O poema narra a chegada de ACM, ex-governador da Bahia, ao inferno após sua morte. ACM começa a causar tumulto no inferno, desafiando a autoridade de Lúcifer e fazendo com que a população do inferno peça sua deposição. Uma guerra eclode entre as forças leais a ACM e as leais a Lúcifer. No final, Jesus e Maria decidem que o único lugar para ACM é de volta à Bahia.
1. ACM NO OUTRO MUNDO
Autor: Miguezim de Princesa
(Codinome de um delegado da Polícia Civil do
Distrito Federal)
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2. I
Numa sessão em Angola,
O meu amigo Raimundo
Recebeu alma penada
Que num contar bem profundo
Narrou a fundo a chegada
De ACM no outro mundo.
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3. II
Todo vestido de branco,
Pois já tinha trocado o terno,
ACM se postou
Na entrada do inferno
Para onde foi direto
A mando do Pai Eterno.
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4. III
Carregando água de cheiro,
Viu-se um cordão de baianas
Esperando o grande líder
Numa comitiva bacana
Com mais de 100 deputados
E um cão comendo bananas.
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5. IV
Apareceu Lúcifer:
Com um chicote na mão
E a cara muito amarrada,
Foi logo dizendo, então,
Que entre o babalaô,
Hoje tem reunião.
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6. V
Duma grande mesa de ferro
Já foram se aproximando.
Na cabeceira da mesa,
ACM foi sentando;
Lúcifer deu um pinote
E começou protestando:
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7. VI
- Aqui, quem manda sou eu,
Eu sou o rei da folia!
Pra comer acarajé
Tem de pedir à minha tia.
Já falei pra Juraci
Que aqui não é a Bahia!
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8. VII
ACM não falou
Durante a reunião,
Fingiu concordar com tudo
Que viu na resolução,
Disse: 'Tou com Lúcifer,
Vou apertar sua mão'.
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9. VIII
Junto com seis senadores
Começou a passear,
A cumprimentar o povo
Que encontrou no lugar,
Nas esquinas do Inferno
Desandou a discursar.
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11. X
'O Inferno está sem graça';
'Queremos animação';
'Lúcifer é um moleza,
Não rouba nem tem ação'
- assim pediam nas faixas
Do diabo a deposição.
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12. XI
Lúcifer inda propôs
Dois turnos de eleição,
ACM fincou pé
Que não aceitava, não,
Pois a vontade do povo
Pedia deposição.
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13. XII
Lúcifer sai correndo,
Pulou um grande portão,
Encontrou do outro lado
Seu amigo Lampião.
Disse: 'O homem tá com a gota,
Quer fazer revolução!'
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14. XIII
- A hora é de resistir -
Exclamou Chico Pinguelo.
- Vamos botar pra feder -
Animou-se João Tranguelo.
- ACM hoje vai ver
Como se come farelo!
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15. XIV
Aí, começou uma guerra
(Cacete de cão com cão):
A turma de ACM
Deitou abaixo o portão,
Tinha até uma quitandeira
Com uma vassoura na mão.
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16. XV
No exército de ACM
Se viam até generais;
Lúcifer tinha cangaceiros
Que não acabavam mais
Pra defender o portão,
Reduto de Satanás.
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17. XVI
O grande Lucas da Feira
Se agarrou com Pinochet,
Arrancou o seu bigode
Com uma agulha de crochê,
Deu uma facada em Videla,
Botou Médici pra correr.
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18. XVII
O Cão-Coxo de um pinote
Uma tora de pau pegou,
Zuniu a tora no vento
Chega a direção mudou,
Meteu em Garrastazu,
A tora pegou no sul
Que o norte sentiu a dor.
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19. XVIII
ACM quase morre
Na volta de Cão-Ligeiro,
Escapou manco de uma perna
Por dentro do marmeleiro,
Escoltado por uma diaba
Com um pau de bater tempero.
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20. XIX
Corisco acertou um tiro
No general Golbery;
Castelo Branco, com medo,
Começou fazer xixi;
Lampião disse só falta
Do nosso lado Waldir.
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21. XX
Apareceu Costa e Silva,
Sem saber por quem lutava;
Ernesto Geisel num canto
Com Figueiredo falava,
Enquanto o Cabeça Branca
Na capoeira escapava.
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22. XXI
Se mandou em retirada,
Pegou o caminho do Céu,
Deu um esbregue em São Pedro,
Uma bicuda em São Miguel
E ainda pirraçou
O arcanjo Gabriel.
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23. XXII
Na porta do paraíso
Quando ACM chegou,
Ofegante e agitado,
A santidade esnobou
E disse para São Pedro:
- Não falo com assessor
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24. XXIII
Mandaram chamar Jesus
(Quem chamou foi São Tomé),
ACM se exaltou,
Fez o maior rapapé:
- Eu só falo é com o pai dele,
Daqui não arredo pé!
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25. XXIV
Jesus Cristo então pediu
O parecer de Maria.
Ela pensou direitinho
Enquanto o Inferno ardia:
- Se o Inferno não agüenta,
Se aqui ele não entra,
Só voltando pra Bahia.
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