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KPC NÃO É MAIS MORTÍFERA QUE OUTRAS
                                                      SUPERBACTÉRIAS
                               Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, outras superbactérias
                               são tão ou mais prevalentes que a KPC no Brasil
                               Jones Rossi, Luciana Marques e Natalia Cuminale




                               Cultura de bactéria Klebsiella pneumoniae em uma placa de Petri (Larry Mulvehill/Latinstock)




                               Desde 2003, soldados americanos que sobreviveram a graves ferimentos no Iraque tiveram
                               que enfrentar um inimigo ainda mais mortal quando retornaram aos Estados Unidos.
                               Debilitados por cirurgias e entupidos de antibióticos, se tornaram presas fáceis para
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                               bactérias que atacam justamente pessoas com problemas graves de saúde. No caso
                               americano, a responsável foi a Acinetobacter baumannii, que contaminou 700 soldados entre
                               2003 e 2007. Agora é a vez do Brasil enfrentar um surto de KPC, superbactéria que matou
                               uma pessoa no Paraná e 18 no Distrito Federal, e infectou outras 22 em mais quatro
                               estados.

                               Ambas as bactérias, é bom frisar, são do tipo oportunistas, que atacam geralmente pessoas
                               com um quadro de saúde complicado, agravado por alguma doença. As vítimas preferidas
                               são pessoas gravemente feridas, ou que estão internadas em UTIs, submetidas a vários
                               procedimentos de caráter invasivo. As pessoas que morreram no Brasil enquadram-se neste
                               perfil. Quem está saudável não corre riscos significativos e pode até acompanhar e visitar
                               pacientes infectados.

                               A KPC é a abreviatura de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase. A KPC
                               ganhou este nome porque a Klebsiella, uma bactéria antes comum, passou a produzir uma
enzima (carbapenemase) capaz de anular medicamentos como penicilina, cefalosporinas e
                               as carbapenemas.

                               Isso acontece porque toda bactéria possui uma estrutura genética móvel, chamada
                               plasmídeo, que é capaz de se transferir de uma bactéria para outra. Depois de receber este
                               código genético, a antes inofensiva bactéria Klebsiella passou a resistir aos remédios, por
                               mais poderosos que fossem. É como se o mesmo vírus de computador pudesse infectar
                               Macs e Pcs.

                               Histórico — Embora este ano esteja fazendo mais vítimas no Brasil, a KPC, pode-se dizer, é
                               uma velha conhecida. Foi descrita e isolada pela primeira vez em um hospital da Carolina do
                               Norte, nos Estados Unidos, em 2001. O primeiro surto aconteceu em agosto de 2003, em
                               Nova York. No total, 47% dos pacientes afetados morreram.

                               De Nova York, a bactéria foi registrada em outros sete estados americanos e em pouco
                               tempo já estava circulando por Israel, China e França. Em 2005, foi registrado o primeiro
                               caso no Brasil. A esta altura, o gene capaz de dar resistência à bactéria já havia sido
                               transmitido para outras bactérias antes inofensivas, como as pseudomonas, a Enterobacter e
                               a Escherichia coli. Estes tipos de bactérias são tão ou mais prevalentes no Brasil e no mundo
                               que a própria KPC. E matam mais, também. Ou seja, a KPC não é algo incomum no Brasil
                               nem no resto do mundo.

                               Precauções — As superbactérias serão atacadas no Brasil principalmente em duas frentes.
                               A primeira é tentar diminuir a comercialização indiscriminada de antibióticos. A Agência
                               Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai estabelecer uma nova norma obrigando as
                               farmácias a reterem uma cópia da receita médica quando vender antibióticos. As
                               embalagens dos remédios também vão mudar. “A venda sem prescrição representa mais um
                               elemento que pode agravar o aparecimento de microrganismos resistentes aos antibióticos”,
                               afirma Dirceu Barbano, diretor da Anvisa.

                               A segunda é tentar acabar com a disseminação dentro dos hospitais, principais focos das
                               infecções. Os hospitais serão obrigados a colocar álcool em gel em salas onde há pacientes
                               e em cada quarto. Depois de publicada a norma, os estabelecimentos terão 60 dias para se
                               adaptar.

                               Mais difícil é fazer cumprir a norma que obriga estados e municípios a notificarem todos os
                               casos de microrganismos multirresistentes, não só a KPC. “Se não notificar, não tem
                               remédio”, diz Barbano.
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                               A SuperBactéria KPC está tirando o sono dos brasileiros. Alguns casos desta nova bactéria
                               já foram identificados em alguns estados do Brasil, como São Paulo, Paraná e Distrito
                               Federal, onde já foram confirmados 183 casos. Em São Paulo, já morreram 24 pessoas com
                               a bactéria KPC.
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O QUE É?
                               A Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), é um mecanismo de resistência de
                               bactérias a um grupo de antibióticos. Ao adquirir uma enzima, a bactéria se tornou resistente
                               a um grupo de antibióticos, incluindo os mais potentes contra infecções.

                               SINTOMAS E CONTAGIO
                               Os principais sintomas são pneumonia e infecção urinária. Ela atinge principalmente pessoas
                               hospitalizadas com baixa imunidade, como pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
                               A bactéria pode ser transmitida por meio do contato direto, como o toque, ou pelo uso de
                               objetos. A lavagem das mãos é uma das formas de impedir a disseminação da bactéria nos
                               hospitais.

                               PREVENÇÃO
                               Ao entrar no hospital, se acompanhante ou visitante de doentes, lave as mãos com água e
                               sabão e, em seguida, passe álcool. Se tocar no paciente, repita imediatamente o
                               procedimento. Evite contato físico com outros doentes e, se houver, não se esqueça de
                               higienizar as mãos. Evite tocar em macas, mesas de cabeceira e equipamentos hospitalares.
                               Havendo contato, lave as mãos antes de encostar de novo no doente.

                               COMO TRATAR?
                               Entre os remédios ineficazes estão as carbapenemas, uma das principais opções no
                               combate aos organismos unicelulares. Remédios como as polimixinas e tigeciclinas ainda
                               são eficientes contra esses organismos, mas são usados somente em casos de emergência
                               como infecções hospitalares. Lembrando, que você deve procurar um médico antes de
                               tomar qualquer medicamento.
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                               “As razões que levam uma bactéria a driblar a ação dos remédios não são totalmente
                               conhecidas. O abuso do medicamento pode interferir, mas não é o único fator”, diz Ana
                               Cristina Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

                               AVANÇO DA BACTÉRIA KPC
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Superbactérias 1

  • 1. KPC NÃO É MAIS MORTÍFERA QUE OUTRAS SUPERBACTÉRIAS Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, outras superbactérias são tão ou mais prevalentes que a KPC no Brasil Jones Rossi, Luciana Marques e Natalia Cuminale Cultura de bactéria Klebsiella pneumoniae em uma placa de Petri (Larry Mulvehill/Latinstock) Desde 2003, soldados americanos que sobreviveram a graves ferimentos no Iraque tiveram que enfrentar um inimigo ainda mais mortal quando retornaram aos Estados Unidos. Debilitados por cirurgias e entupidos de antibióticos, se tornaram presas fáceis para MICROBIOLOGIA –LEB – UVA/IDJ bactérias que atacam justamente pessoas com problemas graves de saúde. No caso americano, a responsável foi a Acinetobacter baumannii, que contaminou 700 soldados entre 2003 e 2007. Agora é a vez do Brasil enfrentar um surto de KPC, superbactéria que matou uma pessoa no Paraná e 18 no Distrito Federal, e infectou outras 22 em mais quatro estados. Ambas as bactérias, é bom frisar, são do tipo oportunistas, que atacam geralmente pessoas com um quadro de saúde complicado, agravado por alguma doença. As vítimas preferidas são pessoas gravemente feridas, ou que estão internadas em UTIs, submetidas a vários procedimentos de caráter invasivo. As pessoas que morreram no Brasil enquadram-se neste perfil. Quem está saudável não corre riscos significativos e pode até acompanhar e visitar pacientes infectados. A KPC é a abreviatura de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase. A KPC ganhou este nome porque a Klebsiella, uma bactéria antes comum, passou a produzir uma
  • 2. enzima (carbapenemase) capaz de anular medicamentos como penicilina, cefalosporinas e as carbapenemas. Isso acontece porque toda bactéria possui uma estrutura genética móvel, chamada plasmídeo, que é capaz de se transferir de uma bactéria para outra. Depois de receber este código genético, a antes inofensiva bactéria Klebsiella passou a resistir aos remédios, por mais poderosos que fossem. É como se o mesmo vírus de computador pudesse infectar Macs e Pcs. Histórico — Embora este ano esteja fazendo mais vítimas no Brasil, a KPC, pode-se dizer, é uma velha conhecida. Foi descrita e isolada pela primeira vez em um hospital da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 2001. O primeiro surto aconteceu em agosto de 2003, em Nova York. No total, 47% dos pacientes afetados morreram. De Nova York, a bactéria foi registrada em outros sete estados americanos e em pouco tempo já estava circulando por Israel, China e França. Em 2005, foi registrado o primeiro caso no Brasil. A esta altura, o gene capaz de dar resistência à bactéria já havia sido transmitido para outras bactérias antes inofensivas, como as pseudomonas, a Enterobacter e a Escherichia coli. Estes tipos de bactérias são tão ou mais prevalentes no Brasil e no mundo que a própria KPC. E matam mais, também. Ou seja, a KPC não é algo incomum no Brasil nem no resto do mundo. Precauções — As superbactérias serão atacadas no Brasil principalmente em duas frentes. A primeira é tentar diminuir a comercialização indiscriminada de antibióticos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai estabelecer uma nova norma obrigando as farmácias a reterem uma cópia da receita médica quando vender antibióticos. As embalagens dos remédios também vão mudar. “A venda sem prescrição representa mais um elemento que pode agravar o aparecimento de microrganismos resistentes aos antibióticos”, afirma Dirceu Barbano, diretor da Anvisa. A segunda é tentar acabar com a disseminação dentro dos hospitais, principais focos das infecções. Os hospitais serão obrigados a colocar álcool em gel em salas onde há pacientes e em cada quarto. Depois de publicada a norma, os estabelecimentos terão 60 dias para se adaptar. Mais difícil é fazer cumprir a norma que obriga estados e municípios a notificarem todos os casos de microrganismos multirresistentes, não só a KPC. “Se não notificar, não tem remédio”, diz Barbano. MICROBIOLOGIA –LEB – UVA/IDJ A SuperBactéria KPC está tirando o sono dos brasileiros. Alguns casos desta nova bactéria já foram identificados em alguns estados do Brasil, como São Paulo, Paraná e Distrito Federal, onde já foram confirmados 183 casos. Em São Paulo, já morreram 24 pessoas com a bactéria KPC.
  • 4. O QUE É? A Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), é um mecanismo de resistência de bactérias a um grupo de antibióticos. Ao adquirir uma enzima, a bactéria se tornou resistente a um grupo de antibióticos, incluindo os mais potentes contra infecções. SINTOMAS E CONTAGIO Os principais sintomas são pneumonia e infecção urinária. Ela atinge principalmente pessoas hospitalizadas com baixa imunidade, como pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A bactéria pode ser transmitida por meio do contato direto, como o toque, ou pelo uso de objetos. A lavagem das mãos é uma das formas de impedir a disseminação da bactéria nos hospitais. PREVENÇÃO Ao entrar no hospital, se acompanhante ou visitante de doentes, lave as mãos com água e sabão e, em seguida, passe álcool. Se tocar no paciente, repita imediatamente o procedimento. Evite contato físico com outros doentes e, se houver, não se esqueça de higienizar as mãos. Evite tocar em macas, mesas de cabeceira e equipamentos hospitalares. Havendo contato, lave as mãos antes de encostar de novo no doente. COMO TRATAR? Entre os remédios ineficazes estão as carbapenemas, uma das principais opções no combate aos organismos unicelulares. Remédios como as polimixinas e tigeciclinas ainda são eficientes contra esses organismos, mas são usados somente em casos de emergência como infecções hospitalares. Lembrando, que você deve procurar um médico antes de tomar qualquer medicamento. MICROBIOLOGIA –LEB – UVA/IDJ “As razões que levam uma bactéria a driblar a ação dos remédios não são totalmente conhecidas. O abuso do medicamento pode interferir, mas não é o único fator”, diz Ana Cristina Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) AVANÇO DA BACTÉRIA KPC