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GRANDES
SERMÕES
do MUNDO
Sermões de 28 dos maiores pregadores do mundo, incluindo Agostinho, João
Calvino, Martinho Lutero, Jonathan Edwards, John Wesley, Charles Finnney,
Charles Spurgeon e outros
CLARENCE E. MACARTNEY, Editor
TRADUÇÃO
DEGMAR RIBAS JÚNIOR
Todos os direitos reservados. Copyright © 2003 para a língua portuguesa
da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho
de Doutrina.
Título do original em inglês: Great Sermons of the World
Hendrickson Publishers, Peabody, Massachussetts, EUA
Primeira edição em inglês: 1997
Tradução: Degmar Ribas Júnior
Preparação dos originais: Kleber Cruz
Revisão: Alexandre Coelho
Capa: Flamir Ambrósio
Editoração: Olga Rocha dos Santos
CDD: 250 - Sermões
ISBN: 85-263-0542-5
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e
Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação
em contrário.
Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos
lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br
Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal 331
20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
1ª edição/2003
Sumário
Introdução
1. Jesus Cristo.O Sermão da Montanha
2. Profeta Isaías: Livro de Isaías, Capítulos 63 e 64
3. Apóstolo Pedro: O Sermão que Ganhou Três Mil Almas
4. Clemente de Roma: Cristo e a Igreja
5. João Crisóstomo: A Grandeza do Apóstolo Paulo
6. Agostinho: As Dez Virgens
7. Venerável Bede: O Encontro da Misericórdia e da Justiça
8. Thomas á Kempis: Tomando a Cruz
9. Martinho Lutero: Estêvão
10. João Calvino: Suportando a Perseguição
11. John Howe: As Lágrimas do Redentor
12. Robert South: O Homem Criado à Imagem de Deus
13. Jonathan Edwards:Os Mortos Bem-aventurados
14. JohnWesley: O Grande Julgamento
15. George Whitefield: Arrependimento
16. Samuel Davies: A Ressurreição Geral
17. Rowland Hill: Demonstrações Gloriosas da Graça do Evangelho
18. Robert Hall: O Missionário Cristão
19. Christmas Evans: O Triunfo do Calvário
20. Thomas Chalmers: O Poder Expulsivo de um Novo Afeto
21. Charles Grandison Finney: Mordomia
22. Thomas Guthrie: Os Pecados e as Tristezas da Cidade
23. Frederick W Robertson: Egoísmo, como Mostrado no Caráter de
Balaão
24. Henry Parry Liddon: Os Primeiros Cinco Minutos depois da Morte
25. Charles Haddon Spurgeon: Poupado!
26. Phillips Brooks: A Lâmpada do Senhor
27. Francis Landey Patton: A Letra e o Espírito
28. George Campbell Morgan: O Poder do Evangelho
Introdução
CERTO OUVINTE, ENTUSIASMADO COM A PREGAÇÃO de um famoso prega-
dor, perguntou-lhe se poderia ter o privilégio de mandar imprimir a
pregação que acabara de ouvir. "Sim", respondeu o pregador, "contanto que
você também mande imprimir o trovão". Mas isso é impossível!
Podemos imprimir o registro escrito do que o pregador disse; mas não
a luz dos olhos, o brilho da face, a curva que a mão descreve, a atitude do
corpo, a musicalidade da voz. Quando registramos o tema, as divisões e
parágrafos e até as mesmas palavras que foram ditas, não temos o
pregador. Tudo o que podemos dizer de um sermão impresso é o que Jó
disse acerca da majestade do Criador: "Eis que isto são apenas as orlas dos
seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem, pois,
entenderia o trovão do seu poder?" (Jó 26.14). Quanto maior o pregador,
maior o contraste entre o registro escrito e o sermão falado. Lemos que
milhares de pessoas se apinhavam para ouvir extasiadas as pregações de
Whitefield e, depois, nos perguntamos o que produzia tal impressão nas
pessoas, quando temos em mãos um dos sermões de Whitefield. O trovão e
o raio se foram.
Ler um sermão célebre é como visitar a cena de um grande acon-
tecimento na história. Especialmente proveitoso para os pregadores é a
leitura dos sermões feitos pelos filhos do trovão do púlpito do passado. Na
qualidade da mais nobre paixão da terra, pregar é também uma grande
arte. Toda a glória e fascínio do púlpito cristão surge diante de nós ao
lermos as declarações dos profetas de Deus que argumentavam com
homens acerca da justiça, temperança e julgamento futuros.
Ao compilar este volume de sermões, vali-me de todos os períodos de
pregação cristã, desde os dias dos apóstolos até o presente.
Também incluí um exemplo da eloqüência do Antigo Testamento.
A regra geral seguida foi selecionar os pregadores famosos dos
diferentes períodos. É verdade que às vezes os maiores pregadores não
eram grandes sermonários. Contudo, por mais admirável que um sermão
seja, dificilmente é considerado um dos grandes sermões do mundo, a
menos que tenha sido pregado por um dos grandes pregadores da época.
Isto tornou minha tarefa muito mais fácil, pois ninguém questionará a
categoria dos pregadores cujos sermões aparecem neste volume.
Na preparação deste volume, recebi sugestões muito úteis de meu
amigo e antigo instrutor, reverendo Frederick W. Loetscher, D.D., LL.D.,
professor de história eclesiástica do Seminário Teológico de Princeton.
Clarence E. Macartney
Jesus Cristo:
O Sermão da Montanha
BEM-AVENTURADOS os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos
céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventura-
dos os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem-
aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem-
aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem-
aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque
deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem,
e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha
causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus;
porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de
salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos
homens.
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada
sobre um monte. Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire,
mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a
vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar,
mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra
passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja
cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e
assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus;
aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino
dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos
escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus.
Ou vistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que
matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem
motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que
chamar a seu irmão de raça será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe
chamar de louco será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua
oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra
ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com
teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com
o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não
aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial,
e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de maneira nenhuma,
sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu,
porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já
em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito
te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se
perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no
inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe
de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o
teu corpo seja lançado no inferno. Também foi dito: Qualquer que deixar
sua mulher, que lhe dê carta de desquite. Eu, porém, vos digo que
qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz
que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete
adultério.
Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas
cumprirás teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que, de
maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus, nem
pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a
cidade do grande Rei, nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes
tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim;
não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna.
Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos
digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita,
oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a
vestimenta, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar
uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir e não te desvies daquele
que quiser que lhe emprestes.
Ou vistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu
inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos
maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e
vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz
que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e
injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não
fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os
vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também
assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos
céus.
Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes
vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos
céus.
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti,
como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados
pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas,
quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua
direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará publicamente.
E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem
em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos
pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas
tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu
Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te
recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que
pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois,
a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho
pedirdes.
Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade,
tanto na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa-
nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E
não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e
o poder, e a glória, para sempre. Amém! Porque, se perdoardes aos homens
as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém,
não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não
perdoará as vossas ofensas.
E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipó-
critas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareçam que
jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Porém tu,
quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, para não pareceres aos
homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto; e teu Pai, que vê o
que está oculto, te recompensará.
Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo
consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no
céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não
minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará
também o vosso coração.
A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem
bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu
corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão
grandes serão tais trevas!
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e
amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a
Deus e a Mamom.
Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo
que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso
corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e
o corpo, mais do que a vestimenta? Olhai para as aves do céu, que não
semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as
alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós
poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua
estatura? E, quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai para os
lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos
digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como
qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe
e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de
pequena fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que
beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os
gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de
todas essas coisas; mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e
todas essas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com
que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos
hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do
teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu
irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o
argueiro do olho do teu irmão.
Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas
pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despedacem.
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.
Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se
abre. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe
dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se, vós,
pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais
vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? Portanto,
tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós,
porque esta é a lei e os profetas.
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o
caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E
porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, poucos há
que a encontrem.
Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos
como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os
conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos
abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda arvore má
produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore
má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se
no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
Nem todo o que me diz-. Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus,
mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me
dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E,
em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos
muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci;
apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica,
assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a
rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e
combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a
rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e as não cumpre,
compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia.
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram
aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.
Profeta Isaías:
Livro de Isaías, Capítulos 63 e 64
QUEM é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas? Este que
é glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que
falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelha a tua ves-
tidura? E as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? Eu
sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo; e os pisei na
minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas
vestes, e manchei toda a minha vestidura. Porque o dia da vingança estava
no meu coração, e o ano dos meus redimidos é chegado. E olhei, e não
havia quem me ajudasse; e espantei-me de não haver quem me sustivesse;
pelo que o meu braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve. E
pisei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e a sua força
derribei por terra.
As benignidades do Senhor mencionarei e os muitos louvores do
Senhor, consoante tudo o que o Senhor nos concedeu, e a grande bondade
para com a casa de Israel, que usou com eles segundo as suas
misericórdias e segundo a multidão das suas benignidades. Porque o
Senhor dizia: Certamente, eles são meu povo, filhos que não mentirão.
Assim ele foi seu Salvador. Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o
Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele
os remiu, e os tomou, e os conduziu todos os dias da antigüidade. Mas eles
foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo-, pelo que se lhes
tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles. Todavia, se lembrou
dos dias da antigüidade, de Moisés e do seu povo, dizendo: Onde está
aquele que os fez subir do mar com os pastores do seu rebanho? Onde está
aquele que pôs no meio deles o seu Espírito Santo, aquele cujo braço
glorioso ele fez andar à mão direita de Moisés? Que fendeu as águas diante
deles, para criar um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos,
como o cavalo, no deserto, de modo que nunca tropeçaram? Como ao
animal que desce aos vales, o Espírito do Senhor lhes deu descanso; assim
guiaste ao teu povo, para criares um nome glorioso.
Atenta desde os céus e olha desde a tua santa e gloriosa habitação.
Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura das tuas
entranhas e das tuas misericórdias detém-se para comigo! Mas tu és nosso
Pai, ainda que Abraão nos não conhece, e Israel não nos reconhece. Tu, ó
Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antigüidade é o teu nome.
Por que, ó Senhor, nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces
o nosso coração, para que te não temamos? Faz voltar, por amor dos teus
servos, as tribos da tua herança. Só por um pouco de tempo, foi possuída
pelo teu santo povo; nossos adversários pisaram o teu santuário. Tornamo-
nos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste e como aqueles que
nunca se chamaram pelo teu nome.
Ó! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes se escoassem
diante da tua face! Como quando o fogo inflama a lenha e faz ferver as
águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, assim as
nações tremessem da tua presença! Quando fazias coisas terríveis, que não
esperávamos, descias, e os montes se escoavam diante da tua face. Porque
desde a antigüidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com
os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele
espera. Saíste ao encontro daquele que se alegrava e praticava justiça,
daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque
pecamos; neles há eternidade, para que sejamos salvos. Mas todos nós
somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da
imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um
vento, nos arrebatam. E já ninguém há que invoque o teu nome, que
desperte e te detenha; porque escondes de nós o rosto e nos fazes derreter,
por causa das nossas iniqüidades.
Mas, agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai; nós, o barro, e tu, o nosso
oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos. Não te enfureças tanto, ó Senhor,
nem perpetuamente te lembres da iniqüidade; eis, olha, nós te pedimos,
todos nós somos o teu povo. As tuas santas cidades estão feitas um
deserto; Sião está feita um deserto, Jerusalém está assolada. A nossa santa
e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada; e todas as
nossas coisas mais aprazíveis se tornaram em assolação. Conter-te-ias tu
ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? Ficadas calado, e nos afligidas
tanto?
Apóstolo Pedro:
0 Sermão que Ganhou Três Mil Almas
O Sermão de Pedro no Dia de Pentecostes (At 2.14 -36, 38b, 39)
VARÕES judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto
notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão
embriagados, como vós pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto
é o que foi dito pelo profeta Joel:
E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito
derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão
sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e
minhas servas, naqueles dias, e profetizarão; e farei aparecer prodígios em
cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O
sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e
glorioso Dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo.
Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão
aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus
por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi
entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós,
o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus
ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse
retido por ela. Porque dele disse Davi:
Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita,
para que eu não seja comovido. Por isso, se alegrou o meu coração, e a
minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em
esperança. Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que
o teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida;
com a tua face me encherás de júbilo.
Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca
Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua
sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido
com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o
Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão, disse da
ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades, nem a
sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos
nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus e
tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós
agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz:
Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que
ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a
quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus
Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que
estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar.
Clemente de Roma:
Cristo e a Igreja
O MAIS ANTIGO EXEMPLO de pregação cristã, fora do Novo Testamento, é
a denominada Segunda Epístola de Clemente, endereçada à Igreja em
Corinto. Como o leitor perceberá, esta epístola é na verdade um sermão
dirigido a seus "irmãos e irmãs". Clemente de Roma foi uma das grandes
figuras da Igreja Primitiva e bem pode ter sido este Clemente a quem Paulo
se refere na Epístola aos Filipenses como seu "cooperador". Ele é
considerado um dos Pais Apostólicos e o segundo ou terceiro bispo de
Roma. Eusébio o faz bispo de Roma de 92 a 101 d.C. De Clemente temos
uma Epístola aos Coríntios, a qual é de grande importância como
testemunho primitivo das grandes doutrinas cristãs, como a Trindade, a
expiação e a justificação pela graça. Mas a Segunda Epístola aos Coríntios
atribuída a Clemente de Roma é considerada uma falsificação. Algum
pregador ou escritor desejou dar aceitação à sua produção servindo-se do
peso do nome Clemente. Não obstante, a Epístola, na verdade, o sermão, é
de imenso interesse para a Igreja de hoje como o mais antigo exemplo de
pregação pós-apostólica. Suas declarações, um tanto quanto comuns,
pulsam com vida, porque nos são as mais antigas inflexões do púlpito cris-
tão. Neste sermão o pregador cita duas declarações de Cristo, as quais
eram evidentemente correntes naquela época, mas que não foram
registradas no Novo Testamento.
Este primeiro dos sermões cristãos mostra como os temas do
pregador — Deus, Cristo, a alma, o julgamento, o céu e o inferno — não
mudam de geração em geração, e como o Cristo encontrado na pregação
deste desconhecido dos primórdios do Cristianismo é igual ao Cristo
pregado hoje — Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.
Cristo e a Igreja
PRECISAMOS pensar em Cristo em termos elogiosos. Irmãos, é
adequado que vocês pensem em Cristo como pensam em Deus — como o
Juiz dos vivos e dos mortos. E não nos convém pensar levianamente de
nossa salvação; se pensamos pouco nEle, também esperaremos obter
senão pouco dEle. E aqueles de nós que ouvem falar negligentemente des-
tas coisas, como se fossem de pequena monta, pecam, não sabendo de
onde fomos chamados, por quem e para que lugar, e o quanto Jesus Cristo
se submeteu para sofrer por nossa causa. Que retorno lhe daremos, ou que
fruto será digno do que Ele nos deu? Pois quão grandes são os benefícios
que lhe devemos! Ele nos tem dado luz graciosamente; como Pai, Ele nos
chamou de filhos; Ele nos salvou quando estávamos prestes a perecer. Que
louvor lhe ofereceremos, ou que lhe daremos pelas coisas que recebemos?
Éramos deficientes no entendimento, adorando pedras, madeira, ouro,
prata e metal, trabalhos das mãos de homens; e nossa vida era nada mais
que morte. Envolvidos em cegueira e com tais trevas diante dos olhos,
recebemos visão e, por sua vontade, pusemos de lado aquela nuvem em
que estávamos envolvidos. Ele teve compaixão de nós e misericordi-
osamente nos salvou, observando os muitos erros nos quais estávamos
emaranhados, bem como a destruição a qual estávamos expostos e da qual
não tínhamos esperança de salvação, exceto a que nos deu. Ele nos
chamou quando ainda não existíamos e nos quis para que do nada
alcançássemos uma existência real.
A verdadeira confissão de Cristo. Vamos não só chamá-lo Senhor,
pois isso não nos salvará. Ele disse: "Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor, será salvo, mas aquele que pratica a justiça". Portanto, irmãos,
vamos confessá-lo por nossas obras, amando-nos uns aos outros, não
cometendo adultério, não falando mal uns dos outros ou apreciando a
inveja, mas sendo moderados, compassivos e bons. Também devemos
partilhar o que temos uns com os outros e não sermos avarentos. Mediante
tais obras, vamos confessá-lo, e não por aquelas obras que, ao contrário,
não o glorificam. E não é adequado que temamos aos homens, mas antes a
Deus. Por isso, se fizermos tais coisas más, o Senhor diz: "Ainda que vós
estivésseis reunidos comigo em meu próprio seio, contudo se vós não
guardásseis os meus mandamentos, eu vos lançaria fora e vos diria:
Apartai-vos de mim; não sei de onde sois, vós, obreiros da iniqüidade".
Este mundo deve ser menosprezado. Portanto, irmãos, deixando de
boa vontade nossa peregrinação neste presente mundo, façamos a vontade
daquEle que nos chamou e não temamos nos apartar deste mundo. O
Senhor disse: "Vós sereis como cordeiros no meio de lobos". E Pedro
respondeu e lhe disse: "E se os lobos despedaçarem os cordeiros?" Jesus
disse a Pedro: "Os cordeiros, depois que estão mortos, não têm motivo para
temer os lobos; e do mesmo modo, não temeis aqueles que vos matam e
não podem fazer mais nada convosco; mas temei aquele que, depois que
vós estais mortos, tem poder sobre a alma e o corpo para lançá-los no fogo
do inferno". E considerem, irmãos, que a peregrinação na carne neste
mundo é breve e passageira, mas a promessa de Cristo é grande e
maravilhosa, até o restante do Reino por vir e da vida eterna. Por que curso
de conduta, então, devemos alcançar estas coisas, senão levando uma vida
santa e íntegra, julgando estas coisas mundanas como não pertencentes a
nós e não fixando nosso desejo nelas? Pois se desejamos possuí-las, aban-
donamos o caminho da retidão.
Os mundos presente e futuro são inimigos entre si. Agora o Senhor
declara: "Ninguém pode servir a dois senhores". Se desejamos, então, servir
a Deus e a Mamom, não nos será proveitoso. "Pois que aproveitaria ao
homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" (Mc 8.36). Este mundo
e o seguinte são dois inimigos. Um instiga ao adultério e à corrupção, à
avareza e ao engano; o outro diz adeus a essas coisas. Não podemos ser
amigos de ambos; e nos cabe, ao renunciar um, nos assegurar do outro.
Consideremos que é melhor odiar as coisas presentes, visto que são
insignificantes, transitórias e corruptíveis, e amar as que estão por vir
como sendo boas e incorruptíveis. Se fizermos a vontade de Cristo,
encontraremos descanso; caso contrário, nada nos livrará do castigo eterno
se desobedecermos os seus mandamentos. Assim também diz a Escritura
em Ezequiel: "Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu,
diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam" (Ez 14.20). Se
homens tão eminentemente justos são incapazes por sua justiça de livrar
os próprios filhos, como podemos esperar entrar na residência real de
Deus, a menos que mantenhamos nosso batismo santo e imaculado? Ou
quem será nosso defensor, a não ser que sejamos achados possuidores de
obras de santidade e justiça?
Temos de nos esforçar para sermos coroados. Portanto, meus irmãos,
lutemos com todo o empenho, sabendo que, em nosso caso, a disputa está
bem à mão e que muitos empreendem longas viagens para lutar por uma
recompensa corruptível; contudo, nem todos são coroados, mas só aqueles
que laboram duramente e se esforçam gloriosamente. Esforcemo-nos,
então, de modo que sejamos coroados. Corramos o caminho reto da corrida
que é incorruptível, e nos empenhemos para que sejamos coroados. Temos
de nos lembrar de que aquele que se esforça na competição corruptível, se
for descoberto que agiu incorretamente, é preso e açoitado, e seu nome
retirado de todos os registros. O que vocês acham disso? Acerca daqueles
que não preservam o selo irrompível, a Escritura diz: "... o seu verme
nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a
carne" (Is 66.24).
A necessidade de arrependimento enquanto estamos na terra. Durante
o tempo em que estamos na terra, pratiquemos o arrependimento, porque
somos como barro nas mãos do artífice. Se o oleiro faz um vaso e este fica
torcido ou se quebra em suas mãos, ele o molda de novo; mas se antes
disso ele o lançou na fornalha, ele já não pode mais ajudá-lo. Assim,
enquanto estamos neste mundo, arrependamo-nos de todo o coração das
más ações que fizemos na carne para que sejamos salvos pelo Senhor,
enquanto ainda temos oportunidade de arrependimento. Depois que
deixarmos o mundo, o poder de confessar ou arrepender-se já não nos
pertencerá. Portanto, irmãos, ao fazermos a vontade do Pai, ao
conservarmos a carne santa e ao observarmos os mandamentos do Senhor,
obteremos a vida eterna. O Senhor diz no Evangelho: "Se vós não
guardastes o que era pequeno, quem vos entregará o que é grande? Pois eu
vos digo que aquele que é fiel no mínimo, também é fiel no muito". É isto o
que Ele quer dizer: "Mantende a carne santa e o selo livre de contaminação
para que recebais a vida eterna".
Seremos julgados na carne. E que ninguém diga que esta mesma
carne não será julgada nem ressuscitará. Considerem em que estado vocês
foram salvos, em que estado receberam a visão, se não foi quando estavam
nesta carne. Temos de preservar a carne como o templo de Deus. Assim
como vocês foram chamados na carne, assim também serão julgados na
carne. Assim como Cristo, o Senhor, que nos salvou, embora fosse
primeiramente Espírito, tornou-se carne, e desse modo nos chamou, assim
também receberemos a recompensa nesta carne. Amemo-nos uns aos
outros para que todos alcancemos o Reino de Deus. Enquanto temos
oportunidade de sermos curados, rendamo-nos a Deus, que nos ouve, e lhe
retribuamos. De que forma? Através do arrependimento de corações
sinceros; Ele sabe todas as coisas de antemão e conhece o que está em
nosso coração. Rendamos a Ele louvor, não só com nossos lábios, mas
também com o coração, para que Ele nos aceite como filhos. O Senhor
disse: "Estes são meus irmãos: os que fazem a vontade de meu Pai".
O vício deve ser abandonado e a virtude, seguida. Portanto, meus
irmãos, façamos a vontade do Pai que nos chamou, para que vivamos.
Sigamos com veemência a virtude, mas abandonemos toda tendência má
que nos leve à transgressão, e fujamos da impiedade, para que males não
nos alcancem. Se formos diligentes em fazer o bem, a paz nos seguirá. Por
esta causa, tais homens não podem encontrar paz, os quais são
influenciados pelos terrores humanos e preferem o prazer momentâneo à
promessa que será cumprida depois. Eles desconhecem que tormento o
atual prazer incorre ou que felicidade está envolvida na promessa futura. E
se na verdade eles fizessem apenas tais coisas, seria o mais tolerável. Mas
eles persistem em saturar almas inocentes com suas doutrinas perniciosas,
não sabendo que eles receberão uma dupla condenação, tanto eles quanto
aqueles que os ouvem.
Devemos servir a Deus, confiando nas suas promessas. Sirvamos a
Deus com coração puro e seremos justos; mas se não o servimos, porque
não cremos nas suas promessas, seremos miseráveis. A palavra profética
também declara: "Miseráveis são aqueles de mente dupla e que duvidam
em seu coração, dizendo: 'Todas estas coisas ouvimos falar até nos dias de
nossos pais; mas, embora esperemos dia-a-dia, não vimos nenhuma delas
se realizar'. Tolos! Comparai-vos a uma árvore; por exemplo, a videira. Em
primeiro lugar, vêm as folhas, então o broto aparece; depois, a uva verde, e
em seguida, o fruto completamente maduro. Assim, da mesma forma, meu
povo suporta perturbações e aflições, mas depois receberá suas boas
dádivas". Portanto, meus irmãos, não sejamos de mente dobre, mas
esperemos e suportemos, para que também obtenhamos a recompensa.
Pois Ele é fiel, aquEle que prometeu que dará a todos uma recompensa de
acordo com as suas obras. Se praticarmos a justiça à vista de Deus,
entraremos no seu Reino e receberemos as promessas: "... o olho não viu, e
o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem..." (1 Co 2.9).
Devemos buscar constantemente o Reino de Deus. Esperemos,
momento a momento, o Reino de Deus em amor e justiça, visto que não
sabemos o Dia do Senhor. O próprio Jesus, sendo perguntado pelos
fariseus sobre quando viria o seu Reino, respondeu: "O Reino de Deus não
vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis
que o Reino de Deus está entre vós. E como aconteceu nos dias de Noé,
assim será também no dia do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam
e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o
dilúvio e consumiu a todos Como também da mesma maneira aconteceu
nos dias de Ló: comiam, bebiam. compravam, vendiam, plantavam e
edificavam. Mas, no dia cm que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e
enxofre, consumindo a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem
se há de manifestar" (Lc 17.20,21,26-29).
A Igreja viva é o Corpo de Cristo. Portanto, irmãos, se fizermos a
vontade de Deus, nosso Pai, seremos da primeira Igreja, quer dizer, a
espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; mas se não fizermos a
vontade do Senhor, seremos da Escritura que diz: "Minha casa foi feita em
covil de ladrões". Escolhamos, então, ser da Igreja da vida para que
sejamos salvos. Não suponho, porém, que vocês ignoram que a Igreja viva é
o Corpo de Cristo; pois a Escritura diz: "Deus fez o homem, macho e
fêmea". E os livros e os apóstolos claramente declaram que a Igreja não é
do presente, mas desde o princípio. Ela era espiritual, como nosso Jesus
também o era, mas foi manifesta nos últimos dias para que Ele nos
salvasse. Agora a igreja, sendo espiritual, foi manifesta na carne de Cristo,
querendo nos dizer que se qualquer um de nós a mantiver na carne e não a
corromper, Ele a receberá novamente no Espírito Santo: pois esta carne é a
cópia do espírito. Ninguém que corrompa a cópia participará da original. É
isto o que Ele quer dizer: "Guardai a carne, para que vós participeis do
espírito". Mas se dizemos que a carne é a Igreja e o espírito, Cristo, então
aquele que usou vergonhosamente a carne usou vergonhosamente a Igreja.
Tal indivíduo não participará do espírito, que é Cristo. Esta carne pode
participar de tal vida e incorrupção, quando o Espírito Santo for unido a
ela. Ninguém pode declarar ou dizer "o que o Senhor preparou" para os
seus eleitos.
Fé e amor, o apropriado retorno a Deus. Agora, não penso que lhes dei
conselho trivial em relação ao autocontrole, o qual se alguém o fizer não se
arrependerá, mas salvará a si mesmo e a mim, que o aconselho. Não é
pequena recompensa fazer voltar uma alma peregrina e perecível para que
seja salva. Esta é a recompensa que temos para retornar a Deus que nos
criou, se aquele que fala e ouve, fala e ouve com fé e amor. Permaneçamos
nas coisas em que cremos, justos e santos, para que com ousadia pecamos
a Deus, que disse: "Enquanto tu ainda estiveres falando, eu direi: Eis-me
aqui, eu estou aqui". Esta declaração é o sinal de grande promessa: o
Senhor diz de si mesmo que Ele está mais pronto a dar, do que aquele que
pede, de pedir. Sendo participantes de tão grande generosidade, não
sejamos invejosos uns dos outros na obtenção de tantas coisas boas. Pois
tão grande quanto é o prazer que estas declarações têm por eles que as
fizeram, tão grande é a condenação para aqueles que são desobedientes.
A excelência da caridade. Portanto, irmãos, tendo recebido não
pequena ocasião de arrependimento, enquanto temos oportunidade,
voltemo-nos a Deus que nos chamou, enquanto ainda o temos como
aquEle que nos recebe. Se renunciarmos estes prazeres e conquistarmos
nossas almas, não fazendo nossos desejos maus, participaremos da
misericórdia de Jesus. Mas vocês sabem que o Dia do Julgamento "vem
como fogo ardente", e algumas partes "dos céus derreterão". Toda a terra
será como chumbo derretido no fogo, e então as obras ocultas e abertas
dos homens aparecerão. A caridade, por conseguinte, é coisa boa, assim
como o arrependimento de pecados; o jejum é melhor que a oração, mas a
caridade é melhor que ambos; "mas o amor cobre uma multidão de
pecados". A oração proveniente de uma consciência boa liberta da morte.
Bendito é todo aquele que está cheio destas coisas, pois a caridade alivia o
fardo do pecado.
O perigo de impenitência. Arrependamo-nos de todo o coração, a fim
de que nenhum de nós pereça no caminho. Se temos mandamentos
dizendo-nos para afastar os homens dos ídolos e instruí-los, quanto mais
não deve a alma que já conhece a Deus perecer! Ajudemo-nos uns aos
outros para que também ajudemos os fracos quanto ao que é bom, a fim de
que todos sejam salvos; e vamos nos converter e admoestar uns aos outros.
Não pensemos em dar atenção e acreditar agora somente quando somos
admoestados pelos presbíteros, mas também quando voltamos para casa,
lembrando-nos dos mandamentos do Senhor. Não sejamos arrastados por
luxúrias mundanas, mas busquemos progredir nos mandamentos do
Senhor, para que todos tenhamos a mesma mente, sejamos unidos à vida.
O Senhor disse: "Eu vim para reunir todas as nações, tribos e línguas". Ele
fala acerca do dia da sua manifestação, quando virá e nos remirá, cada um
de acordo com suas obras. E os incrédulos "verão a sua glória" e força. Eles
acharão estranho quando virem a soberania do mundo em Jesus, dizendo:
"Ai de nós! Tu eras aquele, e nós não sabíamos, não cremos, e não obe-
decemos aos presbíteros quando eles declaravam as coisas concernentes à
nossa salvação". E "o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se
apagará; e serão um horror para toda a carne". Ele fala acerca daquele Dia
do Julgamento quando eles verão aqueles entre nós que eram descrentes e
agiam enganosamente com os mandamentos do Senhor. Mas quando os
justos, que fizeram o bem, suportaram tormentos e odiaram os prazeres da
alma, virem aqueles que se desviaram e negaram a Jesus mediante
palavras ou ações, o quanto eles são castigados com tormentos atrozes
num fogo inextinguível, darão glória a Deus, dizendo: "Haverá esperança
para aquele que, de todo o coração, serviu a Deus".
O pregador confessa sua própria pecaminosidade. Sejamos do número
daqueles que dão graças e servem a Deus, não dos descrentes que já estão
julgados. Eu também, sendo completo pecador e até agora não livre da
tentação, mas ainda estando cercado pelas maquinações do Diabo,
emprego diligência para seguir a justiça, a fim de que tenha forças para
chegar nem que seja perto dela, temendo o julgamento por vir.
Ele Justifica sua exortação. Irmãos e irmãs, depois que o Deus da
verdade foi ouvido, leio para vocês uma solicitação para que dêem atenção
às coisas que estão escritas, a fim de que se salvem a si mesmos e salvem
aquele que lê entre vocês. Como retribuição, peço-lhes que se arrependam
de todo o coração, recebendo a salvação e a vida. Fazendo isto, teremos
estabelecido uma meta para que todo jovem se empenhe pela devoção e
bondade de Deus. E, insensatos que somos, não nos sintamos afrontados e
desagradados, sempre que alguém nos admoesta e nos faz voltar da
iniqüidade para a justiça. Às vezes, quando estamos praticando coisas
más, não o percebemos, por causa da disposição dobre e incredulidade que
estão em nosso peito, e por estarmos "obscurecidos em nosso
entendimento" por nossas vãs concupiscências. Pratiquemos a justiça para
que sejamos salvos até o fim. Benditos são aqueles que obedecem estes
mandamentos. Mesmo que por um pouco de tempo sofram o mal no mun-
do, eles desfrutarão o fruto imortal da ressurreição. Que o piedoso não se
lamente, se for desgraçado nos tempos atuais; uma época bendita o
aguarda. Ele, vivendo novamente nas alturas com o Senhor, estará alegre
por uma eternidade sem pesar.
Palavras finais de consolação. Doxologia. Nem seus entendimentos
fiquem perturbados ao verem os injustos tendo riquezas e os servos de
Deus, pobreza duradoura. Sejamos crentes, irmãos e irmãs. Estamos nos
esforçando na lida do Deus vivo; somos disciplinados pela vida presente
para que sejamos coroados na vida futura. Nenhum dos justos recebeu
fruto de imediato, mas esperou por ele. Se Deus desse recompensa
imediata aos justos, estaríamos nos exercitando no assunto e não na
santidade. Pareceríamos ser justos, ao mesmo tempo em que buscaríamos
o que não é santo, mas o que é lucrativo. E por conta disso, o julgamento
divino surpreendeu um espírito que não era justo e o prendeu com
correntes.
Ao único Deus invisível, o Pai da verdade, que nos enviou o Salvador
e Príncipe da incorrupção, por meio de quem Ele nos manifestou a verdade
e a vida celestial, a Ele seja a glória para sempre e sempre. Amém.
João Crisóstomo:
A Grandeza do Apóstolo Paulo
João CRISÓSTOMO (conhecido como "Boca de ouro") é, depois dos
apóstolos, o pregador mais famoso na história do Cristianismo. Nasceu em
Antioquia, em 347, e morreu em Ponto, em 407. Começou o estudo da
retórica e mostrou grande promessa para o futuro, mas, mediante os
esforços piedosos de sua mãe, Antusa, ele abraçou o Cristianismo e se
retirou para o deserto, onde passou dez anos em meditação e renúncia.
Depois, tornou-se diácono e, mais tarde, presbítero em Antioquia. Logo
chamou a atenção como pregador, sobretudo através de uma série de
sermões sobre as estátuas, pregado numa época em que o imperador
Teodósio pretendia lançar severas represálias contra o populacho de
Antioquia, onde suas estátuas haviam sido destruídas numa revolta.
Como arcebispo de Constantinopla, Crisóstomo pregou corajo-
samente contra as políticas da imperatriz Eudoxia. Sua atitude inflexível
para com o tribunal e os clérigos licenciosos e avarentos fizeram-no vítima
de uma conspiração eclesiástica, e ele foi condenado por contumácia pelo
sínodo conclamado pelos seus inimigos e levado a Bitínia. A fúria popular
era tão grande que o imperador teve de chamá-lo de volta. Mas logo o
enviaram para o exílio outra vez e, depois de ser levado de lugar em lugar,
faleceu a caminho do deserto de Pítio.
Seus sermões são na maioria expositivos ou comentários fluentes
sobre o texto de uma passagem bíblica. Deste modo, ele cobriu grandes
porções do Novo Testamento. Crisóstomo linha amplo alcance e poderia
dedilhar cada nota do coração humano. Um dos exemplos mais nobres de
sua eloqüência é sua última homília sobre a Epístola aos Romanos. Não é
apenas um dos melhores exemplos de eloqüência patrística, mas talvez o
maior tributo que jamais foi dado ao apóstolo Paulo.
A Grandeza do Apóstolo Paulo
QUEM há de orar por nós, desde que Paulo partiu? Estes que são os
imitadores de Paulo.
Apenas nos consideremos dignos de tal intercessão a fim de que não
seja que ouçamos só a voz de Paulo aqui, mas que, no futuro, quando
tivermos partido, sejamos também contados dignos de ver o lutador de
Cristo. Ou, antes, se o ouvirmos aqui. certamente o veremos no outro
mundo, se não perto dele, ainda o veremos com certeza, brilhando perto do
trono do Rei. Onde os querubins cantam a glória, onde voam os serafins, lá
veremos Paulo, com Pedro, e como chefe e líder do coro dos santos, e
desfrutaremos seu amor generoso. Pois se quando estava aqui ele amava
tanto os homens, que, tendo a escolha de partir e estar com Cristo,
escolheu ficar aqui, muito mais ali ele mostrará um afeto mais caloroso.
Eu amo Roma até por isso, embora tenha-se de fato outra base para
louvá-la, por sua grandeza, antigüidade, beleza, população numerosa,
poder, riqueza e sucessos na guerra. Mas deixei passar tudo, e a estimo
abençoada por conta disto: que em sua vida ele lhes escreveu, amou-os
tanto, falou com eles enquanto estava conosco e sua vida chegou a um fim
ali. Portanto, a cidade é mais notável sob este aspecto do que sob todos os
outros juntos. E como corpo grande e forte, tem como dois olhos brilhando
os corpos desses santos. O céu não é tão luminoso, quando o sol envia
seus raios, como é a cidade de Roma enviando estas duas luzes a todas as
partes do mundo. Daquele lugar Paulo será tomado, como também Pedro.
Apenas considere e estremeça com o pensamento de que visão Roma verá,
quando Paulo surgir de repente daquele depósito, junto com Pedro, e for
elevado para o encontro com o Senhor. Que rosa Roma enviará para Cristo!
Que duas coroas a cidade terá! Com que correntes douradas ela será
cingida! Que fundações possuem! Portanto, eu admiro a cidade, não pelo
muito ouro, nem pelas colunas, nem por outro aparato ali encontrado, mas
por estes pilares da Igreja.
O que seria se me fosse dado lançar-me em volta do corpo de Paulo,
ser cravado ao túmulo e ver o pó daquele corpo que "supria o que estava
faltando" de Cristo, que trazia "as marcas", que semeou o Evangelho em
todos os lugares, sim, o pó daquele corpo pelo qual ele andou por todos os
lugares! O pó daquele corpo pelo qual Cristo falou e a luz brilhou mais
luminosa que um raio, e a voz saiu (mais terrível que um trovão para os
demônios!), pelo qual ele articulou aquela voz abençoada, dizendo: "Eu
mesmo poderia desejar ser amaldiçoado, por meus irmãos", com a qual ele
falou: "Perante reis, eu não me envergonhei", com a qual viremos a
conhecer Paulo, com a qual também viremos a conhecer o Mestre de Paulo.
Não nos é tão terrível o trovão, como foi essa voz aos demônios! Pois se eles
estremeciam ao ver as roupas dele, muito mais estremeciam diante de sua
voz. Esta voz os levou cativos, limpou o mundo, pôs um basta às doenças,
expulsou vícios, elevou a verdade bem alto, fez Cristo cavalgar sobre ela e
em todos os lugares saiu com ele; e como de querubim era a voz de Paulo,
pois assim como o querubim estava assentado sobre esses poderes, assim
ele estava na língua de Paulo. Porque tinha se tornado merecedor de
receber Cristo falando somente as coisas que eram aceitáveis a Cristo, e
voando como serafim a alturas indizíveis! Pois que mais sublime do que
aquela voz que diz: "Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida,
nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente,
nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus,
nosso Senhor!" (Rm 8.38,39)? Que remígios este discurso não parece ter a
vocês? Que olhos? Era devido a isso que ele disse: "Porque não ignoramos
os seus ardis" (2 Co 2.11). Por causa disso, os demônios não só fogem ao
ouvi-lo falar, mas até ao verem as suas roupas.
Esta é a boca, de cujo pó eu gostaria de ver, pela qual Cristo falou
coisas grandiosas e secretas e maiores do que em sua própria pessoa (pois
assim como Ele fez, assim Ele também falou maiores coisas pelos
discípulos), pela qual o Espírito deu ao mundo esses oráculos
maravilhosos. Por qual coisa boa essa boca não operou? Por ela os
demônios foram expulsos, os pecados libertados, os tiranos amordaçados,
as bocas de filósofos caladas, o mundo levado para Deus, os selvagens
persuadidos a aprender sabedoria, a ordem da terra foi alterada. As coisas
no céu também ela dispôs do modo como quis, prendendo quem seria
preso e soltando no outro mundo "de acordo com o poder que lhe foi dado".
Não só da boca, mas do coração também eu gostaria de ver o pó, o
qual o homem não erraria em chamar o coração do mundo, fonte de
bênçãos incontáveis e um começo e elemento de nossa vida. Pois o espírito
de vida foi abastecido de tudo isso, e distribuído pelos membros de Cristo,
não como sendo enviado pelas artérias, mas por livre escolha de boas
ações. Esse coração era tão grande quanto a abranger cidades, povos e
nações inteiras. "Pois o meu coração", diz ele, 'está aumentado". Contudo,
até um coração tão grande assim, a caridade que o aumentou muitas vezes
o deixou apertado e oprimido. Pois ele diz: "Porque, em muita tributação e
angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas" (2 Co 2.4). Eu
desejaria ver esse coração mesmo depois de sua decomposição, que ardia
por todo aquele que estava perdido, que sofria dores de parto uma segunda
vez pelos filhos que tinham provado o aborto, que via a Deus ("pois os
puros de coração", diz ele, "verão a Deus"), que se tornou um sacrifício
("pois o sacrifício para Deus é um coração contrito"), que era mais sublime
que os céus, que era mais largo que o mundo, que era mais brilhante que
os raios do sol, que era mais quente que o fogo, que era mais forte que o
diamante, que enviou rios ("pois rios", diz ele, "de água viva fluirão do seu
ventre"), nos quais estava uma fonte que brota e dá de beber, não à face da
terra, mas às almas dos homens, dos quais não só rios, más até fontes de
lágrimas vertiam dia e noite, que viviam a vida nova, não esta nossa
(porque "eu vivo", diz ele, "ainda que não eu, mas Cristo vive cm mim",
assim o coração de Paulo era o seu coração, uma tábua do Espírito Santo e
um livro da graça); que tremia pelos pecados dos outros (pois "eu temo", diz
ele, "que por algum meio eu vos tenha labutado em vão; para que como a
serpente iludiu Eva; temendo que quando eu vier não vos ache como eu
quereria"); o qual temeu por si mesmo c também estava confiante (porque
eu temo, diz ele, "para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de
alguma maneira a ficar reprovado", 1 Co 9.27). E, "estou certo de que nem
[...] os anjos, [...] nem as potestades [...! nos poderá separar" (Rm 8.38,39);
que foi contado digno de amar a Cristo como nenhum outro homem o
amou; que menosprezou a morte e o inferno, não obstante ficou
quebrantado pelas lágrimas de irmãos (pois ele diz: "Que fazeis vós,
chorando e magoando-me o coração?", At 21.13); que sofria com paciência,
ainda que não podia suportar estar ausente dos tessalonicenses pelo
espaço de uma hora!
Anseio ver o pó das mãos que estavam em correntes, por cuja
imposição o Espírito foi concedido, através das quais os escritos divinos
chegaram até nós, pois: "Vede com que grandes letras vos escrevi por
minha mão" (Gl 6.11), e, novamente: "Saudação da minha própria mão, de
mim, Paulo" (2 Ts 3-17); dessas mãos à vista das quais a serpente "caiu no
fogo".
Almejo ver o pó dos olhos que ficaram cegos gloriosamente, que
recuperaram a visão para a salvação do mundo; que até no corpo foram
contados dignos de ver a Cristo, que viu coisas terrestres, embora não as
visse, que viu as coisas que não se vêem, que não viu sono, que estavam
alertas à meia-noite, que não foram afetados como os nossos olhos o são.
Também veria o pó dos pés que percorreram o mundo e não se
cansaram, que estavam presos no tronco quando a prisão foi sacudida, que
passaram por regiões habitadas ou despovoadas, que caminharam em
tantas jornadas.
E por que preciso falar dos membros? Eu veria o túmulo onde a
armadura da justiça foi posta, as armas da luz, os membros que agora
vivem, mas que em vida foram mortificados; e em todos os membros de
quem Cristo vivia, que estavam crucificados para o mundo, que eram
membros de Cristo, que eram revestidos em Cristo, eram templo do
Espírito, edifício santo, "unidos no Espírito", cravados ao temor de Deus,
que tinham as marcas de Cristo. Este corpo é um muro para aquela cidade,
que é mais segura que todas as torres e que milhares de ameias. E com ele
está o túmulo de Pedro. Ele o honrou enquanto vivia. Ele "subiu para ver
Pedro" e, então, mesmo quando faleceu, a graça o permitiu ficar com ele.
Eu veria o leão espiritual. Assim como o leão respira fogo sobre
bandos de raposas, assim ele se arrojou sobre o clã de demônios e filósofos,
e como o estouro de um raio foram derrotadas as hostes do Diabo. Pois ele
nem mesmo veio para dispor a batalha em ordem contra si, visto que ele
temeu tanto e tremeu diante dEle, como se visse sua sombra e ouvisse sua
voz, ele fugiu até certa distância. E assim livrou de si o fornicador, embora
a certa distância, e outra vez o arrebatou das suas mãos; e assim outros
também, para que fossem ensinados a "não blasfemar". E considerem como
Ele enviou seus próprios seguidores contra ele, despertando-os, provendo-
os. E certa vez ele diz aos efésios: "Não temos que lutar contra carne e
sangue, mas. sim, contra os principados, contra as potestades" (Ef 6.12).
Então ele também põe nosso prêmio nas regiões celestiais. Pois não luta-
mos pelas coisas da terra, diz ele, mas pelo céu e as coisas dos céus, E
para os outros, ele diz: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?
Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1 Co 6.3).
Sejamos nobres, pondo tudo isso no coração; pois Paulo era homem,
participante da mesma natureza conosco e tendo tudo o mais em comum
conosco. Mas pelo fato de ter mostrado tão grande amor por Cristo, ele foi
acima dos céus e ficou com os anjos. E assim também se nós nos
despertarmos um pouco e nos inflamarmos nesse fogo santo, poderemos
emular esse homem santo. Fosse isso impossível, ele nunca teria bradado a
plenos pulmões e dito: "Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo"
(1 Co 11.1). Não nos coloquemos tão somente a admirá-lo, ou fiquemos
apenas impressionados com ele, mas o imitemos para que também nós,
quando partirmos, sejamos contados dignos de ver e compartilhar a glória
indescritível, a qual Deus conceda que todos a alcancemos pela graça e
amor para com o homem de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem e com
quem seja a glória ao Pai, com o Espírito Santo, agora e eternamente.
Amém.
Agostinho:
As Dez Virgens
AGOSTINHO i um dos maiores nomes na história da Igreja cristã. Ele
era um tição arrancado do fogo, como o próprio Paulo, poderoso troféu do
Espírito Santo. Nasceu em Tagasta, África (atual Souk-Ahras, Argélia), em
13 de novembro de 354, e morreu em Hipona, África, em 28 de agosto de
430. Seu pai era pagão, mas sua mãe, Mônica, era cristã de maravilhosa
beleza de caráter e profundidade de fé. Quando jovem, Agostinho foi
treinado para a carreira da retórica. Ele viveu em pecado com uma moça
que lhe deu um filho, a quem era profundamente dedicado, dando-lhe o
nome de Adeodato. "dado por Deus". Durante esses anos de vida licenciosa,
sua mãe nunca deixou de orar e se esforçar pela conversão dele. Foi a ela
que o bispo de Tagasta fez a célebre observação, que tem consolado tantas
mães ansiosas, que "um filho de tantas lágrimas não pode ser perdido'.
Quando seguia sua profissão de retórica em Milão, Agostinho pôs-se
sob a influência de Ambrósio, bispo de Milão, e foi levado à vida cristã. Mas
ele estava tão enredado na sensualidade, que se esquivava de sacrifício que
envolvesse uma confissão de fé. Depois de intensas lutas espirituais,
descritas graficamente na sua obra Confissões, Agostinho finalmente achou
Cristo e a paz. Em 396, foi feito bispo da sede episcopal de Hipona, na
África. Daí em diante, tornou-se uma das grandes figuras da Igreja
daqueles tempos, na verdade, de todos os tempos. Sua mente poderosa
criou uma série de livros, sendo o maior deles A Cidade de Deus, obra vasta
na qual ele procura vindicar o Cristianismo e concebe a Igreja como uma
ordem nova e divina que surge das ruínas do Império Romano. Engajou-se
em muitas controvérsias, sendo a mais importante a controvérsia com
Pelágio e os pelagianos. Contra Pelágio, que afirmava ser o pecado de Adão
puramente pessoal, e afetava só a ele, Agostinho defendeu a doutrina do
pecado original, que os homens herdam de Adão uma natureza pecadora e.
assim, estão sob condenação. Agostinho é aclamado por todas as escolas
da Igreja Crista, e tanto católicos quanto protestantes o consideram, ao
lado do apóstolo Paulo, como o grande mestre em relação ao significado do
pecado e ao passado da natureza humana.
SEU sermão sobre "As Dez Virgens" é um interessante tratado de um
dos grandes temas de púlpito: a Segundo Vinda de Cristo. Especialmente
belas são as palavras finais: "As nossas lâmpadas alumiam entre os ventos
e as tentações desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime
fortemente, que o vento da tentação aumente o fogo, em vez de apagá-lo".
As Dez Virgens
Então, o Reino dos céus será semelhante a dez virgens..." (Mt 25-1)
VOCÊS que estavam presentes ontem se lembram de minha
promessa, a qual, com a ajuda do Senhor, será cumprida hoje, não
somente a vocês, mas aos muitos outros que também se reuniram aqui.
Não é questão fácil dizer quem são as dez virgens, cinco das quais são
sábias e as outras cinco, tolas. Não obstante, de acordo com o contexto
desta passagem a qual desejei que fosse lida hoje novamente a vocês, ama-
dos, não penso, até onde o Senhor me conceder entendimento, que esta
parábola ou similitude relacione-se somente com essas mulheres. Estas,
por uma santidade peculiar e mais excelente, são chamadas virgens na
igreja, as quais, por um termo mais habitual, também chamamos "as
religiosas"; mas, se não me engano, esta parábola se relaciona com a
totalidade da Igreja. No entanto, embora devamos entendê-la somente
acerca daquelas que são chamadas "as religiosas", não são dez? Deus
proíba que tão grande companhia de virgens seja reduzida a tão pequeno
número! Porém, talvez alguém diga: "Mas, e se embora sejam tantas em
profissão exterior, contudo, na verdade sejam tão poucas, que escassas dez
podem ser encontradas!" Não é assim. Pois se Ele tivesse querido dizer que
as virgens boas só deveriam ser entendidas pelas dez. Ele não teria
representado cinco tolas entre elas. Se este é o número das virgens que são
chamadas, por que as portas são fechadas contra as cinco?
Entendamos, amados irmãos, que esta parábola se relaciona com
todos nós, isto é, com toda a Igreja, não somente com o clero de quem
falamos ontem; nem somente com o laicato, mas com todos em geral.
Então, por que as virgens são dois grupos de cinco? Estas virgens são
todas as almas cristãs. Mas para que eu possa lhes dizer o que pela
inspiração do Senhor penso, não são almas de todo tipo, mas as almas que
têm fé e parecem ter boas obras na Igreja de Deus; e, não obstante, até
entre elas, "cinco são sábias e cinco são tolas". Primeiro, vejamos por que
são chamadas "cinco" e por que "virgens" e, depois, consideremos o
restante. Cada alma no corpo é denotada pelo número cinco, porque faz
uso dos cinco sentidos. Não há nada de que tenhamos percepção pelo
corpo, senão pela porta de cinco dobras: a visão, a audição, o olfato, o
paladar ou o tato. Aqueles que se privam da visão ilícita, da audição ilícita,
do olfato ilícito, do paladar ilícito e do tato ilícito, por causa da sua
incorrupção, receberam o nome de virgens.
Mas se é bom abster-se dos estímulos ilícitos dos sentidos e. por
conta disso cada alma cristã recebeu o nome de virgem, por que cinco são
admitidas e cinco rejeitadas? Todas são virgens e, não obstante, cinco são
rejeitadas. Não é o bastante que sejam virgens e que tenham lâmpadas.
São virgens por causa da abstinência do uso ilícito dos sentidos; têm
lâmpadas por causa das boas obras. De cujas boas obras o Senhor disse:
"Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16).
Outra vez Ele diz aos discípulos: "Estejam cingidos os vossos lombos, e
acesas as vossas candeias" (Lc 12.35). Nos "lombos cingidos" está a
virgindade; nas "candeias acesas", as boas obras.
O título de virgindade não é normalmente aplicado aos casados;
contudo, até neles há certa virgindade de fé que produz castidade de
casados. Saibam, santos irmãos, que todo aquele que, como a tocar a alma,
tem fé incorrupta, pratica abstinência de coisas ilícitas e faz boas obras,
não é adequadamente chamado de "virgem". Toda a Igreja, que consiste em
virgens, meninos, homens casados e mulheres casadas, é por um nome
chamada de virgem. Como provamos isso? Ouçam a declaração do apóstolo
Paulo, que diz não somente às mulheres religiosas, mas a toda a Igreja: "...
porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a
um marido, a saber, a Cristo" (2 Co 11.2). E porque devemos nos precaver
contra o Diabo, o corruptor desta virgindade, o apóstolo acrescentou: "Mas
temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim
também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se
apartem da simplicidade que há em Cristo" (v. 3). Poucos têm virgindade
física; no coração, todos devemos tê-la. Se a abstinência do que é ilícito é
bom, pelo que recebeu o nome de virgindade, e as boas obras são
louváveis, que são significadas pelas lâmpadas, por que cinco são
admitidas e cinco rejeitadas? Se há uma virgem e uma que leva lâmpada,
que contudo não é admitida, onde ela se verá, que nem preserva a
virgindade das coisas ilícitas e que nem desejando ter boas obras anda em
trevas?
Destes, meus irmãos, sim, destes vamos tratar. Aquele que não vê o
que é mau, aquele que não ouve o que é mau, aquele que desvia seu olfato
dos fumos ilícitos e seu paladar da comida ilícita dos sacrifícios, aquele que
recusa o abraço da esposa de outro homem, reparte o pão com os famintos,
traz o estranho à sua casa, veste os desnudos, reconcilia os litigiosos, visita
os doentes, sepulta os mortos; ele com certeza é uma virgem, ele com
certeza tem lâmpadas. O que mais buscamos? Algo, contudo, ainda busco.
O santo Evangelho me colocou nesta busca. Está escrito que até entre
estas virgens que levam lâmpadas, algumas são sábias e algumas tolas.
Como vemos isso? Como fazemos distinção? Através do óleo. Alguma coisa
grande, alguma coisa sumamente grande significa este óleo. Vocês acham
que não é o amor? Isto dizemos à medida que investigamos o que é; não
nos aventuramos a julgamento precipitado. Eu lhes direi por que o amor
parece estar significado pelo óleo. O apóstolo diz: "... e eu vos mostrarei um
caminho ainda mais excelente. Ainda que eu falasse as línguas dos homens
e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o
sino que tine" (1 Co 12.31b; 13-1). A caridade é o caminho acima dos
demais, a qual com boa razão está significada pelo óleo, pois o óleo
mantém-se acima de todos os líquidos. Coloque água, derrame óleo, e este
se manterá sobre a água. Coloque óleo, derrame água, e o óleo ainda assim
permanecerá sobre a água. Se você mantiver a ordem habitual, ele ficará
no ponto mais alto; se você mudar a ordem, ele continuará no ponto mais
alto. "A caridade nunca falha".
Tratemos agora das cinco virgens sábias e das cinco virgens tolas.
Elas desejavam ir ao encontro do Esposo. Qual é o significado de "sair ao
encontro do Esposo?" Ir com o coração, estar esperando por sua vinda. Mas
Ele tarda. "E, tardando o esposo, tosquenejaram todas". O que significa
"todas"? Tanto as tolas quanto as sábias "tosquenejaram todas e
adormeceram". Este sono é bom? O que quer dizer este sono? É que com a
tardança do Esposo, "por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se
esfriará" (Mt 24.12)? Devemos entender este sono assim? Não gosto disso.
Eu lhes direi por quê. Porque entre elas estão as virgens sábias; e,
certamente, quando o Senhor disse: "E, por se multiplicar a iniqüidade, o
amor de muitos se esfriará", Ele continuou, dizendo: "Mas aquele que
perseverar até ao fim será salvo" (v. 13). Onde estariam essas virgens
sábias? Elas não estão entre aquelas que vão **perseverar até ao fim"? Elas
não seriam admitidas entre todas, irmãos, por nenhuma outra razão senão
porque elas perseverariam até o fim. Nenhuma frieza de amor se insinuou
sobre elas; nelas o amor não esfriou, mas conserva seu brilho ainda até o
fim. E porque brilham até o fim, as portas do Esposo estão abertas para
elas. É dito a elas que entrem, como àquele servo excelente: "Entra no gozo
do teu senhor" (Mt 25-21). Qual é o significado de "todas dormiram"? Há
outro sono do qual ninguém escapa. Lembram-se da declaração do
apóstolo: "Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que
já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm
esperança" (1 Ts 4.13), ou seja, concernente àqueles que estão mortos? Por
que eles são chamados 'os que já dormem", mas estão no seu próprio dia?
Então, "todas dormiram". Vocês acham que pelo fato de alguém ser sábio,
não morre? Seja a virgem tola ou a sábia, todas sofrem o sono de morte
igualmente.
Mas os homens dizem continuamente para si mesmos: "Eis que o Dia
do Julgamento está vindo. Tantos males estão acontecendo, tantas
tribulações se multiplicam; vejam, todas as coisas que os profetas disseram
estão quase cumpridas. O Dia do Julgamento já está às portas". Aqueles
que falam assim, em fé, superam astuciosamente tais pensamentos para
"encontrarem-se com o Esposo". Mas, vejam! guerra sobre guerra,
tributação sobre tribulação, terremoto sobre terremoto, fome sobre fome,
nação contra nação e o Esposo ainda não veio. Enquanto se espera que Ele
venha, todos os que dizem: "Vejam, Ele está vindo, e o Dia do Julgamento
nos encontrará aqui", dormem. Enquanto dizem isto, continuam a dormir.
Que cada um de nós tenha em vista este seu sono e persevere até ao seu
sono de amor; que o sono o ache esperando assim. Pois, suponha que ele
dormiu. "Aquele que dorme não ressuscitará?" Então, "todas dormiram".
Tanto as sábias quanto as virgens tolas, na parábola, todas dormiram.
"Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor". O que é "à meia-noite"?
Quando não há nenhuma expectativa, absolutamente nenhuma convicção.
A noite indica ignorância. O indivíduo faz um cálculo consigo mesmo:
"Vejam, tantos anos se passaram desde Adão, e os seis mil anos estão se
completando, e então imediatamente de acordo com a computação de
certos expositores, o Dia do Julgamento virá". Contudo, estes cálculos vêm
e passam, e ainda a chegada do Esposo tarda, e as virgens que haviam ido
encontrá-lo, dormem. E, vejam, quando Ele não é esperado, quando os
homens dizem: "Os seis mil anos foram esperados, e, passaram-se. Como
saberemos quando Ele virá?" Ele virá à meia-noite. O que significa "virá à
meia-noite"? Virá quando vocês não estiverem cientes. Por que Ele virá
quando vocês não estiverem cientes? Ouçam o próprio Senhor: "Não vos
pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu
próprio poder" (At 1.7). "O Dia do Senhor", diz o apóstolo, "virá como o
ladrão de noite" (1 Ts 5-2). Portanto, vigiem de noite para que não sejam
surpreendidos pelo ladrão. Pois o sono da morte — quer vocês durmam ou
não — virá.
Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor" (Mt 25.6). Que clamor foi
este. senão acerca do qual o apóstolo diz: "Num abrir e fechar de olhos,
ante a última trombeta"? "... porque a trombeta soará, e os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1 Co 15-52). E
quando o clamor foi dado à meia-noite: "Aí vem o esposo!", o que se segue?
"Então, todas aquelas virgens se levantaram". O que significa todas "elas"
se levantaram? "Vem a hora", disse o próprio Senhor, "em que todos os que
estão nos sepulcros ouvirão a sua voz [...1 [e] sairão" (Jo 5.28,29). Então,
ante a última trombeta. todos se levantarão. "As loucas, tomando as suas
lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em
suas vasilhas, com as suas lâmpadas" (Mt 25.3,4). Qual é o significado de
"não levaram óleo em suas vasilhas"? O que quer dizer "em suas vasilhas"?
Em seus corações. O apóstolo diz: "Nossa glória é esta, o testemunho de
nossa consciência". Há o óleo, o óleo precioso; este óleo é proveniente do
dom de Deus. Os homens podem pôr óleo em suas vasilhas, mas não
podem criar a azeitona. Vejam, eu tenho óleo, mas vocês criaram o óleo? É
proveniente do dom de Deus. Vocês têm óleo. Levem-no consigo. O que é
"levá-lo convosco"? Tenham-no dentro de si para agradar a Deus.
Essas virgens tolas que não levaram óleo consigo desejam agradar os
homens mediante essa abstinência, por meio da qual são chamadas
virgens, e mediante suas boas obras, quando parecem levar lâmpadas. E se
desejam agradar os homens, e por conta disso fazem todas essas obras
louváveis, elas não levam óleo consigo. Se vocês levam-no consigo, levam-
no no interior onde Deus vê; ali levam o testemunho de sua consciência.
Pois aquele que anda para ganhar o testemunho de outrem não leva óleo
consigo. Se vocês se privam das coisas ilícitas e fazem boas obras para
serem louvados pelos homens, não há óleo interior. E assim, quando os
homens começam a deixar seus louvores, as lâmpadas falham. Observem,
amados, antes que essas virgens dormissem, não está escrito que as
lâmpadas se apagavam. As lâmpadas das virgens sábias queimavam com
um óleo interior, com a garantia de uma boa consciência, com uma glória
interior, com uma caridade interna. Contudo, as lâmpadas das virgens
tolas também queimavam. Por que queimavam? Porque ainda não havia
falta dos louvores dos homens. Mas depois que se levantaram, na
ressurreição dos mortos, elas começaram a preparar as lâmpadas, ou seja,
começaram a se preparar para prestar contas a Deus das suas obras. E
porque não há ninguém a louvar, cada um está inteiramente engajado em
sua própria causa, não há ninguém que não pense em si mesmo, então não
havia ninguém para lhes vender óleo; assim as lâmpadas começaram a
falhar, e as tolas correram até as cinco sábias e disseram: "Dai-nos do
vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam" (Mt 25.8). Elas
procuravam o que se acostumaram a buscar, para brilhar com o óleo de
outrem, para andar segundo os louvores de outrem.
Porém, as sábias disseram: "Não seja caso que nos falte a nós e a vós;
ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós" (v. 9). Esta não era a
resposta daqueles que dão conselho, mas daqueles que escarnecem. Por
que elas escarnecem? Porque eram sábias, porque a sabedoria estava
nelas. Porque elas não eram sábias de si mesmas; mas essa sabedoria
estava nelas, acerca da qual está escrito em certo livro, ela dirá àqueles que
a menosprezaram, quando eles caíram nos males que ela as prenunciou:
"Eu rirei em sua destruição". O que significa, então, esta zombaria das
virgens sábias diante das tolas?
"Ide. antes, aos que o vendem e comprai-o para vós", vocês que nunca
viveram bem, mas pelo fato de os homens os louvarem, eles lhes vendiam
óleo. O que significa "lhes vendiam óleo"? Vendiam louvores, elogios. Quem
vende elogios, senão os lisonjeiros? O quanto teria sido melhor vocês não
terem aquiescido com os lisonjeiros e terem levado óleo consigo, e em prol
de uma boa consciência terem feito todas as boas obras. Então vocês
podem dizer: "O justo me corrigirá em misericórdia e me reprovará, mas o
óleo do pecador não engordará minha cabeça". Antes, ele diz, que o justo
me corrija, que o justo me reprove, que o justo me esbofeteie, que o óleo do
pecador engorde minha cabeça. O que é o óleo do pecador, a não ser as
blandícias do lisonjeiro?
Então, "ide, antes, aos que o vendem"; isto vocês se acostumaram a
fazer. Mas nós não lhes daremos. Por quê? 'Não seja caso que nos falte a
nós e a vós". O que significa 'não seja caso que nos falte"? Isto não foi
falado em falta de esperança, mas em humildade sóbria e piedosa. Pois
embora o homem bom tenha uma boa consciência, como ele sabe como
Deus pode julgar quem não é enganado por ninguém? Ele tem uma boa
consciência, nenhum pecado concebido no coração o solicita, contudo,
ainda que sua consciência seja boa, por causa dos pecados diários da vida
humana, ele disse a Deus: "Perdoa-nos as nossas dívidas"; considerando
que ele fez o que vem a seguir, "assim como nós perdoamos aos nossos
devedores". Ele repartiu o pão aos famintos de coração, de coração ele
vestiu os desnudos; daquele óleo interior ele fez boas obras, e contudo
nesse julgamento até sua boa consciência treme.
Vejam então o que significa "dai-nos do vosso azeite". Foi dito a cias:
"Ide, antes, aos que o vendem". Considerando que vocês estavam
acostumados a viver segundo os louvores dos homens, vocês não levam
óleo consigo; mas não lhes podemos dar nada, para que "não seja caso que
nos falte a nós e a vós". Pois dificilmente julgamos a nós mesmos, quanto
menos julgaremos vocês? O que significa "dificilmente julgamos a nós
mesmos"? Porque "quando o Rei justo se assentar no trono, quem se
gloriará que o seu coração é puro?" Pode ser que você não descubra nada
em sua própria consciência. Mas aquele que vê melhor, cujo olhar divino
penetra as coisas mais profundas, descobre algo; Ele vê que pode ser algo,
Ele descobre algo. Quanto é melhor você lhe dizer: "Não entres agora em
julgamento com o teu servo", quanto melhor: "Perdoa-nos as nossas
dívidas". Porque também lhe será dito por causa dessas tochas, por causa
dessas lâmpadas, "tive fome, e deste-me de comer". E então? As virgens
tolas também não fizeram o mesmo? Sim, mas elas não o fizeram diante
dEle. Como o fizeram? Conforme, que Deus nos livre, Ele disse: "Guardai-
vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles;
aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. [...] E,
quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar
em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos
homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão" (Mt 6.1,5).
Elas compraram óleo, deram o preço, não foram defraudadas pelos
louvores dos homens: buscaram os louvores dos homens e os tiveram.
Estes louvores dos homens não as ajudaram no Dia do Julgamento. Mas as
outras virgens, como o fizeram? "Assim resplandeça a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai,
que está nos céus" (Mt 5.16). Ele não disse: 'podem glorificar você". Porque
você tem óleo de si mesmo. Orgulhe-se e diga: Eu o tenho; mas tenho o
óleo dEle, "e que tens tu que não tenhas recebido"? Assim desse modo agiu
uma, e de outro, a outra.
Não é de se admirar que "tendo elas ido comprá-lo", enquanto
buscavam por pessoas por quem serem louvadas, não acharam nenhuma;
enquanto estão buscando por pessoas por quem serem consoladas, não
acham nenhuma; que a porta é aberta e "o esposo chega"? A Noiva, a
Igreja, é glorificada com Cristo, para que os vários membros se reúnam no
seu todo. "... e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas,
e fechou-se a porta" (Mt 25.10). Então as virgens tolas vieram cm seguida;
mas tinham comprado ou encontrado óleo de quem pudessem comprar?
Portanto, acharam as portas fechadas; passaram a bater, mas era muito
tarde.
É dito, e é verdade, não se trata de declaração enganosa: "Batei, e
abrir-se-vos-á"; mas agora quando é o tempo da misericórdia e não quando
é o tempo do julgamento. Pois esses tempos não podem ser confundidos,
visto que a Igreja canta ao seu Senhor da "misericórdia e julgamento". É o
tempo da misericórdia; arrependam-se. Vocês podem se arrepender no
tempo do julgamento? Então, vocês serão como essas virgens contra quem
a porta estava fechada. "Senhor, senhor. abre-nos a porta!" O quê! Elas não
se arrependeram por não terem levado óleo consigo? Sim, mas de que
proveito foi o seu último arrependimento, quando a verdadeira sabedoria
escarneceu delas? Portanto, 'a porta estava fechada". E o que lhes foi dito?
"Eu não vos conheço". Ele não as conhecia, aquEle que conhece todas as
coisas? O que Ele quer dizer com "eu não vos conheço"? Eu as repilo, Eu
rejeito vocês. Segundo meu conhecimento, Eu não as reconheço; meu
conhecimento não conhece vícios. Agora, isto é coisa maravilhosa, não
conhece vícios e julga os vícios. Não os conhece na prática; julga
reprovando-os. Assim, "não vos conheço".
As cinco virgens sábias vieram e "entraram". Quantos de vocês, meus
irmãos, estão na profissão do nome de Cristo! Que haja entre vocês as
cinco sábias, mas que não sejam somente cinco. Que haja entre vocês as
cinco sábias que pertencem a esta sabedoria do número cinco. Pois a hora
virá, e vem quando não sabemos. Virá à meia-noite; vigiem. Assim o
Evangelho conclui: "Vigiai, pois, porque não sabeis o Dia nem a hora" (Mt
25.13). Mas se todos dormirmos, como vigiaremos? Vigiem com o coração,
vigiem com fé, vigiem com esperança, vigiem com amor, vigiem com boas
obras; e então, quando dormirem no corpo, virá o tempo em que vocês
ressuscitarão. E quando vocês tiverem ressuscitado, preparem as
lâmpadas. Então não se apagarão mais, serão renovadas com o óleo
interno da consciência; o Noivo os abraçará no seu abraço espiritual, Ele os
trará à sua casa, onde vocês nunca dormirão, onde sua lâmpada nunca se
apagará. Porém, no momento estamos no trabalho, e as nossas lâmpadas
alumiam entre os ventos e as tentações desta vida. Mas deixemos que
nossa chama queime fortemente, que o vento da tentação aumente o fogo,
em vez de apagá-lo.
Venerável Bede:
O Encontro da Misericórdia e da Justiça
O VENERÁVEL BEDE NASCEU EM 672 e morreu em 735. Ele passou a
maior parte da vida no mosteiro em Jarrow-on-Tyne. Sua obra mais notável
foi a História Eclesiástica da Nação Inglesa. Suas últimas horas foram
gastas terminando a tradução para o vernáculo do Evangelho de João.
Infelizmente, esta obra se perdeu.
Há imensa quantidade de sermões da Idade Média, mas poucos estão
disponíveis em inglês. Os pregadores medievais não tinham dúvidas sobre
o céu, o inferno, a alma e a obra redentora de Jesus Cristo. Diante da
incerteza de muitos de nossos sermões modernos, é reconfortante estudar
um sermão da Idade Média.
Como veremos no sermão pregado por Bede, havia muito da arte dos
contadores de histórias nos sermões deste antigo pregador.
O Encontro da Misericórdia
e da Justiça
"A misericórdia c a verdade se encontraram...” (Sl 85.10)
HAVIA certo Pai de família, um Rei poderoso, que tinha quatro filhas.
Uma se chamava Misericórdia; a segunda, Verdade; a terceira. Justiça; e a
quarta, Paz; de quem se diz: "A Misericórdia e a Verdade se encontraram; a
Justiça e a Paz se beijaram'1. Ele tinha também certo Filho muito sábio, a
quem ninguém se comparava em sabedoria. Tinha igualmente certo criado
a quem havia exaltado e enriquecido com grande honra; pois Ele o fizera
segundo sua própria semelhança e similitude, e isso sem mérito precedente
por parte do criado. Mas o Senhor, como é o costume com tais mestres
sábios, desejava prudentemente explorar e conhecer o caráter e a fé do seu
criado, se este lhe era ou não digno de confiança. Assim Ele deu-lhe uma
ordem fácil, e disse: "Se tu fizeres o que eu te digo, eu te exaltarei a maiores
honras; se não, tu perecerás miseravelmente".
O criado ouviu a ordem, e sem demora, a infringiu. Por que preciso
dizer mais? Por que preciso retardá-lo com minhas palavras e lágrimas?
Este criado orgulhoso, obstinado, altivo e inchado de vaidade, buscou uma
desculpa para sua transgressão e colocou toda a culpa no seu Senhor. Pois
quando ele disse: "A mulher que me deste para estar comigo, me enganou",
ele jogou toda a culpa no seu Criador. O seu Senhor, mais bravo por tal
conduta contumaz do que pela transgressão da ordem, chamou quatro dos
mais cruéis executores e ordenou que um deles o lançasse na prisão, que
outro o estrangulasse, que o terceiro o decapitasse e que o quarto o
afligisse com tormentos atrozes. Tão logo se oferecer ocasião, eu lhes darei
o nome de cada um dos atormentadores.
Esses torturadores, estudando como pôr em execução a própria
crueldade, levaram o miserável homem e começaram a afligi-lo com toda
sorte de castigos. Mas uma das filhas do Rei. por nome Misericórdia,
quando ouviu falar sobre este castigo do criado, correu apressadamente à
prisão. Olhando para dentro e vendo o homem entregue aos
atormentadores, não pôde deixar de ter compaixão dele, porque é sua
característica ter misericórdia. Ela rasgou as roupas, bateu palmas e
deixou o cabelo cair solto em torno do pescoço. Chorando e gritando, ela
correu ao Pai e, ajoelhando-se diante dos seus pés, começou a dizer com
voz séria e dolorosa: "Meu Pai amado, não sou eu tua filha Misericórdia? E
tu não és chamado misericordioso? Se tu és misericordioso, tenha
misericórdia de teu criado. Se tu não tens misericórdia dele, tu não podes
ser chamado de misericordioso; e se tu não és misericordioso, tu não podes
ter a mim, Misericórdia, como tua filha". Enquanto ela argumentava com o
Pai, sua irmã, Verdade veio e perguntou por que Misericórdia estava
chorando. "Sua irmã, Misericórdia", respondeu o Pai, "deseja que eu tenha
piedade daquele transgressor orgulhoso, cujo castigo designei". A Verdade,
quando ouviu isto, ficou muito irada e olhou duramente para o Pai. "Não
sou eu", disse ela, "tua filha Verdade? Tu não és chamado verdadeiro? Não
é verdade que tu estabeleceste uma punição para ele e o ameaçaste com a
morte por tormentos? Se tu és verdadeiro, tu seguirás o que é verdadeiro:
se tu não o seguires, tu não podes ser verdadeiro; se tu não és verdadeiro,
tu não podes ter a mim, Verdade, como tua filha". Neste ponto, vocês
percebem, "a Misericórdia e a Verdade se encontraram". A terceira irmã,
isto é, a Justiça, ouvindo esta discussão, contenda, disputa e pleito, e
convocada pelo clamor, começou a inquirir a causa da Verdade. E a
Verdade, que só podia falar o que era verdadeiro, disse: "Esta nossa irmã, a
Misericórdia, se é que ela deve ser chamada de irmã, visto que não
concorda conosco, deseja que nosso Pai tenha piedade daquele
transgressor orgulhoso". Então a Justiça, com um semblante bravo e
meditando num desgosto que ela não tinha esperado, disse ao Pai: "Não
sou eu a Justiça, tua filha? Tu não és chamado justo? Se tu és justo, tu
exercerás justiça no transgressor; se tu não exerceres essa justiça, tu não
podes ser justo; se tu não és justo, tu não podes ter a mim, Justiça, como
tua filha". Então aqui estavam, de um lado, a Verdade e a Justiça, e de
outro, a Misericórdia. A Paz fugiu para um país muito distante. Pois onde
há discussão e contenda, não há paz; e quanto maior a contenda, para
mais longe a Paz é afugentada.
Então, estando uma de suas filhas perdida, e as outras três em
calorosa discussão, o Rei achou extremamente difícil encontrar uma
maneira de determinar o que deveria fazer, ou para qual lado deveria
inclinar-se. Pois se desse ouvidos à Misericórdia, Ele ofenderia a Verdade e
a Justiça; se desse ouvidos à Verdade e à Justiça, não poderia ter
Misericórdia por sua filha; e, não obstante, fazia-se necessário que Ele
fosse misericordioso e justo, pacífico e verdadeiro. Havia grande
necessidade de um bom conselho. Portanto, o Pai chamou seu Filho sábio,
e o consultou sobre o assunto. Disse o Filho: "Dai-me, meu Pai, este
presente assunto para conduzir, e eu castigarei o transgressor para ti, e
trarei em paz para ti as tuas quatro filhas". "Estas são grandes
promessas'1, respondeu o Pai, "se a ação concordar com a palavra. Se tu
podes fazer o que dizes, eu agirei como tu me exortares". Tendo recebido o
mandato real, o Filho levou consigo sua irmã Misericórdia. "Pulando
montanhas, ignorando colinas", eles chegaram à prisão, e "olhando pelas
janelas, olhando pelas grades", viu o criado encarcerado, barrado da vida
presente, devorado pela aflição, e "desde a planta do pé até ao alto da
cabeça não havia nele nada são". Fie o viu no poder da morte, porque por
ele a morte entrou no mundo. Ele o viu devorado, porque, quando um
homem está morto, ele é comido pelos vermes. E porque agora tenho a
oportunidade de lhes falar, vocês saberão os nomes dos quatro
atormentadores. O primeiro, que o colocou na prisão, é a Prisão da vida
presente, da qual se diz: "Ai de mim, que sou constrangido a morar em
Meseque". O segundo, que o atormentou, é a Miséria do mundo, que nos
ataca com todos os tipos de dor c miséria. O terceiro, que o estava matan-
do, é a Morte, que destrói e a tudo mata; o quarto, que o estava devorando,
é o Verme... Então, o Filho, vendo o seu criado entregue a estes quatro
atormentadores, não pôde senão ter Misericórdia dele, porque a
Misericórdia era sua companheira, e irrompendo na prisão da morte,
"conquistou a morte, amarrou o homem forte, tomou os seus bens" e
distribuiu os espólios. E, "subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu
dons aos homens". Ele trouxe de volta o criado ao seu país, o coroou com
duplicada honra e o vestiu com uma roupa de imortalidade. Ao ver tal
coisa, Misericórdia não teve mais base de reclamação. A Verdade não
achou causa de descontentamento, porque seu Pai foi achado verdadeiro. O
criado havia pago todas as penas. A Justiça, de igual modo, não reclamou,
porque fora executada a justiça no transgressor; e, assim, "aquele que
tinha-se perdido, foi achado". A Paz, então, quando viu que suas irmãs
estavam em concórdia, voltou e se uniu a elas. E agora, vejam que "a
Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram".
Assim, pelo Mediador dos homens e anjos, o homem foi purificado e recon-
ciliado, e a centésima ovelha foi trazida de volta ao aprisco de Deus. A este
aprisco Jesus nos traz, a quem seja a honra e o poder para sempre. Amém.
Thomas á Kempis:
Tomando a Cruz
THOMAS Á KEMPIS NASCEU: EM 1381, em Kampen, na orla de Zuiderzee,
Países Baixos, e morreu no mosteiro do monte Santa Inês, em Zwolle, em
1471. Setenta anos de sua longa vida foram passados no convento
agostiniano do monte Santa Inês. Foi lá que ele produziu o imortal clássico
da vida devocional A imitação de Cristo, o qual, como escreveu o Dr.
Charles Hodge, "espalhou-se como incenso pelos corredores e nichos da
Igreja Universal".
Seu sermão "Tomando a Cruz" é um belo e eloqüente tributo a Cristo
e a cruz.
Tomando a Cruz
Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo." (Gl 6.14)
IRMÃOS amados, o bem-aventurado Paulo, o observador excelente
dos segredos divinos, declara-nos nas supracitadas palavras, que a cruz é
a maneira certa de viver bem, é o melhor ensinamento de como sofrer
adversidade, é a escada mais firme por meio da qual subimos ao céu por
seu maior sinal. É esta que conduz seus amantes ao país da luz eterna, da
paz eterna, da bem-aventurança eterna, que o mundo não pode dar, nem o
Diabo tirar. A fraqueza humana detesta o sofrimento da pobreza, desdém,
vilania, fome, fadiga, dor, necessidade, escárnio, que muitas vezes são sua
sorte, e que pesam e perturbam os homens. Mas todas estas coisas unidas
formam, por seus sofrimentos múltiplos, uma cruz saudável, ordenando
assim Deus esta dispensação para nós. Aos verdadeiros portadores da
cruz, eles abrem o portão do Reino celestial. Essa luta para eles prepara a
palma da vida; essa conquista para eles representa o diadema de glória
eterna.
Ó cruz verdadeiramente bendita de Cristo, que sustentou o Rei do
céu, e que trouxe para o mundo inteiro o gozo da salvação! Por ti os
demônios são postos em fuga; os fracos são curados; os tímidos são
fortalecidos: os pecadores são limpos; os inativos são estimulados; os
orgulhosos são humilhados; os desumanos são tocados; e os devotos são
orvalhados com lágrimas. Bem-aventurados são aqueles que diariamente
lembram a paixão de Cristo, e desejam levar a própria cruz após Cristo.
Irmãos bons e religiosos, que estão inscritos na obediência, têm, na aflição
diária de seus corpos e na resignação de suas vontades, uma cruz que em
seu aspecto exterior é pesada c amarga. Mas é interiormente cheia de
doçura, por causa da esperança de salvação eterna, e o afluxo de consolo
divino, que é prometido àqueles que são quebrantados de coração. Se eles
não a sentem imediatamente ou não a percebem, que é concedida sobre
eles passo a passo, devem contudo esperá-la com paciência e resignar-se à
vontade divina. Porque Ele sabe bem quando é o tempo de mostrar
misericórdia e qual o método de ajudar os aflitos, assim como o médico
está bem familiarizado com o ofício de curar, e o capitão do navio com a
arte de navegar. Aqueles que tomaram a cruz em seu coração têm grande
confiança e motivo de glória na cruz de Jesus Cristo. Eles não confiam nem
esperam serem salvos por méritos e obras próprias, mas pela misericórdia
de Deus e pelos méritos de Cristo Jesus, crucificado por nossos pecados,
em quem eles crêem fielmente; a quem com o coração amam, com a boca
confessam, louvam, pregam, honram e exaltam. Deus prova seus amigos
pela santa cruz, se o amam verdadeiramente ou em aparência, e se
guardam seus mandamentos perfeitamente.
Eles são provados principalmente pela tolerância às injúrias e pela
remoção das consolações internas; pela morte de amigos e pela perda de
propriedade; pelas dores de cabeça e pelos ferimentos nos membros; pela
abstinência de comida e pela aspereza das roupas; pela dureza da cama e
pela frieza dos pés; pelas longas vigílias da noite e pelas fadigas do dia; pelo
silêncio da boca e pelas reprovações dos superiores; pelos vermes que roem
e pelas línguas que depreciam. Em seus sofrimentos eles são consolados
pela meditação devota da paixão do Senhor, como muitos devotos sabem
muito bem em seu coração. E deles o provar o mel escondido na rocha, e o
óleo da misericórdia que goteja da bendita madeira da cruz santa, cujo
gosto é mui delicioso; cujo odor é mui doce; cujo toque é mui saudável;
cujo fruto é mui feliz. Ó árvore da vida verdadeiramente digna e preciosa,
plantada no meio da Igreja para o remédio da alma! Ó Jesus de Nazaré, tu
que foste crucificado por nós! Tu abriste as algemas dos pecadores;
libertaste as almas dos santos; humilhaste os altivos; quebraste o poder
dos maus; consolaste os crentes; puseste em fuga os incrédulos; livraste os
piedosos; puniste os obstinados; venceste os adversários. Tu levantaste os
que estavam caídos; puseste em liberdade os que se encontravam opri-
midos; feriste os que ferem; defendeste os inocentes; amaste os verda-
deiros; odiaste os falsos; desdenhaste os carnais; prezaste os espirituais;
recebeste os que vão a ti; escondeste os que buscam refúgio em ti. Os que
te clamam, tu os ouviste; os que te visitam, tu os alegraste; os que te
buscam, tu os ajudaste; os que choram a ti, tu os fortaleceste. Tu honraste
os que te honram; louvaste os que te louvam; amaste os que te amam;
glorificaste os que te adoram; abençoaste os que te bendizem; exaltaste os
que te exaltam. Aqueles que olham para ti, tu os oi haste; os que te beijam,
tu os beijaste; os que te abraçam, tu os abraçaste; os que te seguem, tu os
guiaste ao céu.
Ó irmão religioso, por que estás triste, e por que reclamas do peso da
cruz, em longas vigílias; em muitos jejuns; em trabalho duro c silêncio; em
obediência e rígida disciplina? — cujas coisas foram instituídas à
inspiração de Deus, pelos pais santos para teu proveito e salvação da tua
alma; a fim de que por eles tu andasses com firmeza e prudentemente, tu
que não podes te governar bem e virtuosamente. Tu pensas que sem a cruz
e sem dor tu podes entrar no Reino dos céus, quando Cristo nem poderia,
nem entraria, nem qualquer dos seus amigos e santos mais amados
ganharia dEle tal privilégio? Porque Ele disse: "Porventura, não convinha
que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória?" Tu estás
completamente equivocado em teu pensamento: tu não seguiste as pegadas
de Cristo a ti mostradas; pois Ele, pela cruz, passou deste mundo ao seu
Pai celestial. Entre os vencedores e cidadãos do Reino celestial, perguntes a
quem quiseres. como Ele veio a possuir esta glória de Deus para sempre.
Não foi pela cruz e sofrimento? Então, irmãos, tomai o doce e leve jugo do
Senhor. Abraçai com todo o afeto a cruz santa até o fim — ela floresce com
todas as virtudes; está cheia de unção celestial — para que vos conduza
sem engano, com a esperança da glória, à vida eterna.
O que mais direi? Este é o caminho, e não há outro; o caminho certo,
o caminho santo, o caminho perfeito, o caminho de Cristo, o caminho dos
justos, o caminho dos eleitos que serão salvos. Andai nele, perseverai nele,
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  • 1. E-book digitalizado por: Levita Digital Com exclusividade para: http://ebooksgospel.blogspot.com/
  • 2. GRANDES SERMÕES do MUNDO Sermões de 28 dos maiores pregadores do mundo, incluindo Agostinho, João Calvino, Martinho Lutero, Jonathan Edwards, John Wesley, Charles Finnney, Charles Spurgeon e outros CLARENCE E. MACARTNEY, Editor TRADUÇÃO DEGMAR RIBAS JÚNIOR
  • 3. Todos os direitos reservados. Copyright © 2003 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Título do original em inglês: Great Sermons of the World Hendrickson Publishers, Peabody, Massachussetts, EUA Primeira edição em inglês: 1997 Tradução: Degmar Ribas Júnior Preparação dos originais: Kleber Cruz Revisão: Alexandre Coelho Capa: Flamir Ambrósio Editoração: Olga Rocha dos Santos CDD: 250 - Sermões ISBN: 85-263-0542-5 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 1ª edição/2003
  • 4. Sumário Introdução 1. Jesus Cristo.O Sermão da Montanha 2. Profeta Isaías: Livro de Isaías, Capítulos 63 e 64 3. Apóstolo Pedro: O Sermão que Ganhou Três Mil Almas 4. Clemente de Roma: Cristo e a Igreja 5. João Crisóstomo: A Grandeza do Apóstolo Paulo 6. Agostinho: As Dez Virgens 7. Venerável Bede: O Encontro da Misericórdia e da Justiça 8. Thomas á Kempis: Tomando a Cruz 9. Martinho Lutero: Estêvão 10. João Calvino: Suportando a Perseguição 11. John Howe: As Lágrimas do Redentor 12. Robert South: O Homem Criado à Imagem de Deus 13. Jonathan Edwards:Os Mortos Bem-aventurados 14. JohnWesley: O Grande Julgamento 15. George Whitefield: Arrependimento 16. Samuel Davies: A Ressurreição Geral 17. Rowland Hill: Demonstrações Gloriosas da Graça do Evangelho 18. Robert Hall: O Missionário Cristão 19. Christmas Evans: O Triunfo do Calvário 20. Thomas Chalmers: O Poder Expulsivo de um Novo Afeto 21. Charles Grandison Finney: Mordomia 22. Thomas Guthrie: Os Pecados e as Tristezas da Cidade 23. Frederick W Robertson: Egoísmo, como Mostrado no Caráter de Balaão 24. Henry Parry Liddon: Os Primeiros Cinco Minutos depois da Morte 25. Charles Haddon Spurgeon: Poupado! 26. Phillips Brooks: A Lâmpada do Senhor 27. Francis Landey Patton: A Letra e o Espírito 28. George Campbell Morgan: O Poder do Evangelho
  • 5. Introdução CERTO OUVINTE, ENTUSIASMADO COM A PREGAÇÃO de um famoso prega- dor, perguntou-lhe se poderia ter o privilégio de mandar imprimir a pregação que acabara de ouvir. "Sim", respondeu o pregador, "contanto que você também mande imprimir o trovão". Mas isso é impossível! Podemos imprimir o registro escrito do que o pregador disse; mas não a luz dos olhos, o brilho da face, a curva que a mão descreve, a atitude do corpo, a musicalidade da voz. Quando registramos o tema, as divisões e parágrafos e até as mesmas palavras que foram ditas, não temos o pregador. Tudo o que podemos dizer de um sermão impresso é o que Jó disse acerca da majestade do Criador: "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovão do seu poder?" (Jó 26.14). Quanto maior o pregador, maior o contraste entre o registro escrito e o sermão falado. Lemos que milhares de pessoas se apinhavam para ouvir extasiadas as pregações de Whitefield e, depois, nos perguntamos o que produzia tal impressão nas pessoas, quando temos em mãos um dos sermões de Whitefield. O trovão e o raio se foram. Ler um sermão célebre é como visitar a cena de um grande acon- tecimento na história. Especialmente proveitoso para os pregadores é a leitura dos sermões feitos pelos filhos do trovão do púlpito do passado. Na qualidade da mais nobre paixão da terra, pregar é também uma grande arte. Toda a glória e fascínio do púlpito cristão surge diante de nós ao lermos as declarações dos profetas de Deus que argumentavam com homens acerca da justiça, temperança e julgamento futuros. Ao compilar este volume de sermões, vali-me de todos os períodos de pregação cristã, desde os dias dos apóstolos até o presente. Também incluí um exemplo da eloqüência do Antigo Testamento. A regra geral seguida foi selecionar os pregadores famosos dos diferentes períodos. É verdade que às vezes os maiores pregadores não eram grandes sermonários. Contudo, por mais admirável que um sermão seja, dificilmente é considerado um dos grandes sermões do mundo, a menos que tenha sido pregado por um dos grandes pregadores da época. Isto tornou minha tarefa muito mais fácil, pois ninguém questionará a categoria dos pregadores cujos sermões aparecem neste volume. Na preparação deste volume, recebi sugestões muito úteis de meu amigo e antigo instrutor, reverendo Frederick W. Loetscher, D.D., LL.D., professor de história eclesiástica do Seminário Teológico de Princeton. Clarence E. Macartney
  • 6. Jesus Cristo: O Sermão da Montanha BEM-AVENTURADOS os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. Bem-aventura- dos os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Bem- aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia. Bem- aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus. Bem- aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus. Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus. Ou vistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raça será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela. Portanto, se o teu olho direito
  • 7. te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno. Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério. Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus, nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei, nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna. Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. Ou vistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus. Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que
  • 8. pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes. Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa- nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém! Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipó- critas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareçam que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Porém tu, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará. Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos? (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.
  • 9. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despedacem. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre. E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontrem. Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda arvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz-. Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e as não cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.
  • 10. Profeta Isaías: Livro de Isaías, Capítulos 63 e 64 QUEM é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas? Este que é glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelha a tua ves- tidura? E as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo; e os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura. Porque o dia da vingança estava no meu coração, e o ano dos meus redimidos é chegado. E olhei, e não havia quem me ajudasse; e espantei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve. E pisei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e a sua força derribei por terra. As benignidades do Senhor mencionarei e os muitos louvores do Senhor, consoante tudo o que o Senhor nos concedeu, e a grande bondade para com a casa de Israel, que usou com eles segundo as suas misericórdias e segundo a multidão das suas benignidades. Porque o Senhor dizia: Certamente, eles são meu povo, filhos que não mentirão. Assim ele foi seu Salvador. Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele os remiu, e os tomou, e os conduziu todos os dias da antigüidade. Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo-, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles. Todavia, se lembrou dos dias da antigüidade, de Moisés e do seu povo, dizendo: Onde está aquele que os fez subir do mar com os pastores do seu rebanho? Onde está aquele que pôs no meio deles o seu Espírito Santo, aquele cujo braço glorioso ele fez andar à mão direita de Moisés? Que fendeu as águas diante deles, para criar um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos, como o cavalo, no deserto, de modo que nunca tropeçaram? Como ao animal que desce aos vales, o Espírito do Senhor lhes deu descanso; assim guiaste ao teu povo, para criares um nome glorioso. Atenta desde os céus e olha desde a tua santa e gloriosa habitação. Onde estão o teu zelo e as tuas obras poderosas? A ternura das tuas entranhas e das tuas misericórdias detém-se para comigo! Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão nos não conhece, e Israel não nos reconhece. Tu, ó Senhor, és nosso Pai; nosso Redentor desde a antigüidade é o teu nome. Por que, ó Senhor, nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que te não temamos? Faz voltar, por amor dos teus servos, as tribos da tua herança. Só por um pouco de tempo, foi possuída pelo teu santo povo; nossos adversários pisaram o teu santuário. Tornamo- nos como aqueles sobre quem tu nunca dominaste e como aqueles que nunca se chamaram pelo teu nome. Ó! Se fendesses os céus e descesses! Se os montes se escoassem diante da tua face! Como quando o fogo inflama a lenha e faz ferver as
  • 11. águas, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, assim as nações tremessem da tua presença! Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes se escoavam diante da tua face. Porque desde a antigüidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele espera. Saíste ao encontro daquele que se alegrava e praticava justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque pecamos; neles há eternidade, para que sejamos salvos. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam. E já ninguém há que invoque o teu nome, que desperte e te detenha; porque escondes de nós o rosto e nos fazes derreter, por causa das nossas iniqüidades. Mas, agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai; nós, o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra das tuas mãos. Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniqüidade; eis, olha, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo. As tuas santas cidades estão feitas um deserto; Sião está feita um deserto, Jerusalém está assolada. A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada; e todas as nossas coisas mais aprazíveis se tornaram em assolação. Conter-te-ias tu ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? Ficadas calado, e nos afligidas tanto?
  • 12. Apóstolo Pedro: 0 Sermão que Ganhou Três Mil Almas O Sermão de Pedro no Dia de Pentecostes (At 2.14 -36, 38b, 39) VARÕES judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo esta a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas, naqueles dias, e profetizarão; e farei aparecer prodígios em cima no céu e sinais em baixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes de chegar o grande e glorioso Dia do Senhor; e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela. Porque dele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja comovido. Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em esperança. Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção. Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; com a tua face me encherás de júbilo. Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus
  • 13. Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar.
  • 14. Clemente de Roma: Cristo e a Igreja O MAIS ANTIGO EXEMPLO de pregação cristã, fora do Novo Testamento, é a denominada Segunda Epístola de Clemente, endereçada à Igreja em Corinto. Como o leitor perceberá, esta epístola é na verdade um sermão dirigido a seus "irmãos e irmãs". Clemente de Roma foi uma das grandes figuras da Igreja Primitiva e bem pode ter sido este Clemente a quem Paulo se refere na Epístola aos Filipenses como seu "cooperador". Ele é considerado um dos Pais Apostólicos e o segundo ou terceiro bispo de Roma. Eusébio o faz bispo de Roma de 92 a 101 d.C. De Clemente temos uma Epístola aos Coríntios, a qual é de grande importância como testemunho primitivo das grandes doutrinas cristãs, como a Trindade, a expiação e a justificação pela graça. Mas a Segunda Epístola aos Coríntios atribuída a Clemente de Roma é considerada uma falsificação. Algum pregador ou escritor desejou dar aceitação à sua produção servindo-se do peso do nome Clemente. Não obstante, a Epístola, na verdade, o sermão, é de imenso interesse para a Igreja de hoje como o mais antigo exemplo de pregação pós-apostólica. Suas declarações, um tanto quanto comuns, pulsam com vida, porque nos são as mais antigas inflexões do púlpito cris- tão. Neste sermão o pregador cita duas declarações de Cristo, as quais eram evidentemente correntes naquela época, mas que não foram registradas no Novo Testamento. Este primeiro dos sermões cristãos mostra como os temas do pregador — Deus, Cristo, a alma, o julgamento, o céu e o inferno — não mudam de geração em geração, e como o Cristo encontrado na pregação deste desconhecido dos primórdios do Cristianismo é igual ao Cristo pregado hoje — Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente.
  • 15. Cristo e a Igreja PRECISAMOS pensar em Cristo em termos elogiosos. Irmãos, é adequado que vocês pensem em Cristo como pensam em Deus — como o Juiz dos vivos e dos mortos. E não nos convém pensar levianamente de nossa salvação; se pensamos pouco nEle, também esperaremos obter senão pouco dEle. E aqueles de nós que ouvem falar negligentemente des- tas coisas, como se fossem de pequena monta, pecam, não sabendo de onde fomos chamados, por quem e para que lugar, e o quanto Jesus Cristo se submeteu para sofrer por nossa causa. Que retorno lhe daremos, ou que fruto será digno do que Ele nos deu? Pois quão grandes são os benefícios que lhe devemos! Ele nos tem dado luz graciosamente; como Pai, Ele nos chamou de filhos; Ele nos salvou quando estávamos prestes a perecer. Que louvor lhe ofereceremos, ou que lhe daremos pelas coisas que recebemos? Éramos deficientes no entendimento, adorando pedras, madeira, ouro, prata e metal, trabalhos das mãos de homens; e nossa vida era nada mais que morte. Envolvidos em cegueira e com tais trevas diante dos olhos, recebemos visão e, por sua vontade, pusemos de lado aquela nuvem em que estávamos envolvidos. Ele teve compaixão de nós e misericordi- osamente nos salvou, observando os muitos erros nos quais estávamos emaranhados, bem como a destruição a qual estávamos expostos e da qual não tínhamos esperança de salvação, exceto a que nos deu. Ele nos chamou quando ainda não existíamos e nos quis para que do nada alcançássemos uma existência real. A verdadeira confissão de Cristo. Vamos não só chamá-lo Senhor, pois isso não nos salvará. Ele disse: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, será salvo, mas aquele que pratica a justiça". Portanto, irmãos, vamos confessá-lo por nossas obras, amando-nos uns aos outros, não cometendo adultério, não falando mal uns dos outros ou apreciando a inveja, mas sendo moderados, compassivos e bons. Também devemos partilhar o que temos uns com os outros e não sermos avarentos. Mediante tais obras, vamos confessá-lo, e não por aquelas obras que, ao contrário, não o glorificam. E não é adequado que temamos aos homens, mas antes a Deus. Por isso, se fizermos tais coisas más, o Senhor diz: "Ainda que vós estivésseis reunidos comigo em meu próprio seio, contudo se vós não guardásseis os meus mandamentos, eu vos lançaria fora e vos diria: Apartai-vos de mim; não sei de onde sois, vós, obreiros da iniqüidade". Este mundo deve ser menosprezado. Portanto, irmãos, deixando de boa vontade nossa peregrinação neste presente mundo, façamos a vontade daquEle que nos chamou e não temamos nos apartar deste mundo. O Senhor disse: "Vós sereis como cordeiros no meio de lobos". E Pedro respondeu e lhe disse: "E se os lobos despedaçarem os cordeiros?" Jesus disse a Pedro: "Os cordeiros, depois que estão mortos, não têm motivo para temer os lobos; e do mesmo modo, não temeis aqueles que vos matam e não podem fazer mais nada convosco; mas temei aquele que, depois que vós estais mortos, tem poder sobre a alma e o corpo para lançá-los no fogo do inferno". E considerem, irmãos, que a peregrinação na carne neste
  • 16. mundo é breve e passageira, mas a promessa de Cristo é grande e maravilhosa, até o restante do Reino por vir e da vida eterna. Por que curso de conduta, então, devemos alcançar estas coisas, senão levando uma vida santa e íntegra, julgando estas coisas mundanas como não pertencentes a nós e não fixando nosso desejo nelas? Pois se desejamos possuí-las, aban- donamos o caminho da retidão. Os mundos presente e futuro são inimigos entre si. Agora o Senhor declara: "Ninguém pode servir a dois senhores". Se desejamos, então, servir a Deus e a Mamom, não nos será proveitoso. "Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?" (Mc 8.36). Este mundo e o seguinte são dois inimigos. Um instiga ao adultério e à corrupção, à avareza e ao engano; o outro diz adeus a essas coisas. Não podemos ser amigos de ambos; e nos cabe, ao renunciar um, nos assegurar do outro. Consideremos que é melhor odiar as coisas presentes, visto que são insignificantes, transitórias e corruptíveis, e amar as que estão por vir como sendo boas e incorruptíveis. Se fizermos a vontade de Cristo, encontraremos descanso; caso contrário, nada nos livrará do castigo eterno se desobedecermos os seus mandamentos. Assim também diz a Escritura em Ezequiel: "Ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz o Senhor Jeová, que nem filho nem filha eles livrariam" (Ez 14.20). Se homens tão eminentemente justos são incapazes por sua justiça de livrar os próprios filhos, como podemos esperar entrar na residência real de Deus, a menos que mantenhamos nosso batismo santo e imaculado? Ou quem será nosso defensor, a não ser que sejamos achados possuidores de obras de santidade e justiça? Temos de nos esforçar para sermos coroados. Portanto, meus irmãos, lutemos com todo o empenho, sabendo que, em nosso caso, a disputa está bem à mão e que muitos empreendem longas viagens para lutar por uma recompensa corruptível; contudo, nem todos são coroados, mas só aqueles que laboram duramente e se esforçam gloriosamente. Esforcemo-nos, então, de modo que sejamos coroados. Corramos o caminho reto da corrida que é incorruptível, e nos empenhemos para que sejamos coroados. Temos de nos lembrar de que aquele que se esforça na competição corruptível, se for descoberto que agiu incorretamente, é preso e açoitado, e seu nome retirado de todos os registros. O que vocês acham disso? Acerca daqueles que não preservam o selo irrompível, a Escritura diz: "... o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a carne" (Is 66.24). A necessidade de arrependimento enquanto estamos na terra. Durante o tempo em que estamos na terra, pratiquemos o arrependimento, porque somos como barro nas mãos do artífice. Se o oleiro faz um vaso e este fica torcido ou se quebra em suas mãos, ele o molda de novo; mas se antes disso ele o lançou na fornalha, ele já não pode mais ajudá-lo. Assim, enquanto estamos neste mundo, arrependamo-nos de todo o coração das más ações que fizemos na carne para que sejamos salvos pelo Senhor, enquanto ainda temos oportunidade de arrependimento. Depois que deixarmos o mundo, o poder de confessar ou arrepender-se já não nos
  • 17. pertencerá. Portanto, irmãos, ao fazermos a vontade do Pai, ao conservarmos a carne santa e ao observarmos os mandamentos do Senhor, obteremos a vida eterna. O Senhor diz no Evangelho: "Se vós não guardastes o que era pequeno, quem vos entregará o que é grande? Pois eu vos digo que aquele que é fiel no mínimo, também é fiel no muito". É isto o que Ele quer dizer: "Mantende a carne santa e o selo livre de contaminação para que recebais a vida eterna". Seremos julgados na carne. E que ninguém diga que esta mesma carne não será julgada nem ressuscitará. Considerem em que estado vocês foram salvos, em que estado receberam a visão, se não foi quando estavam nesta carne. Temos de preservar a carne como o templo de Deus. Assim como vocês foram chamados na carne, assim também serão julgados na carne. Assim como Cristo, o Senhor, que nos salvou, embora fosse primeiramente Espírito, tornou-se carne, e desse modo nos chamou, assim também receberemos a recompensa nesta carne. Amemo-nos uns aos outros para que todos alcancemos o Reino de Deus. Enquanto temos oportunidade de sermos curados, rendamo-nos a Deus, que nos ouve, e lhe retribuamos. De que forma? Através do arrependimento de corações sinceros; Ele sabe todas as coisas de antemão e conhece o que está em nosso coração. Rendamos a Ele louvor, não só com nossos lábios, mas também com o coração, para que Ele nos aceite como filhos. O Senhor disse: "Estes são meus irmãos: os que fazem a vontade de meu Pai". O vício deve ser abandonado e a virtude, seguida. Portanto, meus irmãos, façamos a vontade do Pai que nos chamou, para que vivamos. Sigamos com veemência a virtude, mas abandonemos toda tendência má que nos leve à transgressão, e fujamos da impiedade, para que males não nos alcancem. Se formos diligentes em fazer o bem, a paz nos seguirá. Por esta causa, tais homens não podem encontrar paz, os quais são influenciados pelos terrores humanos e preferem o prazer momentâneo à promessa que será cumprida depois. Eles desconhecem que tormento o atual prazer incorre ou que felicidade está envolvida na promessa futura. E se na verdade eles fizessem apenas tais coisas, seria o mais tolerável. Mas eles persistem em saturar almas inocentes com suas doutrinas perniciosas, não sabendo que eles receberão uma dupla condenação, tanto eles quanto aqueles que os ouvem. Devemos servir a Deus, confiando nas suas promessas. Sirvamos a Deus com coração puro e seremos justos; mas se não o servimos, porque não cremos nas suas promessas, seremos miseráveis. A palavra profética também declara: "Miseráveis são aqueles de mente dupla e que duvidam em seu coração, dizendo: 'Todas estas coisas ouvimos falar até nos dias de nossos pais; mas, embora esperemos dia-a-dia, não vimos nenhuma delas se realizar'. Tolos! Comparai-vos a uma árvore; por exemplo, a videira. Em primeiro lugar, vêm as folhas, então o broto aparece; depois, a uva verde, e em seguida, o fruto completamente maduro. Assim, da mesma forma, meu povo suporta perturbações e aflições, mas depois receberá suas boas dádivas". Portanto, meus irmãos, não sejamos de mente dobre, mas esperemos e suportemos, para que também obtenhamos a recompensa.
  • 18. Pois Ele é fiel, aquEle que prometeu que dará a todos uma recompensa de acordo com as suas obras. Se praticarmos a justiça à vista de Deus, entraremos no seu Reino e receberemos as promessas: "... o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem..." (1 Co 2.9). Devemos buscar constantemente o Reino de Deus. Esperemos, momento a momento, o Reino de Deus em amor e justiça, visto que não sabemos o Dia do Senhor. O próprio Jesus, sendo perguntado pelos fariseus sobre quando viria o seu Reino, respondeu: "O Reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali! Porque eis que o Reino de Deus está entre vós. E como aconteceu nos dias de Noé, assim será também no dia do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e consumiu a todos Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam. compravam, vendiam, plantavam e edificavam. Mas, no dia cm que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, consumindo a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se há de manifestar" (Lc 17.20,21,26-29). A Igreja viva é o Corpo de Cristo. Portanto, irmãos, se fizermos a vontade de Deus, nosso Pai, seremos da primeira Igreja, quer dizer, a espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; mas se não fizermos a vontade do Senhor, seremos da Escritura que diz: "Minha casa foi feita em covil de ladrões". Escolhamos, então, ser da Igreja da vida para que sejamos salvos. Não suponho, porém, que vocês ignoram que a Igreja viva é o Corpo de Cristo; pois a Escritura diz: "Deus fez o homem, macho e fêmea". E os livros e os apóstolos claramente declaram que a Igreja não é do presente, mas desde o princípio. Ela era espiritual, como nosso Jesus também o era, mas foi manifesta nos últimos dias para que Ele nos salvasse. Agora a igreja, sendo espiritual, foi manifesta na carne de Cristo, querendo nos dizer que se qualquer um de nós a mantiver na carne e não a corromper, Ele a receberá novamente no Espírito Santo: pois esta carne é a cópia do espírito. Ninguém que corrompa a cópia participará da original. É isto o que Ele quer dizer: "Guardai a carne, para que vós participeis do espírito". Mas se dizemos que a carne é a Igreja e o espírito, Cristo, então aquele que usou vergonhosamente a carne usou vergonhosamente a Igreja. Tal indivíduo não participará do espírito, que é Cristo. Esta carne pode participar de tal vida e incorrupção, quando o Espírito Santo for unido a ela. Ninguém pode declarar ou dizer "o que o Senhor preparou" para os seus eleitos. Fé e amor, o apropriado retorno a Deus. Agora, não penso que lhes dei conselho trivial em relação ao autocontrole, o qual se alguém o fizer não se arrependerá, mas salvará a si mesmo e a mim, que o aconselho. Não é pequena recompensa fazer voltar uma alma peregrina e perecível para que seja salva. Esta é a recompensa que temos para retornar a Deus que nos criou, se aquele que fala e ouve, fala e ouve com fé e amor. Permaneçamos nas coisas em que cremos, justos e santos, para que com ousadia pecamos a Deus, que disse: "Enquanto tu ainda estiveres falando, eu direi: Eis-me aqui, eu estou aqui". Esta declaração é o sinal de grande promessa: o
  • 19. Senhor diz de si mesmo que Ele está mais pronto a dar, do que aquele que pede, de pedir. Sendo participantes de tão grande generosidade, não sejamos invejosos uns dos outros na obtenção de tantas coisas boas. Pois tão grande quanto é o prazer que estas declarações têm por eles que as fizeram, tão grande é a condenação para aqueles que são desobedientes. A excelência da caridade. Portanto, irmãos, tendo recebido não pequena ocasião de arrependimento, enquanto temos oportunidade, voltemo-nos a Deus que nos chamou, enquanto ainda o temos como aquEle que nos recebe. Se renunciarmos estes prazeres e conquistarmos nossas almas, não fazendo nossos desejos maus, participaremos da misericórdia de Jesus. Mas vocês sabem que o Dia do Julgamento "vem como fogo ardente", e algumas partes "dos céus derreterão". Toda a terra será como chumbo derretido no fogo, e então as obras ocultas e abertas dos homens aparecerão. A caridade, por conseguinte, é coisa boa, assim como o arrependimento de pecados; o jejum é melhor que a oração, mas a caridade é melhor que ambos; "mas o amor cobre uma multidão de pecados". A oração proveniente de uma consciência boa liberta da morte. Bendito é todo aquele que está cheio destas coisas, pois a caridade alivia o fardo do pecado. O perigo de impenitência. Arrependamo-nos de todo o coração, a fim de que nenhum de nós pereça no caminho. Se temos mandamentos dizendo-nos para afastar os homens dos ídolos e instruí-los, quanto mais não deve a alma que já conhece a Deus perecer! Ajudemo-nos uns aos outros para que também ajudemos os fracos quanto ao que é bom, a fim de que todos sejam salvos; e vamos nos converter e admoestar uns aos outros. Não pensemos em dar atenção e acreditar agora somente quando somos admoestados pelos presbíteros, mas também quando voltamos para casa, lembrando-nos dos mandamentos do Senhor. Não sejamos arrastados por luxúrias mundanas, mas busquemos progredir nos mandamentos do Senhor, para que todos tenhamos a mesma mente, sejamos unidos à vida. O Senhor disse: "Eu vim para reunir todas as nações, tribos e línguas". Ele fala acerca do dia da sua manifestação, quando virá e nos remirá, cada um de acordo com suas obras. E os incrédulos "verão a sua glória" e força. Eles acharão estranho quando virem a soberania do mundo em Jesus, dizendo: "Ai de nós! Tu eras aquele, e nós não sabíamos, não cremos, e não obe- decemos aos presbíteros quando eles declaravam as coisas concernentes à nossa salvação". E "o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a carne". Ele fala acerca daquele Dia do Julgamento quando eles verão aqueles entre nós que eram descrentes e agiam enganosamente com os mandamentos do Senhor. Mas quando os justos, que fizeram o bem, suportaram tormentos e odiaram os prazeres da alma, virem aqueles que se desviaram e negaram a Jesus mediante palavras ou ações, o quanto eles são castigados com tormentos atrozes num fogo inextinguível, darão glória a Deus, dizendo: "Haverá esperança para aquele que, de todo o coração, serviu a Deus". O pregador confessa sua própria pecaminosidade. Sejamos do número daqueles que dão graças e servem a Deus, não dos descrentes que já estão
  • 20. julgados. Eu também, sendo completo pecador e até agora não livre da tentação, mas ainda estando cercado pelas maquinações do Diabo, emprego diligência para seguir a justiça, a fim de que tenha forças para chegar nem que seja perto dela, temendo o julgamento por vir. Ele Justifica sua exortação. Irmãos e irmãs, depois que o Deus da verdade foi ouvido, leio para vocês uma solicitação para que dêem atenção às coisas que estão escritas, a fim de que se salvem a si mesmos e salvem aquele que lê entre vocês. Como retribuição, peço-lhes que se arrependam de todo o coração, recebendo a salvação e a vida. Fazendo isto, teremos estabelecido uma meta para que todo jovem se empenhe pela devoção e bondade de Deus. E, insensatos que somos, não nos sintamos afrontados e desagradados, sempre que alguém nos admoesta e nos faz voltar da iniqüidade para a justiça. Às vezes, quando estamos praticando coisas más, não o percebemos, por causa da disposição dobre e incredulidade que estão em nosso peito, e por estarmos "obscurecidos em nosso entendimento" por nossas vãs concupiscências. Pratiquemos a justiça para que sejamos salvos até o fim. Benditos são aqueles que obedecem estes mandamentos. Mesmo que por um pouco de tempo sofram o mal no mun- do, eles desfrutarão o fruto imortal da ressurreição. Que o piedoso não se lamente, se for desgraçado nos tempos atuais; uma época bendita o aguarda. Ele, vivendo novamente nas alturas com o Senhor, estará alegre por uma eternidade sem pesar. Palavras finais de consolação. Doxologia. Nem seus entendimentos fiquem perturbados ao verem os injustos tendo riquezas e os servos de Deus, pobreza duradoura. Sejamos crentes, irmãos e irmãs. Estamos nos esforçando na lida do Deus vivo; somos disciplinados pela vida presente para que sejamos coroados na vida futura. Nenhum dos justos recebeu fruto de imediato, mas esperou por ele. Se Deus desse recompensa imediata aos justos, estaríamos nos exercitando no assunto e não na santidade. Pareceríamos ser justos, ao mesmo tempo em que buscaríamos o que não é santo, mas o que é lucrativo. E por conta disso, o julgamento divino surpreendeu um espírito que não era justo e o prendeu com correntes. Ao único Deus invisível, o Pai da verdade, que nos enviou o Salvador e Príncipe da incorrupção, por meio de quem Ele nos manifestou a verdade e a vida celestial, a Ele seja a glória para sempre e sempre. Amém.
  • 21. João Crisóstomo: A Grandeza do Apóstolo Paulo João CRISÓSTOMO (conhecido como "Boca de ouro") é, depois dos apóstolos, o pregador mais famoso na história do Cristianismo. Nasceu em Antioquia, em 347, e morreu em Ponto, em 407. Começou o estudo da retórica e mostrou grande promessa para o futuro, mas, mediante os esforços piedosos de sua mãe, Antusa, ele abraçou o Cristianismo e se retirou para o deserto, onde passou dez anos em meditação e renúncia. Depois, tornou-se diácono e, mais tarde, presbítero em Antioquia. Logo chamou a atenção como pregador, sobretudo através de uma série de sermões sobre as estátuas, pregado numa época em que o imperador Teodósio pretendia lançar severas represálias contra o populacho de Antioquia, onde suas estátuas haviam sido destruídas numa revolta. Como arcebispo de Constantinopla, Crisóstomo pregou corajo- samente contra as políticas da imperatriz Eudoxia. Sua atitude inflexível para com o tribunal e os clérigos licenciosos e avarentos fizeram-no vítima de uma conspiração eclesiástica, e ele foi condenado por contumácia pelo sínodo conclamado pelos seus inimigos e levado a Bitínia. A fúria popular era tão grande que o imperador teve de chamá-lo de volta. Mas logo o enviaram para o exílio outra vez e, depois de ser levado de lugar em lugar, faleceu a caminho do deserto de Pítio. Seus sermões são na maioria expositivos ou comentários fluentes sobre o texto de uma passagem bíblica. Deste modo, ele cobriu grandes porções do Novo Testamento. Crisóstomo linha amplo alcance e poderia dedilhar cada nota do coração humano. Um dos exemplos mais nobres de sua eloqüência é sua última homília sobre a Epístola aos Romanos. Não é apenas um dos melhores exemplos de eloqüência patrística, mas talvez o maior tributo que jamais foi dado ao apóstolo Paulo.
  • 22. A Grandeza do Apóstolo Paulo QUEM há de orar por nós, desde que Paulo partiu? Estes que são os imitadores de Paulo. Apenas nos consideremos dignos de tal intercessão a fim de que não seja que ouçamos só a voz de Paulo aqui, mas que, no futuro, quando tivermos partido, sejamos também contados dignos de ver o lutador de Cristo. Ou, antes, se o ouvirmos aqui. certamente o veremos no outro mundo, se não perto dele, ainda o veremos com certeza, brilhando perto do trono do Rei. Onde os querubins cantam a glória, onde voam os serafins, lá veremos Paulo, com Pedro, e como chefe e líder do coro dos santos, e desfrutaremos seu amor generoso. Pois se quando estava aqui ele amava tanto os homens, que, tendo a escolha de partir e estar com Cristo, escolheu ficar aqui, muito mais ali ele mostrará um afeto mais caloroso. Eu amo Roma até por isso, embora tenha-se de fato outra base para louvá-la, por sua grandeza, antigüidade, beleza, população numerosa, poder, riqueza e sucessos na guerra. Mas deixei passar tudo, e a estimo abençoada por conta disto: que em sua vida ele lhes escreveu, amou-os tanto, falou com eles enquanto estava conosco e sua vida chegou a um fim ali. Portanto, a cidade é mais notável sob este aspecto do que sob todos os outros juntos. E como corpo grande e forte, tem como dois olhos brilhando os corpos desses santos. O céu não é tão luminoso, quando o sol envia seus raios, como é a cidade de Roma enviando estas duas luzes a todas as partes do mundo. Daquele lugar Paulo será tomado, como também Pedro. Apenas considere e estremeça com o pensamento de que visão Roma verá, quando Paulo surgir de repente daquele depósito, junto com Pedro, e for elevado para o encontro com o Senhor. Que rosa Roma enviará para Cristo! Que duas coroas a cidade terá! Com que correntes douradas ela será cingida! Que fundações possuem! Portanto, eu admiro a cidade, não pelo muito ouro, nem pelas colunas, nem por outro aparato ali encontrado, mas por estes pilares da Igreja. O que seria se me fosse dado lançar-me em volta do corpo de Paulo, ser cravado ao túmulo e ver o pó daquele corpo que "supria o que estava faltando" de Cristo, que trazia "as marcas", que semeou o Evangelho em todos os lugares, sim, o pó daquele corpo pelo qual ele andou por todos os lugares! O pó daquele corpo pelo qual Cristo falou e a luz brilhou mais luminosa que um raio, e a voz saiu (mais terrível que um trovão para os demônios!), pelo qual ele articulou aquela voz abençoada, dizendo: "Eu mesmo poderia desejar ser amaldiçoado, por meus irmãos", com a qual ele falou: "Perante reis, eu não me envergonhei", com a qual viremos a conhecer Paulo, com a qual também viremos a conhecer o Mestre de Paulo. Não nos é tão terrível o trovão, como foi essa voz aos demônios! Pois se eles estremeciam ao ver as roupas dele, muito mais estremeciam diante de sua voz. Esta voz os levou cativos, limpou o mundo, pôs um basta às doenças, expulsou vícios, elevou a verdade bem alto, fez Cristo cavalgar sobre ela e em todos os lugares saiu com ele; e como de querubim era a voz de Paulo, pois assim como o querubim estava assentado sobre esses poderes, assim
  • 23. ele estava na língua de Paulo. Porque tinha se tornado merecedor de receber Cristo falando somente as coisas que eram aceitáveis a Cristo, e voando como serafim a alturas indizíveis! Pois que mais sublime do que aquela voz que diz: "Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" (Rm 8.38,39)? Que remígios este discurso não parece ter a vocês? Que olhos? Era devido a isso que ele disse: "Porque não ignoramos os seus ardis" (2 Co 2.11). Por causa disso, os demônios não só fogem ao ouvi-lo falar, mas até ao verem as suas roupas. Esta é a boca, de cujo pó eu gostaria de ver, pela qual Cristo falou coisas grandiosas e secretas e maiores do que em sua própria pessoa (pois assim como Ele fez, assim Ele também falou maiores coisas pelos discípulos), pela qual o Espírito deu ao mundo esses oráculos maravilhosos. Por qual coisa boa essa boca não operou? Por ela os demônios foram expulsos, os pecados libertados, os tiranos amordaçados, as bocas de filósofos caladas, o mundo levado para Deus, os selvagens persuadidos a aprender sabedoria, a ordem da terra foi alterada. As coisas no céu também ela dispôs do modo como quis, prendendo quem seria preso e soltando no outro mundo "de acordo com o poder que lhe foi dado". Não só da boca, mas do coração também eu gostaria de ver o pó, o qual o homem não erraria em chamar o coração do mundo, fonte de bênçãos incontáveis e um começo e elemento de nossa vida. Pois o espírito de vida foi abastecido de tudo isso, e distribuído pelos membros de Cristo, não como sendo enviado pelas artérias, mas por livre escolha de boas ações. Esse coração era tão grande quanto a abranger cidades, povos e nações inteiras. "Pois o meu coração", diz ele, 'está aumentado". Contudo, até um coração tão grande assim, a caridade que o aumentou muitas vezes o deixou apertado e oprimido. Pois ele diz: "Porque, em muita tributação e angústia do coração, vos escrevi, com muitas lágrimas" (2 Co 2.4). Eu desejaria ver esse coração mesmo depois de sua decomposição, que ardia por todo aquele que estava perdido, que sofria dores de parto uma segunda vez pelos filhos que tinham provado o aborto, que via a Deus ("pois os puros de coração", diz ele, "verão a Deus"), que se tornou um sacrifício ("pois o sacrifício para Deus é um coração contrito"), que era mais sublime que os céus, que era mais largo que o mundo, que era mais brilhante que os raios do sol, que era mais quente que o fogo, que era mais forte que o diamante, que enviou rios ("pois rios", diz ele, "de água viva fluirão do seu ventre"), nos quais estava uma fonte que brota e dá de beber, não à face da terra, mas às almas dos homens, dos quais não só rios, más até fontes de lágrimas vertiam dia e noite, que viviam a vida nova, não esta nossa (porque "eu vivo", diz ele, "ainda que não eu, mas Cristo vive cm mim", assim o coração de Paulo era o seu coração, uma tábua do Espírito Santo e um livro da graça); que tremia pelos pecados dos outros (pois "eu temo", diz ele, "que por algum meio eu vos tenha labutado em vão; para que como a serpente iludiu Eva; temendo que quando eu vier não vos ache como eu
  • 24. quereria"); o qual temeu por si mesmo c também estava confiante (porque eu temo, diz ele, "para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado", 1 Co 9.27). E, "estou certo de que nem [...] os anjos, [...] nem as potestades [...! nos poderá separar" (Rm 8.38,39); que foi contado digno de amar a Cristo como nenhum outro homem o amou; que menosprezou a morte e o inferno, não obstante ficou quebrantado pelas lágrimas de irmãos (pois ele diz: "Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração?", At 21.13); que sofria com paciência, ainda que não podia suportar estar ausente dos tessalonicenses pelo espaço de uma hora! Anseio ver o pó das mãos que estavam em correntes, por cuja imposição o Espírito foi concedido, através das quais os escritos divinos chegaram até nós, pois: "Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão" (Gl 6.11), e, novamente: "Saudação da minha própria mão, de mim, Paulo" (2 Ts 3-17); dessas mãos à vista das quais a serpente "caiu no fogo". Almejo ver o pó dos olhos que ficaram cegos gloriosamente, que recuperaram a visão para a salvação do mundo; que até no corpo foram contados dignos de ver a Cristo, que viu coisas terrestres, embora não as visse, que viu as coisas que não se vêem, que não viu sono, que estavam alertas à meia-noite, que não foram afetados como os nossos olhos o são. Também veria o pó dos pés que percorreram o mundo e não se cansaram, que estavam presos no tronco quando a prisão foi sacudida, que passaram por regiões habitadas ou despovoadas, que caminharam em tantas jornadas. E por que preciso falar dos membros? Eu veria o túmulo onde a armadura da justiça foi posta, as armas da luz, os membros que agora vivem, mas que em vida foram mortificados; e em todos os membros de quem Cristo vivia, que estavam crucificados para o mundo, que eram membros de Cristo, que eram revestidos em Cristo, eram templo do Espírito, edifício santo, "unidos no Espírito", cravados ao temor de Deus, que tinham as marcas de Cristo. Este corpo é um muro para aquela cidade, que é mais segura que todas as torres e que milhares de ameias. E com ele está o túmulo de Pedro. Ele o honrou enquanto vivia. Ele "subiu para ver Pedro" e, então, mesmo quando faleceu, a graça o permitiu ficar com ele. Eu veria o leão espiritual. Assim como o leão respira fogo sobre bandos de raposas, assim ele se arrojou sobre o clã de demônios e filósofos, e como o estouro de um raio foram derrotadas as hostes do Diabo. Pois ele nem mesmo veio para dispor a batalha em ordem contra si, visto que ele temeu tanto e tremeu diante dEle, como se visse sua sombra e ouvisse sua voz, ele fugiu até certa distância. E assim livrou de si o fornicador, embora a certa distância, e outra vez o arrebatou das suas mãos; e assim outros também, para que fossem ensinados a "não blasfemar". E considerem como Ele enviou seus próprios seguidores contra ele, despertando-os, provendo- os. E certa vez ele diz aos efésios: "Não temos que lutar contra carne e sangue, mas. sim, contra os principados, contra as potestades" (Ef 6.12). Então ele também põe nosso prêmio nas regiões celestiais. Pois não luta-
  • 25. mos pelas coisas da terra, diz ele, mas pelo céu e as coisas dos céus, E para os outros, ele diz: "Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (1 Co 6.3). Sejamos nobres, pondo tudo isso no coração; pois Paulo era homem, participante da mesma natureza conosco e tendo tudo o mais em comum conosco. Mas pelo fato de ter mostrado tão grande amor por Cristo, ele foi acima dos céus e ficou com os anjos. E assim também se nós nos despertarmos um pouco e nos inflamarmos nesse fogo santo, poderemos emular esse homem santo. Fosse isso impossível, ele nunca teria bradado a plenos pulmões e dito: "Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo" (1 Co 11.1). Não nos coloquemos tão somente a admirá-lo, ou fiquemos apenas impressionados com ele, mas o imitemos para que também nós, quando partirmos, sejamos contados dignos de ver e compartilhar a glória indescritível, a qual Deus conceda que todos a alcancemos pela graça e amor para com o homem de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem e com quem seja a glória ao Pai, com o Espírito Santo, agora e eternamente. Amém.
  • 26. Agostinho: As Dez Virgens AGOSTINHO i um dos maiores nomes na história da Igreja cristã. Ele era um tição arrancado do fogo, como o próprio Paulo, poderoso troféu do Espírito Santo. Nasceu em Tagasta, África (atual Souk-Ahras, Argélia), em 13 de novembro de 354, e morreu em Hipona, África, em 28 de agosto de 430. Seu pai era pagão, mas sua mãe, Mônica, era cristã de maravilhosa beleza de caráter e profundidade de fé. Quando jovem, Agostinho foi treinado para a carreira da retórica. Ele viveu em pecado com uma moça que lhe deu um filho, a quem era profundamente dedicado, dando-lhe o nome de Adeodato. "dado por Deus". Durante esses anos de vida licenciosa, sua mãe nunca deixou de orar e se esforçar pela conversão dele. Foi a ela que o bispo de Tagasta fez a célebre observação, que tem consolado tantas mães ansiosas, que "um filho de tantas lágrimas não pode ser perdido'. Quando seguia sua profissão de retórica em Milão, Agostinho pôs-se sob a influência de Ambrósio, bispo de Milão, e foi levado à vida cristã. Mas ele estava tão enredado na sensualidade, que se esquivava de sacrifício que envolvesse uma confissão de fé. Depois de intensas lutas espirituais, descritas graficamente na sua obra Confissões, Agostinho finalmente achou Cristo e a paz. Em 396, foi feito bispo da sede episcopal de Hipona, na África. Daí em diante, tornou-se uma das grandes figuras da Igreja daqueles tempos, na verdade, de todos os tempos. Sua mente poderosa criou uma série de livros, sendo o maior deles A Cidade de Deus, obra vasta na qual ele procura vindicar o Cristianismo e concebe a Igreja como uma ordem nova e divina que surge das ruínas do Império Romano. Engajou-se em muitas controvérsias, sendo a mais importante a controvérsia com Pelágio e os pelagianos. Contra Pelágio, que afirmava ser o pecado de Adão puramente pessoal, e afetava só a ele, Agostinho defendeu a doutrina do pecado original, que os homens herdam de Adão uma natureza pecadora e. assim, estão sob condenação. Agostinho é aclamado por todas as escolas da Igreja Crista, e tanto católicos quanto protestantes o consideram, ao lado do apóstolo Paulo, como o grande mestre em relação ao significado do pecado e ao passado da natureza humana. SEU sermão sobre "As Dez Virgens" é um interessante tratado de um dos grandes temas de púlpito: a Segundo Vinda de Cristo. Especialmente belas são as palavras finais: "As nossas lâmpadas alumiam entre os ventos e as tentações desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime fortemente, que o vento da tentação aumente o fogo, em vez de apagá-lo".
  • 27. As Dez Virgens Então, o Reino dos céus será semelhante a dez virgens..." (Mt 25-1) VOCÊS que estavam presentes ontem se lembram de minha promessa, a qual, com a ajuda do Senhor, será cumprida hoje, não somente a vocês, mas aos muitos outros que também se reuniram aqui. Não é questão fácil dizer quem são as dez virgens, cinco das quais são sábias e as outras cinco, tolas. Não obstante, de acordo com o contexto desta passagem a qual desejei que fosse lida hoje novamente a vocês, ama- dos, não penso, até onde o Senhor me conceder entendimento, que esta parábola ou similitude relacione-se somente com essas mulheres. Estas, por uma santidade peculiar e mais excelente, são chamadas virgens na igreja, as quais, por um termo mais habitual, também chamamos "as religiosas"; mas, se não me engano, esta parábola se relaciona com a totalidade da Igreja. No entanto, embora devamos entendê-la somente acerca daquelas que são chamadas "as religiosas", não são dez? Deus proíba que tão grande companhia de virgens seja reduzida a tão pequeno número! Porém, talvez alguém diga: "Mas, e se embora sejam tantas em profissão exterior, contudo, na verdade sejam tão poucas, que escassas dez podem ser encontradas!" Não é assim. Pois se Ele tivesse querido dizer que as virgens boas só deveriam ser entendidas pelas dez. Ele não teria representado cinco tolas entre elas. Se este é o número das virgens que são chamadas, por que as portas são fechadas contra as cinco? Entendamos, amados irmãos, que esta parábola se relaciona com todos nós, isto é, com toda a Igreja, não somente com o clero de quem falamos ontem; nem somente com o laicato, mas com todos em geral. Então, por que as virgens são dois grupos de cinco? Estas virgens são todas as almas cristãs. Mas para que eu possa lhes dizer o que pela inspiração do Senhor penso, não são almas de todo tipo, mas as almas que têm fé e parecem ter boas obras na Igreja de Deus; e, não obstante, até entre elas, "cinco são sábias e cinco são tolas". Primeiro, vejamos por que são chamadas "cinco" e por que "virgens" e, depois, consideremos o restante. Cada alma no corpo é denotada pelo número cinco, porque faz uso dos cinco sentidos. Não há nada de que tenhamos percepção pelo corpo, senão pela porta de cinco dobras: a visão, a audição, o olfato, o paladar ou o tato. Aqueles que se privam da visão ilícita, da audição ilícita, do olfato ilícito, do paladar ilícito e do tato ilícito, por causa da sua incorrupção, receberam o nome de virgens. Mas se é bom abster-se dos estímulos ilícitos dos sentidos e. por conta disso cada alma cristã recebeu o nome de virgem, por que cinco são admitidas e cinco rejeitadas? Todas são virgens e, não obstante, cinco são rejeitadas. Não é o bastante que sejam virgens e que tenham lâmpadas. São virgens por causa da abstinência do uso ilícito dos sentidos; têm lâmpadas por causa das boas obras. De cujas boas obras o Senhor disse: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16).
  • 28. Outra vez Ele diz aos discípulos: "Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias" (Lc 12.35). Nos "lombos cingidos" está a virgindade; nas "candeias acesas", as boas obras. O título de virgindade não é normalmente aplicado aos casados; contudo, até neles há certa virgindade de fé que produz castidade de casados. Saibam, santos irmãos, que todo aquele que, como a tocar a alma, tem fé incorrupta, pratica abstinência de coisas ilícitas e faz boas obras, não é adequadamente chamado de "virgem". Toda a Igreja, que consiste em virgens, meninos, homens casados e mulheres casadas, é por um nome chamada de virgem. Como provamos isso? Ouçam a declaração do apóstolo Paulo, que diz não somente às mulheres religiosas, mas a toda a Igreja: "... porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo" (2 Co 11.2). E porque devemos nos precaver contra o Diabo, o corruptor desta virgindade, o apóstolo acrescentou: "Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo" (v. 3). Poucos têm virgindade física; no coração, todos devemos tê-la. Se a abstinência do que é ilícito é bom, pelo que recebeu o nome de virgindade, e as boas obras são louváveis, que são significadas pelas lâmpadas, por que cinco são admitidas e cinco rejeitadas? Se há uma virgem e uma que leva lâmpada, que contudo não é admitida, onde ela se verá, que nem preserva a virgindade das coisas ilícitas e que nem desejando ter boas obras anda em trevas? Destes, meus irmãos, sim, destes vamos tratar. Aquele que não vê o que é mau, aquele que não ouve o que é mau, aquele que desvia seu olfato dos fumos ilícitos e seu paladar da comida ilícita dos sacrifícios, aquele que recusa o abraço da esposa de outro homem, reparte o pão com os famintos, traz o estranho à sua casa, veste os desnudos, reconcilia os litigiosos, visita os doentes, sepulta os mortos; ele com certeza é uma virgem, ele com certeza tem lâmpadas. O que mais buscamos? Algo, contudo, ainda busco. O santo Evangelho me colocou nesta busca. Está escrito que até entre estas virgens que levam lâmpadas, algumas são sábias e algumas tolas. Como vemos isso? Como fazemos distinção? Através do óleo. Alguma coisa grande, alguma coisa sumamente grande significa este óleo. Vocês acham que não é o amor? Isto dizemos à medida que investigamos o que é; não nos aventuramos a julgamento precipitado. Eu lhes direi por que o amor parece estar significado pelo óleo. O apóstolo diz: "... e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine" (1 Co 12.31b; 13-1). A caridade é o caminho acima dos demais, a qual com boa razão está significada pelo óleo, pois o óleo mantém-se acima de todos os líquidos. Coloque água, derrame óleo, e este se manterá sobre a água. Coloque óleo, derrame água, e o óleo ainda assim permanecerá sobre a água. Se você mantiver a ordem habitual, ele ficará no ponto mais alto; se você mudar a ordem, ele continuará no ponto mais alto. "A caridade nunca falha".
  • 29. Tratemos agora das cinco virgens sábias e das cinco virgens tolas. Elas desejavam ir ao encontro do Esposo. Qual é o significado de "sair ao encontro do Esposo?" Ir com o coração, estar esperando por sua vinda. Mas Ele tarda. "E, tardando o esposo, tosquenejaram todas". O que significa "todas"? Tanto as tolas quanto as sábias "tosquenejaram todas e adormeceram". Este sono é bom? O que quer dizer este sono? É que com a tardança do Esposo, "por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará" (Mt 24.12)? Devemos entender este sono assim? Não gosto disso. Eu lhes direi por quê. Porque entre elas estão as virgens sábias; e, certamente, quando o Senhor disse: "E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará", Ele continuou, dizendo: "Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo" (v. 13). Onde estariam essas virgens sábias? Elas não estão entre aquelas que vão **perseverar até ao fim"? Elas não seriam admitidas entre todas, irmãos, por nenhuma outra razão senão porque elas perseverariam até o fim. Nenhuma frieza de amor se insinuou sobre elas; nelas o amor não esfriou, mas conserva seu brilho ainda até o fim. E porque brilham até o fim, as portas do Esposo estão abertas para elas. É dito a elas que entrem, como àquele servo excelente: "Entra no gozo do teu senhor" (Mt 25-21). Qual é o significado de "todas dormiram"? Há outro sono do qual ninguém escapa. Lembram-se da declaração do apóstolo: "Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança" (1 Ts 4.13), ou seja, concernente àqueles que estão mortos? Por que eles são chamados 'os que já dormem", mas estão no seu próprio dia? Então, "todas dormiram". Vocês acham que pelo fato de alguém ser sábio, não morre? Seja a virgem tola ou a sábia, todas sofrem o sono de morte igualmente. Mas os homens dizem continuamente para si mesmos: "Eis que o Dia do Julgamento está vindo. Tantos males estão acontecendo, tantas tribulações se multiplicam; vejam, todas as coisas que os profetas disseram estão quase cumpridas. O Dia do Julgamento já está às portas". Aqueles que falam assim, em fé, superam astuciosamente tais pensamentos para "encontrarem-se com o Esposo". Mas, vejam! guerra sobre guerra, tributação sobre tribulação, terremoto sobre terremoto, fome sobre fome, nação contra nação e o Esposo ainda não veio. Enquanto se espera que Ele venha, todos os que dizem: "Vejam, Ele está vindo, e o Dia do Julgamento nos encontrará aqui", dormem. Enquanto dizem isto, continuam a dormir. Que cada um de nós tenha em vista este seu sono e persevere até ao seu sono de amor; que o sono o ache esperando assim. Pois, suponha que ele dormiu. "Aquele que dorme não ressuscitará?" Então, "todas dormiram". Tanto as sábias quanto as virgens tolas, na parábola, todas dormiram. "Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor". O que é "à meia-noite"? Quando não há nenhuma expectativa, absolutamente nenhuma convicção. A noite indica ignorância. O indivíduo faz um cálculo consigo mesmo: "Vejam, tantos anos se passaram desde Adão, e os seis mil anos estão se completando, e então imediatamente de acordo com a computação de certos expositores, o Dia do Julgamento virá". Contudo, estes cálculos vêm
  • 30. e passam, e ainda a chegada do Esposo tarda, e as virgens que haviam ido encontrá-lo, dormem. E, vejam, quando Ele não é esperado, quando os homens dizem: "Os seis mil anos foram esperados, e, passaram-se. Como saberemos quando Ele virá?" Ele virá à meia-noite. O que significa "virá à meia-noite"? Virá quando vocês não estiverem cientes. Por que Ele virá quando vocês não estiverem cientes? Ouçam o próprio Senhor: "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (At 1.7). "O Dia do Senhor", diz o apóstolo, "virá como o ladrão de noite" (1 Ts 5-2). Portanto, vigiem de noite para que não sejam surpreendidos pelo ladrão. Pois o sono da morte — quer vocês durmam ou não — virá. Mas, à meia-noite, ouviu-se um clamor" (Mt 25.6). Que clamor foi este. senão acerca do qual o apóstolo diz: "Num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta"? "... porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1 Co 15-52). E quando o clamor foi dado à meia-noite: "Aí vem o esposo!", o que se segue? "Então, todas aquelas virgens se levantaram". O que significa todas "elas" se levantaram? "Vem a hora", disse o próprio Senhor, "em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz [...1 [e] sairão" (Jo 5.28,29). Então, ante a última trombeta. todos se levantarão. "As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas" (Mt 25.3,4). Qual é o significado de "não levaram óleo em suas vasilhas"? O que quer dizer "em suas vasilhas"? Em seus corações. O apóstolo diz: "Nossa glória é esta, o testemunho de nossa consciência". Há o óleo, o óleo precioso; este óleo é proveniente do dom de Deus. Os homens podem pôr óleo em suas vasilhas, mas não podem criar a azeitona. Vejam, eu tenho óleo, mas vocês criaram o óleo? É proveniente do dom de Deus. Vocês têm óleo. Levem-no consigo. O que é "levá-lo convosco"? Tenham-no dentro de si para agradar a Deus. Essas virgens tolas que não levaram óleo consigo desejam agradar os homens mediante essa abstinência, por meio da qual são chamadas virgens, e mediante suas boas obras, quando parecem levar lâmpadas. E se desejam agradar os homens, e por conta disso fazem todas essas obras louváveis, elas não levam óleo consigo. Se vocês levam-no consigo, levam- no no interior onde Deus vê; ali levam o testemunho de sua consciência. Pois aquele que anda para ganhar o testemunho de outrem não leva óleo consigo. Se vocês se privam das coisas ilícitas e fazem boas obras para serem louvados pelos homens, não há óleo interior. E assim, quando os homens começam a deixar seus louvores, as lâmpadas falham. Observem, amados, antes que essas virgens dormissem, não está escrito que as lâmpadas se apagavam. As lâmpadas das virgens sábias queimavam com um óleo interior, com a garantia de uma boa consciência, com uma glória interior, com uma caridade interna. Contudo, as lâmpadas das virgens tolas também queimavam. Por que queimavam? Porque ainda não havia falta dos louvores dos homens. Mas depois que se levantaram, na ressurreição dos mortos, elas começaram a preparar as lâmpadas, ou seja, começaram a se preparar para prestar contas a Deus das suas obras. E
  • 31. porque não há ninguém a louvar, cada um está inteiramente engajado em sua própria causa, não há ninguém que não pense em si mesmo, então não havia ninguém para lhes vender óleo; assim as lâmpadas começaram a falhar, e as tolas correram até as cinco sábias e disseram: "Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam" (Mt 25.8). Elas procuravam o que se acostumaram a buscar, para brilhar com o óleo de outrem, para andar segundo os louvores de outrem. Porém, as sábias disseram: "Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós" (v. 9). Esta não era a resposta daqueles que dão conselho, mas daqueles que escarnecem. Por que elas escarnecem? Porque eram sábias, porque a sabedoria estava nelas. Porque elas não eram sábias de si mesmas; mas essa sabedoria estava nelas, acerca da qual está escrito em certo livro, ela dirá àqueles que a menosprezaram, quando eles caíram nos males que ela as prenunciou: "Eu rirei em sua destruição". O que significa, então, esta zombaria das virgens sábias diante das tolas? "Ide. antes, aos que o vendem e comprai-o para vós", vocês que nunca viveram bem, mas pelo fato de os homens os louvarem, eles lhes vendiam óleo. O que significa "lhes vendiam óleo"? Vendiam louvores, elogios. Quem vende elogios, senão os lisonjeiros? O quanto teria sido melhor vocês não terem aquiescido com os lisonjeiros e terem levado óleo consigo, e em prol de uma boa consciência terem feito todas as boas obras. Então vocês podem dizer: "O justo me corrigirá em misericórdia e me reprovará, mas o óleo do pecador não engordará minha cabeça". Antes, ele diz, que o justo me corrija, que o justo me reprove, que o justo me esbofeteie, que o óleo do pecador engorde minha cabeça. O que é o óleo do pecador, a não ser as blandícias do lisonjeiro? Então, "ide, antes, aos que o vendem"; isto vocês se acostumaram a fazer. Mas nós não lhes daremos. Por quê? 'Não seja caso que nos falte a nós e a vós". O que significa 'não seja caso que nos falte"? Isto não foi falado em falta de esperança, mas em humildade sóbria e piedosa. Pois embora o homem bom tenha uma boa consciência, como ele sabe como Deus pode julgar quem não é enganado por ninguém? Ele tem uma boa consciência, nenhum pecado concebido no coração o solicita, contudo, ainda que sua consciência seja boa, por causa dos pecados diários da vida humana, ele disse a Deus: "Perdoa-nos as nossas dívidas"; considerando que ele fez o que vem a seguir, "assim como nós perdoamos aos nossos devedores". Ele repartiu o pão aos famintos de coração, de coração ele vestiu os desnudos; daquele óleo interior ele fez boas obras, e contudo nesse julgamento até sua boa consciência treme. Vejam então o que significa "dai-nos do vosso azeite". Foi dito a cias: "Ide, antes, aos que o vendem". Considerando que vocês estavam acostumados a viver segundo os louvores dos homens, vocês não levam óleo consigo; mas não lhes podemos dar nada, para que "não seja caso que nos falte a nós e a vós". Pois dificilmente julgamos a nós mesmos, quanto menos julgaremos vocês? O que significa "dificilmente julgamos a nós mesmos"? Porque "quando o Rei justo se assentar no trono, quem se
  • 32. gloriará que o seu coração é puro?" Pode ser que você não descubra nada em sua própria consciência. Mas aquele que vê melhor, cujo olhar divino penetra as coisas mais profundas, descobre algo; Ele vê que pode ser algo, Ele descobre algo. Quanto é melhor você lhe dizer: "Não entres agora em julgamento com o teu servo", quanto melhor: "Perdoa-nos as nossas dívidas". Porque também lhe será dito por causa dessas tochas, por causa dessas lâmpadas, "tive fome, e deste-me de comer". E então? As virgens tolas também não fizeram o mesmo? Sim, mas elas não o fizeram diante dEle. Como o fizeram? Conforme, que Deus nos livre, Ele disse: "Guardai- vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. [...] E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão" (Mt 6.1,5). Elas compraram óleo, deram o preço, não foram defraudadas pelos louvores dos homens: buscaram os louvores dos homens e os tiveram. Estes louvores dos homens não as ajudaram no Dia do Julgamento. Mas as outras virgens, como o fizeram? "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus" (Mt 5.16). Ele não disse: 'podem glorificar você". Porque você tem óleo de si mesmo. Orgulhe-se e diga: Eu o tenho; mas tenho o óleo dEle, "e que tens tu que não tenhas recebido"? Assim desse modo agiu uma, e de outro, a outra. Não é de se admirar que "tendo elas ido comprá-lo", enquanto buscavam por pessoas por quem serem louvadas, não acharam nenhuma; enquanto estão buscando por pessoas por quem serem consoladas, não acham nenhuma; que a porta é aberta e "o esposo chega"? A Noiva, a Igreja, é glorificada com Cristo, para que os vários membros se reúnam no seu todo. "... e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta" (Mt 25.10). Então as virgens tolas vieram cm seguida; mas tinham comprado ou encontrado óleo de quem pudessem comprar? Portanto, acharam as portas fechadas; passaram a bater, mas era muito tarde. É dito, e é verdade, não se trata de declaração enganosa: "Batei, e abrir-se-vos-á"; mas agora quando é o tempo da misericórdia e não quando é o tempo do julgamento. Pois esses tempos não podem ser confundidos, visto que a Igreja canta ao seu Senhor da "misericórdia e julgamento". É o tempo da misericórdia; arrependam-se. Vocês podem se arrepender no tempo do julgamento? Então, vocês serão como essas virgens contra quem a porta estava fechada. "Senhor, senhor. abre-nos a porta!" O quê! Elas não se arrependeram por não terem levado óleo consigo? Sim, mas de que proveito foi o seu último arrependimento, quando a verdadeira sabedoria escarneceu delas? Portanto, 'a porta estava fechada". E o que lhes foi dito? "Eu não vos conheço". Ele não as conhecia, aquEle que conhece todas as coisas? O que Ele quer dizer com "eu não vos conheço"? Eu as repilo, Eu rejeito vocês. Segundo meu conhecimento, Eu não as reconheço; meu conhecimento não conhece vícios. Agora, isto é coisa maravilhosa, não
  • 33. conhece vícios e julga os vícios. Não os conhece na prática; julga reprovando-os. Assim, "não vos conheço". As cinco virgens sábias vieram e "entraram". Quantos de vocês, meus irmãos, estão na profissão do nome de Cristo! Que haja entre vocês as cinco sábias, mas que não sejam somente cinco. Que haja entre vocês as cinco sábias que pertencem a esta sabedoria do número cinco. Pois a hora virá, e vem quando não sabemos. Virá à meia-noite; vigiem. Assim o Evangelho conclui: "Vigiai, pois, porque não sabeis o Dia nem a hora" (Mt 25.13). Mas se todos dormirmos, como vigiaremos? Vigiem com o coração, vigiem com fé, vigiem com esperança, vigiem com amor, vigiem com boas obras; e então, quando dormirem no corpo, virá o tempo em que vocês ressuscitarão. E quando vocês tiverem ressuscitado, preparem as lâmpadas. Então não se apagarão mais, serão renovadas com o óleo interno da consciência; o Noivo os abraçará no seu abraço espiritual, Ele os trará à sua casa, onde vocês nunca dormirão, onde sua lâmpada nunca se apagará. Porém, no momento estamos no trabalho, e as nossas lâmpadas alumiam entre os ventos e as tentações desta vida. Mas deixemos que nossa chama queime fortemente, que o vento da tentação aumente o fogo, em vez de apagá-lo.
  • 34. Venerável Bede: O Encontro da Misericórdia e da Justiça O VENERÁVEL BEDE NASCEU EM 672 e morreu em 735. Ele passou a maior parte da vida no mosteiro em Jarrow-on-Tyne. Sua obra mais notável foi a História Eclesiástica da Nação Inglesa. Suas últimas horas foram gastas terminando a tradução para o vernáculo do Evangelho de João. Infelizmente, esta obra se perdeu. Há imensa quantidade de sermões da Idade Média, mas poucos estão disponíveis em inglês. Os pregadores medievais não tinham dúvidas sobre o céu, o inferno, a alma e a obra redentora de Jesus Cristo. Diante da incerteza de muitos de nossos sermões modernos, é reconfortante estudar um sermão da Idade Média. Como veremos no sermão pregado por Bede, havia muito da arte dos contadores de histórias nos sermões deste antigo pregador.
  • 35. O Encontro da Misericórdia e da Justiça "A misericórdia c a verdade se encontraram...” (Sl 85.10) HAVIA certo Pai de família, um Rei poderoso, que tinha quatro filhas. Uma se chamava Misericórdia; a segunda, Verdade; a terceira. Justiça; e a quarta, Paz; de quem se diz: "A Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram'1. Ele tinha também certo Filho muito sábio, a quem ninguém se comparava em sabedoria. Tinha igualmente certo criado a quem havia exaltado e enriquecido com grande honra; pois Ele o fizera segundo sua própria semelhança e similitude, e isso sem mérito precedente por parte do criado. Mas o Senhor, como é o costume com tais mestres sábios, desejava prudentemente explorar e conhecer o caráter e a fé do seu criado, se este lhe era ou não digno de confiança. Assim Ele deu-lhe uma ordem fácil, e disse: "Se tu fizeres o que eu te digo, eu te exaltarei a maiores honras; se não, tu perecerás miseravelmente". O criado ouviu a ordem, e sem demora, a infringiu. Por que preciso dizer mais? Por que preciso retardá-lo com minhas palavras e lágrimas? Este criado orgulhoso, obstinado, altivo e inchado de vaidade, buscou uma desculpa para sua transgressão e colocou toda a culpa no seu Senhor. Pois quando ele disse: "A mulher que me deste para estar comigo, me enganou", ele jogou toda a culpa no seu Criador. O seu Senhor, mais bravo por tal conduta contumaz do que pela transgressão da ordem, chamou quatro dos mais cruéis executores e ordenou que um deles o lançasse na prisão, que outro o estrangulasse, que o terceiro o decapitasse e que o quarto o afligisse com tormentos atrozes. Tão logo se oferecer ocasião, eu lhes darei o nome de cada um dos atormentadores. Esses torturadores, estudando como pôr em execução a própria crueldade, levaram o miserável homem e começaram a afligi-lo com toda sorte de castigos. Mas uma das filhas do Rei. por nome Misericórdia, quando ouviu falar sobre este castigo do criado, correu apressadamente à prisão. Olhando para dentro e vendo o homem entregue aos atormentadores, não pôde deixar de ter compaixão dele, porque é sua característica ter misericórdia. Ela rasgou as roupas, bateu palmas e deixou o cabelo cair solto em torno do pescoço. Chorando e gritando, ela correu ao Pai e, ajoelhando-se diante dos seus pés, começou a dizer com voz séria e dolorosa: "Meu Pai amado, não sou eu tua filha Misericórdia? E tu não és chamado misericordioso? Se tu és misericordioso, tenha misericórdia de teu criado. Se tu não tens misericórdia dele, tu não podes ser chamado de misericordioso; e se tu não és misericordioso, tu não podes ter a mim, Misericórdia, como tua filha". Enquanto ela argumentava com o Pai, sua irmã, Verdade veio e perguntou por que Misericórdia estava chorando. "Sua irmã, Misericórdia", respondeu o Pai, "deseja que eu tenha piedade daquele transgressor orgulhoso, cujo castigo designei". A Verdade, quando ouviu isto, ficou muito irada e olhou duramente para o Pai. "Não
  • 36. sou eu", disse ela, "tua filha Verdade? Tu não és chamado verdadeiro? Não é verdade que tu estabeleceste uma punição para ele e o ameaçaste com a morte por tormentos? Se tu és verdadeiro, tu seguirás o que é verdadeiro: se tu não o seguires, tu não podes ser verdadeiro; se tu não és verdadeiro, tu não podes ter a mim, Verdade, como tua filha". Neste ponto, vocês percebem, "a Misericórdia e a Verdade se encontraram". A terceira irmã, isto é, a Justiça, ouvindo esta discussão, contenda, disputa e pleito, e convocada pelo clamor, começou a inquirir a causa da Verdade. E a Verdade, que só podia falar o que era verdadeiro, disse: "Esta nossa irmã, a Misericórdia, se é que ela deve ser chamada de irmã, visto que não concorda conosco, deseja que nosso Pai tenha piedade daquele transgressor orgulhoso". Então a Justiça, com um semblante bravo e meditando num desgosto que ela não tinha esperado, disse ao Pai: "Não sou eu a Justiça, tua filha? Tu não és chamado justo? Se tu és justo, tu exercerás justiça no transgressor; se tu não exerceres essa justiça, tu não podes ser justo; se tu não és justo, tu não podes ter a mim, Justiça, como tua filha". Então aqui estavam, de um lado, a Verdade e a Justiça, e de outro, a Misericórdia. A Paz fugiu para um país muito distante. Pois onde há discussão e contenda, não há paz; e quanto maior a contenda, para mais longe a Paz é afugentada. Então, estando uma de suas filhas perdida, e as outras três em calorosa discussão, o Rei achou extremamente difícil encontrar uma maneira de determinar o que deveria fazer, ou para qual lado deveria inclinar-se. Pois se desse ouvidos à Misericórdia, Ele ofenderia a Verdade e a Justiça; se desse ouvidos à Verdade e à Justiça, não poderia ter Misericórdia por sua filha; e, não obstante, fazia-se necessário que Ele fosse misericordioso e justo, pacífico e verdadeiro. Havia grande necessidade de um bom conselho. Portanto, o Pai chamou seu Filho sábio, e o consultou sobre o assunto. Disse o Filho: "Dai-me, meu Pai, este presente assunto para conduzir, e eu castigarei o transgressor para ti, e trarei em paz para ti as tuas quatro filhas". "Estas são grandes promessas'1, respondeu o Pai, "se a ação concordar com a palavra. Se tu podes fazer o que dizes, eu agirei como tu me exortares". Tendo recebido o mandato real, o Filho levou consigo sua irmã Misericórdia. "Pulando montanhas, ignorando colinas", eles chegaram à prisão, e "olhando pelas janelas, olhando pelas grades", viu o criado encarcerado, barrado da vida presente, devorado pela aflição, e "desde a planta do pé até ao alto da cabeça não havia nele nada são". Fie o viu no poder da morte, porque por ele a morte entrou no mundo. Ele o viu devorado, porque, quando um homem está morto, ele é comido pelos vermes. E porque agora tenho a oportunidade de lhes falar, vocês saberão os nomes dos quatro atormentadores. O primeiro, que o colocou na prisão, é a Prisão da vida presente, da qual se diz: "Ai de mim, que sou constrangido a morar em Meseque". O segundo, que o atormentou, é a Miséria do mundo, que nos ataca com todos os tipos de dor c miséria. O terceiro, que o estava matan- do, é a Morte, que destrói e a tudo mata; o quarto, que o estava devorando, é o Verme... Então, o Filho, vendo o seu criado entregue a estes quatro
  • 37. atormentadores, não pôde senão ter Misericórdia dele, porque a Misericórdia era sua companheira, e irrompendo na prisão da morte, "conquistou a morte, amarrou o homem forte, tomou os seus bens" e distribuiu os espólios. E, "subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens". Ele trouxe de volta o criado ao seu país, o coroou com duplicada honra e o vestiu com uma roupa de imortalidade. Ao ver tal coisa, Misericórdia não teve mais base de reclamação. A Verdade não achou causa de descontentamento, porque seu Pai foi achado verdadeiro. O criado havia pago todas as penas. A Justiça, de igual modo, não reclamou, porque fora executada a justiça no transgressor; e, assim, "aquele que tinha-se perdido, foi achado". A Paz, então, quando viu que suas irmãs estavam em concórdia, voltou e se uniu a elas. E agora, vejam que "a Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram". Assim, pelo Mediador dos homens e anjos, o homem foi purificado e recon- ciliado, e a centésima ovelha foi trazida de volta ao aprisco de Deus. A este aprisco Jesus nos traz, a quem seja a honra e o poder para sempre. Amém.
  • 38. Thomas á Kempis: Tomando a Cruz THOMAS Á KEMPIS NASCEU: EM 1381, em Kampen, na orla de Zuiderzee, Países Baixos, e morreu no mosteiro do monte Santa Inês, em Zwolle, em 1471. Setenta anos de sua longa vida foram passados no convento agostiniano do monte Santa Inês. Foi lá que ele produziu o imortal clássico da vida devocional A imitação de Cristo, o qual, como escreveu o Dr. Charles Hodge, "espalhou-se como incenso pelos corredores e nichos da Igreja Universal". Seu sermão "Tomando a Cruz" é um belo e eloqüente tributo a Cristo e a cruz.
  • 39. Tomando a Cruz Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo." (Gl 6.14) IRMÃOS amados, o bem-aventurado Paulo, o observador excelente dos segredos divinos, declara-nos nas supracitadas palavras, que a cruz é a maneira certa de viver bem, é o melhor ensinamento de como sofrer adversidade, é a escada mais firme por meio da qual subimos ao céu por seu maior sinal. É esta que conduz seus amantes ao país da luz eterna, da paz eterna, da bem-aventurança eterna, que o mundo não pode dar, nem o Diabo tirar. A fraqueza humana detesta o sofrimento da pobreza, desdém, vilania, fome, fadiga, dor, necessidade, escárnio, que muitas vezes são sua sorte, e que pesam e perturbam os homens. Mas todas estas coisas unidas formam, por seus sofrimentos múltiplos, uma cruz saudável, ordenando assim Deus esta dispensação para nós. Aos verdadeiros portadores da cruz, eles abrem o portão do Reino celestial. Essa luta para eles prepara a palma da vida; essa conquista para eles representa o diadema de glória eterna. Ó cruz verdadeiramente bendita de Cristo, que sustentou o Rei do céu, e que trouxe para o mundo inteiro o gozo da salvação! Por ti os demônios são postos em fuga; os fracos são curados; os tímidos são fortalecidos: os pecadores são limpos; os inativos são estimulados; os orgulhosos são humilhados; os desumanos são tocados; e os devotos são orvalhados com lágrimas. Bem-aventurados são aqueles que diariamente lembram a paixão de Cristo, e desejam levar a própria cruz após Cristo. Irmãos bons e religiosos, que estão inscritos na obediência, têm, na aflição diária de seus corpos e na resignação de suas vontades, uma cruz que em seu aspecto exterior é pesada c amarga. Mas é interiormente cheia de doçura, por causa da esperança de salvação eterna, e o afluxo de consolo divino, que é prometido àqueles que são quebrantados de coração. Se eles não a sentem imediatamente ou não a percebem, que é concedida sobre eles passo a passo, devem contudo esperá-la com paciência e resignar-se à vontade divina. Porque Ele sabe bem quando é o tempo de mostrar misericórdia e qual o método de ajudar os aflitos, assim como o médico está bem familiarizado com o ofício de curar, e o capitão do navio com a arte de navegar. Aqueles que tomaram a cruz em seu coração têm grande confiança e motivo de glória na cruz de Jesus Cristo. Eles não confiam nem esperam serem salvos por méritos e obras próprias, mas pela misericórdia de Deus e pelos méritos de Cristo Jesus, crucificado por nossos pecados, em quem eles crêem fielmente; a quem com o coração amam, com a boca confessam, louvam, pregam, honram e exaltam. Deus prova seus amigos pela santa cruz, se o amam verdadeiramente ou em aparência, e se guardam seus mandamentos perfeitamente. Eles são provados principalmente pela tolerância às injúrias e pela remoção das consolações internas; pela morte de amigos e pela perda de
  • 40. propriedade; pelas dores de cabeça e pelos ferimentos nos membros; pela abstinência de comida e pela aspereza das roupas; pela dureza da cama e pela frieza dos pés; pelas longas vigílias da noite e pelas fadigas do dia; pelo silêncio da boca e pelas reprovações dos superiores; pelos vermes que roem e pelas línguas que depreciam. Em seus sofrimentos eles são consolados pela meditação devota da paixão do Senhor, como muitos devotos sabem muito bem em seu coração. E deles o provar o mel escondido na rocha, e o óleo da misericórdia que goteja da bendita madeira da cruz santa, cujo gosto é mui delicioso; cujo odor é mui doce; cujo toque é mui saudável; cujo fruto é mui feliz. Ó árvore da vida verdadeiramente digna e preciosa, plantada no meio da Igreja para o remédio da alma! Ó Jesus de Nazaré, tu que foste crucificado por nós! Tu abriste as algemas dos pecadores; libertaste as almas dos santos; humilhaste os altivos; quebraste o poder dos maus; consolaste os crentes; puseste em fuga os incrédulos; livraste os piedosos; puniste os obstinados; venceste os adversários. Tu levantaste os que estavam caídos; puseste em liberdade os que se encontravam opri- midos; feriste os que ferem; defendeste os inocentes; amaste os verda- deiros; odiaste os falsos; desdenhaste os carnais; prezaste os espirituais; recebeste os que vão a ti; escondeste os que buscam refúgio em ti. Os que te clamam, tu os ouviste; os que te visitam, tu os alegraste; os que te buscam, tu os ajudaste; os que choram a ti, tu os fortaleceste. Tu honraste os que te honram; louvaste os que te louvam; amaste os que te amam; glorificaste os que te adoram; abençoaste os que te bendizem; exaltaste os que te exaltam. Aqueles que olham para ti, tu os oi haste; os que te beijam, tu os beijaste; os que te abraçam, tu os abraçaste; os que te seguem, tu os guiaste ao céu. Ó irmão religioso, por que estás triste, e por que reclamas do peso da cruz, em longas vigílias; em muitos jejuns; em trabalho duro c silêncio; em obediência e rígida disciplina? — cujas coisas foram instituídas à inspiração de Deus, pelos pais santos para teu proveito e salvação da tua alma; a fim de que por eles tu andasses com firmeza e prudentemente, tu que não podes te governar bem e virtuosamente. Tu pensas que sem a cruz e sem dor tu podes entrar no Reino dos céus, quando Cristo nem poderia, nem entraria, nem qualquer dos seus amigos e santos mais amados ganharia dEle tal privilégio? Porque Ele disse: "Porventura, não convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória?" Tu estás completamente equivocado em teu pensamento: tu não seguiste as pegadas de Cristo a ti mostradas; pois Ele, pela cruz, passou deste mundo ao seu Pai celestial. Entre os vencedores e cidadãos do Reino celestial, perguntes a quem quiseres. como Ele veio a possuir esta glória de Deus para sempre. Não foi pela cruz e sofrimento? Então, irmãos, tomai o doce e leve jugo do Senhor. Abraçai com todo o afeto a cruz santa até o fim — ela floresce com todas as virtudes; está cheia de unção celestial — para que vos conduza sem engano, com a esperança da glória, à vida eterna. O que mais direi? Este é o caminho, e não há outro; o caminho certo, o caminho santo, o caminho perfeito, o caminho de Cristo, o caminho dos justos, o caminho dos eleitos que serão salvos. Andai nele, perseverai nele,