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                                                                             PROPRIEDADE DO




  Director: Nelson Lineu | Maputo, 24 de Fevereiro de 2012 | Ano II | N°19 | E-mail: kuphaluxa@gmail.com

Movimento Literário Kuphaluxa : dizer, fazer e sentir a literatura

  Por uma retórica da razão
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012   |   LITERATAS   |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |   2




Editorial
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                      |   LITERATAS            |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                                  3



Apresentação                                                                                               Eduardo Quive


             Dois anos depois, quem somos nós?
D
             istam-se dois anos do longínquo 2009, ano em que        Paulina Chiziane foi a nossa primeira vítima, ao aceitar com
             foi criado o Movimento Literário Kuphaluxa, um          poucos conhecimentos sobre nós, deslocar-se para uma esco-
             grupo de leitores e escritores em formação, que visa    la tão distante do centro da cidade, Escola Secundária de
divulgar a literatura moçambicana, brasileira e de outros países     Malhazine, no bairro com mesmo nome. Sem entrar em deta-
de expressão portuguesa, bem como a promoção de novos auto-
res, de modo a tornar possível o sonho de se ter um Moçambique
literário.
A infinitude da missão encabeçada por jovens, que se designam
leitores, no imperfeito tema que se chama Literatura Moçambi-
cana, na situação em que ainda não se sabe definir, revela a outra
face duma faixa etária tida como ―problemática‖, não só em
Moçambique, mas também em outras terras.
Contudo, essa massa que move-se por um fenómeno esquisito,
inverso de um verso, ilusório que se chama “vontade”, tomou
as forças, ainda que num número ínfimo, para encontrar respos-       Amélia, Eduardo, Japone, Francisco e Izidine, de pé. Agachados, Lineu e Amosse

tas e caminhos de tornar Moçambique um país de leitores e de
cidadãos culturalmente activos e proactivos.                         lhes, a escritora, tomou conta do recado. Ensinou e encenou
Aliás, esses caminhos, na tentativa de encurtá-los, moldá-los ao     aos estudantes. Ainda ofereceu um exemplar de Niketche à
estilo moçambicano, ―corta-mato”, acabamos nos envolvendo            escola, para nossa surpresa.
em outras alegações, como as questões ligadas à qualidade de         Paulina deixou à escola, um ensinamento que não me esque-
                                                                     ço: encontramos a palavra em tudo o quanto nos rodeia. Nos
                                                                     livros, até de Matemática, Química, Física entre outros. Por
                                                                     isso dominar a palavra é a única alternativa que se pode ter
                                                                     para singrar em horizontes perfeitos. Por isso, não se justifi-
                                                                     ca, que uma biblioteca escolar tenha apenas livros de interes-
                                                                     se das ciências exactas. Há que considerar a ciência da arte.
                                                                     O imaginário que leva o homem ao mundo da criatividade.
                                                                     Mas continuando nas vítimas. De seguida, vieram os escrito-
                                                                     res       Marcelo
ensino e principalmente do formando.                                 Panguana,

Então abandonamos a nobre sala do Centro                             Ungulani          Ba
                                                                     Ka          Khosa,
Cultural Brasil – Moçambique e imigramos                             Juvenal Bucua-
para as escolas secundárias, numa viagem,                            ne que também,
                                                                     engrossaram-se
em que tivemos a ousadia de induzir tam-
                                                                     da retórica des-
bém escritores.                                                      tes                    Marcelo Panguana
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Apresentação                                         Continuação — Dois anos depois, quem somos nós?
                                                                                                             Eduardo Quive

―miúdos‖ que não se sabia as suas origens. Aliás, Juvenal
Bucuane chegou a oferecer cerca de 15 livros à Escola
Secundária Nossa Senhora de Livramento, na Matola.
A escritora Lília Momplé entrou na lista dos escritores que
partilharam seus saberes com aspirantes. Muitas vezes a
escritora, chegou a reclamar de cansaço pela idade, mas nun-
ca cansada de ensinar, por isso a todos nossos chamamentos,
dizia incodicionalmente ―Sim‖.
                                                                              Rubervam Du Nascimento dando palestra na Escola Secundária
                                                                              Francisco Manyanga em Maputo
                                                                            Depois, veio a escritora brasileira Ana Rusche, que conhecia
                                                                            Moçambique pela primeira vez. E pela primeira vez, levamos
                                                                            um escritor a uma escola técnica. Levamos Ana Rusche para
                                                                            Escola Industrial 1° de Maio, em Maputo. De seguida, mais um
                                                                            escritor pelas águas do Atlântico veio a desaguar no Índico e
                                                                            levamo-lo à Escola Secundária Francisco Manyanga. Esse
Escritoras Lília Momplé e Ana Rusche em conversa, acompanhadas
por Mauro Brito e Amosse Mucavele                                           homem chama-se Rubervam Du Nascimento.
                                                                            Du Nascimento, ao estilo das suas missões na periferia da cha-
                                                                            mada Distanteresina, em Piauí, “pregou evangelhos” literários
O facto de estarmos sediados no Centro Cultural Brasil –
                                                                            aos alunos da Manyanga e ensinou que ler é mais do que formar-
Moçambique e apadrinhados pelo actual detentor do
                                                                            se. É informar-se sobre o mundo e sobre si mesmo.
“Prémio Nobel da Literatura Moçambicana”, ou, se quise-
                                                                            Passando por essas vias rumo a consolidação dos nossos objecti-
rem, ―Prémio José Craveirinha‖, o maior Prémio da literatu-
                                                                            vos, ―chegamos a parar na cadeia‖. Em 2010, ―entramos‖ na
ra em Moçambique, contribuiu para a credibilidade do movi-
                                                                            Cadeia Feminina de Ndlavela, no município da Matola, com a
mento. Refiro-me ao Calane da Silva.
                                                                            missão de conquistar mais leitores para a literatura moçambica-
Eterno cúmplice deste movimento que nasceu em suas mãos.
                                                                            na. Com apoio de editoras, reunimos livros e revistas que ofere-
Acolheu e deu amor de mãe no lugar de barbas de pai.
                                                                            cemos às mulheres daquela instituição prisional.
                                                                            Ainda oferecemos livros infantis às crianças da Escola Comuni-
                                                                            tária Imaculada Conceição de Hulene.
                                                                            Avançamos. Andando pelas ruas de Maputo, vimos que há algo
                                                                            que esta cidade tem em quase todo o lado – as acácias. Isso nos
                                                                            incomodava.

Calane da Silva, declamando num sarau cultural do Kuphaluxa

Mas ainda não se cumpriram as menções no assunto
―Literatura nas Escolas‖. Luís Carlos Patraquim, também
fora nossa vítima nesse projecto. Destinávamos a sua presen-
ça, à Escola Secundária da Zona Verde e infelizmente, o
homem escapou. Não tínhamos dinheiro para alugar uma                        Projecto “Poesia nas
                                                                            Acáacias” na Rua da
viatura para cumprir com o sequestro. Como diz-se nesta
                                                                            Rádio Moçambique
geração [da vi(r)agem?], barracou.
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Apresentação                                                                                          Eduardo Quive
                                         Continuação — Dois anos depois, quem somos nós?
Decidimos invadir esse pomar de árvores sem frutos. Leva-         Participam em revistas, portais e antologias literárias, curiosa-
mos connosco a poesia. Nossa e a dos já conhecidos e reco-        mente, de fora do que dentro de Moçambique.
nhecidos escritores. Eu, Mia Couto, Calane da Silva, disputá-     Facto que nos leva a preocupação sobre os planos de incentivo
vamos o espaço no Jardim Tunduro e na Rua da Rádio                e promoção da leitura em Moçambique, bem como de criação
Moçambique, com mais de cinco defuntos proeminentes da            de espaços onde se incentive a escrita criativa e literária.
                                                                  Durante as visitas com escritores nas escolas, pudemos perce-
                                                                  ber que nem sempre cabe a razão a justificação ―os jovens não
                                                                  lêem‖, é importante que se criem condições e facilidades para
                                                                  que de facto, ler não seja um problema.
                                                                  Criar condições para se ler, não implica só, tornar o livro mais
                                                                  barato. Implica tornar o livro amigo do cidadão comum e aces-
                                                                  sível. Dar acesso, volto a repetir, não é baixar os preços exube-
                                                                  rantes com que são vendidos os livros, é fazer com que a esco-
poesia moçambicana: José Craveirinha nosso pai e a nossa          la, as casas de cultura, as bibliotecas, sejam os pontos certos
mãe, Noémia de Sousa, o poeta vagabundo e desgraçado, mor-        para se dar a conhecer o valor de uma obra literária e que lá,
to pelas suas próprias harpas e farpas, Amin Nordine, Gulamo      seja possível encontrar os livros para o consumo em tempos de
Khan rugindo aos sons do tombo no Mbuzini, Carlos Cardoso,        lazer. Isso faz-me lembrar os projectos: Núcleos Escolares de
entre outros. Pois é. Eles proeminentes e nós iminentes.          Leitura, Literabrincando e Biblioteca Móvel, o Kuphaluxa
Estavam lá outros vivos: Amosse Mucavele, Nelson Lineu,           saberá melhor implementá-los.
Francisco Júnior, Japone Arijuane, Mukurruza… Que com             Mas continuo apresentando e questionando sobre quem somos
certeza não os conhecem.                                          nós.
Pois. Esses jovens desconhecidos não pararam. Ainda sur-          Então já nos conhecem? Ainda não? Então explico já de forma
preendem. Foram vencedores de um prémio Mundial de Poe-           resumida, mas com bons e importantes detalhes: somos o
sia na Itália, venceram um concurso literário de crónicas, con-   Movimento Literário Kuphaluxa, dizemos, fazemos e senti-
tos e poesia do Brasil e ainda barrabatissaram novamente os       mos a literatura, e pronto.
brasileiros, uma classificação no Prémio Poetize-2012, entre



                                                                  D
                                                                             ois membros do Movimento Literário Kuphaluxa, nomeada-
mais de 2.000 participantes.
                                                                             mente, Eduardo Quive e Amosse Mucavele, vão participar em
E são mesmo miúdos, estes?                                                   Março próximo, da Bienal Internacional da Poesia em Luanda,

São o Movimento Literário Kuphaluxa.                              capital da Angola.
                                                                  Ambos, participam deste evento que acontece pela primeira vez no país, a
Dizem que Kuphaluxa - e soletro: K, U, P, H, A, L, U, X, A.
                                                                  convite da União dos Escritores Angolanos, quem organiza a bienal.
Significa Disseminar. Mas disseminar, em Ronga, esse do Ka
                                                                  Na referida Bienal, serão reflectidas questões ligadas a poesia, entre
Mpfumo, é Kupaluxa - e soletro: K, U, P, A, L, U, X, A. outros assuntos.
Kuphaluxa sem H. Mas esta juventude, tal como outra juven- Ainda de Moçambique, tomarão parte os escritoires Dinis Muhai, Luís
tude, tem os seus problemas e o seu maior problema, chama- Cezerilo e Filimone Meigos. E dos países da CPLP, consta que estarão
se criatividade e inovação, por isso chamaram-se Kuphaluxa presentes escritoires como Luís Serguilhas, Melo e Castro (Portugal),
                                                                  Corcino Fortes (Cabo Verde), Odete Semedo, Tony Tcheca (G. Bissau),
com H.
                                                                  Conceição Lima (S. T. e Príncipe), Cláudio Daniel (Brasil), para além
Jovens que mais do que ensinar os outros a gostarem de ler,
                                                                  dos angolanos, Abreu Paxe, João Maimona, Lopito Feijó, João Melo e
ensinaram a si mesmos a beber dos livros, os segredos da outros.
sabedoria. E hoje o verbo se encarna. Nascem novos autores.
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                                         |    LITERATAS                |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                               6


                          Crónica                                                                                                Esse e outros
                                                                                         Aos leitores da Revista Literatas
                                                                                                                                 tempos num só
 FICHA TÉCNICA

                                                                                      E
                                                                                                                                  Nelson Lineu
                                                                                                ra numa tarde, o sol levando




                                                                                                                                 E
                                                                                                de volta a luminosidade que
                                                                                                dera por emprestado à terra,             nquanto o Gabito ia casa do
                                                                                      por aproximadamente 14 horas inin-                 Nhanga porreiro, reflectia sobre
                                                                                      terruptas. Era crepúsculo vespertino.              o que lhe motivava a tal in-
                                                                                      Vinha a ordem divina, da descida da        cursão, a sempre conversa do pai e com
                                                                                      escuridão sobre a terra, mas os            colegas de trabalho, copos entre outros
Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
                                               homens da cidade desafiavam tal ordem acendendo abundantes lâmpadas,
                                                                                                                                 afazeres ou desfazeres. Onde figuravam
Direcção e Redacção
                                               alimentadas pela electricidade. E, com auriculares de rádio calcando-me os
                                                                                                                                 palavras como: a juventude vai vender
Centro Cultural Brasil - Mocambique                                                                                              o país, não saberiam vestir os valores
                                               ouvidos, escutava o evoluir da depressão tropical ―Giovanna‖ que se abatia
Av. 25 de Setembro, N°1728,                                                                                                      que lhes fizeram lutar pela independên-
                                               sobre as terras malgaxes e que em breve ameaçava arrasar a costa sul e cen-
C. Postal: 1167, Maputo                                                                                                          cia, o orgulho nacional nos putos não
                                               tro de Moçambique.
                                                                                                                                 tem pátria, duvido que saibam entoar o
                                                    De súbito, o meu telefone-celular toca. É uma mensagem que assomou
                                                                                                                                 hino e saibam o significado das cores
Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46         ao ecrã do celular, exigindo-me o serviço dos olhos. Li a mensagem, sei lá
                                                                                                                                 da nossa bandeira.
603                                            de quem era, a pedir o serviço do papel e da esferográfica, desse secular e       O pai que se chamava Pedro Vivo,
Fax: +258 21 02 05 84                          mais perfeito casamento, do qual devia frutificar algo a respeito do Movi-        mesmo com brigadas de mobilizações
E-mail: kuphaluxa@sapo.mz                      mento Literário Kuphaluxa. Concretamente a mensagem dizia: ― a próxima            clandestinas, só teve consciência de que
Blogue: literatas.blogs.sapo.mz                edição da Literatas é o sobre o Movimento Literário Kuphaluxa. Se puder           tinha que lutar pela independência a
                                               escrever algo a respeito…agradecemos. Atónito fiquei a imaginar a serieda-        partir dos textos do Rui de Noronha,
                                               de do teor da mensagem. Escrevo ou não? Antes devo vos segredar que               Noémia de Sousa, Craveirinha que via
           DIRECTOR GERAL                      detesto escrever por encomenda, muito menos para o público. Um bêbado             nos jornais, a censura da PIDE era ine-
               Nelson Lineu                    não bebe senão para ele mesmo, para excitar o seu cérebro, se evadir              ficaz porque para ela até podiam cortar
         (nelsonlineu@gmail.com)               momentaneamente dos problemas da vida, ser extraterrestre. A escrita é o          os textos mas não os sentimentos.
          Cel: +258 82 27 61 184               meu vício, o meu mau hábito, é a que me desliga da terra.                         Já com o curandeiro na sua frente. Ou-
       DIRECTOR COMERCIAL                           Cogitei, por fim, escrever o pedido. Aliás, na situação de alguém neces-     viu-lhe dizer que essas acusações eram
             Japone Arijuane                   sitar de múltipla ajuda, enquanto o agricultor oferta cereais, o pescador o       defesas de homens como seu pai, se
         (jarijuane@gmail.com)                 pescado, o escritor dá a escrita. Não o fizesse e eu estaria a vender ao desba-   vocês são assim é porque eles não ensi-
         Cel: +258 82 35 63 201                rato a minha parca ingratidão. Sim, estaria a agir de má fé, desvalorizando o     naram como devia ou porque ensinaram
                                               exímio trabalho dos outros. Faz isso quem põe os óculos de madeira: diriam        assim. Quando a juventude vai lutar
                 EDITOR
              Eduardo Quive                    isso talvez os políticos. E eu não me afeio com tais óculos, não faço vista       pelos seus direitos como eles fizeram
        (eduardoquive@gmail.com)               grossa e muito menos ouvidos de mercador. Me informo a par e passo do             chamam de marginais, vândalos. Como
          Cel: +258 82 27 17 645               grande trabalho que este movimento exerce em prol da literatura moçambi-
                                                                                                                                 exemplo tenho o caso de um jovem do
                                               cana e lusófona. Ainda de modo platónico, relegando as vantagens materiais
                                                                                                                                 kuphaluxa que recebeu ameaças, co-
        CHEFE DA REDACÇÃO                                                                                                        vardes como sempre foram, a pessoa
            Amosse Mucavele                    para o segundo, terceiro, quarto, enfim, talvez para o derradeiro plano.
       (amosse1987@yahoo.com.br)
                                                                                                                                 não se identificou e ligou de um
                                                    Conheci a revista Literatas, a filha unigénita do Movimento Literário
          Cel: +258 82 57 03 750                                                                                                 número privado.
                                               Kuphaluxa, quando corria, célere, para o fim o vizinho ano de 2011. Era no
                                                                                                                                 - Por falares em kuphaluxa, como é que
                                               mês de Outubro e acabava de sair a público pela décima segunda vez. Sim,
  REPRESENTANTES PROVINCIAIS                                                                                                     eles conseguem se manter em pé nesse
        Dany Wambire—Sofala                    12 edições já tinham sido consumidas pelo público leitor interessado de toda
                                                                                                                                 cenário?
                  ()                           comunidade dos países de língua portuguesa, incluindo Moçambique é cla-
     Lino Sousa Mucuruza—Niassa
                                                                                                                                 - O amor pelo que fazem faz crer que as
                                               ro.                                                                               coisas andam as mil maravilhas, mas
                  ()
        Mauro Brito—Zambézia                        O encontro com a revista não foi programado, ao acaso, assim como            estamos a falar de um sistema literário
                  ()                           surgem as gravidezes indesejadas. Pesquisava sobre literatura moçambica-          em nascimento ou seja desafiando uma
                                               na na internet e de inopinado apareceu-me uma sugestão, um link em que            tentativa de abortos, as dificuldades são
       COLABORADORES FIXOS
Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Cata-
                                               provavelmente teria o que precisava. Nesta hiperligação me veio a revista         imensas, a partir dos meios, e o que a
   rina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa)    literatas, repleta de informações de consagrados escritores moçambicanos e        mim deixa expatriado é o facto das in-
                                               não só. Depois pululavam poemas extraordinários de jovens escritores,             stituições e intervenientes a fim não se
              COLUNISTA                        sobretudo.                                                                        fazerem sentir, sem um fio que lhes en-
          Marcelo Soriano (Brasil)                   Me apaixonei pela revista, humildosamente falando, primeiro pela qua-       rede. Os literatos dia-a-dia vão acor-
                                               lidade de informação de que a revista dispunha, e segundo pelo facto de a         dando a jovialidade neles e nos outros,
             FOTOGRAFIA
           Arquivo — Kuphaluxa                 revista estar a ser coordenada por jovens, grupo que ultimamente é severa-        acima de tudo mostrando aos mais vel-
                                               mente satirizado pela antiga geração por ter pouca ou quase nenhuma afei-         hos que existem e estão prontos para
                                               ção pela leitura e escrita. O Movimento Literário Kuphaluxa não vem provar        juntos literarem. Se queres que as
               PARCEIROS                                                                                                         coisas melhorem como futuro que a
                                               o contrário?! Ah, deixo isso para debates, acesos de preferência.
   Centro Cultural Brasil—Mocambique                 Depois da paixão, de imediato pedi para colaborar com a revista, pelo       anos nos é prometido.
                                               que o patrono da mesma, o Movimento literário Kuphaluxa acedeu amavel-             O que tens que fazer é chegar a casa,
             Portal Cronopios                  mente. A partir de então passei a escrever para a revista até hoje.               tirar do baú onde contém os textos que
           www.cronopios.com.br
                                                     Em jeito de fecho, apelo a todos intervenientes da área literária que se
                                                                                                                                 teu pai ti falou, e pedir que leia, as
                                                                                                                                 coisas só estão assim porque ele se
              Revista Blecaute                 atentem aos jovens escritores que da revista brotam, desbastando-os até se
                                                                                                                                 esqueceu do que lá vem escrito. Veras
                                               tornarem verdadeiros escritores. Ainda, apelo aos mesmos intervenientes
   Revista Culturas & Afectos Lusofonos                                                                                          que o dito será feito.
                                               que se inteiram das actividades deste exemplar grupo e auscultem os empe-
  culturaseafectoslusofonos.blogspot.com
                                               cilhos que, porventura, estejam a fazer do trabalho do movimento um pande-
                                               mónio, um autêntico martírio.


                                                                                 Um abraço de Dany Wambire / Beira
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                         |   LITERATAS        |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                  7


Poesia                                                                                                     Outras Margens

         Medo                        Relógio                                                              Nas Baixas do
                                                                                                          Niassa
Amélia Matavele*
                                    Mauro Brito*
                                                                                                          Mukurruza *
Quando o silêncio fica mudo         Tempo que veste-se de nada
                                    Largas opiniões dos refúgios                                          Nas Baixas do Niassa...
Parece que tudo agita-se                                                                                  Há sempre uma beleza
Prefiro dizer que muitas vezes      A nota musical minguando as
                                                                                                          Dos pinheiros e montan-
sinto falta do silêncio.            tribos do sol                          Bertolde Gomes Francisco       has,
                                    Hora                                   Madeira, nasceu aos 29 de      Flores e matagais
                                    Palpitando o oxigénio do mofo          Março de 1989 na cidade de     Aves e flores
________________                    que                                    Maputo. Concluiu os estu-      E a própria beleza de ex-
Amélia Margarida Matavele           Enegrece um quarto sem parto           dos secundários na Escola      istir.
nasceu a 08 de Dezembro de          Antropofagia de quem manda na          Secundária Josina Machel       Nas baixas do Niassa...
1991 em Maputo. Frequenta o         manada                                 em 2009.                       Os rios se abraçam
curso de Química na Universi-       Regista-se os quem nunca               É membro fundador do           As riquezas se escondem
dade Pedagógica e é membro          Apadrinharam cáusticos raptos          Movimento Literário Kupha-     Os olhares se encontram
do Movimento Literário              dos ponteiros                          luxa e destaca-se como de-     Reflectidas no mais puro
Kuphaluxa.                          A pressa do mar atravessando           clamador em noites de poe-     espelho
Os seus poemas são publica-         os pés do Zambeze                      sia. Tem seus textos publi-    De onde o amor brota e se
dos com frequência na Revista       Beleza do tempo nem tanto,             cados na Revista Literatas.    espalha
Literatas.                          venceu o minuto                                                       Nas Baixas do Niassa...
                                    Fugiu tudo do olhar supremo                                           Há feitiço, ao som das ma-
                                    Miam latejantes olhares pudicos                                       rimbas,
 Quintal do silêncio                Em abraços nos chapas 100                                             Percolado na saborosa,
                                    Que nunca contam                                                      polpa dos pêssegos,
Izidine Jaime                                                                                             Que já estrumou corações,
                                    _____________________                                                 Outrora áridos de amor.
Olho-me por dentro da alma          Mauro Brito Combo, nascido aos                                        Nas Baixas do Niassa...
Silêncios em jeito de conversa      17 de Fevereiro de 1990 em Nam-                                       Há sempre um tempo livre,
ondulam pensamentos de-
sassossegados. Agarro um terço
                                    pula, actualmente a residir em
                                    Quelimane onde cursa Ocean-
                                                                                   Gulas                  Há katxolima a rasgar gar-
                                                                                                          gantas dos nossos pais
de mim no vazio por onde as         ografia na Universidade Eduardo                                       E nossas mães de capu-
lágrimas nascem empregando          Mondlane. Membro do                    Francisco Junior*              lana cantam
sorrisos. Um estranho vento finge   Movimento Literário Kuphaluxa                                         Profecias escondidas
ser calmo na brisa Enquanto o       desde a sua fundação e membro                                         No apocalipse das Xiwodas
sol cai em sílabas. A noite ven-    do Movimento Humanista.                     Gulas                     Que previram o poder dos
cida deixa uma luz apadrinhar o     Embora sem livro, as suas cróni-            consumimos                Matakas
mundo. Que noite vencerá o sol?     cas, poemas e ensaios são publi-                                      Lá nas baixas do Niassa...
                                                                                aos sorvos
Penso! No quintal uma folha me      cadas em revistas literárias, a de-                                   Onde o povo se encontra…
                                                                                palavra
lembra a cor da natureza. Nasço     stacar, revista Tarja Preta da
                                                                                a                         ______________________
de novo. Nascer de novo é vencer    Academia Onírica de Piauí, re-
                                                                                palavra                   Mukurruza, pseudónimo
o que nos mata por dentro. Deixo    vista Blecaute do Brasil e Revista
                                    Literatas.                                  a dialéctica              de Lino Sousa Mucuruza,
em mim viver alguém que diz ser
eu. Sentado defronte a uma pal-                                                 anacrónica                nasceu em Quelimane
hota, Falo comigo para não me                                                   da                        onde moldou a sua vida e
esquecer. Meus olhos roçam o           A espera                                 nossa                     a maneira de sentir as
                                                                                                          coisas que formam o
céu num gatinhar de nuvens.                                                     fome
Mas o quê procuram? Um galo                                                     de                        homem (Dor, Amor,
                                     Helga Languana*                                                      Paixão) e reside na cidade
solteiro contempla o vazio da ca-                                               cada dia.
poeira, Engana a si próprio         Até quando, África! Minha xiluva                                      de Lichinga, província de
namorando o chão Preguiçoso         perdida no meio da escuridão. Ate                                     Niassa.
durmindo no seu último              quando te subjugaras ao medo?                                         membro de direcção do
                                                                          _____________________           (CEPAN) Clube de Escri-
aconchego, Não canta? Diz ter       Porque tens medo da tua força?
                                                                          Francisco Celestino Júnior,     tores poetas & Amigos do
esquecido a canção da madru-        Até quando ficaras jogada no meio
                                    da rua mendigando o que já tens?      nascido ao 23 de Agosto de      Niassa.
gada                                                                      1988, residente no bairro de
                                    O teu céu só tu podes fazer e o que                                   Costa na colectânea de
                                    és ninguém pode roubar te Ali-        infulene, subúrbio de           poesia, (Noite Amanhecida)
____________________                                                      Maputo. Estudante de con-
Izidine Jaime – Poeta, membro menta teu filho, esta nova África           tabilidade e finanças na Uni-
                                                                                                          publicada em 2009. E
do movimento Literário kupha-       recém nascida. Para que se torne a                                    ainda membro fundador
                                                                          versidade Eduardo Mond-
luxa, nasceu em Nampula aos 23 mãe o filho e o filho a mãe Conclua                                        do movimento „‟Gincana
                                    esta profecia que a muito já foi      lane. Colaborador da revista    de arte Lichinga‟‟.
de Janeiro de 1993 e residente
                                                                          Tarja Preta da Academia
em Maputo. Possui artigos e tex- esquecida África, surge et ambula!                                       É também membro do
                                                                          Onírica Piauí Brasil e da re-
tos literários publicados em revis- ____________                                                          Movimento Literário
tas nacionais e estrangeiras. Foi   Helga Rita Custódio Languana,         vista Literatas.                Kuphaluxa
publicado numa antologia de jov- nasceu no dia 15 de Maio de 1990
ens escritores de Nampula do        em Maputo, cidade onde reside. É
grupo Os Pensadores (2010), pre- estudante de Medicina na Univer-
miado no XXVII Prémio Mundial       sidade Eduardo Mondlane.
de Poesia Nósside da Itália (2011)
na categoria de Mencionado.
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                     |   LITERATAS       |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |               8


Intercâmbios                                                                          Brasil — Moçambique
                                                                                         Luana Antunes da Costa é
                                     Allan da Rosa é escritor bra-
                                                                                         professora e pesquisadora
                                     sileiro. Mestre em história en-
                                                                                         na área de Literatura Afri-
                                     quanto didica-se a        dramatur-
                                                                                         cana de Língua Portuguesa
                                     gia, cinema, jornalismo e tem
                                                                                         edoutoranda      em     literatura
                                     di n am i z ad o   c ul t ur a   n as
                                                                                         comparada na Universidade
                                     periferias de São Paulo.
                                                                                         de São Paulo.
                                     Veio a Maputo em Setembro no                        De viagem para Maputo com
                                     âmbito do projecto ― Brasili-                       Allan da Rosa, ambos movidos
                                     dades e Africanidades‖ onde                         pelo projecto ―Brasilidades e Afri-

                                     orientou com a organização do                       canidades‖ orientou palestras e
                                                                                         lançou a obra “Pelas Águas Mes-
                                     Kuphaluxa, palestras sobre a
                                                                                         tiças da História, uma leitura de O
                                     cultura negra no Brasil.
                                                                                         Outro Pé da Sereia de Mia Couto.


Ana Rüsche é escritora, advogada e dinam-
izadora cultural no Centro Cultural Alemão.
É doutoranda em Literaturas Africanas de
Expressão Portuguesa na Universidade de
São Paulo.
Esteve em Maputo entre os dias 1 e 5 de
Agosto de 2011 para um intercâmbio literário
com o Movimento Literário Kuphaluxa e durante
a sua estadia na capital do País realizou uma
oficina de escrita criativa, palestras nas esco-
las, entrevistas com escritores e ofereceu
vários livros ao Movimento.



Rubervam Du Nascimento é poeta e professor de direito na
Universidade Federal do Piauí. Labora como jurista no Min-
istério do Trabalho do Brasil. Esteve em Maputo para actividades
ligadas a sua área professional de trabalho, mas foi inevitável
que ―fugisse‖ para conhecer o Movimento Literáario Kuphaluxa,
com realizou uma palestra na Escola Secundária Francisco
Manyanga e no dia 19 de Agosto, marcou amantes de literature
de Maputo com uma Noite de Poesia e fez o lançamento do seu
livro ―Espólio‖, cujo valor das vendas o autor ofereceu gentil-
mente ao Movimento.
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                                  |    LITERATAS            |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                                            9


Testemunho
                                                                                                                 POETAS DO ÍNDICO – 35
                              A Morte de mim e o nascimento                                                        ANOS DE ESCRITA
                                                                                                           Fátima Mendonça
                                           do Eu enquanto Nós
                                                                                                                                                (…) Houve fatores a
                                                                                                           Fonte: Revista Mulemba (UFRJ)        determinar     alguma
                                                                                                                                                novidade, nas duas
                                                                                                           últimas décadas, relativamente ao que foi o conteúdo das
                                                                            “Não quero morrer não quero    propostas              anteriores,          nomeadamente
                                                                                                           de Charrua, Xiphefo e Oásis. Em primeiro lugar, observa-
                                                                                    Apodrecer no poema
                                                                                                           se o desaparecimento progressivo de grupos constituídos
                                                                          Que o cadáver de minhas tardes   em torno de projetos sob a proteção de instituições
Japone Arijuane                                   Não venha feder em tua manha feliz” Ferreira Gullar
                                                                                                           dependentes do Estado (AEMO, etc), para dar lugar a
                                                                                                           iniciativas individuais de poetas que, quer através de con-
jarijuane@gmail.com




A
                                                                                                           cursos literários, quer através de edições de autor ou ini-
                                                                                                           ciativas editoriais comerciais, patrocinadas em geral por
              ntes queríamos mudar o mundo, fazer um mundo literário, mais humano e                        agentes econômicos (operadoras telefônicas, bancos etc),
                                                                                                           emergem ou reemergem na cena literária, dando lugar a
              intelectual, mas aprendemos que ninguém e nada pode mudar, hoje muda-                        uma recepção mais alargada. Para tal, contribui, sem
                                                                                                           dúvida, uma maior rede de distribuição, principalmente em
              mos a nós mesmo, para que esse mundo não nos mude. Foi pensando em                           Maputo, aliada a um melhor apetrachamento das bibliote-
                                                                                                           cas provinciais; além disso, os interesses das muitas livra-
fazer o bem e dizer a verdade, que nos vimos na diferença da maioria, por essas acções que                 rias existentes voltaram-se para a promoção de textos
                                                                                                           moçambicanos. Também a intervenção dos diversos cen-
                                                                                                           tros culturais, criados na capital moçambicana, tem cola-
fazemos de graças ao rácio, perpetuam-nos uma conotação como extra-terrestres, o facto
                                                                                                           borado quer para a dinamização da atividade poética, por
                                                                                                           parte de grupos de jovens constituídos em torno desse
de pertencermos uma sociedade onde as pessoas promovem a regressão mental, e os
                                                                                                           objetivo, quer para uma interação cultural mais ampla.
                                                                                                           Cabe dar destaque a grupos de poesia que promovem
órgãos de comunicação que seria educativos divulgam e acreditam na mesma demência,                         recitais: o Graal Moçambique, com a realização das
                                                                                                           ―Tertúlias de sábado‖, desde 2000; o Teatro Avenida, que
guiados por gerações e estereótipos banais que fazem o crepúsculo mental colectivo. Nós                    acolhe o grupo ―Arrabenta Xithokozelo‖, desde 2006; o
                                                                                                           Centro Cultural Brasil-Moçambique, onde está sediado o
que a N milhas distanciamo-nos deste exorcismo patológico, destes preconceitos, aparece-                   ―grupo Kuphaluxa‖ e o ICMA (Instituto Cultural Moçambi-
                                                                                                           que Alemanha). Com intervenções mais alargadas a
mos não como extra-terrestres, mas como terrestre-extras, extras desta sociedade que a                     outras artes, projetam-se o Instituto Camões e o Centro
                                                                                                           Cultural Franco-Moçambicano. No quadro de ação estatal,
                                                                                                           a revista PROLER, do Fundo Bibliográfico de Língua Por-
pique caminha para o precipício, sociedade desbotada em regime de cegueira. Nós como
                                                                                                           tuguesa, tem cooperado, numa vertente mais pedagógica,
                                                                                                           para a promoção da leitura.
enviados de sei lá quem, munidos pelo mesmo ideal (não ideias como muitos: caixas de
                                                                                                                Saliente-se que o aparecimento de alguns dos novos
                                                                                                           autores encontra legitimação na publicação em livro ou
ressonância) fazendo, dizendo, e sentido a literatura, divulgando-a, como activistas literá-               nas antologias organizadas pelos poetas Nélson Saúte e
                                                                                                           Rogério Manjate (também narrador, ator, encenador) 14. A
rios, isentos de qualquer coesão, nós enquanto nós, independentemente dos meios e                          sua divulgação nas redes sociais, nomeadamente noFa-
                                                                                                           cebook, em blogs (ver ma-shamba blog) ou sites de poe-
momentos, somos limpos tal e qual nossas línguas, que as não sujamos por mais de quem                      sia, indica uma criativa adaptação a novos tempos e
                                                                                                           novas formas de fazer circular textos e de lhes dar visibili-
sejam as botas, aliás a língua é o nosso instrumento de trabalho, por esta é outras razões                 dade.
                                                                                                                Entre as mais recentes revelações estão: Amin Nor-
                                                                                                           din (falecido em 2010), com Vagabundo desgraça-
preservamo-la. Os mais atentos dirão então porque a morte de mim e nascimento do Eu
                                                                                                           do (1996), Duas quadras para Rosa Xicuaxula (1998)
                                                                                                           e Do lado da ala B (2003); Eusébio Sanjane, com Rosas e
enquanto nós?                                                                                              lágrimas (2006); Sangare Okapi, com Inventário de
                                                                                                           angústias ou apoteose do nada (2005) e Mesmos barcos
Bom, sei os contrastes mentais que um labirinto poético-filosófico pode vós submeter, mas                  ou poemas de revisitação do corpo (2007). O ressurgi-
                                                                                                           mento, agora, com outro amadurecimento, de Celso Man-
faço jus aos apurados mentais, aliás esse é um dos objectivos do Kuphaluxa, o tal Nós,                     guana, com Pátria que me pariu (2006), e de Chagas
                                                                                                           Levene, com Tatuagem de estrelas (2008), que tinham
subir a literacia no sentido intelectual a sociedade, obvio enquanto homem individual                      estado ligados à Geração 70/Oásis, mostram o potencial
                                                                                                           contido nesta poesia mais recente, opinião que partilho
morri para dar vida a Eu poético que fez nascer o Nós “Kuphaluxa”.                                         com Carmen Secco:
                                                                                                           (…) alguns dos poetas egressos da Geração 70, embora não
                                                                                                           tenham logrado publicar seus livros, não param de escrever. E
                                                                                                           por quê? Em nossa opinião, porque, apesar de se terem declara-
                                   O quê que dirás?                                                        do poetas do real, da denúncia direta da fome, identificando-se
                                                                                                           como herdeiros de distopias e guerras, não abandonaram a uto-
                                                                                                           pia do fazer literário e sabem, no íntimo, que ainda precisam
                                               Vês…                                                        aprimorar seus versos. Notamos que o descontentamento frente
                                                                                                           ao contexto econômico, social, político e cultural do país é gran-
                                 Minha alma separa-se de mim                                               de, refletindo-se no quadro atual da poesia. Vários poetas –
                                   Vai indo por ai densa de eu!                                            alguns que pertenceram à Charrua e outros que surgiram parale-
                                         O quê que farás?                                                  lamente ou depois – revelam, em seus últimos poemas, uma
                                                                                                           cética lucidez em relação à realidade de Moçambique, mas pros-
                                Se esse ser ilusório cansar de ser,                                        seguem no encalço das "paisagens da memória" e dos
                             Chamarás o destino para destinares-me?                                        "subterrâneos dos sonhos" (SECCO, 2008, p.30) (…)
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Testemunho                                                                                                                              Amosse Mucavele

         DIZER, FAZER, E SENTIR A LITERATURA: POR UMA RETÓRICA DA RAZÃO
                                                               Os remos dispensam          as suas ricas analises, ensaios e publicações a uma dúzia de nomes. Ex: Mia
                                                                     Temos as mãos         Couto (Moçambique), Pepetela (Angola), que de uma ou de outra forma limi-
                                                                  Para a navegação         ta os anseios de um universo de 7 países vistos como periféricos (os Africanos
                  Sangare Okapi- in Mesmos Barcos ou Poemas de Revisitação do Corpo        e os Asiáticos), todavia em Moçambique guarda(va)-se uma distancia de sécu-
                                                                                           los sobre a literatura brasileira contemporânea(1990-2011) ,pois as obras que
                                                                                           existem nas livrarias continuam as do Jorge Amado, Carlos Drummond de


“
    Eu escrevo para adiar a minha a morte ”, É apartir desta voz do escritor Argen-        Andrade, e.t.c., e sobre a literatura Portuguesa(José Saramago e António Lobo
    tino, Jorge Luís Borges, que estes jovens cumprimentem-se a caminhar de ouvidos        Antunes) e Angolana( Pepetela,e Luandino Viera).
    abertos para o “lugar” onde a palavra se enamora com a língua. Este ‘lugar’ de
encontros constantes entre a realidade e a ficção.                                         Dada a esta paragem no tempo da literatura lusófona, criamos um espaço ( o
                                                                                           blog do kuphaluxa, uma espécie de relatório das nossas actividades, achamos
Já que “De facto, por mais heterodoxos ou abrangentes que sejamos, não podemos nos         pouco e mais tarde nasceu a Revista Literatas) de dialogo intercultural, de
articular directamente com a tradição mundial, que aliás não existe em estado pronto.      divulgação da literatura lusófona, que logo a priori deixou de pertencer ao
Todos nos articulamos nalgum lugar, retomado ou inventando tradições parciais. sen-        Kuphaluxa(Moçambique) o Brasileiro Pedro Du Bois foi o primeiro a acredi-
do” lugar” naturalmente é uma noção variável ,que no momento devido a nova onda de         tar no projecto ,a Lurdes Breda( Portugal) e seguiram-se mais outros escrito-
internacionalização , esta passando por uma redefinição decisiva .”                        res experimentados nos seus países e além fronteiras ( graças ao facebook
                                                                                           conseguimos angariar mais colaboradores) a juntarem-se a estes jovens des-
Esta voz estimula-nos a escutar o orgasmo da nossa capacidade leitoral, a ler o manual     conhecidos vindos de “uma nação que ainda não existe” e logo tornou-se
das nossas verdes mãos , isto é Kuphaluxar (divulgar, dinamizar) de braços abertos         num lugar de convívio, e divulgação da cultura lusófona.
com os pés assentes no chão do nosso solo pátrio e interpretar sem nenhum vinculo
politico as maravilhas do mundo da literatura, como um mecanismo de assimilação e          II
a aprendizagem para com a própria vida.
Esta aprendizagem “ não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atra-         “Os discípulos têm sombras no coração e a realidade da carne ameaçada do
vessam as nossas fronteiras interiores.”(Mia Couto-O outro Pé da Sereia )                  Mestre é mais forte do que o testemunho da palavra. Mas o Mestre acredita que
A tonalidade deste chamamento exprime-se nas “harpas” e “farpas” que esta aventura         as aparências morrem e que certas mortes são o começo da vida.”
apresenta ao longo do seu percurso e desperta- nos atenção aos voos que os nossos
sonhos podem querer descrever nesta infindável distância.                                  Perante este triste cenário de ser residente de ” uma nação que ainda não exis-
Eduardo white reflecte esta dicotomia nos versos deste poema:                              te” com os seus problemas ( vive-se uma realidade exterior a nossa, onde as
                                                                                           tempestades ocidentais apoderam-se da nossa cultura ),revestidos de um
        Escrever é uma droga antiga
                                                                                           quotidiano (i)real, (in)característico, dentro deste cenário há uma voz que
        Uma bebedeira que queima com a lentidão a cabeça,
        Traz a luz desde as vísceras
                                                                                           fala verdades ,ela que é a voz do povo , a força revisitadora , e ressuscitadora
        O sangue a ferver veias tubulantes                                                 da nossa cultura dos contos orais na típica maneira de contar estórias ( karin-
        Traz a natureza estimulantes das paisagens que temos dentro.                       gana ua karingana)
                                                                                           Não será esta preocupação reflectida neste hipotético exercício de escrita cria-
As imagens que compõem “as nossas fronteiras interiores”, o brilho “das paisagens          tiva desenvolvida por estes jovens?
que temos dentro” e os instrumentos de que a escrita se serve(a droga), se alimenta        Sintetizo: escrita criativa, pois ainda não são escritores, indo na acepção do
( a bebedeira), se aconchega (a natureza), se ilumina ( a luz), se move (o san-            Alcir Pécora sobre a ideia da criação literária afirma:
gue),mostrão- nos o quão difícil é, e longa é a viagem neste’’(…) espaço essencial (a      Não parece haver nada relevante sendo escrito ,essa é a mais provável razão
literatura -o bold é meu)que é necessário cercar de altos muros como pedia Pessoa .        desse poço ,desse mar de coisa escrita
Porque é ai que nós somos o que somos, é ai que somos tais que não podemos vender,         Ainda na esteira de Pécora:
nem ninguém nos pode comprar. ou se quisermos rasgar os últimos véus de Ísis e ser
humildes, é lá que habita alguma coisa que, em nós mesmo é melhor do que nós(…).           Exactamente porque não é preciso, escrever pode ser tudo menos uma actividade entre
Olhando atentamente para as nossas leituras, e sendo nós o tipo “de leitores que não       outras quaisquer. Escrever é um acto que, de saída, já deve uma explicação: ele tem de
                                                                                           reinventar sua própria relevância , a cada vez , ou então se condenar a ser apenas uma
podem ler livros sem se lerem nos livros. Ou antes sem que os livros os leiam.”
                                                                                           ideia torta de novidade; o retorno do mesmo, piorado.

Assim começamos a por os “remos” a “navegação” (dinamizando a cultura e decla-             Este kuphaluxa é um pequeno núcleo dotado de ideias progressistas, visão
mando de forma activa) e a cada dia o nosso “rio chamado tempo” aumenta(va) os             realista, universalista, solidariedade social, privilegiado por uma retórica da
seus afluentes ,dai que sentimos a necessidade de “dispensar” ‘’os remos” e começar-
                                                                                           razão. Este núcleo revisita todos os projectos literários que acompanharam a
mos a utilizar “as mãos para a navegação”.                                                 história do País.
As nossas mãos detêm uma escrita em construção que poucas vezes surpreende pela
                                                                                           Aliás Fátima Mendonça na sua proposta de periodização da literatura moçam-
sua fraca qualidade estética e artística, assim sendo concorrendo a nenhum espaço          bicana, de 1986, afirma que “nas mais jovens gerações de escritores moçambi-
nos jornais (quase com poucas paginas destinadas as artes e letras).                       canos encontram-se hoje ressonâncias de metáfora e da parataxe do Craveiri-
As mesmas que logo a priori tem um sonho de resgatar do silencio total em que esta         nha, do verso seco e angustiado do Knopfly (…) há uma herança literária a
embrulhada a literatura moçambicana que “ comparada as grandes, a nossa literatura         construir-se. “
é pobre e fraca, mas é ela, não a outra, que nos exprime. Se não for amada, não revela-
                                                                                           ___________________________________________________________________
rá a sua mensagem, e se não amarmos, ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras
que a compõem, ninguém as tomará do esquecimento. Descaso ou incompreensão.
                                                                                           Bibliografia
Ninguém além de nós, poderá dar a vida a essas tentativas muitas vezes débeis, outras
vezes fortes.”
                                                                                           Robert Scharwz – Sobre a Formação da Literatura Brasileira in Sequencias Brasilei-
E nesta perspectiva que o kuphaluxa promete acelerar substancialmente o progresso
                                                                                           ras pag.22-Companhia das Letras 1999
sociocultural deste País:
                                                                                           Eduardo Lourenço in Carta melancólica aos Leitores Jovens do nosso País pag-
Democratizar a literatura, divulgar a literatura                                           17,17-30 de Junho j.letras 2009
moçambicana, criar o gosto e o habito de leitura,                                          ibidem
                                                                                           Robert Scharwz in Sequencias Brasileiras pag 22 op.cit.
usar a palavra como arma de intervenção
social ,tornar a escrita como uma charrua e o papel                                        José Craveirinha
                                                                                           Eduardo Lourenço artigo citado
em branco como os sulcos que esperam a semente
(melhorada pelo musculo erudito e adubada pela                                             2006 pag pag 93-op cit por Andrea Catropa in Escassos Vasos Comunicantes –A
                                                                                           relação entre critica e poesia Brasileira Contemporânea pag 35 in Protocolos Criti-
transpiração.                                                                              cos-Itau Cultural 2008
                                                                                           2006 pag. 97
Foi devido aos escassos meios de divulgação da literatura moçambicana seja dentro ou
fora, ou mesmo da própria literatura lusófona (onde os editores, críticos, e Professores   Sangare Okapi –Um Projecto Chamado Oasis-Da Existencia Colectiva á Afirmacao
de literaturas Africanas de expressão portuguesa cingem os seus prestigiosos estudos,      Individual:in Memorial AEMO pag-57
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 Maputo é capital política e económica de
              Moçambique



                 Em Agosto de 2012
                                                            Homenageando a mãe dos poetas moçambicanos,
                                                                         Noémia de Sousa

        Será a capital da Literatura




    Festival Literário de Maputo
                      Saiba como participar em:

        http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com
             festivalliterario.maputo@gmail.com




                        Para ser parceiro ligue:
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Momentos
Ecos duma noite poética com Rubervam Du Não há minudências
                                        sobre o Kuphaluxa
Nascimento em Maputo


                                         E                                                                                       C
Eduardo Quive                                       assim intitulo uma “incursão” que o poeta Rubervam Du Nascimento                      onheço-os há dois anos antes
eduardoquive@gmail.com                              fez pelas terras que albergam a história dos homens – África. Esta, de
                                                                                                                                          do cancro literário entrar-me
                                                    mãos abertas, entregou-se na alegria de ver o seu filho, entregue à longi-
tude por onde se localiza, Piauí, e reuniu outros filhos, ao estilo do meu áfrico país, para celebrar a sua vinda.                        no cérebro. Mas antes deixa-
Na noite que só foi recebida no dia 19 de Agosto de 2011, depois de anos de audiência marcada, naquela que foi a sua pri-        me dizer que há muitos bons que
meira presença física pelo continente que é ―O berço da Humanidade‖, o poeta Rubervam Du Nascimento, peando pelas
                                                                                                                                 fazem poucos e há poucos bons que
areias de Maputo, ofereceu aos moçambicanos uma noite de poesia e universalmente mágica que até hoje Moçambique
recorda. Falo de universo, porque as noites não se comparam, seja em Moçambique, no Brasil, em Angola, nos Estados               fazem muito.
Unidos ou na China. Cada noite é uma noite. E cada noite é um universo para quem a vive de forma diferente.
                                                                                                                                 Fazer muito é o mesmo que fazer mui-
Na sagrada sala do Centro Cultural Brasil – Moçambique, o filho da terra cognominada ―Distanteresina‖ hasteou a sua
lírica poesia exotérica, que obrigou ao público afluir em massas naquele espaço em tão escura noite. Algo já mais visto: a       to bem, podemos colocar um adjectivo
sala empessoada de gente ao mais de 100; ouvidos deflagrados na sucumbência do seu manifesto poético que durou cerca             ou substantivo, antes ou depois do
de 40 minutos, além do ―Espólio‖que se recusou sobrar nas prateleiras das livrarias moçambicanas. Aliás, esta obra se quer
esteve numa prateleira. Esgotou no mesmo dia em que teve a dura tarefa de autografar e tirar fotos com os novos leitores
                                                                                                                                 grau. O Kuphaluxa, nome com signifi-
da sua poesia.                                                                                                                   cado que está a ser usado na sua verda-
E eu disse a sua poesia exotérica, volto a afirmar, sem remorsos. A poesia de Du Nascimento, embora difícil de se encon-
                                                                                                                                 deira literatura, é um daqueles movi-
trar, é comum e conhecida e, já me ponho a justificar:
Rubervam Du Nascimento escreve na voz de um áfrico personagem.                                                                   mentos que só vemos sua aparência
A poesia do Rubervam Du Nascimento é mesmo um ―Espólio‖. E de quê é composta esta África nossa? De restos, lem-                  em país do capital, mas não, aqui
    branças, postumidades e atalhos. Uma história que se descobre todos dias. Uma história que se nega a si mesma. Por
    isso, um escrever poético dramático, altas e baixas, faz com que qualquer africano se encontre, se descubra e tenha um
                                                                                                                                 estão, no país devedor de bancos culti-
    ponto de partida. A poesia do Rubervam, leva-nos a isso, em particular na obra que tenho vindo a citar.                      vando na massa os vários alicerces da
Rubervam Du Nascimento, embora brasileiro não podia ser, de modo nenhum, um imigrante nas terras negras. A sua lin-
                                                                                                                                 cultura literária, do quotidiano, sempre
    guagem é extraordinariamente mítica tal como o berço que o acolheu nesses dias. A prova disso pode se ter na palestra
    que orientou numa das mais antigas e maiores instituições de ensino do País, Escola Secundária Francisco Manyanga,           relembrando os clássicos.
    dia antes da noite poética.                                                                                                  Quando chegaram os bons duvidaram,
Já não me cabem nomeações.
Isto é para ilustrar algumas alegações que estão por detrás do sucesso da noite poética, que o poeta brasileiro proporcionou
                                                                                                                                 os melhores apoiaram em tudo, porque
ao público de Maputo a quando da sua visita em Agosto do ano 2012.                                                               tem na mente culta-literária que o país
Antes da leitura do seu manifesto poético, o evento foi brindado com o recital de um dos escritores que é um símbolo da
                                                                                                                                 não se faz sem culturas ou não se faz
literatura moçambicana. Falo-vos do professor, romancista, poeta, ensaísta e jornalista, Calane da Silva, actual detentor do
Prémio José Craveirinha, o maior prémio moçambicano de literatura, agora também designado ―Prémio Carreira‖.                     sem um livro na mente. Receberam
Calane da Silva, que no mesmo dia, recebeu Rubervam no seu escritório do Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde é             vários ensinamentos sobre a literatura
director, recitou um poema inédito de José Craveirinha, numa autêntica exaltação do clássico da poesia moçambicana.
De seguida, foi a vez do Rubervam Du Nascimento, que para a surpresa de todos, no seu manifesto poético, dialogava com
                                                                                                                                 e nunca chegaram a considerar-se
várias figuras da literatura moçambicana, dentre os quais passo a nomear, José Craveirinha, Ana Mafalda Leite, Calane da         (ironia da metáfora) os que melhor
Silva, Rui de Noronha, Rui Knofli, Eduardo White, Sulemane Cassamo, entre outros. Ainda chegou a recitar alguns versos
                                                                                                                                 fazem, deixaram que os seus acompa-
destes autores, numa interacção entre o clássico, moderno e contemporâneo, nesta última, a considerar, a poesia de Khiria
Wakíria, ainda sem livro publicado e Eduardo Quive, participante de diversas antologias como premiado, mas sem livro             nhantes achem.
publicado e jornalista.                                                                                                          Kuphaluxa,     vocês     brincam      sério
Logo, estávamos numa noite onde, para a surpresa de todos, brasileiro, era apenas o sotaque, do resto, Rubervam Du Nas-
cimento era nosso. Moçambicanizado e Africano. A olhar pelo cenário que aconteceu na noite poética - sala escura, apenas
                                                                                                                                 demais e se esquecem que sofrem de
com uma lâmpada vermelha no centro do palco improvisado, o autor sozinho no palco e circundado de espectadores - leva-           um sindroma: literatura. Vocês são
me a comparar às noites do Nkaringana Wa Nkaringana que são estórias contadas numa noite, com pessoas em volta da
                                                                                                                                 sérios demais que me deram cancro e
lareira atentas a um único apresentador, ou, se quisermos, o artista que faz o espectáculo. Ao estilo moçambicano. Com o
Rubervam foi a mesma coisa, num cenário cuidadosamente desenhado por si e com a cumplicidade do Movimento Literá-                agora vou espalhar aos meus alunos.
rio Kuphaluxa, agremiação que o acolheu literariamente, durante os dias que passou em Maputo.
Assim, foi a noite de poesia, em que o poeta brasileiro, Rubervam Du Nascimento, proporcionou ao público, a magia da
palavra e o prazer da língua. Rubervam Du Nascimento deixou um legado em Moçambique e uma dívida eterna de voltar a                       Dizer, fazer e sentir a literatura.
brindar aos fãs que ele mesmo conquistou com mais noites, agora não só de poesia e manifestos, mas de aprendizagens e
                                                                                                                                                          Izidro Dimande
de convivências.
Caro poeta, tenho fé que um dia Maputo voltará a lhe ter em seus braços, tal como o tive.
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                                        |      LITERATAS                     |    LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                                       13
Revolução literária moçambicana –
o paradigma Movimento Kuphaluxa
                                                                            Filosofonias
                                                                                                                                      Marcelo Soriano — Brasil
Ricardo Riso — Brasil                                                                 Um ósculo de paz sobre a Face da Terra

Q
         uase o tempo de existência do Movimento Kuphaluxa
         foi o início do meu contacto com alguns dos seus inte-
         grantes, dentre os quais destaco Mauro Brito e Amosse
Mucavele, este já um parceiro de projectos literários.

Desde o seu início impressionou-me a determinação de seus
componentes em tirar da inércia a cena literária moçambicana,
ainda que diante das limitações do pequeno ambiente das letras
no país, dos impedimentos que a nova geração sofre para adqui-
rir seu espaço e obter o respeito das gerações anteriores, assim
como o parco apoio financeiro e tecnológico para o desenvolvi-                  Imagem sob licença Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivados 2.0 Genérica (CC BY-NC-ND 2.0).
                                                                                           Autor: Neil Carey, "Mother Earth". Fonte: http://www.flickr.com/photos/mrbultitude/21433726/
mento de seu projecto de maior ambição, a revista electrónica


                                                                            E
                                                                                     is o modo como eu sinto, vejo, leio, a arte dos actores sociais, sejam eles
―Literatas‖.                                                                         moçambicanos ou brasileiros, tenham eles a nacionalidade que seja, eles que
                                                                                     escrevem, escrevem, desmedidamente, sem visar lucros pessoais e créditos
Após dezoito edições, ―Literatas‖ é hoje uma importante publi-
                                                                            financeiros a partir de suas letras inspiradas (e inspiradoras): "Um ósculo de paz sobre a
cação de integração das literaturas em língua portuguesa. Um                Face da Terra".
                                                                                     Vejo muito de mim, do que já fui e, também, deste que, ora, sou, em alguns
projecto ousado, a mostrar a coragem de um grupo de jovens
                                                                            jovens, meninos e meninas, que se expressam livremente através da literatura nas suas
apaixonados pela literatura e aptos a promover o fim do silen-              comunidades locais, nas suas cidades, regiões, países e continentes, assim como em
ciamento comunicativo das nossas ilhas lusófonas espalhadas                 meio as suas amizades, famílias e redes sociais. E, assim, mirando-os como num espe-
                                                                            lho, não concebo isso tudo que vejo como imagem utópica, ilusão ou aparência, pura e
pelo globo terrestre. Uma manifestação literária que em sua cur-            simplesmente. Vejo a alma que suponho ter e pela qual luto e reluto para não deixar que
ta duração já semeou e colheu melhores frutos do que as pífias              se extinga. E personifico o que vejo na figura de um barqueiro nocturno, em meio à tor-
                                                                            menta, sem medir esforços para sobreviver, manter o rumo e não deixar que a luz de
políticas dos nossos governos e seus ministérios de cultura, o
                                                                            seu lampião se apague como se fosse, aquela, a luz da vida (A vida, neste caso, é a
que me leva a confirmar a análise do ensaísta brasileiro Silviano           literatura). Vejo no espelho que se apresenta a minha frente, a divisão de esforços e
                                                                            multiplicação de talentos. Vejo a parte boa, a metade sã, a porção redentora de uma
Santiago acerca do ―cosmopolitismo do pobre‖ e sua actuação
                                                                            realidade difícil, complicada e atribulada que enfrentamos diariamente neste, como bem
como agente reprodutor de cultura e reivindicações:                         traduziu Shakespeare, "imenso cenário de dementes". E quando me refiro à literatura,
                                                                            abordo o conceito produtivo, dinâmico, persistente de letramentos, construtivismos,
                        No plano dos marginalizados, a crítica radical
                                                                            adaptações, releituras, inovações e superações da (e pela) palavra criativa.
                        aos desmandos do estado nacional, tal como este
                        está sendo reconstituído em tempos de globali-               Amo ao ponto de comparar a um beijo de paz sobre a Face da Terra esta litera-
                        zação, não se dá mais na instância da política      tura e seus agentes vivificadores, principalmente a literatura juvenil que sempre e com
                        oficial do governo nem na instância da agenda       tons de esperança aborda temas altos, como amor, paixão, liberdade, luta, sonhos e
                        económica assumida pelo Banco Central, em
                                                                            vida. De um modo objectivo e efectivo me vem à mente, neste contexto, os jovens do
                        acordo com a influência coercitiva dos órgãos
                        financeiros internacionais. Ela se dá no plano do   Movimento Literário Kuphaluxa, com os quais venho me correspondendo e produzindo
                        diálogo entre culturas afins que se desconheciam    literatura lusófona colectivamente, desde a metade do ano passado (2011). Penso, aqui
                        mutuamente até os dias de hoje. Seu modo sub-       no conforto da minha cela temporária chamada existência: como cheguei até estes
                        versivo é brando, embora seu caldo político seja
                                                                            jovens? Como eles chegaram até mim? Que sorte do destino é esta que uniu nossas
                        espesso e pouco afeito às festividades induzidas
                        pela máquina governamental (SANTIAGO,               redacções, idéias e ideais? Nós, com nossas línguas semelhantes, porém, não idênticas.
                        2004, p. 61).                                       Cada qual com sua identidade... Comunicando e captando mensagens transmitidas de
                                                                            uma mente para outra, de um indivíduo para um colectivo (e vice-versa)... Movimento...
―Literatas‖ ainda apresenta-se incipiente em seu projecto gráfi-            Mover-se... Movimentar-se num sentido e direcção a próprio modo... Um caminho com
co e linha editorial, porém, condizente ao processo de formação             indicadores vectoriais que apontam para a CPLP - Comunidade dos Países de Língua
                                                                            Portuguesa... Kuphaluxa, o Movimento jovem que se propõe ideológica e com cidadania
literária e intelectual de seus idealizadores que procuram apri-            transcontinental "Dizer, Fazer e Sentir a literatura". O que faço eu, aqui, em meio a estes
morar a revista a cada edição. Minha única ressalva se dá para a            meninos e meninas? Ora, faço o que posso de melhor, isto é, escrevo como um velho e
                                                                            defasado homem que acabou, por uma injecção de ânimo cultural, de se redescobrir e
ausência de representantes da literatura negro-brasileira, pois
                                                                            motivar como parte integrante e integrada de um Movimento sem fronteiras que o desa-
com a integração de seus partícipes em suas páginas, visto que              fia de modo contínuo a propagar e repercutir a Literatura em sua forma mais nobre;
                                                                            como ferramenta de cidadania, desenvolvimento e intercâmbio cultural de uma socieda-
esses escritores são invisibilizados por aquilo que se considera
                                                                            de livre de todos os males que a impedem de se tornar imagem e semelhança de amor e
como literatura brasileira, a comunidade lusófona teria outra               perfeição. O que faço eu aqui? Pratico a expressão da alma pela escrita. Pratico o doce
dimensão da pluralidade da produção literária do Brasil.                    e saudável exercício da Eterna (e contagiante) Juventude.
                                                                                     Kanimambo, Kuphaluxa!
Para finalizar, minhas congratulações para este colectivo                   ....................................................................
moçambicano que concretiza um novo paradigma para o inter-                       Frase semanal:

câmbio das literaturas em língua portuguesa.
                                                                                 Eu torço sempre para que os optimistas sejam admiráveis oráculos e
Longa vida à revista ―Literatas‖ e ao Movimento Kuphaluxa!                       não idiotas inconsequentes.
SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012                                           |      LITERATAS             |    LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                                  14


Voz Activa
               O Impacto do Kuphaluxa para poetas de Lichinga
Na história do Movimento Literário Kuphaluxa, destaca-se a partir de 2011, com a criação da Revista Literatas, pela sua
expansão pelo país. Assim, iniciou uma luta para reverter o cenário em que, de Moçambique que é, o Kuphaluxa era mais
conhecido fora. Nesse trajecto de sermos conhecidos e atingir com os nossos projectos jovens de outras províncias, o nosso
representante na cidade de Lichinga, capital do Niassa a norte do País, trás o relato dos acontecimentos.



                                               O
                                                            Movimento              Literário no intuito de enqua-
Lino Sousa Mucuruza — Lichinga
                                                           Kuphaluxa tem vindo a drar as províncias.
linomucuruza2010@yahoo.com.br
                                                           ocupar um espaço que nun- Niassa se fez repre-
                                               ca tinha sido ocupado no panorama sentar em 2011 no
literário do nosso país, assim como mundialmente através da sua revista literária.           projecto      ―Poesia
Com expressão nos país falantes da língua portuguesa a revista Literatas tem sido um dina-   nas Acácias‖ com
mizador da repesca dos escritores jovens e ou emergentes, estes que tem vindo a afirmar-se quatro     poetas:
na ilustração máxima da nossa jovem literatura.                                            Mukurruza, Eduar-
Exemplos concretos apontam a província do Niassa com grande enfoque nos distri- do Tocoloua, Zefe-
tos de Lichinga e Cuamba onde foram chancelados escritos de alguns poetas no rino Massingue, e
caso de Arsénio Mpissa novo talento daquele distrito sul do Niassa. Alguns exem- Francelino Wilson através de poesias estampadas em algumas acácias da
plos ainda vem a recair na cidade capital, Lichinga, com uma vasta gama de poetas Rádio Moçambique no Maputo e um M’saho realizado no Jardim Tunduro.
publicados, refiro-me concretamente à Zeferino Massingue, Humberto João, Eduar- Eduardo Tocoloua, Zeferino Massingue, Octávio Dinala, em entrevista a
do Tocoloua, Ernesto Carlos, Octávio Dinala e Mukurruza, motivo suficiente para Literatas, contam ter conhecido o Kuphaluxa, através da sua revista que lhes
apostarem neste movimento literário com apenas dois anos a actuar no País e que já chegou das mãos da representação da mesma a nível da província do Niassa.
deixa atrás alguns movimentos considerados antigos.                                Os poetas acrescentam ainda, que além de electronicamente a revista deveria
Em Niassa, por exemplo, o Movimento Literário Kuphaluxa tem se feito presente sair em versão impressa, de modo que, todos possam a ter acesso.
através dos grandes eventos que em levado acabo a nível do Maputo,




Cartas de Leitores
                                                                                                        Caro Leitor, amigos e simpatizantes da Literatas, você pode
                                                                                                        opinar sobre os conteúdos publicados e ou assuntos em desta-
                                                                                                        que na lusofonia. Para isso, escreva-nos pelo e-mail:
                                                                                                        kuphaluxa@gmail.com.

                                                                                          Queridos amigos do Kuphaluxa, saudações!
                                                                                          Antes de mais, votos de óptimas realizações na vida social, cultural e sobretudo pessoal.
                                                                                          Bem hajam neste 2012!

                                                                                          Ora, não vou entrar com verbos nem provérbios.

                                                                                          COMENTÁRIOS:
Meu Caro Eduardo:
                                                                    á-
                                             tei do novo aspecto gr                       1. Agradeço a revista Literatas (que não recebi por vossa via, mas podem adicionarem-
                     do LITERATAS. Gos
Obrigado pelo envio                                                                       me aos contactos e jaz, manda-me logo o PDF);
                                                                 pre-
fico.                                      ractivo. Parabéns! É
Está realmente "de  cara lavada" e mais at                    »eé                         2. Parabéns pelo RETURN;
                                      s olhos também comem
ciso não esqu ecer o ditado de que «o                                                     3. Sugestão: julgo que desta até a próxima edição tomem em atenção ao envio de corres-
 verdade!                         é tudo o que desejo.                                    pondência (o endereço de e-mail é fidedigno, sempre). Recomendo a porem os destinatá-
 Sucesso para a vossa publicação                                                          rios em BCC (aparece como "Cco" no Gmail). Assim preservam a identidade de todos
                                                                                          os vossos contactos. (imaginem se algum deles tiver um vírus ou spam, pishing e por ai,
                                                                                          ficamos todos na (****imaginação);
  Com o apreço do
                                                                                          4. Quanto ao PDF. Parabéns pelo esforço. Mas é altura de arregaçar mangas. Peço por
                                trália
  Afonso Brandão / Aus                                                                    isso autorização para usar esta Edição para moldar e enviar-vos uma Proposta de Layout.
                                                               aveirinha. Ele está
                                        geado o Poeta José Cr
   PS - Foi op  ortuno ter em homena                                O nunca gos-          5. Visitei recentemente os vossos três blogs. Devo reconhecer o crescimento e dedicação
                                             s e porque a FRELIM
   «muito esquecid   o» por razões política                                               que depositam no trabalho...apesar da falta de ferramentas! Ora, utópica possibilidade de
                                                                          icar por-       vir formalizar o meu pedido de parceria (queria usar uma expressão como simpatizante),
   tou muito dele.                                 apas na língua", e expl
         É preciso dize-l o abertamente, sem "p                              pa,          para ajudar a moldar algumas questões estéticas, por favor considerem este e-
                                                       mpula), o António So
                             , o Vasco Fenita (de Na            podem dar o seu
                                                                                          mail. Devo recordar que tenho um blog mas que por falta de matéria anda às moscas...
   quê. O Calane da Silva                Serra são pessoas que                            No entanto vejo que o Kuphaluxa tem muito a dar e gostava de dar o meu singelo contri-
                o ou mesmo o Carlos                                   a coragem
    o Mia Cout                                e o assunto. Há que ter                     buto. Caso se interessem é simples, mediante confirmação escrita explicarei exactamente
    testemunho, qu  e podem escrever sobr                              s não ter em
                                                r todas. Foi pena você                    o que proponho.
    de por os pontos  nos "ii" de uma vez po           s Zeca e Stélio
                                l as opiniões dos filho
    inc luído neste destacáve                               o.                            Espero ter trazido neste e-mail algo que possa ser também do vosso interesse.
                                     inalizado pelo primeir
     (este último um pouco marg
                                                                                          Estou igualmente aberto a criticas e sugestões, comentários e algo piri-pire!

                                                                                          Mário Eduardo / Maputo
Literatas Nº 19 - 2012

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Literatas Nº 19 - 2012

  • 1. Literatas PROPRIEDADE DO Director: Nelson Lineu | Maputo, 24 de Fevereiro de 2012 | Ano II | N°19 | E-mail: kuphaluxa@gmail.com Movimento Literário Kuphaluxa : dizer, fazer e sentir a literatura Por uma retórica da razão
  • 2. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 2 Editorial
  • 3. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 3 Apresentação Eduardo Quive Dois anos depois, quem somos nós? D istam-se dois anos do longínquo 2009, ano em que Paulina Chiziane foi a nossa primeira vítima, ao aceitar com foi criado o Movimento Literário Kuphaluxa, um poucos conhecimentos sobre nós, deslocar-se para uma esco- grupo de leitores e escritores em formação, que visa la tão distante do centro da cidade, Escola Secundária de divulgar a literatura moçambicana, brasileira e de outros países Malhazine, no bairro com mesmo nome. Sem entrar em deta- de expressão portuguesa, bem como a promoção de novos auto- res, de modo a tornar possível o sonho de se ter um Moçambique literário. A infinitude da missão encabeçada por jovens, que se designam leitores, no imperfeito tema que se chama Literatura Moçambi- cana, na situação em que ainda não se sabe definir, revela a outra face duma faixa etária tida como ―problemática‖, não só em Moçambique, mas também em outras terras. Contudo, essa massa que move-se por um fenómeno esquisito, inverso de um verso, ilusório que se chama “vontade”, tomou as forças, ainda que num número ínfimo, para encontrar respos- Amélia, Eduardo, Japone, Francisco e Izidine, de pé. Agachados, Lineu e Amosse tas e caminhos de tornar Moçambique um país de leitores e de cidadãos culturalmente activos e proactivos. lhes, a escritora, tomou conta do recado. Ensinou e encenou Aliás, esses caminhos, na tentativa de encurtá-los, moldá-los ao aos estudantes. Ainda ofereceu um exemplar de Niketche à estilo moçambicano, ―corta-mato”, acabamos nos envolvendo escola, para nossa surpresa. em outras alegações, como as questões ligadas à qualidade de Paulina deixou à escola, um ensinamento que não me esque- ço: encontramos a palavra em tudo o quanto nos rodeia. Nos livros, até de Matemática, Química, Física entre outros. Por isso dominar a palavra é a única alternativa que se pode ter para singrar em horizontes perfeitos. Por isso, não se justifi- ca, que uma biblioteca escolar tenha apenas livros de interes- se das ciências exactas. Há que considerar a ciência da arte. O imaginário que leva o homem ao mundo da criatividade. Mas continuando nas vítimas. De seguida, vieram os escrito- res Marcelo ensino e principalmente do formando. Panguana, Então abandonamos a nobre sala do Centro Ungulani Ba Ka Khosa, Cultural Brasil – Moçambique e imigramos Juvenal Bucua- para as escolas secundárias, numa viagem, ne que também, engrossaram-se em que tivemos a ousadia de induzir tam- da retórica des- bém escritores. tes Marcelo Panguana
  • 4. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 4 Apresentação Continuação — Dois anos depois, quem somos nós? Eduardo Quive ―miúdos‖ que não se sabia as suas origens. Aliás, Juvenal Bucuane chegou a oferecer cerca de 15 livros à Escola Secundária Nossa Senhora de Livramento, na Matola. A escritora Lília Momplé entrou na lista dos escritores que partilharam seus saberes com aspirantes. Muitas vezes a escritora, chegou a reclamar de cansaço pela idade, mas nun- ca cansada de ensinar, por isso a todos nossos chamamentos, dizia incodicionalmente ―Sim‖. Rubervam Du Nascimento dando palestra na Escola Secundária Francisco Manyanga em Maputo Depois, veio a escritora brasileira Ana Rusche, que conhecia Moçambique pela primeira vez. E pela primeira vez, levamos um escritor a uma escola técnica. Levamos Ana Rusche para Escola Industrial 1° de Maio, em Maputo. De seguida, mais um escritor pelas águas do Atlântico veio a desaguar no Índico e levamo-lo à Escola Secundária Francisco Manyanga. Esse Escritoras Lília Momplé e Ana Rusche em conversa, acompanhadas por Mauro Brito e Amosse Mucavele homem chama-se Rubervam Du Nascimento. Du Nascimento, ao estilo das suas missões na periferia da cha- mada Distanteresina, em Piauí, “pregou evangelhos” literários O facto de estarmos sediados no Centro Cultural Brasil – aos alunos da Manyanga e ensinou que ler é mais do que formar- Moçambique e apadrinhados pelo actual detentor do se. É informar-se sobre o mundo e sobre si mesmo. “Prémio Nobel da Literatura Moçambicana”, ou, se quise- Passando por essas vias rumo a consolidação dos nossos objecti- rem, ―Prémio José Craveirinha‖, o maior Prémio da literatu- vos, ―chegamos a parar na cadeia‖. Em 2010, ―entramos‖ na ra em Moçambique, contribuiu para a credibilidade do movi- Cadeia Feminina de Ndlavela, no município da Matola, com a mento. Refiro-me ao Calane da Silva. missão de conquistar mais leitores para a literatura moçambica- Eterno cúmplice deste movimento que nasceu em suas mãos. na. Com apoio de editoras, reunimos livros e revistas que ofere- Acolheu e deu amor de mãe no lugar de barbas de pai. cemos às mulheres daquela instituição prisional. Ainda oferecemos livros infantis às crianças da Escola Comuni- tária Imaculada Conceição de Hulene. Avançamos. Andando pelas ruas de Maputo, vimos que há algo que esta cidade tem em quase todo o lado – as acácias. Isso nos incomodava. Calane da Silva, declamando num sarau cultural do Kuphaluxa Mas ainda não se cumpriram as menções no assunto ―Literatura nas Escolas‖. Luís Carlos Patraquim, também fora nossa vítima nesse projecto. Destinávamos a sua presen- ça, à Escola Secundária da Zona Verde e infelizmente, o homem escapou. Não tínhamos dinheiro para alugar uma Projecto “Poesia nas Acáacias” na Rua da viatura para cumprir com o sequestro. Como diz-se nesta Rádio Moçambique geração [da vi(r)agem?], barracou.
  • 5. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 5 Apresentação Eduardo Quive Continuação — Dois anos depois, quem somos nós? Decidimos invadir esse pomar de árvores sem frutos. Leva- Participam em revistas, portais e antologias literárias, curiosa- mos connosco a poesia. Nossa e a dos já conhecidos e reco- mente, de fora do que dentro de Moçambique. nhecidos escritores. Eu, Mia Couto, Calane da Silva, disputá- Facto que nos leva a preocupação sobre os planos de incentivo vamos o espaço no Jardim Tunduro e na Rua da Rádio e promoção da leitura em Moçambique, bem como de criação Moçambique, com mais de cinco defuntos proeminentes da de espaços onde se incentive a escrita criativa e literária. Durante as visitas com escritores nas escolas, pudemos perce- ber que nem sempre cabe a razão a justificação ―os jovens não lêem‖, é importante que se criem condições e facilidades para que de facto, ler não seja um problema. Criar condições para se ler, não implica só, tornar o livro mais barato. Implica tornar o livro amigo do cidadão comum e aces- sível. Dar acesso, volto a repetir, não é baixar os preços exube- rantes com que são vendidos os livros, é fazer com que a esco- poesia moçambicana: José Craveirinha nosso pai e a nossa la, as casas de cultura, as bibliotecas, sejam os pontos certos mãe, Noémia de Sousa, o poeta vagabundo e desgraçado, mor- para se dar a conhecer o valor de uma obra literária e que lá, to pelas suas próprias harpas e farpas, Amin Nordine, Gulamo seja possível encontrar os livros para o consumo em tempos de Khan rugindo aos sons do tombo no Mbuzini, Carlos Cardoso, lazer. Isso faz-me lembrar os projectos: Núcleos Escolares de entre outros. Pois é. Eles proeminentes e nós iminentes. Leitura, Literabrincando e Biblioteca Móvel, o Kuphaluxa Estavam lá outros vivos: Amosse Mucavele, Nelson Lineu, saberá melhor implementá-los. Francisco Júnior, Japone Arijuane, Mukurruza… Que com Mas continuo apresentando e questionando sobre quem somos certeza não os conhecem. nós. Pois. Esses jovens desconhecidos não pararam. Ainda sur- Então já nos conhecem? Ainda não? Então explico já de forma preendem. Foram vencedores de um prémio Mundial de Poe- resumida, mas com bons e importantes detalhes: somos o sia na Itália, venceram um concurso literário de crónicas, con- Movimento Literário Kuphaluxa, dizemos, fazemos e senti- tos e poesia do Brasil e ainda barrabatissaram novamente os mos a literatura, e pronto. brasileiros, uma classificação no Prémio Poetize-2012, entre D ois membros do Movimento Literário Kuphaluxa, nomeada- mais de 2.000 participantes. mente, Eduardo Quive e Amosse Mucavele, vão participar em E são mesmo miúdos, estes? Março próximo, da Bienal Internacional da Poesia em Luanda, São o Movimento Literário Kuphaluxa. capital da Angola. Ambos, participam deste evento que acontece pela primeira vez no país, a Dizem que Kuphaluxa - e soletro: K, U, P, H, A, L, U, X, A. convite da União dos Escritores Angolanos, quem organiza a bienal. Significa Disseminar. Mas disseminar, em Ronga, esse do Ka Na referida Bienal, serão reflectidas questões ligadas a poesia, entre Mpfumo, é Kupaluxa - e soletro: K, U, P, A, L, U, X, A. outros assuntos. Kuphaluxa sem H. Mas esta juventude, tal como outra juven- Ainda de Moçambique, tomarão parte os escritoires Dinis Muhai, Luís tude, tem os seus problemas e o seu maior problema, chama- Cezerilo e Filimone Meigos. E dos países da CPLP, consta que estarão se criatividade e inovação, por isso chamaram-se Kuphaluxa presentes escritoires como Luís Serguilhas, Melo e Castro (Portugal), Corcino Fortes (Cabo Verde), Odete Semedo, Tony Tcheca (G. Bissau), com H. Conceição Lima (S. T. e Príncipe), Cláudio Daniel (Brasil), para além Jovens que mais do que ensinar os outros a gostarem de ler, dos angolanos, Abreu Paxe, João Maimona, Lopito Feijó, João Melo e ensinaram a si mesmos a beber dos livros, os segredos da outros. sabedoria. E hoje o verbo se encarna. Nascem novos autores.
  • 6. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 6 Crónica Esse e outros Aos leitores da Revista Literatas tempos num só FICHA TÉCNICA E Nelson Lineu ra numa tarde, o sol levando E de volta a luminosidade que dera por emprestado à terra, nquanto o Gabito ia casa do por aproximadamente 14 horas inin- Nhanga porreiro, reflectia sobre terruptas. Era crepúsculo vespertino. o que lhe motivava a tal in- Vinha a ordem divina, da descida da cursão, a sempre conversa do pai e com escuridão sobre a terra, mas os colegas de trabalho, copos entre outros Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa homens da cidade desafiavam tal ordem acendendo abundantes lâmpadas, afazeres ou desfazeres. Onde figuravam Direcção e Redacção alimentadas pela electricidade. E, com auriculares de rádio calcando-me os palavras como: a juventude vai vender Centro Cultural Brasil - Mocambique o país, não saberiam vestir os valores ouvidos, escutava o evoluir da depressão tropical ―Giovanna‖ que se abatia Av. 25 de Setembro, N°1728, que lhes fizeram lutar pela independên- sobre as terras malgaxes e que em breve ameaçava arrasar a costa sul e cen- C. Postal: 1167, Maputo cia, o orgulho nacional nos putos não tro de Moçambique. tem pátria, duvido que saibam entoar o De súbito, o meu telefone-celular toca. É uma mensagem que assomou hino e saibam o significado das cores Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46 ao ecrã do celular, exigindo-me o serviço dos olhos. Li a mensagem, sei lá da nossa bandeira. 603 de quem era, a pedir o serviço do papel e da esferográfica, desse secular e O pai que se chamava Pedro Vivo, Fax: +258 21 02 05 84 mais perfeito casamento, do qual devia frutificar algo a respeito do Movi- mesmo com brigadas de mobilizações E-mail: kuphaluxa@sapo.mz mento Literário Kuphaluxa. Concretamente a mensagem dizia: ― a próxima clandestinas, só teve consciência de que Blogue: literatas.blogs.sapo.mz edição da Literatas é o sobre o Movimento Literário Kuphaluxa. Se puder tinha que lutar pela independência a escrever algo a respeito…agradecemos. Atónito fiquei a imaginar a serieda- partir dos textos do Rui de Noronha, de do teor da mensagem. Escrevo ou não? Antes devo vos segredar que Noémia de Sousa, Craveirinha que via DIRECTOR GERAL detesto escrever por encomenda, muito menos para o público. Um bêbado nos jornais, a censura da PIDE era ine- Nelson Lineu não bebe senão para ele mesmo, para excitar o seu cérebro, se evadir ficaz porque para ela até podiam cortar (nelsonlineu@gmail.com) momentaneamente dos problemas da vida, ser extraterrestre. A escrita é o os textos mas não os sentimentos. Cel: +258 82 27 61 184 meu vício, o meu mau hábito, é a que me desliga da terra. Já com o curandeiro na sua frente. Ou- DIRECTOR COMERCIAL Cogitei, por fim, escrever o pedido. Aliás, na situação de alguém neces- viu-lhe dizer que essas acusações eram Japone Arijuane sitar de múltipla ajuda, enquanto o agricultor oferta cereais, o pescador o defesas de homens como seu pai, se (jarijuane@gmail.com) pescado, o escritor dá a escrita. Não o fizesse e eu estaria a vender ao desba- vocês são assim é porque eles não ensi- Cel: +258 82 35 63 201 rato a minha parca ingratidão. Sim, estaria a agir de má fé, desvalorizando o naram como devia ou porque ensinaram exímio trabalho dos outros. Faz isso quem põe os óculos de madeira: diriam assim. Quando a juventude vai lutar EDITOR Eduardo Quive isso talvez os políticos. E eu não me afeio com tais óculos, não faço vista pelos seus direitos como eles fizeram (eduardoquive@gmail.com) grossa e muito menos ouvidos de mercador. Me informo a par e passo do chamam de marginais, vândalos. Como Cel: +258 82 27 17 645 grande trabalho que este movimento exerce em prol da literatura moçambi- exemplo tenho o caso de um jovem do cana e lusófona. Ainda de modo platónico, relegando as vantagens materiais kuphaluxa que recebeu ameaças, co- CHEFE DA REDACÇÃO vardes como sempre foram, a pessoa Amosse Mucavele para o segundo, terceiro, quarto, enfim, talvez para o derradeiro plano. (amosse1987@yahoo.com.br) não se identificou e ligou de um Conheci a revista Literatas, a filha unigénita do Movimento Literário Cel: +258 82 57 03 750 número privado. Kuphaluxa, quando corria, célere, para o fim o vizinho ano de 2011. Era no - Por falares em kuphaluxa, como é que mês de Outubro e acabava de sair a público pela décima segunda vez. Sim, REPRESENTANTES PROVINCIAIS eles conseguem se manter em pé nesse Dany Wambire—Sofala 12 edições já tinham sido consumidas pelo público leitor interessado de toda cenário? () comunidade dos países de língua portuguesa, incluindo Moçambique é cla- Lino Sousa Mucuruza—Niassa - O amor pelo que fazem faz crer que as ro. coisas andam as mil maravilhas, mas () Mauro Brito—Zambézia O encontro com a revista não foi programado, ao acaso, assim como estamos a falar de um sistema literário () surgem as gravidezes indesejadas. Pesquisava sobre literatura moçambica- em nascimento ou seja desafiando uma na na internet e de inopinado apareceu-me uma sugestão, um link em que tentativa de abortos, as dificuldades são COLABORADORES FIXOS Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Cata- provavelmente teria o que precisava. Nesta hiperligação me veio a revista imensas, a partir dos meios, e o que a rina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa) literatas, repleta de informações de consagrados escritores moçambicanos e mim deixa expatriado é o facto das in- não só. Depois pululavam poemas extraordinários de jovens escritores, stituições e intervenientes a fim não se COLUNISTA sobretudo. fazerem sentir, sem um fio que lhes en- Marcelo Soriano (Brasil) Me apaixonei pela revista, humildosamente falando, primeiro pela qua- rede. Os literatos dia-a-dia vão acor- lidade de informação de que a revista dispunha, e segundo pelo facto de a dando a jovialidade neles e nos outros, FOTOGRAFIA Arquivo — Kuphaluxa revista estar a ser coordenada por jovens, grupo que ultimamente é severa- acima de tudo mostrando aos mais vel- mente satirizado pela antiga geração por ter pouca ou quase nenhuma afei- hos que existem e estão prontos para ção pela leitura e escrita. O Movimento Literário Kuphaluxa não vem provar juntos literarem. Se queres que as PARCEIROS coisas melhorem como futuro que a o contrário?! Ah, deixo isso para debates, acesos de preferência. Centro Cultural Brasil—Mocambique Depois da paixão, de imediato pedi para colaborar com a revista, pelo anos nos é prometido. que o patrono da mesma, o Movimento literário Kuphaluxa acedeu amavel- O que tens que fazer é chegar a casa, Portal Cronopios mente. A partir de então passei a escrever para a revista até hoje. tirar do baú onde contém os textos que www.cronopios.com.br Em jeito de fecho, apelo a todos intervenientes da área literária que se teu pai ti falou, e pedir que leia, as coisas só estão assim porque ele se Revista Blecaute atentem aos jovens escritores que da revista brotam, desbastando-os até se esqueceu do que lá vem escrito. Veras tornarem verdadeiros escritores. Ainda, apelo aos mesmos intervenientes Revista Culturas & Afectos Lusofonos que o dito será feito. que se inteiram das actividades deste exemplar grupo e auscultem os empe- culturaseafectoslusofonos.blogspot.com cilhos que, porventura, estejam a fazer do trabalho do movimento um pande- mónio, um autêntico martírio. Um abraço de Dany Wambire / Beira
  • 7. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 7 Poesia Outras Margens Medo Relógio Nas Baixas do Niassa Amélia Matavele* Mauro Brito* Mukurruza * Quando o silêncio fica mudo Tempo que veste-se de nada Largas opiniões dos refúgios Nas Baixas do Niassa... Parece que tudo agita-se Há sempre uma beleza Prefiro dizer que muitas vezes A nota musical minguando as Dos pinheiros e montan- sinto falta do silêncio. tribos do sol Bertolde Gomes Francisco has, Hora Madeira, nasceu aos 29 de Flores e matagais Palpitando o oxigénio do mofo Março de 1989 na cidade de Aves e flores ________________ que Maputo. Concluiu os estu- E a própria beleza de ex- Amélia Margarida Matavele Enegrece um quarto sem parto dos secundários na Escola istir. nasceu a 08 de Dezembro de Antropofagia de quem manda na Secundária Josina Machel Nas baixas do Niassa... 1991 em Maputo. Frequenta o manada em 2009. Os rios se abraçam curso de Química na Universi- Regista-se os quem nunca É membro fundador do As riquezas se escondem dade Pedagógica e é membro Apadrinharam cáusticos raptos Movimento Literário Kupha- Os olhares se encontram do Movimento Literário dos ponteiros luxa e destaca-se como de- Reflectidas no mais puro Kuphaluxa. A pressa do mar atravessando clamador em noites de poe- espelho Os seus poemas são publica- os pés do Zambeze sia. Tem seus textos publi- De onde o amor brota e se dos com frequência na Revista Beleza do tempo nem tanto, cados na Revista Literatas. espalha Literatas. venceu o minuto Nas Baixas do Niassa... Fugiu tudo do olhar supremo Há feitiço, ao som das ma- Miam latejantes olhares pudicos rimbas, Quintal do silêncio Em abraços nos chapas 100 Percolado na saborosa, Que nunca contam polpa dos pêssegos, Izidine Jaime Que já estrumou corações, _____________________ Outrora áridos de amor. Olho-me por dentro da alma Mauro Brito Combo, nascido aos Nas Baixas do Niassa... Silêncios em jeito de conversa 17 de Fevereiro de 1990 em Nam- Há sempre um tempo livre, ondulam pensamentos de- sassossegados. Agarro um terço pula, actualmente a residir em Quelimane onde cursa Ocean- Gulas Há katxolima a rasgar gar- gantas dos nossos pais de mim no vazio por onde as ografia na Universidade Eduardo E nossas mães de capu- lágrimas nascem empregando Mondlane. Membro do Francisco Junior* lana cantam sorrisos. Um estranho vento finge Movimento Literário Kuphaluxa Profecias escondidas ser calmo na brisa Enquanto o desde a sua fundação e membro No apocalipse das Xiwodas sol cai em sílabas. A noite ven- do Movimento Humanista. Gulas Que previram o poder dos cida deixa uma luz apadrinhar o Embora sem livro, as suas cróni- consumimos Matakas mundo. Que noite vencerá o sol? cas, poemas e ensaios são publi- Lá nas baixas do Niassa... aos sorvos Penso! No quintal uma folha me cadas em revistas literárias, a de- Onde o povo se encontra… palavra lembra a cor da natureza. Nasço stacar, revista Tarja Preta da a ______________________ de novo. Nascer de novo é vencer Academia Onírica de Piauí, re- palavra Mukurruza, pseudónimo o que nos mata por dentro. Deixo vista Blecaute do Brasil e Revista Literatas. a dialéctica de Lino Sousa Mucuruza, em mim viver alguém que diz ser eu. Sentado defronte a uma pal- anacrónica nasceu em Quelimane hota, Falo comigo para não me da onde moldou a sua vida e esquecer. Meus olhos roçam o A espera nossa a maneira de sentir as coisas que formam o céu num gatinhar de nuvens. fome Mas o quê procuram? Um galo de homem (Dor, Amor, Helga Languana* Paixão) e reside na cidade solteiro contempla o vazio da ca- cada dia. poeira, Engana a si próprio Até quando, África! Minha xiluva de Lichinga, província de namorando o chão Preguiçoso perdida no meio da escuridão. Ate Niassa. durmindo no seu último quando te subjugaras ao medo? membro de direcção do _____________________ (CEPAN) Clube de Escri- aconchego, Não canta? Diz ter Porque tens medo da tua força? Francisco Celestino Júnior, tores poetas & Amigos do esquecido a canção da madru- Até quando ficaras jogada no meio da rua mendigando o que já tens? nascido ao 23 de Agosto de Niassa. gada 1988, residente no bairro de O teu céu só tu podes fazer e o que Costa na colectânea de és ninguém pode roubar te Ali- infulene, subúrbio de poesia, (Noite Amanhecida) ____________________ Maputo. Estudante de con- Izidine Jaime – Poeta, membro menta teu filho, esta nova África tabilidade e finanças na Uni- publicada em 2009. E do movimento Literário kupha- recém nascida. Para que se torne a ainda membro fundador versidade Eduardo Mond- luxa, nasceu em Nampula aos 23 mãe o filho e o filho a mãe Conclua do movimento „‟Gincana esta profecia que a muito já foi lane. Colaborador da revista de arte Lichinga‟‟. de Janeiro de 1993 e residente Tarja Preta da Academia em Maputo. Possui artigos e tex- esquecida África, surge et ambula! É também membro do Onírica Piauí Brasil e da re- tos literários publicados em revis- ____________ Movimento Literário tas nacionais e estrangeiras. Foi Helga Rita Custódio Languana, vista Literatas. Kuphaluxa publicado numa antologia de jov- nasceu no dia 15 de Maio de 1990 ens escritores de Nampula do em Maputo, cidade onde reside. É grupo Os Pensadores (2010), pre- estudante de Medicina na Univer- miado no XXVII Prémio Mundial sidade Eduardo Mondlane. de Poesia Nósside da Itália (2011) na categoria de Mencionado.
  • 8. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 8 Intercâmbios Brasil — Moçambique Luana Antunes da Costa é Allan da Rosa é escritor bra- professora e pesquisadora sileiro. Mestre em história en- na área de Literatura Afri- quanto didica-se a dramatur- cana de Língua Portuguesa gia, cinema, jornalismo e tem edoutoranda em literatura di n am i z ad o c ul t ur a n as comparada na Universidade periferias de São Paulo. de São Paulo. Veio a Maputo em Setembro no De viagem para Maputo com âmbito do projecto ― Brasili- Allan da Rosa, ambos movidos dades e Africanidades‖ onde pelo projecto ―Brasilidades e Afri- orientou com a organização do canidades‖ orientou palestras e lançou a obra “Pelas Águas Mes- Kuphaluxa, palestras sobre a tiças da História, uma leitura de O cultura negra no Brasil. Outro Pé da Sereia de Mia Couto. Ana Rüsche é escritora, advogada e dinam- izadora cultural no Centro Cultural Alemão. É doutoranda em Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa na Universidade de São Paulo. Esteve em Maputo entre os dias 1 e 5 de Agosto de 2011 para um intercâmbio literário com o Movimento Literário Kuphaluxa e durante a sua estadia na capital do País realizou uma oficina de escrita criativa, palestras nas esco- las, entrevistas com escritores e ofereceu vários livros ao Movimento. Rubervam Du Nascimento é poeta e professor de direito na Universidade Federal do Piauí. Labora como jurista no Min- istério do Trabalho do Brasil. Esteve em Maputo para actividades ligadas a sua área professional de trabalho, mas foi inevitável que ―fugisse‖ para conhecer o Movimento Literáario Kuphaluxa, com realizou uma palestra na Escola Secundária Francisco Manyanga e no dia 19 de Agosto, marcou amantes de literature de Maputo com uma Noite de Poesia e fez o lançamento do seu livro ―Espólio‖, cujo valor das vendas o autor ofereceu gentil- mente ao Movimento.
  • 9. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 9 Testemunho POETAS DO ÍNDICO – 35 A Morte de mim e o nascimento ANOS DE ESCRITA Fátima Mendonça do Eu enquanto Nós (…) Houve fatores a Fonte: Revista Mulemba (UFRJ) determinar alguma novidade, nas duas últimas décadas, relativamente ao que foi o conteúdo das “Não quero morrer não quero propostas anteriores, nomeadamente de Charrua, Xiphefo e Oásis. Em primeiro lugar, observa- Apodrecer no poema se o desaparecimento progressivo de grupos constituídos Que o cadáver de minhas tardes em torno de projetos sob a proteção de instituições Japone Arijuane Não venha feder em tua manha feliz” Ferreira Gullar dependentes do Estado (AEMO, etc), para dar lugar a iniciativas individuais de poetas que, quer através de con- jarijuane@gmail.com A cursos literários, quer através de edições de autor ou ini- ciativas editoriais comerciais, patrocinadas em geral por ntes queríamos mudar o mundo, fazer um mundo literário, mais humano e agentes econômicos (operadoras telefônicas, bancos etc), emergem ou reemergem na cena literária, dando lugar a intelectual, mas aprendemos que ninguém e nada pode mudar, hoje muda- uma recepção mais alargada. Para tal, contribui, sem dúvida, uma maior rede de distribuição, principalmente em mos a nós mesmo, para que esse mundo não nos mude. Foi pensando em Maputo, aliada a um melhor apetrachamento das bibliote- cas provinciais; além disso, os interesses das muitas livra- fazer o bem e dizer a verdade, que nos vimos na diferença da maioria, por essas acções que rias existentes voltaram-se para a promoção de textos moçambicanos. Também a intervenção dos diversos cen- tros culturais, criados na capital moçambicana, tem cola- fazemos de graças ao rácio, perpetuam-nos uma conotação como extra-terrestres, o facto borado quer para a dinamização da atividade poética, por parte de grupos de jovens constituídos em torno desse de pertencermos uma sociedade onde as pessoas promovem a regressão mental, e os objetivo, quer para uma interação cultural mais ampla. Cabe dar destaque a grupos de poesia que promovem órgãos de comunicação que seria educativos divulgam e acreditam na mesma demência, recitais: o Graal Moçambique, com a realização das ―Tertúlias de sábado‖, desde 2000; o Teatro Avenida, que guiados por gerações e estereótipos banais que fazem o crepúsculo mental colectivo. Nós acolhe o grupo ―Arrabenta Xithokozelo‖, desde 2006; o Centro Cultural Brasil-Moçambique, onde está sediado o que a N milhas distanciamo-nos deste exorcismo patológico, destes preconceitos, aparece- ―grupo Kuphaluxa‖ e o ICMA (Instituto Cultural Moçambi- que Alemanha). Com intervenções mais alargadas a mos não como extra-terrestres, mas como terrestre-extras, extras desta sociedade que a outras artes, projetam-se o Instituto Camões e o Centro Cultural Franco-Moçambicano. No quadro de ação estatal, a revista PROLER, do Fundo Bibliográfico de Língua Por- pique caminha para o precipício, sociedade desbotada em regime de cegueira. Nós como tuguesa, tem cooperado, numa vertente mais pedagógica, para a promoção da leitura. enviados de sei lá quem, munidos pelo mesmo ideal (não ideias como muitos: caixas de Saliente-se que o aparecimento de alguns dos novos autores encontra legitimação na publicação em livro ou ressonância) fazendo, dizendo, e sentido a literatura, divulgando-a, como activistas literá- nas antologias organizadas pelos poetas Nélson Saúte e Rogério Manjate (também narrador, ator, encenador) 14. A rios, isentos de qualquer coesão, nós enquanto nós, independentemente dos meios e sua divulgação nas redes sociais, nomeadamente noFa- cebook, em blogs (ver ma-shamba blog) ou sites de poe- momentos, somos limpos tal e qual nossas línguas, que as não sujamos por mais de quem sia, indica uma criativa adaptação a novos tempos e novas formas de fazer circular textos e de lhes dar visibili- sejam as botas, aliás a língua é o nosso instrumento de trabalho, por esta é outras razões dade. Entre as mais recentes revelações estão: Amin Nor- din (falecido em 2010), com Vagabundo desgraça- preservamo-la. Os mais atentos dirão então porque a morte de mim e nascimento do Eu do (1996), Duas quadras para Rosa Xicuaxula (1998) e Do lado da ala B (2003); Eusébio Sanjane, com Rosas e enquanto nós? lágrimas (2006); Sangare Okapi, com Inventário de angústias ou apoteose do nada (2005) e Mesmos barcos Bom, sei os contrastes mentais que um labirinto poético-filosófico pode vós submeter, mas ou poemas de revisitação do corpo (2007). O ressurgi- mento, agora, com outro amadurecimento, de Celso Man- faço jus aos apurados mentais, aliás esse é um dos objectivos do Kuphaluxa, o tal Nós, guana, com Pátria que me pariu (2006), e de Chagas Levene, com Tatuagem de estrelas (2008), que tinham subir a literacia no sentido intelectual a sociedade, obvio enquanto homem individual estado ligados à Geração 70/Oásis, mostram o potencial contido nesta poesia mais recente, opinião que partilho morri para dar vida a Eu poético que fez nascer o Nós “Kuphaluxa”. com Carmen Secco: (…) alguns dos poetas egressos da Geração 70, embora não tenham logrado publicar seus livros, não param de escrever. E por quê? Em nossa opinião, porque, apesar de se terem declara- O quê que dirás? do poetas do real, da denúncia direta da fome, identificando-se como herdeiros de distopias e guerras, não abandonaram a uto- pia do fazer literário e sabem, no íntimo, que ainda precisam Vês… aprimorar seus versos. Notamos que o descontentamento frente ao contexto econômico, social, político e cultural do país é gran- Minha alma separa-se de mim de, refletindo-se no quadro atual da poesia. Vários poetas – Vai indo por ai densa de eu! alguns que pertenceram à Charrua e outros que surgiram parale- O quê que farás? lamente ou depois – revelam, em seus últimos poemas, uma cética lucidez em relação à realidade de Moçambique, mas pros- Se esse ser ilusório cansar de ser, seguem no encalço das "paisagens da memória" e dos Chamarás o destino para destinares-me? "subterrâneos dos sonhos" (SECCO, 2008, p.30) (…)
  • 10. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 10 Testemunho Amosse Mucavele DIZER, FAZER, E SENTIR A LITERATURA: POR UMA RETÓRICA DA RAZÃO Os remos dispensam as suas ricas analises, ensaios e publicações a uma dúzia de nomes. Ex: Mia Temos as mãos Couto (Moçambique), Pepetela (Angola), que de uma ou de outra forma limi- Para a navegação ta os anseios de um universo de 7 países vistos como periféricos (os Africanos Sangare Okapi- in Mesmos Barcos ou Poemas de Revisitação do Corpo e os Asiáticos), todavia em Moçambique guarda(va)-se uma distancia de sécu- los sobre a literatura brasileira contemporânea(1990-2011) ,pois as obras que existem nas livrarias continuam as do Jorge Amado, Carlos Drummond de “ Eu escrevo para adiar a minha a morte ”, É apartir desta voz do escritor Argen- Andrade, e.t.c., e sobre a literatura Portuguesa(José Saramago e António Lobo tino, Jorge Luís Borges, que estes jovens cumprimentem-se a caminhar de ouvidos Antunes) e Angolana( Pepetela,e Luandino Viera). abertos para o “lugar” onde a palavra se enamora com a língua. Este ‘lugar’ de encontros constantes entre a realidade e a ficção. Dada a esta paragem no tempo da literatura lusófona, criamos um espaço ( o blog do kuphaluxa, uma espécie de relatório das nossas actividades, achamos Já que “De facto, por mais heterodoxos ou abrangentes que sejamos, não podemos nos pouco e mais tarde nasceu a Revista Literatas) de dialogo intercultural, de articular directamente com a tradição mundial, que aliás não existe em estado pronto. divulgação da literatura lusófona, que logo a priori deixou de pertencer ao Todos nos articulamos nalgum lugar, retomado ou inventando tradições parciais. sen- Kuphaluxa(Moçambique) o Brasileiro Pedro Du Bois foi o primeiro a acredi- do” lugar” naturalmente é uma noção variável ,que no momento devido a nova onda de tar no projecto ,a Lurdes Breda( Portugal) e seguiram-se mais outros escrito- internacionalização , esta passando por uma redefinição decisiva .” res experimentados nos seus países e além fronteiras ( graças ao facebook conseguimos angariar mais colaboradores) a juntarem-se a estes jovens des- Esta voz estimula-nos a escutar o orgasmo da nossa capacidade leitoral, a ler o manual conhecidos vindos de “uma nação que ainda não existe” e logo tornou-se das nossas verdes mãos , isto é Kuphaluxar (divulgar, dinamizar) de braços abertos num lugar de convívio, e divulgação da cultura lusófona. com os pés assentes no chão do nosso solo pátrio e interpretar sem nenhum vinculo politico as maravilhas do mundo da literatura, como um mecanismo de assimilação e II a aprendizagem para com a própria vida. Esta aprendizagem “ não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atra- “Os discípulos têm sombras no coração e a realidade da carne ameaçada do vessam as nossas fronteiras interiores.”(Mia Couto-O outro Pé da Sereia ) Mestre é mais forte do que o testemunho da palavra. Mas o Mestre acredita que A tonalidade deste chamamento exprime-se nas “harpas” e “farpas” que esta aventura as aparências morrem e que certas mortes são o começo da vida.” apresenta ao longo do seu percurso e desperta- nos atenção aos voos que os nossos sonhos podem querer descrever nesta infindável distância. Perante este triste cenário de ser residente de ” uma nação que ainda não exis- Eduardo white reflecte esta dicotomia nos versos deste poema: te” com os seus problemas ( vive-se uma realidade exterior a nossa, onde as tempestades ocidentais apoderam-se da nossa cultura ),revestidos de um Escrever é uma droga antiga quotidiano (i)real, (in)característico, dentro deste cenário há uma voz que Uma bebedeira que queima com a lentidão a cabeça, Traz a luz desde as vísceras fala verdades ,ela que é a voz do povo , a força revisitadora , e ressuscitadora O sangue a ferver veias tubulantes da nossa cultura dos contos orais na típica maneira de contar estórias ( karin- Traz a natureza estimulantes das paisagens que temos dentro. gana ua karingana) Não será esta preocupação reflectida neste hipotético exercício de escrita cria- As imagens que compõem “as nossas fronteiras interiores”, o brilho “das paisagens tiva desenvolvida por estes jovens? que temos dentro” e os instrumentos de que a escrita se serve(a droga), se alimenta Sintetizo: escrita criativa, pois ainda não são escritores, indo na acepção do ( a bebedeira), se aconchega (a natureza), se ilumina ( a luz), se move (o san- Alcir Pécora sobre a ideia da criação literária afirma: gue),mostrão- nos o quão difícil é, e longa é a viagem neste’’(…) espaço essencial (a Não parece haver nada relevante sendo escrito ,essa é a mais provável razão literatura -o bold é meu)que é necessário cercar de altos muros como pedia Pessoa . desse poço ,desse mar de coisa escrita Porque é ai que nós somos o que somos, é ai que somos tais que não podemos vender, Ainda na esteira de Pécora: nem ninguém nos pode comprar. ou se quisermos rasgar os últimos véus de Ísis e ser humildes, é lá que habita alguma coisa que, em nós mesmo é melhor do que nós(…). Exactamente porque não é preciso, escrever pode ser tudo menos uma actividade entre Olhando atentamente para as nossas leituras, e sendo nós o tipo “de leitores que não outras quaisquer. Escrever é um acto que, de saída, já deve uma explicação: ele tem de reinventar sua própria relevância , a cada vez , ou então se condenar a ser apenas uma podem ler livros sem se lerem nos livros. Ou antes sem que os livros os leiam.” ideia torta de novidade; o retorno do mesmo, piorado. Assim começamos a por os “remos” a “navegação” (dinamizando a cultura e decla- Este kuphaluxa é um pequeno núcleo dotado de ideias progressistas, visão mando de forma activa) e a cada dia o nosso “rio chamado tempo” aumenta(va) os realista, universalista, solidariedade social, privilegiado por uma retórica da seus afluentes ,dai que sentimos a necessidade de “dispensar” ‘’os remos” e começar- razão. Este núcleo revisita todos os projectos literários que acompanharam a mos a utilizar “as mãos para a navegação”. história do País. As nossas mãos detêm uma escrita em construção que poucas vezes surpreende pela Aliás Fátima Mendonça na sua proposta de periodização da literatura moçam- sua fraca qualidade estética e artística, assim sendo concorrendo a nenhum espaço bicana, de 1986, afirma que “nas mais jovens gerações de escritores moçambi- nos jornais (quase com poucas paginas destinadas as artes e letras). canos encontram-se hoje ressonâncias de metáfora e da parataxe do Craveiri- As mesmas que logo a priori tem um sonho de resgatar do silencio total em que esta nha, do verso seco e angustiado do Knopfly (…) há uma herança literária a embrulhada a literatura moçambicana que “ comparada as grandes, a nossa literatura construir-se. “ é pobre e fraca, mas é ela, não a outra, que nos exprime. Se não for amada, não revela- ___________________________________________________________________ rá a sua mensagem, e se não amarmos, ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que a compõem, ninguém as tomará do esquecimento. Descaso ou incompreensão. Bibliografia Ninguém além de nós, poderá dar a vida a essas tentativas muitas vezes débeis, outras vezes fortes.” Robert Scharwz – Sobre a Formação da Literatura Brasileira in Sequencias Brasilei- E nesta perspectiva que o kuphaluxa promete acelerar substancialmente o progresso ras pag.22-Companhia das Letras 1999 sociocultural deste País: Eduardo Lourenço in Carta melancólica aos Leitores Jovens do nosso País pag- Democratizar a literatura, divulgar a literatura 17,17-30 de Junho j.letras 2009 moçambicana, criar o gosto e o habito de leitura, ibidem Robert Scharwz in Sequencias Brasileiras pag 22 op.cit. usar a palavra como arma de intervenção social ,tornar a escrita como uma charrua e o papel José Craveirinha Eduardo Lourenço artigo citado em branco como os sulcos que esperam a semente (melhorada pelo musculo erudito e adubada pela 2006 pag pag 93-op cit por Andrea Catropa in Escassos Vasos Comunicantes –A relação entre critica e poesia Brasileira Contemporânea pag 35 in Protocolos Criti- transpiração. cos-Itau Cultural 2008 2006 pag. 97 Foi devido aos escassos meios de divulgação da literatura moçambicana seja dentro ou fora, ou mesmo da própria literatura lusófona (onde os editores, críticos, e Professores Sangare Okapi –Um Projecto Chamado Oasis-Da Existencia Colectiva á Afirmacao de literaturas Africanas de expressão portuguesa cingem os seus prestigiosos estudos, Individual:in Memorial AEMO pag-57
  • 11. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 11 Publicidade Maputo é capital política e económica de Moçambique Em Agosto de 2012 Homenageando a mãe dos poetas moçambicanos, Noémia de Sousa Será a capital da Literatura Festival Literário de Maputo Saiba como participar em: http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com festivalliterario.maputo@gmail.com Para ser parceiro ligue: +258 82 57 03 750 +258 82 35 63 201
  • 12. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 12 Momentos Ecos duma noite poética com Rubervam Du Não há minudências sobre o Kuphaluxa Nascimento em Maputo E C Eduardo Quive assim intitulo uma “incursão” que o poeta Rubervam Du Nascimento onheço-os há dois anos antes eduardoquive@gmail.com fez pelas terras que albergam a história dos homens – África. Esta, de do cancro literário entrar-me mãos abertas, entregou-se na alegria de ver o seu filho, entregue à longi- tude por onde se localiza, Piauí, e reuniu outros filhos, ao estilo do meu áfrico país, para celebrar a sua vinda. no cérebro. Mas antes deixa- Na noite que só foi recebida no dia 19 de Agosto de 2011, depois de anos de audiência marcada, naquela que foi a sua pri- me dizer que há muitos bons que meira presença física pelo continente que é ―O berço da Humanidade‖, o poeta Rubervam Du Nascimento, peando pelas fazem poucos e há poucos bons que areias de Maputo, ofereceu aos moçambicanos uma noite de poesia e universalmente mágica que até hoje Moçambique recorda. Falo de universo, porque as noites não se comparam, seja em Moçambique, no Brasil, em Angola, nos Estados fazem muito. Unidos ou na China. Cada noite é uma noite. E cada noite é um universo para quem a vive de forma diferente. Fazer muito é o mesmo que fazer mui- Na sagrada sala do Centro Cultural Brasil – Moçambique, o filho da terra cognominada ―Distanteresina‖ hasteou a sua lírica poesia exotérica, que obrigou ao público afluir em massas naquele espaço em tão escura noite. Algo já mais visto: a to bem, podemos colocar um adjectivo sala empessoada de gente ao mais de 100; ouvidos deflagrados na sucumbência do seu manifesto poético que durou cerca ou substantivo, antes ou depois do de 40 minutos, além do ―Espólio‖que se recusou sobrar nas prateleiras das livrarias moçambicanas. Aliás, esta obra se quer esteve numa prateleira. Esgotou no mesmo dia em que teve a dura tarefa de autografar e tirar fotos com os novos leitores grau. O Kuphaluxa, nome com signifi- da sua poesia. cado que está a ser usado na sua verda- E eu disse a sua poesia exotérica, volto a afirmar, sem remorsos. A poesia de Du Nascimento, embora difícil de se encon- deira literatura, é um daqueles movi- trar, é comum e conhecida e, já me ponho a justificar: Rubervam Du Nascimento escreve na voz de um áfrico personagem. mentos que só vemos sua aparência A poesia do Rubervam Du Nascimento é mesmo um ―Espólio‖. E de quê é composta esta África nossa? De restos, lem- em país do capital, mas não, aqui branças, postumidades e atalhos. Uma história que se descobre todos dias. Uma história que se nega a si mesma. Por isso, um escrever poético dramático, altas e baixas, faz com que qualquer africano se encontre, se descubra e tenha um estão, no país devedor de bancos culti- ponto de partida. A poesia do Rubervam, leva-nos a isso, em particular na obra que tenho vindo a citar. vando na massa os vários alicerces da Rubervam Du Nascimento, embora brasileiro não podia ser, de modo nenhum, um imigrante nas terras negras. A sua lin- cultura literária, do quotidiano, sempre guagem é extraordinariamente mítica tal como o berço que o acolheu nesses dias. A prova disso pode se ter na palestra que orientou numa das mais antigas e maiores instituições de ensino do País, Escola Secundária Francisco Manyanga, relembrando os clássicos. dia antes da noite poética. Quando chegaram os bons duvidaram, Já não me cabem nomeações. Isto é para ilustrar algumas alegações que estão por detrás do sucesso da noite poética, que o poeta brasileiro proporcionou os melhores apoiaram em tudo, porque ao público de Maputo a quando da sua visita em Agosto do ano 2012. tem na mente culta-literária que o país Antes da leitura do seu manifesto poético, o evento foi brindado com o recital de um dos escritores que é um símbolo da não se faz sem culturas ou não se faz literatura moçambicana. Falo-vos do professor, romancista, poeta, ensaísta e jornalista, Calane da Silva, actual detentor do Prémio José Craveirinha, o maior prémio moçambicano de literatura, agora também designado ―Prémio Carreira‖. sem um livro na mente. Receberam Calane da Silva, que no mesmo dia, recebeu Rubervam no seu escritório do Centro Cultural Brasil – Moçambique, onde é vários ensinamentos sobre a literatura director, recitou um poema inédito de José Craveirinha, numa autêntica exaltação do clássico da poesia moçambicana. De seguida, foi a vez do Rubervam Du Nascimento, que para a surpresa de todos, no seu manifesto poético, dialogava com e nunca chegaram a considerar-se várias figuras da literatura moçambicana, dentre os quais passo a nomear, José Craveirinha, Ana Mafalda Leite, Calane da (ironia da metáfora) os que melhor Silva, Rui de Noronha, Rui Knofli, Eduardo White, Sulemane Cassamo, entre outros. Ainda chegou a recitar alguns versos fazem, deixaram que os seus acompa- destes autores, numa interacção entre o clássico, moderno e contemporâneo, nesta última, a considerar, a poesia de Khiria Wakíria, ainda sem livro publicado e Eduardo Quive, participante de diversas antologias como premiado, mas sem livro nhantes achem. publicado e jornalista. Kuphaluxa, vocês brincam sério Logo, estávamos numa noite onde, para a surpresa de todos, brasileiro, era apenas o sotaque, do resto, Rubervam Du Nas- cimento era nosso. Moçambicanizado e Africano. A olhar pelo cenário que aconteceu na noite poética - sala escura, apenas demais e se esquecem que sofrem de com uma lâmpada vermelha no centro do palco improvisado, o autor sozinho no palco e circundado de espectadores - leva- um sindroma: literatura. Vocês são me a comparar às noites do Nkaringana Wa Nkaringana que são estórias contadas numa noite, com pessoas em volta da sérios demais que me deram cancro e lareira atentas a um único apresentador, ou, se quisermos, o artista que faz o espectáculo. Ao estilo moçambicano. Com o Rubervam foi a mesma coisa, num cenário cuidadosamente desenhado por si e com a cumplicidade do Movimento Literá- agora vou espalhar aos meus alunos. rio Kuphaluxa, agremiação que o acolheu literariamente, durante os dias que passou em Maputo. Assim, foi a noite de poesia, em que o poeta brasileiro, Rubervam Du Nascimento, proporcionou ao público, a magia da palavra e o prazer da língua. Rubervam Du Nascimento deixou um legado em Moçambique e uma dívida eterna de voltar a Dizer, fazer e sentir a literatura. brindar aos fãs que ele mesmo conquistou com mais noites, agora não só de poesia e manifestos, mas de aprendizagens e Izidro Dimande de convivências. Caro poeta, tenho fé que um dia Maputo voltará a lhe ter em seus braços, tal como o tive.
  • 13. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 13 Revolução literária moçambicana – o paradigma Movimento Kuphaluxa Filosofonias Marcelo Soriano — Brasil Ricardo Riso — Brasil Um ósculo de paz sobre a Face da Terra Q uase o tempo de existência do Movimento Kuphaluxa foi o início do meu contacto com alguns dos seus inte- grantes, dentre os quais destaco Mauro Brito e Amosse Mucavele, este já um parceiro de projectos literários. Desde o seu início impressionou-me a determinação de seus componentes em tirar da inércia a cena literária moçambicana, ainda que diante das limitações do pequeno ambiente das letras no país, dos impedimentos que a nova geração sofre para adqui- rir seu espaço e obter o respeito das gerações anteriores, assim como o parco apoio financeiro e tecnológico para o desenvolvi- Imagem sob licença Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Sem Derivados 2.0 Genérica (CC BY-NC-ND 2.0). Autor: Neil Carey, "Mother Earth". Fonte: http://www.flickr.com/photos/mrbultitude/21433726/ mento de seu projecto de maior ambição, a revista electrónica E is o modo como eu sinto, vejo, leio, a arte dos actores sociais, sejam eles ―Literatas‖. moçambicanos ou brasileiros, tenham eles a nacionalidade que seja, eles que escrevem, escrevem, desmedidamente, sem visar lucros pessoais e créditos Após dezoito edições, ―Literatas‖ é hoje uma importante publi- financeiros a partir de suas letras inspiradas (e inspiradoras): "Um ósculo de paz sobre a cação de integração das literaturas em língua portuguesa. Um Face da Terra". Vejo muito de mim, do que já fui e, também, deste que, ora, sou, em alguns projecto ousado, a mostrar a coragem de um grupo de jovens jovens, meninos e meninas, que se expressam livremente através da literatura nas suas apaixonados pela literatura e aptos a promover o fim do silen- comunidades locais, nas suas cidades, regiões, países e continentes, assim como em ciamento comunicativo das nossas ilhas lusófonas espalhadas meio as suas amizades, famílias e redes sociais. E, assim, mirando-os como num espe- lho, não concebo isso tudo que vejo como imagem utópica, ilusão ou aparência, pura e pelo globo terrestre. Uma manifestação literária que em sua cur- simplesmente. Vejo a alma que suponho ter e pela qual luto e reluto para não deixar que ta duração já semeou e colheu melhores frutos do que as pífias se extinga. E personifico o que vejo na figura de um barqueiro nocturno, em meio à tor- menta, sem medir esforços para sobreviver, manter o rumo e não deixar que a luz de políticas dos nossos governos e seus ministérios de cultura, o seu lampião se apague como se fosse, aquela, a luz da vida (A vida, neste caso, é a que me leva a confirmar a análise do ensaísta brasileiro Silviano literatura). Vejo no espelho que se apresenta a minha frente, a divisão de esforços e multiplicação de talentos. Vejo a parte boa, a metade sã, a porção redentora de uma Santiago acerca do ―cosmopolitismo do pobre‖ e sua actuação realidade difícil, complicada e atribulada que enfrentamos diariamente neste, como bem como agente reprodutor de cultura e reivindicações: traduziu Shakespeare, "imenso cenário de dementes". E quando me refiro à literatura, abordo o conceito produtivo, dinâmico, persistente de letramentos, construtivismos, No plano dos marginalizados, a crítica radical adaptações, releituras, inovações e superações da (e pela) palavra criativa. aos desmandos do estado nacional, tal como este está sendo reconstituído em tempos de globali- Amo ao ponto de comparar a um beijo de paz sobre a Face da Terra esta litera- zação, não se dá mais na instância da política tura e seus agentes vivificadores, principalmente a literatura juvenil que sempre e com oficial do governo nem na instância da agenda tons de esperança aborda temas altos, como amor, paixão, liberdade, luta, sonhos e económica assumida pelo Banco Central, em vida. De um modo objectivo e efectivo me vem à mente, neste contexto, os jovens do acordo com a influência coercitiva dos órgãos financeiros internacionais. Ela se dá no plano do Movimento Literário Kuphaluxa, com os quais venho me correspondendo e produzindo diálogo entre culturas afins que se desconheciam literatura lusófona colectivamente, desde a metade do ano passado (2011). Penso, aqui mutuamente até os dias de hoje. Seu modo sub- no conforto da minha cela temporária chamada existência: como cheguei até estes versivo é brando, embora seu caldo político seja jovens? Como eles chegaram até mim? Que sorte do destino é esta que uniu nossas espesso e pouco afeito às festividades induzidas pela máquina governamental (SANTIAGO, redacções, idéias e ideais? Nós, com nossas línguas semelhantes, porém, não idênticas. 2004, p. 61). Cada qual com sua identidade... Comunicando e captando mensagens transmitidas de uma mente para outra, de um indivíduo para um colectivo (e vice-versa)... Movimento... ―Literatas‖ ainda apresenta-se incipiente em seu projecto gráfi- Mover-se... Movimentar-se num sentido e direcção a próprio modo... Um caminho com co e linha editorial, porém, condizente ao processo de formação indicadores vectoriais que apontam para a CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa... Kuphaluxa, o Movimento jovem que se propõe ideológica e com cidadania literária e intelectual de seus idealizadores que procuram apri- transcontinental "Dizer, Fazer e Sentir a literatura". O que faço eu, aqui, em meio a estes morar a revista a cada edição. Minha única ressalva se dá para a meninos e meninas? Ora, faço o que posso de melhor, isto é, escrevo como um velho e defasado homem que acabou, por uma injecção de ânimo cultural, de se redescobrir e ausência de representantes da literatura negro-brasileira, pois motivar como parte integrante e integrada de um Movimento sem fronteiras que o desa- com a integração de seus partícipes em suas páginas, visto que fia de modo contínuo a propagar e repercutir a Literatura em sua forma mais nobre; como ferramenta de cidadania, desenvolvimento e intercâmbio cultural de uma socieda- esses escritores são invisibilizados por aquilo que se considera de livre de todos os males que a impedem de se tornar imagem e semelhança de amor e como literatura brasileira, a comunidade lusófona teria outra perfeição. O que faço eu aqui? Pratico a expressão da alma pela escrita. Pratico o doce dimensão da pluralidade da produção literária do Brasil. e saudável exercício da Eterna (e contagiante) Juventude. Kanimambo, Kuphaluxa! Para finalizar, minhas congratulações para este colectivo .................................................................... moçambicano que concretiza um novo paradigma para o inter- Frase semanal: câmbio das literaturas em língua portuguesa. Eu torço sempre para que os optimistas sejam admiráveis oráculos e Longa vida à revista ―Literatas‖ e ao Movimento Kuphaluxa! não idiotas inconsequentes.
  • 14. SEXTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 14 Voz Activa O Impacto do Kuphaluxa para poetas de Lichinga Na história do Movimento Literário Kuphaluxa, destaca-se a partir de 2011, com a criação da Revista Literatas, pela sua expansão pelo país. Assim, iniciou uma luta para reverter o cenário em que, de Moçambique que é, o Kuphaluxa era mais conhecido fora. Nesse trajecto de sermos conhecidos e atingir com os nossos projectos jovens de outras províncias, o nosso representante na cidade de Lichinga, capital do Niassa a norte do País, trás o relato dos acontecimentos. O Movimento Literário no intuito de enqua- Lino Sousa Mucuruza — Lichinga Kuphaluxa tem vindo a drar as províncias. linomucuruza2010@yahoo.com.br ocupar um espaço que nun- Niassa se fez repre- ca tinha sido ocupado no panorama sentar em 2011 no literário do nosso país, assim como mundialmente através da sua revista literária. projecto ―Poesia Com expressão nos país falantes da língua portuguesa a revista Literatas tem sido um dina- nas Acácias‖ com mizador da repesca dos escritores jovens e ou emergentes, estes que tem vindo a afirmar-se quatro poetas: na ilustração máxima da nossa jovem literatura. Mukurruza, Eduar- Exemplos concretos apontam a província do Niassa com grande enfoque nos distri- do Tocoloua, Zefe- tos de Lichinga e Cuamba onde foram chancelados escritos de alguns poetas no rino Massingue, e caso de Arsénio Mpissa novo talento daquele distrito sul do Niassa. Alguns exem- Francelino Wilson através de poesias estampadas em algumas acácias da plos ainda vem a recair na cidade capital, Lichinga, com uma vasta gama de poetas Rádio Moçambique no Maputo e um M’saho realizado no Jardim Tunduro. publicados, refiro-me concretamente à Zeferino Massingue, Humberto João, Eduar- Eduardo Tocoloua, Zeferino Massingue, Octávio Dinala, em entrevista a do Tocoloua, Ernesto Carlos, Octávio Dinala e Mukurruza, motivo suficiente para Literatas, contam ter conhecido o Kuphaluxa, através da sua revista que lhes apostarem neste movimento literário com apenas dois anos a actuar no País e que já chegou das mãos da representação da mesma a nível da província do Niassa. deixa atrás alguns movimentos considerados antigos. Os poetas acrescentam ainda, que além de electronicamente a revista deveria Em Niassa, por exemplo, o Movimento Literário Kuphaluxa tem se feito presente sair em versão impressa, de modo que, todos possam a ter acesso. através dos grandes eventos que em levado acabo a nível do Maputo, Cartas de Leitores Caro Leitor, amigos e simpatizantes da Literatas, você pode opinar sobre os conteúdos publicados e ou assuntos em desta- que na lusofonia. Para isso, escreva-nos pelo e-mail: kuphaluxa@gmail.com. Queridos amigos do Kuphaluxa, saudações! Antes de mais, votos de óptimas realizações na vida social, cultural e sobretudo pessoal. Bem hajam neste 2012! Ora, não vou entrar com verbos nem provérbios. COMENTÁRIOS: Meu Caro Eduardo: á- tei do novo aspecto gr 1. Agradeço a revista Literatas (que não recebi por vossa via, mas podem adicionarem- do LITERATAS. Gos Obrigado pelo envio me aos contactos e jaz, manda-me logo o PDF); pre- fico. ractivo. Parabéns! É Está realmente "de cara lavada" e mais at »eé 2. Parabéns pelo RETURN; s olhos também comem ciso não esqu ecer o ditado de que «o 3. Sugestão: julgo que desta até a próxima edição tomem em atenção ao envio de corres- verdade! é tudo o que desejo. pondência (o endereço de e-mail é fidedigno, sempre). Recomendo a porem os destinatá- Sucesso para a vossa publicação rios em BCC (aparece como "Cco" no Gmail). Assim preservam a identidade de todos os vossos contactos. (imaginem se algum deles tiver um vírus ou spam, pishing e por ai, ficamos todos na (****imaginação); Com o apreço do 4. Quanto ao PDF. Parabéns pelo esforço. Mas é altura de arregaçar mangas. Peço por trália Afonso Brandão / Aus isso autorização para usar esta Edição para moldar e enviar-vos uma Proposta de Layout. aveirinha. Ele está geado o Poeta José Cr PS - Foi op ortuno ter em homena O nunca gos- 5. Visitei recentemente os vossos três blogs. Devo reconhecer o crescimento e dedicação s e porque a FRELIM «muito esquecid o» por razões política que depositam no trabalho...apesar da falta de ferramentas! Ora, utópica possibilidade de icar por- vir formalizar o meu pedido de parceria (queria usar uma expressão como simpatizante), tou muito dele. apas na língua", e expl É preciso dize-l o abertamente, sem "p pa, para ajudar a moldar algumas questões estéticas, por favor considerem este e- mpula), o António So , o Vasco Fenita (de Na podem dar o seu mail. Devo recordar que tenho um blog mas que por falta de matéria anda às moscas... quê. O Calane da Silva Serra são pessoas que No entanto vejo que o Kuphaluxa tem muito a dar e gostava de dar o meu singelo contri- o ou mesmo o Carlos a coragem o Mia Cout e o assunto. Há que ter buto. Caso se interessem é simples, mediante confirmação escrita explicarei exactamente testemunho, qu e podem escrever sobr s não ter em r todas. Foi pena você o que proponho. de por os pontos nos "ii" de uma vez po s Zeca e Stélio l as opiniões dos filho inc luído neste destacáve o. Espero ter trazido neste e-mail algo que possa ser também do vosso interesse. inalizado pelo primeir (este último um pouco marg Estou igualmente aberto a criticas e sugestões, comentários e algo piri-pire! Mário Eduardo / Maputo