Texto retirado do livro Que cara tem o Brasil” As maneiras de pensar e sentir o nosso país. Monica Velloso, Ano: 2000, aborda a pluralidade cultural a partir de 1900 até 1930, o texto da um enfoque principal a Semana da Arte Moderna em 1922, onde os pensadores modernistas antropofágicos não estava recusando a influência das idéias européias aqui no Brasil,Não fechava as portas ao que vinha de fora. Mostrava apenas a impossibilidade de receber essas influências sem criticá-las. Era preciso adequar as idéias ao nosso contexto e às nossas vivências. Esse era o grande recado para o qual se chamava a atenção. Absorver influências externas sim, mas de maneira seletiva. O abaporu foi claramente inspirado em nossa mistura étnica e cultural. Antes do modernismo, era problemático reconhecer a imagem de um Brasil negro e índio. A maior parte de nossos intelectuais preferia negar o fato ou, então, narrar a realidade de uma maneira ufanista e idealizada. Mas, na década de 1920, esses valores estavam apenas começando a se impor. Os modernistas faziam questão de valorizar nossas tradições culturais.
1. ESCOLA ESTADUAL FERNANDO MELO VIANA
Pluralidade Cultural
Abaporu: o homem que come...
Disciplina: Temas Transversais – 4º bimestre
As artes plásticas
também sinalizavam
essa mudança de
valores. O quadro de
Tarsila do Amaral, O
abaporu, causou
grande impacto na
época. O nome
"abaporu" é indígena
e significa: aba
(homem) e peru
(come). juntando os
dois significados,
temos "o homem que
come".
O quadro causou
forte impressão na
época.
Suas
perspectivas
eram
inovadoras.
Tarsila
rompia com a chamada arte figurativa e com a descrição da
natureza. Como se pode ver, ela construiu uma imagem bem
original.
Em primeiro plano, o pé enorme. A mão também. O rosto lá em
cima, bem pequeno. O braço sustentando o rosto sugeria um
gesto de meditação. O que chama a atenção é a desproporção
com que foi pintado o corpo - um recurso proposital. Tarsila
queria destacar os traços que considerava mais significativos. Os
pés lembravam o chão, as raízes. Já vimos o quanto era
importante para os modernistas a idéia das raízes culturais
brasileiras. O que significava pôr-se em contato direto com a terra,
sorver suas influências como seiva.
Ao lado do abaporu, Tarsila pintou um sol ardente. Queria passar
a impressão de clima tropical e de calor. A figura é morena,
cabocla, mas é também algo que escapole a classificações. Não
usa nenhuma roupa. Parece plenamente integrada à paisagem.
Para alguns modernistas, a imagem do abaporu passou a significar
a imagem do homem brasileiro. A cara do homem brasileiro. Caía
a máscara do pierrô francês para aparecer o abaporu: o homem
que come. Mas por que essa ideia do homem que come?
A imagem simbolizava a capacidade do brasileiro de absorver as
mais variadas culturas. O quadro de Tarsila do Amaral era a
expressão de uma corrente do pensamento modernista: a
antropofágica. Liderado por Oswald de Andrade, o grupo
antropofágico oferecia uma interpretação específica do Brasil.
Por que a antropofagia? Vejamos a explicação dada por Oswald:
os índios, nossos ancestrais, tinham por hábito comer seus
semelhantes para reter suas qualidades. A idéia era mostrar que o
abaporu era um "comedor de culturas". Só que agora, na década
de 1920, ele não comia mais indistintamente. Sabia escolher o que
lhe interessava. Era urna crítica à absorção desenfreada de
modelos culturais europeus.
No Manifesto antropofágico, publicado em maio de 1928, Oswald
desafiava:
Professor: Mailon Maciel
Data: ____/____/2013
Tupi or not tupi, that is the questiono
Reparem a sonoridade e também a solenidade contida nessa
frase.
Ela é urna paráfrase da fala de um personagem de Shakespeare:
"To be or not to bel" Ao retornar a frase, Oswald comete
propositalmente um ato antropofágico. Ele vai até a obra de
Shakespeare, seleciona a frase, mas não a transcreve tal como ela
está lá. Ele a recria de acordo com nosso contexto histórico. E
nossa questão é: ser ou não ser tupi!
Em outras palavras: não há como negar nossas raízes ancestrais!
Com isso, o grupo antropofágico não estava simplesmente
recusando a influência das idéias européias aqui no Brasil. Não
fechava as portas ao que vinha de fora. Mostrava apenas a
impossibilidade de receber essas influências sem criticá-las. Era
preciso adequar as idéias ao nosso contexto e às nossas vivências.
Esse era o grande recado para o qual se chamava a atenção.
Absorver influências externas sim, mas de maneira seletiva.
O próprio movimento modernista paulista se inspirou nos
movimentos da vanguarda européia, como o expressionismo, o
futurismo, o dadaísmo, o cubismo e o surrealismo. Mas procurou
absorver essas influências de forma crítica, vendo o que elas
tinham em comum com nossa realidade histórica.
Por isso a imagem do abaporu, o homem que come, ou seja, que
rumina e absorve. Mas só absorve as coisas que interessam, que
podem ajudar a construir a nacionalidade. O abaporu foi
claramente inspirado em nossa mistura étnica e cultural. Antes do
modernismo, era problemático reconhecer a imagem de um Brasil
negro e índio. A maior parte de nossos intelectuais preferia negar
o fato ou, então, narrar a realidade de uma maneira ufanista e
idealizada, como já vimos.
Antes de as frotas portuguesas chegarem aqui, essas terras
tinham o nome de Pindorama. Nela habitavam aproximadamente
5 milhões de índios. Existia vida, existia toda uma cultura que foi e
continua sendo dizimada.
Desde o momento em que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil,
o índio deixou de ser o dono destas terras. Sua cultura foi
considerada primitiva e inferior. Com o negro aconteceu a mesma
coisa. Foi feito escravo e, durante o período colonial e o Império,
trabalhou nas plantações de cana-de-açúcar, na extração do ouro
e também nas lavouras cafeeiras.
Para justificar tal feito, criou-se uma ideologia segundo a qual o
"negro não tinha alma". Transformando o negro em uma espécie
de "animal doméstico", podia-se escravizá-lo. Sua cultura foi
perseguida como selvageria, ignorância, expressão de um mundo
não-civilizado. No entanto, hoje reconhecemos a influência
decisiva da cultura afro-brasileira em nossa história. Mas, na
década de 1920, esses valores estavam apenas começando a se
impor. Os modernistas faziam questão de valorizar nossas
tradições culturais.
Livro: “Que cara tem o Brasil” As maneiras de pensar e sentir o
nosso país. Monica Velloso Ano: 2000
2. ESCOLA ESTADUAL FERNANDO MELO VIANA
Pluralidade Cultural
Abaporu: o homem que come...
Disciplina: Temas Transversais – 4º bimestre
As artes plásticas
também sinalizavam
essa mudança de
valores. O quadro de
Tarsila do Amaral, O
abaporu, causou
grande impacto na
época. O nome
"abaporu" é indígena
e significa: aba
(homem) e peru
(come). juntando os
dois significados,
temos "o homem que
come".
O quadro causou
forte impressão na
época.
Suas
perspectivas
eram
inovadoras.
Tarsila
rompia com a chamada arte figurativa e com a descrição da
natureza. Como se pode ver, ela construiu uma imagem bem
original.
Em primeiro plano, o pé enorme. A mão também. O rosto lá em
cima, bem pequeno. O braço sustentando o rosto sugeria um
gesto de meditação. O que chama a atenção é a desproporção
com que foi pintado o corpo - um recurso proposital. Tarsila
queria destacar os traços que considerava mais significativos. Os
pés lembravam o chão, as raízes. Já vimos o quanto era
importante para os modernistas a idéia das raízes culturais
brasileiras. O que significava pôr-se em contato direto com a terra,
sorver suas influências como seiva.
Ao lado do abaporu, Tarsila pintou um sol ardente. Queria passar
a impressão de clima tropical e de calor. A figura é morena,
cabocla, mas é também algo que escapole a classificações. Não
usa nenhuma roupa. Parece plenamente integrada à paisagem.
Para alguns modernistas, a imagem do abaporu passou a significar
a imagem do homem brasileiro. A cara do homem brasileiro. Caía
a máscara do pierrô francês para aparecer o abaporu: o homem
que come. Mas por que essa idéia do homem que come?
A imagem simbolizava a capacidade do brasileiro de absorver as
mais variadas culturas. O quadro de Tarsila do Amaral era a
expressão de uma corrente do pensamento modernista: a
antropofágica. Liderado por Oswald de Andrade, o grupo
antropofágico oferecia uma interpretação específica do Brasil.
Por que a antropofagia? Vejamos a explicação dada por Oswald:
os índios, nossos ancestrais, tinham por hábito comer seus
semelhantes para reter suas qualidades. A idéia era mostrar que o
abaporu era um "comedor de culturas". Só que agora, na década
de 1920, ele não comia mais indistintamente. Sabia escolher o que
lhe interessava. Era urna crítica à absorção desenfreada de
modelos culturais europeus.
No Manifesto antropofágico, publicado em maio de 1928, Oswald
desafiava:
Professor: Mailon Maciel
Data: ____/____/2013
Tupi or not tupi, that is the questiono
Reparem a sonoridade e também a solenidade contida nessa
frase.
Ela é urna paráfrase da fala de um personagem de Shakespeare:
"To be or not to bel" Ao retornar a frase, Oswald comete
propositalmente um ato antropofágico. Ele vai até a obra de
Shakespeare, seleciona a frase, mas não a transcreve tal como ela
está lá. Ele a recria de acordo com nosso contexto histórico. E
nossa questão é: ser ou não ser tupi!
Em outras palavras: não há como negar nossas raízes ancestrais!
Com isso, o grupo antropofágico não estava simplesmente
recusando a influência das idéias européias aqui no Brasil. Não
fechava as portas ao que vinha de fora. Mostrava apenas a
impossibilidade de receber essas influências sem criticá-las. Era
preciso adequar as idéias ao nosso contexto e às nossas vivências.
Esse era o grande recado para o qual se chamava a atenção.
Absorver influências externas sim, mas de maneira seletiva.
O próprio movimento modernista paulista se inspirou nos
movimentos da vanguarda européia, como o expressionismo, o
futurismo, o dadaísmo, o cubismo e o surrealismo. Mas procurou
absorver essas influências de forma crítica, vendo o que elas
tinham em comum com nossa realidade histórica.
Por isso a imagem do abaporu, o homem que come, ou seja, que
rumina e absorve. Mas só absorve as coisas que interessam, que
podem ajudar a construir a nacionalidade. O abaporu foi
claramente inspirado em nossa mistura étnica e cultural. Antes do
modernismo, era problemático reconhecer a imagem de um Brasil
negro e índio. A maior parte de nossos intelectuais preferia negar
o fato ou, então, narrar a realidade de uma maneira ufanista e
idealizada, como já vimos.
Antes de as frotas portuguesas chegarem aqui, essas terras
tinham o nome de Pindorama. Nela habitavam aproximadamente
5 milhões de índios. Existia vida, existia toda uma cultura que foi e
continua sendo dizimada.
Desde o momento em que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil,
o índio deixou de ser o dono destas terras. Sua cultura foi
considerada primitiva e inferior. Com o negro aconteceu a mesma
coisa. Foi feito escravo e, durante o período colonial e o Império,
trabalhou nas plantações de cana-de-açúcar, na extração do ouro
e também nas lavouras cafeeiras.
Para justificar tal feito, criou-se uma ideologia segundo a qual o
"negro não tinha alma". Transformando o negro em uma espécie
de "animal doméstico", podia-se escravizá-lo. Sua cultura foi
perseguida como selvageria, ignorância, expressão de um mundo
não-civilizado. No entanto, hoje reconhecemos a influência
decisiva da cultura afro-brasileira em nossa história. Mas, na
década de 1920, esses valores estavam apenas começando a se
impor. Os modernistas faziam questão de valorizar nossas
tradições culturais.
Livro: “Que cara tem o Brasil” As maneiras de pensar e sentir o
nosso país. Monica Velloso Ano: 2000