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CARNAVAL
INFERNAL
PERSONAGENS
Diabo
Bruxa - Beldroega
Lobo
Anjo
(O cenário representa o Inferno. Deve-se prever um local para a Bruxa
colocar o cadeirão. A luz deve privilegiar os tons vermelhos. O Diabo entra
em casa, dá uma volta completa ao cenário e fala directamente para os
espectadores):
DIABO
Sabem o que é isto aqui?
O inferno, sim senhor!
Oh, que terra sem sabor
diziam os antigos então
quando havia cortesia
respeito, pouca alegria
e temor, muito temor.
Uuuui, que medo! Hiii que pavor.
- Vejo brilhar no olhar!...
Neste meu poço profundo
estão as manhas deste mundo,
as maldades, as tropelias,
as mil e uma arrelias
que se fazem lá na terra
pagam-se todas aqui!
Eu sou el-rei Satanás
o que faz e o que não faz
torturas, assombrações,
fabulosas invenções
para castigar as pessoas
que não fazem coisas boas.
Mas hoje dei um feriado.
A minha infernal mansão
está ás moscas, sem clientes
Eu dispensei as más gentes
e os diabretes ajudantes
e decidi convidar antes
uns amigos escolhidos
para aqui se celebrar
uma festança fenomenal
um carnaval infernal.
Que diabo! Não faz mal
Dar um feriado um só dia!
Todo o ano aqui se chora
geme, grita, agonia... Quero que haja alegria
em todo o ano, um só dia.
Convidei a Beldroega, Bruxa de artes e manhas Senhora de malas-artes de
patifarias tamanhas que ela só vai assombrar
a festança, a reinação.
BELDROEGA
A festança, a reinação
tudo isso cá comigo!
DIABO
Beldroega, minha amiga!...
BELDROEGA
Satanás, meu bom amigo!...
(Beijam-se e abraçam-se.)
DIABO
Vens tão bela e amarela...
Que pareces uma estrela!
BELDROEGA
Tu estás vestido a primor
Tchii, menino, quanto adorno!
Pareces mesmo um senhor,
isto mais corno, menos corno!
DIABO
Dize-me, mana minha:
devo-me eu disfarçar?
Quanto eu não quero assustar
os amigos convidados!
BELDROEGA
Não faças tal asneira!
Estás excelente, sensacional!
Hoje em dia é normal
ver diabos, aí, pela rua
aos montes, aos pontapés.
E então no Carnaval...
DIABO
Não me digas, por quem és que estou assim, banalizado! Ah, isso deixa-me
zangado,
furioso a valer!
Queres então tu dizer
que eles ousam gozar
com a figura de Satanás?
BELDROEGA
Do Satanás, do Diabo, de Lúcifer e Belzebu Ninguém acredita, vê lá tu...
DIABO
Será do traje que trago?
Será deste meu lindo rabo?
BELDROEGA
Eu estou bem em crer que sim.
DIABO
Que devo fazer, Beldroega?
BELDROEGA
Um rabo assim, tamanhão,
é coisa que já não pega
nesta nossa profissão
É feio, deselegante,
podes até tropeçar
num rabo assim tão comprido.
DIABO
Mas que devo eu fazer?
BELDROËGA
Escuta bem o que eu te digo
Segue um conselho de amigo:
Bzzzt!
(Faz menção de lhe querer cortar o rabo.)
DIABO
O quê?!!! Cortar o rabinho?
Tirar a minha linda cauda,
Ornamento de estimação?
BELDROEGA
É a única solução
para poderes ser respeitado.
DIABO
Tu achas mesmo que sim?
BELDROEGA
Sim, sim!
DIABO
Seja então, mas com doçura,
com cuidado, com cortesia!
BELDROEGA
Eu sei duma anestesia
dum bruxedo especial
que não há dor, nem sinal
de sofrimento qualquer:
ora deixa ver o rabo!
(O Diabo aproxima-se, temeroso, mas estende-lhe a cauda.)
BELDROEGA
Zás, trás, pás e catrapás
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DIABO
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uma bruxa sensacional!
BELDROEGA
Estás mais bonito, elegante! Airoso! És um pão mole! Olha, tu dás-me o teu
rabo para eu fazer um cachecol?
DIABO
Fica com ele para ti
que a mim me aborrece!
BELDROEGA
E agora não te apetece
bailar uma contradança?
DIABO
Boa ideia, bruxa bela
Haja alegria e música
Para animar a festança
(O Diabo e a Bruxa organizam uma contradança que deverá ser tão animada
quanto possível. Antes de o baile acabar, o Lobo Lobão surge em cena e
dança com eles os últimos compassos da música.)
BELDROEGA
Lobo Lobão, meu amigo!
Vieste também reinar
ao carnaval infernal?
LOBO
Sim, que me apetece a mim
Rir, dançar, desenfastiar
daquela vida da serra.
DIABO
É muito duro, lá na terra
penar por montes e vales?
LOBO
Uuuui, nem calculas tu!
Valha-me São Berzebu
bom diabo, meu irmão!
Que eu tenho por devoçâo
só papar as ovelhinhas
que são jovens e tenrinhas!
Mas tenho tantas levado
este lombo tem alombado
com tantas pauladas, tamanhas
que já nem sei que mais manhas
faça para me disfarçar.
Há dias vi um rebanho
lindo, gordo, apetitoso!
Pois veio um cão raivoso
que me deu tantas dentadas
e depois veio o pastor
que me deu com tais pauladas
que fiquei todo quebrado!
Três dias não comi nada
P’ra chegar à tua festa
foi um triste padecer...
Nãotens nada que comer?
DIABO
Sim! Há bolos apetitosos
BELDROEGA
Aqui, no meu caldeirão
tenho ensopado de cabrito
que é de comer e ficar aos gritos!
DIABO
Tu queres bolo ou cabrito?
LOBO
Eu vou ficar assoprado
de tanto ensopado comer!
BELDROEGA
Tu tem cuidado! Come pouco
O ensopado tem magias
podes ficar com manias...
(O Lobo mergulha a cabeça no caldeirão e come com sofreguidão.)
BELDROEGA
Quem come deste ensopado
Pode ficar modificado...
DIABO
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BELDROEGA
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(O Lobo tira a cabeça do caldeirão e apresenta um olhar alucinado.)
LOBO
(Lambendo os beiços.)
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sinto-me teletransportado
para o reino da fantasia.
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A avozinha da história
do Capuchinho Vermelho?
DIABO
A avozinha da história
do Capuchinho Vermelho?
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LOBO
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BELDROEGA
Eu, a avozinha da história
do Capuchinho Vermelho?
Tu no estás bom da cabeça!
LOBO
Se não queres que te aconteça
nenhuma fatalidade
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depressa e á minha frente!
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BELDROEGA
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LOBO
Vou papar a avozinha
Vou papar a avozinha
Vou papar a avozinha
(O Diabo ri a bandeiras despregadas ante a cena de perseguição, que deve
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BELDROEGA
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DIABO
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BELDROEGA
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LOBO
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Chegou a hora gloriosa
de eu tirar a desforra
da velha história horrorosa!
(Quando o Lobo está prestes a alcançar a Bruxa, o Diabo faz
um passe de mágica. Os dois personagens ficam paralisados e o
Diabo diz):
DIABO
Terebintina, serpentina
Olho de leão, caca de menina
Salta pulga, arranca dente
Vou transformar-te em serpente!
(O Lobo desaparece de cena.)
BELDROEGA
Que magia sensacional
O Lobo já não me vai fazer mal.
Diabo, meu senhor e mestre
que magia tu fizeste?
DIABO
Um truquezinho sem importância
Para acalmar aquela ânsia
que o Lobo tinha em papar-te.
BELDROEGA
E a que parte ele foi?
DIABO
Aquela parte de além
do outro lado do mundo.
Beldroega
Vai voltar?
Diabo
Irá voltar de repente
mas transformado em serpente
(Surge uma serpente em forma de marioneta de fios.)
BELDROEGA
Que magia sensacional!
Que carnaval infernal!
DIABO
E agora para abrilhantar
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Eu vou chamar um cantor
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BELDROEGA
Oh que lindo é o cantor,
Que bonito, que pão mole...
Queres cantar com o meu cachecol?
(Enrola-lhe o rabo do Diabo ao pescoço.)
DIABO
Que canção vais cantar tu
Em honor de Beizebu?
O CANTOR
Agora eu vou cantar
uma canção de espantar.
(Convém que o jovem intérprete escolha uma canção com música e letra
adaptada ao contexto. O Autor decidiu não apresentar qualquer proposta de
letra para dar total liberdade criadora aos alunos e professor de Música.
Os actores devem ouvir letra e música para encontrarem o jogo mímico
adequado ao conteúdo da canção. No final aplaudem e Beldroega diz.):
BELDROEGA
Amélio de olhos doces
quem dera que fosses bruxo como eu
Se tu prometeres casar
eu vou-te levar
pertinho do céu...
DIABO
Beldroega, francamente... Tu propões-te em casamento
a tão guapo rapaz!
Isso não se faz, isso não se faz!
BELDROEGA
Ora, ora! É Carnaval
ninguém leva a mal.
E se no meio do Entrudo
eu conseguir casamento
com um príncipe que é cantor
juro-te, meu amor
que subo de cotação
lá no mercado das bruxas.
DIABO
E se ele não quiser
ser da bruxa o marido?
BELDROEGA
Ora, isso não faz sentido
ele vai querer de certeza!
(Aproxima-se do cantor e diz):
Repara na minha beleza
com cuidado, mira bem
e diz-me sinceramente
se tu conheces alguém
mais bonito do que eu.
DIABO
Beldroega, que te deu
p’ra virares casamenteira?
BELDROEGA
Umas ânsias, uma canseira
comichão pelo corpo todo...
Não sei se estou embruxada,
ou se estou apaixonada!
DIABO
É o mal do Carnaval
que só destila paixões.
Senhor cantor, cante agora
outra das suas canções.
(O cantor interpreta a sua segunda canção. Beldroega ouve-a
atentamente, convencida de que ele lhe vai cantar uma canção de
amor. Muda de atitude progressivamente, à medida que se apercebe de que
aquela não é uma canção de amor.)
BELDROEGA
Te assombro e desassombro
com estas assombrações.
Desaparece! Sai daqui!
Odeio as tuas canções!
(Beldroega assume a postura de uma bruxa em fase de bruxedo do terrível.
O cantor sai de cena, se possível no meio de muito fumo. Entretanto, o Lobo
regressa.)
DIABO
Beldroega, que tens tu?
Porque estás tão irritada?
BELDROEGA
Escuta bem, ó Belzebu:
estava eu apaixonada
pela figura do cantor
linda, cheia de mistério
e ele canta uma cançâo
que me causou aflição.
DIABO
Cala-te não digas mais
que já não te posso ouvir!
LOBO
Agora vou eu presumir
de vedeta da canção
Convido todos a ouvir
a minha ‘interpretação.
DIABO
Já não és o lobo mau
do capuchinho vermelho?
LOBO
Isso é caso passado
no tempo da minha avó!
Enquanto estive encantado,
transformado em serpente
eu acordei de repente:
tive um baque, deu-me um choque
e descobri que ia ser
o maior lobo do rock!
BELDROEOA
O lobo do rock? Tu?!!!
DIABO
Pesar de São Belzebu!
Oh, mas que grande escarcéu!
Este aqui diz que é do rock
deu-lhe a doida, está com o amok.
BELDROEGA
Quando o ouvirmos cantar
vai ser um grande escarcéu
o inferno vira céu
nada me irá já espantar.
(O Lobo faz uns quantos gorjeios para afinar a voz, assume a
pose de roqueiro e diz):
LOBO
Meus:
tudo na maior no inferno e nos céus
Quero agora interpretar
Um rock que é de espantar.
(Baseado na música do Chico Fininho, de Rui Veloso, o Lobo canta):
Saltando na capoeira
todo cheio de speed
papa a poedeira, o pinto
e divide
a carne das galinhas
das patas e dos perus
ele é o maior, o melhor
dos gabirus
Lobo Fininho, U, U
Lobo Fininho U, U
(Beidroega e o Diabo, cada um de seu lado, saltam sobre o Lobo e tentam
acalmar-lhe o ímpeto roqueiro, o que só conseguem canto após porfiados
esforços. O Diabo põe-lhe a mão na boca, impedindo-o de cantar, mas de
cada vez que se consegue desembaraçar o Lobo contra-ataca.)
LOBO
Lobo fininho, U, U
Lobo fininho U, U
BELDROEGA
Escuta-me com atenção:
ou tu calas essa boca
ou sou eu que te transformo
em mosca da televisão!
DIABO
É maluco, está vidrado
deu-lhe a tonta, deu-lhe o amok
julga-se predestinado
p’ra ser artista de rock!
LOBO
(timidamente.)
u u, u!
DIABO
(ameaçador.)
No inferno mando eu
E tu calas-te agora já!
(O Lobo vira-lhes ostensivamente a cauda e vai uivar para um canto do
cenário desgostoso por ter sido desconsiderado.)
BELDROEGA
Não posso ouvi-lo, nem vê-lo
Mas que enorme pesadelo!
Diabo, meu bom amigo
não tens nada para alegrar
este infernal carnaval?
DIABO
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BELDROEGA
Quem é? Quem é?
Diz depressa, sem detença.
Ele tem boa presença?
DIABO
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BELDROEGA
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DIABO
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(O Autor sugere que neste momento da peça actue um grupo musical. A sua
actuação tanto pode acontecer no âmbito da música rock como na música
cora!. Aqui uma vez mais se faz apelo à criatividade musica! de professores
e alunos.)
BELDROEGA
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Meu raminho de jasmim
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MÚSICO
Talvez seja preferível
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DIABO
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BELDROEGA
Não acendas tantos lumes
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já percebi: tens ciúmes
por eu não te namorar!
DIABO
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Eu não penso em casamento
com qualquer bruxa que passe!
(Para esta segunda interpretação sugere-se um trecho romântico, uma vez
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BELDROEGA
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(O grupo sai e a cena de amor entre a Bruxa e o Diabo prossegue.)
BELDROEGA
Meu diabinho amoroso.
DIABO
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DIABO
Beidroeguinha catita!
BELDROEGA
Minha florinha infernal!
DIABO
Bruxa de canto e encanto!
BELDROEGA
És um diabo divina!
DIABO
Meu amor, meu mel, meu espanto!
LOBO
Então isto é carnaval,
ou uma cegada d’entrudo?
Vou-me embora já daqui
porque eu já percebi tudo!
DIABO
Amigo não vás embora
fica ainda mais um pouco
LOBO
Anda todo o mundo louco
no inferno e na terra!
Quem me havia de dizer
que eu ia presenciar
a cena para casar
o Diabo com a Bruxa?
Puxa! isto é de mais!
Não posso, eu não aguento
um tão doido casamento.
BELDROEGA
Que estás tu a resmungar?
Tu ousas sequer duvidar
da verdade do nosso amor?
LOBO
Quem? Eu? Nem por sombras!
A mim já tu não assombras
com infernais invenções.
Queres casar nesta brasa?
Queres juntar-te com o Lúcifer?
Óptimo! Assim estragam só uma casa
Não arruínam um qualquer!
DIABO
Vai ao registo civil
marca já o casamento
e traz-nos o funcionário
para registar o momento
desta infernal união!
LOBO
Vou já sem hesitação!
(O Lobo sai de cena e volta com um anjinho pela mão. Este Anjo tem o
vestido amarrotado, as asas um pouco à banda e uma coroa de flores meio
desfeita.)
DIABO
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Heresia! Maldição!
BELDROEGA
Não posso com o anjo papudo!
Faz-me mal ao coração!
Ele destrói o entrudo
arruína a união
que está tão bem combinada!
DIABO
Tive uma ideia genial
Não faças mais escarcéu
Vamos transformar o anjinho
num bom toucinho do céu!
(O Diabo e a Bruxa aproximam-se pé ante pé do Anjo. Este apercebe-se das
suas intenções, toca-lhes com a varinha de condão na cabeça e diz):
ANJO
Num bom toucinho do céu
Ir-vos-ei eu transformar.
Sou anjo mas não sou parvo
E não me deixo papar
por uma bruxa qualquer!
Lobo, afinal quem quer casar?
LOBO
Ele e ela, ela e ele!
ANJO
O Diabo e a Bruxa
querem os dois casar?
Não posso acreditar
Em tão louca união!
LOBO
Olha anjo, eu também não!
ANJO
Vamos então ao casório
que eu já tenho o latinório
aqui, na ponta da língua.
(O Anjo volta a tocar na cabeça do Diabo e da Bruxa com a
vara de condão de modo a quebrar o feitiço. As duas personagens
perdem a postura de estátuas.)
BELDROEGA
Eu já não quero casar!
Estava doida, embruxada,
tinha uma praga rogada
p’ra fazer tão feia acção!
DIABO
Casar com uma bruxa destas?
Eu?!!!
Mas que juízo é o meu
p’ra pensar que Satanás
se vai enforcar assim?
Vade retro, vai para trás
ó bruxa amaldiçoada!
BEIDROEGA
Cão tinhoso, cão raivoso!
DIABO
Bruxa em forma de serpente!
BELDROEGA
Diabo tão horroroso!
DIABO
Cara gorda, repelente!
BELDROEGA
Chifrudo desajeitado!
DIABO
Rota, feia, esfarrapada!
BELDROEGA
Tu és um pobre diabo!
DIABO
E tu, uma bruxa coitada!
BELDROEGA
Vou-me a ti!
DIABO
A ti me vou!
(O Diabo e a Bruxa encetam uma perseguição que termina
num breve corpo-a-corpo. Neste sketch final, o Lobo e o Anjinho
podem participar.)
ANJ INHO
Alto! Alto e pára o baile!
Parem com a chinfrineira
basta tanto rebéu béu
já vi tanta asneira
que vai tudo preso para o céu!
(O Anjo acorrenta o Diabo, o Lobo e a Bruxa e organiza uma cegada à
maneira da velha tradição do Carnaval português, em que todas as
personagens participam. Sugere-se que aproveitem a música que Herman
José celebrizou — Vamos lá cambada — com letra adaptada a esta
situação.)
Vamos lá cambada
todos à molhada
que a festa é total
força nas canetas
o resto sãotretas
é um infernal carnaval
A Bruxa, o Lobo,
o Diabo e o Anjo
decidiram ir casar
ao paraíso celestial
Foi um casório
que até meteu latinório
andou tudo à batatada
e acabaram todos mal!
Vamos lá cambada
todos á molhada
que a festa é total.
Força nas canetas
o resto são tretas
é um infernal carnaval!
(O espectáculo termina com a cegada. O Autor sugere que os os actores
ultrapassem o espaço cénico e se misturem com os espectadores de forma a
comunicar a força da vossa festa teatral a todo o público.)
FIM

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Texto carnaval[1]

  • 1. CARNAVAL INFERNAL PERSONAGENS Diabo Bruxa - Beldroega Lobo Anjo (O cenário representa o Inferno. Deve-se prever um local para a Bruxa colocar o cadeirão. A luz deve privilegiar os tons vermelhos. O Diabo entra em casa, dá uma volta completa ao cenário e fala directamente para os espectadores): DIABO Sabem o que é isto aqui? O inferno, sim senhor! Oh, que terra sem sabor diziam os antigos então quando havia cortesia respeito, pouca alegria e temor, muito temor. Uuuui, que medo! Hiii que pavor. - Vejo brilhar no olhar!... Neste meu poço profundo estão as manhas deste mundo, as maldades, as tropelias, as mil e uma arrelias que se fazem lá na terra pagam-se todas aqui! Eu sou el-rei Satanás o que faz e o que não faz torturas, assombrações, fabulosas invenções
  • 2. para castigar as pessoas que não fazem coisas boas. Mas hoje dei um feriado. A minha infernal mansão está ás moscas, sem clientes Eu dispensei as más gentes e os diabretes ajudantes e decidi convidar antes uns amigos escolhidos para aqui se celebrar uma festança fenomenal um carnaval infernal. Que diabo! Não faz mal Dar um feriado um só dia! Todo o ano aqui se chora geme, grita, agonia... Quero que haja alegria em todo o ano, um só dia. Convidei a Beldroega, Bruxa de artes e manhas Senhora de malas-artes de patifarias tamanhas que ela só vai assombrar a festança, a reinação. BELDROEGA A festança, a reinação tudo isso cá comigo! DIABO Beldroega, minha amiga!... BELDROEGA Satanás, meu bom amigo!... (Beijam-se e abraçam-se.) DIABO Vens tão bela e amarela... Que pareces uma estrela!
  • 3. BELDROEGA Tu estás vestido a primor Tchii, menino, quanto adorno! Pareces mesmo um senhor, isto mais corno, menos corno! DIABO Dize-me, mana minha: devo-me eu disfarçar? Quanto eu não quero assustar os amigos convidados! BELDROEGA Não faças tal asneira! Estás excelente, sensacional! Hoje em dia é normal ver diabos, aí, pela rua aos montes, aos pontapés. E então no Carnaval... DIABO Não me digas, por quem és que estou assim, banalizado! Ah, isso deixa-me zangado, furioso a valer! Queres então tu dizer que eles ousam gozar com a figura de Satanás? BELDROEGA Do Satanás, do Diabo, de Lúcifer e Belzebu Ninguém acredita, vê lá tu... DIABO Será do traje que trago? Será deste meu lindo rabo?
  • 4. BELDROEGA Eu estou bem em crer que sim. DIABO Que devo fazer, Beldroega? BELDROEGA Um rabo assim, tamanhão, é coisa que já não pega nesta nossa profissão É feio, deselegante, podes até tropeçar num rabo assim tão comprido. DIABO Mas que devo eu fazer? BELDROËGA Escuta bem o que eu te digo Segue um conselho de amigo: Bzzzt! (Faz menção de lhe querer cortar o rabo.) DIABO O quê?!!! Cortar o rabinho? Tirar a minha linda cauda, Ornamento de estimação? BELDROEGA É a única solução para poderes ser respeitado. DIABO Tu achas mesmo que sim?
  • 5. BELDROEGA Sim, sim! DIABO Seja então, mas com doçura, com cuidado, com cortesia! BELDROEGA Eu sei duma anestesia dum bruxedo especial que não há dor, nem sinal de sofrimento qualquer: ora deixa ver o rabo! (O Diabo aproxima-se, temeroso, mas estende-lhe a cauda.) BELDROEGA Zás, trás, pás e catrapás Eis a cauda de Satanás! (Exibe o rabo do Diabo.) DIABO Maravilhoso, assombroso! Não senti nada de dor! Beldroega, és um amor, uma bruxa sensacional! BELDROEGA Estás mais bonito, elegante! Airoso! És um pão mole! Olha, tu dás-me o teu rabo para eu fazer um cachecol? DIABO Fica com ele para ti que a mim me aborrece! BELDROEGA E agora não te apetece bailar uma contradança?
  • 6. DIABO Boa ideia, bruxa bela Haja alegria e música Para animar a festança (O Diabo e a Bruxa organizam uma contradança que deverá ser tão animada quanto possível. Antes de o baile acabar, o Lobo Lobão surge em cena e dança com eles os últimos compassos da música.) BELDROEGA Lobo Lobão, meu amigo! Vieste também reinar ao carnaval infernal? LOBO Sim, que me apetece a mim Rir, dançar, desenfastiar daquela vida da serra. DIABO É muito duro, lá na terra penar por montes e vales? LOBO Uuuui, nem calculas tu! Valha-me São Berzebu bom diabo, meu irmão! Que eu tenho por devoçâo só papar as ovelhinhas que são jovens e tenrinhas! Mas tenho tantas levado este lombo tem alombado com tantas pauladas, tamanhas que já nem sei que mais manhas faça para me disfarçar.
  • 7. Há dias vi um rebanho lindo, gordo, apetitoso! Pois veio um cão raivoso que me deu tantas dentadas e depois veio o pastor que me deu com tais pauladas que fiquei todo quebrado! Três dias não comi nada P’ra chegar à tua festa foi um triste padecer... Nãotens nada que comer? DIABO Sim! Há bolos apetitosos BELDROEGA Aqui, no meu caldeirão tenho ensopado de cabrito que é de comer e ficar aos gritos! DIABO Tu queres bolo ou cabrito? LOBO Eu vou ficar assoprado de tanto ensopado comer! BELDROEGA Tu tem cuidado! Come pouco O ensopado tem magias podes ficar com manias... (O Lobo mergulha a cabeça no caldeirão e come com sofreguidão.) BELDROEGA Quem come deste ensopado Pode ficar modificado...
  • 8. DIABO O teu pitu tem magias? BELDROEGA Magias e fantasias... (O Lobo tira a cabeça do caldeirão e apresenta um olhar alucinado.) LOBO (Lambendo os beiços.) Com este rico ensopado sinto-me teletransportado para o reino da fantasia. Hiii, que vejo eu agora? A avozinha da história do Capuchinho Vermelho? DIABO A avozinha da história do Capuchinho Vermelho? Quem é ela? Onde está? LOBO (apontando para a bruxa.) Ali! BELDROEGA Eu, a avozinha da história do Capuchinho Vermelho? Tu no estás bom da cabeça! LOBO Se não queres que te aconteça nenhuma fatalidade Corre a toda a velocidade, depressa e á minha frente! (O Lobo começa a perseguir a Bruxa, correndo em redor do caldeirão.)
  • 9. BELDROEGA Socorro! Eu sou fraquinha! LOBO Vou papar a avozinha Vou papar a avozinha Vou papar a avozinha (O Diabo ri a bandeiras despregadas ante a cena de perseguição, que deve ser tão cómica e movimentada quanto possível.) BELDROEGA O Lobo quer-me papar Diabo, vem-me salvar! DIABO Mexes essas pernas! Corre tu E calma por Berzebu que o Lobo está a sonhar com a avozinha da história! BELDROEGA T’arrenego Satanás Vade retro! Vai para trás Tu e os teus convidados! Socorro! Ele quer comer a minha carne tenrinha LOBO Vou papar-te, avozinha! Chegou a hora gloriosa de eu tirar a desforra da velha história horrorosa!
  • 10. (Quando o Lobo está prestes a alcançar a Bruxa, o Diabo faz um passe de mágica. Os dois personagens ficam paralisados e o Diabo diz): DIABO Terebintina, serpentina Olho de leão, caca de menina Salta pulga, arranca dente Vou transformar-te em serpente! (O Lobo desaparece de cena.) BELDROEGA Que magia sensacional O Lobo já não me vai fazer mal. Diabo, meu senhor e mestre que magia tu fizeste? DIABO Um truquezinho sem importância Para acalmar aquela ânsia que o Lobo tinha em papar-te. BELDROEGA E a que parte ele foi? DIABO Aquela parte de além do outro lado do mundo. Beldroega Vai voltar? Diabo
  • 11. Irá voltar de repente mas transformado em serpente (Surge uma serpente em forma de marioneta de fios.) BELDROEGA Que magia sensacional! Que carnaval infernal! DIABO E agora para abrilhantar Esta festa de valor Eu vou chamar um cantor (O Diabo bate as palmas e aparece um ou dois cantores.) BELDROEGA Oh que lindo é o cantor, Que bonito, que pão mole... Queres cantar com o meu cachecol? (Enrola-lhe o rabo do Diabo ao pescoço.) DIABO Que canção vais cantar tu Em honor de Beizebu? O CANTOR Agora eu vou cantar uma canção de espantar. (Convém que o jovem intérprete escolha uma canção com música e letra adaptada ao contexto. O Autor decidiu não apresentar qualquer proposta de letra para dar total liberdade criadora aos alunos e professor de Música. Os actores devem ouvir letra e música para encontrarem o jogo mímico adequado ao conteúdo da canção. No final aplaudem e Beldroega diz.): BELDROEGA Amélio de olhos doces quem dera que fosses bruxo como eu Se tu prometeres casar
  • 12. eu vou-te levar pertinho do céu... DIABO Beldroega, francamente... Tu propões-te em casamento a tão guapo rapaz! Isso não se faz, isso não se faz! BELDROEGA Ora, ora! É Carnaval ninguém leva a mal. E se no meio do Entrudo eu conseguir casamento com um príncipe que é cantor juro-te, meu amor que subo de cotação lá no mercado das bruxas. DIABO E se ele não quiser ser da bruxa o marido? BELDROEGA Ora, isso não faz sentido ele vai querer de certeza! (Aproxima-se do cantor e diz): Repara na minha beleza com cuidado, mira bem e diz-me sinceramente se tu conheces alguém mais bonito do que eu. DIABO Beldroega, que te deu p’ra virares casamenteira?
  • 13. BELDROEGA Umas ânsias, uma canseira comichão pelo corpo todo... Não sei se estou embruxada, ou se estou apaixonada! DIABO É o mal do Carnaval que só destila paixões. Senhor cantor, cante agora outra das suas canções. (O cantor interpreta a sua segunda canção. Beldroega ouve-a atentamente, convencida de que ele lhe vai cantar uma canção de amor. Muda de atitude progressivamente, à medida que se apercebe de que aquela não é uma canção de amor.) BELDROEGA Te assombro e desassombro com estas assombrações. Desaparece! Sai daqui! Odeio as tuas canções! (Beldroega assume a postura de uma bruxa em fase de bruxedo do terrível. O cantor sai de cena, se possível no meio de muito fumo. Entretanto, o Lobo regressa.) DIABO Beldroega, que tens tu? Porque estás tão irritada? BELDROEGA Escuta bem, ó Belzebu: estava eu apaixonada pela figura do cantor linda, cheia de mistério e ele canta uma cançâo que me causou aflição.
  • 14. DIABO Cala-te não digas mais que já não te posso ouvir! LOBO Agora vou eu presumir de vedeta da canção Convido todos a ouvir a minha ‘interpretação. DIABO Já não és o lobo mau do capuchinho vermelho? LOBO Isso é caso passado no tempo da minha avó! Enquanto estive encantado, transformado em serpente eu acordei de repente: tive um baque, deu-me um choque e descobri que ia ser o maior lobo do rock! BELDROEOA O lobo do rock? Tu?!!! DIABO Pesar de São Belzebu! Oh, mas que grande escarcéu! Este aqui diz que é do rock deu-lhe a doida, está com o amok. BELDROEGA Quando o ouvirmos cantar
  • 15. vai ser um grande escarcéu o inferno vira céu nada me irá já espantar. (O Lobo faz uns quantos gorjeios para afinar a voz, assume a pose de roqueiro e diz): LOBO Meus: tudo na maior no inferno e nos céus Quero agora interpretar Um rock que é de espantar. (Baseado na música do Chico Fininho, de Rui Veloso, o Lobo canta): Saltando na capoeira todo cheio de speed papa a poedeira, o pinto e divide a carne das galinhas das patas e dos perus ele é o maior, o melhor dos gabirus Lobo Fininho, U, U Lobo Fininho U, U (Beidroega e o Diabo, cada um de seu lado, saltam sobre o Lobo e tentam acalmar-lhe o ímpeto roqueiro, o que só conseguem canto após porfiados esforços. O Diabo põe-lhe a mão na boca, impedindo-o de cantar, mas de cada vez que se consegue desembaraçar o Lobo contra-ataca.) LOBO Lobo fininho, U, U Lobo fininho U, U BELDROEGA Escuta-me com atenção:
  • 16. ou tu calas essa boca ou sou eu que te transformo em mosca da televisão! DIABO É maluco, está vidrado deu-lhe a tonta, deu-lhe o amok julga-se predestinado p’ra ser artista de rock! LOBO (timidamente.) u u, u! DIABO (ameaçador.) No inferno mando eu E tu calas-te agora já! (O Lobo vira-lhes ostensivamente a cauda e vai uivar para um canto do cenário desgostoso por ter sido desconsiderado.) BELDROEGA Não posso ouvi-lo, nem vê-lo Mas que enorme pesadelo! Diabo, meu bom amigo não tens nada para alegrar este infernal carnaval? DIABO Um grupo sensacional BELDROEGA Quem é? Quem é? Diz depressa, sem detença. Ele tem boa presença?
  • 17. DIABO Ui, que figura gentil! BELDROEGA Oh! Toda eu tremo de emoção! DIABO Atenção, muita atenção escutem esta atracção! (O Autor sugere que neste momento da peça actue um grupo musical. A sua actuação tanto pode acontecer no âmbito da música rock como na música cora!. Aqui uma vez mais se faz apelo à criatividade musica! de professores e alunos.) BELDROEGA (Dirigindo-se a um dos elementos do grupo.) Meu raminho de jasmim minha florinha de mel queres ir comigo assim já para a lua-de-mel? MÚSICO Talvez seja preferível ouvires agora cantar a música que vos vou dedicar. DIABO Ó bruxa namoradeira, deixa actuar o cantor não o masses com tanto amor! BELDROEGA Não acendas tantos lumes de fogo no teu olhar
  • 18. já percebi: tens ciúmes por eu não te namorar! DIABO Quem, eu? Ciumento? Um diabo desta classe? Eu não penso em casamento com qualquer bruxa que passe! (Para esta segunda interpretação sugere-se um trecho romântico, uma vez que a partir daqui Beldroega vai enamorar-se do Diabo...) BELDROEGA (De mão dada com o Diabo.) Celebra os nossos esponsais! DIABO Casa-nos agora já! MÚSICOS Quem? Nós? Fazer de padres? By-by. (O grupo sai e a cena de amor entre a Bruxa e o Diabo prossegue.) BELDROEGA Meu diabinho amoroso. DIABO Minha bruxinha bonita! BELDROEGA Meu Lúcifer radioso!
  • 19. DIABO Beidroeguinha catita! BELDROEGA Minha florinha infernal! DIABO Bruxa de canto e encanto! BELDROEGA És um diabo divina! DIABO Meu amor, meu mel, meu espanto! LOBO Então isto é carnaval, ou uma cegada d’entrudo? Vou-me embora já daqui porque eu já percebi tudo! DIABO Amigo não vás embora fica ainda mais um pouco LOBO Anda todo o mundo louco no inferno e na terra! Quem me havia de dizer que eu ia presenciar a cena para casar o Diabo com a Bruxa? Puxa! isto é de mais! Não posso, eu não aguento um tão doido casamento.
  • 20. BELDROEGA Que estás tu a resmungar? Tu ousas sequer duvidar da verdade do nosso amor? LOBO Quem? Eu? Nem por sombras! A mim já tu não assombras com infernais invenções. Queres casar nesta brasa? Queres juntar-te com o Lúcifer? Óptimo! Assim estragam só uma casa Não arruínam um qualquer! DIABO Vai ao registo civil marca já o casamento e traz-nos o funcionário para registar o momento desta infernal união! LOBO Vou já sem hesitação! (O Lobo sai de cena e volta com um anjinho pela mão. Este Anjo tem o vestido amarrotado, as asas um pouco à banda e uma coroa de flores meio desfeita.) DIABO Um anjinho do inferno? Heresia! Maldição! BELDROEGA Não posso com o anjo papudo!
  • 21. Faz-me mal ao coração! Ele destrói o entrudo arruína a união que está tão bem combinada! DIABO Tive uma ideia genial Não faças mais escarcéu Vamos transformar o anjinho num bom toucinho do céu! (O Diabo e a Bruxa aproximam-se pé ante pé do Anjo. Este apercebe-se das suas intenções, toca-lhes com a varinha de condão na cabeça e diz): ANJO Num bom toucinho do céu Ir-vos-ei eu transformar. Sou anjo mas não sou parvo E não me deixo papar por uma bruxa qualquer! Lobo, afinal quem quer casar? LOBO Ele e ela, ela e ele! ANJO O Diabo e a Bruxa querem os dois casar? Não posso acreditar Em tão louca união! LOBO Olha anjo, eu também não! ANJO Vamos então ao casório que eu já tenho o latinório aqui, na ponta da língua.
  • 22. (O Anjo volta a tocar na cabeça do Diabo e da Bruxa com a vara de condão de modo a quebrar o feitiço. As duas personagens perdem a postura de estátuas.) BELDROEGA Eu já não quero casar! Estava doida, embruxada, tinha uma praga rogada p’ra fazer tão feia acção! DIABO Casar com uma bruxa destas? Eu?!!! Mas que juízo é o meu p’ra pensar que Satanás se vai enforcar assim? Vade retro, vai para trás ó bruxa amaldiçoada! BEIDROEGA Cão tinhoso, cão raivoso! DIABO Bruxa em forma de serpente! BELDROEGA Diabo tão horroroso! DIABO Cara gorda, repelente!
  • 23. BELDROEGA Chifrudo desajeitado! DIABO Rota, feia, esfarrapada! BELDROEGA Tu és um pobre diabo! DIABO E tu, uma bruxa coitada! BELDROEGA Vou-me a ti! DIABO A ti me vou! (O Diabo e a Bruxa encetam uma perseguição que termina num breve corpo-a-corpo. Neste sketch final, o Lobo e o Anjinho podem participar.) ANJ INHO Alto! Alto e pára o baile! Parem com a chinfrineira basta tanto rebéu béu já vi tanta asneira que vai tudo preso para o céu! (O Anjo acorrenta o Diabo, o Lobo e a Bruxa e organiza uma cegada à maneira da velha tradição do Carnaval português, em que todas as personagens participam. Sugere-se que aproveitem a música que Herman José celebrizou — Vamos lá cambada — com letra adaptada a esta situação.) Vamos lá cambada todos à molhada que a festa é total força nas canetas o resto sãotretas
  • 24. é um infernal carnaval A Bruxa, o Lobo, o Diabo e o Anjo decidiram ir casar ao paraíso celestial Foi um casório que até meteu latinório andou tudo à batatada e acabaram todos mal! Vamos lá cambada todos á molhada que a festa é total. Força nas canetas o resto são tretas é um infernal carnaval! (O espectáculo termina com a cegada. O Autor sugere que os os actores ultrapassem o espaço cénico e se misturem com os espectadores de forma a comunicar a força da vossa festa teatral a todo o público.) FIM