescomtemasabrangendoalgu-
Inclusive High School Classrooms: Recom-          mtipodefiencia.pdf
Texto 1

Políticas e marcos legais para a educação inclusiva
Construir a escola das diferenças – caminhando nas pistas da
inclusão
                                                                       Maria Teresa Eglér Mantoan1




A Política Nacional de Educação Especial na           ticulares de ensino básico, assim como a for-
Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008             mação de nossos professores são alguns deles.
é um importante mar-                                                         Por outro lado, essa
co legal, político-social                                                    Política traz nas suas
e cultural da educação                                                       diretrizes proposições
                                  O progresso, em todas
brasileira. Os avanços                                                       que podem solucionar
provocados     por    suas
                                 as frentes das iniciativas                  esses problemas.
diretrizes    extrapolam            humanas, acontece
o ensino especial e im-            pela criação de novas                     Neste texto, abordare-
                                                                                                         14
plicam/provocam       pro-       alternativas de transpor                    mos, ainda que suma-
fundas modificações na                                                       riamente, como a Edu-
                                    barreiras, que estão
escola comum, rever-                                                         cação Especial poderá
                                    constantemente se
tendo conceitos e práti-                                                     contribuir para uma
                                  formando em torno do                       virada na nossa educa-
cas antes consagradas,
nas suas turmas.                   que já conquistamos.                      ção, ao se re-orientar
                                                                             segundo os princípios
Pelo fato de ter se adian-                                                   da inclusão escolar.
tado e constituído um
conjunto de documentos reorientados para
                                                      O fracasso escolar
a escola inclusiva, a Educação Especial revela
graves problemas relativos à escolarização. O         O progresso, em todas as frentes das ini-
fracasso escolar, a avaliação do desempenho           ciativas humanas, acontece pela criação de
escolar dos alunos da escola brasileira, a quali-     novas alternativas de transpor barreiras,
dade do ensino das instituições públicas e par-       que estão constantemente se formando em



1	       Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP - Faculdade de Educação- Laboratório de Estudos e
Pesquisas em Ensino e Diferenças – LEPED/ UNICAMP.
torno do que já conquistamos. A incapaci-      ano escolar são alternativas que desviam a
dade de “dominarmos” os conhecimentos          organização pedagógica e a formação dos
e de agirmos segundo uma fórmula final e       professores – inicial e continuada –, das me-
universal (que tanto buscamos!), nos move      didas a serem tomadas para que as escolas
e nos impulsiona diante das perturbações       comuns se debrucem sobre o modo de mi-
com as quais o meio nos confronta.             nistrar o ensino, os conteúdos curriculares
                                               e a análise do desempenho escolar dos alu-
Os problemas, as perturbações, são, portan-    nos, especialmente daqueles que não conse-
to, imprescindíveis para que possamos cres-    guem o sucesso pretendido.
cer e evoluir no que conhecemos e no que fa-
zemos, em nossos ambientes de vida pessoal     Além dessas consagradas soluções compen-
e profissional. Embora jamais consigamos       satórias, existem ainda as práticas adapta-
deduzir uma fórmula final, uma resposta de-    das de ensino especial, que têm como ob-
finitiva para os problemas de aprendizagem,    jetivos equiparar o desempenho escolar dos
negar essas perturbações e/ou ignorá-las fi-   alunos considerados “especiais” ao dos cole-
xou os sistemas de ensino, as escolas e pro-   gas “normais” e/ou protegê-los da exclusão,
fessores em modelos e soluções superados,      nas turmas de ensino regular.
que os mantêm presos a saídas velhas e ino-                                                    15
perantes, impedindo-os de visualizar novos     Ao retirar das turmas comuns os alunos com

modelos educacionais possíveis.                e sem deficiência, que colocam em xeque o
                                               modo como planejam e executam seus pla-
A Educação Especial influiu significativa-     nos de ensino, os professores se eximem da
mente para neutralizar os desafios que le-     responsabilidade de buscar os motivos pe-
variam o professor a rever suas práticas e a   los quais esses alunos não atendem às suas
avaliar a aprendizagem escolar, na busca de    exigências educacionais, equivocando-se ao
um ensino mais avançado e qualificado para     considerar essas exigências como as que ca-
todos os alunos.                               racterizam um ensino de qualidade. E, en-
                                               tão, admite-se o fracasso escolar do aluno
Na nossa percepção, a preocupação com o        na escola, quando seria o caso de se exami-
fracasso tem conduzido a escola por desca-     nar as razões do fracasso da escola diante do
minhos que vão do diagnóstico impreciso do     insucesso dos alunos.
insucesso do aluno aos encaminhamentos
às escolas e classes especiais.                A formação inicial

Compensar, reforçar a aprendizagem, fazer      Apesar do descontentamento com os re-
equivalência de desempenho entre idade e       sultados alcançados pelos alunos e da con-
cordância de que o nosso ensino precisa se       mera reprodução de conteúdos programá-
qualificar, a atualização da formação inicial    ticos sequenciados, categorizados, transmi-
pela adoção de alternativas pedagógicas,         tida aos alunos. Os alunos desenvolvem os
que transpõem fronteiras e projetam o en-        temas de estudo entrelaçando suas experiên-
sino para o futuro, são ainda muito tímidas.     cias com novos conhecimentos, construídos
                                                 segundo seus interesses e capacidades.
É patente, nos cursos de Pedagogia, a resis-
tência dos formadores em romper paradig-         As alternativas de modernização, contudo,
mas que impedem as manobras necessárias          estão se transfigurando em “receitas” de en-
para que possamos imprimir uma nova dire-        sino, de tanto serem aclamadas em vão como
ção aos destinos de nossa educação, propon-      saídas para que o ensino se redirecione em
do uma resposta decisiva aos problemas que       suas estratégias, processos, dimensões. Não
a afligem. A questão não está apenas em re-      há mais o que sugerir para que as escolas se
gular as relações entre teoria e prática peda-   tornem inclusivas. A maioria dos professores
gógicas, mas em outras formas de se pensar       se sente insegura em adotar novos rumos
e de se fazer a educação, em uma sociedade       educacionais, uma vez que são tributários de
do conhecimento, da comunicação e da tec-        uma formação e do exercício de uma profis-
nologia, alinhada aos propósitos inclusivos.     são. De um modo geral, consideram que o        16
                                                 ensino precisa mudar para melhor, mas per-
Educar na escola, principalmente no ensino       sistem no enrijecimento dos mesmos méto-
básico, é uma atividade complexa, que en-        dos que os levaram ao fracasso!
volve o desenvolvimento de novas atitudes
frente ao mundo e aos seus recursos; trata-      Os cursos de formação inicial de professo-
se de encontrar uma combinação harmonio-         res para a educação comum têm se decla-
sa entre conteúdos e práticas culturais, que     rado a favor de uma educação para todos e
marcam a vida dos alunos e dão sentido à         de qualidade, introduzindo disciplinas nos
sua aprendizagem.                                seus currículos que tratam da inclusão es-
                                                 colar. Ora, a inclusão não cabe em uma ou
A transversalidade dos estudos acadêmicos,       duas disciplinas, nem mesmo em todas elas,
por exemplo, é uma nova proposição que en-       como mais uma novidade, um modismo,
volve essa combinação entre os processos de      que precisa ser aventado, para que esses
ensino e de aprendizagem, afetando o modo        cursos se atualizem.
como as aulas são planejadas e ministradas.
No ensino transversal, as disciplinas não se     Esse equívoco sustou o impacto que o poder
fragmentam e a aprendizagem deixa de ser         inovador da inclusão teria sobre a formação
dos professores. Os futuros professores des-    professores de educação especial têm uma
conhecem, no geral, o que a inclusão repre-     formação pedagógica de base e se especia-
senta para os sistemas que a adotam devi-       lizam no atendimento educacional a alunos
damente, suas implicações na concepção e        com deficiências, transtornos globais de
na execução dos serviços que a escola presta    desenvolvimento e altas habilidades. As di-
aos alunos, professores, pais e nos conheci-    retrizes da Política são claras e conclusivas,
mentos exigidos para sua concretização em       quando preceituam que os seus professores
sala de aula.                                   não são mais especialistas em uma dada de-
                                                ficiência e não ensinam os conteúdos curri-
Outro equívoco se evidencia na continuida-      culares a esses alunos. Suas atribuições se
de de cursos para formação de professores       resumem em complementar a formação do
em educação especial, com ênfase em uma         aluno, analisar seus problemas. Estudando-
única deficiência. Apesar do número redu-       os e buscando atendê-los nas suas peculia-
zido, esses cursos contribuem para que os       ridades e necessidades, os professores de
sistemas de ensino mantenham em sua             educação especial apoiam os alunos a ul-
organização serviços e profissionais, que       trapassar barreiras que encontram dentro
seccionam o atendimento desses alunos e         das escolas para que tenham acesso e par-
contribuem para que a exclusão marque o         ticipação ativa, autônoma e independente          17
processo de escolarização como um todo.         nas turmas do ensino regular.


O que mais nos surpreende nesses cursos         O ensino itinerante, as classes especiais, os
é que proponham uma formação em edu-            currículos e atividades adaptados, as avalia-
cação especial, que perpetua propósitos e       ções e demais tópicos do processo de escola-
métodos excludentes, opostos ao que a in-       rização constituem serviços e recursos que
clusão designa. Se os professores e seus for-   incorrem em discriminação desses alunos
madores não perceberam as ambiguidades          por excluí-los por diferenciação por uma de-
e os enganos que precisam ultrapassar para      ficiência ou outra categorização. São remi-
que se dê um salto qualitativo na formação      niscências do entendimento excludente da
pedagógica e na reorientação dos sistemas       educação especial, existindo paralelamente
escolares, a educação especial e a comum        ao atendimento educacional especializado –
não poderaão se adiantar nem se aprimorar,      AEE, um novo serviço da educação especial.
como se espera.                                 Essas reminiscências têm precedência no
                                                modo equivocado de se entender o direito à
Pela Política Nacional de Educação Especial,    educação inclusiva, como o direito à diferença,
na Perspectiva da Educação Inclusiva, os        na igualdade de direitos e na distinção entre
“alunos diferentes” e diferenças de todos os     distintos para seus alunos, a partir de uma
alunos. Em muitas redes de ensino convi-         identidade específica, como também esses
vem dois momentos da educação especial           espaços estão organizados pedagogicamen-
que se contradizem: o anterior a 2008, mar-      te para manter tal separação, definindo as
cado pela exclusão total e parcial, e o atual,   atribuições de seus professores, currículos,
caracterizado por sua perspectiva educacio-      programas, avaliações e promoções dos que
nal inclusiva.                                   fazem parte de cada um desses espaços.


                                                 Quando se classificam os alunos por atri-
A diferenciação entre os
                                                                       butos que os definem
alunos
                                                                       e que demarcam os

A oposição binária en-                                                 seus   espaços   edu-
                                  Ambientes escolares
tre alunos ditos “nor-                                                 cacionais,   decide-se
                                     inclusivos são                    quem fica e quem sai,
mais” e “especiais” se
repercute na caracteri-
                               fundamentados em uma                    quem é incluído ou

zação da formação ini-         concepção de identidade                 excluído dos agrupa-

cial e continuada dos           e diferenças, em que as                mentos escolares.
                                                                                                18
professores, na identifi-      relações não se ordenam
cação das escolas e pro-                                               Ambientes escolares
                                em torno de oposições
fessores da educação                                                   inclusivos são funda-
                                   binárias (normal/
comum e especial.                                                      mentados em uma
                                especial, branco/negro,                concepção de identi-
A Educação Especial ali-         masculino/feminino,                   dade e diferenças, em
mentou essa oposição                  pobre/rico).                     que as relações não
ao defender que certos                                                 se ordenam em tor-
alunos, negativamente                                                  no de oposições biná-
valorados por desem-                                                   rias (normal/especial,
penhos acadêmicos que não atendem às             branco/negro, masculino/feminino, pobre/
exigências escolares, necessitavam de uma        rico). Neles não se elege uma identidade
educação substitutiva do ensino comum.           como norma privilegiada em relação às de-
                                                 mais.
Os sistemas educacionais constituídos a par-
tir dessa oposição excludente sentem-se aba-     Em ambientes escolares excludentes, a iden-
lados com a proposta inclusiva de educação,      tidade normal é tida sempre como natural,
pois não só criaram espaços educacionais         generalizada e positiva em relação às de-
mais, e sua definição provém do processo        entende as diferenças como resultantes da
pelo qual o poder se manifesta na escola,       multiplicidade, e não da diversidade, como
elegendo uma identidade específica através      comumente se proclama. Trata-se de uma
da qual as outras identidades são avaliadas     educação que garante o direito à diferença e
e hierarquizadas.                               não à diversidade, pois assegurar o direito à
                                                diversidade é continuar na mesma, ou seja,
Esse poder que define a identidade normal,
                                                é seguir reafirmando o idêntico.
detido por professores e gestores mais próxi-
mos ou mais distantes das escolas, é abala-          [...] a diferença (vem) do múltiplo e não
do e perde a sua força diante dos princípios         do diverso. Tal como ocorre na aritmé-
educacionais inclusivos, defendidos pela             tica, o múltiplo é sempre um processo,
Política Nacional de Educação Especial, na           uma operação, uma ação. A diversida-
Perspectiva da Educação Inclusiva. No en-            de é estática, é um estado, é estéril. A
tendimento da Política, a identidade não             multiplicidade é ativa, é fluxo, é produ-
é entendida como natural, estável, perma-            tiva. A multiplicidade é uma máquina de
nente, acabada, homogênea, generalizada,             produzir diferenças – diferenças que são
universal. Na visão da inclusão escolar, as          irredutíveis à identidade. A diversidade
identidades são transitórias, instáveis, ina-        limita-se ao existente. A multiplicidade    19
cabadas e, portanto, os alunos não são cate-         estende e multiplica, prolifera, dissemi-
gorizáveis, não podem ser reunidos e fixados         na. A diversidade é um dado – da natu-
em categorias, grupos, conjuntos, que se             reza ou da cultura. A multiplicidade é
definem por certas características arbitra-          um movimento. A diversidade reafirma
riamente escolhidas.                                 o idêntico. A multiplicidade estimula a
                                                     diferença que se recusa a se fundir com
Portanto, é equivocado atribuir a certos alu-
                                                     o idêntico (Silva, 2000, p.100-101).
nos identidades que os mantêm nos grupos
de excluídos, ou seja, nos grupos dos alunos
                                                A diferenciação entre as
especiais, com necessidades educacionais es-
peciais, portadores de deficiências, com pro-
                                                escolas
blemas de aprendizagem e outros. Não cabe
                                                O questionamento constante dos processos
fixar no outro uma identidade normal, que
                                                de diferenciação entre escolas e alunos, que
não só justifica a exclusão dos demais, como
                                                decorre da oposição entre a identidade nor-
igualmente determina alguns privilegiados.
                                                mal de alguns e especial de outros, é uma
A perspectiva da Política atual questiona       das garantias permanentes do direito à di-
a artificialidade das identidades normais e     ferença.
A escola comum se desobrigou dos alunos          indefinidamente esses alunos nos serviços e
especiais por muito tempo e não se posicio-      ambientes do ensino especial convencional
nou, decisivamente, diante de seus procedi-      e substitutivo.
mentos de ensinar e de avaliar a capacidade
                                                 Nesses dois casos de diferenciação, há equí-
de aprender desses alunos, em suas diferen-
                                                 vocos. Só se admite a diferenciação para
ças, e de questionar essas diferenças. Limi-
                                                 incluir. Em ambientes à parte dos demais e
tou-se a aceitá-las, a tolerá-las desde que em
                                                 em situações que restringem e limitam as
ambientes educacionais segregados.
                                                 possibilidades de desenvolvimento dos alu-
Acomodada em sua zona de conforto, a edu-        nos e das pessoas em geral, é um engano
cação comum fez prosperar e multiplicar          admitir-se a inclusão. Neles são excluídos
as escolas e classes especiais e serviços que    tanto os alunos normais, como os especiais.
recolhem os alunos especiais, legando-lhes       As orientações imprimidas pela Política Na-
uma condição de escolaridade à margem do         cional de Educação Especial, na Perspectiva
processo comum a outros colegas da mes-          da Educação Inclusiva, de 2008, esclarecem
ma geração.                                      as dúvidas relacionadas às diferenciações
                                                 favorecidas pela existência dos serviços e
A proliferação dos serviços da educação espe-    equipamentos do ensino especial.                   20
cial, na perspectiva de uma educação exclu-
dente, tem peso quando se avaliam as razões      O caráter complementar da Educação Espe-
pelas quais a educação comum se exime de         cial, trazido por essa Política, retraça os pro-
assumir suas responsabilidades e de criar no-    jetos que visam à transformação das escolas
vas possibilidades de transformar o processo     em busca da qualidade de seu ensino. Se an-
educativo, de modo que se torne plenamen-        tes as escolas comuns se organizavam para
te inclusivo. A educação especial, em coro, a    atender apenas aos alunos que aprendiam,
acompanha em muitos sentidos, querendo se        excluindo os que não conseguiam aprender,
esquivar das diretrizes da nova Política.        agora elas se veem premidas a acolher todos
                                                 os alunos, nas suas diferenças. Há, então
Há os que reagem a esse documento, afir-         que ser revista e reinterpretada a sua orga-
mando que os sistemas de ensino diferen-         nização pedagógica, para que reconstruam
ciam os alunos em normais e especiais, para      suas propostas e avancem na qualidade e no
incluir esses últimos nas escolas comuns, fu-    atendimento à demanda de mais vagas para
turamente, quando se equipararem aos co-         todos os alunos nas suas turmas. Vivemos
legas sem problemas de aprendizagem. Há          atualmente uma situação nova, com a qual
sistemas de ensino e escolas que se conside-     a escola comum nunca se defrontou.
ram inclusivos, por receberem e manterem
Uma das soluções para levantar o nível de       mente do processo escolar, segundo suas ca-
desenvolvimento da educação escolar tem         pacidades, e sem que nenhuma delas possa
sido a de remediar a situação dos alunos        ser motivo para uma diferenciação que os
especiais. A remediação consistiu na criação    excluirá das suas turmas.
do reforço escolar, das classes de acelera-
                                                Como garantir o direito à diferença nas es-
ção, das salas de recurso.
                                                                     colas que ainda enten-
Esses programas preci-                                               dem que as diferenças
sam ser questionados         Como garantir o direito                 estão apenas em al-
e serão suprimidos se a       à diferença nas escolas                guns alunos, naqueles
situação de remediação                                               que são negativamente
                               que ainda entendem
for revertida, ou me-                                                compreendidos e diag-
                              que as diferenças estão
lhor, quando as escolas                                              nosticados como “pro-
se propuserem a desen-           apenas em alguns                    blemas”,      “doentes”,
volver um ensino em            alunos, naqueles que                  “indesejáveis”,   sendo
que as diferenças dos           são negativamente                    que para a maioria des-
alunos sejam acolhidas.          compreendidos e                     ses alunos tais condi-
Esse acolhimento impli-                                              ções são consideradas       21
                               diagnosticados como
ca que todos os alunos                                               “sem volta”?
                             “problemas”, “doentes”,
construam o conheci-
mento escolar segun-
                               “indesejáveis”, sendo                 Os alvos desse questio-

do suas capacidades,            que para a maioria                   namento devem recair

expressem suas ideias            desses alunos tais                  diretamente sobre as
                                                                     práticas de ensino que
livremente, participem             condições são
ativamente das tarefas                                               as escolas comuns e
                                consideradas “sem
de ensino e se portem                                                especiais adotam e que
                                      volta”?                        servem para excluir.
como    cidadãos,   nas
suas diferenças.
                                                                     Os encaminhamentos
Nas escolas inclusivas, os alunos não são       dos alunos às classes e escolas especiais, os
identificados como especiais, normais, co-      currículos adaptados, o ensino diferenciado,
muns. Todos se igualam pelas suas diferen-      a terminalidade específica e outras soluções
ças! A inclusão escolar impõe uma escola        excludentes precisam ser indagados em suas
em que todos os alunos estão inseridos sem      razões de adoção, interrogados em seus be-
quaisquer condições pelas quais possam ser      nefícios, discutidos em seus fins e eliminados
limitados em seu direito de participar ativa-   por completo e com urgência. São essas me-
didas excludentes que criam a necessidade       cialistas, pais e alunos e outros profissio-
de existirem escolas para atender aos alunos,   nais que compõem uma rede educacional
que se igualam por uma falsa normalidade        em torno de uma proposta que é comum a
– as escolas comuns – e que instituem as es-    todas as escolas e que, ao mesmo tempo, é
colas para os alunos que não cabem nesse        construída por cada uma delas, segundo as
grupo – as escolas especiais. Ambas são es-     suas peculiaridades.
colas dos diferentes, que não se alinham aos
                                                O Projeto Político Pedagógico é o instrumen-
propósitos de uma escola para todos.
                                                to por excelência para melhor desenvolver o
Quando entendemos esses processos de di-        plano de trabalho eleito e definido por um
ferenciação pela deficiência ou por outras      coletivo escolar. Ele reflete a singularidade
características que elegemos para excluir,      do grupo que o produziu, suas escolhas e es-
percebemos os equívocos, as discrepâncias       pecificidades. Cada escola é única e, como
que nos faziam defender as escolas dos di-      os seus alunos, deve ser reconhecida e valo-
ferentes como solução privilegiada para         rizada nas suas diferenças.
atender às necessidades dos alunos. Com-
                                                Seguindo as pistas da inclusão não corre-
preendemos, então, o sentido includente
                                                remos riscos de nos perdermos em atalhos
das escolas das diferenças. Essas escolas                                                         22
                                                que nos desviam da construção de uma es-
reúnem, em seus espaços educacionais, os
                                                cola das diferenças. A Política de Educação
alunos tais quais eles são: únicos, singula-
                                                Especial é uma delas, neste momento. Che-
res, mutantes, compreendendo-os como
                                                garemos mais além. Vamos em frente!
pessoas que diferem umas das outras, que
não conseguimos conter em conjuntos defi-
nidos por um único atributo, que elegemos
                                                Referências bibliográficas:
para diferenciá-las.


Nas pistas da inclusão                          BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
                                                de Educação Especial. Política Nacional de
Um ensino para todos os alunos se distin-       Educação Especial na Perspectiva da Educa-
gue pela sua qualidade. O desafio de fazê-lo    ção Inclusiva. Inclusão: Revista da educação
acontecer nas salas de aulas é uma tarefa       especial, v. 4, n. 1, jan./jun. 2008. Brasília:
a ser assumida por todos os que compõem         MEC/SEESP, 2008.
um sistema educacional.
                                                SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferen-
A qualidade do ensino provém de iniciativas     ça: a perspectiva dos Estudos Culturais. 4. ed.
que envolvem professores, gestores, espe-       Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
Texto 2


Atendimento educacional especializado
Salas de Recursos Multifuncionais: espaço para o atendimento
educacional especializado nas redes públicas de ensino

                                                                                     Rosângela Machadoi1

As salas de recursos multifuncionais são es-              ambiente e ao conhecimento escolares, por
paços localizados nas escolas públicas de                 meio do AEE.
educação básica onde se realiza o Atendi-
mento Educacional Especializado – AEE. Elas               As salas de recursos multifuncionais permi-
são constituídas de mobiliários, jogos peda-              tem que o AEE, feito no turno oposto ao da
gógicos, recursos de acessibilidade e equipa-             sala de aula comum, seja realizado na pró-
mentos específicos.                                       pria escola em que o aluno frequenta. Se na
                                                          escola do aluno não existir uma sala, o AEE
A Política Nacional de Educação Especial na               poderá ser realizado em outra escola próxi-
                                                                                                                  23
Perspectiva da Educação Inclusiva, lançada                ma à sua.
em 2008 pelo Ministério da Educação, define
o AEE como um serviço da educação especial                Os alunos atendidos na sala de recursos mul-
que “[...] identifica, elabora e organiza recur-          tifuncionais são os considerados público-al-
sos pedagógicos e de acessibilidade, que eli-             vo da educação especial:
minem as barreiras para a plena participação
dos alunos, considerando suas necessidades                     •	 alunos com deficiência: aqueles que
específicas” (MEC, 2008).                                        têm impedimentos de longo prazo de
                                                                 natureza física, mental, intelectual ou
A Política sinaliza que a educação especial é                    sensorial, os quais, em interação com
uma modalidade que perpassa todas as eta-                        diversas barreiras, podem obstruir sua
pas, as demais modalidades e os níveis de en-                    participação plena e efetiva na socieda-
sino, sem substituí-los, ofertando serviços,                     de em igualdade de condições com as
recursos e estratégias de acessibilidade ao                      demais pessoas (ONU, Art. 01, 2006);


1	       Doutoranda em educação pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Coordenadora de Educação
Especial da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis no período de 2001 a 2008. Coordenadora-Geral de Política
Pedagógica de Educação Especial da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação no período de 2008
a 2009. Professora da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis.
•	 alunos com transtornos globais do          e formação específica na educação especial,
     desenvolvimento: aqueles que apre-          inicial ou continuada, para atuar com cada
     sentam um quadro de alterações no           tipo de deficiência.
     desenvolvimento          neuropsicomotor,
     comprometimento nas relações so-            A educação especial na perspectiva da edu-
     ciais, na comunicação, ou estereo-          cação inclusiva implica uma transformação
     tipias      motoras.                                               na formação de pro-
     Incluem-se nessa                                                   fessores, que neces-
                                     No cotidiano das
     definição     alunos                                               sita se adequar aos
                                     salas de recursos                  novos conhecimen-
     com autismo clás-
     sico, síndrome de
                                     multifuncionais, o                 tos que são próprios
     Asperger,     síndro-        professor identifica as               do AEE.
     me de Rett, trans-          necessidades específicas
                                                                        A formação de pro-
     torno desintegra-              e as habilidades do
     tivo da infância                                                   fessores      requer   o
                                  aluno com deficiência,
     (psicose     infantil)                                             estudo da Tecnolo-
                                   faz um levantamento                  gia Assistiva e suas
     e transtornos in-
     vasivos sem outra
                                       de materiais e                   categorias: Comuni-        24

     especificação.              equipamentos existentes                cação aumentativa
                                 e elabora o Plano de AEE               e alternativa, infor-
   •	 alunos     com    al-                                             mática acessível, re-
                                     para cada aluno.
     tas      habilidades/                                              cursos pedagógicos
     superdotação:                                                      acessíveis,     Sistema
     são aqueles que                             Braille, técnica do sorobã, produção de
     demonstram potencial elevado em             materiais ampliados e em alto relevo, Lín-
     qualquer uma das seguintes áreas, iso-      gua Brasileira de Sinais, Língua Portugue-
     ladas ou combinadas: intelectual, aca-      sa na modalidade escrita para alunos com
     dêmica, liderança, psicomotricidade e       surdez, entre outras categorias ligadas ao
     artes, além de apresentar grande cria-      AEE. Essa formação deve estabelecer uma
     tividade, envolvimento na aprendiza-        interlocução dos conhecimentos especiali-
     gem e realização de tarefas em áreas        zados com as situações reais do cotidiano
     de seu interesse (MEC, 2008).               escolar, em que o professor possa discutir
                                                 o AEE com base nos recursos de acessibili-
O professor que atua na sala de recursos
                                                 dade e possa, em seguida, ter o aluno para
multifuncionais deve ter formação inicial
                                                 atender.
que o habilite para o exercício da docência
No cotidiano das salas de recursos multi-              quanto ao uso de recursos, materiais
funcionais, o professor identifica as necessi-         e equipamentos utilizados pelo aluno.
dades específicas e as habilidades do aluno
                                                    •	 Articulação com a sala de aula comum
com deficiência, faz um levantamento de
                                                       e articulação com a área clínica: con-
materiais e equipamentos existentes e ela-
                                                       siste na troca de informações entre
bora o Plano de AEE para cada aluno.
                                                       professores da sala de aula, professor
O Plano de AEE resulta na organização do               da sala de recursos multifuncionais e
professor quanto às atividades de:                     profissionais da área clínica.


   •	 Atendimento ao aluno: consiste na             •	 Avaliação do Plano: na execução do

      estruturação e execução das ativida-             plano de AEE, o professor deverá ava-

      des desenvolvidas e na definição da              liar sistematicamente o seu Plano,

      frequência e duração do atendimento              revisando-o e atualizando-o, quando

      para cada aluno.                                 necessário.


   •	 Produção de materiais: transcrição,        É importante destacar que as atividades de-

      confecção, ampliação, gravação, en-        senvolvidas pelo professor da sala de recur-
                                                 sos multifuncionais não podem ser confun-        25
      tre outros materiais, de acordo com as
      necessidades dos alunos.                   didas com as atividades dos profissionais do
                                                 atendimento clínico.
   •	 Aquisição de materiais: consiste na
      indicação para a aquisição de: softwa-     Para consolidar as orientações da Política
      res, recursos e equipamentos tecno-        Nacional de Educação Especial na Perspec-
      lógicos, mobiliário, recursos ópticos,     tiva da Educação Inclusiva e garantir o AEE
      dicionários e outros.                      nas redes públicas de ensino, foram lança-
                                                 dos o Decreto n. 6.571/2008 e a Resolução
   •	 Acompanhamento do uso dos re-
                                                 CNE/CBE N. 04/2009.
      cursos pelo aluno: refere-se às ações
      para verificação da funcionalidade e
                                                 O Decreto n. 6.571/08, que dispõe sobre o
      da aplicabilidade do recurso: impacto,
                                                 atendimento     educacional    especializado,
      efeitos, distorções, pertinência, negli-
                                                 consolida diretrizes e ações já existentes,
      gência, limites e possibilidades do uso
                                                 voltadas à educação especial na perspectiva
      na sala de aula, na escola e em casa.
                                                 da educação inclusiva. Ele regulamenta o pa-
                                                 rágrafo único do art. 60 da Lei n. 9.394/1996,
   •	 Orientação às famílias e aos professo-
                                                 destinando recursos do Fundo Nacional de
      res: consiste nas ações de orientação
Desenvolvimento da Educação Básica - FUN-      cas de educação especial surge por meio das
DEB ao atendimento educacional especiali-      salas de recursos multifuncionais como um
zado de alunos com deficiência, transtornos    espaço escolar do AEE.
globais do desenvolvimento e altas habilida-
des/superdotação matriculados na rede pú-
                                               REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
blica de ensino regular.

                                               BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
Desta forma, serão                                                 de Educação Especial.
contabilizados dupla-                                              Política   Nacional     de
mente no âmbito do          A Política Nacional de
                                                                   Educação Especial na
FUNDEB,     conforme         Educação Especial na                  Pers­­
                                                                       pectiva da Educação
registro   no   Censo      Perspectiva da Educação                 Inclusiva. Inclusão: revis-
escolar/MEC/INEP do         Inclusiva, o Decreto n.                ta da educação especial,
ano anterior, os alu-
                           6.571/2008 e a Resolução                v. 4, n. 1, jan./jun. 2008.
nos matriculados em                                                Brasília: MEC / SEESP,
                           CNE/CBE n. 04/2009 são
classes comuns de                                                  2008.
ensino regular públi-
                             documentos oficiais
co que tiverem ma-          que garantem o direito                 BRASIL. Ministério da
                                                                                                 26
trícula concomitante         à educação de todos                   Educação. Secretaria de
no AEE.                      os alunos e marcam                    Educação Especial. De-

                            um novo tempo para a                   creto n. 6.571, de 17 de
A Resolução CNE/CBE                                                setembro de 2008. Bra-
                              educação especial.
n. 04 de 02 de outu-                                               sília: MEC/SEESP, 2008.
bro de 2009 institui
as diretrizes opera-
                                               ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU.
cionais para o Atendimento Educacional Es-
                                               Convenção sobre os Direitos das Pessoas
pecializado na Educação Básica.
                                               com Deficiência, 2006.

A Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva, o Decre-    BIBLIOGRAFIA
to n. 6.571/2008 e a Resolução CNE/CBE n.
04/2009 são documentos oficiais que garan-     BATISTA, Cristina A. M. & MANTOAN, Maria
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Nacional de Educação. Câmara de Educação        do ordinário de sessões, tema 34 da agen-
Básica. Resolução n. 04 de 02 de outubro de     da. Convenção interamericana para a elimi-
2009.                                           nação de todas as formas de discriminação
                                                contra as pessoas portadoras de deficiência,
BRASIL. Ministério da Educação. Secreta-
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técnicas para a educação: equipamento e
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material pedagógico para a educação, capa-
                                                escola inclusiva: políticas, paradigmas e prá-
citação e recreação para a pessoa com defi-
                                                ticas. São Paulo: Cortez, 2009.
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citação e recreação para a pessoa com defi-
                                                Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.              27
ciência física – recursos para a comunicação
alternativa. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
                                                MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contex-
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1988 / obra coletiva de autoria de Antonio
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Santos Windt e Lívia Céspedes. 37. ed. atual.   ça: a perspectiva dos Estudos Culturais. 4.

e ampl. São Paulo: Saraiva, 2005.               ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.


FÁVERO, Eugênia A. G. Direito das pessoas       STAINBACK, Susan & STAINBACK, William.
com deficiência: garantia de igualdade na       Inclusão: um guia para educadores. Porto
diversidade. Rio de Janeiro: WVA, 2004.         Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
Texto 3

Práticas educacionais no contexto das diferenças
Escola atenta às diferenças: gestão de redes e dos processos
de ensino

                                                             Maria Terezinha C. Teixeira dos Santos1

Uma escola atenta às diferenças caracteriza-                     do papel da escola na superação da lógi-
se como o espaço verdadeiramente demo-                           ca da exclusão.
crático e de cidadania que tem o compro-
misso de efetivar o direito à educação para                      A partir dos referenciais para a constru-
todos os alunos.                                                 ção de sistemas educacionais inclusivos,
                                                                 a organização de escolas e classes espe-
      [...] A educação inclusiva constitui um                    ciais passa a ser repensada, implicando
      paradigma educacional fundamentado                         uma mudança estrutural e cultural da
      na concepção de direitos humanos, que                      escola para que todos os alunos tenham
                                                                                                                 28
      conjuga igualdade e diferença como va-                     suas especificidades atendidas (BRASIL,
      lores indissociáveis, e que avança em re-                  2008, p. 1.).
      lação à ideia de equidade formal ao con-
      textualizar as circunstâncias históricas            Uma rede de ensino - ou uma escola com
      da produção da exclusão dentro e fora               atenção às diferenças - não é, portanto, uma
      dela.                                               mera exigência legal, um modismo ou uma
                                                          vontade isolada. É uma transformação ne-
      Ao reconhecer que as dificuldades en-               cessária em face às demandas do mundo
      frentadas nos sistemas de ensino evi-               atual, uma responsabilidade inerente à ci-
      denciam a necessidade de confrontar as              dadania, e uma preocupação obrigatória de
      práticas discriminatórias e criar alter-            TODOS os sistemas de ensino, quer no âmbi-
      nativas para superá-las, a educação in-             to da escola regular que precisa se organizar
      clusiva assume espaço central no debate             para atender às diferenças, quer na devida
      acerca da sociedade contemporânea e                 compreensão da educação especial como



1	        Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Consultora da Secretaria de
Educação Especial do Ministério da Educação. Professora de Mestrado em Educação da Universidade do Vale do Rio
Verde de Três Corações.
complementar à escola regular e oferecida             dificuldades de aprendizado. Assim sen-
sempre no contraturno e responsável pela              do, ela deve ser encarada como um com-
oferta de Atendimento Educacional Especia-            promisso inadiável das escolas, que terá
lizado.                                               a inclusão como consequência (BRASIL,
                                                      2003, p.30).
Quando uma rede de ensino se propõe a
construir escolas in-                                                Em nível de gestão,
clusivas que se preo-                                                quando se entende que
cupam com todos os           A autonomia e a gestão                  as diferenças existem e
alunos, as inovações        democrática fazem parte                  começa-se a trabalhar
são óbvias nos pro-                                                  com elas como uma
                               da própria natureza
cessos de organização                                                referência positiva, e
                            político e pedagógica do
de ensino e aprendi-                                                 não como obstáculo,
zagem que passam a
                            Projeto escolar inclusivo,               o princípio democrá-
considerar: o ritmo de         desenvolvendo uma                     tico se efetiva, pois a
aprendizagem, a flexi-      formação cidadã efetiva                  instituição escolar se
bilização dos tempos        no cotidiano e não como                  especializa em todos
e dos espaços escola-                                                os alunos e não apenas      29
                              uma abstração de um
res, a implementação                                                 em alguns deles.
                                 futuro que virá.
de recursos de aces-
sibilidade, o enrique-                                               O projeto da escola in-
cimento curricular, a                                                clusiva está inserido no
operacionalização da oferta do AEE, o uso de    contexto das diferenças. Cada escola é única
metodologias ativas e interativas e o caráter   e inédita e desenvolve um processo repleto
processual da avaliação.                        de desafios e alternativas. Nada está pronto
                                                e as instituições são possibilidades a serem
Ao se construírem à luz deste novo paradig-     construídas.
ma, as redes atentas às diferenças efetivam
mudanças e transformações e, neste senti-       A autonomia e a gestão democrática fazem
do, pode-se afirmar com convicção que uma       parte da própria natureza político e peda-
escola inclusiva é uma escola de qualidade.     gógica do Projeto escolar inclusivo, desen-
                                                volvendo uma formação cidadã efetiva no
      A transformação da escola não é, por-     cotidiano e não como uma abstração de um
      tanto, uma mera exigência da inclusão     futuro que virá.
      escolar de pessoas com deficiência e/ou
Esta clareza é fundamental para o gestor e              não são. Como é possível escolher al-
contribui para passar a limpo algumas con-              gumas das escolas, como referência?
tradições existentes na realidade das escolas           É possível ter cidadania em uma e não
hoje, como por exemplo:                                 em outra? É para valer, ou não?

                                                  Não é demais lembrar que o setor público
   •	 Como se pode justificar uma escola
                                                                            tem a responsabilida-
       para todos, de-
                                                                            de pelo salto de qua-
       mocrática e ci-
                                                                            lidade    na    educação
       dadã, que não
                                  O município, chão                         tão proclamado e tão
       admita a inclu-
                                   concreto onde a                          almejado na socieda-
       são?
                              educação acontece, tem                        de do conhecimento

Não existe nenhum             atribuições estabelecidas                     em que se vive. Os da-

Projeto Político Peda-            pela Constituição                         dos consolidados pela
                                                                            Pesquisa Nacional por
gógico que tenha co-             Brasileira de 1988 à
ragem de dizer que é                                                        Amostra de Domicílios
                                 luz dos parâmetros
contra a construção                                                         – PNAD, realizada pelo
                               das políticas nacionais                      Instituto Brasileiro de     30
de cidadania. É só con-
ferir os objetivos exis-
                                  e estaduais e tem                         Geografia e Estatísti-

tentes nos respectivos        autonomia para analisar                       ca – IBGE, em 2008,

Projetos e em todos             sua realidade local e                       evidenciaram que de
                                                                            cada     10    estudantes
eles aparece a afirma-        decidir os atendimentos
ção democrática de                                                          brasileiros, oito estão
                                  necessários à sua
que a escola é aberta                                                       matriculados em es-
                                     população.                             colas públicas! Isto dá
para todos. E aí como
fica? É possível cons-                                                      uma dimensão mui-

truir cidadania quan-                                                       to profunda do grau

do existem cidadãos que discriminam uns           de responsabilidade da gestão de sistemas

e outros? Qual a consistência destas propos-      e das políticas públicas a serem adotadas.

tas?                                              É na escola pública que se desenha 80% do
                                                  país que se quer ter!!!

   •	 Outra contradição bastante comum
       nos sistemas de ensino é decretar que      Portanto, quando o gestor de uma rede de

       uma ou algumas das escolas da res-         ensino tem compromisso com a inclusão

       pectiva rede são inclusivas, e as outras   e tem plena convicção de que só assim ele
pode estar efetivamente oferecendo uma           situação desejada. Por exemplo, no contex-
escola de qualidade para toda sua comuni-        to do paradigma da inclusão:
dade, as metas de trabalho são definidas e
ALGUMAS PRIORIDADES PRECISAM SER OPE-            Quanto ao Acesso e à Permanência dos alu-
RACIONALIZADAS em todos os processos.            nos: o município dispõe de mapeamento de
                                                 sua população escolar? Tem informações
O município, chão concreto onde a educa-         sobre os alunos que devem ser público-alvo
ção acontece, tem atribuições estabeleci-        da educação especial e dos serviços ofere-
das pela Constituição Brasileira de 1988 à       cidos que garantem a acessibilidade destes
luz dos parâmetros das políticas nacionais       alunos ao ambiente e ao conhecimento es-
e estaduais e tem autonomia para analisar        colares?
sua realidade local e decidir os atendimen-
tos necessários à sua população.                 Quanto à Infraestrutura: quais são as con-
                                                 dições físicas dos espaços escolares e a
No nível do Planejamento, elaborar um Pla-       acessibilidade existente? Nos espaços fora
no Municipal não deve ser um mero exercí-        da escola (calçadas, ônibus, outros) existe
cio burocrático. É preciso fazer valer a capa-   acessibilidade? Quais recursos de tecnolo-
cidade de analisar, diagnosticar, organizar e    gia e de comunicação são oportunizados?         31
decidir a educação que se deseja.                O transporte escolar é acessível? Os alunos
                                                 têm acesso aos materiais escolares e livros?
É necessário deixar claro aqui que o Plano       A merenda escolar é de boa qualidade, ga-
Municipal de Educação é um documento da          rante uma alimentação saudável?
maior importância para estar operaciona-
lizando políticas públicas inclusivas para o     Quanto ao Pedagógico: a aprendizagem é
município.                                       o eixo central das escolas? O Projeto Políti-
                                                 co Pedagógico é elaborado e vivenciado em
Não se trata de restringir a preocupação ao      gestão democrática? O trabalho com as di-
domínio das escolas municipais, mas sim          ferenças é contemplado em cada uma das
articular o acesso, a permanência e a equa-      escolas? Existe preocupação em flexibilizar
lização de oportunidades para todos os ci-       tempos e espaços? O Atendimento Educa-
dadãos.		                                        cional Especializado está sistematizado e
                                                 atende aos alunos que dele necessitam?
Alguns indicadores concretos        permitem
identificar como se encontra um determi-         Quanto aos professores e especialistas:
nado fenômeno, quando comparado com a            existe formação continuada na rede de ensi-
no? Esta formação é realizada com metodo-       cola é o domínio exclusivo responsável pela
logias ativas e interativas para a construção   educação.
do conhecimento? Os horários de estudo e
de reuniões estão garantidos? Existe preo-      A preocupação que deve estar no ar de uma
cupação com Plano de Carreira e valoriza-       cidade cidadã em todos os momentos e
ção dos profissionais?                          em todos os setores é a de qual educação
                                                está se construindo, qual inclusão está se
Quanto à gestão democrática: existem me-        garantindo, ao se definir cada um dos servi-
canismos de participação nos planejamen-        ços prestados à comunidade. Por exemplo:
tos, nos processos de execução e de avalia-     quando se estabelece o transporte dos cida-
ção das propostas da rede de ensino? Estão      dãos, as prioridades na agricultura, as polí-
garantidos mecanismos de comunicação e          ticas de saúde e assim por diante, qual é o
de transparência de informações para que        grau de educação que está inserido em cada
a gestão democrática se efetive? Existem ór-    uma destas propostas?
gãos colegiados que funcionam de verdade?
                                                Este compromisso precisa estar explicitado
Quanto à dimensão social e cultural: exis-      com MARCAS CLARAS DE ATENÇÃO ÀS DIFE-
te articulação entre todos os setores da co-    RENÇAS em toda cidade, em todos os servi-         32

munidade, parcerias para o desenvolvimen-       ços públicos.
to da Educação como tarefa de cidadania?
Existem práticas culturais valorizadas e de-
                                                REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
senvolvidas em toda comunidade?

                                                BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
A gestão de políticas públicas inclusivas
                                                de Educação Especial. Política Nacional de
deve contar com a efetiva participação
                                                Educação Especial na Perspectiva da Educa-
de todos os segmentos da sociedade, pois
                                                ção Inclusiva. Inclusão: Revista da educação
uma efetiva transformação nas escolas só
                                                especial, v. 4, n. 1, jan./jun. 2008. Brasília:
vai acontecer na hora em que a Educação
                                                MEC/SEESP, 2008.
for entendida como a proposta de vida do
município, abraçada pelo Prefeito, demais
secretarias e outros poderes institucionais.    BRASIL. Ministério Público Federal. Procu-
                                                radoria Federal dos Direitos do Cidadão. O
Quando se dimensiona a construção de ci-        acesso de pessoas com deficiência às classes
dadania efetiva, não se pode contentar com      e escolas comuns da rede regular de ensino.
uma perspectiva fragmentada de que a es-        Brasília, 2003.
BIBLIOGRAFIA                                      nomia da escola: princípios e propostas. São
                                                  Paulo: Cortez, 1997, p.117- 124.
ARROYO, M. Trabalho-educação e teoria pe-
dagógica. In: FRIGOTTO, G. (org.) Educação        MANTOAN, M.T.E. (org.). Pensando e fazen-
e crise do trabalho: perspectivas de final de     do educação de qualidade. São Paulo: Editora
século. Petrópolis: Vozes, 1998.                  Moderna, 2001.


AZANHA, J. M. P. Autonomia da escola: um          _______. Inclusão Escolar: o que é? Por quê?
reexame. Série Ideias, n.16, São Paulo: FDE,      Como fazer? São Paulo: Editora Moderna,
1993.                                             2003.


BOFF, Leonardo. Ecologia, Mundialização e         _______. (org.) O desafio das diferenças nas es-
Espiritualidade. São Paulo: Ed. Ática, 2001.      colas. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.

BRASIL. Constituição da República Federati-       PINHEIRO, M. E. O Projeto Político Pedagó-
va do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 1998.   gico e a formalização da gestão democráti-
                                                  ca. In: Secretaria de Estado da Educação
BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de
                                                  de Minas Gerais, Coleção Veredas. Guia de
1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Edu-                                                        33
                                                  Estudo – Módulo 4, v. 3. Belo Horizonte,
cação Nacional. Diário Oficial da União. Bra-
                                                  2003.
sília, nº 248, 23/12/1996.


BRASIL. Decreto nº 6.571 de 18 de setembro        SANTOS, M.T.T. Bem vindo à escola: a inclusão

de 2008. Dispõe sobre o Atendimento Educa-        nas vozes do cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A,

cional Especializado. Brasília, 2008.             2006.


BRASIL. Ministério da Educação. Conselho          VEIGA, I. P. (org.) Projeto Político-Pedagógico
Nacional de Educação. Resolução n. 04 de 02       da escola: uma construção possível. Campi-
de outubro de 2009. Brasília, 2009.               nas: Papirus, 1995.


GADOTTI, M. Uma escola, muitas culturas.          _______. (org.) Escola: espaço do Projeto Políti-
In: GADOTTI, M. & ROMÃO. J. E. (org.) Auto-       co-Pedagógico. Campinas: Papirus, 1998.
Presidência da República

Ministério da Educação

Secretaria de Educação a Distância

Direção de Produção de Conteúdos e Formação em Educação a Distância




TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO

Coordenação-geral da TV Escola
Érico da Silveira

Coordenação Pedagógica
Maria Carolina Machado Mello de Sousa

Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça

Acompanhamento Pedagógico
Grazielle Avellar Bragança                                            34
Coordenação de Utilização e Avaliação
Mônica Mufarrej
Fernanda Braga

Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins

Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte

Consultora especialmente convidada
Rita Vieira de Figueiredo




E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Abril 2010

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  • 1. ISSN 1982 - 0283 Escola de atenção às diferenças Ano XX boletim 03 - Abril 2010 Secretaria Ministério da de Educação a Distância Educação
  • 2. Sumário Escola de atenção às diferenças Apresentação da série ........................................................................................................... 3 Rosa Helena Mendonça Proposta da série Escola de atenção às diferenças ................................................................. 5 Rita Vieira de Figueiredo Texto 1 – Políticas e marcos legais para a educação inclusiva Construir a escola das diferenças – caminhando nas pistas da inclusão .............................. 14 Maria Teresa Eglér Mantoan Texto 2 – Atendimento educacional especializado Salas de Recursos Multifuncionais: espaço para o atendimento educacional especializado nas redes públicas de ensino ................................................................................................ 23 Rosângela Machado Texto 3 – Práticas educacionais no contexto das diferenças Escola atenta às diferenças: gestão de redes e dos processos de ensino . ............................. 28 Maria Terezinha C. Teixeira dos Santos
  • 3. Escola de atenção às diferenças APRESENTAÇÃO DA SÉRIE Rosa Helena Mendonça1 Eu desconfiava2 (...) Todas as guerras do mundo são iguais. Todas as fomes são iguais. Todos os amores, iguais iguais iguais. Iguais todos os rompimentos. A morte é igualíssima. Todas as criações da natureza são iguais. Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais. 3 Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa. Não é igual a nada. Todo ser humano é um estranho ímpar. De forma a um tempo sensível e radical, como é pertinente à linguagem poética, Carlos Drum- mond de Andrade nos fala talvez de solidão e, certamente, de singularidade. Afinal, todo ser humano é uma individualidade que na convivência cotidiana com outros seres humanos, em diversas esferas da vida social, vai desenvolvendo seus desejos e suas potencialidades. E a escola é um dos espaços em que os ‘ímpares’ vão encontrar seus pares. Um lócus privile- giado de convivência. E, acima de tudo, um espaço de equidade de oportunidades para todos. 1 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC). 2 Igual – desigual, in ANDRADE, Carlos Drummond de. A paixão medida. Rio de Janeiro: Record, 2002.
  • 4. Escola de atenção às diferenças, esse é o tema da série que o programa Salto para o Futuro, da TV Escola, apresenta, propondo uma reflexão sobre a inclusão, não só para os professores da Educação Básica, mas para toda a comunidade escolar, assim como para a própria sociedade. A série, que conta com a consultoria da professora e pesquisadora Rita Vieira de Figueiredo (UFC), nos três eixos temáticos que são apresentados, tanto nos textos desta publicação, como nos programas televisivos que com ela dialogam, possibilita um debate que gira em torno de políticas e marcos legais para a educação inclusiva, de atendimento educacional especializado e de práticas educacionais no contexto das diferenças. Esperamos, dessa forma, contribuir para a formação de professores e professoras que são os profissionais que farão, na prática, as profundas mudanças necessárias para a inclusão escolar de todos. 4
  • 5. PROPOSTA DA SÉRIE Escola de atenção às diferenças Rita Vieira de Figueiredo1 A construção de uma escola de atenção às mento que permita a cada um desses grupos diferenças demanda uma política de inclu- desenvolver um saber e um saber fazer em são a ser implementada pelas redes de ensi- que se valorize a participação de cada um no, com repercussões no interior da escola. como membro que contribui com as ações A escola de atenção às diferenças mobiliza daquela comunidade educativa. Este mes- seus profissionais para o desenvolvimento mo preceito deve ser observado no interior de uma cultura de inclusão e uma prática de da sala de aula, espaço pedagógico em que inclusão. O primeiro aspecto concebe a ideia cada aluno se constitui em sujeito de apren- de que TODO aluno tem lugar assegurado dizagem que contribui efetivamente para a na escola, o segundo reside na previsão e na elaboração de um saber que só tem sentido organização de recursos humanos e mate- quando compartilhado por todos os mem- riais que possibilitem a construção de práti- bros da classe. 5 cas pedagógicas que permitam a interação e a participação dos alunos indistintamente. A A acessibilidade aos saberes escolares re- construção dessa escola requer a colabora- quer uma verdadeira transformação no in- ção entre os diversos agentes do meio esco- terior da escola. É dever das redes de ensino lar, tais como os gestores e a equipe técnica, e das políticas públicas criar as condições os professores da sala comum e os profes- para que a escola se transforme em espaço sores do Atendimento Educacional Especia- verdadeiro de trocas que favoreçam o ato de lizado. Esses profissionais devem aprender a ensinar e de aprender. Neste sentido, nosso trabalhar juntos e a orquestrar seus esforços país ainda tem um importante caminho a em favor do desenvolvimento de uma edu- percorrer para assegurar educação a todos cação sintonizada com as necessidades dos os jovens, crianças, adultos e adolescentes alunos e com as atuais demandas sociais que integram o sistema público de ensino. que permeiam o interior da escola. Faz-se necessário às redes de ensino conceberem De acordo com a nova Política de Educação um modelo de formação e de acompanha- Especial na Perspectiva da Educação Inclusi- 1 Professora da Universidade Federal do Ceará. Consultora da série.
  • 6. va os sistemas de ensino devem se organizar de se construir um ambiente acolhedor en- para oferecer a TODAS as crianças não so- tre as crianças, contrapondo-se à punição e mente o acesso e a permanência na escola, à repreensão. Em estudo por nós realizado mas também, os serviços educacionais que (FIGUEIREDO, 2008) em uma escola pública forem necessários para garantir a aprendi- em contexto de inclusão escolar, constata- zagem escolar. A articulação entre o ensino mos que o tipo de convivência estabelecida comum e a educação especial, sobretudo na classe independe da presença de alunos através do atendimento educacional espe- com deficiência, bem como as dificulda- cializado, visa à aprendizagem dos alunos des de inserção não estão relacionadas à que se beneficiam desse serviço. Transfor- deficiência, mas à forma como a criança é mar a escola significa criar as condições educada. No espaço da sala da aula a con- para que TODOS os alunos possam atuar efe- vivência se torna mais harmoniosa quando tivamente nesse espaço educativo, focando a professora consegue estabelecer com seu as dificuldades do processo de construção grupo um ambiente no qual as crianças se do conhecimento no ambiente escolar e não sentem seguras, respeitadas, acolhidas e nas características particulares dos alunos. percebem o reconhecimento do outro sobre as suas ações. Para isso, o professor deve ser 6 uma referência de segurança sobre a qual a Em relação ao ambiente escolar favorável à criança pode se apoiar, estabelecendo roti- inclusão, Soodak (2003) sugere que este deve nas de trabalho cotidiano da sala de aula, contemplar a organização de um espaço no assegurando a participação de todos os alu- qual os alunos se sentem acolhidos, seguros nos nas atividades da classe. Ainda no con- e apoiados. A escola deve criar uma comu- texto da convivência da classe, é importante nidade inclusiva, promover o sentimento de reconhecer que a criança é fonte de um sa- pertença, facilitar a aproximação das crian- ber e de uma cultura, logo ela participa da ças, desenvolver a colaboração entre pais construção de um saber coletivo, de modo e professores e entre professores e outros que a participação de cada aluno nas ativi- membros da escola. dades da classe é reconhecida pelos demais colegas. O acolhimento é garantido quando Bloom e Perlmutter (1999) acrescentam o professor faz o acompanhamento das es- que problemas relacionados às dificuldades tratégias utilizadas pelas crianças em suas nos comportamentos dos alunos devem ser aprendizagens, sendo capaz de ouvi-las, ma- abordados como problemas que dizem res- nifestando interesse e afetividade por elas, peito a toda a classe e não apenas ao pro- pelos seus sucessos, suas dificuldades, suas fessor. Os autores ressaltam a importância preocupações. Estes aspectos dizem respei-
  • 7. to diretamente à gestão da sala de aula, mas tarefa incontornável por parte do contexto estão relacionadas também à gestão da es- escolar. De acordo com o autor, quatro prin- cola. Esses dois aspectos se constituem ele- cípios devem fundamentar o trabalho do di- mentos centrais na mudança de uma escola retor na perspectiva da construção de uma que exclui para aquela que inclui. escola que inclui. O primeiro diz respeito à manutenção de uma comunicação aberta com o corpo docente da escola, bem como A gestão da escola e a estimular e intermediar a comunicação livre atenção às diferenças e honesta. Dentro deste princípio, ele enxer- Mudanças na gestão da escola se configu- ga seis atividades que devem ser sugeridas ram no sentido de torná-la mais democrá- aos professores: compartilhar experiências tica e participativa para alunos, professores bem sucedidas, agendar tempo para plane- e demais atores desse espaço pedagógico. jamento conjunto, registrar suas atividades, Significa compartilhar projetos e decisões e suas preocupações e o modo como conse- desenvolver uma política que compreenda o guiram resolvê-las, visitar outras institui- espaço da escola como um verdadeiro cam- ções que tenham experiência no processo de po de ações pedagógicas e sociais, no qual inclusão, coletar material de fontes diversas sobre a temática da inclusão e, finalmente, 7 as pessoas compartilham projetos comuns, cada um deles representando uma oportuni- comemorar cada acerto, como forma de va- dade real de desenvolvimento pessoal e pro- lorizar as pequenas conquistas. fissional. A gestão na escola inclusiva tem O segundo princípio consiste em compar- um caráter colaborativo que implica o de- tilhar a liderança e estimular a troca de senvolvimento de valores que mobilizam as conhecimento. Empoderar os professores, pessoas a pensarem, viverem e organizarem fazendo-os capazes de compartilhar suas ex- o espaço da escola, incluindo nele todos os periências como professores especializados, alunos. de modo a estimular a união de forças e não Segundo Hines (2008), a atuação da direção a concorrência entre eles. O terceiro princí- é fundamental para o sucesso na transfor- pio refere-se ao estabelecimento de metas mação de uma escola para uma perspectiva viáveis e objetivos comuns. Neste ponto, o inclusiva. A ação da direção é importante autor reforça a ideia de trabalho conjunto no sentido de guiar, estimular e facilitar a entre os professores do ensino comum e colaboração entre os professores do ensino aquele(a) do ensino especial, sugerindo ati- comum e entre estes e os professores espe- vidades que podem ser divididas ao mesmo cializados, tendo o trabalho coletivo como tempo em sala de aula por todos eles. Por
  • 8. fim, o autor reforça a importância de traba- aprendizagem, organizando os espaços, os lhar mediante uma sistemática de resolução tempos e os agrupamentos pertinentes às de conflitos. O diretor deve esforçar-se para suas propostas didáticas, constituindo-se explorar de forma aprofundada as estraté- ele mesmo em mediador entre os conteúdos gias de resolução dos conflitos que surgirão. escolares e aqueles trazidos pelos alunos. A Ouvir cada professor, estimular a comunica- escola que está atenta à questão das diferen- ção entre eles, esclarecer pontos de diver- ças dispensa grande relevância ao ensino e à gência, deixando claro para cada um a fonte gestão da sala de aula, uma vez que a grande do problema e sugerindo que cheguem a um marca dessa escola é a valorização do papel ponto em comum que deve ser parte indis- social do aluno, quaisquer que sejam suas pensável do trabalho de uma gestão esco- características, pois tem como referência lar inclusiva. O aspecto da comunicação e o princípio da contribuição. Deste modo, da colaboração também foi identificado por a classe do ensino regular se constitui em Penaforte (2009) como fundamental no pro- um agrupamento no qual cada aluno deve cesso de construção de uma escola inclusi- colaborar com o processo de construção do va. A gestão compartilhada aumenta as pos- conhecimento dentro de suas possibilida- sibilidades dos atores escolares assumirem des. A valorização do papel social do aluno os projetos da escola como de todos, mini- só é possível na medida em que ele é reco- 8 mizando as dificuldades do contexto e aque- nhecido por seus pares como uma pessoa las enfrentadas pelos alunos, favorecendo as que traz uma contribuição, mesmo que seja mudanças necessárias para a gestão da sala modesta, ao desenvolvimento de saberes, de de aula e, consequentemente, para as práti- saber-fazer e do saber ser coletivo. A criança cas pedagógicas. Isto significa transformar percebe-se como um indivíduo que contri- as práticas que temos hoje (na sua maioria bui para o desenvolvimento de saberes e do pautadas no conceito de homogeneidade) saber-fazer coletivo e retira disso múltiplas em práticas que atentem para as especifici- vantagens. Entretanto, essa participação dades dos alunos. ativa do aluno com deficiência no contexto da sala regular só é possível se o professor perceber esse aluno como sujeito de apren- A gestão da sala de aula na dizagem e se conseguir organizar propostas escola das diferenças didáticas que favoreçam essa participação. A gestão da sala de aula corresponde à ca- A percepção de professores de classes regu- pacidade do professor para orquestrar a lares a respeito de como eles organizam o interação entre os alunos em situação de trabalho tendo em vista a presença de um
  • 9. aluno com deficiência foi investigada por res consideram que o processo de inclusão O’Donoghue e Chalmers (2000), que identifi- modifica a vida escolar e a relação com os caram três categorias de comportamentos: demais membros da sua escola. Figueiredo 1) os que realizavam adaptações seletivas (2008) constatou que os(as) professores(as) com ênfase na organização da sala de aula, em contexto de inclusão atribuem transfor- 2) os que realizam o trabalho dando ênfa- mações não somente na gestão da sala de se às metodologias (estratégias) de ensino e aula mas também em sua vida pessoal. Es- 3) aqueles que baseavam suas modificações sas mudanças não se fazem de modo simi- tendo como foco os conteúdos curriculares. lar nem nas crenças dos(as) professores(as) Tais categorias foram definidas a partir da quanto às próprias capacidades de efetua- forma como os professores elaboravam suas rem a mudança, nem nos aspectos de inves- estratégias de manejo de sala de aula tendo timento dessa mudança. Alguns professores nela um aluno com deficiência. De acordo aderem rapidamente e demonstram con- com os autores, a adaptação das estratégias fiança na possibilidade de desenvolverem de sala de aula utilizadas pelos professores uma pedagogia que contemple as diferenças evoluíram nas seguintes etapas: 1) apresen- de todos os alunos. Outros, ao contrário, tando uma certa resistência frente ao in- resistem a essa ideia. E há aqueles que vão gresso do aluno; 2) analisando o impacto da se apropriando paulatinamente dessa con- 9 presença desse aluno na sua prática de sala cepção e aos poucos vão implementando de aula e no seu trabalho como um todo e pequenas mudanças no ensino e na gestão iniciando uma apreciação das alterações da classe. Os aspectos de investimento das em sua atividade em sala para realização do mudanças também se diferenciam. Alguns trabalho; os professores definitivamente en- atentam rapidamente para a organização da gajam-se (ou não) no processo de inclusão classe e para as formas de agrupamento de de seus alunos e nesta etapa eles definem seus alunos, outros priorizam o desenvolvi- um ponto de vista e começam a racionalizar mento de atividades com diferentes propos- sua execução; 4) os professores começam a tas didáticas que favoreçam as diversas pos- identificar as práticas que deverão ser mo- sibilidades de aprendizagem por parte dos dificadas para acomodar o aluno incluído, alunos e há aqueles que começam a trans- desenvolvem estas práticas e reorganizam o formação pelo desenvolvimento da pedago- trabalho de acordo com os resultados obti- gia de projetos. A autonomia dos alunos se dos. E, por último, os professores fazem uma constitui no aspecto mais difícil a ser imple- estimativa das mudanças realizadas em suas mentado pelos(as) professores (as) (FIGUEI- salas e dos resultados positivos do trabalho. REDO, 2008b). A pesquisa revela, ainda, que os professo-
  • 10. Na escola que organiza as situações de ocorre quando um ou vários adultos, muitas aprendizagem considerando as diferenças vezes um professor especializado, encontra- dos alunos, o ensino e os apoios ao ensino se regularmente com o professor de sala de se integram para orquestrar a aprendiza- aula para trocar informações sobre o pro- gem, garantindo a participação efetiva dos gresso de estudante, avaliar a necessidade alunos em todas as práticas educativas. Tais de adaptar ou complementar materiais e de práticas se embasam na implementação solucionar problemas em conjunto. Essas de um ensino que leve em conta as especi- ações certamente se constituem em estraté- ficidades de cada sujeito e que faz apelo à gias eficientes para a gestão da sala de aula cooperação entre os alunos em situação de que contempla todos os alunos da turma, aprendizagem. O professor deve respeitar os permitindo ao professor seguir a evolução diferentes ritmos de aprendizagem dos alu- do desenvolvimento das competências dos nos, favorecendo a atividade conjunta entre alunos. Muitas outras formas de colabora- alunos com e sem deficiência no momento ção são possíveis de serem implementadas da realização de projetos comuns. A cola- no contexto de uma classe que vive o princí- boração estabelecida entre os professores, pio da colaboração em detrimento da com- conforme já descrita anteriormente, é outro petição e compreende o processo de cons- aspecto que deve ser ressaltado também na trução do conhecimento como um processo 10 escola das diferenças. cooperativo, com o qual todos podem con- tribuir, independentemente de limites ou Thousand e Villa (2006) acrescentam que dificuldades. quando os professores trabalham em coope- ração no seu planejamento e em suas ati- vidades práticas de ensino, eles tornam-se Considerações finais mais capazes de suprirem as necessidades Para finalizar, podemos concluir que a in- específicas de seus alunos e podem cumprir clusão se traduz pela capacidade da esco- melhor os objetivos propostos. Os autores la em dar respostas eficazes à diferença de explicitam os diferentes modos de colaborar aprendizagem dos alunos, considerando o e co-ensinar, inclusive tendo os estudantes desenvolvimento dos mesmos como priori- como parceiros colaborativos. Esta colabo- tário. A prática da inclusão implica o reco- ração pode ser efetivada: 1) pelo suporte na- nhecimento das diferenças dos alunos e a tural do colega, como por exemplo quando concepção de que a aprendizagem é cons- os colegas podem facilitar a comunicação, truída em cooperação a partir da atividade ajudar na locomoção, dentre outras possi- do sujeito diante das solicitações do meio, bilidades; 2) pelo suporte consultivo que tendo o sujeito de conhecimento como um
  • 11. sujeito autônomo. O professor pode ampliar criminação. Neste cenário, a democratiza- as possibilidades de aprendizagem do aluno ção do ensino e a inclusão escolar só serão a partir de diferentes propostas didáticas, concretizadas quando os sistemas de ensino as quais ele pode organizar no desenvolvi- garantirem educação de qualidade. Para que mento das práticas pedagógicas. Para isso, é a nova política de inclusão se traduza em importante refletir sobre os desafios do co- ações concretas no curso dos próximos anos tidiano escolar. Este novo olhar e esta nova se faz necessário que o Brasil adote um con- forma de atuar ampliam as possibilidades junto de ações que fortaleça a escola públi- de desenvolvimento profissional e pessoal ca e, consequentemente, a ação pedagógica do(a) professor(a). dos professores. A educação de qualidade passa pela organização do sistema público A Política Nacional de Educação Especial na de ensino, dos espaços escolares, da gestão Perspectiva da Educação Inclusiva 01/2008 da escola e da sala de aula. A escola cumpri- propõe a mudança de valores, de atitudes e rá seu papel de agência de formação quando das práticas educacionais para atender a to- for capaz de EDUCAR todos os alunos e não dos os estudantes, sem nenhum tipo de dis- apenas parte deles. 11 3 Textos da série ESCOLA DE ATENÇÃO ÀS DIFERENÇAS A série Escola de atenção às diferenças tem como proposta discutir a inclusão escolar de crian- ças com necessidades educacionais especiais, a partir de uma perspectiva filosófica e político- cultural. Filosófica, porque parte do princípio de que o espaço da escola deve ser dado para todas as crianças, independente de raça, cor, religião, condição social ou de desenvolvimento, e político-cultural, porque visa à garantia do direito de todos os cidadãos de se beneficiarem dos bens materiais e culturais da sociedade. A escola que inclui é a escola que acolhe e garante o espaço de aprendizagem e de crescimento para todos os alunos. Nessa série serão discutidos as políticas e os marcos legais para a educação inclusiva, o Atendimento Educacional Especia- lizado e as tecnologias assistivas e, ainda, a formação de professores e práticas educacionais no contexto das diferenças. 2 Estes textos são complementares à série Escola de atenção às diferenças, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola (MEC) de 26 a 30 de abril de 2010.
  • 12. Texto 1: Políticas e marcos legais para a educação inclusiva O primeiro texto da série comenta a Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva. O caráter complementar da Educação Especial, trazido por essa Política, retraça os projetos que visam à transformação das escolas em busca da qualidade de seu en- sino. Se antes as escolas comuns se organizavam para atender apenas aos alunos que apren- diam, excluindo os que não conseguiam aprender, agora elas devem acolher todos os alunos, nas suas diferenças. Há, então, que ser revista e reinterpretada a sua organização pedagógica, para que se reconstruam suas propostas e se avance na qualidade e no atendimento à deman- da de mais vagas para todos os alunos nas suas turmas. Texto 2: Atendimento educacional especializado Este texto tem por objetivo subsidiar professores e gestores das redes de ensino no que se refe- re ao ambiente escolar denominado sala de recursos multifuncionais. Esse ambiente tem como finalidade desenvolver as atividades do atendimento educacional especializado – AEE. Tendo por base a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva do 12 Ministério da Educação, o texto apresenta o conceito de sala de recursos multifuncionais, sua ligação com o AEE e o trabalho do professor dessa sala. As palavras-chaves do texto são: salas de recursos multifuncionais, atendimento educacional especializado, redes públicas de ensino. Texto 3: Práticas educacionais no contexto das diferenças O terceiro texto da série discute a importância de que a escola de atenção às diferenças esteja em sintonia com as transformações necessárias para atender às demandas do mundo atual. Esta é uma responsabilidade inerente à cidadania e uma preocupação obrigatória de todos os sistemas de ensino. Ao se propor a construir escolas inclusivas que se preocupam com todos os alunos, devem ser feitas inovações nos processos de organização de ensino e aprendizagem, passando a considerar o ritmo de aprendizagem, a flexibilização dos tempos e dos espaços es- colares, a implementação de recursos de acessibilidade, o enriquecimento curricular, a opera- cionalização da oferta do AEE, o uso de metodologias ativas e interativas e o caráter processual da avaliação.
  • 13. Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para mendations for Principals. Intervention in o quarto programa, com entrevistas que refle- School and Clinic, v. 43, n. 5, 2008, p. 277- tem sobre esta temática (Outros olhares sobre 282. a escola de atenção às diferenças) e para as O’DONOGHUE, T. A. and R. CHALMERS. How discussões do quinto e último programa da teachers manage their work in inclusive série ( Escola de atenção às diferenças em de- classrooms. Teaching and Teacher Educa- bate). tion, v. 16, n. 8, nov. 2000, p. 889-904. Referências bibliográficas PENAFORTE, Selene. A gestão para a inclu- são: uma pesquisa-ação colaborativa no BLOOM, L. A.; J. C. PERLMUTTER et al. The meio escolar. Tese (Doutorado em Educa- general educator: applying constructivism ção). Fortaleza: Universidade Federal do Ce- to inclusive classrooms. Intervention in ará, 2009. School and Clinic, v. 34, n. 3, jan. 1999, p. SOODAK, L. C. Classroom Management in 132-36. Inclusive Settings. Theory into Practice v. BRASIL. Ministério da Educação. Política de 42, n. 4, Autumn 2003, p. 327-33 (ISSN: 0040- 13 Nacional de Educação Especial na Perspec- 5841). tiva de Educação Inclusiva. MEC/SEESP, 2008. THOUSAND, J. S.; VILLA, R. A. et al. The Many FIGUEIREDO, Rita Vieira. (Relatório de pes- Faces of Collaborative Planning and Tea- quisa) Gestão da Aprendizagem na Diver- ching. Theory into Practice, v. 45, n. 3, 2006, sidade. Fortaleza: Universidade Federal do p. 239-48. Ceará, 2008. Divulgamos a seguir o link onde podem ser FIGUEIREDO, Eliene Vieira. Práticas de Lei- encontradas diversas sugestões de filmes tura e de Escrita na Diversidade da Sala de com temas relacionados à proposta da série Aula. Dissertação (Mestrado em Educação Escola de atenção às diferenças: Brasileira). Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008. http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/ HINES, J. T. Making Collaboration Work in sugestoesfilmescomtemasabrangendoalgu- Inclusive High School Classrooms: Recom- mtipodefiencia.pdf
  • 14. Texto 1 Políticas e marcos legais para a educação inclusiva Construir a escola das diferenças – caminhando nas pistas da inclusão Maria Teresa Eglér Mantoan1 A Política Nacional de Educação Especial na ticulares de ensino básico, assim como a for- Perspectiva da Educação Inclusiva de 2008 mação de nossos professores são alguns deles. é um importante mar- Por outro lado, essa co legal, político-social Política traz nas suas e cultural da educação diretrizes proposições O progresso, em todas brasileira. Os avanços que podem solucionar provocados por suas as frentes das iniciativas esses problemas. diretrizes extrapolam humanas, acontece o ensino especial e im- pela criação de novas Neste texto, abordare- 14 plicam/provocam pro- alternativas de transpor mos, ainda que suma- fundas modificações na riamente, como a Edu- barreiras, que estão escola comum, rever- cação Especial poderá constantemente se tendo conceitos e práti- contribuir para uma formando em torno do virada na nossa educa- cas antes consagradas, nas suas turmas. que já conquistamos. ção, ao se re-orientar segundo os princípios Pelo fato de ter se adian- da inclusão escolar. tado e constituído um conjunto de documentos reorientados para O fracasso escolar a escola inclusiva, a Educação Especial revela graves problemas relativos à escolarização. O O progresso, em todas as frentes das ini- fracasso escolar, a avaliação do desempenho ciativas humanas, acontece pela criação de escolar dos alunos da escola brasileira, a quali- novas alternativas de transpor barreiras, dade do ensino das instituições públicas e par- que estão constantemente se formando em 1 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP - Faculdade de Educação- Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferenças – LEPED/ UNICAMP.
  • 15. torno do que já conquistamos. A incapaci- ano escolar são alternativas que desviam a dade de “dominarmos” os conhecimentos organização pedagógica e a formação dos e de agirmos segundo uma fórmula final e professores – inicial e continuada –, das me- universal (que tanto buscamos!), nos move didas a serem tomadas para que as escolas e nos impulsiona diante das perturbações comuns se debrucem sobre o modo de mi- com as quais o meio nos confronta. nistrar o ensino, os conteúdos curriculares e a análise do desempenho escolar dos alu- Os problemas, as perturbações, são, portan- nos, especialmente daqueles que não conse- to, imprescindíveis para que possamos cres- guem o sucesso pretendido. cer e evoluir no que conhecemos e no que fa- zemos, em nossos ambientes de vida pessoal Além dessas consagradas soluções compen- e profissional. Embora jamais consigamos satórias, existem ainda as práticas adapta- deduzir uma fórmula final, uma resposta de- das de ensino especial, que têm como ob- finitiva para os problemas de aprendizagem, jetivos equiparar o desempenho escolar dos negar essas perturbações e/ou ignorá-las fi- alunos considerados “especiais” ao dos cole- xou os sistemas de ensino, as escolas e pro- gas “normais” e/ou protegê-los da exclusão, fessores em modelos e soluções superados, nas turmas de ensino regular. que os mantêm presos a saídas velhas e ino- 15 perantes, impedindo-os de visualizar novos Ao retirar das turmas comuns os alunos com modelos educacionais possíveis. e sem deficiência, que colocam em xeque o modo como planejam e executam seus pla- A Educação Especial influiu significativa- nos de ensino, os professores se eximem da mente para neutralizar os desafios que le- responsabilidade de buscar os motivos pe- variam o professor a rever suas práticas e a los quais esses alunos não atendem às suas avaliar a aprendizagem escolar, na busca de exigências educacionais, equivocando-se ao um ensino mais avançado e qualificado para considerar essas exigências como as que ca- todos os alunos. racterizam um ensino de qualidade. E, en- tão, admite-se o fracasso escolar do aluno Na nossa percepção, a preocupação com o na escola, quando seria o caso de se exami- fracasso tem conduzido a escola por desca- nar as razões do fracasso da escola diante do minhos que vão do diagnóstico impreciso do insucesso dos alunos. insucesso do aluno aos encaminhamentos às escolas e classes especiais. A formação inicial Compensar, reforçar a aprendizagem, fazer Apesar do descontentamento com os re- equivalência de desempenho entre idade e sultados alcançados pelos alunos e da con-
  • 16. cordância de que o nosso ensino precisa se mera reprodução de conteúdos programá- qualificar, a atualização da formação inicial ticos sequenciados, categorizados, transmi- pela adoção de alternativas pedagógicas, tida aos alunos. Os alunos desenvolvem os que transpõem fronteiras e projetam o en- temas de estudo entrelaçando suas experiên- sino para o futuro, são ainda muito tímidas. cias com novos conhecimentos, construídos segundo seus interesses e capacidades. É patente, nos cursos de Pedagogia, a resis- tência dos formadores em romper paradig- As alternativas de modernização, contudo, mas que impedem as manobras necessárias estão se transfigurando em “receitas” de en- para que possamos imprimir uma nova dire- sino, de tanto serem aclamadas em vão como ção aos destinos de nossa educação, propon- saídas para que o ensino se redirecione em do uma resposta decisiva aos problemas que suas estratégias, processos, dimensões. Não a afligem. A questão não está apenas em re- há mais o que sugerir para que as escolas se gular as relações entre teoria e prática peda- tornem inclusivas. A maioria dos professores gógicas, mas em outras formas de se pensar se sente insegura em adotar novos rumos e de se fazer a educação, em uma sociedade educacionais, uma vez que são tributários de do conhecimento, da comunicação e da tec- uma formação e do exercício de uma profis- nologia, alinhada aos propósitos inclusivos. são. De um modo geral, consideram que o 16 ensino precisa mudar para melhor, mas per- Educar na escola, principalmente no ensino sistem no enrijecimento dos mesmos méto- básico, é uma atividade complexa, que en- dos que os levaram ao fracasso! volve o desenvolvimento de novas atitudes frente ao mundo e aos seus recursos; trata- Os cursos de formação inicial de professo- se de encontrar uma combinação harmonio- res para a educação comum têm se decla- sa entre conteúdos e práticas culturais, que rado a favor de uma educação para todos e marcam a vida dos alunos e dão sentido à de qualidade, introduzindo disciplinas nos sua aprendizagem. seus currículos que tratam da inclusão es- colar. Ora, a inclusão não cabe em uma ou A transversalidade dos estudos acadêmicos, duas disciplinas, nem mesmo em todas elas, por exemplo, é uma nova proposição que en- como mais uma novidade, um modismo, volve essa combinação entre os processos de que precisa ser aventado, para que esses ensino e de aprendizagem, afetando o modo cursos se atualizem. como as aulas são planejadas e ministradas. No ensino transversal, as disciplinas não se Esse equívoco sustou o impacto que o poder fragmentam e a aprendizagem deixa de ser inovador da inclusão teria sobre a formação
  • 17. dos professores. Os futuros professores des- professores de educação especial têm uma conhecem, no geral, o que a inclusão repre- formação pedagógica de base e se especia- senta para os sistemas que a adotam devi- lizam no atendimento educacional a alunos damente, suas implicações na concepção e com deficiências, transtornos globais de na execução dos serviços que a escola presta desenvolvimento e altas habilidades. As di- aos alunos, professores, pais e nos conheci- retrizes da Política são claras e conclusivas, mentos exigidos para sua concretização em quando preceituam que os seus professores sala de aula. não são mais especialistas em uma dada de- ficiência e não ensinam os conteúdos curri- Outro equívoco se evidencia na continuida- culares a esses alunos. Suas atribuições se de de cursos para formação de professores resumem em complementar a formação do em educação especial, com ênfase em uma aluno, analisar seus problemas. Estudando- única deficiência. Apesar do número redu- os e buscando atendê-los nas suas peculia- zido, esses cursos contribuem para que os ridades e necessidades, os professores de sistemas de ensino mantenham em sua educação especial apoiam os alunos a ul- organização serviços e profissionais, que trapassar barreiras que encontram dentro seccionam o atendimento desses alunos e das escolas para que tenham acesso e par- contribuem para que a exclusão marque o ticipação ativa, autônoma e independente 17 processo de escolarização como um todo. nas turmas do ensino regular. O que mais nos surpreende nesses cursos O ensino itinerante, as classes especiais, os é que proponham uma formação em edu- currículos e atividades adaptados, as avalia- cação especial, que perpetua propósitos e ções e demais tópicos do processo de escola- métodos excludentes, opostos ao que a in- rização constituem serviços e recursos que clusão designa. Se os professores e seus for- incorrem em discriminação desses alunos madores não perceberam as ambiguidades por excluí-los por diferenciação por uma de- e os enganos que precisam ultrapassar para ficiência ou outra categorização. São remi- que se dê um salto qualitativo na formação niscências do entendimento excludente da pedagógica e na reorientação dos sistemas educação especial, existindo paralelamente escolares, a educação especial e a comum ao atendimento educacional especializado – não poderaão se adiantar nem se aprimorar, AEE, um novo serviço da educação especial. como se espera. Essas reminiscências têm precedência no modo equivocado de se entender o direito à Pela Política Nacional de Educação Especial, educação inclusiva, como o direito à diferença, na Perspectiva da Educação Inclusiva, os na igualdade de direitos e na distinção entre
  • 18. “alunos diferentes” e diferenças de todos os distintos para seus alunos, a partir de uma alunos. Em muitas redes de ensino convi- identidade específica, como também esses vem dois momentos da educação especial espaços estão organizados pedagogicamen- que se contradizem: o anterior a 2008, mar- te para manter tal separação, definindo as cado pela exclusão total e parcial, e o atual, atribuições de seus professores, currículos, caracterizado por sua perspectiva educacio- programas, avaliações e promoções dos que nal inclusiva. fazem parte de cada um desses espaços. Quando se classificam os alunos por atri- A diferenciação entre os butos que os definem alunos e que demarcam os A oposição binária en- seus espaços edu- Ambientes escolares tre alunos ditos “nor- cacionais, decide-se inclusivos são quem fica e quem sai, mais” e “especiais” se repercute na caracteri- fundamentados em uma quem é incluído ou zação da formação ini- concepção de identidade excluído dos agrupa- cial e continuada dos e diferenças, em que as mentos escolares. 18 professores, na identifi- relações não se ordenam cação das escolas e pro- Ambientes escolares em torno de oposições fessores da educação inclusivos são funda- binárias (normal/ comum e especial. mentados em uma especial, branco/negro, concepção de identi- A Educação Especial ali- masculino/feminino, dade e diferenças, em mentou essa oposição pobre/rico). que as relações não ao defender que certos se ordenam em tor- alunos, negativamente no de oposições biná- valorados por desem- rias (normal/especial, penhos acadêmicos que não atendem às branco/negro, masculino/feminino, pobre/ exigências escolares, necessitavam de uma rico). Neles não se elege uma identidade educação substitutiva do ensino comum. como norma privilegiada em relação às de- mais. Os sistemas educacionais constituídos a par- tir dessa oposição excludente sentem-se aba- Em ambientes escolares excludentes, a iden- lados com a proposta inclusiva de educação, tidade normal é tida sempre como natural, pois não só criaram espaços educacionais generalizada e positiva em relação às de-
  • 19. mais, e sua definição provém do processo entende as diferenças como resultantes da pelo qual o poder se manifesta na escola, multiplicidade, e não da diversidade, como elegendo uma identidade específica através comumente se proclama. Trata-se de uma da qual as outras identidades são avaliadas educação que garante o direito à diferença e e hierarquizadas. não à diversidade, pois assegurar o direito à diversidade é continuar na mesma, ou seja, Esse poder que define a identidade normal, é seguir reafirmando o idêntico. detido por professores e gestores mais próxi- mos ou mais distantes das escolas, é abala- [...] a diferença (vem) do múltiplo e não do e perde a sua força diante dos princípios do diverso. Tal como ocorre na aritmé- educacionais inclusivos, defendidos pela tica, o múltiplo é sempre um processo, Política Nacional de Educação Especial, na uma operação, uma ação. A diversida- Perspectiva da Educação Inclusiva. No en- de é estática, é um estado, é estéril. A tendimento da Política, a identidade não multiplicidade é ativa, é fluxo, é produ- é entendida como natural, estável, perma- tiva. A multiplicidade é uma máquina de nente, acabada, homogênea, generalizada, produzir diferenças – diferenças que são universal. Na visão da inclusão escolar, as irredutíveis à identidade. A diversidade identidades são transitórias, instáveis, ina- limita-se ao existente. A multiplicidade 19 cabadas e, portanto, os alunos não são cate- estende e multiplica, prolifera, dissemi- gorizáveis, não podem ser reunidos e fixados na. A diversidade é um dado – da natu- em categorias, grupos, conjuntos, que se reza ou da cultura. A multiplicidade é definem por certas características arbitra- um movimento. A diversidade reafirma riamente escolhidas. o idêntico. A multiplicidade estimula a diferença que se recusa a se fundir com Portanto, é equivocado atribuir a certos alu- o idêntico (Silva, 2000, p.100-101). nos identidades que os mantêm nos grupos de excluídos, ou seja, nos grupos dos alunos A diferenciação entre as especiais, com necessidades educacionais es- peciais, portadores de deficiências, com pro- escolas blemas de aprendizagem e outros. Não cabe O questionamento constante dos processos fixar no outro uma identidade normal, que de diferenciação entre escolas e alunos, que não só justifica a exclusão dos demais, como decorre da oposição entre a identidade nor- igualmente determina alguns privilegiados. mal de alguns e especial de outros, é uma A perspectiva da Política atual questiona das garantias permanentes do direito à di- a artificialidade das identidades normais e ferença.
  • 20. A escola comum se desobrigou dos alunos indefinidamente esses alunos nos serviços e especiais por muito tempo e não se posicio- ambientes do ensino especial convencional nou, decisivamente, diante de seus procedi- e substitutivo. mentos de ensinar e de avaliar a capacidade Nesses dois casos de diferenciação, há equí- de aprender desses alunos, em suas diferen- vocos. Só se admite a diferenciação para ças, e de questionar essas diferenças. Limi- incluir. Em ambientes à parte dos demais e tou-se a aceitá-las, a tolerá-las desde que em em situações que restringem e limitam as ambientes educacionais segregados. possibilidades de desenvolvimento dos alu- Acomodada em sua zona de conforto, a edu- nos e das pessoas em geral, é um engano cação comum fez prosperar e multiplicar admitir-se a inclusão. Neles são excluídos as escolas e classes especiais e serviços que tanto os alunos normais, como os especiais. recolhem os alunos especiais, legando-lhes As orientações imprimidas pela Política Na- uma condição de escolaridade à margem do cional de Educação Especial, na Perspectiva processo comum a outros colegas da mes- da Educação Inclusiva, de 2008, esclarecem ma geração. as dúvidas relacionadas às diferenciações favorecidas pela existência dos serviços e A proliferação dos serviços da educação espe- equipamentos do ensino especial. 20 cial, na perspectiva de uma educação exclu- dente, tem peso quando se avaliam as razões O caráter complementar da Educação Espe- pelas quais a educação comum se exime de cial, trazido por essa Política, retraça os pro- assumir suas responsabilidades e de criar no- jetos que visam à transformação das escolas vas possibilidades de transformar o processo em busca da qualidade de seu ensino. Se an- educativo, de modo que se torne plenamen- tes as escolas comuns se organizavam para te inclusivo. A educação especial, em coro, a atender apenas aos alunos que aprendiam, acompanha em muitos sentidos, querendo se excluindo os que não conseguiam aprender, esquivar das diretrizes da nova Política. agora elas se veem premidas a acolher todos os alunos, nas suas diferenças. Há, então Há os que reagem a esse documento, afir- que ser revista e reinterpretada a sua orga- mando que os sistemas de ensino diferen- nização pedagógica, para que reconstruam ciam os alunos em normais e especiais, para suas propostas e avancem na qualidade e no incluir esses últimos nas escolas comuns, fu- atendimento à demanda de mais vagas para turamente, quando se equipararem aos co- todos os alunos nas suas turmas. Vivemos legas sem problemas de aprendizagem. Há atualmente uma situação nova, com a qual sistemas de ensino e escolas que se conside- a escola comum nunca se defrontou. ram inclusivos, por receberem e manterem
  • 21. Uma das soluções para levantar o nível de mente do processo escolar, segundo suas ca- desenvolvimento da educação escolar tem pacidades, e sem que nenhuma delas possa sido a de remediar a situação dos alunos ser motivo para uma diferenciação que os especiais. A remediação consistiu na criação excluirá das suas turmas. do reforço escolar, das classes de acelera- Como garantir o direito à diferença nas es- ção, das salas de recurso. colas que ainda enten- Esses programas preci- dem que as diferenças sam ser questionados Como garantir o direito estão apenas em al- e serão suprimidos se a à diferença nas escolas guns alunos, naqueles situação de remediação que são negativamente que ainda entendem for revertida, ou me- compreendidos e diag- que as diferenças estão lhor, quando as escolas nosticados como “pro- se propuserem a desen- apenas em alguns blemas”, “doentes”, volver um ensino em alunos, naqueles que “indesejáveis”, sendo que as diferenças dos são negativamente que para a maioria des- alunos sejam acolhidas. compreendidos e ses alunos tais condi- Esse acolhimento impli- ções são consideradas 21 diagnosticados como ca que todos os alunos “sem volta”? “problemas”, “doentes”, construam o conheci- mento escolar segun- “indesejáveis”, sendo Os alvos desse questio- do suas capacidades, que para a maioria namento devem recair expressem suas ideias desses alunos tais diretamente sobre as práticas de ensino que livremente, participem condições são ativamente das tarefas as escolas comuns e consideradas “sem de ensino e se portem especiais adotam e que volta”? servem para excluir. como cidadãos, nas suas diferenças. Os encaminhamentos Nas escolas inclusivas, os alunos não são dos alunos às classes e escolas especiais, os identificados como especiais, normais, co- currículos adaptados, o ensino diferenciado, muns. Todos se igualam pelas suas diferen- a terminalidade específica e outras soluções ças! A inclusão escolar impõe uma escola excludentes precisam ser indagados em suas em que todos os alunos estão inseridos sem razões de adoção, interrogados em seus be- quaisquer condições pelas quais possam ser nefícios, discutidos em seus fins e eliminados limitados em seu direito de participar ativa- por completo e com urgência. São essas me-
  • 22. didas excludentes que criam a necessidade cialistas, pais e alunos e outros profissio- de existirem escolas para atender aos alunos, nais que compõem uma rede educacional que se igualam por uma falsa normalidade em torno de uma proposta que é comum a – as escolas comuns – e que instituem as es- todas as escolas e que, ao mesmo tempo, é colas para os alunos que não cabem nesse construída por cada uma delas, segundo as grupo – as escolas especiais. Ambas são es- suas peculiaridades. colas dos diferentes, que não se alinham aos O Projeto Político Pedagógico é o instrumen- propósitos de uma escola para todos. to por excelência para melhor desenvolver o Quando entendemos esses processos de di- plano de trabalho eleito e definido por um ferenciação pela deficiência ou por outras coletivo escolar. Ele reflete a singularidade características que elegemos para excluir, do grupo que o produziu, suas escolhas e es- percebemos os equívocos, as discrepâncias pecificidades. Cada escola é única e, como que nos faziam defender as escolas dos di- os seus alunos, deve ser reconhecida e valo- ferentes como solução privilegiada para rizada nas suas diferenças. atender às necessidades dos alunos. Com- Seguindo as pistas da inclusão não corre- preendemos, então, o sentido includente remos riscos de nos perdermos em atalhos das escolas das diferenças. Essas escolas 22 que nos desviam da construção de uma es- reúnem, em seus espaços educacionais, os cola das diferenças. A Política de Educação alunos tais quais eles são: únicos, singula- Especial é uma delas, neste momento. Che- res, mutantes, compreendendo-os como garemos mais além. Vamos em frente! pessoas que diferem umas das outras, que não conseguimos conter em conjuntos defi- nidos por um único atributo, que elegemos Referências bibliográficas: para diferenciá-las. Nas pistas da inclusão BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Um ensino para todos os alunos se distin- Educação Especial na Perspectiva da Educa- gue pela sua qualidade. O desafio de fazê-lo ção Inclusiva. Inclusão: Revista da educação acontecer nas salas de aulas é uma tarefa especial, v. 4, n. 1, jan./jun. 2008. Brasília: a ser assumida por todos os que compõem MEC/SEESP, 2008. um sistema educacional. SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferen- A qualidade do ensino provém de iniciativas ça: a perspectiva dos Estudos Culturais. 4. ed. que envolvem professores, gestores, espe- Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
  • 23. Texto 2 Atendimento educacional especializado Salas de Recursos Multifuncionais: espaço para o atendimento educacional especializado nas redes públicas de ensino Rosângela Machadoi1 As salas de recursos multifuncionais são es- ambiente e ao conhecimento escolares, por paços localizados nas escolas públicas de meio do AEE. educação básica onde se realiza o Atendi- mento Educacional Especializado – AEE. Elas As salas de recursos multifuncionais permi- são constituídas de mobiliários, jogos peda- tem que o AEE, feito no turno oposto ao da gógicos, recursos de acessibilidade e equipa- sala de aula comum, seja realizado na pró- mentos específicos. pria escola em que o aluno frequenta. Se na escola do aluno não existir uma sala, o AEE A Política Nacional de Educação Especial na poderá ser realizado em outra escola próxi- 23 Perspectiva da Educação Inclusiva, lançada ma à sua. em 2008 pelo Ministério da Educação, define o AEE como um serviço da educação especial Os alunos atendidos na sala de recursos mul- que “[...] identifica, elabora e organiza recur- tifuncionais são os considerados público-al- sos pedagógicos e de acessibilidade, que eli- vo da educação especial: minem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades • alunos com deficiência: aqueles que específicas” (MEC, 2008). têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou A Política sinaliza que a educação especial é sensorial, os quais, em interação com uma modalidade que perpassa todas as eta- diversas barreiras, podem obstruir sua pas, as demais modalidades e os níveis de en- participação plena e efetiva na socieda- sino, sem substituí-los, ofertando serviços, de em igualdade de condições com as recursos e estratégias de acessibilidade ao demais pessoas (ONU, Art. 01, 2006); 1 Doutoranda em educação pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Coordenadora de Educação Especial da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis no período de 2001 a 2008. Coordenadora-Geral de Política Pedagógica de Educação Especial da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação no período de 2008 a 2009. Professora da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis.
  • 24. • alunos com transtornos globais do e formação específica na educação especial, desenvolvimento: aqueles que apre- inicial ou continuada, para atuar com cada sentam um quadro de alterações no tipo de deficiência. desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações so- A educação especial na perspectiva da edu- ciais, na comunicação, ou estereo- cação inclusiva implica uma transformação tipias motoras. na formação de pro- Incluem-se nessa fessores, que neces- No cotidiano das definição alunos sita se adequar aos salas de recursos novos conhecimen- com autismo clás- sico, síndrome de multifuncionais, o tos que são próprios Asperger, síndro- professor identifica as do AEE. me de Rett, trans- necessidades específicas A formação de pro- torno desintegra- e as habilidades do tivo da infância fessores requer o aluno com deficiência, (psicose infantil) estudo da Tecnolo- faz um levantamento gia Assistiva e suas e transtornos in- vasivos sem outra de materiais e categorias: Comuni- 24 especificação. equipamentos existentes cação aumentativa e elabora o Plano de AEE e alternativa, infor- • alunos com al- mática acessível, re- para cada aluno. tas habilidades/ cursos pedagógicos superdotação: acessíveis, Sistema são aqueles que Braille, técnica do sorobã, produção de demonstram potencial elevado em materiais ampliados e em alto relevo, Lín- qualquer uma das seguintes áreas, iso- gua Brasileira de Sinais, Língua Portugue- ladas ou combinadas: intelectual, aca- sa na modalidade escrita para alunos com dêmica, liderança, psicomotricidade e surdez, entre outras categorias ligadas ao artes, além de apresentar grande cria- AEE. Essa formação deve estabelecer uma tividade, envolvimento na aprendiza- interlocução dos conhecimentos especiali- gem e realização de tarefas em áreas zados com as situações reais do cotidiano de seu interesse (MEC, 2008). escolar, em que o professor possa discutir o AEE com base nos recursos de acessibili- O professor que atua na sala de recursos dade e possa, em seguida, ter o aluno para multifuncionais deve ter formação inicial atender. que o habilite para o exercício da docência
  • 25. No cotidiano das salas de recursos multi- quanto ao uso de recursos, materiais funcionais, o professor identifica as necessi- e equipamentos utilizados pelo aluno. dades específicas e as habilidades do aluno • Articulação com a sala de aula comum com deficiência, faz um levantamento de e articulação com a área clínica: con- materiais e equipamentos existentes e ela- siste na troca de informações entre bora o Plano de AEE para cada aluno. professores da sala de aula, professor O Plano de AEE resulta na organização do da sala de recursos multifuncionais e professor quanto às atividades de: profissionais da área clínica. • Atendimento ao aluno: consiste na • Avaliação do Plano: na execução do estruturação e execução das ativida- plano de AEE, o professor deverá ava- des desenvolvidas e na definição da liar sistematicamente o seu Plano, frequência e duração do atendimento revisando-o e atualizando-o, quando para cada aluno. necessário. • Produção de materiais: transcrição, É importante destacar que as atividades de- confecção, ampliação, gravação, en- senvolvidas pelo professor da sala de recur- sos multifuncionais não podem ser confun- 25 tre outros materiais, de acordo com as necessidades dos alunos. didas com as atividades dos profissionais do atendimento clínico. • Aquisição de materiais: consiste na indicação para a aquisição de: softwa- Para consolidar as orientações da Política res, recursos e equipamentos tecno- Nacional de Educação Especial na Perspec- lógicos, mobiliário, recursos ópticos, tiva da Educação Inclusiva e garantir o AEE dicionários e outros. nas redes públicas de ensino, foram lança- dos o Decreto n. 6.571/2008 e a Resolução • Acompanhamento do uso dos re- CNE/CBE N. 04/2009. cursos pelo aluno: refere-se às ações para verificação da funcionalidade e O Decreto n. 6.571/08, que dispõe sobre o da aplicabilidade do recurso: impacto, atendimento educacional especializado, efeitos, distorções, pertinência, negli- consolida diretrizes e ações já existentes, gência, limites e possibilidades do uso voltadas à educação especial na perspectiva na sala de aula, na escola e em casa. da educação inclusiva. Ele regulamenta o pa- rágrafo único do art. 60 da Lei n. 9.394/1996, • Orientação às famílias e aos professo- destinando recursos do Fundo Nacional de res: consiste nas ações de orientação
  • 26. Desenvolvimento da Educação Básica - FUN- cas de educação especial surge por meio das DEB ao atendimento educacional especiali- salas de recursos multifuncionais como um zado de alunos com deficiência, transtornos espaço escolar do AEE. globais do desenvolvimento e altas habilida- des/superdotação matriculados na rede pú- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS blica de ensino regular. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria Desta forma, serão de Educação Especial. contabilizados dupla- Política Nacional de mente no âmbito do A Política Nacional de Educação Especial na FUNDEB, conforme Educação Especial na Pers­­ pectiva da Educação registro no Censo Perspectiva da Educação Inclusiva. Inclusão: revis- escolar/MEC/INEP do Inclusiva, o Decreto n. ta da educação especial, ano anterior, os alu- 6.571/2008 e a Resolução v. 4, n. 1, jan./jun. 2008. nos matriculados em Brasília: MEC / SEESP, CNE/CBE n. 04/2009 são classes comuns de 2008. ensino regular públi- documentos oficiais co que tiverem ma- que garantem o direito BRASIL. Ministério da 26 trícula concomitante à educação de todos Educação. Secretaria de no AEE. os alunos e marcam Educação Especial. De- um novo tempo para a creto n. 6.571, de 17 de A Resolução CNE/CBE setembro de 2008. Bra- educação especial. n. 04 de 02 de outu- sília: MEC/SEESP, 2008. bro de 2009 institui as diretrizes opera- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. cionais para o Atendimento Educacional Es- Convenção sobre os Direitos das Pessoas pecializado na Educação Básica. com Deficiência, 2006. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o Decre- BIBLIOGRAFIA to n. 6.571/2008 e a Resolução CNE/CBE n. 04/2009 são documentos oficiais que garan- BATISTA, Cristina A. M. & MANTOAN, Maria tem o direito à educação de todos os alunos Teresa E. Educação Inclusiva: atendimento e marcam um novo tempo para a educação educacional especializado para a deficiência especial. Uma nova organização das práti- mental. Brasília: MEC/SEESP, 2005.
  • 27. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho GUATEMALA. Assembleia Geral, 29º perío- Nacional de Educação. Câmara de Educação do ordinário de sessões, tema 34 da agen- Básica. Resolução n. 04 de 02 de outubro de da. Convenção interamericana para a elimi- 2009. nação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência, BRASIL. Ministério da Educação. Secreta- 1999. ria de Educação Especial. Portal de ajudas técnicas para a educação: equipamento e MACHADO, Rosângela. Educação especial na material pedagógico para a educação, capa- escola inclusiva: políticas, paradigmas e prá- citação e recreação para a pessoa com defi- ticas. São Paulo: Cortez, 2009. ciência física – recursos pedagógicos adap- tados. Brasília: MEC/SEESP, 2006. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. O direito BRASIL. Ministério da Educação. Secreta- de ser, sendo diferente, na escola. In: Revista ria de Educação Especial. Portal de ajudas de Estudos Jurídicos, Brasília, n. 26, jul./set. técnicas para a educação: equipamento e 2004. material pedagógico para a educação, capa- ______. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? citação e recreação para a pessoa com defi- Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. 27 ciência física – recursos para a comunicação alternativa. Brasília: MEC/SEESP, 2006. MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contex- BRASIL. Constituição da República Federativa tos sociais. Trad. Windyz B. Ferreira. Porto do Brasil: promulgada em 5 de outubro de Alegre: Artmed, 2003. 1988 / obra coletiva de autoria de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferen- Santos Windt e Lívia Céspedes. 37. ed. atual. ça: a perspectiva dos Estudos Culturais. 4. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2005. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. FÁVERO, Eugênia A. G. Direito das pessoas STAINBACK, Susan & STAINBACK, William. com deficiência: garantia de igualdade na Inclusão: um guia para educadores. Porto diversidade. Rio de Janeiro: WVA, 2004. Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
  • 28. Texto 3 Práticas educacionais no contexto das diferenças Escola atenta às diferenças: gestão de redes e dos processos de ensino Maria Terezinha C. Teixeira dos Santos1 Uma escola atenta às diferenças caracteriza- do papel da escola na superação da lógi- se como o espaço verdadeiramente demo- ca da exclusão. crático e de cidadania que tem o compro- misso de efetivar o direito à educação para A partir dos referenciais para a constru- todos os alunos. ção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes espe- [...] A educação inclusiva constitui um ciais passa a ser repensada, implicando paradigma educacional fundamentado uma mudança estrutural e cultural da na concepção de direitos humanos, que escola para que todos os alunos tenham 28 conjuga igualdade e diferença como va- suas especificidades atendidas (BRASIL, lores indissociáveis, e que avança em re- 2008, p. 1.). lação à ideia de equidade formal ao con- textualizar as circunstâncias históricas Uma rede de ensino - ou uma escola com da produção da exclusão dentro e fora atenção às diferenças - não é, portanto, uma dela. mera exigência legal, um modismo ou uma vontade isolada. É uma transformação ne- Ao reconhecer que as dificuldades en- cessária em face às demandas do mundo frentadas nos sistemas de ensino evi- atual, uma responsabilidade inerente à ci- denciam a necessidade de confrontar as dadania, e uma preocupação obrigatória de práticas discriminatórias e criar alter- TODOS os sistemas de ensino, quer no âmbi- nativas para superá-las, a educação in- to da escola regular que precisa se organizar clusiva assume espaço central no debate para atender às diferenças, quer na devida acerca da sociedade contemporânea e compreensão da educação especial como 1 Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Consultora da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação. Professora de Mestrado em Educação da Universidade do Vale do Rio Verde de Três Corações.
  • 29. complementar à escola regular e oferecida dificuldades de aprendizado. Assim sen- sempre no contraturno e responsável pela do, ela deve ser encarada como um com- oferta de Atendimento Educacional Especia- promisso inadiável das escolas, que terá lizado. a inclusão como consequência (BRASIL, 2003, p.30). Quando uma rede de ensino se propõe a construir escolas in- Em nível de gestão, clusivas que se preo- quando se entende que cupam com todos os A autonomia e a gestão as diferenças existem e alunos, as inovações democrática fazem parte começa-se a trabalhar são óbvias nos pro- com elas como uma da própria natureza cessos de organização referência positiva, e político e pedagógica do de ensino e aprendi- não como obstáculo, zagem que passam a Projeto escolar inclusivo, o princípio democrá- considerar: o ritmo de desenvolvendo uma tico se efetiva, pois a aprendizagem, a flexi- formação cidadã efetiva instituição escolar se bilização dos tempos no cotidiano e não como especializa em todos e dos espaços escola- os alunos e não apenas 29 uma abstração de um res, a implementação em alguns deles. futuro que virá. de recursos de aces- sibilidade, o enrique- O projeto da escola in- cimento curricular, a clusiva está inserido no operacionalização da oferta do AEE, o uso de contexto das diferenças. Cada escola é única metodologias ativas e interativas e o caráter e inédita e desenvolve um processo repleto processual da avaliação. de desafios e alternativas. Nada está pronto e as instituições são possibilidades a serem Ao se construírem à luz deste novo paradig- construídas. ma, as redes atentas às diferenças efetivam mudanças e transformações e, neste senti- A autonomia e a gestão democrática fazem do, pode-se afirmar com convicção que uma parte da própria natureza político e peda- escola inclusiva é uma escola de qualidade. gógica do Projeto escolar inclusivo, desen- volvendo uma formação cidadã efetiva no A transformação da escola não é, por- cotidiano e não como uma abstração de um tanto, uma mera exigência da inclusão futuro que virá. escolar de pessoas com deficiência e/ou
  • 30. Esta clareza é fundamental para o gestor e não são. Como é possível escolher al- contribui para passar a limpo algumas con- gumas das escolas, como referência? tradições existentes na realidade das escolas É possível ter cidadania em uma e não hoje, como por exemplo: em outra? É para valer, ou não? Não é demais lembrar que o setor público • Como se pode justificar uma escola tem a responsabilida- para todos, de- de pelo salto de qua- mocrática e ci- lidade na educação dadã, que não O município, chão tão proclamado e tão admita a inclu- concreto onde a almejado na socieda- são? educação acontece, tem de do conhecimento Não existe nenhum atribuições estabelecidas em que se vive. Os da- Projeto Político Peda- pela Constituição dos consolidados pela Pesquisa Nacional por gógico que tenha co- Brasileira de 1988 à ragem de dizer que é Amostra de Domicílios luz dos parâmetros contra a construção – PNAD, realizada pelo das políticas nacionais Instituto Brasileiro de 30 de cidadania. É só con- ferir os objetivos exis- e estaduais e tem Geografia e Estatísti- tentes nos respectivos autonomia para analisar ca – IBGE, em 2008, Projetos e em todos sua realidade local e evidenciaram que de cada 10 estudantes eles aparece a afirma- decidir os atendimentos ção democrática de brasileiros, oito estão necessários à sua que a escola é aberta matriculados em es- população. colas públicas! Isto dá para todos. E aí como fica? É possível cons- uma dimensão mui- truir cidadania quan- to profunda do grau do existem cidadãos que discriminam uns de responsabilidade da gestão de sistemas e outros? Qual a consistência destas propos- e das políticas públicas a serem adotadas. tas? É na escola pública que se desenha 80% do país que se quer ter!!! • Outra contradição bastante comum nos sistemas de ensino é decretar que Portanto, quando o gestor de uma rede de uma ou algumas das escolas da res- ensino tem compromisso com a inclusão pectiva rede são inclusivas, e as outras e tem plena convicção de que só assim ele
  • 31. pode estar efetivamente oferecendo uma situação desejada. Por exemplo, no contex- escola de qualidade para toda sua comuni- to do paradigma da inclusão: dade, as metas de trabalho são definidas e ALGUMAS PRIORIDADES PRECISAM SER OPE- Quanto ao Acesso e à Permanência dos alu- RACIONALIZADAS em todos os processos. nos: o município dispõe de mapeamento de sua população escolar? Tem informações O município, chão concreto onde a educa- sobre os alunos que devem ser público-alvo ção acontece, tem atribuições estabeleci- da educação especial e dos serviços ofere- das pela Constituição Brasileira de 1988 à cidos que garantem a acessibilidade destes luz dos parâmetros das políticas nacionais alunos ao ambiente e ao conhecimento es- e estaduais e tem autonomia para analisar colares? sua realidade local e decidir os atendimen- tos necessários à sua população. Quanto à Infraestrutura: quais são as con- dições físicas dos espaços escolares e a No nível do Planejamento, elaborar um Pla- acessibilidade existente? Nos espaços fora no Municipal não deve ser um mero exercí- da escola (calçadas, ônibus, outros) existe cio burocrático. É preciso fazer valer a capa- acessibilidade? Quais recursos de tecnolo- cidade de analisar, diagnosticar, organizar e gia e de comunicação são oportunizados? 31 decidir a educação que se deseja. O transporte escolar é acessível? Os alunos têm acesso aos materiais escolares e livros? É necessário deixar claro aqui que o Plano A merenda escolar é de boa qualidade, ga- Municipal de Educação é um documento da rante uma alimentação saudável? maior importância para estar operaciona- lizando políticas públicas inclusivas para o Quanto ao Pedagógico: a aprendizagem é município. o eixo central das escolas? O Projeto Políti- co Pedagógico é elaborado e vivenciado em Não se trata de restringir a preocupação ao gestão democrática? O trabalho com as di- domínio das escolas municipais, mas sim ferenças é contemplado em cada uma das articular o acesso, a permanência e a equa- escolas? Existe preocupação em flexibilizar lização de oportunidades para todos os ci- tempos e espaços? O Atendimento Educa- dadãos. cional Especializado está sistematizado e atende aos alunos que dele necessitam? Alguns indicadores concretos permitem identificar como se encontra um determi- Quanto aos professores e especialistas: nado fenômeno, quando comparado com a existe formação continuada na rede de ensi-
  • 32. no? Esta formação é realizada com metodo- cola é o domínio exclusivo responsável pela logias ativas e interativas para a construção educação. do conhecimento? Os horários de estudo e de reuniões estão garantidos? Existe preo- A preocupação que deve estar no ar de uma cupação com Plano de Carreira e valoriza- cidade cidadã em todos os momentos e ção dos profissionais? em todos os setores é a de qual educação está se construindo, qual inclusão está se Quanto à gestão democrática: existem me- garantindo, ao se definir cada um dos servi- canismos de participação nos planejamen- ços prestados à comunidade. Por exemplo: tos, nos processos de execução e de avalia- quando se estabelece o transporte dos cida- ção das propostas da rede de ensino? Estão dãos, as prioridades na agricultura, as polí- garantidos mecanismos de comunicação e ticas de saúde e assim por diante, qual é o de transparência de informações para que grau de educação que está inserido em cada a gestão democrática se efetive? Existem ór- uma destas propostas? gãos colegiados que funcionam de verdade? Este compromisso precisa estar explicitado Quanto à dimensão social e cultural: exis- com MARCAS CLARAS DE ATENÇÃO ÀS DIFE- te articulação entre todos os setores da co- RENÇAS em toda cidade, em todos os servi- 32 munidade, parcerias para o desenvolvimen- ços públicos. to da Educação como tarefa de cidadania? Existem práticas culturais valorizadas e de- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS senvolvidas em toda comunidade? BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria A gestão de políticas públicas inclusivas de Educação Especial. Política Nacional de deve contar com a efetiva participação Educação Especial na Perspectiva da Educa- de todos os segmentos da sociedade, pois ção Inclusiva. Inclusão: Revista da educação uma efetiva transformação nas escolas só especial, v. 4, n. 1, jan./jun. 2008. Brasília: vai acontecer na hora em que a Educação MEC/SEESP, 2008. for entendida como a proposta de vida do município, abraçada pelo Prefeito, demais secretarias e outros poderes institucionais. BRASIL. Ministério Público Federal. Procu- radoria Federal dos Direitos do Cidadão. O Quando se dimensiona a construção de ci- acesso de pessoas com deficiência às classes dadania efetiva, não se pode contentar com e escolas comuns da rede regular de ensino. uma perspectiva fragmentada de que a es- Brasília, 2003.
  • 33. BIBLIOGRAFIA nomia da escola: princípios e propostas. São Paulo: Cortez, 1997, p.117- 124. ARROYO, M. Trabalho-educação e teoria pe- dagógica. In: FRIGOTTO, G. (org.) Educação MANTOAN, M.T.E. (org.). Pensando e fazen- e crise do trabalho: perspectivas de final de do educação de qualidade. São Paulo: Editora século. Petrópolis: Vozes, 1998. Moderna, 2001. AZANHA, J. M. P. Autonomia da escola: um _______. Inclusão Escolar: o que é? Por quê? reexame. Série Ideias, n.16, São Paulo: FDE, Como fazer? São Paulo: Editora Moderna, 1993. 2003. BOFF, Leonardo. Ecologia, Mundialização e _______. (org.) O desafio das diferenças nas es- Espiritualidade. São Paulo: Ed. Ática, 2001. colas. Petrópolis: Editora Vozes, 2008. BRASIL. Constituição da República Federati- PINHEIRO, M. E. O Projeto Político Pedagó- va do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 1998. gico e a formalização da gestão democráti- ca. In: Secretaria de Estado da Educação BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de de Minas Gerais, Coleção Veredas. Guia de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Edu- 33 Estudo – Módulo 4, v. 3. Belo Horizonte, cação Nacional. Diário Oficial da União. Bra- 2003. sília, nº 248, 23/12/1996. BRASIL. Decreto nº 6.571 de 18 de setembro SANTOS, M.T.T. Bem vindo à escola: a inclusão de 2008. Dispõe sobre o Atendimento Educa- nas vozes do cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A, cional Especializado. Brasília, 2008. 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho VEIGA, I. P. (org.) Projeto Político-Pedagógico Nacional de Educação. Resolução n. 04 de 02 da escola: uma construção possível. Campi- de outubro de 2009. Brasília, 2009. nas: Papirus, 1995. GADOTTI, M. Uma escola, muitas culturas. _______. (org.) Escola: espaço do Projeto Políti- In: GADOTTI, M. & ROMÃO. J. E. (org.) Auto- co-Pedagógico. Campinas: Papirus, 1998.
  • 34. Presidência da República Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância Direção de Produção de Conteúdos e Formação em Educação a Distância TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Coordenação-geral da TV Escola Érico da Silveira Coordenação Pedagógica Maria Carolina Machado Mello de Sousa Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento Pedagógico Grazielle Avellar Bragança 34 Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej Fernanda Braga Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultora especialmente convidada Rita Vieira de Figueiredo E-mail: salto@mec.gov.br Home page: www.tvbrasil.org.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro. CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ) Abril 2010